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DESCRIÇÃO As noções de pessoa, bens, direitos obrigacionais, direitos reais, posse e propriedade. PROPÓSITO Estudar a temática das pessoas e dos bens é importante para a sua formação, pois são noções centrais do Direito Civil com repercussão sobre os mais diversos ramos do Direito, assim como estudar a posse e a propriedade permite compreender melhor o objeto do Direito das Coisas e as nuances do principal direito real. Além disso, compreender a contraposição entre direitos obrigacionais e reais tem relevância, pois estão relacionados ao Direito Patrimonial. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o estudo, tenha em mãos o Código Civil e os textos das Leis n. 13.146/2015 e n. 6.015/1973. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar qual é o tratamento dado pela Parte Geral do Código Civil às pessoas e aos bens MÓDULO 2 Reconhecer as principais diferenças entre os direitos obrigacionais e os direitos reais MÓDULO 3 Categorizar quais são os aspectos principais da posse e do direito de propriedade INTRODUÇÃO O estudo das pessoas e dos bens nos permite aprender diversas noções centrais do Direito Civil, como as de personalidade, capacidade, bens imóveis, bens móveis, bens fungíveis etc. Esses e outros temas foram disciplinados no Código Civil, que cuida da temática das pessoas e dos bens nos Livros I e II de sua Parte Geral, respectivamente. Como veremos, houve diversas modificações recentes no capítulo do Código Civil sobre a personalidade e a capacidade das pessoas físicas e no capítulo acerca das pessoas jurídicas. Trata-se, assim, de tema relevante e atual. Exemplo das modificações instituídas pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) é a redação atual do artigo 3º do Código Civil, segundo o qual apenas os menores de dezesseis anos são considerados absolutamente incapazes de exercer os atos da vida civil. Assim, as pessoas que não puderem exprimir a sua vontade, em razão de causa transitória ou permanente, passaram a ser consideradas relativamente incapazes, e não mais absolutamente incapazes, como antes constava no inciso III do artigo 3º. Em relação às pessoas jurídicas, a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica (Lei n. 13.874/2019) acrescentou o artigo 49-A no Código Civil. Este artigo prevê que a pessoa jurídica não deve ser confundida com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores. Para desenvolvermos o estudo das pessoas e dos bens, primeiro abordaremos as noções de personalidade e de capacidade, passando para o início e o fim da personalidade. Na sequência, trataremos das incapacidades. Posteriormente, aprenderemos sobre a pessoa jurídica. Por fim, distinguiremos as noções de objeto de direito, coisa e bem, abordando a classificação dos bens. MÓDULO 1 Identificar qual é o tratamento dado pela Parte Geral do Código Civil às pessoas e aos bens AS NOÇÕES DE PESSOA, PERSONALIDADE E CAPACIDADE De acordo com o artigo 1º do Código Civil (CC), toda pessoa “é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. A partir da leitura desse enunciado, cabe distinguir as noções de pessoa e de personalidade jurídica, assim como as de sujeito de direito e de capacidade. O termo pessoa engloba tanto o ser humano que nasce com vida quanto os entes que, uma vez registrados, adquirem esse reconhecimento pelo Direito. NESSE SENTIDO, PESSOA DENOTA UMA CRIAÇÃO DO DIRETO PARA IDENTIFICAR O SER HUMANO EM SUAS RELAÇÕES INTERSUBJETIVAS (MELLO, 2019, § 29, 1, P. 165) OU, ENTÃO, DETERMINADOS ENTES ASSIM CONSIDERADOS PELO ORDENAMENTO JURÍDICO (COMO OS ENTES ESTATAIS, AS SOCIEDADES SIMPLES E EMPRESARIAIS ETC.). Como veremos adiante, existem duas espécies de pessoas: A física ou natural (isto é, o ser humano) A jurídica (isto é, entes como os referidos) Foto: Shutterstock.com Na perspectiva do mundo jurídico, personalidade jurídica é o atributo conferido às pessoas pelo ordenamento. É o “valor jurídico que deriva do fato de ser pessoa” (PONTES DE MIRANDA, 2012, § 50.B, p. 262). Foto: Shutterstock.com Outra noção importante para o presente estudo é a de sujeito de direito. Trata-se de figurante, no polo ativo ou passivo, de uma relação ou situação jurídica e, para a quase totalidade dos autores, apenas quem seja considerado pessoa pode ser sujeito de direito. Existe, porém, quem entenda que a definição de sujeito de direito seja mais abrangente e não se restrinja às pessoas. Conforme Marcos Bernardes de Mello, o ordenamento jurídico concede, excepcionalmente, a possibilidade a determinados entes de integrarem posições ativas ou passivas em relações jurídicas sem serem considerados pessoas (MELLO, 2019, § 27, 3.1, p. 150). EXEMPLO É o que ocorre com os condomínios, a massa falida e o espólio. Se adotado o posicionamento minoritário, pode ser alcançada a seguinte conclusão: toda pessoa é sujeito de direito, mas isso não significa que todo sujeito de direito seja pessoa. E QUAL SERIA O SENTIDO DO TERMO CAPACIDADE? O artigo 1º do Código Civil contempla o “princípio da capacidade total de direito” (PONTES DE MIRANDA, 2012, § 50.B, p. 259), pois prevê que toda pessoa é capaz de direitos e deveres. Tendo isso em mente, capacidade pode ser definida como o atributo que permite adquirir direitos e contrair deveres ou, mais amplamente, a qualidade para ser titular de uma situação jurídica. Essa é a denominada capacidade de direito ou de gozo. Distinta é a capacidade de fato (também chamada de capacidade de agir). Trata-se da possibilidade de a pessoa exercer, diretamente, os seus direitos. Caso a pessoa precise exercer os seus direitos por meio de representante legal ou necessite da assistência dos pais, tutores ou curadores, será reconhecida a sua capacidade de direito, mas não a de fato. Resumindo Pessoa O termo engloba o ser humano e os entes que o ordenamento reconhece como pessoa Personalidade Jurídica Atributo conferido às pessoas pelo ordenamento Sujeito de Direito Figurante de uma relação ou situação jurídica Capacidade Atributo que permite adquirir direitos e contrair deveres Quadro: Definição de pessoa, personalidade jurídica, sujeito de direito e capacidade. Elaborado por: Giovana Valentiniano Benetti. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Esclarecidas as distinções entre as noções de pessoa, de personalidade jurídica, de sujeito de direito e de capacidade, podemos estudar o início e o término da personalidade. COMEÇO E FIM DA PERSONALIDADE A personalidade civil da pessoa, conforme o artigo 2º do Código Civil, “começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro”. A redação não parece deixar dúvidas que o termo inicial da personalidade jurídica da pessoa física é o nascimento com vida, porém, há diferentes entendimentos doutrinários sobre o assunto. Imagem: Shutterstock.com. Para alguns autores, a personalidade jurídica começa com a concepção. javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com. Para outros, o nascituro é sujeito de direito e, na hipótese de nascer com vida, considera-se que a personalidade é adquirida desde a concepção. javascript:void(0) Imagem: Shutterstock.com. Finalmente, há os que entendem ser necessário o nascimento com vida para o início da personalidade. Esta última corrente é a que se considera alinhada ao disposto no artigo 2º do Código Civil. SE O NASCIMENTO COM VIDA É O TERMO INICIAL DA PERSONALIDADE, CABE QUESTIONAR: Como se justifica a proteção que a ordem jurídica concede ao nascituro, desde a concepção? A resposta não é unânime na doutrina. Para Francisco Amaral, o nascituro, formalmente, tem personalidade jurídica, pois o nascimento seria a condição para que a personalidade se consolidasse, mas não para o seu surgimento. Para alcançar tal conclusão, o autor invoca o direito à vida previsto no caput do artigo 5º da Constituição Federal e os artigos 1.609, parágrafo único, 542 e 1.779 do Código Civil, que “consideram também o feto, desde a concepção” comosujeito de direito (AMARAL, 2018, p. 325). javascript:void(0) Já Marcos Bernardes de Mello entende que o nascituro é sujeito de direito, mas não pode ser considerado pessoa. Isto é, o nascituro pode integrar uma relação jurídica e ser titular de direitos, porém, não é considerado pessoa, pois, para tanto, é necessário o nascimento com vida (MELLO, 2019, § 28, 6, p. 161). Independentemente do posicionamento doutrinário adotado, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que deve ser reconhecida a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, como o direito à vida (REsp n. 1.415.727/SC). ATENÇÃO Os embriões não implantados no útero (excedentários), que não se confundem com os nascituros, não tem personalidade jurídica, sendo considerados bens jurídicos protegidos pelo ordenamento jurídico (TEPEDINO; OLIVA, 2020, p. 121). O término da personalidade da pessoa física ocorre com a sua morte, como está no artigo 6º do Código Civil. Para determinar quando ocorre a morte, utiliza-se, atualmente, o momento em que se verifica a morte encefálica, isto é, quando há a cessação da atividade cerebral (Lei n. 9.434/1997, artigo 3º; Decreto n. 