Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Propriedades Físico-químicas dos Fármacos Introdução . As propriedades biológicas de um fármaco são determinadas por sua estrutura química. . Pequenas variações estruturais implicam grandes alterações nas propriedades fisico-químicas e biológicas de um determinado composto químico. Para que os fármacos ajam é preciso que sejam absorvidos. Para que sejam absorvidos é preciso que atravessem as barreiras biológicas Para que atravessem as barreiras biológicas é preciso que se solubilizem. Através da corrente sanguínea os fármacos se distribuem pelos diversos compartimentos do sistema biológico e, nos tecidos alvos interagem com os bioreceptores para desencadear a ação farmacológica. 1- PROPRIEDADES DO ESTADO SÓLIDO Estrutura e forma cristalina e suas consequências na formulação farmacêutica. 2- SOLUBILIDADE Fatores que afetam a solubilidade de fármaco e medidas de hidrofobicidade. 3- ESTABILIDADE Modos de decomposição de fármacos e suas consequências. Propriedades do Estado Sólido . As propriedades físicas, no estado sólido, de drogas e excipientes farmacêuticos são de interesse porque podem afetar tanto a formulação do produto quanto o comportamento biológico da fórmula final. . Os cristais contêm arranjos de moléculas e átomos, mantidos em contato por interações não covalentes. . A natureza da forma cristalina de uma substância pode afetar sua estabilidade, suas propriedades de fluidez e biodisponibilidade. Forma cristalina . Os cristais de uma certa substância podem variar em tamanho, número e tipo de faces (formas) presentes; isto é, podem apresentar diferentes hábitos cristalinos: - Agulhas; - Lamelares; - Colunares; - Prismáticos. . O hábito depende das condições de cristalização, tais como o solvente usado, a temperatura, a concentração e a presença de impurezas. . A cristalização a partir de soluções deve-se a três processos sucessivos: . Supersaturação da solução: resfriamento, evaporação, adição de um precipitante; . Formação de núcleos cristalinos; . Crescimento cristalino em torno dos núcleos: processo de dissolução invertido: a matéria deposita- se continuamente na face do cristal. . A velocidade de precipitação é um processo importante para determinar o hábito. . As baixas velocidades de crescimento são obtidos cristais de formar mais regulares. . A presença de tensoativos no meio solvente usado pode alterar a forma dos cristais a partir da adsorção nas faces em crescimento. Polimorfismo . É definido como a habilidade de uma molécula (fármaco) de existir forma cristalina, a qual determina propriedades tais como compressibilidade, higroscopicidade, estabilidade e solubilidade. . Quando moléculas de solvente estão presentes na estrutura cristalina, o fenômeno é denominado pseudopolimorfismo. . Polimorfos diferentes de um mesmo composto geralmente apresentam diferenças solubilidade, processabilidade e estabilidade física e química. Estas diferenças físico-químicas irão modificar o comportamento da molécula quando em um meio biológico, inclusive podendo alterar sua biodisponibilidade. . As moléculas podem apresentar empacotamento distinto no retículo cristalino, ou diferenças na sua orientação ou conformação em diferentes sítios do retículo. . Tanto a estrutura cristalina quanto as propriedades decorrentes dela podem ser modificadas durante o processo de desenvolvimento e formulação. . Novas formas cristalinas podem ser originadas na presença de diferentes solventes, na presença de impurezas e/ou baixo diferentes condições de cristalização, dando origem a novos polimorfos, solvatos, sais, cocristais e fases amorfas. . Devido a isto, a procura e, especialmente, a seleção da forma sólida ótima é uma no processo de desenvolvimento de um novo fármaco. . Definir os processos de produção que garantam obter de um modo reprodutível a forma (hábito, solvato, polimorfo) e tamanho de partícula desejado para uma molécula orgânica é uma tarefa difícil que pode levar a custosas demoras na comercialização de um medicamento. . O domínio da tecnologia para a cristalização dos princípios ativos representa um conhecimento estratégico que permite tanto garantir a eficácia do medicamento. . Um dos principais aspectos do polimorfismo diz respeito à regulação do mercado é o efeito que o mesmo pode ter na bioequivalência/biodisponibilidade, e, portanto, na eficácia terapêutica. . Em especial, num mercado onde coexistem medicamentos genéricos, similares e inovadores os princípios ativos não podem ser considerados só baixo uma visão puramente molecular senão que as mudanças nas propriedades de estado sólido decorrentes da forma cristalina devem ser consideradas para poder garantir a intercambiabilidade entre estes medicamentos. - SOLVATOS POLIMÓRFICOS E PSEUDOPOLIMORFISMO - SOLVATOS POLIMÓRFICOS . É quando ocorre a cristalização simultânea de moléculas do solvente. Cristais que contém solventes de cristalização são