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Livro - Diálogos de Gênero - Perspectivas Contemporâneas

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Bibiana Terra 
Nariel Diotto 
Roana Funke Goularte
(Organizadoras)
Editora Ilustração
Cruz Alta – Brasil
2021
DIÁLOGOS DE GÊNERO
PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS
Responsável pela catalogação: Fernanda Ribeiro Paz - CRB 10/ 1720
2021
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora 
Ilustração
Todos os direitos desta edição reservados pela Editora Ilustração
Rua Coronel Martins 194, Bairro São Miguel, Cruz Alta, CEP 98025-057
E-mail: eilustracao@gmail.com
www.editorailustracao.com.br
Copyright © Editora Ilustração
Editor-Chefe: Fábio César Junges
Revisão: Os autores
CATALOGAÇÃO NA FONTE
D536 Diálogos de gênero : perspectivas contemporâneas / 
organizadoras: Bibiana Terra, Nariel Diotto, Roana Funke 
Goularte. - Cruz Alta : Ilustração, 2021.
331 p. ; 21 cm
ISBN 978-65-88362-89-1
DOI 10.46550/978-65-88362-89-1
 
1. Mulheres - Direito. 2. Feminismo. 3. Desigualdade de
gênero. 4. Direitos humanos. I. Terra, Bibiana (org.). II. Diotto, 
Nariel (org.). III. Goularte, Roana Funke (org.). 
 
 CDU: 396.2
Conselho Editorial
Drª. Adriana Maria Andreis UFFS, Chapecó, SC, Brasil
Drª. Adriana Mattar Maamari UFSCAR, São Carlos, SP, Brasil
Drª. Berenice Beatriz Rossner Wbatuba URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Dr. Clemente Herrero Fabregat UAM, Madri, Espanha
Dr. Daniel Vindas Sánches UNA, San Jose, Costa Rica
Drª. Denise Tatiane Girardon dos Santos FEMA, Santa Rosa, RS, Brasil
Dr. Domingos Benedetti Rodrigues SETREM, Três de Maio, RS, Brasil
Dr. Edemar Rotta UFFS, Cerro Largo, RS, Brasil
Dr. Edivaldo José Bortoleto UNOCHAPECÓ, Chapecó, SC, Brasil
Drª. Elizabeth Fontoura Dorneles UNICRUZ, Cruz Alta, RS, Brasil
Dr. Evaldo Becker UFS, São Cristóvão, SE, Brasil
Dr. Glaucio Bezerra Brandão UFRN, Natal, RN, Brasil
Dr. Gonzalo Salerno UNCA, Catamarca, Argentina
Dr. Héctor V. Castanheda Midence USAC, Guatemala
Dr. José Pedro Boufleuer UNIJUÍ, Ijuí, RS, Brasil
Drª. Keiciane C. Drehmer-Marques UFSM, Santa Maria, RS, Brasil
Dr. Luiz Augusto Passos UFMT, Cuiabá, MT, Brasil
Drª. Maria Cristina Leandro Ferreira UFRGS, Porto Alegre, RS, Brasil
Drª. Neusa Maria John Scheid URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Drª. Odete Maria de Oliveira UNOCHAPECÓ, Chapecó, SC, Brasil
Drª. Rosângela Angelin URI, Santo Ângelo, RS, Brasil
Drª. Salete Oro Boff IMED, Passo Fundo, RS, Brasil
Dr. Tiago Anderson Brutti UNICRUZ, Cruz Alta, RS, Brasil
Este livro foi avaliado e aprovado por pareceristas ad hoc.
SUMÁRIO
Prefácio .....................................................................................13
Estela Cristina Vieira de Siqueira
Apresentação .............................................................................19
Bibiana Terra
Nariel Diotto
Roana Funke Goularte
Capítulo 1
Compreensões sobre questões de gênero na Educação Infantil: 
práticas docentes .......................................................................25
Adriane Bonatti
Estéfani Barbosa de Oliveira Medeiros
Roberta Casarin Peruzzolo 
Willian Edson Tomasi 
Capítulo 2
Gênero e saúde no Ensino Médio: os desafios da pesquisa em 
tempos de pandemia ..................................................................45
Náthaly Zanoni Luza 
Eliane Cadoná 
Capítulo 3
Psicologia e gênero: reflexões sobre saúde mental e 
masculinidades ..........................................................................59
Adriane Bonatti 
Náthaly Zanoni Luza
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
Capítulo 4
Por uma epistemologia feminista no ensino do Direito ..............81
Nariel Diotto 
Tiago Anderson Brutti 
Elizabeth Fontoura Dorneles
Capítulo 5
O conflito quanto ao uso de vestiários por transgêneros e 
transexuais e a colisão de direitos fundamentais .......................101
Júlia da Silva Mendes
Capítulo 6
A contribuição do Lobby do Batom para o texto constitucional 
de 1988 ...................................................................................119
Letícia Maria de Maia Resende
Capítulo 7
Igualdade vs liberdade: uma análise da evolução dos direitos das 
mulheres no Brasil após a promulgação da Constituição Federal 
de 1988 ...................................................................................137
Bianca Tito
Bibiana Terra
Wendell Antônio R. de Andrade
Capítulo 8
Do tanque ao palanque: a resistência feminina e suas conquistas 
político-sociais .........................................................................157
Carin Otília Kaefer Lisbôa 
Maria Brendler Nosvitz 
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
Capítulo 9
A inserção da mulher no cenário político a partir da óptica do 
feminismo negro ....................................................................177
Fabrício da Silva Aquino 
Isadora Nogueira Lopes 
Raquel Buzatti Souto 
Capítulo 10
Assédio sexual e as desigualdades patriarcais de gênero no 
ambiente de trabalho ...............................................................195
Júlia da Silva Mendes
Capítulo 11
A proteção ao trabalho da mulher ............................................213
Isadora Marques Simões
Mariana Lopes Diegues
Capítulo 12
O trabalho do cuidado e as diversas formas de ser mulher: 
uma análise do trabalho doméstico a partir de um olhar 
interseccional...........................................................................227
Thamiris Cristina Rebelato
Capítulo 13
Direitos Humanos, gênero e raça: uma análise da convenção sobre 
a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher 
(CEDAW) ...............................................................................245
Bibiana Terra 
Bianca Tito 
Roana Funke Goularte
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
Capítulo 14
Tecnologia e violência de gênero: tecendo espaço de prevenção na 
internet ....................................................................................265
Isadora Nogueira Lopes
Raquel Buzatti Souto
SOBRE OS AUTORES ..........................................................281
Prefácio
Como podemos garantir que esse padrão histórico se rompa? 
Enquanto defensoras e ativistas dos direitos das mulheres de nosso 
tempo, devemos começar a fundir esse duplo legado a fim de criar 
um continuum único, que represente de modo sólido as aspirações 
de todas as mulheres da nossa sociedade. Devemos começar a 
criar um movimento de mulheres revolucionário e multirracial, 
que aborde com seriedade as principais questões que afetam as 
mulheres pobres e trabalhadoras. 
(Mulheres Cultura e Política1 - Angela Davis)
O terreno das desigualdades de gênero é árido e percorre inúmeras camadas das sociedades, sobretudo para 
países em desenvolvimento. Compreende-se que as questões que 
envolvem o tema não se limitam apenas às designações dicotômicas 
do sexo biológico, mas ao próprio ser mulher - um reflexo de 
milênios de opressão, seja de gênero ou, ainda, opressão colonial, 
fundada na ideia de dominação.
A legislação internacional alça a igualdade entre mulheres 
e homens a status de prioridade, enquanto direito humano 
fundamental à própria existência de uma sociedade harmônica, 
sem discriminação e voltada ao desenvolvimento, tendo entrado no 
sistema internacional através da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, ao afirmar que todos os seres humanos nascem iguais2, sem 
discriminações de qualquer sorte, inclusive de sexo.
Muito se construiu desde então, quanto à necessidade de 
se garantir mecanismos de igualdade entre os gêneros, para além 
da mera designação anatômica. Nas últimas décadas, menos 
meninas foram submetidas ao casamento infantil, mais meninas 
foram à escola. Mais mulheres tiveram seus direitos reprodutivos 
1 DAVIS, Angela. Mulheres, Cultura e Política. São Paulo: Boitempo Editorial, 2017.
2 OHCHR. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: https://
www.ohchr.org/en/udhr/documents/udhr_translations/por.pdf Acesso em: 05 jul. 
2021.
14 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
assegurados,menos mulheres tiveram suas vozes tomadas diante 
de abusos.
No entanto, ainda, há consideráveis discrepâncias salariais, de 
oportunidades. Inúmeros países falham em criar e/ou implementar 
legislações de combate e repressão à violência doméstica. Milhões 
de meninas são submetidas anualmente à Mutilação Genital 
Feminina. E, segundo dados o Unicef3, enquanto permanecemos 
subrepresentadas politicamente, em todas as esferas, 1 a cada 5 
meninas e mulheres entre 15 a 49 anos reportaram ter sofrido 
algum tipo de violência física ou sexual ao longo dos 12 meses que 
antecederam a pesquisa, de 2017.
