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GRUPO SER EDUCACIONAL Wanderson Cruz dos Santos EDUCAÇÃO E SEXUALIDADE Educação e Sexualidade © by Ser Educacional Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. Imagens e Ícones: ©Shutterstock, ©Freepik, ©Unsplash. Diretor de EAD: Enzo Moreira. Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato. Coordenadora de projetos EAD: Jennifer dos Santos Sousa. Equipe de Designers Instrucionais: Carlos Mello; Gabriela Falcão; Isis Oliveira; José Felipe Soares; Márcia Gouveia; Mariana Fernandes; Mônica Oliveira; Nomager Sousa. Equipe de Revisores: Maria Gabriela Pedrosa. Equipe de Designers gráficos: Bruna Helena Ferreira; Danielle Almeida; Jonas Fragoso; Lucas Amaral, Sabrina Guimarães, Sérgio Ramos e Rafael Carvalho. Ilustrador: João Henrique Martins. SANTOS, Wanderson Cruz dos. Educação e Sexualidade: Recife: Grupo Ser Educacional - 2023. 092 p.: pdf ISBN: 978-65-81507-99-2 1. Educação 2. Gênero 3. Sexualidade. Grupo Ser Educacional Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro CEP: 50100-160, Recife - PE PABX: (81) 3413-4611 E-mail: sereducacional@sereducacional.com Iconografia Estes ícones irão aparecer ao longo de sua leitura: ACESSE Links que complementam o contéudo. OBJETIVO Descrição do conteúdo abordado. IMPORTANTE Informações importantes que merecem atenção. OBSERVAÇÃO Nota sobre uma informação. PALAVRAS DO PROFESSOR/AUTOR Nota pessoal e particular do autor. PODCAST Recomendação de podcasts. REFLITA Convite a reflexão sobre um determinado texto. RESUMINDO Um resumo sobre o que foi visto no conteúdo. SAIBA MAIS Informações extras sobre o conteúdo. SINTETIZANDO Uma síntese sobre o conteúdo estudado. VOCÊ SABIA? Informações complementares. ASSISTA Recomendação de vídeos e videoaulas. ATENÇÃO Informações importantes que merecem maior atenção. CURIOSIDADES Informações interessantes e relevantes. CONTEXTUALIZANDO Contextualização sobre o tema abordado. DEFINIÇÃO Definição sobre o tema abordado. DICA Dicas interessantes sobre o tema abordado. EXEMPLIFICANDO Exemplos e explicações para melhor absorção do tema. EXEMPLO Exemplos sobre o tema abordado. FIQUE DE OLHO Informações que merecem relevância. SUMÁRIO UNIDADE 1 Sexualidade como Construção Histórico-Cultural, Política e Discursiva � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 11 Gênero � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 11 Contexto Histórico � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �12 Sexualidade � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �18 UNIDADE 2 A Educação para a Sexualidade e para a Equidade de Gênero: Prevenção do Preconceito e da Discriminação, no Respeito à Alteridade � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 30 UNIDADE 3 Abordagens Pedagógicas da Educação Sexual no Brasil: Interfaces entre Gênero, Orientação Sexual e Igualdade Étnico-Racial � � � � � � 51 Estudos de Gênero e Educação em sua História, seus Conceitos e Movimentos Políticos � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � �56 UNIDADE 4 Processo de Educação Sexual existente nos Espaços Educativos Formais e Não Formais como Subsídio à Construção de uma Proposta Emancipatoria � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 69 Recursos Didático-Pedagógicos e Metodológicos para um Trabalho de Educação Sexual na Educação Infantil e no Ensino Fundamental � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � 72 Apresentação Olá, aluno (a). Tudo bem? Seja muito bem-vindo(a) à disciplina de Educação e Sexua- lidade. Aqui, estudaremos a sexualidade como construção histó- rico-cultural e discursiva, as abordagens contemporâneas sobre educação sexual, os estudos de gênero e educação com seus con- ceitos, história e movimentos políticos, a escolarização brasileira e a educação para a sexualidade e equidade de gênero. É muito bom encontrar você neste início da jornada dos estudos de educação, gê- nero e sexualidade. Para este material, trabalharemos também os recursos di- dático-pedagógicos e metodológicos para o trabalho de Educação Sexual na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, as interfaces entre gênero e orientação sexual e igualdade étnico-racial, além de perpassar pelos debates sobre as identidades culturais, preconceito, discriminação, diferença e alteridade. Dessa maneira, trabalhare- mos a partir de dois eixos: a sexualidade como construção histó- rica e social e a sexualidade como