9.175/2017, artigo 17). Existem situações, contudo, em que o ordenamento jurídico presume a ocorrência da morte, como nos casos de ausência (artigo 6º CC); nas situações em que for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; ou na hipótese de não ser localizado, passados dois anos do término da guerra, alguém que tenha desaparecido em campanha ou sido feito prisioneiro (artigo 7º CC). Foto: Shutterstock.com Tanto o nascimento quanto o óbito devem ser registrados no Registro Civil das Pessoas Naturais, conforme o disposto no artigo 9º, I do Código Civil e no artigo 29, I e III, da Lei 6.015/1973). Assim também ocorre com as sentenças declaratórias de ausência e de morte presumida (artigo 9º, IV do Código Civil e no artigo 29, VI, da Lei n. 6.015/1973). INCAPACIDADES Nem todas as pessoas têm a possibilidade de exercer, diretamente, os seus direitos, o que significa não deterem capacidade de fato, sendo consideradas, portanto, incapazes. Foto: Shutterstock.com O ordenamento jurídico distingue entre os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes. ABSOLUTAMENTE INCAPAZES Atualmente, apenas os menores de dezesseis anos são considerados absolutamente incapazes de exercer os atos da vida civil. Assim, absolutamente incapazes são as pessoas cujos atos da vida civil devem ser exercidos por via de representantes, que agem em seu nome e em seu interesse. O representante pode ser automaticamente constituído quando há poder familiar entre ele e o representado (artigo 1.634 do Código Civil) ou, então, pode ser nomeado ou designado pelos pais em conjunto ou pela autoridade judiciária (artigos 1.729; 1.732; 1.734; 1.747, I; 1.774 CC). javascript:void(0) RELATIVAMENTE INCAPAZES Os relativamente incapazes são aqueles cuja incapacidade atine a certos atos ou à maneiro de os exercer, conforme o artigo 4º do Código Civil. No rol de relativamente incapazes constante do artigo 4º, estão os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; os ébrios habituais (isto é, os que consomem bebida alcóolica imoderadamente) e os viciados em tóxico; os que, por causa transitória ou permanente, não podem exprimir sua vontade; e os pródigos (isto é, os que gastam imoderadamente). O exercício dos direitos pelos relativamente incapazes conta com a participação de assistentes (e não representantes). Na assistência, o assistente pratica o ato juntamente com o assistido. Cabe questionar o que acontece se a pessoa incapaz praticar atos jurídicos sem o intermédio de seu representante ou sem a devida assistência. Na hipótese de o absolutamente incapaz manifestar a sua vontade sem o intermédio de seu representante, o ato será nulo (artigo 166, I, CC). Já se o relativamente incapaz praticar atos jurídicos sem contar com o assistente, o ato será anulável (artigo 171, I, CC). Cabe referir, ainda, que a incapacidade, para os menores, pode cessar quando, por exemplo, exercerem emprego público efetivo (artigo 5º do Código Civil). ATENÇÃO É importante notar que a disciplina das incapacidades sofreu alterações por meio do Estatuto da Pessoa com Deficiência. É considerada plenamente capaz a pessoa com deficiência, isto é, aquela que apresenta impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que pode obstruir a sua participação plena na sociedade (artigo 1º do Estatuto da Pessoa com Deficiência). Neste sentido, diz o artigo 6º do Estatuto: “A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa [...]”. javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com Todavia, quando a pessoa com deficiência não apresentar aptidão cognitiva para praticar atos da vida civil, a Lei faculta-lhe a adoção do processo de tomada de decisão apoiada (artigo 84, § 2º do Estatuto). Fonto: Shutterstock.com A capacidade dos indígenas é regulada pela Lei n. 6.001/1973, conforme determinado pelo artigo 4º, parágrafo único, do Código Civil. Segundo a Lei n. 6.001/1973, os índios e as comunidades indígenas ainda não integrados à comunhão nacional sujeitam-se ao regime tutelar nela estabelecido (artigo 7º). DA PESSOA JURÍDICA Pessoa jurídica é a entidade a que a lei atribui personalidade jurídica, como os entes estatais, as sociedades, as associações etc. O Código Civil contém diversas regras sobre a pessoa jurídica, como pode ser visto nos artigos 40 a 69. Foto: Shutterstock.com ATENÇÃO A pessoa jurídica não se confunde com as pessoas que as criam, as formam ou as integram, de acordo com o princípio da inconfundibilidade das personalidades dos sócios e da sociedade (MELLO, 2019, § 31, 1, p. 178-179). É o que está no artigo 49-A do Código Civil. Contudo, em determinadas hipóteses, a autonomia patrimonial cede diante de atos caracterizadores de abuso da personalidade jurídica. Nessas situações, pode haver a desconsideração da personalidade jurídica pelo juiz a fim de que os efeitos de certas relações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de sócios que foram beneficiados com o abuso (artigo 50 do Código Civil). ATENÇÃO É importante referir que, nas relações civis, devem ser interpretados restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade jurídica, previstos no art. 50 (Enunciado n. 146 da III Jornada de Direito Civil). A figura da desconsideração da personalidade jurídica também é prevista no artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor e, em relação ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente, no artigo 4º da Lei 9.605/1998. Além disso, o Código de Processo Civil disciplinou o incidente de desconsideração da personalidade jurídica nos artigos 133 a 137, assim como a Consolidação das Leis do Trabalho, no artigo 855-A. Diferentes teorias buscam explicar a natureza da pessoa jurídica. Aqui mencionaremos, brevemente, a teoria da ficção, a teoria orgânica, a teoria institucional e a teoria da realidade técnica: Teoria da Ficção A pessoa jurídica é considerada como mera criação artificial da Lei ou da doutrina, na medida em que apenas a pessoa física seria figurante de uma relação jurídica. Teoria Orgânica A pessoa jurídica apresenta interesses próprios e distintos dos seus membros, manifestando a sua vontade própria por meio dos seus órgãos. Teoria Institucional A pessoa jurídica é uma organização social que se destina a atingir fins socialmente úteis. Teoria Realidade Técnica A pessoa jurídica é uma realidade no mundo jurídico, resultando da atribuição da personalidade a ente titular de seus próprios direitos e apto a exprimir a sua própria vontade. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Os autores costumam apontar que o Código Civil acolheu a teoria da realidade técnica no artigo 45, ao prever, basicamente, que a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começacom a inscrição do ato constitutivo (isto é, contrato social ou estatuto) no registro próprio. O Código Civil também prevê que as pessoas jurídicas se classificam em de direito público e de direito privado (artigo 40). Há pessoas jurídicas de direito público interno e externo. DIREITO PÚBLICO INTERNO São de direito público interno os entes integrantes da Administração Pública Direta (União, estados, municípios e Distrito Federal) e da Administração Pública Indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas), nos termos do artigo 41 do Código Civil. DIREITO PÚBLICO EXTERNO Diferentemente, são consideradas pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e as pessoas que forem regidas por nomas de direito público internacional (como a Organização das Nações Unidas – ONU), conforme o artigo 42. Segundo Marcos Bernardes de Mello, a personalidade jurídica de direito público é resultado “de atos de soberania ou de autonomia praticados conforme as regras e os princípios de cada âmbito de poder” (MELLO, 2019, § 31, 3.1, p. 182). No plano internacional, a javascript:void(0) javascript:void(0) personalidade jurídica do Estado resulta de seu reconhecimento pela comunidade internacional; no plano do direito público interno, os Estados-membros e o Distrito Federal são criações da Constituição Federal, os Municípios, as autarquias e fundações públicas são criados por lei (MELLO, 2019, § 31, 3.1, p. 183-184). Já as pessoas jurídicas de direito privado previstas no artigo 44 do Código Civil são as associações (artigos 53 a 61), as sociedades (artigo 981 e seguintes), as fundações (artigos 62 a 69), as organizações religiosas (artigo 44, § 1º), os partidos políticos (artigo 44, § 3º) e as empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI) (artigo 980-A). Foto: Shutterstock.com O registro das pessoas jurídicas de direito privado, imprescindível para o começo da existência da pessoa jurídica, deve ser feito em local próprio. Nos termos do artigo 1.150 do Código Civil, “O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais”. Já a sociedade simples vincula-se ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, assim como as associações civis, religiosas, científicas ou literárias, bem como as fundações e associações de utilidade pública (artigo 114 da Lei 6.015/1973). Exceção: As sociedades simples de prestação de serviços de advocacia ou sociedade unipessoal