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ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO HOSPITALAR Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Romero Fenili CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli Prof.ª Kelly Luana Molinari Corrêa Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Ana Paula Poerschke Revisão Gramatical: Iara de Oliveira Revisão Pedagógica: Ivan Tesck Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © UNIASSELVI 2016 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri – UNIASSELVI – Indaial. 362.11068 F333o Fenilli, Romero Organização e planejamento hospitalar/ Romero Fenilli. Indaial : UNIASSELVI, 2016. 111 p. : il. ISBN 978-85-69910-18-3 1. Administração de Hospital. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Romero Fenili Possui graduação em Medicina, pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990), e graduação em Administração Pública, pela Universidade Federal de Santa Catarina (2015). Especialização em Cirurgia Torácica, pela Universitat Autónoma de Barcelona (Espanha-1997), especialização em Liderança e Gestão Universitária, pela Universidade do Vale do Paraíba (2008), doutorado em Medicina e Cirurgia Torácica, pela Universitat Autónoma de Barcelona (Espanha - 1996). Professor do curso de Graduação em Medicina na Universidade Regional de Blumenau e Pesquisador Colaborador do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Regional de Blumenau, além de professor de Pós-graduação do Centro Universitário Leonardo da Vinci. Na EAD, publicou material didático para a Uniasselvi. Atuou como Vice-reitor da Universidade Regional de Blumenau e como Diretor de Assistência de Saúde da Secretaria de Saúde do Município de Blumenau. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTuLo 1 SiSTemAS de SAúde no BrASiL ........................................................9 CAPÍTuLo 2 SiSTemA HoSPiTALAr ....................................................................33 CAPÍTuLo 3 TiPoS de GeSTão doS ServiçoS de SAúde ....................................57 CAPÍTuLo 4 PráTiCAS de AdminiSTrAção e PLAnejAmenTo HoSPiTALAr ...............83 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Organização e Planejamento Hospitalar! Toda instituição necessita, para seu desenvolvimento, ter um planejamento e estar organizada, procurando obter os melhores resultados com os recursos que possui. O planejamento tem sido uma das ferramentas fundamentais no processo de gestão e desenvolvimento das organizações. A diversidade de sistemas de saúde existente traz constantes desafios aos gestores, em virtude de sua complexidade. O mercado de saúde passa por uma grande transformação e os gestores devem estar preparados para tais modificações. Os complexos de saúde, devido a sua grande diversidade interna, são um grande desafio para os gestores. Além disso, a transformação do ambiente externo, como já foi dito, implica a necessidade de conhecimento amplo para a tomada de decisão adequada. Dessa forma, esta disciplina, inicialmente, visa apresentar a influência da organização e do planejamento na concretização efetiva de resultados. Em primeiro lugar, abordaremos os sistemas de saúde existentes no Brasil, levando a você o conhecimento necessário para compreender a complexa interligação entre o público e o privado, além dos diversos níveis de atenção à saúde existentes. Posteriormente, por meio da estruturação do sistema hospitalar, você poderá observar como os hospitais são organizados e como essa organização influencia nos cuidados em saúde. Em seguida, explicitaremos as ferramentas de gestão, buscando conhecer mais profundamente quais se adequam à realidade da saúde. Para isso, serão abordados os modelos de gestão de hospitais e, também, as competências necessárias para um bom gestor. Por fim, estudaremos as formas de planejamento existentes, sabedores de que há grande diversidade, tentando demonstrar qual tem maior afinidade com o sistema de saúde. Esperamos que você aproveite ao máximo os estudos desta disciplina e que estes possam contribuir para o aprimoramento de suas habilidades e aprofundamento dos conhecimentos necessários para um gestor hospitalar. Prof. Dr. Romero Fenili. CAPÍTULO 1 SiSTemAS de SAúde no BrASiL A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender os sistemas de saúde vigentes no Brasil. Entender o funcionamento dos sistemas hospitalares existentes no país. Conhecer as formas de estruturação e organização do serviço hospitalar. Compreender o processo de gestão hospitalar. Identificar as formas de planejamento hospitalar. 10 Organização e Planejamento Hospitalar SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 11 O ator é alguém que representa, que encarna um papel dentro de um enredo, de uma trama de relações. ConTexTuALizAção Os atores envolvidos na atenção e organização dos sistemas de saúde no Brasil são múltiplos e desempenham diversos papéis dentro deste ecossistema complexo, que é a estrutura de saúde de nosso país. Nesse sentido, compreender quais são os atores envolvidos e quais os papéis que desempenham, é um conhecimento importante para o gestor hospitalar. Muitos desses atores são, às vezes, negligenciados, mas possuem um importante papel. Isso é o que veremos no desenrolar deste tópico. ConCeiTo Segundo Souza (1991), o ator é alguém que representa, que encarna um papel dentro de um enredo, de uma trama de relações. Um determinado indivíduo é um ator social quando representa algo para a sociedade (para o grupo, a classe, o país), encarna uma ideia, uma reivindicação, um projeto, uma promessa, uma denúncia. Na terminologia do desenvolvimento local, os atores são os agentes sociais e econômicos, indivíduos e instituições, que realizam ou desempenham atividades, ou, então, mantêm relações num determinado território. (SABOURIN, 2002). Diante desses conceitos, podemos observar que os atores envolvidos em um processo complexo, como a organização do sistema de saúde brasileiro, tendem a ser múltiplos, diante das necessidades existentes para que tal sistema funcione a contento. Assim, temos diversos atores envolvidos no processo, a saber: os atores sociais, os atores financeiros, os atores que trabalham no sistema, os atores que prestam serviço, os atores dedicados à ciência e à tecnologia, os atores provedores de insumos, os atores do Estado. AToreS envoLvidoS no ProCeSSo de SAúde BrASiLeiro Caro(a) pós-graduando(a), como já comentamos, são diversos os atores envolvidos. Neste item, salientaremos quais são os atores envolvidos em cada categoria anteriormente apontada e quais os papéis que exercem no processo de construção. Temos diversos atores envolvidos no processo, os atores sociais, os atores financeiros, os atores que trabalham no siste- ma, os atores que prestam serviço, os atores dedica- dos à ciência e à tecnologia, os atores provedores de insumos, os atores do Estado. 12 Organização e Planejamento Hospitalar ATORES SOCIAIS Entre os atores sociais, temos os indivíduos e suas famílias, os trabalhadores, os sindicatos e as federações, as empresas e suas entidades, as organizações religiosas, os partidos políticos, as entidades de defesa do consumidor, as fundaçõese ONGs, nacionais e internacionais. Esses atores são os que sofrem as consequências das ações realizadas no setor de saúde. Além disso, possuem um papel fundamental na fiscalização do processo, por meio de assentos adquiridos em representações do controle social, nas instâncias consultivas e deliberativas das esferas da saúde. ATORES FINANCEIROS Entre os atores financeiros, temos os consumidores de produtos e serviços de saúde, os contribuintes fiscais: indivíduos e empresas; as operadoras de planos de saúde e seguros; os empregadores e doadores; bem como ONGs, nacionais e internacionais; os governos de outros países; os bancos internacionais de desenvolvimento; as organizações de cooperação internacional. Nesse grupo, temos toda a relação da cadeia financeira que está envolvida no processo de saúde. ATORES TRABALHANDO Na categoria, estão todos os servidores que, direta ou indiretamente, atuam na cadeia produtiva da área da saúde. Os profissionais de nível básico, técnico e superior, as cooperativas de trabalho, os empregadores e gestores, as entidades de formação técnica, graduada, especializada e pós-graduada, as associações, os sindicatos e as federações, os conselhos regionais e nacionais, as entidades internacionais. ATORES PRESTADORES DE SERVIÇO Na categoria de atores prestadores de serviço, incluímos as unidades e redes públicas ou privadas, as clínicas, os ambulatórios e os hospitais- dia, os hospitais e casas de saúde, os laboratórios de patologia clínica, os serviços de radiologia, os serviços de tratamento especializado, os serviços de informática e telemedicina, os abrigos de idosos e deficientes, os serviços gerenciais, as associações, os sindicatos e as federações de prestadores de serviço, nacionais e internacionais. Entre os atores sociais, temos os indivíduos e suas famílias, os trabalhadores, os sindicatos e as federações, as empresas e suas entidades, as organizações religiosas, os par- tidos políticos, as entidades de defe- sa do consumidor, as fundações e ONGs, nacionais e internacionais. Entre os atores financeiros, temos os consumidores de produtos e serviços de saúde, os contribuintes fiscais: indivíduos e empresas; as operadoras de planos de saúde e seguros; os em- pregadores e doa- dores; bem como ONGs, nacionais e internacionais; os governos de outros países; os bancos internacionais de desenvolvimento; as