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para Cidades Inteligentes Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Presidente Igor Calvet Diretor de Gestão Valder Ribeiro de Moura Diretor Técnico Carlos Geraldo Santana Gerente de Novos Negócios Tiago Chagas Faierstein Analista de Produtividade e Inovação Vandete Cardoso Mendonça Parque Tecnológico Itaipu Diretor Superintendente Gen. Eduardo Castanheira Garrido Alves Diretor Técnico Rafael José Deitos Diretor de Negócios e Inovação Rodrigo Régis de Almeida Galvão Equipe Técnica José Alberto Pereira dos Santos Marcos Antônio Teixeira Miguel Diogenes Matrakas Regean Carlos Alves Gomes Rodrigo Luiz Machado de Cardoso Willbur Rogers de Souza Itaipu Binacional Diretor-Geral Brasileiro Gen. João Francisco Ferreira Equipe Técnica Gen. Luiz Felipe Kraemer Carbonell Márcio Ferreira Bortolini Eduardo Sachwek Fontanetti SPIn Soluções Públicas Inteligentes Consultoria Concepção e Redação Vitor Amuri Antunes Arte e Diagramação Daniel Mercadante Jéssica Antonini Equipe Técnica Felipe Nogueira Stracci Francisco Douglas Rodrigues Iara Negreiros Jonny Romeiro Doin Luciana de Moraes Pitombo Matheus Villar Ejima Maurício Taufic Guaiana Renato de Castro Wellingthon Dias de Queiroz para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes APRESENTAÇÃO AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (ABDI) Igor Calvet Presidente A rápida digitalização da economia pôs em marcha, em ritmo também acelerado, a busca e a adoção de novas tecnologias de Cidades Inteligentes. Essa tendência vem acompanha- da por um cenário que requer maior interação, interconexão e cooperação entre os ecossiste- mas de inovação e de gestão pública. É com essa perspectiva que saudamos a parceria para a elaboração do Guia Sandbox para Cidades Inteligentes, uma iniciativa que concretiza a missão - inclusive da ABDI - de estimular a difusão de novas soluções tecnoló- gicas e, com isso, a geração de novos modelos de negócios. Este Guia traz para o Poder Público e para o ambiente de inovação o caminho mais seguro para a modernização das cidades, ao oferecer o passo a passo para que gestores públicos testem e validem as tecnologias de forma segura e com economia de recursos. A primeira experiência da ABDI com o modelo de Sandbox se deu com a Vila A Inteligente, em Foz do Iguaçu (PR), sendo resultado de exitosa parceria firmada com o Parque Tecno- lógico Itaipu (PTI) e a Prefeitura Municipal. Esperamos que, deste exemplo bem-sucedido, surjam cada vez mais experiências promisso- ras. Estas soluções vão impactar a qualidade de vida das pessoas, a verdadeira razão de todos os esforços em favor da modernização de nossas cidades. Assim, esperamos que as informações aqui sistematizadas possam encurtar a jornada dos municípios rumo a um cenário de maior desenvolvimento urbano, econômico e social, além da melhoria do bem- -estar das populações locais. para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes APRESENTAÇÃO PARQUE TECNOLÓGICO ITAIPU Gen. Eduardo Castanheira Garrido Alves Diretor Superintendente O Programa Vila A Inteligente foi a oportuni- dade que nós, do Parque Tecnológico Itaipu Brasil, em parceria com a Itaipu Binacional, ABDI, Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu e COPEL, encontramos para impactar de forma positiva a qualidade de vida da população de Foz do Iguaçu e região, tornando-nos referên- cia para o Brasil. Unimos tecnologias, inovação e empreendedorismo para gerar empregos, impulsionar a economia e desenvolver a cidade. Contar com o apoio do poder público, com a criação do Sandbox, foi, sem dúvida, funda- mental para a implantação de um ambiente de experimentação plena, com flexibilização da legislação municipal. Esse ambiente, incumbi- do da validação das tecnologias, incentiva a inovação e contribui para a diversificação da economia. Com o Guia Sandbox, apresentamos os elementos e as etapas seguidas para a implan- tação do ambiente com regulamentação flexi- bilizada. Esperamos que outros municípios no Brasil sigam por este mesmo caminho, buscando aprimorar os serviços ofertados para a população, seguindo os passos já trilha- dos por Foz do Iguaçu na elaboração dos instrumentos legais que permitem a sua imple- mentação. Vila A Inteligente – O primeiro bairro público inteligente do Brasil! Vamos construir JUNTOS a SUA Cidade Inteli- gente! A rápida digitalização da economia pôs em marcha, em ritmo também acelerado, a busca e a adoção de novas tecnologias de Cidades Inteligentes. Essa tendência vem acompanha- da por um cenário que requer maior interação, interconexão e cooperação entre os ecossiste- mas de inovação e de gestão pública. É com essa perspectiva que saudamos a parceria para a elaboração do Guia Sandbox para Cidades Inteligentes, uma iniciativa que concretiza a missão - inclusive da ABDI - de estimular a difusão de novas soluções tecnoló- gicas e, com isso, a geração de novos modelos de negócios. Este Guia traz para o Poder Público e para o ambiente de inovação o caminho mais seguro para a modernização das cidades, ao oferecer o passo a passo para que gestores públicos testem e validem as tecnologias de forma segura e com economia de recursos. A primeira experiência da ABDI com o modelo de Sandbox se deu com a Vila A Inteligente, em Foz do Iguaçu (PR), sendo resultado de exitosa parceria firmada com o Parque Tecno- lógico Itaipu (PTI) e a Prefeitura Municipal. Esperamos que, deste exemplo bem-sucedido, surjam cada vez mais experiências promisso- ras. Estas soluções vão impactar a qualidade de vida das pessoas, a verdadeira razão de todos os esforços em favor da modernização de nossas cidades. Assim, esperamos que as informações aqui sistematizadas possam encurtar a jornada dos municípios rumo a um cenário de maior desenvolvimento urbano, econômico e social, além da melhoria do bem- -estar das populações locais. para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes APRESENTAÇÃO ITAIPU BINACIONAL Gen. Luiz Felipe Kraemer Carbonell Diretor de Coordenação O Brasil está crescendo e se moderni- zando. Obras estruturantes, novas ideias e conceitos estão em desenvolvi- mento, e Foz do Iguaçu faz parte desse novo ciclo de mudanças. A ITAIPU Binacional acredita no pro- gresso brasileiro e tem orgulho de parti- cipar dele, possibilitando, em parceria com o Parque Tecnológico Itaipu Brasil, a ABDI, a Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu e a Copel, o desenvolvimento do projeto Vila A Inteligente. O bairro, criado para acolher os respon- sáveis pela construção da ITAIPU, já era moderno em sua concepção, contando com toda a infraestrutura de uma “mini- -cidade”: escolas, mercado, estruturas para lazer e prática esportiva, além do Hospital Ministro Costa Cavalcanti, que hoje é referência no estado do Paraná, atendendo com excelência a população de Foz do Iguaçu e seu entorno. Agora, em um esforço conjunto do Poder Público Municipal, Estadual e Federal, e com o apoio da iniciativa privada, a Vila A se torna o primeiro bairro público inteligente do Brasil, o que, além de beneficiar sua população, trará novas oportunidades de negócios para Foz do Iguaçu e servirá como ben- chmarking para a replicação do Modelo Sandbox no país. ITAIPU Binacional: o amanhã já come- çou. para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes APRESENTAÇÃO SPIN SOLUÇÕES PÚBLICAS INTELIGENTES Vitor Amuri Antunes Diretor de Projetos Quebrando barreiras e superando desafios – históricos e recentes –, cidades brasileiras vêm atingindo, nos últimos anos, novos patamares de maturidade em relação ao movimento mundial das Smart Cities. Iniciativas como a Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, o Plano Nacional de Internet das Coisas, os Living Labs de soluções 4.0 fomentados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Indus- trial (ABDI), além da publicação das primeiras normas ABNT para cidades, bem demonstram a relevância já reconhecida à agenda, tendo contribuído, ao longoda última década, para o início do que se pode denominar de cultura brasileira de cidades inteligentes. Ao longo deste percurso, muitas foram as lições aprendidas, e o tema deste Guia é, essencialmente, fruto de uma das mais impor- tantes percepções a partir dessa recente história brasileira em Smart Cities: é preciso reduzir, tanto quanto possível, a assimetria de conhecimento entre o ecossistema de inova- ção e os tomadores de decisão (especialmen- te em nível municipal) que contratam e conso- mem soluções smart. Tal assimetria produz efeitos nocivos às contratações e às políticas públicas da Smart City brasileira, convertendo o diálogo público- -privado em um monólogo e, em muitos casos, conduzindo a contratações ineficientes, técni- ca e economicamente. Mais do que isso, impe- dem que o Estado identifique, reconheça e mitigue os possíveis entraves técnico-jurídicos à absorção da inovação, como, por exemplo, leis e normas obsoletas, que dificultem ou até impeçam a evolução da inteligência urbana. Ambientes Sandbox para Cidades Inteligentes surgem exatamente neste contexto, e buscam oferecer as condições para que soluções disruptivas de interesse municipal sejam de fato experimentadas em ambiente urbano real, e tenham seus impactos – positivos e negativos – avaliados e sopesados antes da tomada de decisão estatal, seja ela legislativa, regulatória ou de contratação pública em larga escala. Esperamos, assim, que este Guia ilumine o caminho de gestores municipais, govtechs, academia e demais atores que constroem, dia após dia, a história das Cidades Inteligentes brasileiras. AP RE SE NT AÇ ÃO SP In Quebrando barreiras e superando desafios – históricos e recentes –, cidades brasileiras vêm atingindo, nos últimos anos, novos patamares de maturidade em relação ao movimento mundial das Smart Cities. Iniciativas como a Carta Brasileira para Cidades Inteligentes, o Plano Nacional de Internet das Coisas, os Living Labs de soluções 4.0 fomentados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Indus- trial (ABDI), além da publicação das primeiras normas ABNT para cidades, bem demonstram a relevância já reconhecida à agenda, tendo contribuído, ao longo da última década, para o início do que se pode denominar de cultura brasileira de cidades inteligentes. Ao longo deste percurso, muitas foram as lições aprendidas, e o tema deste Guia é, essencialmente, fruto de uma das mais impor- tantes percepções a partir dessa recente história brasileira em Smart Cities: é preciso reduzir, tanto quanto possível, a assimetria de conhecimento entre o ecossistema de inova- ção e os tomadores de decisão (especialmen- te em nível municipal) que contratam e conso- mem soluções smart. Tal assimetria produz efeitos nocivos às contratações e às políticas públicas da Smart City brasileira, convertendo o diálogo público- -privado em um monólogo e, em muitos casos, conduzindo a contratações ineficientes, técni- ca e economicamente. Mais do que isso, impe- dem que o Estado identifique, reconheça e mitigue os possíveis entraves técnico-jurídicos à absorção da inovação, como, por exemplo, leis e normas obsoletas, que dificultem ou até impeçam a evolução da inteligência urbana. Ambientes Sandbox para Cidades Inteligentes surgem exatamente neste contexto, e buscam oferecer as condições para que soluções disruptivas de interesse municipal sejam de fato experimentadas em ambiente urbano real, e tenham seus impactos – positivos e negativos – avaliados e sopesados antes da tomada de decisão estatal, seja ela legislativa, regulatória ou de contratação pública em larga escala. Esperamos, assim, que este Guia ilumine o caminho de gestores municipais, govtechs, academia e demais atores que constroem, dia após dia, a história das Cidades Inteligentes brasileiras. INTRODUÇÃO I. SANDBOX: DOS GAMES À REGULAÇÃO ESTATAL II. SANDBOX REGULATÓRIO E SUA ADOÇÃO PELO BRASIL II.1. SANDBOX DO BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN) II.2. SANDBOX DA COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM) II.3. SANDBOX DA SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS (SUSEP) III. SANDBOX PARA CIDADES INTELIGENTES IV. SANDBOX PARA CIDADES INTELIGENTES NO MUNDO IV.1. CASE: COREIA DO SUL V. SANDBOX NAS CIDADES INTELIGENTES BRASILEIRAS V.1. CASE: FOZ DO IGUAÇU/PR V.2. CASE: PETROLINA/PE V.3. CASE: DISTRITO FEDERAL VI. SANDBOX EM 10 PASSOS 6 9 13 16 18 21 24 29 31 46 48 55 57 59 Sumário para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Ana Clara, prefeita recém-em- possada, dedicou grande parte dos primeiros