de advocacia devem ser registradas na Ordem dos Advogados do Brasil (artigos 15 e 16, § 3º da Lei n. 8.906/1994). Quanto ao término da personalidade da pessoa jurídica, pode-se dizer que: Para as pessoas de direito público interno, a sua extinção se dá pela previsão em norma de mesma hierarquia que as criou ou por ato administrativo (MELLO, 2019, § 31, 3.1, p. 184). Já para as pessoas jurídicas de direito privado, considerando que a sua existência começa, como antes mencionado, com a inscrição do ato constitutivo no registro próprio, o término de sua existência está, necessariamente, atrelado à desconstituição de seu registro. Vencido o exame do tópico relativo às pessoas, passaremos ao estudo dos bens. COISA, BEM E OBJETO DE DIREITO O Código Civil de 2002, diferentemente do anterior, utiliza apenas o termo bem no Livro II da Parte Geral, e não emprega o termo coisa. José Carlos Moreira Alves, relator da Parte Geral do Anteprojeto do Código Civil, afirma que se deve evitar o vocábulo coisa por ser mais amplo do que o conceito de bem (MOREIRA ALVES, 2003, p. 80 e 143). QUAL É, ENTÃO, O SIGNIFICADO DE CADA PALAVRA? '' Foto: Shutterstock.com Para alguns autores, coisa é aquilo que existe materialmente (como um carro); para outros, seriam todas as entidades existentes e não apenas as corpóreas. Foto: Shutterstock.com Quanto ao termo bem jurídico, para alguns, seria, em sentido amplo, tudo o que pode ser objeto de relação jurídica e, em sentido estrito, seria algo imaterial (como o direito de invenção). É preciso esclarecer que o objeto de uma relação jurídica não se confunde com o objeto de direito. Objeto de uma relação jurídica significa o objeto de direito sobre o qual recaem os direitos e deveres que são o conteúdo da relação jurídica. EXEMPLO Em uma relação jurídica de direito de propriedade, os direitos podem recair sobre um apartamento, sobre um terreno, que são o seu objeto (MELLO, 2019(b), § 37, 3, p. 213). Já objeto de direito significa o bem da vida que integra, concretamente, a esfera jurídica de alguém (MELLO, 2019, § 36, 1, p. 203). Podem ser considerados como objeto de direito, por exemplo, bens materiais (como um bem móvel ou imóvel) e bens imateriais (como direitos autorais). De qualquer forma, como mencionado no início deste tópico, o Código Civil de 2002 emprega apenas o vocábulo bem no Livro II da Parte Geral, ao tratar de diferentes espécies de bens. A doutrina controverte sobre o sentido das expressões “coisa”, “bem” e “objeto de direito”. Dependendo do entendimento adotado, os sentidos de “coisa” e “bem” são mais ou menos amplos. O Código Civil de 2002, diferentemente do anterior, utiliza apenas o termo “bem” no Livro II da Parte Geral. CLASSIFICAÇÕES DOS BENS O Código Civil, no Livro II, apresenta três capítulos, compreendendo: Os bens considerados em si mesmos Os bens reciprocamente considerados Os bens públicos Dentre os bens considerados em si mesmos, estão os bens imóveis; móveis; fungíveis; consumíveis; divisíveis; singulares e coletivos. BENS IMÓVEIS Foto: Shutterstock.com Os bens imóveis são aqueles que, para serem transportados ou removidos, seriam substancialmente afetados ou destruídos ou, então, são assim considerados por determinação legal. Segundo o artigo 79 do Código do Civil, o solo e tudo o que nele se incorporar, natural ou artificialmente, são considerados imóveis, como uma árvore. Por determinação legal (artigo 80), são considerados bens imóveis os direitos reais sobre imóveis (por exemplo, propriedade, uso etc., conforme o artigo 1.225) e as ações que os asseguram, assim como o direito à sucessão aberta. BENS MÓVEIS Foto: Shutterstock.com Diversamente, os bens móveis são os suscetíveis de movimento próprio (semoventes), como os animais, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social, como um computador (artigo 82 CC). São considerados móveis para os efeitos legais: energias que tenham valor econômico; direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações (artigo 83). BENS FUNGÍVEIS Foto: Shutterstock.com Os bens fungíveis são aqueles que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (artigo 85 CC), como o dinheiro. BENS INFUNGÍVEIS Foto: Shutterstock.com Já os bens infungíveis são insubstituíveis por apresentarem características que os tornam singulares, como uma moeda rara pertencente a um colecionador. Exemplo de aplicação dessa distinção é a identificação do contrato como comodato (empréstimo de bens infungíveis) ou como mútuo (empréstimo de bens fungíveis). BENS CONSUMÍVEIS Foto: Shutterstock.com Os bens consumíveis são os bens cujo uso ordinário acarreta a destruição imediata da própria substância, como os alimentos. Também assim são considerados os bens destinados à alienação (artigo 86 CC), o que se denomina de “consumo jurídico”. Vamos pensar em uma revista: temos um bem, naturalmente, inconsumível, mas, quando é colocado à venda, torna-se, juridicamente, um bem consumível. BENS DIVISÍVEIS Foto: Shutterstock.com Os bens divisíveis podem ser fracionados sem implicar alteração em sua substância, redução considerável em seu valor ou prejuízo do uso a que são destinados (artigo 87 CC). Por exemplo, um terreno com características homogêneas, que pode ser dividido sem afetá-las, é um bem divisível. Já umcelular não é passível de divisão sem acarretar a modificação de suas características essenciais. Nem sempre os bens naturalmente divisíveis são, necessariamente, divisíveis em perspectiva jurídica, pois podem tornar-se indivisíveis por determinação legal ou pela vontade das partes (artigo 88). BENS SINGULARES Foto: Shutterstock.com Já os bens singulares são os que se consideram em sua individualidade, independentemente de estarem reunidos com outros (artigo 89 CC). BENS COLETIVOS Foto: Shutterstock.com Os coletivos são bens singulares tomados em conjunto, como um todo unitário (artigo 90). Podemos pensar em um livro como bem singular e em uma biblioteca como bem coletivo. No capítulo dos bens reciprocamente considerados, o Código Civil trata dos bens principais e assessórios, além das pertenças. Os bens principais existem de modo independente, enquanto os assessórios têm a sua existência atrelada à do principal e, assim, são considerados os produtos (utilidades que são retiradas do bem e diminuem a sua quantidade, como as pedras em uma pedreira), frutos (utilidades periodicamente originadas pelo bem, como os frutos das árvores) e benfeitorias (obras ou despesas realizadas para conservar, melhorar ou embelezar o bem principal, como um jardim) (artigos 92, 95, 96). O caráter não autônomo do bem acessório faz com que o seu tratamento pelo ordenamento jurídico se dê de modo subordinado à finalidade econômica e ao destino do bem principal (TEPEDINO; OLIVA, 2020, p. 200). Podemos exemplificar essa relação entre os bens, recorrendo ao disposto no artigo 822, segundo o qual a fiança abrange todos os acessórios da dívida principal, exceto se for limitada. Já as pertenças são os bens destinados ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro (artigo 92), como o piano na sala de um conservatório musical (bem principal). Não são partes constitutivas do bem principal, de modo que o negócio jurídico que envolver o bem principal não abrange as pertenças, salvo se o contrário resultar do disposto na lei, da manifestação das partes ou das circunstâncias do caso (artigo 94). Por fim, os bens públicos são de titularidade das pessoas jurídicas de direito público interno (Administração Pública Direta e Indireta), sendo particulares todos os demais (artigo 98). Os bens públicos são classificados como de uso comum do povo (como rios, mares, estradas, ruas e praças), de uso especial (edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da Administração Pública Direta e Indireta), e os dominicais (que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público). ATENÇÃO Vale ressaltar que os bens públicos não podem ser alienados, ressalvando-se os dominicais, que podem ser alienados se houver autorização legislativa (artigos 100 e 101). Vejamos três esquemas sobre a classificações dos bens: Bens considerados em si mesmo Bens imóveis Bens móveis Bens fungíveis Bens consumíveis Bens divisíveis Bens divisíveis Bens singulares Bens coletivos Bens reciprocamente considerados Bens principais Bens acessórios Pertenças Bens públicos Bens de uso comum do povo Bens de uso especial Bens dominicais Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal CLASSIFICAÇÕES DOS BENS Vamos analisar no vídeo como a classificação dos bens ocorre. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERANDO A DISCIPLINA CONTIDA NO CÓDIGO CIVIL SOBRE O INÍCIO E O FIM DA PERSONALIDADE DA PESSOA FÍSICA, BEM COMO ACERCA DAS INCAPACIDADES, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O termo inicial da personalidade jurídica da pessoa física é a concepção. B) O ordenamento jurídico reconhece o término da personalidade apenas com a prova da morte efetiva. C) Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos são considerados absolutamente incapazes. D) As regras atinentes à capacidade dos indígenas são as que estão nos artigos 3º e 4º do Código. E) Os atos jurídicos praticados pela pessoa incapaz sem o intermédio de seu representante ou sem a devida assistência são inválidos. 