organizações de cooperação internacional. SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 13 Esses atores são os que mais frequentemente associamos à cadeia de saúde no sistema vigente hoje, pois são as estruturas com as quais temos o contato direto quando necessitamos de alguma prestação de saúde. ATORES DEDICADOS À CIÊNCIA E À TECNOLOGIA No grupo atores dedicados à ciência e à tecnologia, encontramos os laboratórios; os centros e os institutos de pesquisa, públicos e privados, tanto nacionais quanto internacionais; as sociedades e as associações científicas nacionais e internacionais; as revistas e as páginas eletrônicas científicas; as entidades de fomento à pesquisa, públicas e privadas, nacionais e internacionais; os eventos e congressos científicos, nacionais e internacionais. Esta categoria embora seja, muitas vezes, esquecida ou relegada a um segundo plano pela maioria de nós, quando falamos em saúde, possui um papel fundamental. Em geral, as grandes transformações e impulsos que a área da saúde tem são realizados por este setor. ATORES PROVENDO INSUMOS No grupo atores promovendo insumos, estão: a produção e a distribuição nacional e estrangeira de medicamentos e imunobiológicos; de equipamentos ambulatoriais e hospitalares; de material permanente e de consumo; de equipamento e material de informática e veículos para serviços de saúde e de produção de outros produtos para o setor saúde, além das associações e sindicados destas indústrias nacionais e internacionais. Da mesma forma que no item anterior, é uma parte da cadeia produtiva que nem sempre tem seu reconhecimento adequado. Sem este setor estaríamos em um restaurante onde a comida não chegou, ou seja, sem funcionar. ATORES DO ESTADO ENVOLVIDOS Por fim, os atores do Estado envolvidos neste processo são: o Poder Executivo, o Ministério da Saúde, as Fundações e as Agências Reguladoras, as Secretarias Estaduais de Saúde e as Fundações, as Secretarias Municipais de Saúde, o MPF, as Procuradorias e as Promotorias, o Poder Legislativo, o Senado, a Câmara dos Deputados, a Frente Parlamentar, as Assembleias Legislativas, as Câmaras Municipais, os Tribunais de conta da União, o Estado e o Município, o Poder Judiciário em todas as suas esferas (STF, STJ, TST, TRFs e TRTs, TJ e Varas Estaduais e Municipais), os órgãos públicos prestando serviços de saúde a seus servidores. Na categoria de atores prestadores de serviço, incluí- mos as unidades e redes públicas ou privadas, as clíni- cas, os ambulató- rios e os hospitais- -dia, os hospitais e casas de saúde, os laboratórios de patologia clínica, os serviços de radiolo- gia, os serviços de tratamento especia- lizado, os serviços de informática e telemedicina, os abrigos de idosos e deficientes, os serviços gerenciais, as associações, os sindicatos e as federações de prestadores de serviço, nacionais e internacionais. 14 Organização e Planejamento Hospitalar Por último, mas de forma alguma menos importante, o Estado em toda a sua complexidade é o grande ator no sistema de saúde atual. Ele é o provedor de saúde. Tendo, aqui, o entendimento de que saúde inicia na prevenção, com redes de saneamento, orientação, campanhas de vacinação, etc. Além disso, a maior rede de atendimento, seja no nível primário, seja no nível secundário, seja no terciário (conceitos que desbravaremos a seguir), é do Estado, entendendo a união das três esferas, nesse caso. Como se não bastasse, toda a política, regulação e fiscalização também cabe ao Estado. Assim, podemos ver o papel fundamental e imenso que esse ator exerce. Atividade de Estudos: 1) Leia o texto a seguir: DEMOCRACIA E CONTROLE SOCIAL Dentro do regime democrático de Governo a divisão de poderes (executivo, legislativo e judiciário) pode, de certa maneira, ser entendida como uma forma de Controle que um Poder deve exercer sobre o outro. Assim, por exemplo, podemos entender que uma das funções do Poder Legislativo (Câmaras, Assembleias, Congresso Nacional) é o de fiscalizar e exercer um certo “controle” sobre as ações do executivo. Hoje em dia esse tipo de controle, que nós podemos chamar de Institucional, é exercido não apenas pelo Poder Legislativo, mas pelos Tribunais de Contas e Controladorias. As Controladorias (da União, dos Estados e Municípios) são órgãos de controle interno, porque as mesmas fazem parte do Poder Executivo. Os Tribunais de Contas (da União, Estados e Municípios) assim como o Poder Legislativo são órgãos de controle externo, pois não fazem parte do Poder Executivo. Estes órgãos têm todos eles e cada um dentro da sua esfera de competência, a função de fiscalizar o gasto dos recursos públicos (federais, estaduais, municipais) e podem ser acionados por meio de denúncias, por qualquer cidadão. Além dessa forma de Controle Institucional, que um Poder ou Órgão exerce sobre o outro, hoje em dia tem-se falado muito SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 15 em Controle Social, que pode ser entendido como uma forma de fiscalização e controle por parte da própria sociedade sobre as ações do Estado. Por permitir que os próprios cidadãos participem de alguma forma da gestão da coisa pública, o Controle Social propicia a vivência da própria Democracia, pois, ao praticar esse controle, os cidadãos podem interferir no planejamento, na realização e na avaliação das atividades do governo. O controle social pode ser entendido como a participação do cidadão na gestão pública: fiscalização,monitoramento e controle das ações da Administração Pública. É um importante mecanismo de fortalecimento da cidadania, que contribui para aproximar a sociedade do Estado, abrindo a oportunidade de os cidadãos acompanharem as ações dos governos e cobrarem uma boa gestão pública. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/wmKJfP>. Acesso em: 09 jun. 2016. Após realizar a leitura do texto indicado, baseado nele e no que vimos até o momento sobre os atores, faça uma reflexão escrita sobre o papel do controle social e a base da participação da sociedade no processo regulatório estatal, como um dos atores sociais no processo saúde. Busque outros textos para enriquecer sua reflexão. _________________________________________________ ___ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 16 Organização e Planejamento Hospitalar Figura 1 – Corrupção no setor saúde Fonte: Vieira (2009). Caro(a) pós-graduando(a), estudaremos, a seguir, os níveis de atenção à saúde. Para sua organização, levam-se em conta principalmente três elementos: a) Tecnologia material disponível (máquinas e equipamentos de diagnóstico e terapêutica); b) Capacitação de pessoal (por exemplo, tempo de formação de cada curso de graduação, gasto do poder público para formar estas pessoas); c) Perfil de morbidade da população-alvo do sistema (as doenças mais frequentes nesta população). A seguir, descreveremos os três níveis de atenção à saúde, conforme o modelo tradicional utilizado. Mais adiante, veremos uma nova conformação organizacional que vem sendo aplicada no modelo sanitário brasileiro. O nível primário é aquele onde estão os equipamentos com menor grau de SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 17 incorporação tecnológica do sistema (os equipamentos de geração tecnológica mais antiga, tais como: aparelhos básicos de raios X, sonar e, eventualmente, ultrassom). A capacitação de pessoal para esse nível apresenta necessidades de uma formação geral e abrangente para atender os eventos mais prevalentes na população (os problemas de saúde mais frequentes). No que diz respeito aos médicos, temos os médicos de família e os clínicos gerais. Estima-se que entre 85% e 90% dos casos demandados à atenção primária são passíveis de serem resolvidos neste nível da atenção. Ao nível secundário cabem os equipamentos com grau intermediário de inovação tecnológica (tais como: aparelhos de Raio X com alguma sofisticação, ecocardiógrafo, ultrassom de geração mais nova, aparelhos para endoscopia). A capacitação de pessoal e, em particular, a dos médicos, situa-se em áreas especializadas originárias (clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, pediatria) e outras, tais como: oftalmologia e psiquiatria. Essas especializações, no caso dos médicos, requerem de dois a três anos além da graduação, atingindo sua formação completa, que se realiza por meio da residência médica. Os serviços de atenção secundária devem estar aparelhados com pessoal e equipamentos para atender às situações que foram encaminhadas pelo nível primário. O nível terciário concentra os equipamentos com alta incorporação tecnológica, aqueles de última geração e, portanto, mais caros (tais como: ressonância magnética e PET Scan). O pessoal que trabalha nele necessita de formação especializada mais intensiva, no caso dos médicos, até em áreas superespecializadas (neurocirurgia, cirurgia de mão, nefrologia pediátrica, cancerologia, dentre outras), que demandam de três a cinco anos de residência médica para obter a capacitação. O nível terciário deve estar aparelhado para atender a situações que o nível secundário não conseguiu resolver e eventos mais raros ou aqueles que demandam assistência deste nível do sistema. ATenção PrimáriA em SAúde (APS) O conceito de Atenção Primária em Saúde (APS) foi primeiramente definido na conferência de Alma-Ata em 1978. 