As Nações Unidas tomaram para si, na Agenda 2030, a 
obrigação de se fazer cumprir, como Objetivo do Desenvolvimento 
Sustentável, até o fim da presente década, a igualdade de gênero 
e o empoderamento de todas as meninas e mulheres. Uma meta 
ambiciosa, considerando-se que as desigualdades sofridas por se 
nascer mulher na atualidade são asseveradas por um contexto global 
que ainda luta para romper com uma lógica colonial e eurocêntrica 
contra a qual a própria ONU falha em criar mecanismos para 
superá-la. As circunstâncias que oprimem mulheres em países em 
desenvolvimento são distintas daquelas que oprimem mulheres em 
países desenvolvidos.
Kimberlé Crenshaw4, ao desenvolver a concepção de 
interseccionalidades, brinda a literatura feminista com elementos 
para compreender como as identidades políticas e sociais de 
uma mulher interferem diretamente na forma como a opressão 
do patriarcado operará sobre ela: se é cis, trans, branca, negra, 
LGBTQI+, em uma coleção de particularidades de classe, origem e 
raça que nos confrontam diariamente com as limitações do próprio 
3 UNICEF. A Familiar Face: Violence in the lives of Children and Adolescents. 
Division of Data, Research and Policy, November 2017. Disponível em: https://
www.unicef.org/bulgaria/media/1511/file/BGR-violence-in-the-lives-of-children-
and-adolescents-en.pdf 
4 CRENSHAW, Kimberle. Mapping the margins: Intersectionality, identity politics, 
and violence against women of color. Stan. L. Rev., v. 43, p. 1241, 1990.
 15
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
Feminismo e das teorias que o cercam. 
É necessário, mais do que em qualquer outro momento na 
história, repensar o feminismo sob a perspectiva da justiça social, 
que nasce no seio da interseccionalidade, compreendendo as 
desigualdades raciais, de orientação sexual ou a luta de classes. Um 
feminismo que não esconda, não inviabilize e não cale vozes lançadas 
pelo capitalismo à violência, à segregação, ao encarceramento e à 
morte. Porque o liberalismo também é fruto do patriarcado5.
E esse patriarcado branco e ocidental afeta, inclusive em 
sociedades onde o patriarcado, como o conhecemos, não possui 
tanta influência assim, como na sociedade yorubá pré-colonial6, 
uma percepção que somente foi possível a partir do advento do 
feminismo decolonial, de María Lugones7, trazendo todas as 
outras perspectivas esquecidas por um capitalismo eurocêntrico, de 
onde surge, sim, o patriarcado, e que se reflete em teorias de um 
feminismo liberal, que ignora corpos racializados.
E ainda assim, seguimos, mais questionadoras e 
constantemente questionadas, em um mundo cuja reformulação é 
palavra de ordem - o que é trazido à luz por inúmeras crises, como 
a atual pandemia da década de 20 e a crise democrática que assola 
o mundo Ocidental. Se Beauvoir nos disse que basta uma crise 
política, econômica e religiosa para que os direitos das mulheres sejam 
5 “Homens privilegiados foram os geradores do liberalismo e de sua ontologia 
individualista de pessoas. Não pode ser considerado, de maneira séria, uma 
coincidência que os homens, que muitas vezes são mais livres para funcionar de forma 
autônoma (isto é, relativamente intocados pelas necessidades das famílias, crianças e 
comunidade), também sejam os principais criadores e administradores de instituições 
contemporâneas que incentivam uma ênfase em individualismo, produtividade 
e competição extremos entre pessoas, em vez de uma ênfase na comunidade, no 
cuidado e na conexão entre as pessoas - uma ênfase que é comum - na verdade, 
geralmente necessária - em vidas caracteristicamente femininas.” (tradução nossa) In: 
CALLAHAN, Joan C.; ROBERTS, Dorothy E. A feminist social justice approach to 
reproduction-assisting technologies: A case study on the limits of liberal theory. Ky. 
LJ, v. 84, p. 1197, 1995. p.1206.
6 HOLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento feminista hoje: perspectivas 
decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. p.20.
7 LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Revista Estudos Feministas, 
v. 22, p. 935-952, 2014.
16 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
questionados, talvez esteja posto à atual geração um dos momentos 
ímpares na história da humanidade na qual, poucas vezes antes, a 
discussão sobre gênero tenha sido tão relevante. 
Na presente obra, de uma condução ímpar na literatura 
temática sobre Feminismo no Brasil, a saúde, a democracia e as 
múltiplas identidades de gênero são centrais aos 14 textos que 
aqui se seguem, trazidos brilhantemente por essas pesquisadoras e 
pesquisadores da nova geração do Direito Brasileiro. 
Enfrentar questões como: a participação de mulheres na 
academia, a importância da educação sexual, refletir a toxicidade da 
opressão do masculino também sobre os homens, o reconhecimento 
de identidades não-binárias de gênero, bem como mulheres trans, 
travestis e intersex no feminismo, e o feminismo negro, conversam, 
na mesma obra, com a abordagem filosófica da reconstrução do 
ser mulher na sociedade, sua participação nos processos políticos 
- como a Constituinte de 1987-88, sua voz na representatividade 
democrática, sua inclusão no mercado de trabalho, sua relação 
com as novas tecnologias e o quanto já se avançou legislativa e 
politicamente, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
de 1948.
Ser mulher não é um conceito estável8, mas que se modifica 
historicamente, e o convite de prefaciar a presente obra se faz uma 
honra e um desafio: como mulher cis e branca, recorro à literatura 
para não cometer incorreções, tanto quanto minha parca percepção 
de mundo permite, até porque nem mesmo a representação mulher 
subsiste ao questionamento da representatividade, em todas as 
camadas que o tornar-se mulher9, política, social e identitariamente, 
enseja. 
8 BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de 
Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2018. 
9 “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, 
econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o 
conjunto da civilizac ̧ão que elabora esse produto intermediário entre o macho e o 
castrado, que qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir 
um indivíduo como um Outro” In: BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo. Rio de 
Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2009. p.307.
 17
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
O feminismo não pode e não deve ter pretensão de 
universalidade, mas sim uma visão individualizada, sempre que 
possível, pois há inúmeras trajetórias invisibilizadas por uma 
narrativa única, e é esse um dos principais desafios da nova geração 
de feministas. 
Com a solenidade que o dever de prefácio me encerra, 
mas com o carinho de uma amiga que dá as boas-vindas à essa 
obra, introduzo vocês aos textos que se seguem, ciente de todas as 
interfaces dos múltiplos feminismos nos apresentam nas próximas 
páginas. Espero que contribua com a sua visão de mundo tanto 
quanto contribuiu com a minha. 
Para Marielle Franco e a próxima geração de Marielles.
Estela Cristina Vieira de Siqueira
Apresentação
A ideia de organizar este livro, “Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas”, se deu a partir da vontade 
de fomentar e influenciar pesquisadoras e pesquisadores que escrevem 
e discutem gênero, feminismo, direitos das mulheres, sexualidadese teoria feminista, entre outras temáticas que envolvem os diálogos 
de gênero. No entanto, essa publicação não se apresenta apenas da 
vontade de fomentar esse debate, mas, também, da percepção de 
que esta é uma discussão fundamental para a academia brasileira 
contemporânea. 
Desse modo, o critério que nos orientou na seleção dos 
textos que compõem os capítulos deste livro foi o de mostrar os mais 
diferentes diálogos de gênero em variadas áreas do conhecimento. 
Assim, nesta obra podem ser identificados desde textos que discutem 
os direitos das trabalhadoras brasileiras, os seus direitos políticos e 
garantias constitucionais, até aqueles que apresentam abordagens 
acerca de educação e gênero, saúde e gênero, reflexões sobre saúde 
mental e masculinidades, tecnologia e gênero, os direitos de pessoas 
transgêneros e questões que envolvem intersecções de raça e classe, 
para além da opressão de gênero. 
 Nesse sentido, a presente obra é composta por quatorze 
capítulos, escritos por homens e mulheres de diferentes regiões 
do Brasil e oriundos de variadas áreas do conhecimento, que se 
propõem a contribuir, cientificamente, para os diálogos de gênero 
e perspectivas contemporâneas no país. 
O primeiro capítulo da obra tem como título Compreensões 
sobre questões de gênero na Educação Infantil: Práticas docentes 
e foi escrito por Adriane Bonatti, Estéfani Barbosa de Oliveira 
Medeiros, Roberta Casarin Peruzzolo e Willian Edson Tomasi. O 
texto traz reflexões feitas por meio da análise bibliográfica do Portal 
da Capes por artigos publicados nos últimos 10 anos que falem 
sobre questões de gênero dentro da Educação Infantil e como se 
20 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
dão as práticas docentes diante do tema. A pertinência do assunto 
é vista diante dos resultados: a escola não se identifica enquanto 
corresponsável pelo processo de ensino-aprendizagem e práticas 
docentes são pouco exploradas acerca da temática.