2. DE ACORDO COM A CLASSIFICAÇÃO DOS BENS QUE ESTUDAMOS, É CORRETO AFIRMAR QUE A) as construções que se prendem ao solo e nele se incorporam são consideradas bens imóveis. B) os materiais de construção antes de serem empregados na obra são considerados bens imóveis. C) as pertenças são consideradas bens acessórios. D) a biblioteca é um bem singular. E) bens principais e acessórios são classificados como bens considerados em si mesmos. GABARITO 1. Considerando a disciplina contida no Código Civil sobre o início e o fim da personalidade da pessoa física, bem como acerca das incapacidades, assinale a alternativa correta: A alternativa "E " está correta. Se a pessoa absolutamente incapaz manifestar a sua vontade sem o intermédio de seu representante, o ato será nulo. Se a pessoa relativamente incapaz praticar atos jurídicos sem contar com o assistente, o ato será anulável. 2. De acordo com a classificação dos bens que estudamos, é correto afirmar que A alternativa "A " está correta. Segundo o artigo 79 do Código do Civil, o solo e tudo o que nele se incorporar são considerados imóveis, como uma construção. MÓDULO 2 Reconhecer as principais diferenças entre os direitos obrigacionais e os direitos reais DIREITOS OBRIGACIONAIS E DIREITOS REAIS O Código Civil trata do Direito das Obrigações e do Direito das Coisas em sua Parte Especial, nos Livros I e III, respectivamente. LIVRO I Para que se tenha uma ideia da amplitude e da importância da matéria, no Livro atinente ao Direito das Obrigações são tratadas as modalidades das obrigações e as formas de sua transmissão, o pagamento, o adimplemento e o inadimplemento das obrigações, além da disciplina dos contratos em geral e dos contratos em espécie. LIVRO III Já no Livro do Direito das Coisas são abordados a posse, os direitos reais (propriedade, superfície, servidões, usufruto, uso, habitação, direito do promitente comprador do imóvel, penhor, hipoteca, anticrese, concessão de uso especial para fins de moradia, concessão de direito real de uso e laje, conforme o rol do artigo 1.225), os direitos de vizinhança e o condomínio. Os direitos reais são classificados em: javascript:void(0) javascript:void(0) Direitos de gozo sobre a coisa própria (isto é, o direito de propriedade). Direitos de gozo sobre a coisa alheia ou limitados (isto é, superfície, servidões, usufruto, uso, habitação, concessão de uso especial para fins de moradia, concessão de uso real, laje). Direitos reais de aquisição (direito do promitente comprador). Direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese). Considerando a vastidão desses assuntos, o presente módulo terá como foco conceituar os direitos obrigacionais e os direitos reais, apresentando os seus pontos de distinção. Também será abordada a figura da obrigação propter rem, que apresenta especial ponto de contato entre esses tipos de direitos. No módulo 3, trataremos da posse e do direito de propriedade, sendo este último considerado o “direito real por excelência”, por ser principal e mais completo direito real (AVAAD, 2014, p. 209). NOÇÕES GERAIS DE DIREITOS OBRIGACIONAIS E DE DIREITOS REAIS O Direito das Obrigações versa sobre os chamados direitos de crédito (isto é, o direito à prestação a ser realizada pelo devedor) O Direito das Coisas cuida da posse e dos direitos reais (cujo rol consta no artigo 1.225 do Código Civil). ATENÇÃO É importante saber que, apesar do objeto distinto, tanto o Direito das Coisas quanto o Direito das Obrigações compõem a esfera do Direito Patrimonial, isto é, o complexo de direitos e de obrigações suscetíveis de avaliação econômica. O Direito das Obrigações compreende as relações jurídicas por meio das quais é realizada a circulação de bens e de valores, enquanto o Direito das Coisas regula a utilização dos bens (CHALHUB, 2003, p. 2) e a sua apropriação. Por vezes, controverte-se se a denominação deveria ser Direito dasCoisas ou Direitos Reais, de modo que é importante esclarecer a diferença entre essas noções. Os direitos reais são os direitos elencados no artigo 1.225 do Código Civil e, como veremos adiante, a posse não está contemplada nesse rol, embora seja tratada no Livro do Direito das Coisas. Assim, o Direito das Coisas não cuida apenas dos direitos reais, pois regula tanto o exercício de poder de fato (a posse) quanto direitos (PENTEADO, 2012, p. 83). Podemos concluir, então, que a noção de direitos reais é menos abrangente do que a de Direito das Coisas. Foto: Shutterstock.com. Outra distinção que merece ser esclarecida é a que contrapõe direitos pessoais (ou de crédito) e direitos reais. O mais adequado, na verdade, é distinguir as relações jurídicas pessoais e as relações jurídicas reais, pois “os direitos serão reais ou pessoais conforme nasçam em relações jurídicas dessas espécies” (MELLO, 2019, § 41, 1, p. 226). Dentre os tipos de relação jurídica de direito pessoal, está a de natureza obrigacional. Em uma noção estrita, a relação obrigacional é o vínculo entre o credor e o devedor, por meio do qual o primeiro pode exigir uma prestação que deve ser realizada pelo segundo. A relação obrigacional compreende o conjunto de direitos, deveres, poderes, faculdades e ônus que unem as partes, as quais devem cooperar para atingir a satisfação dos interesses envolvidos. A relação jurídica real, por sua vez, é a que tem por objeto um bem sobre o qual recaem direitos, pretensões e ações, de modo pleno ou limitado, e cujo exercício se dá diretamente pelo titular, sem dependência de um terceiro, com efeitos perante todos (erga omnes) (MELLO, 2019, § 41, 2, p. 227). Em outras palavras, o direito real exercido por seu titular não necessita da cooperação de outro sujeito da relação, como se verifica na relação obrigacional. No próximo tópico, aprofundaremos essas distinções. DISTINÇÃO ENTRE DIREITOS REAIS E DIREITOS OBRIGACIONAIS Para começarmos a entender as diferenças entre os direitos reais e obrigacionais, vamos recorrer a um exemplo: Maria é proprietária de uma fazenda voltada à produção de suco de uva e percebe que alguém invadiu a sua fazenda para colher uvas. Maria não conhece o invasor e o expulsa da fazenda. Como pode ser explicado o direito de Maria expulsar o invasor? Foto: Shutterstock.com Nós podemos alcançar três respostas distintas, a depender da teoria adotada. Vejamos: TEORIA REALISTA O direito real vincula o sujeito à coisa, de modo que essa se submete, diretamente, ao poder daquele. O vínculo seria tão intenso a ponto de se considerar que a relação é constituída por um sujeito ativo (o titular) e o bem. Resposta: Maria exerce poder imediato sobre a fazenda e, por isso, pode expulsar o invasor. Foto: Shutterstock.com TEORIA PERSONALISTA Critica o entendimento de que existe relação jurídica entre pessoa e bem. Todas as relações jurídicas são estabelecidas entre sujeitos, ainda que indeterminados. Haveria, assim, um sujeito passivo indeterminado a quem competiria um dever geral de abster-se de interferir no exercício do direito real por seu titular. Resposta: Maria pode expulsar João (sujeito passivo), pois ele violou o dever de abstenção oponível a todos. Foto: Shutterstock.com. TEORIA ECLÉTICA Reconhece, de um lado, o poder jurídico assegurado ao titular do direito real, exercido diretamente sobre o bem e, de outro, a existência de uma relação jurídica com sujeito passivo universal (CHALHUB, 2003, p. 3). Resposta: o direito de Maria expulsar João de sua fazenda encontra fundamento tanto no poder imediato sobre o bem quanto no dever geral de abstenção a ser observado por todos. Foto: Shutterstock.com. As teorias acima examinadas revelam duas características dos direitos reais: Foto: Shutterstock.com A chamada aderência, que se expressa pelo poder exercido diretamente sobre o bem. Foto: Shutterstock.com Foto: Shutterstock.com E o seu caráter absoluto, pois são exercidos perante a coletividade (TEPEDINO, MONTEIRO FILHO E RENTERIA, 2021, p. 4 e 9). Foto: Shutterstock.com Nas relações obrigacionais, não se verifica a aderência nem o caráter absoluto do direito. O direito do sujeito ativo (credor) dirige-se contra um sujeito passivo determinado (devedor), o qual deve prestar o que prometeu (dar alguma coisa, fazer algo ou abster-se de fazer algo) (MELLO, 2019, § 41, 3.1, p. 234-235). EXEMPLO Assim, se Pedro e Ivo celebraram contrato de compra e venda de um livro, Pedro, na posição de credor, tem o direito de exigir que Ivo entregue o livro, diante do pagamento do preço ajustado. Diferentemente das relações jurídicas de direito real, o sujeito passivo é determinado nas relações obrigacionais, sendo o direito do credor exercido em relação ao devedor e, por isso, os direitos de crédito são considerados direitos relativos, e não absolutos. Além disso, nas relações obrigacionais, tanto o credor quanto o devedor cooperam para a satisfação dos interesses envolvidos, ou seja, é necessária a intermediação do devedor (TEPEDINO, MONTEIRO FILHO E RENTERIA, 2021, p. 4). Os direitos