18 Organização e Planejamento Hospitalar Atenção primária à saúde define-se como: Os cuidados essenciais baseados em métodos de trabalho e tecnologias de natureza prática, cientificamente críveis e socialmente aceitáveis, universalmente acessíveis na comunidade aos indivíduos e às famílias, com a sua total participação e a um custo suportável para as comunidades e para os países, à medida que se desenvolvem num espírito de autonomia e autodeterminação. (OMS/UNICEF, 1978, p. 14). Caro(a) pós-graduando(a), como você pode ver, essa definição traz alguns conceitos básicos, que são importantes para entendermos quão ampla é a atenção primária. Nesta definição temos inserida a educação em saúde, conceito inicialmente no inconsciente coletivo não tido como sendo saúde. Entretanto, ressaltamos a importância deste item, pois o SUS passa a ter um papel fundamental na formação do seu próprio plantel futuro, garantindo, assim, a qualidade da assistência futura no país. Outro conceito importante é o do saneamento básico. Inúmeras doenças são evitadas com esta ação, garantindo a qualidade de vida da população, evitando doenças simples e economizando milhões em recursos que podem ser aplicados em outras ações. A crise em torno do zika vírus se deve a décadas de políticas falhas de controle de mosquitos e à falta de acesso a serviços de planejamento familiar, informou nesta segunda-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS). “A propagação do zika (…) é resultado da desastrosa política que levou ao abandono do controle de mosquitos nos anos 1970”, declarou Margaret Chan, diretora-geral da OMS, no início da assembleia anual de saúde da organização em Genebra. Essas falhas permitiram que o vírus se espalhasse rápido e criasse “uma ameaça significante para a saúde global”, disse Chan à cerca de 3.000 delegados dos 194 países-membros da OMS. Outro conceito importante é o do saneamento básico. Inúmeras doenças são evitadas com esta ação, garantindo a qualidade de vida da população, evitando doenças simples e economi- zando milhões em recursos que po- dem ser aplicados em outras ações. SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 19 Especialistas afirmam que o zika vírus está por trás do surto de microcefalia – doença que se caracteriza por um perímetro craniano menor que o normal – na América Latina, em bebês nascidos de mulheres que contraíram o vírus durante a gravidez. O zika, que também causa distúrbios neurológicos como a síndrome de Guillain-Barré, na qual o sistema imunológico ataca o sistema nervoso, é transmitida principalmente pelo Aedes aegypti, mas também por contato sexual. Nas décadas de 1950 e 1960, foram realizados programas de controle de mosquitos para evitar a propagação da dengue e da febre amarela, e o Aedes aegypti quase foi erradicado na América do Sul e Central. Quando os programas foram interrompidos na década de 1970, porém, o mosquito voltou. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/tJC0MF>. Acesso em: 22 jun. 2016. Seguindo, temos o programa materno-infantil, incluindo imunização e planejamento familiar. Como sabemos as taxas de mortalidade materna e infantil têm sido reduzidas graças a esses programas, porém ainda estamos longe do ideal, reforçando essa necessidade. Outro ponto fundamental, a prevenção de endemias. Conforme descrito no texto acima, temos hoje, no país, uma falha grave neste contexto. Vivemos toda uma realidade de doenças graves como dengue, zika vírus, chikungunya, sem falar em outras que ficam esquecidas diante da gravidade destas, como febre amarela no norte do país. A atuação para evitar essas doenças é mais uma ação que deve ser realizada pela atenção primária, reforçando, ainda mais, a importância desse nível de atenção. O tratamento apropriado das doenças e danos mais comuns reflete o quecomumente conhecemos por ação primária. Como dito anteriormente, de 85% a 90% dos agravos mais comuns podem e devem ser tratados na atenção primária. A provisão de medicamentos essenciais, a promoção de alimentação saudável e de micronutrientes e a valorização das práticas complementares são outras das responsabilidades que a atenção primária possui dentro de seu escopo de atuação. Nesse sentido, o nível primário passa a “ocupar o banco do motorista”, sendo 20 Organização e Planejamento Hospitalar o responsável pela organização e funcionamento da porta de entrada do sistema. Ela deve ser resolutiva para a maior parte dos agravos à saúde, conforme já mencionado, além de descentralizar e facilitar o funcionamento do sistema de forma a criar economicidade nas ações de saúde governamentais. Hoje, no Brasil, a APS está centralizada nas ações da Estratégia de Saúde da Família (ESF), mas, como podemos observar nas metas a serem atingidas pela APS, os ESFs, muitas vezes, ficam aquém, necessitando compartilhar responsabilidades com a vigilância epidemiológica, as instituições de ensino e outras, para realizar todas as atividades demandadas. Assim, quando concentramos no ESF boa parte das ações pretendidas pela APS, temos, conforme descrito no compendio do CONASS, a Atenção Primária e as Redes de Atenção à Saúde. (BRASIL, 2015). [...] operacionalmente, uma conceituação de APS implica o exercício de sete atributos e de três papéis, e só haverá uma APS idealizados, em sua totalidade. Os primeiros quatro (primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação) são os atributos essenciais e os três últimos (focalização na família, orientação comunitária e competência cultural) os atributos derivados. O primeiro contato implica a acessibilidade e o uso de serviços para cada novo problema ou novo episódio de um problema para os quais se procura atenção à saúde. A longitudinalidade constitui a existência do aporte regular de cuidados pela equipe de saúde e seu uso consistente ao longo do tempo, em um ambiente de relação mútua de confiança e humanizada entre equipe de saúde, indivíduos e famílias. A integralidade significa a prestação, pela equipe de saúde, de um conjunto de serviços que atendam às necessidades da população adscrita nos campos da promoção, da prevenção, da cura, do cuidado, da reabilitação e da paliação, a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção à saúde e o reconhecimento adequado dos problemas biológicos, psicológicos e sociais que causam as doenças. A coordenação conota a capacidade de garantir a continuidade da atenção, por meio da equipe de saúde, com o reconhecimento dos problemas que requerem seguimento constante e se articula com a função de centro de comunicação das RAS. A focalização na família impõe considerar a família da mesma forma, uma APS como estratégia só existirá se ela cumprir seus três papéis essenciais: a resolutividade, a coordenação e a responsabilização. O papel da resolutividade, inerente ao nível de cuidados primários, significa que eles devem ser resolutivos, capacitados, portanto, cognitiva e tecnologicamente, para atender a 90% da demanda da APS. O papel de coordenação expressa o exercício, pela APS, de SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 21 centro de comunicação das RAS, o que significa ter condições ordenar os fluxos e contrafluxos das pessoas, dos produtos e das informações entre os diferentes componentes das redes. A função de responsabilização implica o conhecimento e o relacionamento íntimo, nos microterritórios sanitários, da população adscrita, o exercício da gestão de base populacional e a responsabilização econômica e sanitária em relação a essa população adscrita. (MENDES, 2002). Na Estratégia de Saúde da Família, temos, hoje, vários modelos de cuidados: no tradicional, os médicos e enfermeiros generalistas atendem à população com ênfase em consultas médicas e de enfermagem. Outro modelo, baseado na experiência russa, prevê a atenção realizada por uma tríade de médicos especialistas: clínico, gineco-obstetra e pediatra. Além deste, há o modelo em que o médico realiza especialização em medicina de família e comunidade, calcado nos modelos europeus e canadenses, nos quais a centralidade do cuidado se faz por meio de consultas médicas, propiciadas por especialistas em medicina de família e comunidade. No Brasil, hoje, predomina o modelo de Estratégia de Saúde da Família em que o cuidado primário está centrado em uma equipe multiprofissional, trabalhando de forma interdisciplinar e por meio de um conjunto ampliado de encontros clínicos, que envolvem consultas individuais e atividades em grupo. Historicamente, a ideia de atenção primária foi utilizada como forma de organização dos sistemas de saúde pela primeira vez no chamado Relatório Dawnson, em 1920. Esse documento do governo inglês procurou, de um lado, contrapor-se ao modelo flexineriano americano de cunho curativo, fundado no reducionismo biológico e na atenção individual, e por outro, constituir-se numa referência para a organização do modelo de atenção inglês, que começava a preocupar as autoridades daquele país, devido ao elevado custo, à crescente complexidade da atenção médica e à baixa resolutividade. (BRASIL, 2015). Esse conjunto de ações proposto ficou conhecido como o projeto “Saúde para Todos no Ano 2000”, ratificado por 134 países na Declaração de Alma-Ata, a qual defendia que: Os cuidados primários de saúde são cuidados essenciais de saúde baseados em métodos e tecnologias práticas, 22 Organização e Planejamento Hospitalar cientificamente bem fundamentadas e socialmente aceitáveis, colocadas ao alcance universal de indivíduos e famílias da comunidade, mediante sua plena participação e a um custo que a comunidade e o país possam manter em cada fase de seu desenvolvimento, no espírito de autoconfiança e autodeterminação. Fazem parte integrante tanto do sistema de saúde do país, do qual constituem a função central e o foco principal, quanto do desenvolvimento social e econômico global da