trinta dias de seu mandato estudando, junto com seu secretário de meio ambiente, como colocariam em prá- tica um dos principais pilares do plano de governo que a elegera: resolver, de uma vez por todas, o problema da coleta de lixo da cidade. O acúmulo de resíduos, às vezes por mais de duas semanas, especialmente nas áreas periféricas do município, havia sido pauta de praticamente todos os debates eleitorais realizados no ano anterior, e permanecia como uma das principais demandas da população. Em uma das várias reuniões do grupo de trabalho instituído pela prefeita para estudar o problema, um dos servidores públicos trouxe à discussão um tema que interessou a todos: a implantação de “lixeiras inteligentes” em caráter experi- mental, com emprego de sensores que permitissem o planejamento dinâmico das rotas de coleta (conforme o volume de lixo em cada região), tornando-as mais efetivas e eficientes, sem a necessidade de aumentar a frota de caminhões – mesmo porque, diante da crise orçamen- tária atravessada pela administração municipal, isso seria inviável. Com o apoio de pesquisadores da univer- sidade parceira da prefeitura, foi estrutu- rado um projeto piloto para implantação das novas lixeiras em uma das regiões mais carentes do município. A ideia era que, conforme os resultados dessa expe- rimentação, o sistema de coleta inteligen- te fosse expandido para os outros bairros. Estava (quase) tudo certo para a publica- ção do edital para seleção das tecnolo- gias que seriam implementadas. Eis que, quando chega ao gabinete de Ana Clara o parecer da Procuradoria do Município, todos são pegos de surpresa com uma constatação do procurador: o projeto estava em desconformidade com o “Código de Posturas do Município”, aprovado por Lei Complementar em 1982, e que, em um de seus artigos, esti- pulava rígidas regras para a instalação de lixeiras no passeio público, incompatíveis com o tipo de “contêiner” que a prefeitu- ra pretendia implantar no projeto piloto de coleta inteligente. O parecer foi como um “balde de água fria” nos planos da administração muni- cipal. Seria necessário encaminhar à Câmara de Vereadores um projeto de lei para modificar o Código de Posturas, que levaria um bom tempo para ser ana- lisado e aprovado – tempo esse incom- patível com a urgência do problema da coleta de lixo nas comunidades. Na mesma semana, em outra região do país, Pedro Paulo, secretário municipal de mobilidade e transportes, passou por frustração semelhante. Constatou, com sua equipe, que a estratégia de micro- mobilidade que pretendiam desenvolver em caráter experimental, disponibilizan- do patinetes elétricos compartilhados, esbarrava na legislação e na regulamen- tação municipal, que não previam a pos- sibilidade de operacionalizar esse modal de forma “dockless” (ou seja, sem a exis- tência de uma “estação” de retirada e devolução). Introdução para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 6 Não foi diferente com Janaína, diretora de abastecimento de água em município vizinho ao de Pedro Paulo. Empenhada em modernizar os medidores de consu- mo de água da cidade, a fim de comba- ter as fraudes e diminuir as despesas com a leitura porta-a-porta dos hidrô- metros, constatou que a solução de medidores inteligentes – que havia conhecido em um evento de Cidades Inteligentes ocorrido no ano anterior – “não se encaixava”no Regulamento dos Serviços de Água e Esgoto da cidade, em vigor desde 1995. As situações vivenciadas por Ana Clara, Pedro Paulo e Janaína são também as de milhares de gestores públicos do país, que enfrentam, diariamente, os desafios provocados pelo nítido descompasso entre o ordenamento jurídico vigente e a Quarta Revolução Industrial. Promover inovação no setor público torna-se, muitas vezes, tarefa árdua diante do con- junto de Leis, Decretos, Códigos, Resolu- ções, Planos, Portarias e outras espécies normativas concebidas há 30, 40, 50 anos, com base em uma realidade socio- -tecnológica absolutamente distinta da atual. Como resultado desse descompasso, não é raro que soluções realmente disruptivas, com altíssimo potencial de melhoramento dos serviços públicos prestados nas cidades, sejam descarta- das, sob o argumento de “não se encai- xarem nas normas vigentes” – nas pala- vras da diretora Janaína. E o problema não se restringe somente à “velocidade” com que o Estado respon- de à evolução tecnológica, mas à sua habilidade de interpretar essa (r)evolu- ção e proporcionar adequada atualiza- ção das normas legais e infralegais. Introdução para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 7 Não foi diferente com Janaína, diretora de abastecimento de água em município vizinho ao de Pedro Paulo. Empenhada em modernizar os medidores de consu- mo de água da cidade, a fim de comba- ter as fraudes e diminuir as despesas com a leitura porta-a-porta dos hidrô- metros, constatou que a solução de medidores inteligentes – que havia conhecido em um evento de Cidades Inteligentes ocorrido no ano anterior – “não se encaixava” no Regulamento dos Serviços de Água e Esgoto da cidade, em vigor desde 1995. Nesse sentido, chega-se a seguinte questão: como garantir que o Poder Público tomará as decisões adequadas (em nível legislativo, regulamentar ou regulatório), se a nova realidade disrup- tiva sequer tenha sido experimentada? Ou seja, Ana Clara pode ter os melhores estudos e projeções quanto aos benefí- cios que os contêineres inteligentes trariam à gestão de resíduos da sua cidade, mas o desconhecimento prático da solução, nunca experimentada pela gestão municipal, certamente dificultará o processo de atualização da legislação do município – inclusive a fundamenta- ção que será enviada à Câmara de Vere- adores para alterar o Código de Postu- ras, datilografado em 1982. O mesmo ocorre com Pedro Paulo: entu- siasta da tecnologia aplicada à mobilida- de urbana, tem convicção que os benefí- cios do sistema de compartilhamento de patinetes elétricos superariam os riscos de sua adoção, mas faltam-lhe elemen- tos concretos – e baseados na realidade local de sua cidade – para justificar deci- sões-chave, como velocidade máxima admitida nos diferentes tipos de via, pos- sibilidade de circulação nas calçadas quando inexistir ciclovia ou ciclofaixa na via, equipamentos obrigatórios e faculta- tivos a serem disponibilizados aos usuá- rios, entre outras. Janaína, por sua vez, ao apresentar para seu secretário municipal a proposta de investimento de mais de dois milhões de reais em hidrômetros inteligentes, foi imediatamente indagada quanto às eco- nomias efetivas que seriam proporciona- das pelos dispositivos, e suas respostas limitaram-se aos “cases europeus” que sua equipe havia levantado. Ainda que o movimento Sandbox no Brasil seja extremamente recente, com os primeiros ambientes lançados somen- te em 2020 (nos setores financeiro, secu- ritário e de Smart Cities) e os primeiros ciclos de experimentação recentemente iniciados, é possível afirmar que, na estei- ra da desburocratização e dos direitos de liberdade econômica recentemente conferidos à população brasileira [BOX 01], as caixas de areia despontam como uma das mais importantes ferramentas de impulsionamento da Quarta Revolu- ção Industrial no país, como veremos neste Guia. Introdução 01 Lei Federal n.º 13.874, de 20 de setembro de 2019 Declaração de Direitos de Liberdade Econômica “Art. 3.º São direitos de toda pessoa, natu- ral ou jurídica, essenciais para o desenvol- vimento e o crescimento econômicos do País, observado o disposto no parágrafo único do art. 170 da Constituição Federal: (...) VI - desenvolver, executar, operar ou comercializar novas modalidades de produtos e de serviços quando as normas infralegais se tornarem desatualizadas por força de desenvolvimento tecnológi- co consolidado internacionalmente, nos termos estabelecidos em regulamento, que disciplinará os requisitos para aferi- ção da situação concreta, os procedimen- tos, o momento e as condições dos efeitos;” para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 8 Os três casos acima ilustram a relevância do tema deste Guia. A superação das barreiras legislativas e regulatórias para tornar as cidades brasileiras verdadeira- mente inteligentes passa, necessaria- mente, pela redução da assimetria de conhecimento entre o Poder Público e o ecossistema da Quarta Revolução Indus- trial, e não há outro caminho para isso, senão a experimentação de soluções em nível local. Ambientes Sandbox para Cidades Inteli- gentes surgem exatamente neste con- texto. Buscam ressignificar a relação entre regulador e regulado, entre público e privado, mediante o consenso de que as decisões e políticas públicas em torno de temas urbanos inéditos só serão acer- tadas se atingido certo nível comum de conhecimento, por parte de todos os atores que participam do processo de inovação na cidade. Proporciona-se no Sandbox, assim, as condições técnicas e jurídicas para que soluções “smart” de interesse municipal sejam de fato experimentadas em ambiente urbano real, e tenham seus impactos – positivos e negativos – avalia- dos e sopesados antes da tomada de decisão estatal, seja ela legislativa, regu- latória ou de contratação pública em larga escala. As vantagens não se restringem somen- te ao Poder Público. Desenvolvedores e fornecedores das soluções disruptivas – como aquelas buscadas por Ana Clara, Pedro Paulo e Janaína – encontram nos Ambientes Sandbox oportunidade única para o aprimoramento de seu produto e seu modelo de negócio, a partir das inte- rações junto ao gestor do ambiente – e potencial contratante –, ao longo do ciclo de experimentações. I. SANDBOX: DOS GAMES À REGULAÇÃO ESTATAL Sandbox: Dos Games à Regulação Estatal Os primeiros registros de uso do termo Sandbox (caixa de areia) em sentido figurado remetem à área de desenvolvi- mento de software, mais especificamen- te à implementação de ambientes con- trolados para teste de códigos. No contexto do SDLC - Systems Develo- pment Life Cycle (o “ciclo de vida de desenvolvimento de software”), Sand- boxes proporcionam um cenário de “isolamento” extremamente valioso para que aspectos de segurança cibernética, por exemplo, sejam testados e validados antes da efetiva operacionalização, pre- venindo incidentes relacionados aos sistemas ou plataformas para os quais os códigos se destinem. Já no mundo dos games, Sandboxes receberam conotação um pouco dife- rente. O termo foi emprestado como referência a jogos nos quais se confere ao player liberdade ampla para modifi- car seu ambiente, criando uma espécie de “mundo virtual”, a exemplo de Spore, Grand Theft Auto (GTA) ou, no exemplo mais oportuno e emblemático para este Guia, SimCity, lançado em 1989. 