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AVALIAÇÃO DO ASFALTO-BORRACHA ATRAVÉS DE ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DE MATERIAIS ASFÁLTICOS PARA PAVIMENTAÇÃO REZENDE, Dener Marcelo Linhares de (IC); CUNHA, LEANDRO CÉSAR; COSTA, MARIANO HERCULANO DA; ODA, SANDRA (OR). Universidade Estadual de Maringá (UEM).PIBIC – CNPq/UEM Introdução No século XIX, o norte-americano Charles Goodyear descobriu o processo de vulcanização ao misturar, por acaso, borracha e enxofre. Desde então, a demanda por borracha vulcanizada multiplicou-se de tal forma que, segundo BLOOMQUIST et al (1993), cerca de 242 milhões de pneus, o equivalente a mais de 2 milhões de toneladas de borracha, são descartados anualmente só nos Estados Unidos (Figura 1). No Brasil, são colocados no mercado aproximadamente 60 milhões de pneus por ano, sendo que cerca de 27 milhões são resultados da produção nacional e 33 milhões são reaproveitados (usados importados recauchutados). Estima-se que, desse total, pelo menos 50% estão sendo descartados, quase sempre dispostos em locais inadequados, e que, das 300 mil toneladas de sucata disponíveis no Brasil para obtenção de borracha regenerada, apenas 10% são recicladas. Tendo em vista esta realidade, muitos municípios brasileiros têm desenvolvido ou tentado desenvolver programas de coleta seletiva e de reciclagem com o propósito de recuperação de materiais e conseqüente redução da demanda por espaço nos aterros sanitários. Dentre os materiais passíveis de reaproveitamento destacam-se os pneus, capazes de provocar sérios problemas ambientais e de saúde pública quando dispostos de forma inadequada (Figura 2). Outro problema associado aos pneus é o baixo grau de compactação, que reduz em muito a vida útil dos aterros sanitários. Nos Estados Unidos, a Lei sobre a Eficiência do Transporte Intermodal de Superfície (Public Law 102-240), de 1991, obrigou os Departamentos de Transportes e de Proteção FIGURA 2: Pneus descartdados dispostos de forma inadequada FIGURA 1: Milhões de pneus descartados anualmente nos EUA Ambiental, em cooperação com os Estados, a desenvolver estudos para utilizar borracha de pneus na construção de pavimentos asfálticos. O objetivo da adição de borracha moída em materiais asfálticos é, além de minimizar o problema de disposição em aterros sanitários, melhorar o desempenho dos pavimentos em campo, aumentando a flexibilidade e, consequentemente, retardando o aparecimento de trincas, selando trincas existentes e aumentando a impermeabilização proporcionada pelos revestimentos asfálticos. Apesar de algumas evidências de que misturas executadas com adição de borracha picada têm suas propriedades melhoradas (EPPS, 1994), não existem, ainda, resultados conclusivos sobre o desempenho dos pavimentos a longo prazo. No intuito de se modificar este quadro, este trabalho faz parte de um estudo sobre a viabilidade técnica da incorporação de borracha de pneus em materiais asfálticos utilizados em obras de pavimentação. Metodologia Para avaliar os fatores que influenciam o processo de adição de borracha de pneus em materiais asfálticos foi empregado o processo úmido,que consiste na mistura de cimento asfáltico e borracha moída (15 a 25%), a uma temperatura elevada (170 a 200ºC), durante um determinado período de tempo (20 a 60 minutos). Materiais Os materiais utilizados nas misturas são borracha de pneus descartados moída e cimento asfáltico de petróleo. A borracha, proveniente de pneus de automóveis ou caminhões, tem o tamanho das partículas variando com o processo de produção (equipamento, temperatura etc.) e a sua quantidade, com o tamanho das partículas e com tipo de aplicação em que será usado o ligante asfalto-borracha, podendo variar de 5 a 26% (PAGE et al., 1992). A borracha utilizada neste trabalho é composta de partículas que passam na peneira no 40 e ficam retidas na peneira no 200 (FIGURA 3). 0,074 0,420,2970,149 0 20 40 60 80 100 Diâmetro das Partículas - mm P or ce nt ag em P as sa nd o FIGURA 3: Curva granulométrica da borracha O material asfáltico no Brasil, pode ser classificado por penetração (CAP 30/45, CAP 50/60 e CAP 85/100), para os petróleos mais pesados, e por viscosidade (CAP 7, CAP 20 e CAP 40), para os petróleos mais leves, sendo que os cimentos asfálticos mais utilizados são os CAP 20 e CAP 40. Neste trabalho adotou-se o CAP 20. Desenvolvimento dos Ensaios Visando garantir um desempenho satisfatório e pleno sucesso na aplicação dos asfaltos, foram estabelecidos ensaios baseados em experiências práticas, apontados a seguir: • Determinação da penetração de materiais betuminosos (ABNT/NBR 6576/1998) Este método serve para determinar a viscosidade dos materiais betuminosos. • Determinação do ponto de fulgor (ABNT/NBR 11341/1990) Indica a temperatura acima da qual o asfalto deve ser manuseado como produto inflamável, desde que haja uma fonte de ignição. • Determinação do ponto de amolecimento de materiais betuminosos (método do anel e bola – ABNT/MB-164/1972-NBR6560;ASTM/D-36) Temperatura na qual a consistência de um ligante asfáltico passa do estado plástico ou semi-sólido para o estado líquido (COELHO, 1996). • Determinação