Na sequência, o segundo capítulo, de autoria de Náthaly 
Zanoni Luza e Eliane Cadoná tem como título Gênero e saúde no 
ensino médio: os desafios da pesquisa em tempos de pandemia e os seus 
escritos fazem parte de uma pesquisa maior cujo objetivo consistiu 
em investigar sentidos de Identidade de Gênero, Orientação Sexual 
e Saúde exercitados por professores e professoras do Ensino Médio 
de uma cidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, a fim 
de evidenciar e problematizar os possíveis desdobramentos desses 
nos processos de subjetivação dos/as estudantes.
O terceiro capítulo que compõe a obra é intulado de 
Psicologia e gênero: reflexões sobre saúde mental e masculinidades 
e tem como autoras Adriane Bonatti e Náthaly Zanoni Luza. 
O texto apresenta uma análise de práticas discursivas sobre as 
masculinidades, principalmente de dois importantes materiais: 
“Seja homem: a masculinidade desmascarada” e “Saúde mental, 
gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação”, 
duas obras recentes que abordam os modos de subjetivação por 
intermédio dos dispositivos de gênero na contemporaneidade.
Por uma epistemologia no ensino do direito é o quarto 
capítulo e tem como seus autores Nariel Diotto, Tiago Anderson 
Brutti e Elizabeth Fontoura Dorneles. O estudo tem como objetivo 
analisar a necessidade de inserção de uma epistemologia feminista 
no ensino do Direito de forma a contribuir para a formação de 
profissionais aptos a reconstruir os papéis da mulher na sociedade 
contemporânea. O estudo é qualitativo e exploratório, com base 
em pesquisa bibliográfica. Os principais resultados indicam que 
as epistemologias feministas podem ressignificar o Direito, sendo 
uma ferramenta de emancipação e não de subjugação das mulheres.
Na sequência, a autora Julia da Silva Mendes assina o quinto 
capítulo, que tem como título O conflito quanto ao uso de vestiários 
 21
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
por transgêneros e transexuais e a colisão de direitos fundamentais. 
O texto aborda que as novas identidades sexuais estabelecem 
uma inovação na conjuntura social e cultural, desconstruindo 
comportamentos até então padronizados e hegemônicos. Neste 
contexto foram analisados os comportamentos sociais, em razão do 
modelo binário de gênero, e o posicionamento da jurisprudência 
a respeito da colisão de direitos fundamentais existente quanto ao 
uso de vestiários por transgêneros e transexuais.
A contribuição do lobby do batom para o texto constitucional de 
1988, de autoria de Letícia Maria de Maia Resende constitui o sexto 
capítulo da obra e traz um ensaio expositivo acerca da participação 
das mulheres no processo constituinte de 1987-88 que elaborou 
a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada no 
dia 5 de outubro de 1988. O foco do trabalho consiste na análise 
do Lobby do Batom, que contribuiu de maneira substancial aos 
trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Ademais, foram 
abordadas as demandas das mulheres e as conquistas consolidadas 
no texto constitucional vigente.
A seguir, o sétimo capítulo é assinado pelos autores Bibiana 
Terra, Bianca Tito e Wendell Antônio R. de Andrade e tem como 
título Igualdade x Liberdade: Uma análise da evolução dos direitos 
das mulheres no Brasil após a promulgação da Constituição Federal 
de 1988. O texto teve como objetivo geral analisar o papel das 
mulheres na sociedade brasileira a partir das evoluções normativas 
ocorridas a partir da Constituição Federal de 1988 e do papel da 
representatividade política feminina. O artigo foi desenvolvido a 
partir de revisão da legislação vigente no Brasil, de forma com que 
sua relevância acadêmica consiste na análise da evolução normativa 
a partir de 1988. 
Maria Eduarda Bendler Nosvitz e Carin Otilia Kaefer 
Lisboa são as autoras do oitavo capítulo que compõe a obra e que 
tem como título Do tanque ao palanque: a resistência feminina e suas 
conquistas político-sociais. O texto refere-se à resistência feminina 
e suas conquistas político-sociais. Trata-se de uma pesquisa 
exploratória, onde utilizou-se como recurso metodológico a revisão 
22 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
de literatura e pesquisa documental sobre a violência contra as 
mulheres. Buscou-se informações legais quanto aos direitos da 
mulher, assim como dados estatísticos sobre a violência de gênero 
e/ou sexo, consultando os principalmente sites governamentais.
A inserção da mulher no cenário político a partir da óptica 
do feminismo negro é o nono capítulo que constitui a obra e é de 
autoria de Fabrício Aquino da Silva, Isadora Nogueira Lopes e 
Raquel Buzzati Souto. O seu texto aborda a tríade do feminismo 
negro em seu primeiro momento, conceituando gênero, classe 
e raça. Logo após, no segundo momento da pesquisa, foram 
realizadas ponderações em relação à inserção da mulher negra ao 
campo político, por intermédio de exemplos práticos da política 
brasileira.
Na sequência, o texto Assédio sexual e as desigualdades 
patriarcais de gênero no ambiente de trabalho compõe o décimo 
capítulo que compõe a obra e é de autoria de Julia Mendes Silva. 
Este artigo tem por objetivo inicial tratar do assédio sexual da 
mulher, com enfoque específico no ambiente de trabalho, fazendo 
uma investigação sobre a desigualdade de gênero a partir de 
uma abordagem histórica da visão androcêntrica do mundo nas 
relações empregatícias e a íntima conexão que possui com os casos 
envolvendo assédio sexual.
As autoras Isadora Marques Simões e Mariana Lopes 
Diegues assinam o décimo primeiro capítulo que compõe a obra e 
que tem como título A proteção do trabalho da mulher. O seu texto 
versa sobre a contextualização da inserção da mão de obra feminina 
no mercado de trabalho, analisando historicamente a desigualdade 
de gênero que nos acompanha até os dias atuais. O trabalho busca 
apontar as leis protetoras aos direitos trabalhistas das mulheres e 
como eles foram alcançados, além de pontuar como o feminismo 
influenciou na lutadas mulheres por direitos iguais.
O trabalho do cuidado e as diversas formas de ser mulher: 
uma análise do trabalho doméstico a partir de um olhar interseccional 
compõe o décimo segundo capítulo do livro e é de autoria de 
 23
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
Thamiris Cristina Rebelato. O presente artigo tem como objetivo 
geral investigar o trabalho invisível ao sistema capitalista realizado 
pela mulher: o trabalho do cuidado, bem como sua naturalização 
e justificativa de atribuição baseada em sistema de opressão de 
gênero. O texto buscou também esclarecer as diversas opressões 
sociais sofridas pelas mulheres em âmbito laboral e a necessidade 
de validação de múltiplas realidades para a efetivação de direitos.
O décimo terceiro capítulo da obra é de autoria de Bibiana 
Terra, Bianca Tito e Roana Funke Goularte e tem como título 
Direitos humanos, gênero e raça: uma análise da Convenção Sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher. O 
texto tem como objetivo geral abordar sobre a necessidade de uma 
análise interseccional de gênero e raça sobre os direitos humanos 
das mulheres. Para tanto, aponta que a interseccionalidade pode 
ser compreendida como uma ferramenta teórica e metodológica 
utilizada para demonstrar a inseparabilidade estrutural entre 
as opressões de gênero e raça. A partir desse conceito e tecendo 
comentários acerca da CEDAW, esse trabalho compreende que a 
interseccionalidade pode contribuir para o acesso das mulheres aos 
seus direitos.
O décimo quarto texto tem como título Tecnologia e violência 
de gênero: tecendo espaço de prevenção na internet e compõe o último 
capítulo da obra, que é assinado pelas autoras Isadora Nogueira 
Lopes e Raquel Buzzati Souto. A pesquisa faz uma contextualização 
histórica a respeito da tecnologia, logo, em seu segundo momento, 
as autoras abordam alguns movimentos de relevância que foram 
difundidos por intermédio da internet. Por fim, seu terceiro 
momento se dedica a ponderar acerca de medidas adotas durante a 
pandemia para a prevenção da violência doméstica.
Apresentados, brevemente, um resumo de cada capítulo 
que compõe a presente obra, agradecemos e parabenizamos todas 
as autoras e autores que, aqui, publicam suas pesquisas e, com isso, 
contribuem para o fomento e o estímulo das reflexões e diálogos de 
gênero em perspectivas contemporâneas. Debater essas temáticas 
nunca é fácil, mas é fundamental para que possamos avançar e 
24 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
conquistar não apenas um ambiente acadêmico mais igualitário 
e mais plural, mas também para uma sociedade que considere as 
questões de gênero.
Bibiana Terra 
Nariel Diotto 
Roana Funke Goularte
Capítulo 1
Compreensões sobre questões de gênero na Educação 
Infantil: práticas docentes
Adriane Bonatti
Estéfani Barbosa de Oliveira Medeiros
Roberta Casarin Peruzzolo
Willian Edson Tomasi
Considerações iniciais 
O presente trabalho surgiu do anseio de seus escritores em compreender, debater e problematizar as práticas 
pedagógicas de docentes da Educação Básica – especificamente da 
Educação Infantil1, no que tange às temáticas referentes a gênero e 
sexualidade. Para tanto, buscou-se entender o que os documentos 
legais, quais sejam, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e 
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) preveem sobre tais 
temáticas e, por outro lado, recorreu-se a pesquisa bibliográfica para 
que através dos estudos existentes, fosse lançada a compreensão de 
“O que dizem os documentos?” e “Quais são as práticas vivenciadas 
pelos docentes?”. 