comunidade. Representam o primeiro nível de contato dos indivíduos, da família e da comunidade com o sistema nacional de saúde, pelo qual os cuidados de saúde são levados o mais proximamente possível aos lugares onde pessoas vivem e trabalham, e constituem o primeiro elemento de um continuado processo de assistência à saúde. (OMS/ UNICEF, 1978). Você sabia que Marc Lalonde, Ministro da Saúde do Canadá, na década de 1970, ao investigar o impacto dos investimentos e gastos em saúde na melhoria dos indicadores, constatou que 80% das causas das doenças estavam relacionadas a estilos de vida e ambiente? Esse foi um disparador para o questionamento sobre a capacidade das ações sanitárias setoriais para resolver os problemas de saúde. rede SeCundáriA A rede secundária caracteriza-se pela prestação de serviços por meio de unidades especializadas – sejam ambulatórios, hospitais, centros odontológicos –, que garantam o acesso da população. Está baseada na organização dos serviços de forma que consiga solucionar problemas e realizar exames que necessitam de maior complexidade na sua prática, porém sem necessitar de estruturas de alta complexidade, o que já seria a função da atenção terciária, como veremos a seguir. A organização da atenção secundária se dá por meio de cada uma das microrregiões do Estado, nas quais há hospitais de nível secundário, que prestam assistência nas especialidades básicas (pediatria, clínica médica e obstetrícia), além dos serviços de urgência e emergência, ambulatório eletivo para referências e assistência a pacientes internados, treinamento, avaliação e acompanhamento da Equipe de Saúde da Família (ESF). (BRASIL, 2015). A rede secundária caracteriza-se pela prestação de serviços por meio de unidades espe- cializadas – sejam ambulatórios, hospitais, centros odontológicos–, que garantam o acesso da popu- lação. SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 23 Na rede de saúde, a atenção secundária é formada, como dito anteriormente, pelos serviços especializados em nível ambulatorial e hospitalar, que possuam uma densidade tecnológica intermediária entre a atenção primária e a terciária, chamada, genericamente, de serviços ou procedimentos de média complexidade. Nesse nível de atendimento, temos os serviços médicos especializados, o apoio diagnóstico e terapêutico, bem como o atendimento de urgência e emergência. (ERDMANN et al., 2013). Conforme podemos ver no texto abaixo, extraído da página da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza, a atenção secundária ou de média complexidade envolve tanto ambulatórios especializados quanto hospitais de médio porte, além de centros de diagnóstico especializados. ATENÇÃO SECUNDÁRIA A atenção secundária ou média complexidade em saúde é exercida na rede municipal de Fortaleza por oito hospitais gerais e dois especializados, dois centros de especialidades odontológicas e um centro de especialidades médicas, além de algumas unidades de atenção primária que oferecem consultas especializadas. As unidades de saúde de nível secundário reúnem os serviços especializados e de apoio diagnóstico e terapêutico. Para ter acesso à atenção secundária, o usuário geralmente é encaminhado de um serviço de atenção primária, o posto de saúde ou Centro de Saúde da Família. Em Fortaleza, existem 92 unidades de atenção básica que intermediam o atendimento dos pacientes que precisem da atenção em média complexidade. Os serviços de atenção secundária devem estar aparelhados com pessoal e equipamentos para atender às necessidades dos usuários encaminhadas pelas unidades de nível primário; materiais com grau intermediário de inovação tecnológica, mais sofisticados do que os aparelhos encontrados nos serviços de atenção básica. Além de equipamentos, como aparelhos de raios x, endoscopia, ecocardiógrafo e ultrassom, de maior capacidade e precisão, os serviços devem contar com profissionais especializados em áreas como cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, pediatria, oftalmologia e psiquiatria. 24 Organização e Planejamento Hospitalar Os equipamentos de saúde essencialmente de nível secundário são os hospitais e os centros de especialidades médicas ou odontológicas. Em Fortaleza, esse nível de atenção é prestado pelos hospitais gerais (Hospital Distrital Evandro Ayres de Moura- Frotinha de Antonio Bezerra, Hospital Distrital Maria José Barroso de Oliveira-Frotinha de Parangaba, Hospital Distrital Edmilson Barros de Oliveira-Frotinha de Messejana, Hospital Distrital Gonzaga Mota da Barra do Ceará-Gonzaguinha da Barra, Hospital Distrital Gonzaga Mota do José Walter-Gonzaguinha do José Walter, Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana-Gonzaguinha de Messejana e Hospital Nossa Senhora da Conceição); hospital especializado infantil (Centro de Assistência à Criança Lúcia de Fátima Rodrigues Guimarães Sá), hospital especializado no atendimento à população feminina (Hospital da Mulher de Fortaleza) e hospital geral Instituto José Frota (IJF). O Hospital da Mulher e o IJF são de nível terciário, mas também oferecem atenção secundária. Além dos hospitais, a atenção secundária na rede municipal de saúde é encontrada em dois Centros de Especialidades Odontológicas (CEO Floresta, no bairro Álvaro Weyne, e CEO Messejana, no bairro homônimo) e no Centro de Especialidades Médicas José de Alencar, que funciona no centro da cidade. Os serviços públicos que também contam com atenção secundária em Fortaleza são as unidades mantidas pelo governo estadual (Hospital de Saúde Mental de Messejana, Hospital São José de Doenças Infecciosas, Hospital Geral César Cals de Oliveira, Hospital Geral de Fortaleza, Hospital de Messejana Carlos Alberto Studart Gomes, Hospital Geral Waldemar Alcântara e Hospital Infantil Albert Sabin) e pelo governo federal (Hospital Universitário Walter Cantídio e Maternidade Escola Assis Chateaubriand). Quando a rede própria de saúde pública não dispõe de vagas, serviços ou equipamentos necessários para assegurar o acesso à atenção secundária, os pacientes também podem ser encaminhados para a rede contratada, formada por serviços privados, geralmente hospitalares, que mantêm convênio com o Sistema Único de Saúde. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/YpcFn2>. Acesso em: 23 jul. 2016. SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 25 Atividade de Estudos: 1) O que você passou a entender por atenção secundária ou de média complexidade? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ rede TerCiáriA Na atenção terciária, temos os serviços superespecializados e de alta complexidade, como, por exemplo, os serviços de transplante, cirurgia cardíaca, dentre outros. A atenção terciária é organizada, geralmente, em polos macrorregionais, ao contrário da de média complexidade, que era microrregional, e tem seu atendimento organizado por meio do sistema de referência. O modelo vigente de atenção à saúde privilegia o hospital como ambiente para a prática de cuidados e isso acaba fazendo com que as pessoas acabem tendo a atenção terciária como sendo a de maior importância. É certo que, em geral, é este setor que incorpora as tecnologias mais atuais e mais complexas, passando para a população a falsa ideia de maior eficiência. A seguir, do mesmo modo que para a média complexidade, transcrevemos o texto da prefeitura de Fortaleza, que descreve este nível de complexidade de seu sistema. ATENÇÃO TERCIÁRIA Na rede pública municipal de saúde de Fortaleza, a atenção terciária é realizada no Instituto José Frota - IJF, o maior hospital de urgência e emergência do Ceará, com atendimento 24 horas para pacientes de alta complexidade e referência para o tratamento de queimaduras, intoxicações e traumatologia. Na atenção terciária, temos os serviços superespecializados e de alta comple- xidade, como, por exemplo, os serviços de transplante, cirur- gia cardíaca, dentre outros. 26 Organização e Planejamento Hospitalar A atenção à saúde de nível terciário é integrada pelos serviços ambulatoriais e hospitalares especializados. Ela é constituída por grandes hospitais gerais e especializados, que concentram tecnologia de maior complexidade e devem oferecer à população atendimento de excelência, servindo de referência para outros serviços, sistemas e programas em saúde. As áreas hospitalares que compõem o atendimento de grande complexidade no Sistema Único de Saúde (SUS) estão organizadas para a realização de procedimentos que envolvem alta tecnologia e/ ou alto custo, como oncologia, cardiologia, oftalmologia, transplantes, parto de alto risco, traumato-ortopedia, neurocirurgia, diálise (para pacientes com doença renal crônica), otologia (para o tratamento de doenças no aparelho auditivo). A atenção terciária envolve também a assistência em cirurgia reparadora (de mutilações, traumas ou queimaduras graves), cirurgia bariátrica (para os casos de obesidade mórbida), cirurgia reprodutiva, reprodução assistida, genética clínica, terapia nutricional, distrofia muscular progressiva, osteogênese imperfeita (doença genética que provoca a fragilidade dos ossos) e fibrose cística (doença genética que acomete vários órgãos do corpo causando deficiências progressivas). Entre os procedimentos ambulatoriais de alta complexidade estão a quimioterapia, a radioterapia, a hemoterapia, a ressonância magnética e a medicina nuclear, além do fornecimento de medicamentos excepcionais. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/wTnpWI>. Acesso em 23 jun. 2016. Atividade de Estudos: 1) Quais as diferençasque você observa entre os níveis de média e alta complexidade em saúde? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 27 Caro(a) pós-graduando(a), como você viu são diversos os atores que cooperam para que o sistema de saúde possa atender à população e, historicamente, a organização em níveis de complexidade vem sendo utilizada para efetivar o atendimento, de forma escalonada do ponto de vista de complexidade, tentando, dessa forma, garantir o atendimento em sua plenitude total. Entretanto, o próximo passo que vem sendo dado na estrutura de atendimento à saúde passa pela modificação dessa realidade, buscando atuar na forma de redes de atenção à saúde (RAS). O objetivo é conseguir uma maior interação entre os diversos níveis e entre os diversos atores. No Brasil, o governo federal já tem implantadas algumas redes de atenção, como, por exemplo, a Rede Cegonha, responsável pelo atendimento das gestantes, a Rede Urgências, englobando desde o atendimento pré-hospitalar (Serviço Médico de Urgência - SAMU) até hospitais de referência e a Rede de Atendimento Oncológico. Observe o texto abaixo para que possa ter um primeiro vislumbre do que parece ser o futuro do sistema de atenção. MODELOS ASSISTENCIAIS: SISTEMAS, MODELOS E REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE Os Sistemas de Atenção à Saúde: Os sistemas de atenção à saúde são definidos pela Organização Mundial da Saúde como o conjunto de atividades cujo propósito primeiro é promover, restaurar e manter a saúde de uma população. Então, os sistemas de atenção à saúde são respostas sociais, organizadas deliberadamente, para responder às necessidades, demandas e representações das populações, em determinada sociedade e em certo tempo. Os sistemas de atenção à saúde apresentam os seguintes objetivos: O alcance de um nível ótimo de saúde, distribuído de forma equitativa; A garantia de uma proteção adequada dos riscos para todos os cidadãos; O acolhimento humanizado de todos os cidadãos; A garantia da prestação de serviços efetivos e de qualidade; A garantia da prestação de serviços com eficiência. (MENDES, 2002). 28 Organização e Planejamento Hospitalar Os sistemas de serviços de saúde podem apresentar-se, na prática social, por meio de diferentes formas organizacionais. Na experiência internacional contemporânea, as tipologias mais encontradas são de sistemas fragmentados e redes de atenção à saúde. Os sistemas fragmentados de atenção à saúde, fortemente hegemônicos, são aqueles que se (des) organizam através de um conjunto de pontos de atenção à saúde isolados e incomunicados uns dos outros e que, por consequência, são incapazes de prestar uma atenção contínua à população. Em geral, não há uma população descrita de responsabilização. Neles, a atenção primária à saúde não se comunica fluidamente com a atenção secundária à saúde e, esses dois níveis, também não se comunicam com a atenção terciária à saúde. Diferentemente, os sistemas integrados de atenção à saúde são aqueles organizados através de uma rede integrada de pontos de atenção à saúde que presta uma assistência contínua e integral a uma população definida, com comunicação fluida entre os diferentes níveis de atenção à saúde. Nos modelos fragmentados de atenção à saúde, predomina uma visão de uma estrutura hierárquica, definida por níveis de “complexidades” crescentes, e com relações de ordem e graus de importância entre os diferentes níveis. Esta concepção de sistema hierarquizado, organizado por níveis de atenção segundo uma complexidade crescente, tem sérios problemas. Ela fundamenta-se num conceito de complexidade equivocado, ao estabelecer que a atenção primária à saúde é menos complexa do que a atenção nos níveis secundário e terciário. Tal visão distorcida de complexidade leva, consciente ou inconscientemente, a uma banalização da atenção primária à saúde e a uma sobrevalorização, seja material, seja simbólica, das práticas que exigem maior densidade tecnológica e que são exercitadas nos níveis secundário e terciário de atenção à saúde. Nas redes de atenção à saúde, essa concepção de hierarquia é substituída pela de poliarquia e o sistema organiza-se sob a forma de uma rede horizontal de atenção à saúde. Assim, nas redes de atenção à saúde não há uma hierarquia entre os diferentes pontos de atenção à saúde, mas a conformação de uma rede horizontal de pontos de atenção à saúde de distintas densidades tecnológicas, sem ordem e sem grau de importância entre eles. Todos os pontos de atenção à saúde SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 29 são igualmente importantes para que se cumpram os objetivos das redes de atenção à saúde. Apenas se diferenciam pelas diferentes densidades tecnológicas que caracterizam os diversos pontos de atenção à saúde. A figura que segue procura ilustrar essa mudança de um sistema hierárquico, nos níveis de atenção primária, secundária e terciária à saúde, para uma rede horizontal integrada, organizada a partir de um centro de comunicação, o ponto da atenção primária à saúde, representado pelo círculo central. A figura anterior aponta para mudança radical da organização dos sistemas de atenção à saúde que não pode se limitar a uma inversão destes sistemas, como é proposto frequentemente. Porque não se trata, apenas, de inverter a forma piramidal, mas de subvertê- la, substituindo-a por outra forma organizacional, de qualidade inteiramente distinta, a rede poliárquica de atenção à saúde. Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/pt2XPe>. Acesso em: 07 jun. 2016. 30 Organização e Planejamento Hospitalar ALGumAS ConSiderAçõeS Neste capítulo, estudamos os atores envolvidos no sistema de saúde brasileiro e pudemos observar a alta complexidade existente, ocorrendo uma interação entre atores internos e externos, fazendo com que o sistema de saúde funcione. Vimos, também, os diversos níveis de atenção à saúde, conhecendo o funcionamento e o que significa a atenção primária, secundária e terciária. Por fim, tivemos um vislumbre do que pode ser o futuro desse sistema, algo que já ocorre em setores específicos, que é o funcionamento do sistema por meio de redes de atenção especializadas, citando os exemplos da rede de atenção a urgências e emergências e a rede cegonha. Esperamos que tenha captado os postulados descritos, lembrando que há muito mais e o aprofundamento demandará leitura de novos textos. referênCiAS BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. A atenção primária e as redes de atenção à saúde/Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília: CONASS, 2015. ERDMANN A. L. et al. A atenção secundária em saúde: melhores práticas na rede de serviços. Revista Latino-Americana de Enfermagem. jan./fev. 2013. Disponível em: <http://goo.gl/dYgdHO>. Acesso em: 23 jun. 2016. MENDES, E. V. A atenção primária à saúde no SUS. Fortaleza: Escola de Saúde Pública do Ceará, 2002. OMS/UNICEF. Relatório da conferência internacional sobre cuidados de saúde Alma-Ata. URSS, 6-12 de setembro de 1978. SABOURIN, E. Desenvolvimento territorial e abordagem territorial: conceitos, estratégias e atores. In: SABOURIN, E.; TEIXEIRA, O. A. (Ed.). Planejamento e desenvolvimento dos territórios rurais – conceitos, controvérsias, experiências. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. SiStemaS de Saúde no BraSil Capítulo 1 31 SOUZA, H. J. Como se faz análise de conjuntura. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 1991. VIEIRA, C. O papel dos principais atores da saúde e sua interação. In: SEMINÁRIO ESTADUAL SOBRE A QUESTÃO DA SAÚDE. Belo Horizonte, 2009. Anais... Belo Horizonte: FUNDAMIG; AHMG; Unimed-BH; BI Social Quaresma; InstitutoMário Penna, 2009. 32 Organização e Planejamento Hospitalar CAPÍTULO 2 SiSTemA HoSPiTALAr A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer a evolução dos hospitais no mundo e o sistema hospitalar brasileiro. Descrever a função dos hospitais e suas complexidades. 34 Organização e Planejamento Hospitalar 35 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 ConTexTuALizAção O sistema hospitalar surgiu, de forma insipiente há muitos anos, tendo uma evolução constante que foi sendo aprimorada. Egípcios, gregos, mesopotâmios, chineses e outros povos, tiveram um papel importante na evolução do sistema hospitalar, culminando na idade média em que surgiu o primórdio do que hoje conhecemos como um hospital. Conhecer esta história e reconhecer dentro de sua evolução quais os hospitais existentes, é de suma importância para compreender e entender o sistema hospitalar atual. evoLução doS HoSPiTAiS A palavra hospital é originária do latim hospitalis, adjetivo derivado de hospes (hospedeiro, estrangeiro, visitante) porque nesses locais eram recebidas pessoas pobres e peregrinas. (GÓES, 2004). O termo hospital tem hoje a mesma acepção de nosocomium, de fonte grega, cuja significação é – tratar os doentes. Assim, como nosodochium quer dizer – receber os doentes. (LISBOA, 2002). Para compreendermos a acepção de hospital utilizada atualmente, necessitamos ir um pouco antes, ao princípio dos tempos. Na antiguidade, os conceitos de saúde e doença eram tratados como frutos de magia e influência dos deuses e deusas. Não havia conceitos biológicos, como os utilizados na atualidade. Os pacientes eram tratados como se os problemas de saúde fossem por ira dos deuses, por pecados da pessoa ou da população, quando das grandes epidemias. Isso pode ser observado em diversas civilizações, como a Egípcia, a Grega (Asclépio, Higéia e Panaceia). Esse conceito chegou muito próximo de nós no tempo das civilizações, em que a peste, responsável por dizimar grande parte da população europeia na Idade Média, foi tratada como um castigo de Deus. Nessa época, o conceito de hospital ainda não existia como o conhecemos, nem tampouco como abrigo, conceito que foi criado um pouco mais adiante. A palavra hospital é originária do latim hospitalis. 