02 “Sandbox é um estilo de game em que são colocadas apenas limitações mínimas para o personagem. Com isso, o jogador pode vagar e modificar completamente o mundo virtual de acordo com a sua vontade. Ao contrário dos jogos de progressão, um sandbox enfatiza a explo- ração e permite selecionar as tarefas que serão realizadas. Em vez de inserir áreas segmentadas ou níveis numerados, um game sandbox geralmente ocorre em Mundo Aberto. Com isso, o jogador possui acesso total do início ao fim. Apesar de elementos estruturados serem incluídos, como minijogos,tarefas e histórias, você pode jogar conforme a sua vontade.” para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 10 • melhorar o acesso a financiamentos. Nota-se, assim, na origem do programa, o estabelecimento de uma “via de mão dupla”: a experimentação na caixa de areia deve servir (i) à empresa autoriza- da, para aprimoramento de seu produto inovador – diante do relaxamento da regulação colidente –, mas também (ii) ao Poder Público, que, adquirindo conhecimento e vivenciando a solução disruptiva ao longo do ciclo de experi- mentação, estará, em tese, mais prepa- rado para emitir e/ou alterar as normas regulatórias, caso isso se mostre opor- tuno ao final do ciclo experimental (na hipótese de restar claro que as vanta- gens da inovação proposta superem seus riscos regulatórios). Logo no primeiro “ciclo experimental”, inaugurado em 2016, o FCA recebeu 24 (vinte e quatro) requerimentos de enquadramento de soluções no Sandbox Regulatório, tendo deferido 18 (dezoito) autorizações, com base nos seguintes critérios (que permanecem, até hoje, como balizas de seleção, servindo de inspiração inclusive ao modelo brasileiro): • a solução deve estar inserida no campo de regulação do sistema finan- ceiro britânico e ser destinada à popula- ção britânica; • a solução deve ser genuinamente inovadora e significativamente diferente de outros produtos já disponíveis no mercado; • a solução deve proporcionar benefí- cios ao consumidor, e estes benefícios devem superar os riscos de sua adoção; • a solução deve, efetivamente, “neces- sitar de um Sandbox Regulatório”. Nou Foi em 2016, porém, que se teve a apro- priação do termo pelo Estado – e é aqui que nos aproximamos do conceito trabalhado neste Guia. A criação, pelo FCA - Financial Conduct Authority - órgão regulador do sistema financeiro do Reino Unido –, do denominado “Sandbox Regulatório”, enquanto ambiente de testes de regulação, foi um marco no setor das fintechs, tendo inspirado diversos países – inclusive o Brasil, por meio do Banco Central – à criação de suas próprias caixas de areia para experimentação de soluções inovadoras e aprimoramento das normas vigentes. Nessa passagem do conceito para o horizonte de “serviços regulados”, incorporou-se, de um lado, o espírito de isolamento de riscos do Sandbox da programação de sistemas; de outro, a liberdade proporcionada pelos games Sandbox; e como pano de fundo, a regulação do sistema financeiro e os desafios de “encaixar” determinadas soluções disruptivas, geralmente origi- nadas das fintechs, na estrutura tradi- cional de normas e resoluções que regem o sistema financeiro britânico. Sandbox: Dos Games à Regulação Estatal Como divulgado em seu site oficial [1], o programa de Sandbox Regulatório do FCA teve como objetivos iniciais: • possibilitar às empresas e startups o teste de seus produtos inovadores em ambiente controlado; • reduzir o tempo de maturação dos modelos de negócio e os custos asso- ciados ao produto inovador; • permitir a identificação de salvaguar- das adequadas à proteção do consumi- dor do produto inovador; e [1] https://www.fca.org.uk/firms/innovation/regulatory-sandbox para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 11 Sandbox: Dos Games à Regulação Estatal 03 para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 12 tras palavras, deve restar comprovado que a solução não se encaixa no marco regulatório vigente, e que operacionali- zá-la sem um Sandbox seria inviável, técnica ou economicamente; e • a solução deve estar pronta para testes com consumidores reais, com um plano bem desenvolvido, objetivos claros, parâmetros e critérios de aferi- ção do sucesso ou insucesso dos testes. Desde a criação do programa, já foram conduzidos 06 (seis) ciclos de experi- mentações, contando com a participa- ção de 89 (oitenta e nove) empresas, de diversos portes – de fintechs até consa- gradas instituições financeiras, como Barclays e HSBC –, que propuseram os mais variados produtos disruptivos à autoridade financeira britânica, passan- do por blockchain, inteligência artificial, meios de pagamento, ferramentas para gestão de créditos hipotecários, plata- formas de financiamento verde, entre outros. No último ciclo, conduzido em 2020, o FCA pela primeira vez estipulou, já no ato de chamamento, um “rol de ques- tões prioritárias” para as quais era dese- jável o recebimento de propostas inova- doras [BOX 03]. Até então, os editais dos ciclos de experimentação anterio- res conferiam liberdade plena aos parti- cipantes para o encaminhamento de seus pleitos, desde que atendidos os requisitos descritos acima. A janela de inscrições para o sétimo ciclo de experimentações do Sandbox britânico encerrou-se em 31 de Dezem- bro de 2020. Vale a pena visitar o site do programa (https://www.fca.org.uk /firms/innovation/regulatory-sandbox) e conhecer um pouco mais desta que foi a precursora das caixas de areia regula- tórias no mundo, tendo servido de base a diversos outros países, a exemplo do Brasil, cuja experiência recente explora- remos no próximo Capítulo. II. SANDBOX REGULATÓRIO E SUA ADOÇÃO PELO BRASIL 04 “Comunicado: implementação de modelo de sandbox regulatório no Brasil (publicado em 13/06/19) “A Secretaria Especial de Fazenda do Ministé- rio da Economia, o Banco Central do Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários e a Superin- tendência de Seguros Privados tornam pública a intenção de implantar um modelo de sandbox regulatório no Brasil. Essa iniciativa surge como resposta à transfor- mação que vem acontecendo nos segmentos financeiro, de capitais e securitário. O uso de tecnologias inovadoras, como distributed ledger technology – DLT, blockchain, roboadvi- sors e inteligência artificial, tem permitido o surgimento de novos modelos de negócio, com reflexos na oferta de produtos e serviços de maior qualidade e alcance. Esse cenário impõe aos reguladores o desafio de atuar com a flexibilidade necessária, dentro dos limites permitidos pela legislação, para adaptar suas regulamentações às mudanças tecnológicas e constantes inovações, de forma que as atividades reguladas mantenham conformidade com as regras de cada segmen- to, independentemente da forma como os serviços e produtos sejam fornecidos, princi- palmente sob as perspectivas da segurança jurídica, da proteção ao cliente e investidor e da segurança, higidez e eficiência dos merca- dos. Os reguladores que subscrevem este comuni- cado coordenarão suas atividades institucio- nais para disciplinar o funcionamento de elementos essenciais do sandbox em suas correspondentes esferas de competência, contemplando elementos comuns aos mode- los observados em outras jurisdições, a exem- plo da concessão de autorizações temporárias e a dispensa, excepcional e justificada, do cumprimento de regras para atividades regula- das específicas, observando critérios, limites e períodos previamente estabelecidos. Os reguladores, ademais, buscarão atuar conjun- tamente sempre que as atividades perpassem mais de um mercado regulado. Espera-se que a implantação desse regime regulatório seja capaz de promover o desen- volvimento de produtos e serviços mais inclusi- vos e de maior qualidade e possa fomentar a constante inovação nos mercados financeiro, securitário e de capitais.” - De acordo com a Secretaria Especial de Fazenda do Ministério da Economia, responsável pela gênese do programa brasileiro, “a iniciativa surge como resposta à transformação que vem acontecendo nos segmentos financeiro, de capitais e securitário. O uso de tec- nologias inovadoras, como distributed ledger technology – DLT, blockchain, roboadvisors e inteligência artificial, tem permitido o surgimento de novos modelos de negócio, com reflexos na oferta de produtos e serviços de maior qualidade e alcance” [2]. O BOX 04 ao lado contempla o Comuni- cado publicado pela Secretaria Especial em 13 de Junho de 2019, que bem demonstra o espíritodo Sandbox brasi- leiro. Sandbox Regulatório e sua adoção pelo Brasil [2] http://editor.economia.gov.br/Economia/area-de-imprensa/notas-a-imprensa/2019/06/comunicado-conjunto-de-13-de-junho-de-2019. para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 14 Assim como no Reino Unido – e em pelo menos outros trinta e um países –, o Sandbox Regulatório no Brasil teve raízes no setor financeiro, mas com peculiaridades que tornam nosso modelo único no mundo. O fato de termos tido, entre os anos de 2019 e 2020, um movimento coordenado de três reguladores – Banco Central, CVM e SUSEP – em torno do tema, bem como de termos institucionalizado o Sandbox em Lei Federal (no recente Marco das Startups e do Empreendedorismo Inovador), certamente colocam nosso país em posição de vanguarda, em um ritmo impulsionado pela Declaração de Direitos de Liberdade Econômica (Lei Federal n.º 13.874/19), como visto no BOX 01. 05 “CAPÍTULO V DOS PROGRAMAS DE AMBIENTE REGULATÓRIO EXPERIMENTAL (SANDBOX REGULATÓRIO) Art. 11. Os órgãos e as entidades da admi- nistração pública com competência de regulamentação setorial poderão, indivi- dualmente ou em colaboração, no âmbito de programas de ambiente regulatório experimental (sandbox regulatório), afastar a incidência de normas sob sua competência em relação à entidade regu- lada ou aos grupos de entidades regula- das. § 1.º A colaboração a que se refere o caput deste artigo poderá ser firmada entre os órgãos e as entidades, observadas suas competências. § 2.º Entende-se por ambiente regulatório experimental (sandbox regulatório) o disposto no inciso II do caput do art. 2º desta Lei Complementar. § 3.º O órgão ou a entidade a que se refere o caput deste artigo disporá sobre o funcionamento do programa de ambiente regulatório experimental e estabelecerá: I - os critérios para seleção ou para qualifi- cação do regulado; II - a duração e o alcance da suspensão da incidência das normas; e III - as normas abrangidas.” Vejamos, em detalhes, como cada uma das entidades trabalhou o tema, valen - do destacar que, considerando ser o Sandbox um instrumento extremamen - te recente na história brasileira (e mun - dial), com os primeiros ciclos experi - mentais recém-iniciados (seja para regulação setorial, seja para as Smart Cities), tudo que se pode ilustrar, por ora, são as intenções e os primeiros mo - vimentos em cada nicho. Conforme os ciclos se completem – e os resultados sejam aferidos –, análises mais profun - das poderão ser (e serão) conduzidas. Sandbox Regulatório e sua adoção pelo Brasil para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 15 Antes de analisarmos cada um dos San- dboxes Regulatórios, vale ressaltar que o Marco Legal das Startups e do Empre- endedorismo Inovador, instituído pela recente Lei Complementar Federal n.º 182, de 1.º de Junho de 2021, dispõe expressamente sobre o tema, estipulan- do, em seu art. 11, que “os órgãos e as entidades da administração pública com competência de regulamentação setorial poderão, individualmente ou em colaboração, no âmbito de programas de ambiente regulatório experimental (sandbox regulatório), afastar a incidên- cia de normas sob sua competência em relação à entidade regulada ou aos grupos de entidades reguladas” [BOX 05]. Lei Complementar Federal n.º 182, de 1.º de Junho de 2021 Marco Legal das Startups e do Empreen- dedorismo Inovador II.1. SANDBOX DO BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN) • soluções para o aumento da competi- ção no Sistema Financeiro Nacional e no Sistema de Pagamentos Brasileiro; • soluções financeiras e de pagamento com potenciais efeitos de estímulo à inclusão financeira; e • fomento a finanças sustentáveis. Em linha com a experiência internacio- nal, nosso Banco Central fixou, como prazo do primeiro ciclo experimental, 01 (um) ano, prorrogável por igual perí- odo, sendo as autorizações limitadas entre 10 (dez) e 15 (quinze) participan- tes. O período de inscrições foi fixado de 22 de Fevereiro a 19 de Março de 2021, sendo que mais informações constam do site https://www.bcb.gov.br/ estabilidadefinanceira/sandbox. No âmbito do Banco Central do Brasil (BACEN), a história do Sandbox Regula- tório foi inaugurada pela Resolução BCB n.º 50, de 16 de Dezembro de 2020, que “dispõe sobre os requisitos para instauração e execução pelo Banco Central do Brasil do Ambiente Controlado de Testes para Inovações Financeiras e de Pagamento (Sandbox Regulatório) - Ciclo 1, bem como sobre os procedimentos e requisitos aplicá- veis à classificação e à autorização para participação nesse ambiente”. Dentre os objetivos do programa, des- tacou-se o de “estimular a inovação e a diversidade de modelos de negócio, estimular a concorrência entre os forne- cedores de produtos e serviços finan- ceiros e atender às diversas necessida- des dos usuários, no âmbito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), asse- gurando a higidez desses sistemas”. Logo na instituição do Sandbox do BACEN, foram estipuladas determina- das prioridades estratégicas (art. 7.º), quais sejam: • soluções para o mercado de câmbio; • fomento ao mercado de capitais por intermédio de mecanismos de sinergia com o mercado de crédito; • fomento ao crédito para microempre- endedores e empresas de pequeno porte; • soluções para o Sistema Financeiro Aberto (Open Banking); • soluções para o Arranjo de Pagamen- tos Instantâneos (Pix); • soluções para o mercado de crédito rural; para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 17 Sandbox do Banco Central do Brasil Fonte: https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/sandbox II.2. SANDBOX DA COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM) No caso da Comissão de Valores Mobili- ários (CVM), seu Programa de Sandbox Regulatório foi lançado em 15 de Maio de 2020, por meio da Instrução CVM 626, que “regula a constituição e o fun- cionamento de ambiente regulatório experimental (“sandbox regulatório”), em que as pessoas jurídicas participan- tes poderão receber autorizações tem- porárias para testar modelos de negó- cio inovadores em atividades no merca- do de valores mobiliários regulamenta- das pela Comissão de Valores Mobiliá- rios”. Foram estipulados, como principais objetivos do Programa (art. 1.