Para a realização da pesquisa bibliográfica, utilizou-se os 
descritores “Educação Infantil AND Gênero”, nas plataformas de 
busca: SCIELO que apresentou 01 resultado; BVS não apresentou 
nenhum resultado; PUBMED, apresentou 01 resultado, no 
entanto, não estava relacionado a proposta do trabalho; LILACS, 
apresentou 33 resultados e, por fim, a outra plataforma recorrida 
foi o Portal da CAPES que apresentou 1.535 resultados. Utilizou-se 
1 Entende-se como Educação Infantil a primeira etapa da educação básica Brasileira, 
correspondendo à faixa etária dos 0 aos 5 anos e 11 meses, segundo a Base Nacional 
Comum Curricular (BRASIL, 2018)
26 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
como filtro os últimos 10 anos (2011-2021) em todas as plataformas 
de buscas. Nesta etapa, foram selecionados os trabalhos mais 
congruentes com a temática, em que três autores selecionaram dois 
trabalhos para análise enquanto um deles estudou os documentos 
legais. Os trabalhos encontrados nas plataformas de buscas foram 
analisados através da Análise de Conteúdo de Bardin (2004). 
Para tanto, elencou-se tais categorias: O cuidado generificado: 
a quem cabe ensinar na Educação Infantil?; Práticas narrativas e 
comportamentais versus criança assexuada; O (des)preparo e (des)
amparo técnico do/a Docente: enfrentando desafios.
Neste trabalho parte-se da perspectiva de que a escola tem 
um papel muito além da mera transmissão de conhecimento, haja 
visto que os estudantes não frequentam a escola apenas para aprender 
e decorar conteúdos. A escola é um espaço, sobretudo, de trocas, 
de socialização, de formação do humano, de desenvolvimento de 
capacidades individuais e coletivas. Contudo, há algumas ressalvas 
a essa instituição cujo potencial é formar cidadãos. A primeira 
delas é “Como é decidido qual é o ideal de ser humano que será 
formado?” e, “Quais estratégias serão adotadas para formar o ser 
humano ideal?”. É sabido que cada momento histórico e cultural 
dita normas, regras, ideais e ideologias. Como consequência, a 
escola não se configura como um espaço neutro, ao contrário, ela 
é permeada por sentidos e significados, onde também se produzem 
e se reproduzem exclusões vivenciadas em outras esferas da vida do 
estudante como na família e na sociedade. A partir destas reflexões, 
faz-se pertinente questionar: como formar indivíduos abertos 
para as diversidades, respeitando-as e considerando-as necessárias 
e pertinentes, para o combate à discriminação, a violência e as 
desigualdades? (BRASIL, 2018; SIBILIA, 2012).
Através da preocupação com estas indagações, recorreu-
se à BNCC, para entender se ela prevê práticas pedagógicas e 
obrigatoriedades aliadas às temáticas referentes a gênero e sexualidade 
na educação infantil. Este documento assume um caráter normativo 
que define um conjunto orgânico e progressivo das aprendizagens 
consideradas essenciais, que todos os estudantes precisam e devem 
 27
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
desenvolver ao longo das etapas da Educação Básica. O objetivo 
da BNCC é, então, assegurar os direitos de aprendizagem e de 
desenvolvimento dos estudantes, para que possam ter acesso a uma 
formação humana integral, à construção de uma sociedade justa, 
democrática e inclusiva. Assim, no decorrer da Educação Infantil, 
os estudantes devem desenvolver dez competências gerais2. Serão 
mencionadas a seguir as que mais possuem consonância com a 
temática proposta.
8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e 
emocional, compreendendo-se na diversidade humana e 
reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica 
e capacidade para lidar com elas; 9. Exercitar a empatia, o 
diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-
se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos 
humanos, com acolhimento e valorização da diversidade 
de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, 
culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer 
natureza; 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, 
responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, 
tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, 
inclusivos, sustentáveis e solidários. (BRASIL, 2018, p. 10).
À luz destas competências, é possível perceber a preocupação 
em formar cidadãos que estejam abertos à diversidade, que tenham 
empatia, que respeitemo outro, os direitos humanos, que acolham 
e valorizem as diversidades – dos indivíduos e de grupos sociais, 
bem como, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, 
rompendo preconceitos de qualquer natureza. A educação infantil, 
é a primeira etapa da educação básica, e, conforme a Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN (1996), é nela 
em que o estudante tem o primeiro contanto com um convívio 
social mais amplo, ou seja, deixa de fazer parte apenas do bojo 
familiar. Nesta perspectiva, a escola se apresenta como um espaço 
que propicia a convivência com as diferenças, além de oportunizar 
um espaço coletivo em que a criança pode vivenciar a sua infância, 
2 Para o documento competência é entendida como a mobilização de conhecimentos, 
habilidades, atitudes e valores que conduzirão o estudante a resolução das demandas 
da vida cotidiana. 
28 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
construir conhecimento, produzir cultura, aprender regras sociais, 
conviver e interagir com os outros (BRASIL, 1996; BRASIL, 2018; 
BATISTA, NAKAYAMA, 2019).
Além de realizar a análise da BNCC, optou-se por 
compreender também, o que a Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação aborda sobre as mesmas temáticas. Além disso, posterior 
à leitura minuciosa, foram selecionados os princípios que mais 
conversam com o tema deste estudo. Pontua-se que no Art. 3º, do 
Título II, que dispõe dos “Princípios e fins da educação nacional”, 
há um deles que pode estar relacionado à temática da diversidade, 
qual seja: “respeito à liberdade e apreço à tolerância”. Entretanto, 
assim como na BNCC, compreende-se que estes princípios são 
abrangentes e não direcionam, ou deixam claro, de quais temáticas 
se fala quando se referem à diversidade, portanto, não há menção 
de gênero ou sexualidade nestes documentos. Desta maneira, as 
próximas páginas deste trabalho se propõem a compreender como 
se dá as vivências dos docentes diante de tais temáticas.
Vale destacar ainda que os movimentos de reflexão 
deste capítulo surgiram a partir da participação dos/as autores/
as, enquanto bolsista, no Grupo de Pesquisa em Psicologia da 
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões 
- Campus Frederico Westphalen (URI/FW). O grupo estuda, em 
conjunto com o Programa de Pós Graduação em Educação, os 
discursos de gênero presentes na mídia e nos documentos oficiais 
da educação brasileira.
O cuidado generificado: a quem cabe ensinar na Educação 
Infantil?
Embora as discussões atreladas a temática proposta pelo 
trabalho traga, através dos estudos de gênero, a diferenciação dos 
espaços ocupados por homens e mulheres, meninos e meninas, e 
entendam essas características como construções sociais, são poucos 
os artigos que discutem a ausência dos homens na docência infantil, 
sendo dos artigos analisados, um tema pouco abordado (SILVA et 
 29
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
al., 2015; CIRIBELLI; RASERA, 2019; BATISTA; NAKAYAMA, 
2021; CÓLIS; SOUZA, 2020; PEREIRA; OLIVEIRA, 2021).
Quando propõe-se elaborar um diálogo entre infância 
e os estudos de gênero, há o objetivo de traçar novos meios de 
desnaturalizar as relações dicotômicas entre o masculino e o 
feminino que se retratam na sociedade, na cidade e nas instituições. 
Deste modo, entende-se que gênero não é uma categoria fixa, 
natural e imutável, logo, a polarização binária que comumente 
se apresenta nas discussões atreladas às relações de gênero, seja no 
ambiente educacional ou não, é histórica e socialmente construída, 
e assim sendo, passível de análise (ANJOS; OLIVEIRA; GOBBI, 
2019).
Entende-se por desnaturalizar, colocar em pauta e 
problematizar as discussões acerca das vivências em sociedade, uma 
vez que as relações de gênero são entendidas como componentes 
constitutivos das relações sociais baseadas em diferenças percebidas 
entre os sexos, como uma maneira de dar significação às relações de 
poder. Tais concepções criam regras e maneiras de ser deste a tenra 
idade, estando relacionadas às formas de se expressar, brincar e usar 
(ANJOS; OLIVEIRA; GOBBI, 2019).
Pensa-se a escola e a Educação Infantil como ambientes 
que refletem as premissas relacionais de gênero que perpassam os 
demais âmbitos sociais, desta forma, de acordo com Leão (2012) 
a escola é uma instância de normatização que disciplina os corpos, 
sendo capaz de propagar concepções de estereótipos sexistas e 
padrões de comportamentos cristalizados para homens e mulheres. 
Sendo assim, esta etapa da educação faz parte de um sistema 
simbólico, com papel determinante na produção e representação 
dos gêneros, portanto, é de suma importância que se pense como 
são estabelecidas as dinâmicas entre os corpos no contexto da 
educação (GIACHINI; LEÃO, 2016).