36 Organização e Planejamento Hospitalar Figura 2 - A peste Fonte: Disponível em: <http://www.jmrezende.com.br/ pinturas.html>. Acesso em: 10 jul. 2016. Embora o conceito de hospital, como o conhecemos, ou mesmo como casa de abrigo, que foi sua vocação inicial, como veremos adiante, ainda não existisse, a prática da medicina remonta a milhares de anos. Na Babilônia, a prática da medicina era realizada nos mercados públicos, conforme relato de Heródoto, o grande historiador de Halicarnassus: Os doentes eram conduzidos ao mercado, porque não existiam médicos. Os que passavam pelo doente interpelavam-no com o intuito de verificar se eles próprios tinham sofrido o mesmo mal ou sabiam de outros que tivessem tido. Podiam assim propor o tratamento que lhes fora eficaz ou eficaz na cura de pessoas de suas relações. E não era permitido passar pelo doente em silêncio. Todos deviam indagar a causa da sua moléstia. (BRASIL, 1965, p. 8). O conceito da ação do médico se encontrava bem estabelecido já na época, tendo uma parte do famoso Código Hammurabi (2.250 A.C.) descrito os honorários, responsabilidades e punições para o profissional que exercesse a Figura 3 – Código de Hammurabi 37 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 Figura 3 – Código de Hammurabi Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/Rli3Zg>. Acesso em: 12 jul. 2016. CÓDIGO DE HAMMURABI XIII - MÉDICOS E VETERINÁRIOS; ARQUITETOS E BATELEIROS (SALÁRIOS, HONORÁRIOS E RESPONSABILIDADE) 215º - Se um médico trata alguém de uma grave ferida com a lanceta de bronze e o cura ou se ele abre a alguém uma incisão com a lanceta de bronze e o olho é salvo, deverá receber dez siclos. 216º - Se é um liberto, ele receberá cinco siclos. 217º - Se é o escravo de alguém, o seu proprietário deverá dar ao médico dois siclos. 218º - Se um médico trata alguém de uma grave ferida com a lanceta de bronze e o mata ou lhe abre uma incisão com a lanceta de bronze e o olho fica perdido, se lhe deverão cortar as mãos. 38 Organização e Planejamento Hospitalar 219º - Se o médico trata o escravo de um liberto de uma ferida grave com a lanceta de bronze e o mata, deverá dar escravo por escravo. 220º - Se ele abriu a sua incisão com a lanceta de bronze o olho fica perdido, deverá pagar metade de seu preço. 221º - Se um médico restabelece o osso quebrado de alguém ou as partes moles doentes, o doente deverá dar ao médico cinco siclos. 222º - Se é um liberto, deverá dar três siclos. 223º - Se é um escravo, o dono deverá dar ao médico dois siclos. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/UAdl1R>. Acesso em: 13 jul. 2016. Os assírios começaram a tomar corpo nos estudos médicos. Estudaram diversos preparos, porém, ainda assim, o “encantamento” era tido em grande conta. Dessa forma, os médicos assírio-babilonescos exerceram sua atividade até no Egito. Textos médicos ou paramédicos dos tempos assírio-babilonescos, os mais remotos da história da medicina, oferecem documentos sobre a atividade médica na Mesopotâmia, desde três mil anos antes da era cristã (BRASIL, 1965). A maior parte dos textos ainda existentes são oriundos da biblioteca do palácio de NINIVE e foi reunida pelo rei ASSUBANIPAL (668-625 A.C.). Receitas simples ou mais complexas estavam descritas e, em muitas delas, a purificação por meios físicos e o encantamento, utilizando-se de artifícios como o sacrifício de animais. Como pudemos observar, a história da medicina tem suas origens em época bem mais remota do que a dos hospitais. Inclusive no Egito, a medicina ganhou proporções. Havia, na época, especialistas, como podemos observar nas palavras de Heródoto: A medicina no Egito está subdividida de modo que cada médico cura apenas uma enfermidade; o país está repleto de médicos dos quais uns são médicos dos olhos, outros da cabeça, outros dos dentes, outros do abdome e outros também para as moléstias invisíveis. (BRASIL, 1965, p. 10). 39 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 A partir da estruturação da medicina, mas, principalmente, da necessidade de ter um local de acolhida para os enfermos e, também, para os pobres e viajantes, é que se iniciou o conceito de hospital como dito anteriormente. O homem preocupado, a princípio, apenas com o bem-estar de sua família, foi obrigado, com o correr dos tempos e para sua própria defesa, a se interessar pela saúde dos seus semelhantes, quando o aumento da população e a intensificação do tráfego demonstraram a necessidade de proteção coletiva. O desenvolvimento das religiões, principalmente a cristã, fez com que o movimento crescesse, atingindo proporções e fazendo surgir centros de acolhida. Cabe ressaltar, entretanto, que, em civilizações mais antigas, encontramos os primórdios das instituições hospitalares: no Egito, temos o templo de Saturno. No tempo da fundação de Alexandria, existiram os templos de Serapis, IsisSerapieia e Isieria, segundo o modelo das Asclepieia gregas, locais onde os enfermos eram acolhidos, recebidos por sacerdotes e, então, agraciados por meio de rituais de cura com sua melhora. (LISBOA, 2002). No princípio dos registros existentes de civilização, o conceito de hospital e, inclusive, de tratamento dos enfermos eram muito distantes do atualmente utilizado. Você encontrará ainda na literatura outros termos para definição de hospital, tais como os descritos no quadro que segue: Quadro 1 – Diversas definições da palavra hospital Fonte: Adaptado de Lisboa (2002). Palavras Significado Gynetrophyum Hospital para mulheres Ptochodochium, potochotrophium Asilo para pobres PoedotrophiumAsilo para crianças Gerontokomium Asilo para velhos Xenodochium, xenotrophium Asilo e refúgio para viajantes e estrangeiros Arginaria Asilo para os incuráveis Orphanotrophium Orfanato Hospitium Lugar onde hóspedes eram recebidos Asylum Abrigo ou algum tipo de assistência aos loucos 40 Organização e Planejamento Hospitalar De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu informe técnico 122 de 1957, em uma reunião na cidade de Genebra, hospital foi definido como: Parte integrante de um sistema coordenado de saúde cuja função é dispensar a comunidade completa assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos a família, em seu domicílio, e ainda um centro de formação para os que trabalham no campo da saúde e para pesquisas biossociais. (OMS, 1957, p. 4). Como dito anteriormente, é com a religião também que se inicia a “construção” dos hospitais, que, como vimos acima, eram mais casas de repouso. A história do hospital no mundo teve início com o imperador Constantino, em 335 d.C., que, pela fé cristã, fez destruir os templos de Esculápio e, no lugar, construir o hospital de Constantinopla para atender estrangeiros e peregrinos. Toledo (2006) relata que, na Idade Média, a assistência aos enfermos era realizada nas praças e mercados, em caráter não oficial para os pobres, e, em caráter oficial, no interior dos mosteiros ou em edificações anexas a estes, tendo como finalidade dar conforto e assistência, porém procedimentos médicos raramente eram realizados. Assim, eles tinham como função separar e excluir os pobres e enfermos do restante da população. Este conceito foi abordado por Foucault (1979, p. 59), em sua obra “A microfísica do poder”. Veja: O Hospital que funcionava na Europa desde a Idade Média: não era de modo algum, um meio de cura, não era um concebido para curar... Antes do século XVIII o hospital era essencialmente uma instituição de assistência aos pobres. Instituição de assistência como também, de separação e exclusão. O pobre como pobre tem necessidade de assistência e, como doente, portador de doença e de possível contágio é perigoso. Assim, vemos como no princípio a finalidade do “hospital” parece não ter sido tão nobre. 41 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. Microfísica do poder é uma coletânea de artigos, cursos, entrevistas e debates em que Foucault analisa questões relacionadas à medicina, à psiquiatria, à geografia, à economia, mas também ao hospital, à prisão, à justiça, ao Estado, ao papel do intelectual, à sexualidade, etc. O novo conceito de hospital ganhou a nomenclatura de Hospital Geral, ou seja, começou-se a misturar doentes com enfermidades variadas junto a loucos, devassos, prostitutas, etc. Nas palavras de Foucault (1979, p. 102): [...] o hospital geral, lugar de internamento onde se justapõem e se misturam doentes, loucos, devassos, prostitutas, etc., é ainda, em meados do século XVII, uma espécie de instrumento misto de exclusão, assistência e transformação espiritual, em que a função médica não aparece. Na Europa, surgem os grandes hospitais no século XIII: O Espírito Santo em Roma; o Hotel Dieu em Paris; São Tomás e São Bartolomeu em Londres. Os hospitais medievais funcionavam conforme o Livro da Regra do Espírito Santo. Nele, falava-se das práticas de higiene preconizadas nestes locais, na Idade Média. Devido ao fato de práticas de higiene serem incomuns nas cidades medievais, às vezes, sua adoção era suficiente para curar alguns doentes. (MARINELLI, 2006). Temos que lembrar da complexidade existente nessa época, quando a história nos conta, por exemplo, que o Hotel Dieu, em Paris, poucos anos após sua fundação, em 1651, abrigava cerca de 6.000 pessoas, cerca de 1% da população de Paris da época. Isso é algo impensável para os conceitos atuais. (CARVALHO, 2014). Seguindo a lógica do isolamento, os leprosários (casas de tratamento da lepra), surgiram no século XI como forma de isolamento dos doentes por ser uma doença contagiosa e de aspecto desagradável. Na maioria das vezes, eram instituições administradas por ordens religiosas. O novo conceito de hospital ganhou a nomenclatura de Hospital Geral, ou seja, começou-se a misturar doentes com enfermidades variadas junto a loucos, devassos, prostitutas, etc. Na Europa, surgem os grandes hospitais no século XIII: O Espírito Santo em Roma; o Hotel Dieu em Paris; São Tomás e São Bartolomeu em Londres. 