construção cultural, política e discursiva. Pensando nisso, pergunto a você: está empolgado(a) com o que está prestes a estudar? Já lhe adianto que teremos muito conteú- do a discutir e que, juntos, vamos construir esta disciplina. Para isso, é de fundamental importância a sua participação. Assim, procure ler o material fazendo o exercício de escrever sínteses para o melhor aproveitamento do conteúdo da disciplina e como uma alternativa interessante para estudar todo o conteúdo que trabalharemos. Além disso, fique atento(a) ao material interativo que acom- panha este arquivo. São vídeos, sugestões de filmes, séries, artigos científicos e trabalhos acadêmicos que contribuem para a organiza- ção do seu pensamento e servem como inspiração para a elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso – TTC para quem quiser desen- volver este tema. Mais uma vez, desejo boas-vindas a você e um ótimo estudo. Autoria Wanderson Cruz dos Santos Olá! Sou o Professor Wanderson Cruz dos Santos, Pedagogo e Mes- tre em Educação. Atuo como docente no curso de Pedagogia da graduação presencial do Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU, e na graduação à distância da UNINASSAU/Ead. Tam- bém atuo como educador social na ONG Casa Menina Mulher, no Recife, ministrando as oficinas de leitura com o foco no letramento literário, na produção textual e no reforço de alfabetização. Na pós-graduação já ministrei a disciplina de metodologia da pes- quisa, e já atuei no Ensino Fundamental I como mediador de lín- gua portuguesa pelo Programa Mais Educação – MEC com oficinas de letramento literário e alfabetização nas turmas do primeiro ao quinto ano. Desenvolvo pesquisas dentro do campo dos Estudos Culturais em Educação com interesse na perspectiva foucaultiana de Análise do Discurso. Espero contribuir com sua formação acadêmica e consequente cres- cimento profissional. Vamos em frente! Currículo Lattes UN ID AD E 1 Objetivos Pensando em como construir sua trilha de aprendizagem, apartir de agora, juntos, buscaremos: 1. Desvendar a sexualidade como uma construção sócio-histó- rica e cultural; 2. Desconstruir pré-conceitos, preconceitos e mitos ainda existentes. Vamos em frente! 10 Introdução Neste momento daremos início às nossas explanações sobre Educa- ção e Sexualidade. Para começar, estudaremos a sexualidade como construção histórica, social, cultural, política e discursiva. Pensan- do nisso, nas próximas páginas desse material discutiremos a res- peito de: 1. Gênero e sexualidade: construções histórico-sociais; 2. Sexualidade como construção cultural; 3. Sexualidade como produção política e discursiva; 4. A construção de gênero em produtos midiáticos e artefatos culturais. Pensando nisso, você está preparado(a) para nossa viagem rumo ao conhecimento? A sua participaçãoneste processo de cons- trução do conhecimento é extremamente importante. Por isso, não deixe de ler o material e estudar o conteúdo da unidade, assistir aos vídeos indicados, buscar ler os trabalhos acadêmicos propostos e tomar notas das principais informações presentes em todos esses materiais. Bons estudos! DICA 11 Sexualidade como Construção Histórico- Cultural, Política e Discursiva Uma das nossas primeiras tarefas neste primeiro momento é enten- der a diferença conceitual que há entre gênero e sexualidade. Para isso, é de fundamental importância iniciar este estudo com base no que nos escreve Guacira Lopes Louro em seu clássico Gênero, sexua- lidade e educação (2014). Fique atento(a), pois esse livro será edificante para a nossa disci- plina de Educação e Sexualidade, portanto, leia-o assim que tiver a oportunidade. Dito isto, vamos iniciar nossos estudos pela definição de gê- nero e sexualidade. Gênero De acordo com Guacira Louro (2014), gênero é uma identidade socialmente construída em um contexto histórico, portanto, constituinte da identidade dos sujeitos. Essa noção de gênero nos ajuda a entender que o fator bio- lógico não determina os processos de identificação que os indivíduos vão construindo durante a sua vida. Figura 1: Capa do livro Gênero, Sexualidade e Educação Fonte: elaborado pelo autor. DEFINIÇÃO 12 Gênero: identidade socialmente construída em um contexto histórico. Agora que já sabemos que o termo gênero está relacionado a uma identidade socialmente construída ao longo do tempo, é im- portante revisitar os principais momentos na história que nos aju- daram a chegar hoje a essa compreensão, levando