reais também apresentam outros atributos que os diferenciam dos direitos obrigacionais, como a ambulatoriedade, a sequela, a publicidade, a especialidade, a preferência e a tipicidade. AMBULATORIEDADE Por ambulatoriedade, entende-se a característica pela qual o “dever jurídico correspondente ao direito real caminha com a relação jurídica” (TEPEDINO, MONTEIRO FILHO E RENTERIA, 2021, p. 9). Por isso, se diz que ambulante ou ambulatório, como o gravame da hipoteca que será transmitido aos novos proprietários em caso de venda do imóvel. SEQUELA O direito de sequela permite que o titular do direito real persiga a coisa, independentemente de quem a detenha, mesmo que tenha sido alienada. Já o titular do direito de crédito pode exigir o cumprimento da prestação apenas em relação ao próprio devedor. Em virtude do direito de sequela, o credor hipotecário, por exemplo, poderá promover a execução da dívida e a excussão do imóvel (isto é, levar o bem a leilão judicial), mesmo que o imóvel tenha sido transferido para pessoa distinta do devedor. É importante ter em mente a Súmula 308 do Superior Tribunal de Justiça, a qual conferiu interpretação protetiva aos compradores e limitou o direito de sequela na seguinte hipótese: A HIPOTECA FIRMADA ENTRE A CONSTRUTORA E O AGENTE FINANCEIRO, ANTERIOR OU POSTERIOR À CELEBRAÇÃO DA PROMESSA DE COMPRA E VENDA, NÃO TEM EFICÁCIA PERANTE OS ADQUIRENTES DO IMÓVEL. (STJ, 2005) ESPECIALIDADE A especialidade é traduzida pela necessidade de que o bem esteja identificado, ou seja, deve-se especificar com exatidão os bens que são objeto de direitos reais. Em se tratando de bem imóvel, é preciso descrevê-lo com exatidão, bem como as suas dimensões, confrontações e outros elementos necessários à sua identificação. PREFERÊNCIA A preferência relaciona-se com os direitos reais de garantia e consiste no privilégio de que o titular do direito possa promover a excussão do bem e receber, de modo preferencial, o seu crédito a partir do quanto for arrecadado com a alienação do bem. TIPICIDADE Por fim, a tipicidade, também denominada taxatividade normativa, significa que somente podem ser considerados como direitos reais aqueles que a lei assim qualifica. Conforme Melhim Chalhub, a taxatividade dos direitos reais é justificada porque a imposição a todos do dever geral de abstenção conecta-se à possibilidade de que a coletividade tenha conhecimento dos tipos de direitos reais existentes no ordenamento (CHALHUB, 2003, p. 6), daí a importância do rol constante do artigo 1.225 do Código Civil. Essa é uma diferença importante em relação aos direitos obrigacionais, pois estes últimos estão conectados com o princípio da autonomia privada, que confere liberdade às partes para criarem relações obrigacionais com o conteúdo que desejarem. Ou seja, os direitos de crédito, diferentemente dos direitos reais, não estãolimitados a um rol previsto em lei. Resumindo: Direitos Obrigacionais Relação obrigacional Direito relativo Sujeito passivo determinado Oponibilidade entre as partes da relação de cooperação O titular do direito de crédito apenas pode exigir do devedor o cumprimento da prestação Princípio da autonomia privada Direitos Reais Relação jurídica real Caráter absoluto Eficácia erga omnes Características: aderência, ambulatoridade, a sequela, a publicidade, a especialidade, a preferência Tipicidade Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal DIREITOS OBRIGACIONAIS E DIREITOS REAIS Vamos entender melhor quais são as principais características e diferenças desses direitos. OBRIGAÇÃO PROPTER REM As obrigações propter rem são aquelas em que há pontos de contato entre os direitos reais e os direitos obrigacionais, pois decorrem da relação do devedor com o bem e impõem o dever de prestação em favor de um credor determinado. Essas obrigações aderem ao bem e, quando houver modificação na titularidade deste, são transmitidas ao novo titular. EXEMPLO Exemplo desse tipo de obrigação é a constante do artigo 1.315 do Código Civil, que prevê estar o condômino obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas de conservação da coisa. A doutrina diverge quanto à natureza da obrigação propter rem (TEPEDINO, MONTEIRO FILHO E RENTERIA, 2021, p. 26). Para alguns autores, prevalece o caráter real; para outros, o obrigacional; e, para um terceiro grupo, a sua natureza seria híbrida por ser um misto de obrigação e direito real (CHALHUB, 2003, p. 7). O IMPORTANTE É COMPREENDER AS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DA OBRIGAÇÃO PROPTER REM E DIFERENCIÁ-LA DE OUTRA FIGURA QUE COM ELA SE ASSEMELHA, MAS NÃO SE CONFUNDE – OS ÔNUS REAIS. As características principais da obrigação propter rem são: a peculiaridade de serem obrigações que decorrem da relação do devedor com o bem; e a ambulatoriedade, o que justifica a sua vinculação ao bem e à transmissão para novos titulares. Por fim, os ônus reais assemelham-se às obrigações propter rem, mas são figuras diferentes. Os ônus reais são devidos pelo proprietário do bem e são representados por prestações periódicas que restringem o uso e o gozo da propriedade (PEREIRA, 2020, p. 41). EXEMPLO Exemplo de ônus real é o Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana (IPTU) ou Rural (ITR). Diante de ônus reais, se o montante devido for superior ao valor do bem, o devedor pode promover o abandono liberatório do bem, o que equivalerá à remissão (perdão) da dívida. Diversamente, se isso ocorrer com as obrigações propter rem, o devedor pode ser obrigado a realizar o pagamento da totalidade da dívida. Ou seja, a responsabilidade do devedor está limitada, no caso dos ônus reais, ao valor do bem onerado, mas subsiste pelo montante total da dívida diante de obrigações propter rem. Foto: Shutterstock.com Estabelecidas as distinções principais entre direitos obrigacionais e direitos reais, podemos passar ao estudo da posse e da propriedade no módulo 3. A HIPOTECA FIRMADA ENTRE A CONSTRUTORA E O AGENTE FINANCEIRO, ANTERIOR OU POSTERIOR À CELEBRAÇÃO DA PROMESSA DE COMPRA E VENDA, NÃO TEM EFICÁCIA PERANTE OS ADQUIRENTES DO IMÓVEL. (STJ, 2005) VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. TENDO EM MENTE AS DIFERENÇAS ENTRE OS DIREITOS OBRIGACIONAIS E OS DIREITOS REAIS, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) O Direito das Obrigações compõe o Direito Patrimonial, enquanto o Direito das Coisas atine ao Direito Extrapatrimonial. B) Os direitos obrigacionais, assim como os direitos reais, necessitam da colaboração do outro figurante da relação. C) Os direitos reais, assim como os direitos obrigacionais, produzem efeitos erga omnes D) As partes podem estipular, como exercício da autonomia privada, novos tipos de direitos reais. E) Os direitos obrigacionais são considerados relativos, enquanto os direitos reais têm caráter absoluto. 2. A PARTIR DO QUE ESTUDAMOS SOBRE OS DIREITOS OBRIGACIONAIS E OS DIREITOS REAIS, PODEMOS CONCLUIR QUE: A) A aderência é uma característica comum aos direitos reais e aos obrigacionais. B) O titular do direito de crédito pode exercer o seu direito em relação a toda a coletividade. C) Os direitos obrigacionais, assim como os direitos reais, impõem um dever geral de abstenção. D) Os direitos de crédito, diferentemente dos direitos reais, não estão limitados a um rol previsto em lei. E) Dentre as características das obrigações propter rem, não está a aderência. GABARITO 1. Tendo em mente as diferenças entre os direitos obrigacionais e os direitos reais, é correto afirmar que: A alternativa "E " está correta. Na relação jurídica obrigacional, o direito do credor é exercido em relação ao devedor e, por isso, os direitos de crédito são considerados direitos relativos. Diferentemente, os direitos reais são exercidos perante a coletiva e, em virtude disso, são considerados absolutos. 