estáveis e chamados solvatos cristalinos ou solvatos polimórficos. - SOLVATOS PSEUDOPOLIMÓRFICOS . É quando o solvente não está ligado a estrutura cristalina mas ocupa espaços de cavidades existentes no interior do cristal. Estes cristais perdem o solvente facilmente sem resultar em modificação na estrutura do retículo cristalino. CONSEQUÊNCIAS DA FORMAÇÃO DE SOLVATOS . Formas cristalinas anidras e hidratadas apresentam diferenças na faixa de fusão, solubilidade e velocidade de dissolução, estas com grandes consequências na biodisponibilidade do fármaco. . Exemplo: Espirolactona: cristaliza-se sob duas formas polimorfas, e também apresenta quatro formas cristalinas solvatadas dependendo do solvente e do método de cristalização. Importância do polimorfismo Pode afetar a performance do produto: - Problemas de processamento ou produção do princípio-ativo ou produto; - Solubilidade; - Biodisponibilidade e Bioequivalência; - Estabilidade. Formas polimórficas podem apresentar: . Diferentes solubilidades aquosas; . Diferentes taxas de dissolução. Diferentes propriedades mecânicas e físicas podem afetar o processo de fabricação: – Higroscopicidade – Forma da partícula – Densidade – Fluidez – Compactação • Compressão direta (mais crítico) • Granulado úmido Fases de conversão: – Durante os processos de fabricação • Secagem • Moagem • Micronização • Granulação úmida • Compactação – Exposição ao ambiente • umidade • temperatura Testes comuns para polimorfos: – Ponto de fusão – Teste de dissolução Exemplos de medicamentos essenciais que podem apresentar polimorfismo Acetozalamida Furosemida Ácido Acetilsalicílico Glibenclamida Ampicilina anidra Lamivudina Captopril Maleato de Enalapril Carbamazepina Mebendazol Cefazolina Metildopa Cloridrato de clorpromazina Metilprednisolona Cloridrato de ranitidina Metoprolol Codeína Nifedipina Digoxina Palmitato de Cloranfenicol Eritromicina Paracetamol Espironolactona Prednisolona Etoposídeo Prednisona Fenobarbital Rifanpicina Fluconazol Sulfametoxazol e trimetropina Drogas polimórficas Droga Polimorfas Formas amorfas Barbital 6 - Betametasona 1 1 Palmitato de cloranfenicol 3 1 Acetato de cortisona 8 - Ácido mefenâmico 2 - . Ritonavir . Inibidor de HIV protease; . Os polimorfos apresentam solubilidade diferenciada; . Palmitato de cloranfenicol . Apresenta três formas cristalinas polimórficas (A, B, C); . A forma “A” é utilizada como antimicrobiano; . A forma “B’ é apresenta maior atividade, mas também maior toxicidade; . A forma “C’’ apresenta baixa atividade. . Cloridrato de ranitidina: dois polimorfos . Acetato de cortisona: quatropolimorfos . Citrato de tamoxifeno: dois polimorfos . Etambutol: três polimorfos Biodisponibilidade Indica a velocidade e extensão de absorção de um princípio ativo de uma formulação farmacêutica, avaliada a partir da curva concentração/tempo no sangue ou urina de voluntários sadios. Bioequivalência É o estudo comparativo entre as biodisponibilidades de dois medicamentos que possuem a mesma indicação terapêutica e são administrados na mesma dose pela mesma via extravascular. Equivalência farmacêutica É quando dois produtos apresentam dose do princípio ativo e forma farmacêutica semelhante, mas que podem apresentar diferenças nos excipientes e/ou processo de fabricação, podendo resultar em aplicações terapêuticas diferentes. Exemplo: . Comprimidos com a mesma dose de princípio ativo, sendo um com revestimento resistente ácido e outro não. É realmente necessário fazer o teste de bioequivalência? Por que? . Medicamentos bioquivalentes são aqueles que apresentam a mesma biodisponibilidade. . Para apresentar a mesma biodisponibilidade os princípios ativos precisam ter várias características em comum, como mesma natureza química, mesmo processo de fabricação, mesma pureza química e mesma conformação molecular, entre outras. . Variações nestas características podem resultar em diferenças na biodisponibilidade dos princípios ativos e, consequentemente, em diferença na qualidade terapêutica dos medicamentos. Como é feito o teste de bioequivalência? . A bioequivalência é baseada no teste de biodisponibilidade do medicamento e resulta da avaliação da capacidade de dissolução do princípio ativo nos fluídos biológicos, respeitando as condições das vias de administração. . O teste de biodisponibilidade é, idealmente, feito pela administração do medicamento em voluntários sadios, coletando-se amostras de sangue ou urina em tempos determinados para verificar a concentração do princípio ativo nesses fluidos, estabelecendo-se curvas que relacionam a dose administrada X tempo X dose disponível. . Em alguns casos aceita-se o teste de dissolução in vitro, em substituição ao teste feito em voluntários. Mas para isso é necessário que o teste seja feito em equipamento que reproduza as condições da via de administração daquele medicamento. Em geral, isso se aplica a medicamentos administrados por via oral.
Compartilhar