em consideração a importância do movimento feminista na construção deste debate. Vamos lá! Contexto Histórico O contexto histórico dessas mudanças é o fim do século XIX e iní- cio do século XX na Europa com o movimento das Sufragistas, um grupo de mulheres que reivindicaram seus direitos à participação na vida política e social, questionando as precárias condições de traba- lho às quais estavam submetidas e exigindo o direito ao voto para as mulheres. Ao lutar por direitos iguais de cidadania, o movimen- to sufragista queria condições de existência, propriedade de bens e uma boa educação para as mulheres, semelhantes aos direitos que já estavam estabelecidos para os homens. Consideramos esse movimento social moderno por sua rela- ção com as grandes mudanças no campo do trabalho, da cultura e do Estado que foram edificando as vidas em sociedade na Europa após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. Esse foi o con- texto que provocou as primeiras manifestações das sufragistas, pois elas perceberam que estavam ocorrendo grandes transformações sociais que permitiam que mulheres e crianças passassem a traba- lhar nas grandes fábricas que, do ponto de vista do direito, não lhes garantiam condições dignas porque as consideravam mão-de-obra barata. 13 Figura 2 - Manifestação do movimento sufragista Fonte: Coletivo juntas No século XIX, ações individuais ou em grupos contra as opressões que as mulheres sofriam nos espaços sociais que lhes eram destinados se configuraram nos primeiros movimentos por direitos. A luta daquelas mulheres foi importante para combater as desigualdades de gênero, que se perpetuavam em diferentes cam- pos da esfera social, e fortaleceram a reivindicação por direitos, como o do voto e por melhores condições de trabalho e existência na vida em sociedade. Porém, foi na virada do século que ocorreu uma maior visi- bilidade dessas demandas no chamado “sufragismo”, conforme nos escreve Louro (2014), como movimento voltado para estender o direito do voto às mulheres. O movimento sufragista passou a ser reconhecido como a “primeira onda” do feminismo, cujos objetivos estavam voltados para oportunidades de estudos e acesso ao merca- do de trabalho. Foram demandas de interesse das mulheres brancas da classe média alta. O movimento do sufragismo tem seu valor histórico por ter se configurado como a primeira articulação das mulheres que perce- beram, claramente, as desigualdades que se davam na sociedade do ponto de vista de gênero. Outro ponto relevante foram as de- mandas por educação de qualidade. VOCÊ SABIA? DICA 14 No Brasil, a conquista do voto feminino só foi reconhecida em 24 de fevereiro de 1932, através do Decreto 21.076. Essa conquista, ainda que facultativa, foi incorporada à Constituição de 1934. Só em 1965 o voto feminino passou a ser obrigatório tal qual o dos homens. As- sim, é importante reconhecer que o direito das mulheres ao voto é resultado do contexto histórico que teve o presidente Getúlio Var- gas como chefe do governo provisório desde o final de 1930. Dessa maneira, o voto das mulheres é resultado de uma das pautas da Re- volução de 30 que também criou a Justiça Eleitoral e instituiu o voto secreto. Já a “segunda onda” do feminismo se inicia no final da déca- da de 1960, momento em que o movimento retoma as preocupações sociais e políticas, e passa a produzir teorias. Para além das reivin- dicações por direitos, o segundo momento vai considerar impor- tante uma entrada no meio acadêmico para discutir sobre os modos como as ciências estavam escrevendo sobre o mundo e criar suas teorias sobre como esse mundo deveria ser enxergado. É nesse contexto de muitas contestações e transformações que, na contemporaneidade, o movimento feminista reaparece pre- sente nos movimentos sociais e no campo acadêmico. Assim, hoje o movimento compreende a importância de ocupar os espaços para lutar por direitos e, também, para escrever no meio acadêmico as próprias teorias. Para que você possa mergulhar ainda mais nesse universo da luta feminina, sugiro que assista ao filme As sufragistas (2015), diri- gido por Sarah Gavron com Meryl Streep, Carey Mulligan, Helena Bonham Carter, entre outras e outros no elenco. O filme aborda a CURIOSIDADE 15 história das mulheres que tiveram força para enfrentar seus limites ao lutar por igualdade e pelo direito ao voto. É um ótimo filme para perceber o início da luta do movimento feminista e os seus métodos de