Isso também é evidenciado e perpetuado na Educação 
Infantil através dos/as docentes, como a proporção de homens 
ocupando cargos de professores, sendo esta uma porcentagem 
30 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
extremamente baixa. De acordo com a última Sinopse Estatística 
da Educação Básica, publicada em 2020, no Rio Grande do Sul, 
apenas 5,8% dos docentes da Educação Infantil se identificam 
como homens (INEP, 2020).
Antigamente, a relação de gênero na educação escolar 
brasileira era diferente, com apenas homens atuando como 
docentes. Porém, devido aos acontecimentos sociais dos séculos 
XIX e XX, como a Revolução Industrial, as mulheres passaram a 
ter papel ativo na sociedade e fora da família, ocupando alguns 
lugares anteriormente preenchidos por homens, sendo a Educação 
Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) 
quase totalmente constituída por mulheres, por um processo de 
feminização do magistério (GONÇALVES; FARIA, 2015).
A legitimidade do feminino no padrão heteronormativo, 
falocêntrico e compulsório é conferida a partir de referências 
que dependem exclusivamente da relação da mulher com 
o outro e dos papéis atribuídos socialmente nesta relação: 
esposa e mãe. Dessa maneira, as profissões adequadas para seu 
universo de características naturalizadas, estariam ligadas às 
qualidades do cuidado emocional e físico, como por exemplo, 
enfermeira, professora primária, cozinheira e bordadeira. 
Desse modo, a diferenciação binária (homem-mulher) e as 
atribuições essencializadas das características atribuídas aos 
seres humanos (masculino-feminino) ligam-se diretamente às 
atuações e disputas de poder. (SOARES, 2015, p. 242).
Contudo, diferente do processo de feminização do magistério 
no Ensino Fundamental e Médio, a Educação Infantil traçou um 
caminho diferente, tendo surgido como um ambiente de ocupação 
feminina, atendendo a demanda da nova classe trabalhadora que 
estava à disposição no mercado de trabalho, inicialmente, com 
caráter assistencialista, suprindo o cuidado que não foi exercido 
pelas mães, sendo a inserção de homens nesta etapa da educação 
consideravelmente nova (XAVIER; ALMEIDA, 2016).
Segundo a pesquisa de Gonçalves e Penha (2015), que 
consistiu em entrevistas semiestruturadas com quatro homens, dois 
 31
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
acadêmicos e dois egressos3 do curso Pedagogia com idades entre 
19 e 53 anos, a atuação masculina na Educação Infantil ainda é 
polêmica. Na pesquisa, surge a ideia estereotipada que homens não 
estariam aptos para trabalhar com bebês, especialmente por nesta 
etapa do desenvolvimento as ações educativas estarem atreladas à 
higiene da criança, como trocar e dar banho, tarefas que ainda são 
culturalmente atreladas às mulheres, entretanto, vale ressaltar que 
nesta etapa o higienizar está atrelado a uma lógica de cuidado e 
educação. Outro dado importante trazido pela pesquisa, mostra 
que nenhum dos entrevistados teve interesse inicial na referida 
graduação, mas buscavam outras áreas da licenciatura.
Outra pesquisa realizada por Ferreira e Oliveira (2016) 
com três docentes homens da Educação Infantil corrobora com os 
dados já citados.Inicialmente, nenhum deles tinha como objetivo 
trabalhar na Educação Infantil, sendo esta uma atividade exercida 
pela “necessidade de trabalho” e “o que apareceu”. Novamente, a 
ideia de cuidar e educar na Educação Infantil aparece atrelado a 
figura da mulher, porém, de acordo com a pesquisa, é perceptível 
que caminha-se em direção à superação desses estereótipos de 
gênero.
Vale ressaltar que, em contrapartida, a LDB e o Referencial 
Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) (BRASIL, 
1998) não corroboram com estes pensamentos e se baseiam em 
construções histórico-sociais dos papéis dos homens e das mulheres 
e de que o homem não tem aptidão para ensinar na Educação 
Infantil, visto que em suas diretrizes não mencionam nada sobre 
o gênero do/a docente, mas sim, sobre a formação profissional 
necessária para atuar dentro destes contextos, como formação 
superior ou magistério e um profissional polivalente, capaz de 
refletir suas práticas, ensinar e aprender com seus alunos.
3 Inicialmente, as autoras pretendiam fazer a coleta de dados com professores homens 
que estivessem atuando na Educação Infantil, contudo, no município da pesquisa, 
não havia a presença de tais profissionais.
32 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
Práticas discursivas e comportamentos versus criança assexuada 
Como categoria de análise percebeu-se que, dos oito artigos 
analisados, todos apresentam as narrativas destinadas às crianças e 
evocadas pelos/as docentes que, por diversas vezes, traziam consigo 
a desigualdade de gênero e, por consequência, o machismo, 
reproduzindo padrões de discurso normativo referente a cultura 
de gênero presente em seu cotidiano. Essa reprodução é fruto das 
vivências pessoais e da falta de suporte técnico observada dentro 
do ambiente escolar da Educação Infantil sofrida pelos/as docentes 
(SCHINDHELM, EVANGELISTA, 2013 SILVA et al., 2015; 
SCHINDHELM; HORA, 2016; SILVA, 2017; CIRIBELLI; 
RASERA, 2019; BATISTA; NAKAYAMA, 2021; CÓLIS; 
SOUZA, 2020; PEREIRA; OLIVEIRA, 2021).
Estas narrativas condizem com o que é imposto 
socialmente como característico de masculinidade e feminilidade, 
ou seja, determinados comportamentos e falas são esperados em 
determinado gênero. Vale ressaltar que gênero, segundo Bourdieu 
(2002), de acordo com a teoria feminista, seria uma construção 
histórica, social, educacional e cultural de papeis, identidades, 
características e valores atribuídos a mulheres e homens. Nesse 
sentido, se apresenta também como um princípio de divisão 
social, em que homem e mulher encontram-se em pólos opostos 
como, por exemplo, a destinação da palavra forte para o homem 
e fraco para a mulher. Fazendo surgir uma simbologia divisória 
entre masculinidade e feminilidade, ambas atreladas ao poder que 
desempenham. 
As relações de poder dizem sobre identidade e diferença, elas 
demarcam fronteiras, classificam e, consequentemente, por uma 
hierarquia, advêm noções de valor. Todo esse encadeamento, de 
acordo com Silva (2004), culmina em processos de normatização 
que irão selecionar uma determinada identidade padrão à qual 
todas as outras serão hierarquizadas e avaliadas. 
A simbologia e os processos de normatização aparecem 
dentro das práticas dos/as docentes da Educação Infantil, ora através 
 33
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
de frases que induzem o pensamento da polaridade, em que meninos 
são vistos como mais agressivos e enérgicos e as meninas como mais 
gentis e calmas, ora através de comportamentos repressivos como, 
por exemplo, um olhar de reprovação quando uma menina grita 
ou quando um menino expressa o desejo de brincar de boneca 
ou a separação dos banheiros por cores: rosa, para meninas, e 
azul, para os meninos. Esses discursos e comportamentos, que 
por si só já trazem uma informação, mesmo que sem a utilização 
de palavras, colaboram para que as polarizações continuem a 
aparecer e, portanto, fixam a simbologia entre a masculinidade e 
a feminilidade indo contra a educação não sexista proposta pelo 
RCNEI (BRASIL, 1998) e pelas Diretrizes Curriculares Nacionais 
para a Educação Infantil (DCNEI) (BRASIL, 2009).
Ciribelli e Rasera (2019) comentam que é preciso pensar em 
como as narrativas de gênero devem aparecem em ambiente escolar 
pela compreensão de que as crianças criam sentidos referentes ao 
dualismo de gênero quando há, em seus relacionamentos com 
pais, docentes e demais familiares, a legitimação de marcadores de 
gênero. Além disso, a identidade, segundo Silva (2004), é instável, 
fragmentada, inacabada, por vezes, contraditória e está ligada às 
estruturas narrativas, discursivas e aos sistemas de representação. 
Logo, a escola, além de democratizar o conhecimento, retém uma 
parte da responsabilidade de possibilitar a experiência de formação 
do sujeito em todos os sentidos, incluindo as questões de gênero.
Ademais, em todos os artigos analisados, as crianças foram 
vistas como seres assexuados, sem desejos e quaisquer demonstrações 
de sua sexualidade devem ser controladas e, mais uma vez, postas 
dentro do que é considerado politicamente aceitável. Assim, 
enquanto o gênero é compreendido como as diferenças construídas 
socialmente entre o que é considerado masculino e feminino, 
a sexualidade é vista como as diversas maneiras de experienciar 
prazeres e desejos através de um conjunto de identidades, 
comportamentos, crenças e relações construídas e modeladas pela 
história, isto significa que, não estão somente relacionadas a ideia 
do indivíduo, mas precisam ser entendidas dentro de um contexto 
34 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
cultural e social (WEEKS, 2000; LOURO, 2007; LOURO, 2008). 
Ademais, para Foucault (1977) a sexualidade é vista como uma 
construção social relacionada ao poder e à regulação.