42 Organização e Planejamento Hospitalar Nessa época, o personagem central do hospital, até o século XVIII, não era o doente que precisava se curar, mas o pobre que estava morrendo. O hospital dessa época era um morredouro, um lugar onde morrer. Quem lá trabalhava, na maioria dos casos, fazia-o para buscar sua própria salvação, por meio de um ato de caridade para com o próximo. A transformação desse depositário de pobres e esquecidos em hospital médico e terapêutico surgiu somente no século XVIII. Segundo Calvo (2002, p. 39): Essa transformação ocorreu por motivos econômicos e políticos. Por um lado, os hospitais militares eram locais escolhidos para empreendimento de fugas, deserções ou contrabandos. Muitos soldados fingiam estar doentes para, uma vez internados nos hospitais, fugirem ao duro regime de treinamento e trabalho militar; outros aproveitavam uma internação na chegada do mar para não passar na alfândega. Por outro lado, as doenças armazenadas nos hospitais estavam se espalhando na população, fazendo muitos outros novos doentes. Surgiu, assim, a necessidade de controlar o hospital para evitar que as doenças se espalhassem e que pacientes fugissem. A transformação do sistema hospitalar em um sistema de cura, então de repositório, passa pela evolução do saber médico, tornando-se o médico um elemento-chave deste desenvolvimento. Nas palavras de Foucault (1979, p. 63): “A partir do momento em que o hospital é concebido como um instrumento de cura, e a distribuição do espaço torna-se um instrumento terapêutico, o médico passa a ser o principal responsável pela organização hospitalar”. Na América, o primeiro hospital foi construído no México em meados de 1524. A instituição recebeu o nome de Hospital da Puríssima Conceição, e posteriormente de Jesus Nazareno. Anos seguintes foi fundado o Hospital de São Lázaro com acomodações para 400 pacientes e o Hospital Real, também na cidade do México. (MARINELLI, 2006). Outros hospitais foram sendo erguidos em outros países das Américas. Assim, temos no Canadá, o Hôtel-Dieu, fundado pela Duquesa de Aiguillon, em 1639, em Sillery, e mais tarde transferido para Quebec, onde ainda está sob responsabilidade dos Hospitalières de la Miséricorde de Jesus. 43 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 Figura 4 – Hôtel-Dieu (Paris) Fonte: Disponível em: <https://goo.gl/Hx9ff2>. Acesso: 15 jul. 2016. Nos Estados Unidos, o primeiro hospital foi erguido na ilha de Manhattan, por volta de 1663, “[...] a pedido do cirurgião Hendricksen Varrevanger, para a recepção dos soldados doentes que haviam sido previamente alojados em casas de famílias privadas, e para os negros da Companhia das Índias Ocidentais.”. (MARINELLI, 2006). O mais antigo hospital na cidade de New York é o New York Hospital, fundado em 1770 por contribuições particulares e doações vindas de Londres. (MARINELLI, 2006). Caro(a) pós-graduando(a), para aprofundar seus conhecimentos sobre o surgimento dos hospitais, sugerimos a leitura do seguinte texto: BRASIL. Ministério da Saúde. História e evolução dos hospitais. Rio de Janeiro, 1965. Disponível em: <http://goo.gl/GBNwvs>. Acesso em: 05 jul. 2016. o SiSTemA HoSPiTALAr BrASiLeiro No Brasil, o primeiro hospital criado foi a Santa Casa de Misericórdia de Santos, por Brás Cubas, em 1543, 43 anos após a descoberta do Brasil. D. João 44 Organizaçãoe Planejamento Hospitalar III concedeu-lhe o alvará real de privilégios em 2 de abril de 1551. Alguns anos após a fundação deste, Olinda, em Pernambuco, construiu seu hospital e, antes do fim do século XVI, São Paulo criou a sua Santa Casa. (GÓES, 2004). SANTA CASA DE MISERICÓRDIA - EVOLUÇÃO A construção do segundo prédio da Santa Casa de Misericórdia foi concluída em 1665, no Campo da Misericórdia, atual Praça Visconde de Mauá. O terceiro, inaugurado pelo Dr. Claudio Luiz da Costa em 1836 junto ao morro de São Jerônimo, atual Monte Serrat, foi parcialmente destruído por um deslizamento de terra em 1928. O conjunto atual, único remanescente, foi inaugurado pelo Presidente Getúlio D. Vargas em 1945, com 1.400 leitos. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/K4AzvO>. Acesso em: 14 jul. 2016. Assim, na época do Brasil Colônia, os hospitais que surgiram tiveram como modelo as Santas Casas de Portugal, cujo objetivo era de prestar caridade e abrigar pobres e desabrigados, principalmente quando doentes ou por morrer, seguindo a lógica das casas de acolhimento europeias, modelo que vimos anteriormente. Na década de 1930, o sistema de saúde avançou e foram construídos mais hospitais e também postos de saúde para o atendimento da população, como o caso do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina de São Paulo, cuja construção se iniciou em 1938, porém só foi inaugurado em 1944, e hoje se consolida como um dos maiores complexos hospitalares do Brasil. O Hospital das Clínicas foi inaugurado em 19 de abril de 1944, pelo interventor federal Fernando Corrêa da Costa, dentro das solenidades comemorativas do aniversário natalício do presidente Getúlio Vargas. O edifício seguiu a mais moderna arquitetura da época. Construído em cimento armado tinha a forma de “H” geminado com uma área física de 4.600 metros quadrados, distribuídos em 11 andares, com capacidade para 1.200 leitos, 207 enfermarias, 17 salas cirúrgicas, 106 quartos de um a dois leitos, 125 conjuntos sanitários e 600 outras dependências. Na época do Brasil Colônia, os hospitais que surgiram tiveram como modelo as Santas Casas de Portugal. 45 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 Com o passar dos anos, diante da necessidade de aprofundamento da pesquisa e da falta de espaço físico para os atendimentos dos doentes, foram criados o Instituto de Ortopedia e Traumatologia; Instituto de Psiquiatria; Instituto do Coração; Instituto da Criança e o Instituto de Radiologia. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/0lqi5D>. Acesso em: 15 jul. 2016. Figura 5 - Complexo Hospitalar do Hospital das Clínicas-SP Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/FRcsMU>. Acesso em: 15 jul. 2016. No século XX, surgiram os primeiros hospitais particulares no Brasil com objetivos lucrativos, inicialmente de propriedade de médicos. A partir de 1960, começaram a surgir os hospitais próprios da medicina de grupos, envolvendo tanto os grupos médicos quanto as cooperativas médicas, e, atualmente, grupos estrangeiros de investidores, que viram na saúde um novo filão lucrativo. O fato gerador e potencializador da evolução da medicina privada no Brasil, por mais contraditório que possa parecer foi a garantia de acesso universal à saúde. Com este fato, os problemas já existentes no sistema hospitalar público brasileiro da época ficaram expostos e exacerbados diante da enorme demanda criada. A saída que o governo concebeu, ao perceber que não teria como absorver toda esta demanda, foi estimular a rede privada a crescer, abrindo um espaço cada vez maior para o crescimento do setor privado de saúde. (TOLEDO, 2006, p. 11). Assim, hoje, no Brasil, o sistema hospitalar atua de forma mista, sendo permitida a atuação tanto de estruturas públicas quanto privadas, de forma a 46 Organização e Planejamento Hospitalar suprir as necessidades da população. O Brasil possui aproximadamente 6.657 hospitais e destes 70% são privados. Os outros trinta por cento dividem-se sob a responsabilidade das três esferas do poder público: municipal 21%, estadual 8% e federal 1%. (BRASIL, 2016). O sistema hospitalar privado brasileiro se encontra em franca expansão, principalmente, devido ao espaço que o setor público acaba por deixar. Entretanto, apesar da forte expansão, com a entrada de investidores estrangeiros, esse processo é ainda muito recente. Observamos isso ao constatar que a entidade representativa dos hospitais privados de excelência ANAHP tem apenas 15 anos de existência. INSTITUCIONAL ANAHP Há pouco mais de dez anos, o sistema privado de saúde passava por um momento crítico em nosso país. O risco de desequilíbrio de poder entre as operadoras de planos de saúde e os prestadores de serviços médico-hospitalares era visível. As operadoras não possuíam um padrão de atuação, e cada empresa definia seu próprio modelo de relacionamento com o mercado. Com o passar dos anos, percebemos que aquele cenário não retratava necessariamente uma crise, mas uma desorganização do setor. A partir desse panorama e premido por essa realidade, um grupo de hospitais privados, que enfrentava desafios similares, reuniu-se em maio de 2001 para compartilhar experiências e buscar soluções. Após várias discussões, os 23 hospitais presentes chegaram a uma conclusão: Instituir um órgão para defender os interesses e necessidades do setor e expandir as melhorias alcançadas pelas instituições privadas para além das fronteiras da saúde suplementar, favorecendo a todos os brasileiros. O sonho e o desejo desses hospitais tornaram-se realidade com a constituição da Anahp por meio da Carta de Brasília, que reúne as diretrizes e objetivos da associação. A Anahp é uma entidade civil, sem fins lucrativos, e de âmbito nacional, representativa dos principais hospitais privados de excelência do país. A associação foi criada em 11 de maio de 2001, durante o 1º Fórum Top Hospital, em Brasília e fundada em setembro do mesmo ano. Desde sua fundação, a Anahp tem a vocação do debate construtivo, com fundamentação técnica e interesse voltados para a melhoria da qualidade da assistência médico- hospitalar brasileira. Por essas contribuições, tornou-se parceira importante da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) pela capacidade de aprofundar as discussões sobre regulamentação e 47 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 de estabelecer padrões de qualidade para as redes assistenciais, principalmente durante o longo processo de contratualização entre as operadoras e sua rede hospitalar. Atualmente, a entidade ocupa uma função estratégica no desdobramento de temas fundamentais à sustentabilidade do sistema. Representante de hospitais reconhecidos pela certificação de qualidade e segurança no atendimento hospitalar, além de promover ações que transcendem os interesses dos Hospitais Membros, a Anahp está preparada para fortalecer o relacionamento setorial e contribuir para a reflexão sobre o papel da saúde privada no país. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/JhZyIg>. Acesso em: 15 jul. 2016. Resumidamente, a realidade hospitalar brasileira está composta por um número cada vez maior de hospitais privados, graças a um espaço existente e não ocupado pelo sistema público. Figura 6 – Hospitais no Brasil de acordo com Federação Brasileira de Hospitais Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/lHZHJz>. Acesso em: 15 jul. 2016. 48 Organização e Planejamento Hospitalar Como vimos anteriormente, a maioria dos hospitais são privados, mas cerca de 60% tem menos do que 50 leitos. Assim, apesar de a rede privada ter a maioria dos hospitais, não possui a maioria dos leitos, sendo, do total de 491.589 leitos hospitalares existentes no país, 337.828 do SUS e 153.761 privados. (BRASIL, 2016). Figura 7 – Leitos Hospitalares no Brasil Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/vvdFSj>. Acesso em: 15 jul. 2016. Entretanto, é importante recordar que o SUS “compra” leitos da rede privada, os chamados leitosconveniados, o que faz com que os leitos SUS acabem sendo a maioria no país. nÍveiS de ComPLexidAde HoSPiTALAr Os hospitais podem ser classificados de acordo com o nível de complexidade de atendimento que oferecem. Os níveis de atendimento na saúde são distribuídos em baixa, média e alta complexidade. A baixa complexidade é representada dentro do sistema pelos serviços da atenção primária ou básica, aqui envolvidos os serviços de ESF (Estratégia Saúde da Família), agentes comunitários e algumas ações exercidas dentro dos 49 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 ambulatórios. No sistema hospitalar, normalmente, este tipo de atenção não é realizado. Nas palavras do Ministério da Saúde (BRASIL, 2007, p. 16): A atenção básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, e dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde. Orienta- se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e da continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. Figura 8 – Unidade básica de saúde Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/la13BS>. Acesso em: 15 jul. 2016. A média complexidade, por sua vez, é descrita como sendo: A média complexidade ambulatorial é composta por ações e serviços que visam atender aos principais problemas e agravos de saúde da população, cuja complexidade da assistência na prática clínica demande a disponibilidade de profissionais especializados e a utilização de recursos tecnológicos para o apoio diagnóstico e tratamento. (BRASIL, 2007, p. 16). Observe que, na descrição, indica-se a média complexidade como sendo 50 Organização e Planejamento Hospitalar de procedimentos que, muitas vezes, podem ser realizados ambulatorialmente, porém muitos procedimentos, como cirurgias pequenas, por exemplo, a colecistectomia, necessitam o suporte hospitalar para sua realização, sendo aqui necessários os hospitais de média complexidade. O Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Atenção Básica (DAB), informa a relação que compõe os procedimentos de média complexidade do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA). Veja: • Cirurgias ambulatoriais especializadas; • Procedimentos tráumato-ortopédico; • Ações especializadas em odontologia; • Patologia clínica; • Anatomopatologia e citopatologia; • Radiodiagnóstico; • Exames ultrassonográficos; • Diagnose; • Fisioterapia; • Terapias especializadas; • Próteses e órteses; • Anestesia. Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/LuAuaa>. Acesso em: 15 jul. 2016. Como citamos anteriormente, podemos observar que muitos dos procedimentos descritos necessitam de um ambiente hospitalar para sua efetivação. A atenção de alta complexidade necessita de hospitais com maior porte cuja atuação esteja respaldada por um nível tecnológico maior e mais complexo, possibilitando a realização de procedimentos de maior complexidade. Conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta tecnologia e alto custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados, integrando-os aos demais níveis de atenção à saúde (atenção básica e de média complexidade). Principais áreas que compõem a alta complexidade do SUS, organizadas em redes são: • assistência ao paciente portador de doença renal crônica (por meio dos procedimentos de diálise); 51 SiStema HoSpitalar Capítulo 2 • assistência ao paciente oncológico; • cirurgia cardiovascular; cirurgia vascular; cirurgia cardiovascular pediátrica; • procedimentos da cardiologia intervencionista; • procedimentos endovasculares extracardíacos; • laboratório de eletrofisiologia; • assistência em tráumato-ortopedia; • procedimentos de neurocirurgia; • assistência em otologia; • cirurgia de implante coclear; • cirurgia das vias aéreas superiores e da região cervical; • cirurgia da calota craniana, da face e do sistema estomatognático; • procedimentos em fissuras labiopalatais; • reabilitação protética e funcional das doenças da calota craniana, da face e do sistema estomatognático; • procedimentos para a avaliação e o tratamento dos transtornos respiratórios do sono; • assistência aos pacientes portadores de queimaduras; • assistência aos pacientes portadores de obesidade (cirurgia bariátrica); • cirurgia reprodutiva; • genética clínica; • terapia nutricional; • distrofia muscular progressiva; • osteogênese imperfecta; • fibrose cística e reprodução assistida. (BRASIL, 2007, p. 18- 19). Podemos observar que os procedimentos acima descritos implicam uma necessidade de alta tecnologia e um ambiente de alta complexidade para sua execução. Quadro 2 – Quantificação e classificação dos hospitais brasileiros por região e complexidade Fonte: Adaptado de <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi. exe?cnes/cnv/atencbr.def>.Acesso em: 15 jul. 2016. Região Hosp - Média complex estadual Hosp - Média com- plex municipal Hosp - Alta com- plex estadual Hosp - Alta com- plex municipal Total 2.427 5.229 512 1.392 Região norte 295 366 67 52 Região nordeste 767 1.849 123 257 Região sudeste 544 1.846 168 731 Região sul 681 471 97 213 Região centro- -oeste 140 697 57 139 52 Organização e Planejamento Hospitalar Observe que as regiões nordeste e sudeste concentram a maior parte dos estabelecimentos hospitalares no país, em grande parte, de média complexidade. Prezado(a) pós-graduando(a), vimos, nesta seção, que o sistema hospitalar, como o conhecemos, é muito recente na história da humanidade e, se considerarmos a organização em níveis de complexidade, então, sim, teremos uma breve história, que tende a evoluir muito nos próximos anos e, certamente, com diferentes abordagens. COMO É UM HOSPITAL DE ALTA COMPLEXIDADE? O termo alta complexidade hospitalar é muito conhecido entre os profissionais de saúde, mas, e a população em geral, sabe exatamente do que se trata? No post dessa semana vamos explicar um pouco melhor o que isso significa e como um hospital com esse perfil pode fazer a diferença no atendimento. Normalmente quando pensamos em alta complexidade vem à mente uma situação de emergência e a necessidade de correr para o hospital. No entanto, uma informação é fundamental para entendermos o termo: a alta complexidade não está diretamente relacionada com uma emergência médica. Uma apendicite, por exemplo, é uma emergência, pois precisa de atendimento rápido, mas não se enquadra como atendimento altamente complexo. Já uma cirurgia de coluna pré-agendada não é uma emergência, mas é um procedimento complexo. Se houver alguma complicação durante ou após a cirurgia, o paciente precisa contar com o apoio de uma equipe multiprofissional (cardiologistas, nefrologistas, etc.), banco de sangue (caso haja hemorragia) e alta tecnologia de apoio à resolução do problema, como exames de imagem de última geração, unidade de terapia intensiva, entre outros. Um hospital focado em alta complexidade pode tanto resolver uma apendicite, como as complicações de uma cirurgia eletiva (agendada) de coluna, ou mesmo identificar um aneurisma cerebral antes do rompimento em uma pessoa que só foi ao pronto-socorro por estar com uma forte dor de cabeça. Esse paciente, por exemplo, pode ser tratado no mesmo local com
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