batalha que, com o aumento da agressão da polícia, possibilita- ram às mulheres se rebelarem em público. Como legado das transformações nos Estudos Feministas, no final dos anos de 1980, aqui no Brasil as feministas passaram a utilizar o termo gênero. Tomaz Tadeu da Silva (2017) vai nos es- crever que a crescente visibilidade do movimento feminista con- tribuiu para que as perspectivas críticas em educação atribuíssem importância da categoria gênero na produção das desigualdades. De acordo com Silva (2017), aparentemente, a palavra “gênero” foi utilizada pela primeira vez em 1955 pelo biólogo John Money para expressar os aspectos sociais do sexo. Caro(a) aluno(a), você já ouviu falar em Carlota Pereira de Quei- rós? Ela foi a primeira mulher brasileira eleita deputada federal em 1933, nas eleições para a Assembleia Constituinte, pelo Estado de São Paulo. Formada em medicina, foi chefe do laboratório de clínica pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo. Em 1933, quan- do foi eleita, era a única mulher entre os 254 deputados e teve seu mandado prorrogado em 1934, após a promulgação da Constituição, até 1937. EXEMPLO 16 Figura 3 - Carlota Pereira de Queirós Fonte: TRE-RS. Além disso, Louro (2014) vai nos escrever que é importante demostrar que não são propriamente as características sexuais, mas a forma como elas são representadas ou valorizadas, o que se diz sobre elas, o que se pensa, o que se fala sobre cada uma delas, em cada sociedade e em um contexto histórico, como algo que edifica o que é feminino ou masculino. O que essa autora está nos dizendo é que as identidades de gênero vão sendo tecidas em diferentes narrativas que circulam na sociedade, ou seja, o que se diz sobre ser mulher ou ser homem constrói as mulheres e os homens. Por isso passamos a compreen- der gênerocomo identidade cultural. Basta observarmos a forma como as lojas de brinquedos dividem seus espaços por brinquedos e segmentos pela lógica brinária. Olhar as caixas dos brinquedos também é bem cuiroso porque elas repre- sentam o mesmo padrão de comportamento da sociedade. Não é comum vermos meninos em caixas de brinquedos socialmente des- tinados para meninas, tampouco meninas estampando caixas de brinquedos socilamente escolhidos para os meninos. DEFINIÇÃO REFLITA 17 Binário de gênero: toda classificação da identidade de gênero e se- xualidade em duas formas distintas. Assim, o olhar binário enxerga apenas a mulher (feminino) e o homem (masculino). Ao compreender que a identidade de gênero é resultado de um produto cultural, passamos a exercitar o olhar para as formas e as representações dessas identidades em diferentes produtos cul- turais. Mas, como estão posicionadas as mulheres nos filmes, nas novelas, na literatura? E os homens, como aparecem posicionados nessas mesmas narrativas? O que a publicidade diz sobre ser mulher e sobre ser homem? Você já parou para pensar que os produtos mídiátios, filmes, publi- cidade, séries, dentre outros, são produções carregadas de inten- cionalidade e fazem parte da nossa cultura em diferentes aspectos? Pensando nisso, é importante refletirmos sobre como as identidades de gênero e sexulidade aparecem representadas nesses produtos. Olhar como se dá a representação da mulher nas novelas, qual po- sição ocupam nesses espaços. Além disso, é preciso parar e pensar: como a publicidade constrói as funções de ser homem e de ser mu- lher nos veículos midiáticos? Há diferença entre entre as expressões de afeto entre casais heterosexual e casais LGBTQIA+ nos produtos midiáticos que estão disponíveis para as grandes massas? Por que a publicidade que circula nos progamas de televisão ditos feminios não é a mesma que circula no jornal noturno? As diferentes respostas para essas provocações são carre- gadas de enunciados discursivos que vão dizendo como cada uma DEFINIÇÃO 18 dessas identidades deve ser ou estar no mundo. Mas, para seu co- nhecimento, vamos considerar o discurso da perspectiva do filóso- fo francês Michel Foucault (1926-1984) como algo que produz algo novo sem deixar de apresentar também elementos velhos, fruto de relações de poder que operam pelo saber, assim, ele cria uma ma- terialidade que tem sempre uma vontade de verdade (FOUCAULT, 2008). Agora que já contextualizamos a noção de gênero, passare- mos ao conceito de sexualidade. Vamos lá! Sexualidade Inserida no campo dos desejos, a sexualidade se refere às escolhas singulares que cada pessoa