º): • fomento à inovação no mercado de capitais; • orientação aos participantes sobre questões regulatórias durante o desen- volvimento das atividades para aumen- tar a segurança jurídica; para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 19 Sandbox da Comissão de Valores Mobiliários • diminuição de custos e do tempo de maturação para desenvolver produtos, serviços e modelos de negócio inovado- res; • aumento da visibilidade e tração de modelos de negócio inovadores, com possíveis impactos positivos em sua atratividade para o capital de risco; • aumento da competição entre presta- dores de serviços e fornecedores de produtos financeiros no mercado de valores mobiliários; • inclusão financeira decorrente do lançamento de produtos e serviços financeiros menos custosos e mais acessíveis; e • aprimoramento do arcabouço regula- tório aplicável às atividades regulamen- tadas. Fonte: http://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/sandbox_regulatorio.html.cvm para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 20 Sandbox da Comissão de Valores Mobiliários 06 II.3. SANDBOX DA SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS (SUSEP) O caso da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) é bastante especial e emblemático. Foi a primeira entidade a instituir oficialmente um programa de Sandbox Regulatório no Brasil – ainda em Março de 2020 –, e, na data de publicação deste Guia, experimenta- ções já estão sendo conduzidas junto a 07 (sete) empresas, selecionadas dentre 11 (onze) proposições recebidas pela Autarquia. As regras do programa foram estipula- das pela Resolução CNSP n.º 381, de 04 de Março de 2020, e pela Circular SUSEP n.º 598,de 19 de Março de 2020 [BOX 07]. Vale destacar que, diferente- mente do BACEN e da CVM, a SUSEP estipulou, como prazo do ciclo experi- mental, 36 meses, contados a partir da efetiva data do começo da comerciali- zação dos planos de seguro enquadra- dos em ambiente Sandbox. 07 Resolução CNSP n.º 381, de 04 de Março de 2020 “Art. 5.º São critérios de elegibilidade para participação no Sandbox Regulatório: I - o produto e/ou serviço deve se enqua- drar no conceito de projeto inovador; II - utilizar meios remotos nas operações relacionadas a seus planos de seguro, na forma disposta na regulação vigente; III - apresentar como a tecnologia empre- gada no produto e/ou no serviço é inova- dora ou como está sendo utilizada de maneira inovadora; IV - apresentar produto e, quando for o caso, serviço, plenamente apto(s) a entrar em operação; V - apresentar plano de negócios, que deve conter, ao menos, as seguintes infor- mações: a) exposição do problema a ser solucio- nado pelo produto e/ou serviço ofereci- do, incluindo descrição sobre os ganhos e benefícios ao mercado e para os consu- midores; b) métricas de desempenho relativas à atuação da sociedade seguradora e periodicidade de aferição em relação ao projeto inovador; c) o mercado alvo de atuação, incluindo informação sobre os possíveis clientes, região de atuação e outras informações relevantes; e d) planejamento para saída do projeto, prevendo plano de contingência para descontinuação ordenada, pelos motivos elencados nesta Resolução ou por causas extraordinárias. VI - análise dos principais riscos associa- dos à sua atuação, incluindo aqueles relativos à segurança cibernética, e o plano de mitigação de eventuais danos causados aos clientes.” Sandbox da Superintendência de Seguros Privados para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 22 Inovação em Seguro para celulares, notebooks, tablets, câmeras e outros aparelhos eletrônicos; automóvel (casco) Inovação em Seguro compreensivo residencial; funeral (morte natural ou acidental); acidentes pessoais (morte acidental e invalidez permanente por acidente); patrimo- nial paramétrico Inovação em Seguro para acidentes pessoais (morte acidental) Produto Inovador não identificado Inovação em Seguro para Automóvel (casco) Produto Inovador não identificado Inovação em Seguro para Animais domésticos (aplicação de vacinas, atendimentos ambulatoriais, cirurgias, consul- ta urgência e emergência, consultas de rotina, exames laboratoriais/imagens e internação). Sandbox da Superintendência de Seguros Privados para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes pa ra C id ad es In te lig en te s pa ra C id ad es In te lig en te s 23 Neste primeiro ciclo de experimenta- ções, conforme disponível no site da Autarquia, foram deferidas autorizações às seguintes empresas e produtos secu- ritários inovadores: PIER SEGURADORA S.A. STONE SEGUROS S.A. EMOTION SEGUROS S.A. FBXG SEGUROS S.A. SIMPLE2U SEGUROS S.A. THINKSEG SEGURADORA S.A. COOVER SEGURADORA S.A. III. SANDBOX PARA CIDADES INTELIGENTES Smart City são absolutamente multidis- ciplinares, passando por mobilidade urbana, iluminação pública, segurança, gestão de resíduos, abastecimento de água, esgoto etc. Nesse sentido, desde Julho de 2020, com a publicação da norma ABNT NBR ISO 37122:2020, passou a vigorar, em território nacional, a seguinte definição oficial de Cidade Inteligente: Vimos, nos Capítulos anteriores, diver- sos exemplos de Sandboxes Regulató- rios, voltados especificamente à regula- ção setorial – nos âmbitos do mercado financeiro, mercado de capitais e segu- ros. Neles, a experimentação de solu- ções inovadoras e o possível relaxamen- to de normas, para fins de seu aperfei- çoamento e/ou atualização, recai exclu- sivamente sobre a normalização do respectivo setor. Quando transportado o conceito de Sandbox ao universo das Cidades Inteli- gentes, tem-se uma sensível ampliação no espectro das experimentações, por uma razão bastante simples: as condu- tas e serviços que caracterizam uma para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 25 Sandbox para Cidades Inteligentes para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 26 Sandbox para Cidades Inteligentes Tal conceito, amplamente debatido pela comunidade internacional antes da efetiva publicação da norma ISO (em 2019), desdobra-se em condutas positi- vas da administração da cidade (“con- dutas de Smart City”), como, por exem- plo, “implementar ferramentas de tele- medicina” – na vertical de saúde –, “esti- mular a ciclomobilidade” – na vertical de transportes –, “estimular hortas urba- nas” – na vertical de segurança alimen- tar –, “monitorar o território com câme- ras” – na vertical de segurança pública –, entre muitas outras, que se materiali- zam em indicadores objetivos e interna- cionalmente comparáveis. Não é raro, porém, que determinadas condutas de Smart City, como as referi- das acima, “esbarrem” em normas anti- gas (nas três esferas – federal, estadual e municipal), algumas até obsoletas, quando da estruturação e execução de projetos pelos Municípios. Na Introdu- ção deste Guia, vimos três exemplos disso: Ana Clara, prefeita, enfrentou dificuldades para operacionalizar seu projeto piloto de lixeiras inteligentes (conduta típica de Smart City, conforme a ISO/ABNT), por conta de dispositivo do Código de Posturas Municipal, docu- mento de 1982 – quando a Internet das Coisas ainda era, digamos, só uma ideia; Pedro Paulo, por sua vez, sentiu na pele as barreiras da legislação obsoleta quanto ao projeto de patinetes elétricos compartilhados; mesma situação de Janaína, quando tentou modernizar os medidores de consumo de água da cidade. Milhares de gestores públicos do país enfrentam, diariamente, os desafios pro- vocados pelo nítido descompasso entre o ordenamento jurídico vigente e a Quarta Revolução Industrial. Promover inovação no setor público torna-se, muitas vezes, uma tarefa árdua diante do conjunto de Leis, Decretos, Códigos, Resoluções, Planos, Portarias e outras espécies normativas concebidas há 30, 40, 50 anos, com base em uma realida- de socio-tecnológica absolutamente distinta da atual. Ambientes Sandbox para Cidades Inteli- gentes surgem exatamente neste con- texto, e buscam proporcionar condições técnicas e jurídicas para que soluções “smart” de interesse municipal sejam de fato experimentadas em ambiente urbano real, e tenham seus impactos – positivos e negativos – avaliados e sopesados antes da tomada de decisão “Cidade Inteligente: cidade que aumenta o ritmo em que proporciona resultados de sustentabilidade social, econômica e ambiental e que responde a desafios como mudanças climáticas, rápido crescimento populacional e instabilidades de ordem política e econômi- ca, melhorando fundamentalmente a forma como engaja a sociedade, aplica métodos de liderança colaborativa, trabalha por meio de disciplinas e sistemas municipais, e usa infor- mações de dados e tecnologias modernas, para fornecer melhores serviços e qualidade de vida para os que nela habitam (residentes, empresas, visitantes), agora e no futuro previsí- vel, sem desvantagens injustas ou degradação do ambiente natural.” (ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2020) ou de contratação pública em larga escala. Pressupõem o atingimento de um nível superior de maturidade por parte do Estado, calcado nos valores liberais que balizam nossa Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, e assumindo como um “mantra”: conhecer antes de legislar; conhecer antes de tributar; e, especialmente, conhecer antes de proi- bir. Buscam livrar determinadas amarras ao desenvolvimento econômico, social e tecnológico das cidades, com base na premissa de que as decisões e políticas públicas em torno de temas urbanos inéditos só serão acertadas e efetivas caso atingido certo nível comum de conhecimento, por parte de todos os atores que participam do processode inovação na cidade. Além disso, sob a ótica do ecossistema desenvolvedor das soluções – especial- mente das denominadas “govtechs” –, Sandboxes para Cidades Inteligentes cumprem à risca o direito de liberdade econômica destacado no BOX 01 deste Guia: desenvolver, executar, operar ou comercializar novas modalidades de produtos e de serviços quando as normas infralegais se tornarem desatua- lizadas por força de desenvolvimento tecnológico consolidado internacional- mente. Vale destacar que a Carta Brasileira para Cidades Inteligentes [3], docu- mento publicado em 2020 após traba- lho colaborativo de centenas de gesto- res públicos e especialistas brasileiros, coordenado pela GIZ Brasil e pelos Ministérios do Desenvolvimento Regio- nal e da Ciência, Tecnologia e Inovações, recomendou expressamente, no âmbito dos objetivos estratégicos das Smart Cities brasileiras, a implementação de laboratórios de experimentação urbana: E se o Sandbox Regulatório brasileiro teve seu surgimento encabeçado pelo Banco Central, CVM e SUSEP, como visto nos capítulos anteriores, pode-se dizer que a caixa de areia das Smart Cities foi verdadeiramente implementa- da no país em esforço liderado pela ABDI - Agência Brasileira de Desenvol- vimento Industrial, também vinculada ao Ministério da Economia. para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 27 Sandbox para Cidades Inteligentes “4.5.4. Laboratórios de experimenta- ção urbana: Incentivar o surgimento de soluções urbanas inovadoras, criando espaços colaborativos trans- disciplinares (que possibilitam a coo- peração entre diferentes disciplinas e saberes) para cidades inteligentes, na perspectiva ampla da transforma- ção digital nas cidades. Para garantir que as soluções sejam realizáveis, deve-se focar em pesquisa e experi- mentação em ambientes reais. Para isso, articular instituições de ensino e pesquisa e outros setores envolvidos na produção de conhecimento, com apoio institucional e jurídico da Administração Pública Municipal. Integrar esses Laboratórios ao Observatório para a transformação digital nas cidades e a outros fóruns oficiais relacionados à transforma- ção digital.” [3] https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/desenvolvimento-regional/projeto-andus/carta_brasileira_cidades_inteligentes.pdf Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, em Brasília/DF para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 28 Sandbox para Cidades Inteligentes A Agência, em parceria com Municípios (como Foz do Iguaçu/PR e Petroli- na/PE) e com o Parque Tecnológico Itaipu, concebeu e estruturou os primeiros ambientes experimentais