2. A partir do que estudamos sobre os direitos obrigacionais e os direitos reais, podemos concluir que: A alternativa "D " está correta. Dentre as características dos direitos reais, está a taxatividade normativa, isto é, somente podem ser considerados como direitos reais aqueles que a lei assim qualifica. Já os direitos obrigacionais, por estarem conectados ao princípio da autonomia privada, não estão limitados a um rol previsto em lei. MÓDULO 3 Identificar quais são os aspectos principais da posse e do direito de propriedade. POSSE E PROPRIEDADE O Código Civil trata da posse e da propriedade no Livro III, atinente ao Direito das Coisas. A disciplina da posse consta nos artigos 1.196 a 1.224, já a da propriedade, nos artigos 1.228 a 1.368-F. Costuma-se dizer que a posse é considerada como um dos temas mais difíceis para estudo, pois as controvérsias giram em torno de sua natureza e de seu objeto. Além disso, diversas questões sociais são conectadas à temática da posse, como a reforma agrária e os movimentos sociais de ocupação para moradia. O estudo da propriedade é, igualmente, desafiador, tendo em vista a vastidão da matéria. A complexidade também resulta da necessidade de se compreender o direito de propriedade pela “interação entre sua estrutura e função, aspectos indissociáveis” (TEPEDINO; MONTEIRO FILHO; RENTERIA, 2021, p. 91). Nesse contexto, ressalta a função social da propriedade, consagrada pela Constituição Federal como direito fundamental (artigo 5º, inciso XXIII) e como princípio a ser guardado pela ordem econômica (artigo 170, inciso III). O ordenamento oferece tratamento diferenciado conforme a espécie de bem, de modo que o foco será a propriedade de bens imóveis, considerando que o Direito Imobiliário é central a este conteúdo. Considerando a relevância da temática da posse e da propriedade, assim como a sua complexidade, neste módulo o estudo será dirigido para os seguintes tópicos: As teorias da posse e o seu conceito Aquisição e perda da posse Classificação da posse Conceito do direito de propriedade Objeto e limites elementares do direito de propriedade Função social da propriedade Finalmente, aquisição e perda da propriedade de bens imóveis POSSE: TEORIAS E CONCEITO Dentre as teorias acerca da natureza da posse, destacam-se as desenvolvidas por dois dos principais juristas alemães: foto: Autor desconhecido / Wikimedia Commons / Domínio público Friedrich Carl von Savigny Desenvolvedor da teoria subjetiva javascript:void(0) foto: Autor desconhecido / Wikimedia Commons / Domínio público Rudolf von Ihering Desenvolvedor da teoria objetiva De acordo com a teoria subjetiva, a posse tem dois elementos em sua composição. O elemento objetivo (corpus) corresponde ao poder da pessoa sobre a coisa, podendo dispor fisicamente desta. Já o elemento subjetivo, considerado o mais importante para essa teoria, corresponde à intenção do possuidor de ter a coisa como sua (animus domini), o que não se confunde com a convicção de ser proprietário. Na hipótese denão estar presente o elemento subjetivo, estaria configurada a figura da detenção, e não a posse, pois a pessoa conservaria a coisa em seu poder sem animus domini. javascript:void(0) Diferentemente, para a teoria objetiva, a posse é caracterizada pelo elemento objetivo (corpus), consistente no contato físico, direto ou indireto, com o bem, o que pode ser identificado por sinais exteriores que levam o possuidor a apresentar-se socialmente como proprietário. Essa teoria enfoca a utilização econômica da coisa, sendo indispensável que o proprietário tenha a posse da coisa (CHALHUB, 2003, p. 18). Ihering critica a perspectiva desenvolvida por Savigny a respeito do animus domini, pois o possuidor que sofre a perturbação em sua posse deve comprovar que detinha a coisa, mas não se exige a prova do animus (TEPEDINO; MONTEIRO FILHO; RENTERIA, 2021, p. 23), especialmente se este for entendido como intenção qualificada, conforme defendido por Savigny. Isso não significa que Ihering ignore o elemento subjetivo da posse. Na verdade, basta, em seu modo de ver, que o possuidor apresente o animus tenendi, isto, é querer a coisa para si. A partir da teoria objetiva, a distinção estabelecida entre a vontade de quem detém a coisa é a mesma de quem a possui. A diferença entre detenção e posse acaba sendo uma opção legislativa, por meio da qual o legislador identifica situações em que se nega a proteção possessória e, por isso, são consideradas como detenção. Mais adiante retornaremos à noção de detenção. EXPOSTAS AS DUAS TEORIAS FUNDAMENTAIS SOBRE A POSSE, CUMPRE QUESTIONAR QUAL SERIA A ADOTADA PELO DIREITO BRASILEIRO. Entende-se que o Código Civil recebeu a influência da teoria objetiva de Ihering ao considerar a posse como exercício de poder de fato, isto é, o exercício de poderes inerentes ao domínio. Neste sentido, veja-se o teor do artigo 1.196: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. Foto: Shutterstock.com O artigo 1.198 também serve de reforço à adoção da teoria objetiva. Ao tratar da detenção, diz que se considera detentor quem, figurando em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. O enunciado se refere à relação de dependência como elemento necessário à caracterização da detenção, e não a falta de animus domini. EXEMPLO Como exemplo de detentor, tem-se o caseiro que cuida da casa do proprietário localizada no campo. Quanto à natureza da posse, para Savigny, a posse é simultaneamente um fato e um direito, pois, em sua origem, equivale a um simples fato, mas, ao analisar as consequências conferidas pelo ordenamento jurídico, parece um direito. Para Ihering, a posse é considerada um direito, mais especificamente, um direito real. Isso porque se traduziria em uma relação imediata da pessoa com a coisa, justificando a sua proteção jurídica. Há doutrinadores brasileiros que defendem a sua caracterização como direito real sob a justificativa de que o seu exercício se dá diretamente pelo possuidor, sem a colaboração de intermediários. Haveria, assim, a relação imediata entre o possuidor e a coisa. Todavia, como referido no módulo 2, a posse não figura no rol dos direitos reais, contido no artigo 1.225 do Código Civil. Além disso, os efeitos decorrentes da posse são produzidos desde o momento em que essa pode ser exercida, não sendo necessário o registro para a sua eficácia perante terceiros. COMENTÁRIO Assim, conforme mencionado acima, a posse deve ser considerada como exercício de poder de fato, em linha com o artigo 1.196, e não um direito real. Por fim, vale referir que o objeto da posse é a coisa ou bem corpóreo, mas se reconhece a tutela possessória sobre bem incorpóreo, como a usucapião de linha telefônica (TEPEDINO; MONTEIRO FILHO; RENTERIA, 2021, p. 30). AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE A aquisição da posse é disciplinada nos artigos 1.204 a 1.209 do Código Civil, enquanto a perda da posse é endereçada nos artigos 1.223 e 1.224. Conforme o artigo 1.204, a posse é adquirida desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Diferentemente, atos de mera permissão ou tolerância (como a autorização concedida por um vizinho ao outro para ingressar em seu terreno para facilitar o acesso deste à praia) não permitem a aquisição da posse, assim como atos violentos ou clandestinos enquanto perdurar a violência ou a clandestinidade (artigo 1.208). Foto: Shutterstock.com. A posse pode ser adquirida pela própria pessoa que pretende a aquisição ou, então, por seu representante. Também pode ser adquirida por terceiro sem mandato, desde que haja a ratificação posterior (artigo 1.205). A posse pode ser transmitida por meio de sucessão inter vivos (no momento vivo) ou em decorrência da morte (causa mortis). Se a sucessão for a título universal (que engloba a totalidade ou fração ideal do patrimônio), o sucessor prossegue a posse do seu antecessor. Se for a título singular (como uma compra e venda), o sucessor tem a faculdade de unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais (artigo 1.207). Na hipótese de o possuidor falecer, a posse transmite-se aos seus herdeiros ou legatários com todos os caracteres que apresentava quando exercida pelo de cujus (o falecido), nos termos do artigo 1.206. Por ser uma questão fática, o Código Civil de 2002, ao contrário do anterior, não elenca os modos de aquisição da posse, já que esta pode se dar por qualquer dos modos de aquisição em geral (como a apreensão da coisa ou a celebração de negócio jurídico, por exemplo). Pela mesma razão, não faria sentido detalhar as situações em que se perde a posse. ATENÇÃO Como está no artigo 1.223, perde-se a posse quando cessa o poder sobre o bem, ainda que isso ocorra contra a vontade do possuidor. Ou seja, quando o exercício do poder fático não é mais viável, perde-se a posse. O artigo 1.224 contém regra específica para a hipótese de esbulho, ou seja, a perda injusta da posse. O possuidor que não presenciou o esbulho só perderá a posse se, tendo notícia do esbulho, absteve-se de retomar a coisa, ou, tentando recuperá-la, foi violentamente repelido. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE A posse é classificada em diferentes espécies, a depender das circunstâncias em que é adquirida ou exercida, o que gera um tratamento diferenciado no plano de seus efeitos. A classificação da posse é regulada pelos artigos 1.197 e 1.199 a 1.202 do Código Civil. A posse direta é aquela exercida por quem exerce o contato direto com o bem. A posse pode desdobrar-se em posse indireta, que será exercida por quem não tem o contato direto com o bem. EXEMPLO Pense-se no proprietário que firma contrato de locação de seu apartamento. O proprietário detém a posse indireta (denominado nu- proprietário), enquanto o locatário é quem possui diretamente o apartamento. A respeito desta distinção, o artigo 1.197 do Código Civil esclarece que o desdobramento da posse é temporário, podendo, nesse período, o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. A posse justa é aquela não contaminada pelos vícios da violência, clandestinidade ou precariedade, conforme o artigo 1.200 do Código Civil. A posse que for contaminada por esses vícios é considerada injusta. Posse violenta é a que se obtém mediante o uso de força A clandestina, por sua vez, verifica-se quando a posse se obtém de forma oculta A precária é a obtida mediante o abuso de confiança de quem recebe a coisa e descumpre a obrigação de restitui-la no tempo ou nas condições pactuadas. A classificação da posse como de boa-fé ou de má-fé leva em conta o estado psicológico do possuidor: Se ignorar o vício ou o obstáculo que impedem a aquisição do bem, está de boa-fé. Se, porém, tiver conhecimento do vício, está de má-fé. A boa-fé aqui referida é de cunho subjetivo, pois está ligada à crença do possuidorde que não há vício ou óbice para a aquisição do bem. ATENÇÃO Esta qualificação é importante, especialmente em vista das regras atinentes à percepção dos frutos e às benfeitorias realizadas na coisa possuída. POSSUIDOR DE BOA-FÉ Conforme o artigo 1.214, o possuidor de boa-fé tem direito, enquanto durar este estado psicológico, aos frutos percebidos. Já os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé precisam ser restituídos, após serem deduzidas as despesas da produção e custeio, e os frutos colhidos com antecipação também devem ser restituídos (artigo 1.214, parágrafo único). Ademais, não responde pela perda ou pela deterioração da coisa, a que não tiver dado causa (artigo 1.217). Vale ressaltar, ainda, que o possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, podendo exercer o direito de retenção pelo valor dessas benfeitorias. Quanto às benfeitorias voluptuárias, se não lhe forem pagas, pode ficar com elas quando o puder sem ensejar o detrimento da coisa (artigo 1.219). POSSUIDOR DE MÁ-FÉ Diversamente, o possuidor de má-fé deve restituir todos os frutos colhidos e percebidos, respondendo também pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé. Se não for possível a restituição dos frutos, deverá devolver o valor correspondente. De qualquer forma, tem direito ao reembolso das despesas com a produção e o custeio (artigo 1.216). Além disso, o possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, exceto se provar que o dano teria ocorrido de igual modo, estando ela na posse do legítimo possuidor (artigo 1.218). Por fim, o possuidor de má-fé apenas tem direito ao ressarcimento das benfeitorias necessárias; não lhe assistindo o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias (artigo 1.220). A posse exclusiva é aquela exercida por apenas um possuidor, enquanto a composse significa o exercício simultâneo da posse por mais de uma pessoa em relação à coisa indivisa (isto é, em estado de indivisão). Conforme o artigo 1.199, se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, cada uma poderá exercer sobre ela atos possessórios, desde que não excluam os dos outros compossuidores. Foto: Shutterstock.com EXEMPLO Como exemplo de composse, pode-se pensar no exercício simultâneo da posse por herdeiros antes da realização da partilha. A posse com justo título é aquela revestida com aparente legitimidade, tendo em vista que o justo título é o “ato jurídico, em tese, hábil a transferir o domínio ou a posse, mas que, em concreto, não produz esse efeito, em razão de algum vício na sua constituição” (TEPEDINO; MONTEIRO FILHO; RENTERIA, 2021, p. 51). Foto: Shutterstock.com EXEMPLO A escritura pública ou o formal de partilha que apresentem algum vício ou irregularidade são considerados justo título. O possuidor com justo título, em razão da aparência de legitimidade por este suscitada, é beneficiado com a presunção de boa-fé, a qual cederá se houver prova em contrário ou a lei não admitir a presunção, conforme prevê o parágrafo único do artigo 1.201. Finalmente, a posse pode ser ad interdicta e ad usucapionem. A posse ad interdicta é a que reúne os elementos necessários para a sua defesa por meio das ações possessórias, diante de sua turbação (ou seja, a prática de um ato que interfira no gozo habitual da coisa, sem, contudo, ocorrer a perda da posse). Por exemplo, há turbação quando terceiros depositam detritos em uma parte do imóvel. Já a posse ad usucapionem é aquela revestida dos requisitos para que o possuidor adquira a propriedade por meio da usucapião (artigos 1.238 a 1.243 CC). Por exemplo, aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire a propriedade, independentemente de título e boa-fé (artigo 1.238). Resumindo: Classificação da posse posse direta x posse indireta posse justa x posse injusta posse de boa-fé x posse de má-fé posse exclusiva x composse posse com justo título x posse sem justo título posse ad interdicta x posse ad usucapionem Quadro: Classificação da posse Elaborado por: Giovana Valentiniano Benetti Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Examinados os aspectos principais da temática da posse, passaremos, a seguir, a abordar o direito de propriedade. DIREITO DE PROPRIEDADE O Código Civil não ofereceu definição sobre o direito de propriedade, tendo apenas enunciado quais são as faculdades do proprietário no artigo 1.228. ENTENDE-SE QUE PROPRIEDADE É O DIREITO DE USAR, GOZAR E DISPOR DE BENS, EM OBSERVÂNCIA AOS LIMITES LEGAIS ESTABELECIDOS. O direito de propriedade apresenta uma face interna e outra externa. A face interna compreende os atributos inerentes ao direito de propriedade, isto é, as faculdades de uso, gozo e disposição do bem Enquanto a face externa diz respeito ao direito de o proprietário afastar quem desrespeitar os limites em que se assegura a senhoria sobre a coisa (CHALHUB, 2003, p. 43). Como está no artigo 1.231, presume-se que a propriedade é plena e exclusiva, até prova em contrário. Ou seja, a propriedade é excludente de outra relação de senhoria em relação à mesma coisa (PEREIRA, 2019, p. 77). VAMOS ANALISAR OS ATRIBUTOS INERENTES AO DIREITO DE PROPRIEDADE. Foto: Unsplash.com A faculdade de usar (ius utendi) consiste no aproveitamento de benefícios propiciados pelo bem decorrentes de sua própria natureza, isto é, a partir da destinação econômica própria, sem alterar a sua substância. Por exemplo, o proprietário usa o automóvel quando o dirige. Foto: Unsplash.com O poder de gozar (ius fruendi) envolve a possibilidade de explorar economicamente o bem, impulsionando a atividade de percepção de frutos. Por exemplo, o proprietário de uma fazenda exerce o poder de gozo ao colher maçãs em seu pomar. O artigo 1.232 reforça pertencerem ao proprietário os frutos e produtos da coisa. Foto: Shutterstock.com O poder de dispor (ius abutendi) assegura ao proprietário a faculdade de alienar o bem, de emprestá-lo gratuitamente, de constituir gravames sobre ele e, até mesmo, de destruí-lo quando não violar o interesse social. Foto: Shutterstock.com. O poder de reaver a coisa (rei vindicatio) compreende a possibilidade de o proprietário defender o seu direito de propriedade sobre o bem, exercendo os meios processuais adequados para reavê-lo de quem quer que injustamente o possua. A ação reivindicatória é privativa do proprietário e não se confunde com as ações que podem ser intentadas para proteger a posse se houver perda ou obstáculo ao seu exercício. Imagem: Giovana Valentiniano Benetti. OBJETO E LIMITES DO DIREITO DE PROPRIEDADE O direito de propriedade refere-se a bens móveis e imóveis. Foto: Unsplash.com A delimitação do direito de propriedade sobre bem móvel leva em conta a identificação visual do domínio (TEPEDINO; MONTEIRO FILHO; RENTERIA, 2021, p. 92). A sua projeção física abrange a coisa. Foto: Unsplash.com Quanto aos bens imóveis, os limites elementares estão traçados no artigo 1.229, segundo o qual a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício. Assim, o proprietário não pode se opor à realização de atividades, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. ATENÇÃO A propriedade do solo não se estende às jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais (artigo 1.230). FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE Como já referido na introdução a este módulo, a função social da propriedade é consagrada pela Constituição Federal como direito fundamental (artigo 5º, inciso XXIII) e como princípio a ser guardado pela ordem econômica (artigo 170, inciso III). A função social enseja novos contornosao direito de propriedade, estabelecendo que o seu exercício deve respeitar e promover o fim social tutelado, afastando-se, assim, de uma visão excessivamente individualista por meio da qual o proprietário exerce o seu direito apenas de acordo com interesses individuais. Foto: Shutterstock.com Mais do que não poder exercer o direito de propriedade em prejuízo de outrem, o proprietário tem o dever de exercê-lo em observância à necessidade de distribuição de terras, de proteção do meio ambiente e de proteção ao patrimônio histórico e cultural. A necessidade de se observar a função social da propriedade está prevista em diferentes regras, além de ser a fonte inspiradora de outros dispositivos. EXEMPLO A título de exemplo, a Constituição Federal endereça a função social da propriedade urbana em seus artigos 182 e 183, além de estabelecer parâmetros para que se atenda a função social do imóvel rural no artigo 186. Além disso, o Código Civil prevê no parágrafo único do artigo 1.228 que o “direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”. Fonte:Shutterstock AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE DE BENS IMÓVEIS O Código Civil trata da aquisição da propriedade imóvel