faz para se relacionar com outra, por- tanto, ela é elaborada nas relações sociais como a identidade de gênero. Há identidades sexuais que sempre ocuparam lugares de prestígios na sociedade, a exemplo da heterossexualidade, já outras identidades constantemente estão sob risco de vida simplesmente pelo fato de existirem e se expressam como são, basta observarmos os ataques que a população LGBTQIA+ sofre constantemente. É importante considerar que a diversidade sexual é algo que sempre fez parte da história da humanidade, porém, há grupos que estão em situação de vulnerabilidade pelo simples fato de existirem na sua diversidade sexual. Esses grupos minoritários compõe a sigla LGBTQIA+. A sexualidade está relacionada com as escolhas singulares que cada pessoa faz para se relacionar com outra, portanto, é elaborada nas relações sociais. CURIOSIDADE VOCÊ SABIA? 19 A história da sigla LGBTQIA+ começa nos anos de 1970 atra- vés dos movimentos homossexuais no Brasil e em outros países. No início a sigla se referia a GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) que se estendeu por aqui até os anos de 1990. A partir de 1993 a sigla pas- sou a ser chamada de GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) que logo depois passou a ser LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero). Em 2018 a Juntas Codeputadas foram eleitas com mais de 39 mil vo- tos para sua primeira mandata coletiva e feminista a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Pernambuco, a Alepe. Elas tra- zem o senso de coletividade e participação política de pessoas diver- sas. Usam o termo ‘mandata’ como reivindicação e desobediência à gramática que consideram misógina por colocar o masculino na posição de privilégio e buscam, assim, marcar a sua referência fe- minista e promover uma reflexão na sociedade para a pouca visibi- lidade das mulheres nos espaços políticos. Só após a 1ª Conferência Nacional GLBT, no Brasil em 2008, que a sigla LGBT começou a fazer parte do debate e, com a adoção dela, outras identidades e orientações sexuais foram inseridas ao longo dos anos até chegar a LGBTQIA+. A sigla LGBTQIA+ significa: Lésbica, Gay, Bissexuais, Travestis, Queer, Intersexuais, Assexual, + para outras siglas e identidades que fazem parte do movimento, como pessoas não binárias, panse- xuais, dentre outros. A junção de todas essas letras na composição dessa sigla é de extrema importância para entendermos sobre a di- versidade sexual e, assim, aprender e respeitas as diferenças. REFLITA DICA 20 É importante compreendermos um pouco da história da sigla LGBTQIA+ porque cada uma de suas letras representa uma identi- dade diferente das outras, com suas demandas singulares, fruto de lutas históricas. Além disso, a sigla abrange as possíveis manifes- tações de sexualidade, levantando a importância do respeito para cada identidade que as suas letras representam. As manchetes dos jornais nos últimos anos vem indicando que há um aumento de crimes contra a população LGBTQIA+ no Brasil. Essa infeliz realidade é resultado de uma intolerância da diversi- dade sexual que sempre fez parte da humanidade. Não poderemos mais aceitar, enquanto sociedade, que as vidas das pessoas sejam interrompidas ou que outras agressões físicas pelo simples fato de- las existirem no mundo como são. Crimes contra a população LGB- TQIA+ devem ser denunciados sempre. Para que você amplie seus conhecimentos, sugiro que assista a série Pose (2018) com MJ Rodriguez, Billy Porter, Indya Moore, Ryan Ja- maal Swain, entre outras e outros no elenco. Essa premiada série se passa na Nova York no final dos anos de 1980, época em que ocorre o surgimento dos bailes LGBT. Blanca (MJ Rodriguez) abriga em sua casa jovens LGBT que foram expulsas e expulsos de suas casas, for- mando, assim, uma nova família que deseja vencer os campeonatos dos bailes. A série também traz debates sobre HIV/Aids, entre outros temas relacionados aos modos de vida LGBT do final do século XX. DICA DICA 21 Você pode organizar seus horários para assistir ou ouvir o material aqui sugerido em horários alternativos entre um estudo e outro. Re- serve um tempo para assistir aos vídeos no mesmo intervalo em que faz uma refeição ou quando tiver um tempo de folga. Agora que já temos as definições de gênero e sexualidade, vamos discutir um pouco mais sobre essas categorias para apro- fundarmos o nosso estudo. Para tanto, veremos algumas pesquisas feitas no campo