da viscosidade Saybolt de materiais betuminosos (ABNT/IBP/P-MB-517) Este método fixa o processo de determinação da viscosidade Saybolt de materiais betuminosos. • Determinação da Densidade de Materiais Betuminosos – DNER - ME16-64 Este método descreve o procedimento para a determinação da densidade de materiais betuminosos fluidos e semi-sólidos. FIGURA 4: Equipamento utilizado na determinação da penetração de materiais betuminosos FIGURA 5: Equipamento utilizado na determinação do ponto de fulgor de materiais betuminosos FIGURA 6: Equipamento utilizado na determinação do ponto de amolecimento utilizando o Método do Anel e Bola FIGURA 7: Equipamento utilizado na determinação da viscosidade Saybolt- Furol Resultados • Efeito do teor de borracha na penetração do asfalto-borracha 50 60 70 80 90 100 110 0 6 12 18 Teor de Borracha (%) Pe ne tr aç ão ( 1/ 10 m m ) 0,42 - 0,297 mm 0,297 - 0,074 mm FIGURA 8: Penetração x Teor de borracha • Efeito do teor de borracha no ponto de amolecimento do asfalto-borracha 53 55 57 59 61 63 65 0 6 12 18 Teor de Borracha (%) Po nt o de A m ol ec im en to ( °C ) 0,42 - 0,297 mm 0,297 - 0,074 mm FIGURA 9: Ponto de Amoleciemento x Teor de borracha • Efeito do teor de borracha no ponto de fulgor do asfalto-borracha 275 280 285 290 295 300 305 0 6 12 18 Teor de Borracha (%) P on to d e F ul go r ( °C ) 0,42 - 0,297 mm 0,297 - 0,074 mm FIGURA 10: Ponto de Fulgor x Teor de borracha • Efeito do teor de borracha na densidade do asfalto-borracha 0,990 0,995 1,000 1,005 1,010 1,015 1,020 0 6 12 18 Teor de Borracha (%) D en si da de (g /c m 3) 0,42 - 0,297 mm 0,297 - 0,074 FIGURA 11: Densidade x Teor de borracha • Efeito do teor de borracha na viscosidade viscosidade Saybolt-Furol do asfalto-borracha 10 100 1000 125 130 135 140 145 150 155 160 165 170 Temperatura (°C) T em po ( s) 18% - 0,42 - 0,297 mm 18% - 0,297 - 0,074 mm 12% - 0,42 - 0,297 mm 12% - 0,297 - 0,074 mm 6% - 0,42 - 0,297 mm 6% - 0,297 - 0,074 mm 0% FIGURA 12: Viscosidade Saybolt-Furol x Teor de borracha Conclusões Apresenta-se, neste trabalho, a estrutura de uma pesquisa que teve por objetivo avaliar, tecnicamente, a viabilidade da incorporação de borracha de pneus em ligantes asfálticos utilizados em obras de pavimentação. Com base na revisão bibliográfica apresentada, percebe-se a atualidade e relevância do tema. Embora os fatores adotados na programação dos ensaios laboratoriais não representem todas as variáveis intervenientes, sem dúvida são os mais significativos e, consequentemente, serão de grande valia para o estabelecimento de critérios técnicos para a utilização de borracha de pneus em obras de pavimentação. Apesar da necessidade de muitos ensaios complementares, as evidências da pesquisa são de que a mistura asfalto-borracha pode ser benéfica aos pavimentos,melhorando as propriedades de resistência ao acúmulo de deformação permanente (maior rigidez a elevadas temperaturas) e de resistência à formação de trincas por fadiga (maior elasticidade). Além disso, as misturas asfalto-borracha ensaiadas também apresentam suficiente resistência à formação de trincas de origem térmica. Referências Bibliográficas ABNT - Produtos de Petróleo - Determinação do Ponto de Fulgor e de Combustão em Vaso Aberto de Cleveland. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT/NBR 11341, 1990 ABNT - Materiais Betuminosos - Determinação da Penetração. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT/NBR 6576, 1998 ABNT - Determinação da Viscosidade Saybolt de Materiais Betuminosos a Alta Temperatura. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT/P-MB-517, 1971 ABNT - Determinação do Ponto de Amolecimento de Materiais Betuminosos - Método do Anel e Bola. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT/MB-164/NBR 6560, 1972 DNER - Determinação da Densidade de Materiais Betuminosos – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER - ME16-64, 19__ PAGE, G.C.; RUTH, B.R.; WEST, R.C. - Florida's Approach Using Ground Tire Rubber in Asphalt Concrete Mixtures. Transportation Research Record 1339. Transportation Research Board - TRB, Washington, DC, p.16-22, 1992. COELHO, V. - Contribuição ao Estudo das Deformações Permanentes, nas Condições do Brasil, em Camadas de Concreto Asfáltico de Pavimentação. Tese de Doutorado. Escola de Engenharia de São Carlos – USP, 1996 Bibliografia Consultada BILLITER, T.C.; CHUN, J.S.; DAVISON, R.R.; GLOVER, C.J.; BULLIN, J.A. - Investigation of the Curing Variables of Asphalt-Rubber Binder. Proceedings of Association of Asphalt Paving Technologists. p.1221-1226, s.d. BLOOMQUIST, D.; DIAMOND, G.; ODEN, M.; RUTH, B.R.; TIA, M. - Engineering and Environmental Aspects of Recycled Material for Highway Construction. Federal Highway Administration - FHWA-RD-93-088. Final Report, 1993. CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem. Pneus. Ficha Técnica 8, s.d. EPPS, J.A. - Uses of Recycled Rubber Tires in Highways. National Cooperative Highway Research Program. Synthesis of Highway Practice 198, Transportation Research Board, Washington, DC, 1994. FARRO, W. - Sucata Vira Matéria-Prima e Gera Lucro. 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