para Cidades Inteligentes no país, anali- sados mais adiante, neste Guia. “A ABDI tem trabalhado para que a mo- delagem do sandbox nas cidades brasi- leiras seja atrativo para investimentos de empresas de base tecnológica. Vamos demonstrar que as tecnologias servem para os cidadãos e, por outro lado, atraem várias empresas de base tecnológica para que realizem investi- mentos na cidade”, nas palavras de seu presidente, Igor Calvet. Como veremos no próximo Capítulo, somente outros dois países – Coréia do Sul e Colômbia – já se aventuraram nas experimentações em caixa de areia para Smart Cities, o que confirma o protago- nismo brasileiro no tema. IV. SANDBOX PARA CIDADES INTELIGENTES NO MUNDO Pelo menos trinta e três países – contan- do com o Brasil – já possuem algum pro- grama de Sandbox Regulatório em exe- cução na data de publicação deste Guia. Entretanto, quando a pauta é Cidades Inteligentes, além do Brasil, só temos outros dois casos de Sandbox no mundo, sendo um mais avançado – da Coréia do Sul –, e outro ainda embrioná- rio, centrado unicamente no setor de telecomunicações (Colômbia). De fato, como se observa no mapa abaixo, foi no setor financeiro que o instrumento se popularizou, especial- mente por impulso do Reino Unido, pre- cursor do tema com o programa condu- zido pelo FCA (vide Capítulo I), que caminha, atualmente, para seu sétimo ciclo experimental. Veremos, a seguir, um pouco do programa sul-coreano, iniciado em 2020, e que já conta com diversas soluções sob experimentação na caixa de areia. para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 30 Sandbox para Cidades Inteligentes no Mundo Canadá Polônia Bahrein Espanha Moçambique Ilhas Maurício México Estados Unidos Brunei Austrália Reino Unido Países Baixos Suíça Serra Leoa Jamaica Colômbia Dinamarca Lituânia Cazaquistão Rússia Japão Coréia do Sul Taiwan Índia Tailândia Cingapura Malásia Ruanda Brasil Arábia Saudita E. Árabes Un. Jordânia Hong Kong Sandbox no Setor Financeiro Sandbox nos Setores Financeiro, TICs e Smart Cities pa ra Cid ad es Int elig ent es pa ra Cid ad es Int elig ent es IV.1. CASE: CORÉIA DO SUL Por lá, já estão operacionais 05 (cinco) Sandboxes para Smart Cities, abrangen- do os territórios de Sejong, Busan, Inche- on, Bucheon e Xiheung. As experimenta- ções ocorrem em harmonia com os Planos Regionais de Smart City, ou seja, buscam materializar avanços que já este- jam no planejamento de curto, médio e longo prazo de cada cidade inteligente, passando por diversas temáticas urba- nas, como veremos a seguir. Destaca-se que, em praticamente todos os atos de autorização, foi fixado o prazo experimental de 04 (quatro) anos. Mais informações sobre o Sandbox para Cidades Inteligentes coreano podem ser encontradas no site oficial do programa, https://smartcity.go.kr/. Poucos países possuem um planejamen- to tão claro e robusto de Cidades Inteli- gentes quanto o da Coréia do Sul. O país foi um dos precursores no tema – tendo publicado sua Lei de Cidades Inteligen- tes (inicialmente denominadas “cidades ubíquas”) em março de 2008 –, e ostenta níveis invejáveis de inteligência urbana em diversas áreas de ação. Um dos instrumentos atualmente empre- gados pelas Smart Cities coreanas é exa- tamente o Sandbox, que foi previsto em uma recente emenda à legislação nacio- nal de Cidades Inteligentes (“Smart City Act”). Por força do art. 46 desta Lei, as cidades ficaram autorizadas à criação de seus ambientes experimentais e ao rela- xamento da legislação durante os ciclos de testes e avaliações, com base em critérios previamente definidos e mediante o atendimento de determina- dos requisitos. para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 32 Case: Coréia do Sul Seul, Coréia do Sul EXPERIMENTAÇÕES EM ANDAMENTO NO SANDBOX DA COREIA DO SUL 33 Cidade de SejongSANDBOX 2021.01 - 2024.12 (48 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Consórcio Hyundai MotorAUTORIZADO Mobilidade UrbanaÁREA Remodelamento dinâmico do sistema de compartilhamento de veículos autônomos, por meio de aplicativo disponibilizado à população de Sejong SOLUÇÃO para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Case: Coréia do Sul Fonte: https://smartcity.go.kr/ 34 para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Case: Coréia do Sul Cidade de SejongSANDBOX 2020.09 - 2024.08 (48 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Instituto de Trânsito da CoréiaAUTORIZADO EletromobilidadeÁREA Sistema multimodal de eletromobilidade compartilhada, concentrando-se em um mesmo App as funcionalidades de locação de carros elétricos, patinetes elétricos e segways SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ 35 para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Case: Coréia do Sul Cidade de SejongSANDBOX 2020.09 - 2024.08 (48 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Jiai Tech Co., Ltd.AUTORIZADO AcessibilidadeÁREA Plataforma de inteligência artificial voltada a cidadãos com deficiência visual, forne - cendo informações, rotas, bem como funcionando como plataforma de paga - mento para diversos serviços púbicos e privados SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ Cidade de SejongSANDBOX 2021.01 - 2024.12 (48 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Ubion Co., Ltd.AUTORIZADO EducaçãoÁREA Plataforma de inteligência artificial voltada à gestão doensino público, capaz de realizar o “match” de professores e alunos com base no histórico e nas necessidades (lacunas de aprendizagem) diagnosticadas em tempo real SOLUÇÃO para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 36 Case: Coréia do Sul Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 37 Case: Coréia do Sul Cidade de SejongSANDBOX 2020.09 - 2021.03 (7 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Consórcio JBIAUTORIZADO Segurança e Defesa CivilÁREA Uso de drones e sensores IoT para monito- ramento e mitigação de riscos de rompi- mento de tubulações, explosões e outras intercorrências associadas aos dutos públicos da cidade, com ênfase nos cantei- ros de obras (públicas e privadas) SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 38 Case: Coréia do Sul Cidade de SejongSANDBOX 2020.09 - 2024.08 (48 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO MassAsiaAUTORIZADO Mobilidade UrbanaÁREA Serviço “dockless” de compartilhamento de patinetes elétricos SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 39 Case: Coréia do Sul Cidade de SejongSANDBOX Não InformadoCICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Consórcio HealthConnectAUTORIZADO SaúdeÁREA Plataforma de Big Data voltada à gestão de saúde do cidadão, concentrando dados de diversas fontes e permitindo o aciona- mento de primeiros socorros de forma autônoma SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 40 Case: Coréia do Sul Cidade de BusanSANDBOX Não InformadoCICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Alfa RobóticaAUTORIZADO Saúde e AcessibilidadeÁREA Robô utilizado para deslocamento de pacientes no interior de hospitais, liberan- do profissionais para o desempenho de outras funções SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 41 Case: Coréia do Sul Cidade de BusanSANDBOX Não InformadoCICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Serviço de Informações de SamwooAUTORIZADO Turismo e Serviços PúblicosÁREA Solução de realidade aumentada destina- da ao fornecimento de informações turísti- cas e de utilidade ao usuário de serviços públicos da cidade SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 42 Case: Coréia do Sul Cidade de BusanSANDBOX 2020.09 - 2021.03 (7 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Kyungsung TecnologiaAUTORIZADO AcessibilidadeÁREA Cadeira de rodas inteligente, baseada em Internet das Coisas. Possui integração com diversas utilidades públicas, permitindo a seleção das rotas e vias mais amigáveis à circulação do deficiente físico SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 43 Case: Coréia do Sul Cidade de IncheonSANDBOX 2020.09 - 2024.08 (48 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Consórcio Hyundai MotorAUTORIZADO Mobilidade UrbanaÁREA Serviço de ônibus sob demanda. Rotas são atualizadas de forma dinâmica ao longo de todo o dia, conforme a interação com os usuários via Aplicativo SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 44 Case: Coréia do Sul Cidade de IncheonSANDBOX 2020.09 - 2022.11 (29 meses)CICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Consórcio Hyundai MotorAUTORIZADO Mobilidade UrbanaÁREA Aplicativo que permite aos taxistas supri- rem demandas do serviço de transporte público em horários de pico, com condi- ções diferenciadas de tarifação e de atendimento aos usuários. Emprega inteli- gência artificial SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 45 Case: Coréia do Sul Cidade de XiheungSANDBOX Não InformadoCICLO DE EXPERIMENTAÇÃO Consórcio Korea Electric Power Corporation AUTORIZADO EnergiaÁREA Sistema de medição inteligente de consu- mo de energia, água e gás residenciais, de modo integrado, provendo-se Aplicativo ao consumidor para monitoramento e simulações de consumo e tarifação, estimulando-se hábitos sustentáveis SOLUÇÃO Fonte: https://smartcity.go.kr/ V. SANDBOX NAS CIDADES INTELIGENTES BRASILEIRAS Sandbox nas Cidades Inteligentes Brasileiras para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 47 Até a data de publicação deste Guia, oito entes federados brasileiros já haviam institucionalizado programas de Sandbox para Cidades Inteligentes – Foz do Iguaçu/PR; Petrolina/PE; Distri- to Federal; Londrina/PR; Francisco Morato/SP; Macapá/AP; Jaraguá do Sul/SC, Campina Grande/PB e Itabaia- na/SE. No caso dos dois primeiros, solu- ções já estão passando por ciclos de experimentação, como veremos neste Capítulo. Os ambientes foram modelados com o apoio técnico da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial - ABDI, e neste Capítulo exploraremos como esses casos pioneiros foram estrutura- dos e seu estágio atual. Vale dizer que as capitais Curitiba/PR, Salvador/BA e Goiânia/GO também estão em processo de estudos para a institucionalização do Sandbox para Cidades Inteligentes. Cidade Data de Instituição Foz do Iguaçu/PR Distrito Federal Londrina/PR Francisco Morato/SP 23/06/2020 Petrolina/PE 13/08/2020 17/08/2020 15/03/2021 22/03/2021 Macapá/AP 25/06/2021 Campina Grande/PB 02/07/2021 Jaraguá do Sul/SC 20/07/2021 Itabaiana/SE 02/08/2021 Sandbox para Cidade Inteligente instituído Sandbox para Cidade Inteligente em processo de instituição Goiânia/GO Itabaiana/SE Jaraguá do Sul/SC Macapá/AP Distrito Federal Francisco Morato/SP Salvador/BA Londrina/PR Curitiba/PRFoz do Iguaçu/PR Petrolina/PE Campina Grande/PB V.1. CASE: FOZ DO IGUAÇU/PR Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, foi a primeira cidade brasileira a institucionali- zar um Programa Sandbox para Cidade Inteligente, com a publicação do Decreto Municipal n.