da educação cujos debates sobre gênero e sexuali- dade nos ajudarão a concretizar os conhecimentos sobre essas ca- tegorias como construção história, cultural, política e discursiva. Assim, o objetivo é que possamos ampliar os nossos olhares para este debate através dos diferentes objetos empíricos estudados pe- las pesquisadoras e pelos pesquisadores. Vamos lá! Uma das principais fontes de inspiração para a construção do Tra- balho de Conclusão de Curso (TCC) são os temas das disciplinas que mais gostamos no curso. Pensando nisso, é importante começar fazendo a revisão da literatura e as principais bases de dados para essa investigação são: site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); o Google Acadêmico e o site da Scientific Electronic Library Online (SciELO). Lembre-se que um trabalho de TCC bem feito deve apresentaruma boa revisão da literatura. Dito isso, a partir de agora trarei dicas de leitura para que você possa ampliar seus conhecimentos. DEFINIÇÃO 22 Caro(a) aluno(a), O primeiro estudo que veremos é o artigo de Rosângela Tenó- rio de Carvalho, pesquisadora do campo da educação. Em seu traba- lho Lili a garota atômica: representação da mulher (2015), Rosângela estudou a representação da mulher na revista Lili a garota atômica. Esse trabalho contribui no entendimento de como as histórias em quadrinhos, um produto cultural, atuam na formação das identida- des de gênero. Ao trazer para o debate as histórias em quadrinhos como a políti- ca cultural, Carvalho (2015) mostra que esses produtos funcionam como território do discurso de gênero. As formas como a mulher está representada na HQ está carregada de enunciados que vão lo- calizando as mulheres das esferas sociais. O termo enunciado advém dos estudos do campo da Análise do Dis- curso (AD). Com base no pensamento do filósofo Michel Foucault, Edgardo Castro (2016, p.136) define esse termo como uma propo- sição ou uma frase desde as condições de sua existência, não como proposição ou como frase. O que o autor está nos dizendo, no verbete do seu dicionário Vocabulário de Foucault, é que, para compreender os enunciados, precisamos nos distanciar das falas, das imagens, dos textos, dentre outras formas materiais, para o encontrar dis- perso em outras localizações no tempo que o permitiram existir. Assim, uma fala proferida em um canal no YouTube nos anos 2020 pode carregar os mesmos anunciados construídos há décadas, pois assim são os anunciados, eles têm uma materialidade que atravessa o tempo e que ganham existência na fala de diferentes sujeitos em momentos distintos. A revista Lili a garota atômica, uma história em quadrinho para o publico feminino, é parte das primeiras histórias em quadri- nhos feita por mulheres e para as mulheres que obteve um grande REFLITA 23 sucesso no Brasil. Carvalho (2015) nos escreve que, no contexto ge- ral dos enunciados sobre a mulher nessa HQ, há o retorno de narra- tivas conservadoras que se repetem na fabricação do discurso sobre a mulher. O exemplo do estudo feito por Carvalho (2015) contribui no entendimento de como os produtos culturais posicionam as identi- dades de gênero, movimento que ajuda na construção de como de- vem ser e estar no mundo homens e mulheres. Trabalhos como o de Carvalho (2015) podem inspirar outros estudos de educação e gênero e ajudar na organização de ideias. Pesquisas como essa, fortalecem os estudos dentro do campo da teoria curri- cular em educação. O segundo estudo é sobre a posição dos sujeitos do ponto de vista de gênero no espaço na dissertação de Wanderson Santos (2021), que traz uma discussão sobre as fronteiras de gênero no es- paço da biblioteca. Ao analisar um relatório da Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco de 1927, o autor encontrou um trecho no documento que diz sobre a criação de uma sala de leitura específica para as mulheres com materiais “seguros” a educação feminina. Em contrapartida, no trabalho de Santos (2021), no mesmo documento há o planejamento de salas de estudo para os homens com livros científicos, em uma clara tentativa em manter os ho- mens nos espaços de condução da sociedade, enquanto as mulheres se dedicam ao cuidado da família e docilidade. Para fechar essa síntese de pesquisa falaremos do trabalho de doutorado de Natália Belarmino (2020) sobre gênero com o tema das youtubers. A autora nos diz sobre a forma como as influencia- doras digitais, de diferentes canais do YouTube, atuam na