A sexualidade, independentemente da idade, sempre foi e 
é vista com alguns preconceitos e tabus que acabam por dificultar 
pais e educadores de lidar de forma assertiva com as manifestações 
dela, principalmente durante a infância. É importante salientar 
que, antes mesmo de nascermos, a sexualidade já está presente em 
nosso viver. Para a autora Silva (2019, p. 17):
Antes mesmo de nascermos, a sexualidade está presente. 
Ela se inicia no exercício da maternidade, aliás muito antes, 
quando surge o desejo de ter um filho, quando o embrião foi 
fecundado numa relação sexual [...]. A partir do momento 
em que descobrem que estão esperando um bebê, inicia-se, 
no imaginário materno e paterno, a constituição deste sujeito.
Posterior a isso, a autora comenta que a imaginação toma 
forma, imagina-se um menino ou uma menina, qual a cor dos 
olhos, entre outras idealizações. Essas idealizações vão de encontro 
com as marcas culturais relacionadas a sexualidade, na construção 
de gênero e preconcepções já podem ser vistas. As idealizações 
também dão espaço a sexualidade, no sentido de que esta segue 
sendo construída a partir das primeiras experiências afetivas do/a 
bebê, seja com mãe, pai e/ou cuidador/a.
Isso traz a reflexão de que geralmente a criança é vista sob 
os olhos e o mundo dos adultos, onde demonstrar sua sexualidade 
não é permitido e, caso ela apareça, estará envolvida num estado 
de reprovação, por parte dos adultos. Porém, a visão de mundo de 
uma criança é diferente da de um adulto; sob sua perspectiva não 
há preconceitos, reprovações ou censuras referentes à sua existência. 
Para Delgado e Müller (2005), as crianças dão significados ao 
mundo de uma forma específica à realidade infantil, ou seja, a 
partir de uma lógica própria que é diferente daquela dos adultos. 
Ainda, de acordo com Ribeiro (2006), as brincadeiras sexuais são 
formas lúdicas adotadas pelas crianças para lidar com seus corpos 
e com os dos outros, nas quais há representações de sexualidade 
 35
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
influenciadas por concepções de gênero (CIRIBELLI; RASERA, 
2019). 
Para Silva (2019), a forma como a criança compreendeo 
mundo se dá por meio das fantasias, uma forma não tão elaborada 
ou amadurecida de pensamento. As fantasias são concretizadas 
por intermédio das brincadeiras e jogos. Ao brincar elas vivenciam 
seus conflitos, expressam sentimentos, desejos e vivem na fantasia 
diferentes papéis, incluindo aqui os identificatórios de gênero. Além 
disso, ao contrário do que muitos adultos pensam, o brincar e a 
curiosidade sexual são indicativos de um desenvolvimento infantil 
sadio e criativo
Ademais, a forma como as crianças costumam lidar com 
algo relacionado à diversidade de orientação sexual, gênero ou 
identidade, foi conferida por Ciribelli e Rasera (2019) através de dois 
movimentos: testagem e exploração. No movimento de testagem 
havia a investigação e testagem referente à diversidade que os 
observadores, e também autores do artigo, apresentavam, partindo 
de um estranhamento até chegar a uma conclusão particular. Já 
no movimento de exploração, as crianças procuravam entender a 
diferença entre a diversidade de forma exploratória, pesquisando, 
mas sem hipóteses claras. Assim, quando as crianças percebiam 
algo dentro do âmbito da diversidade e diferença sexual como um 
dos observadores usando piercing, por exemplo, elas buscavam 
entender esses elementos das duas formas citadas anteriormente, 
logo, a partir de determinado receio e cautela – testagem, ou a 
partir de espontaneidade e tranquilidade – exploração. 
Em suma, identidade e gênero são conceitos importantes 
quando conversamos sobre a sexualidade e a educação infantil. A 
partir desses conceitos, a sexualidade deixa de ser pensada como 
algo apenas biológico e passa a ser associada aos processos sociais 
de construção da identidade a partir de normas culturais de gênero. 
Assim, os conceitos de identidade e de diferença não podem ser 
vistos de forma separada, pois são mutuamente determinados e 
resultados da linguagem (SILVA, 2004).
36 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
Desta maneira, é necessário que haja uma visão pluralista, 
um ambiente acolhedor e estimulante com espaço para a imaginação 
das crianças e elaboração de suas fantasias. Aos/às docentes, indica-
se compreender a forma como a criança percebe o mundo, aceitar 
que há sexualidade naquele ser e, principalmente, entender sobre 
as questões de gênero, para que elas possam ser trabalhadas em sala 
de aula e, a partir daí, possibilitar o exercício de uma sexualidade 
de forma saudável e não censurável como foi observado nos artigos 
analisados.
O (des)preparo e (des)amparo técnico do/a docente: enfrentando 
desafios 
Na presente categoria de análise, percebeu-se que em seis dos 
oito artigos analisados, estiveram presentes aspectos relacionados 
às diferentes dificuldades/empecilhos dos/as docentes em trabalhar 
as temáticas relacionadas à sexualidade e gênero (BATISTA; 
NAKAYAMA, 2019; CIRIBELLI; RASERA, 2019; CAVALEIRO, 
2006; PEREIRA; OLIVEIRA, 2016; SCHINDHELM; 
EVANGELISTA, 2013; SCHINDHELM; HORA, 2016). 
Nesta tópica, propõe-se a discussão de aspectos que 
envolvem o (des)preparo e o (des)amparo de docentes na Educação 
Infantil, bem como alternativas de intervenções que possibilitem o 
trabalho com crianças acerca das temáticas relacionadas ao gênero 
e sexualidade.
Neste contexto, faz-se pertinente retomar o conceito de 
gênero. Pereira e Oliveira (2016) consideram que a referida palavra 
remete às diferentes formas as quais as pessoas vivem e convivem 
socialmente os sexos feminino e masculino. Afirmam que estes 
modos são aprendidos nos espaços sociais por meio da cultura, 
sejam eles espaços institucionais ou não.
Faz-se importante retomar que a instituição escolar atua como 
um dos ambientes mais importantes nessas aprendizagens, já que, 
conforme Batista e Nakayama (2019), a Educação Infantil marca 
 37
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
o primeiro convívio social mais amplo das crianças, viabilizando a 
convivência com diferenças que, muitas vezes, não são conhecidas na 
família. Na escola, as crianças têm um espaço próprio e coletivo de 
educação para viver a infância, construir conhecimento e produzir 
cultura. Assim, é preciso que sejam respeitadas como sujeitos 
históricos e de direitos em todas as dimensões, oportunizando a 
elas a possibilidade de aprender a conviver com valores e regras 
estabelecidas, interagindo e participando de construções sociais.
 Desta forma, é imprescindível discutir a temática 
acerca do preparo/aporte tanto teórico quanto vivencial de docentes 
para trabalhar questões de gênero com as crianças no âmbito escolar. 
Batista e Nayakama (2019) afirmam que é necessário atentar às 
práticas dos/as docentes que, muitas vezes, passam despercebidas, 
e que expressam e reproduzem concepções preconceituosas. 
Considerando que o ambiente escolar é um importante espaço 
de desconstrução de comportamentos estereotipados, é de suma 
importância que questões de gênero sejam trabalhadas, com o 
intuito de promover práticas educativas que não sejam de cunho 
discriminatório desde a primeira infância.
Segundo Schindhelm e Hora (2016), as crianças vivenciam 
experiências e também fazem perguntas acerca das temáticas de 
gênero e sexualidades que, muitas vezes, deixam grande parte da 
equipe escolar em situações constrangedoras. Nestes momentos, os/
as docentes podem entrar em conflito com o seu desconhecimento, 
com a sua cultura, com os seus medos sobre sexualidades ao serem 
confrontados pelas crianças em suas curiosidades e lógicas tão 
peculiares. Infere-se que esses são temas que comumente aparecem 
nos currículos como situações/problemas que precisam ser 
discutidas e pensadas, considerando as demandas da comunidade 
escolar como um todo.
Conforme os mesmos autores, uma das omissões nos 
currículos da Educação Infantil refere-se às questões de gênero 
e sexualidades, uma temática que é ainda considerada um tabu 
em diversos ambientes. Não é a escola o único espaço em que 
esses problemas se apresentam; é onde eles se reproduzem como 
38 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
circunstâncias acerca daquilo que acontece na vida dos sujeitos 
sociais. Sendo assim, os/as docentes, muitas vezes, sentem-se 
desprovidos e pouco informados acerca dos saberes e experiências 
que possibilitem prepará-los para melhor conviver com as temáticas 
das sexualidades no contexto escolar.
Ciribeli e Rasera (2019) e Cavaleiro (2006), afirmam que 
a escola é compreendida enquanto uma instituição social que 
tem papel fundamental no processo de construção de questões 
relacionadas ao gênero e à sexualidade, visto que é um importante 
local de convivência no qual as crianças desenvolvem-se socialmente. 
Contudo, apesar dos avanços nas discussões teóricas acerca das 
temáticas de gênero e sexualidade, as escolas ainda parecem ocupar 
um espaço conservador que visa controlar aquilo que foge da 
normatização hegemônica da construção da sexualidade. Assim, 
muitas vezes, o espaço escolar acaba por tornar-se uma ferramenta 
que impulsiona a normatização da heterossexualidade, além de 
determinar uma posição dicotômica de gênero.