º 28.244, de 23 de Junho de 2020. Foi estabelecido, já na regulamen- tação inicial do Sandbox, um rol de obje- tivos a serem perseguidos na condução do Programa: • o fomento à inovação em escala urbana em Foz do Iguaçu, especialmente com a implementação do Projeto Sandbox da Vila A - Bairro Inteligente; • a integração de iniciativas e metas do Município de Foz do Iguaçu aos projetos correlatos desenvolvidos pela Fundação PTI-BR, inclusive para apoio institucional em infraestrutura e recursos humanos necessários à estruturação e execução do Programa; • a orientação aos participantes sobre questões regulatórias relevantes durante o desenvolvimento das experimenta- ções, com vistas a maximizar a seguran- ça jurídica e minimizar colisões futuras; • a diminuição de custos e do tempo de maturação para desenvolver produtos, serviços e modelos de negócio inovado- res; e • o aumento da visibilidade e tração de modelos de negócio inovadores, com possíveis impactos positivos em sua atratividade para o capital de risco. Como se observa no primeiro objetivo assinalado pela Municipalidade, à seme- lhança do modelo da Coréia do Sul, anali- sado no Capítulo anterior deste Guia, foi caracterizada, logo na origem do Pro- grama, uma área específica da cidade para focalização dos testes e experimen- tações, qual seja, o bairro da Vila A. Trata-se de bairro cuja modernização (sob o conceito de “bairro inteligente”) já estava nos planos da Administração Case: Foz do Iguaçu/PR para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 49 Bairro Vila A, em Foz do Iguaçu/PR, enquadrado como ambiente Sandbox para experimentação de soluções para Smart City Pública, e que possui vocações bastante diversas (moradia, comércio, serviços, parques e espaços de lazer, hospitais, escolas), com fenômenos urbanos propí- cios ao Sandbox, além de apresentar boa infraestrutura de apoio às experimenta- ções. Interessante observar, ainda, o mecanis- mo de governança estabelecido para condução do Programa. Formou-se um Comitê Gestor absolutamente plural, que conta com a participação não somente de integrantes da Municipalidade de Foz do Iguaçu (Secretários), comotambém de representantes da sociedade civil, da academia, do Parque Tecnológico Itaipu, entre outros atores afetados ou afetáveis pelo Sandbox. De modo a democratizar ao máximo a tomada de decisão no ambiente experi- mental, bem como proporcionar integra- ção entre as iniciativas do Sandbox e das políticas municipais de inovação, atri- buiu-se uma cadeira do Comitê ao Con- selho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, que congrega, por sua vez, outras várias entidades parceiras do Município. Assim, potencializou-se o caráter plural do órgão colegiado, como demonstrado na figura a seguir: Pública, e que possui vocações bastante diversas (moradia, comércio, serviços, parques e espaços de lazer, hospitais, escolas), com fenômenos urbanos propí- cios ao Sandbox, além de apresentar boa infraestrutura de apoio às experimenta- ções. Interessante observar, ainda, o mecanis- mo de governança estabelecido para condução do Programa. Formou-se um Comitê Gestor absolutamente plural, que conta com a participação não somente de integrantes da Municipalidade de Foz do Iguaçu (Secretários), como também de representantes da sociedade civil, da academia, do Parque Tecnológico Itaipu, entre outros atores afetados ou afetáveis pelo Sandbox. De modo a democratizar ao máximo a tomada de decisão no ambiente experi- mental, bem como proporcionar integra- ção entre as iniciativas do Sandbox e das políticas municipais de inovação, atri- buiu-se uma cadeira do Comitê ao Con- selho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, que congrega, por sua vez, outras várias entidades parceiras do Município. Assim, potencializou-se o caráter plural do órgão colegiado, como demonstrado na figura a seguir: Case: Foz do Iguaçu/PR para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 50 Membros do Comitê Gestor do Programa Sandbox Foz do Iguaçu Sec. Municipal de Tecnologia da Informação COMITÊ GESTOR DO PROGRAMA SANDBOX FOZ DO IGUAÇU (CGPS-FI) Sec. Municipal de Planejamento e Captação de Recursos Parque Tecnológico Itaipu Sociedade Civil Organizada (Assoc. Comercial e Industrial de Foz do Iguaçu) Associação de Moradores da Vila A Sec. Municipal de Turismo, Indústria, Comércio e Projetos Estratégicos Centro de Ensino Superior de Foz do Iguaçu Centro Universitário Uniamérica Faculdades Unificadas de Foz do Iguaçu Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Foz do Iguaçu Associação Comercial e Empresarial de Foz do Iguaçu - ACIFI Federação das Indústrias do Estado do Paraná Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu Sec. Municipais de Foz do Iguaçu Universidade Federal da Integração Latino Americana - UNILA Itaipu BinacionalAPL Iguassu - IT Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE Instituto Federal do Paraná - IFPR Centro Universitário Dinâmica das Cataratas Membros do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação Decreto Municipal n.º 28.244, de 23 de Junho de 2020 “Art. 3.º. No âmbito do Programa Sandbox – Foz do Iguaçu, o Comitê Gestor disciplina- do neste Decreto poderá autorizar, durante o período destinado à realização dos testes e experimentações temáticas, a suspensão da eficácia da legislação municipal, em matéria fiscal, econômica, urbanística ou outras, conforme delimitado em ato do Comitê Gestor, desde que configurado, de modo inequívoco, o caráter inovador. § 1.º. São presumidos como produtos e serviços de caráter inovador e elegíveis ao Programa, sem prejuízo de outros que, motivadamente, sejam assim configurados por ato do Comitê Gestor disciplinado neste Decreto, aqueles baseados, majoritariamente, em soluções de Big Data e Internet das Coisas (IoT), nos eixos estratégicos estabeleci- dos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI – no âmbito do Plano Nacional de IoT, quais sejam: Indústria 4.0, Saúde, Rural e Cidade Inteligente (Smart City), conforme disciplinado pelo Decreto Federal no 9.854/2019 e atos posteriores do MCTI e das Câmaras Temáticas do Plano. § 2.º. Compete ao Comitê Gestor do “Programa Sandbox – Foz do Iguaçu” promover, de ofício ou mediante requerimento de interessado(s), pessoa(s) física(s) ou jurídi- ca(s), o enquadramento de empreendimentos, produtos e serviços, específicos ou por delimitação temática, nos ambientes experimentais de inovação científica, tecnológica e empreendedora, especialmente no bairro “Vila A”, enquadrado, desde a publicação deste Decreto, como ambiente experimental, passando a incidir, sobre tais projetos, a suspensão de eficácia referida no caput deste Decreto, inerente ao Programa Sandbox.” Case: Foz do Iguaçu/PR para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 51 Sistema de Semáforos Inteligentes e Monitoramento de Tráfego em testes no Sandbox da Vila A, em Foz do Iguaçu/PR 08 Quanto ao prazo do ciclo de experimen- tações, o Decreto Municipal estabele- ceu de 06 (seis) a 12 (doze) meses, sendo que, conforme seu art. 6.º, “após o término de cada ciclo experimental, competirá ao Comitê Gestor do ‘Pro- grama Sandbox – Foz do Iguaçu’ enca- minhar, aos órgãos e/ou entidades competentes, Relatório contendo os resultados colhidos, destacando even- tuais necessidades de ajustes ou imple- mentação de norma jurídica, sempre no intuito de fomentar o desenvolvimento, a execução, a operação e/ou a comer- cialização de novas modalidades de produtos e de serviços, em observância ao estabelecido no inciso VI, do art. 3o, da Declaração Federal de Direitos de Liberdade Econômica. Sempre que se mostrar oportuno e conveniente, o Comitê Gestor poderá, de ofício ou mediante requerimento, renovar o ciclo de experimentação em ambiente Sandbox, fundamentando expressa- mente as razões da renovação”. O Comitê Gestor do Programa delibe- rou, em suas reuniões iniciais, quanto às temáticas prioritárias para as experi- mentações, tendo sido selecionadas as seguintes: • soluções de iluminação pública inteli- gente, compreendendo o emprego de dispositivos para gestão remota de luminárias (“telegestão”) e oferecimen- to de utilidades públicas conexas às infraestruturas, como Wi-Fi Público (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 7.6; 7.7), na vertical “Segurança Pública” do Programa; • soluções de reconhecimento facial em videomonitoramento de áreas e vias públicas (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 15.1), na vertical “Seguran- ça Pública” do Programa; Morador da Vila A, bairro enquadrado como Sandbox em Foz do Iguaçu, confere as tecnologias instaladas no bairro enquanto aguarda no ponto de ônibus revitalizado Case: Foz do Iguaçu/PR para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 52 • soluções de reconhecimento de placas veiculares em videomonitora- mento de áreas e vias públicass públi- cas (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 15.1), na vertical “Seguran- ça Pública” do Programa; • soluções de semaforização inteligen- te, adaptativa ao tráfego (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 19.9), na vertical “Mobilidade Urbana” do Pro- grama; • soluções de pontos/abrigos de parada de ônibus inteligentes, na verti- cal “Mobilidade Urbana” do Programa, bem como totens e painéis informati- vos ao pedestre, além do emprego de tecnologias “QR Code” para acesso instantâneo a informações e canais de interação junto ao Poder Público e par- ceiros; Estão em operação, atualmente, 105 (cento e cinco) luminárias com teleges- tão, dessas, 75 possuem câmeras PTZ que permitem movimentação horizontal e vertical com Zoom de até 25x óptico, além disso, 5 delas também possuem pontos de acesso WiFi Público. Existem também mais 20 (vinte) pontos com câmeras PTZ em postes exclusivos, que foram posicionados em pontos estraté- gicos da Vila A, além de cruzamentos semafóricos inteligentes. Segundo o diretor superintendente do Parque Tecnológico Itaipu Brasil, general Eduardo Garrido [4] , as mudanças pro-• soluções de monitoramento e gestão inteligente de consumo energético de edificações (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 7.8 e 8.1), nas verticais “Ambiental” e “Energia” do Programa; • aplicativo multifinalitário para as ações inteligentes (integradas ao muni- cípio). Detalhe de cruzamento inteligente, em Foz do Iguaçu Case: Foz do Iguaçu/PR para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 53 • soluções de sensoriamento ambiental (qualidade do ar, meteorologia, medi- ção de temperatura, medição de ruídos, entre outras funções) (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 8.2 e outros), na vertical “Meio Ambiente” do Programa; • soluções de monitoramento remoto de qualidade de água (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 23.2; 23.3 e outros), com prioridade ao monitora- mento no âmbito do Arroio Jupirá, na vertical “Meio Ambiente” do Programa; [4] https://www.pti.org.br/pt-br/content/instala%C3%A7%C3%A3o-de-equipamentos-refor%C3%A7a-seguran%C3%A7a-de-quem -anda-pelas-principais-avenidas-da-vila • soluções de estacionamento público inteligente (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 19.7; 19.8), na vertical “Mo- bilidade Urbana” do Programa; movidas pelo projeto, além de possibilita- rem a melhoria da qualidade de vida do cidadão, também contribuirão para o desenvolvimento econômico de Foz do Iguaçu. “Já vínhamos desenvolvendo algu- mas tecnologias de Cidades Inteligentes dentro do PTI-BR e agora é o momento de testá-las em um ambiente urbano com todas as peculiaridades do seu dia a dia”, comenta Garrido. “A ideia da primeira etapa foi propiciar segurança com a insta- lação das câmeras de videomonitoramen- to e, também, a melhoria na iluminação pública. Agora, em um segundo momen- to,lançamos o Smart Vitrine, um mecanis- mo cujo objetivo é trazer para a cidade novas empresas interessadas em validar suas tecnologias e assim, consequente- mente, contribuímos para a diversificação da economia local e a geração de novos empregos e renda”. Vejamos, a seguir, o caso de Petroli- na/PE. Case: Foz do Iguaçu/PR para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Smart Vitrine A partir do Programa Vila A Inteligente e com intuito de contribuir para a inovação, desenvolvimento urbano e econômico da cidade, surge o Smart Vitrine. Lançado em Junho de 2021, trata-se de uma oportuni- dade para a experimentação em ambiente real, de forma técnica e controlada, à empresas interessadas em validar suas tecnologias em um ambiente vivo. O mecanismo é contínuo, com fases de entradas, onde empresas são seleciona- das, avaliadas e têm a possibilidade de testarem suas tecnologias dentro do espaço Sandbox do Programa Vila A Inte- ligente, por um período que varia entre 6 e 12 meses. Durante este ciclo, as empre- sas selecionadas contam com apoio técni- co para implementação de sua solução neste ambiente, além de análise, validação técnica/tecnológica e estudos sobre o comportamento do usuário – o cidadão – diante das tecnologias testadas, bem como aprimoramento da modelagem de negócios. Além disso, o Smart Vitrine oferecerá a oportunidade para que empreendedores aproximem-se da iniciativa privada, gestão pública e investidores, por meio de comitivas que serão organizadas com o intuito do Sandbox Vila A constituir-se como um One Stop Shop na temática Cidades Inteligentes. Em um primeiro movimento, o Smart Vitrine dá vida ao Sandbox do Programa Vila A Inteligente. Fundamentado em três vertentes, busca-se através dele validar tecnologias, promover a visibilidade das soluções e fomentar novos negócios/ge- rar conexões, proporcionando assim, a visualização de melhorias, replicação das soluções inovadoras em outras cidades e incentivo ao mercado de Smart Cities. Pensando em uma validação completa das soluções instaladas no ambiente, o meca- nismo possui duas perspectivas: técnica, e o Índice de Sucesso do Usuário (ISU) para Cidades Inteligentes, objetivando a avalia- ção de forma sistêmica sob os impactos gerados na sociedade, apontando o nível de benefícios; a relação entre usuário e tecnologia implantada; e um panorama sobre a satisfação, fidelidade e esforço de uso dessas soluções, proporcionando assim um entendimento por parte das empresas em relação ao seu produto ou serviço. Dessa forma, o Programa Vila A Inteligen- te, por meio do Smart Vitrine, proporciona que empresas aprimorem seus modelos de negócios, bem como movimenta todo o ecossistema, gerando riqueza e renda, além de bem-estar e melhoria da qualida- de de vida da população. Isso posiciona a cidade de Foz do Iguaçu na vanguarda nos processos ligados a Cidades Inteligentes, construindo um ambiente propício a troca de experiências, criação de capital intelectual, acesso a parceiros, visibilidade para investimentos e posicionamento de mercado. 