formação das identidades de gênero do seu público. O estudo dessa autora se DEFINIÇÃO 24 faz importante e atual para que possamos compreender como os processos que vão dizendo sobre o que é ser mulher acaba formando a identidade da mulher. Para Belarmino (2020), nos canais do Youtube circulam enunciados que atuam como uma pedagogia cultural que atravessa outras pedagogias culturais na produção das representações de gê- nero através de sua ação performática. Assim, ao analisar diferentes canais voltados para públicos específicos por faixa etária, a autora percebeu o quanto os vídeos postados nos canais têm importância na formação dos sujeitos, em específico na construção da menina- -mulher e feminilidade. O termo pedagogias culturais vem do campo dos Estudos Cultu- rais em Educação. De acordo com Tomaz Tadeu da Silva (2017), os Estudos Culturais fazem uma análise da cultura, na concepção do Raymond Williams (1992), como um sistema de significação. O que se compreende como cultural é tudo que tem usos sociais, se as pes- soas consomem, praticam, tentam ser aquilo que leem, assistem ou participam na sua prática social, pode ser visto como cultura. Paula Andrade e Marisa Vorraber Costa (2017, p.), pesqui- sadoras do campo dos Estudos Culturais em Educação no Brasil, definem as pedagogias culturais como relação de ensino e apren- dizagem em diferentes espaços da sociedade regulados pela cul- tura. Os movimentos sociais, os produtos midiáticos, os materiais escolares, dentre muitos outros espaços são pedagogias culturais, tal como dito por Ellsworth (2017) são lugares de aprendizagem. Assim, as pedagogias culturais não são elaboradas com a inten- ção de educar, porém, atuam formando os diferentes sujeitos na esfera social. SAIBA MAIS 25 Os estudos de gênero contemporâneos têm muita influência do filó- sofo francês Michel Foucault (1926-1934), com sua obra História da Sexualidade. Dividida em quatro volumes: a vontade de saber, o uso dos prazeres, o cuidado de si; as confissões da carne, o filósofo faz um estudo sobre a sexualidade no mundo ocidental. Mas, você pode estar se perguntando: Por que é importante ter uma noção sobre as pedagogias culturais? A resposta é bem di- reta: Porque ela nos ajuda a desestabilizar as metanarrativas que, historicamente, invisibilizaram identidades e modos de ser e estar no mundo, assim, contribuem para que possamos ampliar os nossos olhares e caminhos investigativos e, ainda, potencializar os nossos trabalhos em torno de gênero e sexualidade. Na perspectiva de Costa (2007), os Estudos Culturais em Educação se referem a um campo de investigação que busca estudar mídias, espaços, artefatos culturais, dentre outros, como campos de significação. Essa perspectiva teórico-metodológica vai nos dizer que todos os produtos culturais são pedagogias culturais (SILVA, 2017), atuam educando e formando os sujeitos na sociedade, por- tanto formam identidades. Como você pode perceber, os estudos de educação e sexuali- dade podem ser desenvolvidos na perspectiva dos estudos culturais por estarem dentro do campo de investigações sobre subjetividades, pois, iniciar os estudos de educação e sexualidade é começar a per- ceber como os diferentes espaços sociais, principalmente a escola, atuam na produção da identidade dos sujeitos. Assim, ao final dos seus estudos, pretendemos leva-lo(a) a compreender e respeitar as identidades de gênero e sexualidade para, então, atuar no combate a situações de desigualdade do ponto de vista de gênero na escola, e assim, evitar que ela se torne espaço de violências. É para o respeito às diferenças e a dignidade humana que estamos neste processo de estudo. DICA SINTETIZANDO 26 Para uma melhor compreensão de todas as informações que estão sendo passadas neste momento, é importante você se organizar para conseguir aproveitar ao máximo cada uma delas. Para isso, é importante desenvolver o hábito de fazer fichamentos dos textos. Fichamentos são pequenos resumos de tudo que foi lido. Eles fun- cionam bastante para revisões futuras sempre que você precisar es- tudar para provas, seminários ou quando estiver escrevendo algum trabalho de conclusão de curso. Caro(a) aluno(a), Neste material, iniciamos os nossos estudos sobre Educação e Se- xualidade abordando as noções de gênero e de sexualidade com suas contextualizaçõeshistóricas e usos sociais. Aprendemos sobre a identidade de gênero e a sexualidade como construções inseridas em um contexto