Para Junqueira (2009), a escola é elemento primordial 
no combate de mecanismos que identificam as normas sociais 
na heterossexualidade. Ademais, ela representa a possibilidade 
de convivência, produção e transmissão de conhecimentos e 
o aprendizado de valores, crenças, representações e práticas 
relacionados a preconceitos, discriminações e violências de ordem 
racista, sexista, misógina e homofóbica. 
Schindhelm e Evangelista (2013) apontam que o 
conhecimento é uma construção coletiva e um produto cultural. 
Assim, cabe ao adulto intermediar as relações das crianças 
considerando os elementos culturais e promovendo trocas e 
descobertas que possibilitem a integração de diferentes áreas do 
conhecimento, inclusive àquelas que tangem os temas de gênero e 
sexualidade.
Desta forma, ainda segundo as mesmas autoras, destaca-se 
a importância das temáticas gêneroe sexualidade serem destacadas 
no contexto escolar, considerando que a mesma precisa ser refletida 
 39
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
pelos/as educadores de modo a desmistificar os desconhecimentos 
e os preconceitos sexuais presentes nas práticas docentes além da 
necessidade da busca por novas concepções que envolvam aspectos 
vivenciados sobre gênero e sexualidade, no exercício da profissão, 
como estratégias que propiciem a melhoria do processo de formação 
docente, levando em conta a construção de novas possibilidades de 
discursos como também de práticas educativas.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) considera 
o “brincar” uma ação que se relaciona com uma das principais 
formas de aprendizagem para as crianças, principalmente as da 
Educação Infantil. Por meio do brincar, possibilita-se a ampliação 
e diversificação de conhecimentos, da imaginação, criatividade, 
experiências emocionais, corporais, sensoriais, cognitivas, sociais 
também relacionais. Desta forma, a criança pode expressar-se de 
forma livre, tendo a oportunidade de conhecer-se e desenvolver-
se a fim de que se torne alguém que possa viver em liberdade, 
considerando e desbravando as diferentes possibilidades de ser no 
mundo.
Considerações finais 
 Percebeu-se através da análise da BNCC que apesar de 
constar sobre a temática da diversidade, as informações são bastante 
vagas, tornando dificultoso o direcionamento dos/as docentes para 
que estes possam trabalhar e aplicar estas questões em sala de aula. 
Também foi percebido que as mulheres estão em maior 
número enquanto docentes na Educação Infantil, isso ocorre por, 
nesta etapa, o educar e o cuidar estarem atrelados e, historicamente, 
atribuídos à figura feminina. Desta forma, é possível compreender 
que existe uma visão generificada de quem pode ocupar o espaço da 
docência, isso corrobora com a necessidade de se pesquisar gênero 
na Educação Infantil, buscando expandir as amarras de gênero.
Verificou-se também que as práticas discursivas e narrativas 
dos/as docentes modelam o aprendizado infantil com base nas 
40 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
vivências e práticas cotidianas no contexto escolar. Ainda, a 
sexualidade da criança é negada, compreendendo a mesma como 
um ser assexuado. Por meio de falas e comportamentos, docentes 
reproduzem práticas e modelos pré-existentes através da cultura e 
do social, criando normas a serem seguidas, na maioria das vezes 
impostas aos/às alunos/as. 
Ademais, destacam-se questões relacionadas ao despreparo 
técnico dos/as docentes para integrarem as temáticas relacionadas 
à sexualidade e gênero em suas práticas pedagógicas. Para tanto, 
entende-se enquanto necessária a expansão de suportes, bem como 
formação inicial e continuada de docentes para que os mesmos/as 
possam estar preparados/as para uma educação libertadora e não-
opressora.
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Capítulo 2
Gênero e saúde no Ensino Médio: os desafios da 
pesquisa em tempos de pandemia
Náthaly Zanoni Luza
Eliane Cadoná
Considerações iniciais
Estes escritos estão articulados ao projeto de pesquisa intitulado “Práticas discursivas e produção de sentidos 
sobre Gênero e Saúde no Ensino Médio: Percepções Docentes”, 
que integra um projeto maior, desenvolvido por intermédio do 
Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU) da URI – 
Campus de Frederico Westphalen e do Curso de Psicologia cujo 
objetivo consiste em investigar os discursos sobre Gênero e Saúde 
presentes nos documentos da Base Nacional Comum Curricular 
(BNCC) e no planejamento da escola. 
Aqui, descreveremos nossas experiências, na condição de 
pesquisadoras, junto ao sub-projeto intitulado Práticas discursivas e 
produção de sentidos sobre Gênero e Saúde: com a palavra, professores/
as do Ensino Médio, desenvolvido no período de agosto de 2019 a 
dezembro de 2020. Nesta parte do estudo, nosso objetivo consistiu 
em investigar sentidos de Identidade de Gênero, Orientação Sexual e 
Saúde exercitados por professores e professoras do Ensino Médio de 
uma cidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, a fim de 
evidenciar e problematizar os possíveis desdobramentos desses nos 
processos de subjetivação dos/as estudantes.
Para tanto, o método de investigação e coleta de dados 
escolhido foi a entrevista semiestruturada, que seria realizada de 
modo presencial com os/as professores/as selecionados a partir dos 
dados fornecidos pelas escolas. Contudo, em virtude da Pandemia 
46 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
de Covid-19 que se estabeleceu em março de 2020, ocasionando 
medidas de isolamento social, as etapas de coleta e análise dos 
dados foram inviabilizadas, uma vez que o projeto precisou ser 
retificado através de emenda para que pudéssemos dar seguimento 
de maneira remota. 
Ainda assim, após submissão da emenda que altera o método 
de coleta dos dados e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 
(TCLE), bem como posterior autorização do Comitê de Ética para 
darmos sequência à pesquisa, o contato com as escolas manteve-
se inviável diante das restrições dos protocolos de segurança, que 
mantiveram tais espaços fechados e os/as educadores/as trabalhando 
em suas casas. 
Embora o Comitê de Ética em Pesquisa o qual foi submetida 
a emenda autorizou a realização das entrevistas de forma on-line, 
por intermédio do Google Meet, os contatos com as escolas não 
obtinham sucesso e, quando um diálogo se iniciava, o pedido das 
mesmas era de deixar, por ora, a organização do espaço e da equipe 
se reestabelecer de modo presencial para que, então, fosse possível 
passar a logística de professores/turmas. Tal intermediação, por 
parte das secretarias e direção das escolas, que nos parecia, em um 
primeiro momento, tão possível e simples na realidade, juntando-
se ao montante de atividades e readaptações no campo da educação 
nos fez perceber que aquele não era o momento de insistir para 
que houvesse o fornecimento de dados que, segundo alguns locais, 
exigiria tempo da parte deles para ser compilado. Em outros casos, 
os contatos com as escolas não tiveram êxito, mesmo via telefone. 
Algumas equipes reuniam-se esporadicamente, em dias específicos, 
e o foco era somente na passagem das atividades remotas aos e às 
alunas. 
Diante disso, redirecionamos nosso cronograma das 
atividades desenvolvidas durante o ano pelo grupo de pesquisa, 
como a criação de um grupo de leitura sobre Gênero e nos 
aprofundamos teórica e metodologicamente com os pressupostos 
da pesquisa Construcionista. . 
 47
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
Ressaltamos que o grupo de leitura tinha como intuito 
movimentar as problematizações, dentro e fora do espaço acadêmico, 
sobre Gênero e Sexualidade, à medida que propunha uma discussão, 
com base nos quatro volumes da História da Sexualidade, escritos 
por Michel Foucault. Entendemos que a situação instaurada, em 
função da pandemia, não podia nos impedir de movimentar ações, 
frutos de estudos consolidados dentro do grupo de pesquisa.
Os aprofundamentos teóricos, em especial no que tange às 
ferramentas teórico-metodológicas também serviram para rebuscar 
as articulações entre o método e a futura pesquisa a campo. 
A criatividade como ferramenta de continuidade
O ano de 2020, considerado “atípico”, demandou novas 
formas de organização tanto na esfera individual quanto na coletiva. 
Na pesquisa, nos deparamos com as limitações de cronogramas 
e objetivos já definidos, e, ainda, com a demanda de adaptação 
aos meios tecnológicos que, até então, não eram ferramentas tão 
necessárias para o andamento da pesquisa. Entretanto, o papel da 
metodologia científica, conforme Goldenberg (2007) é exatamente 
o de nos proporcionar reflexões e lançar um novo olhar sobre o 
mundo, permitindo essa familiarização com o desconhecido. Esse 
olhar nos exige curiosidade, indagações e, principalmente nesse 
contexto, criatividade. 
 Em seu livro A arte de Pesquisar, a autora discorre sobre 
a imprevisibilidade da pesquisa, ainda que nós, pesquisadoras/
es, construamos um cronograma com início, meio e fim. 
(GOLDENBERG, 2007, p. 13). Nesse sentido, ela exige 
criatividade, disciplina, organização e um confronto constante com 
o que é possível, com nossas limitações, até onde conhecemos e 
até onde conseguimos assumir nosso desconhecimento diante de 
algumas questões. 