54 TESTAR VALIDAR CONECTAR (soluções e tecnologias) (modelo de negócios e sucesso do usuário) (demandantes, apoiadores, interessados e investidores) V.2. CASE: PETROLINA/PE 56 Em Petrolina, no Estado de Pernambu- co, a regulamentação do Sandbox para Cidade Inteligente foi instituída pelo Decreto Municipal n.º 61, de 13 de Agosto de 2020, sendo a segunda cidade brasileira a colocar em prática o programa (atrás apenas de Foz do Iguaçu). O ciclo experimental foi também estipu- lado em 06 (seis) a 12 (doze) meses, sendo criado, para condução do San- dbox, um Comitê Gestor composto por Secretários Municipais. Quanto à área de abrangência da caixa de areia, Petro- lina decidiu estabelecer o bairro do Centro como primeiro local para as experimentações. A primeira aplicação operacionalizada em Petrolina sob o Sandbox foi a sema- forização inteligente. Contudo, por se tratar de movimento bastante recente, ainda não existem informações apro- fundadas quanto a resultados e acha- dos do ambiente. Ponte que liga a cidade de Petrolina/PE a Juazeiro/BA Case: Petrolina/PE para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 45 Semaforização Inteligente sob testes no Sandbox de Petrolina/PE V.3. CASE: DISTRITO FEDERAL Quanto ao Distrito Federal, último caso – por enquanto – de Sandbox urbano institucionalizado, teve-se em 17 de Agosto de 2020 a publicação da Lei Distrital n.º 6.653/20, que “autoriza a criação de Zonas de Desenvolvimento de Inovação e Tecnologia e dispõe sobre a liberdade de testes de inovação no Distrito Federal”. O projeto, da deputada distrital Júlia Lucy (Novo) [5], ainda não passou pela regulamentação do Poder Executivo, tampouco há registros de experimenta- ções iniciadas e/ou em curso. É de se destacar, entretanto, que consiste no primeiro Sandbox com características urbanas implementado via Lei. No próximo Capítulo, entenderemos as nuances relativas ao formato de oficiali- zação do programa – e como essa opção pode abrir ou fechar possibilida- des na condução da caixa de areia. Lei Distrital n.º 6.653/20 “Art. 1.º O Poder Executivo pode criar Zonas de Desenvolvimento de Inovação e Tecnologia, delimitando territorialmente áreas nas quais podem ser concedidas autorizações para o desenvolvimento experimental de novos materiais, produ- tos, sistemas, dispositivos e serviços. Art. 2.º As solicitações referidas no art. 1.º são encaminhadas ao órgão gestor do banco regulatório a ser definido pelo Poder Executivo que, após a devida análi- se, deve manifestar-se sobre os testes solicitados e pode autorizar que a legisla- ção infralegal regulada pelo Poder Execu- tivo tenha sua eficácia limitada. Brasília/DF Case: Distrito Federal/DF para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 58 09 [5] https://julialucy.com.br/2020/08/06/df-sera-a-primeira-unidade-da-federacao-a-adotar-o-sandbox-para-estimular-a-economia/ VI. SANDBOX EM 10 PASSOS SANDBOX EM 10 PASSOS Autorização de Soluções em Ambientes Sandbox 05 Encerramento e Encaminhamento dos Achados 09 Certificação dos Resultados da Experimentação10 Monitoramento e Avaliação da Solução Experimentada08Criação do Programa Sandbox para a Cidade Inteligente 01 Implementação do Modelo de Governança do Programa02 Seleção do(s) Local(is) para Execução do Programa 03 Seleção das Temáticas de Inovação Urbana Prioritárias04 Delimitação das Normas Eventualmente Suspensas06 Deferimento de Possíveis Benefícios Fiscais aos Participantes do Programa 07 $ para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 60 SANDBOX EM 10 PASSOS para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Criação do Programa Sandbox para a Cidade Inteligente01 Nesta primeira etapa, deverão ser instituídas, por Lei ou por Decreto Municipal, as diretrizes básicas do Programa Sandbox para Cidade Inteligente no nível municipal, incluindo os critérios de enquadra- mento, o prazo dos ciclos de experimentação, normas de comunica- ção das experimentações à sociedade, entre outros elementos. Embora seja possível a criação do Sandbox por Decreto do Poder Executivo (casos de Foz do Iguaçu/PR e de Petrolina/PE, vistos no Capítulo anterior), é recomendável que este seja objeto de uma Lei Municipal, de modo a garantir segurança jurídica às experimenta- ções, bem como para que se assegure o alcance necessário das medidas de suspensão de eficácia normativa tipicamente necessá- rias nos ambientes experimentais de Cidade Inteligente. Ilustrando com os casos de Ana Clara, Pedro Paulo e Janaína, descri- tos na introdução deste Guia, o afastamento da legislação (Código de Posturas, Plano de Mobilidade etc.) só seria possível caso as respectivas caixas de areia tivessem sido instituídas por ato da Câmara de Vereadores – ou seja, uma Lei, ordinária ou complemen- tar. Ainda, caso o Município pretenda instituir determinados benefícios fiscais no âmbito do Sandbox, é indispensável que estes sejam imple- mentados por Lei. Implementação do Modelo de Governança do Programa02 Sendo um dos requisitos mais relevantes para o sucesso de um Pro- grama Sandbox para Cidades Inteligentes, a implementação do modelo de governança deverá ser estudada e definida com cuidado pela Municipalidade. Deve-se garantir, nesta etapa, que todas as partes interessadas e mais intimamente ligadas às questões que serão experimentadas na caixa de areia (secretários municipais, enti- dades ligadas ao ecossistema de inovação municipal, associações de moradores etc.) estejam formalmente engajadas no programa, e tenham voz ativa nas decisões relacionadas à condução dos ciclos experimentais. Uma boa prática – adotada pelos Municípios de Foz do Iguaçu/PR e Petrolina/PE – consiste na criação de um “Comitê Gestor”, encarre- gado não somente da análise e deferimento de autorização para as 61 SANDBOX EM 10 PASSOS para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes experimentações, como também do monitoramento e avaliação con- tínua dos resultados alcançados com cada experimentação na caixa de areia. O Comitê colegiado permite, ainda, que diferentes visões sejam con- sideradas na tomada de decisão. A depender da solução para Smart City que esteja em análise, é possível que determinados membros do Comitê sejam favoráveis, outros reticentes, alguns contrários, e tal Instituído o programa e definida sua estrutura de governança, passa- -se à etapa de seleção do(s) local(is) – que pode(m) ser uma região, um bairro, uma praça, uma rua ou mesmo um ponto singular – onde as experimentações serão conduzidas. Para essa decisão, recomenda-se que sejam ponderadas questões que interferem diretamente na atratividade do Sandbox às empresas e startups que aplicarão para o programa, como, por exemplo, o fluxo de pessoas, existência de infraestruturas básicas (energia, água, esgotos, iluminação pública), vocação da região, entre outros aspec- tos. Ilustrando com o caso de Foz do Iguaçu, foi escolhido, como primei- ro ambiente Sandbox do Município, o bairro da “Vila A”, cuja moder- nização (sob o conceito de “bairro inteligente”) já estava nos planos da Administração Pública, e que possui vocações bastante diversas (moradia, comércio, serviços, parques e espaços de lazer, hospitais, escolas, ou seja, um mix de usos urbanos), além de apresentar boa infraestrutura de apoio às experimentações. Acima de tudo, é importante que, na seleção do(s) local(is) de expe- rimentação, sejam asseguradas as condições adequadas de testes – o que interferirá diretamente no interesse de empresas e startups em aplicar para o programa. Seleção do(s) Local(is) para Execução do Programa03 62 SANDBOX EM 10 PASSOS para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Seleção das Temáticas de Inovação Urbana Prioritárias04 Nesta etapa, são selecionados os desafios prioritários que se deseja trazer ao ambiente experimental de Cidade Inteligente (mobilidade urbana, gestão de resíduos, segurança pública, conectividade etc.), decisão essa que depende, essencialmente, dos potenciais da cidade, suas vocações, seus gargalos e, especialmente, dos planos futuros da Administração Pública. Embora essa etapa dependa de um exercício interno dos tomadores de decisão (sendo recomendável que o próprio Comitê Gestor defina as temáticas, após ouvir as diversas partes interessadas do serviço público local), é importante destacar que, como visto no Capítulo III, o conceito de “Cidade Inteligente” e as aplicações que a materializam foram, em 2020, definidos em uma norma técnica bra- sileira – ABNT NBR ISO 37122:2020 –, de observância obrigatória em todo o território nacional, por força da Lei Federal n.º 4.150, de 21 de Novembro de 1962. Assim, as temáticas selecionadas devem, necessariamente, guardar relação com os eixos e soluções que integram o conceito oficial de Smart City (telemedicina, videomonitoramento inteligente, sensoria- mento de lixeiras públicas, iluminação inteligente etc.), sob os 19 (de- zenove) temas da Cidade Inteligente definidos na norma (economia, educação, energia, meio ambiente e mudanças climáticas, finanças, governança, saúde, habitação, condições sociais, recreação, segu- rança pública, resíduos sólidos, esporte e cultura, telecomunicações, transporte, agricultura urbana e segurança alimentar, planejamento urbano, esgotos e água). Confira, no BOX 10, as temáticas selecionadas pelo Comitê Gestor do Programa Sandbox Foz do Iguaçu, e que atualmente balizam o primeiro ciclo de experimentações na cidade. Vale destacar que essa lista de prioridades poderá (e deverá) ser constantemente atualizada, considerando-se que tendem a refletir os anseios da população local, e que estes anseios são dinâmicos. Como exemplo, o FCA do Reino Unido, em seu Sandbox Regulatório, atualiza as temáticas prioritárias a cada ciclo de experimentações, ou seja, pelo menos uma vez por ano. 63 64 SANDBOX EM 10 PASSOS para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes 10 “Art. 2.º Nos termos do art. 20, § 2.º, inc. II do Regimento Interno do CGPS-FI (Anexo Único), ficam enquadradas no Programa “Sandbox Foz do Iguaçu” as seguintes temáticas e tecnolo- gias experimentais de inovação urbana, sob os preceitos de Cidade Inteligente (“Smart City”): I – soluções de iluminação pública inteligente, compreendendo o emprego de dispositivos para gestão remota de luminárias (“telegestão”) e oferecimento de utilidades públicas cone- xas às infraestruturas, como Wi-Fi Público (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 7.6; 7.7), na vertical “Segurança Pública” do Programa; II – soluções de reconhecimento facial em videomonitoramento de áreas e vias públicas (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 15.1), na vertical “Segurança Pública” do Programa; III – soluções de reconhecimento facial em videomonitoramento de áreas e vias públicas (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 15.1), na vertical “Segurança Pública” do Programa; IV – soluções de semaforização inteligente, adaptativa ao tráfego (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 19.9), na vertical “Mobilidade Urbana” do Programa; V – soluções de pontos/abrigos de parada de ônibus inteligentes, na vertical “Mobilidade Urbana” do Programa, bem comototens e painéis informativos ao pedestre, além do empre- go de tecnologias “QR Code” para acesso instantâneo a informações e canais de interação junto ao Poder Público e parceiros; VI – soluções de estacionamento público inteligente (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 19.7; 19.8), na vertical “Mobilidade Urbana” do Programa; VII – soluções de sensoriamento ambiental (qualidade do ar, meteorologia, medição de temperatura, medição de ruídos, entre outras funções) (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 8.2 e outros), na vertical “Meio Ambiente” do Programa; VIII – soluções de monitoramento remoto de qualidade de água (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 23.2; 23.3 e outros), com prioridade ao monitoramento no âmbito do Arroio Jupirá, na vertical “Meio Ambiente” do Programa; IX – soluções de monitoramento e gestão inteligente de consumo energético de edificações e equipamentos públicos vinculados ao serviço municipal (conforme ABNT NBR ISO 37122:2020, 19.9), nas verticais “Ambiental” e “Energia” do Programa; X – aplicativo multifinalitário do munícipe e do turista; XI – implementação de infraestruturas inteligentes da comunidade (conforme ABNT NBR ISO 37100:2016), em especial para o provimento de adequadas condições de conectividade às soluções adotadas no ambiente experimental. Parágrafo único. O CGPS-FI e entidades parcerias coordenarão a implementação dos investi- mentos e operacionalização da Central de Comando e Controle de Operações, a ser instala- da na Vila A, e considerada, tanto quanto as temáticas experimentais de inovação urbana referidas neste artigo, intervenção enquadrada no Programa Sandbox Foz do Iguaçu, nos termos do art. 20, § 2.