nos artigos 1.227, 1.238 a 1.259 e de sua perda nos artigos 1.275 e 1.276. No tocante à aquisição da propriedade imóvel, é importante referir a sua classificação conforme a sua procedência e elencar os modos de aquisição. A aquisição pode ser originária ou derivada. autor/shutterstock A aquisição originária é a que ocorre mediante relação direta do adquirente e o bem, sem que ter havido relação jurídica de transmissão da propriedade de uma pessoa ao adquirente. É o que ocorre com a usucapião, por exemplo. autor/shutterstock Na aquisição derivada, há a transmissão do bem do antigo proprietário para o adquirente, como ocorre na compra e venda de um apartamento. Os modos de aquisição do direito de propriedade sobre bens imóveis são o registro do título translativo no Registro de Imóveis, a acessão, a usucapião e a sucessão. Conforme dispõem o artigo 1.227 e 1.245 do Código Civil, o direito de propriedade sobre imóveis, constituído, ou transmitido por atos entre vivos, só é adquirido com o registro no Cartório de Registro de Imóveis do referido título (arts. 1.245 a 1.247), ressalvados casos expressos no Código. Em outras palavras, o registro do título translativo no Registro de Imóveis é indispensável para a transferência da propriedade e, enquanto não for realizado, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel (artigo 1.245, § 1º). A acessão verifica-se quando há a união de duas coisas, uma aderindo e se incorporando à outra. A acessão pode ser natural quando decorre de um acontecimento natural. ou Artificial (também denominada industrial), se resultante do trabalho humano. A acessão natural é a que: Foto: Unsplash.com Resulta da formação de ilhas (artigo 1.249) Da aluvião, isto é, os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas (artigo 1.250) Foto: Shutterstock.com Foto: Shutterstock.com Da avulsão, isto é, a porção de terra que, por força natural violenta, destaca-se de um imóvel e se junta a outro (artigo 1.251) E do álveo abandonado, isto é, o leito do rio que se desvia e acarreta a aquisição da propriedade do acréscimo pelos proprietários marginais (artigo 1.252). Foto: Shutterstock.com Foto: Shutterstock.com Já a acessão artificial é a construção ou a plantação (artigos 1.253 a 1.259), que adere ao imóvel. Foto: Shutterstock.com Na usucapião, adquire-se o direito de propriedade por meio da posse prolongada de um bem imóvel após o transcurso dos prazos previstos no Código Civil e o preenchimento dos requisitos estampados em lei (artigos 1238 a 1.244 e 1.260 a 1.262) Foto: Shutterstock.com A propriedade também se adquire por meio da sucessão hereditária. Conforme o artigo 1.784 do Código Civil, a partir da abertura da sucessão, a herança transmite-se aos herdeiros legítimos e testamentários. Posteriormente, o formal de partilha deve ser apresentado no Registro de Imóveis para que se efetue o registro em nome do herdeiro a quem coube o bem. Além de outras causas previstas no Código Civil, perde-se a propriedade por alienação; renúncia; abandono do bem; perecimento do bem; ou desapropriação, de acordo com o artigo 1.275. Em se tratando de bem imóvel, os efeitos da perda da propriedade por alienação ou renúncia se darão apenas com o registro do título transmissivo ou do ato renunciativo no Registro de Imóveis. FORMAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE Analisemos agora as formas de aquisição da propriedade. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERANDO O QUE ESTUDAMOS SOBRE A POSSE, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) A posse é um direito real, constante do rol do Código Civil. B) A perda da posse depende exclusivamente da vontade do possuidor. C) Os modos de aquisição da posse são apenas os que estão arrolados no Código Civil. D) A aquisição da posse não é permitida diante de atos de mera permissão ou tolerância. E) A posse violenta é obtida mediante o abuso de confiança de quem recebe a coisa. 2. SOBRE O DIREITO DE PROPRIEDADE, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) O direito de propriedade sobre imóveis é adquirido por atos entre vivos independentemente do registro do título no Cartório de Registro de Imóveis. B) O proprietário pode exercer o seu direito exclusivamente de acordo com os seus interesses, ainda que prejudique a coletividade. C) O direito de propriedade deve ser exercido em acordo com as finalidades econômicas e sociais. D) A ação reivindicatória compete tanto ao proprietário quanto ao possuidor. E) A usucapião é um modo derivado de adquirir a propriedade. GABARITO 1. Considerando o que estudamos sobre a posse, assinale a alternativa correta: A alternativa "D " está correta. A posse é adquirida desde o momento em que se torna possível o exercício e, conforme o artigo 1.208 do Código Civil, “Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância [...]”. 2. Sobre o direito de propriedade, é correto afirmar que: A alternativa "C " está correta. O direito de propriedade deve ser exercido de forma a respeitar e promover o fim social tutelado. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Como vimos, o presente conteúdo contemplou o estudo de noções centrais do Direito Civil. Pessoa é o ser humano que nasce com vida, assim como os entes que, uma vez registrados, passam a ter esse reconhecimento pelo ordenamento jurídico. Ao estudar essa temática, vimos que é importante atentar que o termo “pessoa” não se confunde com personalidade jurídica, sujeito de direito ou capacidade. Também aprendemos que os termos “coisa” e “bem” têm sentidos diferentes, e o Código Civil, ao tratar da classificação dos bens na Parte Geral, optou por utilizar apenas o termo “bem”. Esse diploma distingue os bens considerados em si mesmos; os bens reciprocamente considerados; e os bens públicos. Quanto aos direitos obrigacionais e reais, vimos, em linhas gerais, que os primeiros dizem respeito à relação obrigacional; são direito relativos com sujeito passivo determinado; são dotados de oponibilidade entre as partes. Já os direitos reais estão ligados à relação de direito real, têm caráter absoluto e eficácia erga omnes, além de apresentarem diversas peculiaridades. Os últimos assuntos abordados foram a posse e a propriedade. Como vimos, a posse não figura no rol dos direitos reais, contido no artigo 1.225 do Código Civil, devendo ser considerada como exercício de poder de fato, em linha com o artigo 1.196. Quanto ao direito de propriedade,estudamos os seus atributos e destacamos que o seu exercício deve respeitar e promover o fim social tutelado, afastando-se, assim, de uma visão excessivamente individualista. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS AVVAD, Elias. Direito Imobiliário. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 209. AMARAL, Francisco. Direito Civil. 10. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 325. CHALHUB, Melhim Namen. Curso de Direito Civil. Direitos reais. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 2, 3, 6, 7, 43. CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciado n. 146 da III Jornada de Direito Civil. Consultado na internet em: abril 2021. LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 24. MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico. Plano da Eficácia. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 234-235. MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico. Plano da Existência. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2019(b), p. § 37, 3, p. 213. MOREIRA ALVES, José Carlos. A parte geral do projeto de Código Civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 80, 143. PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 83. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Introdução ao Direito Civil. V. IV. Atualizado por Carlos Monteiro Filho. 27. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 41, 77. PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado. Tomo I. Atualizado por MARTINS-COSTA, Judith, HAICAL, Gustavo; SILVA, Jorge Cesa Ferreira da. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 259, 262. TEPEDINO, Gustavo; OLIVA, Melina. Teoria Geral do Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 121, 200. TEPEDINO, Gustavo; MONTEIRO FILHO, Carlos; RENTERIA, Pablo. Direitos Reais. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 4, 9, 23, 26, 30, 51, 91, 92. STJ. REsp n. 1.415.727/SC. Quarta Turma. Rel. Min. Luis Felipe Salomão. J. 04.09.2014. Consultado na internet em: abril 2021. EXPLORE+ Para aprofundar seu conhecimento, leia: RODRIGUES Jr., Otávio Luiz. Pessoa, personalidade, conceito filosófico e conceito jurídico de pessoa: espécies de pessoas no direito em geral. In: Revista de Direito do Consumidor, v. 118, jul.-ago. / 2018, p. 281-291. DIDIER JÚNIOR, Fredie. A função social da propriedade e a tutela processual da posse. In: Revista de Processo, v. 161, jul. 2008, p. 9- 20. NOTAS Direito de uso de imagem: * A EnsineMe reserva ao autor o direito de se manifestar. CONTEUDISTA Giovana Valentiniano Benetti CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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