Anteriormente as ciências se pautavam em um modelo 
quantitativo de pesquisa, em que a veracidade de um estudo 
era verificada pela quantidade de entrevistados. Muitos 
48 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
pesquisadores, no entanto, questionam a representatividade 
e o caráter de objetividade de que a pesquisa qualitativa se 
revestia. É preciso encarar o fato de que, mesmo nas pesquisas 
quantitativas, a subjetividade do pesquisador está presente. 
(GOLDENBERG, 2007, p. 17).
 Nesse sentido, a autora reflete sobre a pesquisa enquanto 
um lugar de possibilidades no qual podemos nos beneficiar e criar 
formas de praticá-la. Ao longo da história do fazer científico, a noção 
de subjetividadee do real papel dos/as pesquisadores/as enquanto 
seres implicados com seu local e objeto de pesquisa foram sendo 
desmistificados e afastados das ideias de neutralidade e objetividade 
herdadas da ciência ortodoxa. 
 Haja vista a necessidade de nos reinventarmos nesse ano 
– dada a impossibilidade de irmos a campo realizar a coleta de 
dados e, ainda, a necessidade de aguardarmos a autorização para 
alterarmos o método de coleta - redirecionamos nossas práticas 
enquanto grupo de pesquisa e assumimos a necessidade de ter que 
lidar com o inusitado, com aquilo que desestabiliza e que mostra 
que realizar uma pesquisa qualitativa implica em conscientizar-se 
de que, parafraseando Paulo Freire, o caminho metodológico é, 
sem dúvida, construído e reconstruído em meio ao processo.
Fortalecendo a base teórico-metodológica
Considerando os objetivos dessa pesquisa, a obra de 
Foucault é introdutória para qualquer discussão sobre as questões 
de sexualidade, principalmente porque esse tema foi e é atravessado 
por conceitos sob os quais o autor se dedicou em seus escritos, 
como o lugar do simbólico e as relações de poder que formam os 
jogos institucionais e, ainda, a análise discursiva.
Para Foucault, nada há por trás das cortinas, nem sob o chão 
que pisamos. Há enunciados e relações, que o próprio discurso 
põe em funcionamento. Analisar o discurso seria dar conta 
exatamente disso: de relações históricas, de práticas muito 
concretas, que estão vivas nos discursos. (FISCHER, 2001, p. 
198).
 49
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
As noções sobre sexualidade sempre estiveram relacionadas 
à “natureza humana”. Partindo desse princípio, discuti-la sobre os 
aspectos sociais e políticos, ou, ainda, enquanto algo construído 
por nós, homens e mulheres, sujeitos sociais, torna-se um desafio 
na medida em que todas as concepções anteriores estão atreladas 
aos corpos e à ideia de universalidade produzida e fomentada pelas 
Ciências durante muito tempo. (LOURO, 2000). 
As muitas formas de fazer-se mulher ou homem, as várias 
possibilidades de viver prazeres e desejos corporais são 
sempre sugeridas, anunciadas, promovidas socialmente (e 
hoje possivelmente de formas mais explícitas do que antes). 
Elas são também, renovadamente, reguladas, condenadas 
ou negadas. Na verdade, desde os anos sessenta, o debate 
sobre as identidades e as práticas sexuais e de gênero vem se 
tornando cada vez mais acalorado, especialmente provocado 
pelo movimento feminista, pelos movimentos de gays e de 
lésbicas e sustentado, também, por todos aqueles e aquelas 
que se sentem ameaçados por essas manifestações. (LOURO, 
2000, p. 4). 
 A discussão sobre sexualidade também envolve compreender 
os rituais, linguagens, fantasias, representações, símbolos e 
convenções que se constituem enquanto processos profundamente 
culturais e estão atrelados à pluralidade. Nesse sentido, nada do que 
habita esse terreno pode ser considerado exclusivamente natural, 
principalmente quando falamos sobre corpos e a produção de 
sentidos que circulam em torno do modo como o entendemos e 
narramos. 
 Louro (2000) entende que através dos processos culturais 
é que definimos o que é e o que não é natural. A partir deles, 
produzimos e transformamos a natureza e a biologia de modo que 
as tornamos históricas. 
Os corpos ganham sentido socialmente. A inscrição dos 
gêneros — feminino ou masculino — nos corpos é feita, 
sempre, no contexto de uma determinada cultura e, portanto, 
com as marcas dessa cultura. As possibilidades da sexualidade 
— das formas de expressar os desejos e prazeres — também são 
sempre socialmente estabelecidas e codificadas. As identidades 
50 
Bibiana Terra | Nariel Diotto | Roana Funke Goularte
de gênero e sexuais são, portanto, compostas e definidas por 
relações sociais, elas são moldadas pelas redes de poder de uma 
sociedade. (LOURO, 2000, p. 6).
 Em sua obra, Foucault (1988) discute a sexualidade 
enquanto um dispositivo histórico. Isso significa que ela é uma 
construção/invenção social constituída por diversos discursos sobre 
o sexo. Esses discursos desempenham o papel de regular, normatizar, 
produzir saberes e verdades que direcionam nosso olhar, enquanto 
sociedade, sobre esse fenômeno. 
 Já no primeiro capítulo do primeiro volume, o autor fala 
sobre termos herdados, enquanto sociedade ocidental, de uma 
visão vitoriana sobre a sexualidade. Isso significa que, até o início 
do século XVII “as práticas [sexuais] não procuravam segredo; as 
palavras eram ditas sem reticência excessiva” (FOUCAULT, 1988, 
p. 8). A partir do século XIX é que passamos a tratá-la como algo 
que deveria ser contido, regulado e mantido muda. 
 Ao ser socialmente “encerrada”, passou a ser um assunto 
privado, restrito à família conjugal e à função exclusivamente de 
reprodução da espécie. Para tanto, cria-se uma ideia de família, de 
casal legítimo e, necessariamente, procriador, que detém o direito 
de falar sobre o sexo a partir desse lugar e mantê-lo sobre a hipocrisia 
do segredo doméstico. 
No espaço social, como no coração de cada moradia, um único 
lugar de sexualidade reconhecida, mas utilitário e fecundo: o 
quarto dos pais. Ao que sobra só resta encobrir-se; o decoro 
das atitudes esconde os corpos, a decência das palavras limpa 
os discursos. E se o estéril insiste, e se mostra demasiadamente, 
vira anormal: receberá este status e deverá pagar as sanções. 
O que não é regulado para a geração ou por ela transfigurado 
não possui eira, nem beira, nem lei. Nem verbo também. 
É ao mesmo tempo expulso, negado e reduzido ao silêncio. 
Não somente não existe, como não deve existir e à menor 
manifestação fá-lo-ão desaparecer — sejam atos ou palavras. 
(FOUCAULT, 1988, p. 9).
 A partir dessas práticas discursivas, o sexo foi negado 
às crianças, ou seja, estas foram proibidas de falar sobre ele e a 
 51
Diálogos de Gênero: Perspectivas Contemporâneas
sociedade passou a negar veemente suas manifestações durante 
a infância. Essa lógica, segundo o autor, denota a hipocrisia das 
sociedades burguesas, além de não se sustentar por muito tempo, 
uma vez que a repressão e o silenciamento por si só não foram 
capazes de barrar um fenômeno tão amplo.
 Desses jogos de poder, surgem as sexualidades ilegítimas 
que, conforme Foucault, precisariam buscar sua (re)inscrição 
em lugares de tolerância. Como exemplo, cita as relações entre 
prostituta-cliente e psiquiatra-histérica, que obedecem à ordem 
da produção e do lucro. Ou seja, bem longe de tudo que é feito, 
aparentemente, “em nome de Deus e da Família”1. (FOUCAULT, 
1988). 
 Diante disso, podemos pensar em como se produziram e 
se produzem determinadas verdades sobre gêneros e sexualidades, 
que hoje atravessam tanto as práticas científicas quanto as que estão 
aquém das academias em relação aos sujeitos e aos lugares que suas 
existências e corpos ocupam no mundo
Ao citar, no parágrafo anterior, uma das frases mais proferidas 
no Câmara dos Deputados durante o processo de Impeachment 
da então Presidenta Dilma Rousseff (UOL, 2016), trazemos um 
fato atual em que a primeira mulher eleita presidenta do país foi 
destituída de seu poder e sofreu constantes ataques por ser mulher. 
Durante o processo de votação, muitas narrativas foram proferidas, 
dentro e fora da Câmara, em relação ao gênero e às construções 
sociais sobre ser mulher, deixando evidente que esse foi um dos 
motivos pelos quais afastaram-na de um cargo de poder. 
Em sua obra, Foucault retoma a constituição da sexualidade 
no contexto greco-romano e as relações entre o masculino e o 
feminino em relação ao prazer. O autor busca em várias fontes 
1 A expressão refere-se à votação, em 2016, que resultou no Impeachment da ex-
presidenta Dilma Rousseff, onde “Deus” e “Família” foram citados repetidas vezes 
pela maioria dos/as deputados/as justificando seus posicionamentos políticos diante 
do processo que destituiu a primeira mulher eleita no Brasil do cargo de Presidenta 
da República.

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