º, inc. II do Regimento Interno do CGPS-FI (Anexo Único). 65 SANDBOX EM 10 PASSOS para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Autorização de Soluções em Ambientes Sandbox05 Definidas as temáticas prioritárias do programa, é hora de receber as propostas do ecossistema, analisar se preenchem os requisitos míni- mos (que podem ser fixados no ato de criação do programa ou em editais específicos, lançados pelo Comitê) e autorizá-las aos testes em ambiente experimental, fixando-se o prazo do ciclo de Sandbox (que varia de 06 meses a 04 anos, na experiência internacional). Vale aqui destacar o exemplo da Colômbia, que, em seu Sandbox voltado especificamente à área de telecomunicações, fixou claros critérios de enquadramento, tomando como inspiração o exemplo do Reino Unido: • INOVAÇÃO: a proposta deve ser genuinamente inovadora/disrupti- va, diferenciando-se de produtos e serviços já ofertados no mercado; • BENEFÍCIOS AO CIDADÃO: a proposta deve proporcionar benefí- cios palpáveis ao usuário final, seja em preço, qualidade, disponibili- dade, confiabilidade etc.; • NECESSIDADE DE SANDBOX: deve ser demonstrado que, conside- rado seu grau de inovação, o produto “não se encaixa” no marco regulatório vigente; e • EXPERIÊNCIA DO PROPONENTE: Sandboxes não são incubado- ras. Considerando que os produtos e serviços serão implementados em ambiente real – e ofertados a usuários reais –, é necessário que sejam fixadas balizas mínimas de expertise técnica, no âmbito do processo de seleção. Independentemente dos critérios que a Municipalidade fixe para o enquadramento no Sandbox, é importante que esse julgamento siga os princípios basilares da Administração Pública, devendo ser impes- soal, objetivo e fundamentado nas balizas colocadas ao mercado. Vale dizer que o processo de seleção para ambientes Sandbox pode adotar diferentes formatos (chamamento, convite, edital de licitação tradicional, entre outros), assim como os arranjos contratuais que serão posteriormente estabelecidos podem assumir diferentes matrizes de contrapartidas e alocação de riscos. Contudo, deve sempre existir, no que concerne especificamente ao Sandbox (e seus efeitos), um “ato de autorização” que defina claramente os objetivos da experimentação e suas condições elementares (prazo, riscos e medidas mitigatórias, critérios de avaliação etc.), ainda que esse ato “se some” a um outro ajuste (uma encomenda tecnológica, por exemplo). 66 SANDBOX EM 10 PASSOS para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes Delimitação das Normas Eventualmente Suspensas06 Como vimos na introdução deste Guia, não é raro constatar que determinadas soluções para Smart Cities “não se encaixam” nas normas vigentes (Códigos de Posturas, Códigos de Obras, Planos Diretores, Planos setoriais e legislação setorial, legislação urbanística etc.), e uma das principais funções das caixas de areia é exatamente proporcionar as condições para que tais soluções possam ser opera- cionalizadas e “assistidas” pelo Estado, de forma controlada e por período determinado, mesmo que exista tal “desencaixe”. A partir da experiência ao longo do ciclo de Sandbox, conhecendo melhor e se convencendo (ou não) da conveniência da alteração/a- tualização destas normas (uma vez que as vantagens da solução venham a superar seus riscos e desvantagens), o Poder Público estará melhor preparado para a tomada de decisão, seja ela legislati- va, regulamentar, regulatória ou de contratação pública em larga escala. No exemplo de Ana Clara, descrito na introdução, é certo que, após testar, por determinado período, as soluções de lixeiras inteligentes em um dos bairros da cidade – que venha a ser caracterizado como Sandbox –, estará muito mais habilitada a pleitear – e justificar, com dados e evidências concretas – a alteração do Código de Posturas, junto à Câmara de Vereadores. É essencial, nesta etapa, que o desenvolvedor da solução identifique claramente ao Poder Público, no próprio requerimento de autoriza- ção, quais os dispositivos legais, regulamentares ou regulatórios que colidem com sua aplicação inovadora, a fim de que sejam sopesadas as vantagens e riscos da suspensão da eficácia destas normas duran- te o ciclo experimental na caixa de areia. Vale dizer, porém, que o “alcance” das medidas de suspensão de eficácia de normas no Sandbox para Cidades Inteligentes dependerá do arranjo constitutivo e dos eventuais convênios firmados pela Municipalidade. Isso porque não é permitido ao Município ultrapassar o seu próprio campo de competências (suspendendo, por exemplo, normas estaduais, normas da ANATEL, da ANEEL, do Inmetro, entre outras esferas, que possuem, aliás, relevante participação no ecossis- tema de Cidades Inteligentes), exceto se previamente ajustado com estes próprios órgãos e entidades. 67 SANDBOX EM 10 PASSOS para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes pa ra C id ad es In te lig en te s pa ra C id ad es In te lig en te s INSTRUMENTO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SANDBOX, CONVÊNIOS E ALCANCE DO PROGRAMA Efeito Juridicamente Possível, diante do instrumento de institucionalização Efeito Juridicamente Impossível, diante do instrumento de institucionalização É possível, por exemplo, que a Municipalidade firme convênios junto a órgãos e Agências Reguladoras Federais, e que estes convênios disciplinem o campo de suspensão normativa possível – inclusive para permitir a estes órgãos e entidades que se sirvam dos resultados das experimentações no Sandbox Municipal para a eventual atualização de suas próprias normas. Vejamos na tabela a seguir alguns exemplos e situações. 68para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes SANDBOX EM 10 PASSOS Deferimento de Possíveis Benefícios Fiscais aos Participantes do Programa07 É possível que, a depender das pretensões e condições do Município, sejam instituídos determinados benefícios fiscais aos participantes do Sandbox, que vigorem durante o período de experimentações. Isso tende a incrementar a atratividade do ambiente, estimulando empresas inovadoras a trazerem suas soluções para a cidade, bem como viabilizando a presença de startups que, de fato, necessitem de condições fiscais diferenciadas, especialmente durante a fase experimental do produto. A estipulação dos benefícios deveráser “calibrada” caso a caso, podendo englobar, por exemplo: • redução da alíquota do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natu- reza - ISSQN, durante o ciclo de Sandbox; • isenção ou redução da alíquota do Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU incidente sobre o imóvel onde o participante desenvolva ou venha a desenvolver suas atividades, desde que situado na poligonal do Sandbox; • isenção ou redução da alíquota do Imposto Sobre a Transmissão de Propriedade Inter Vivos incidente sobre a aquisição de imóvel onde a empresa venha a desenvolver suas atividades, desde que localiza- do no polígono do Sandbox; e • isenção ou redução do valor de taxas municipais (alvarás, licenças etc.). Ao instituir-se condições tributárias diferenciadas no ambiente San- dbox, o Poder Público acaba por “testar” também a sua própria legislação tributária, tendo a oportunidade de, ao final do ciclo expe- rimental, avaliar a conveniência de modificação dos parâmetros fiscais para aquela determinada atividade, considerando seus benefí- cios econômicos, tecnológicos, sociais ou ambientais – aferidos na caixa de areia. Vale ressaltar, entretanto, que tais benefícios só poderão ser conce- didos se previstos em Lei Municipal (recomenda-se que sejam inseri- dos na própria “Lei do Sandbox”). Além disso, quaisquer incentivos que ultrapassem o campo municipal (por exemplo, tributos inciden- tes sobre a eletromobilidade, de competência estadual) dependem do engajamento direto do ente estadual, como visto na tabela do Capítulo anterior. 69para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes SANDBOX EM 10 PASSOS Monitoramento e Avaliação da Solução Experimentada08 Sem dúvidas, trata-se da etapa mais importante do programa. É aqui que o espírito do Sandbox para Cidades Inteligentes é posto em prá- tica: proporcionar ao Poder Público a vivência da solução smart, incrementando a qualidade de suas decisões (legislativas, regulató- rias, contratuais), e, ao mesmo tempo, oferecer ao participante – seja ele uma empresa já consolidada ou uma startup – um campo real para operacionalização, testes e melhoramentos de seu produto disruptivo. É essencial, porém, para o atingimento desse duplo objetivo, que tanto o Poder Público – representado, no cenário ideal, pelo “Comitê Gestor” do Programa –, quanto o participante do programa, tenham absoluta clareza e estejam de pleno acordo quanto aos parâmetros de aferição dos elementos-chave da experimentação. Noutras palavras, a “liberdade” conferida ao participante do ambien- te Sandbox não significa ausência de parâmetros avaliativos e fiscali- zatórios. Muito pelo contrário, é exatamente nesses cenários que o Poder Público mais deve estar atento à performance e ao desempe- nho, uma vez que terá de tomar decisões ao final do ciclo experimen- tal (mudança de uma Lei, alteração de um regulamento, adaptação de parâmetros de contratação pública etc.) que dependem essen- cialmente dos resultados aferidos em campo. Recomenda-se, assim, que o chamamento ao Sandbox – ato que marca o início de um ciclo de experimentações em determinada Encerramento e Encaminhamento dos Achados09 Nesta penúltima etapa – não menos importante que as anteriores –, deverão ser reunidos todos os “achados do Sandbox”, ou seja, as evidências finais quanto aos aspectos avaliados no ciclo experimen- tal da solução disruptiva. Consequentemente, é o momento de deci- são quanto à necessidade – ou não – de alteração ou supressão de determinados dispositivos legais, regulamentares ou regulatórios, a depender das evidências colhidas. 70para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes SANDBOX EM 10 PASSOS Certificação dos Resultados da Experimentação10 A última etapa, não obrigatória – mas que pode fazer sentido sob a ótica da atratividade do ambiente perante participantes que dete- nham soluções disruptivas –, consiste na certificação dos resultados por entidade acreditada. Convém que a entidade seja engajada logo ao início do ciclo experimental, e atue junto com a Comissão de Monitoramento (se existente). Vale dizer que, muitas vezes, os achados não se referirão a medidas de competência do Poder Executivo Municipal. Se ficar constatada, por exemplo, a conveniência de alteração de legislação municipal (Plano Diretor, Código de Obras, Código de Posturas, Plano Setorial etc.), deverá o Comitê Gestor encaminhar todas as evidências à Câmara de Vereadores, para que tome a decisão de forma embasa- da; no caso de colisão com normas estaduais, deverá ser cientificada a Administração Estadual (ou mesmo a Assembleia Legislativa do Estado); se estiverem em pauta normas de Agências Reguladoras Federais (ANATEL, ANEEL etc.), os achados deverão chegar à dire- ção destas entidades – que, inclusive, poderão acompanhar as expe- rimentações durante o ciclo, se firmado um convênio junto ao titular do Sandbox. Por fim, destaca-se que, ao avaliar os resultados da experimentação, estará o Poder Público mais preparado para estruturar, se o caso, uma contratação em larga escala para implementação da solução fora do Sandbox, abrangendo outros bairros e regiões da cidade. 71para Cidades Inteligentespara Cidades Inteligentes SANDBOX EM 10 PASSOS para Cidades Inteligentes