histórico-social e cultural, como resultado de pro- dução política e discursiva. Vimos diferentes pesquisas sobre gênero e sexualidade no campo da educação que nos ajudaram a ampliar o debate que se inicia com este módulo. Elas também podem servir como fonte de inspiração para outras pesquisas que você possa desenvolver com a temática aqui abordada. Por isso, vale muito a pena ler com mais profundi- dade cada um desses trabalhos e desenvolver as leituras que aqui foram apresentadas. Agradeço por sua parceria e desejo a você sucesso! UN ID AD E 2 Objetivos Pensando em como construir sua trilha de aprendizagem, apartir de agora, juntos, buscaremos: 1. Compreender os paradigmas subjacentes às abordagens da educação sexual através da história; 2. Identificar os pilares da Educação e da Sexualidade nos PCNs para o trabalho na escola; 3. Desmistificar preconceitos e mitos ainda existentes. Vamos começar! 28 Introdução Prezado(a) estudante, Neste momento estudaremos o contexto da abordagem da educação sexual na história e seus reflexos no cotidiano escolar da sociedade, olhando para a escolarização brasileira. Além disso, abordaremos a educação para a equidade de gênero e a prevenção do preconceito e da discriminação. O respeito às identidades culturais é um dos compromissos que todos nós precisamos ter neste processo de construção dos co- nhecimentos desta disciplina, portanto, olharemos para os Parâ- metros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural e orientação sexual. Nesse cenário, o PCNs/1997 é o documento oficial que nos ajudará a compreender como o debate de Educação e da sexualidade pode ser trabalhado na escola. Assim, de acordo com os Parâmetros curriculares nacionais, pluralidade cultural, orientação sexual (PCNs/1997), os objetivos gerais do Ensino Fundamental visam promover nos alunos a ca- pacidade de compreender a cidadania do ponto de vista do enga- jamento social e político, exercendo da melhor forma possível seus direitos e deveres políticos, sociais e civis. Dessa maneira, o Ensino Fundamental se configura como o momento de construção de práticas de combate às injustiças e de promoção de uma cultura de respeito para que todos tenham a capacidade de se posicionar criticamente, fazendo uso do diálogo como forma de resolver conflitos, por meio da mediação e, além disso, para agir coletivamente sempre de modo justo. Os PCNs apontam que uma das características gerais é for- mar nos alunos os conhecimentos fundamentais sobre o nosso país com as suas dimensões sociais, culturais e materiais. É dessa for- ma que esses parâmetros vão nos dizer sobre a importância de uma formação da identidade nacional e pessoal e, consequentemente, do sentimento de pertencimento do país, com todas as suas riquezas 29 culturais e materiais, para que os alunos possam valorizar a plurali- dade de identidades que forma o país. Pensando nisso, convido você a conhecer os principais tópi- cos que serão trabalhados nesta unidade, são eles: 1. Os Paradigmas subjacentes às várias abordagens da educação sexual através da história e seus reflexos no cotidiano da so- ciedade, com foco para a escolarização brasileira; 2. A educação para a sexualidade e para a equidade de gênero; 3. Prevenção do preconceito e da discriminação, no respeito às identidades culturais e à alteridade. Dito isto, você está preparado(a) para todos os ensinamen- tos que terá a partir de agora? Lembre-se que a sua participação é extremamente importante neste processo de construção do conhe- cimento. Por isso, não deixe de reservar um momento para confe- rir o material da disciplina, fazer as leituras propostas e assistir às mídias compartilhadas. Faça sínteses e registre as notas de tudo que for aprendendo. Bons estudos! 30 A Educação para a Sexualidade e para a Equidade de Gênero: Prevenção do Preconceito e da Discriminação, no Respeito à Alteridade Caro(a) aluno(a), educar para a sexualidade e para a equidade de gê- nero é criar na escola as condições para que as identidades de gênero possam ser respeitadas no espaço educativo e em outras instâncias na esfera social. Esse processo de construção do respeito permite a prevenção das mais variadas violências e discriminação, possibili- tando que o respeito à alteridade se faça presente. Pensar do ponto de vista da equidade de gênero é entender que todas as identidades de gênero devem partir das mesmas con- dições de igualdade e que não podem ser negadas ou desprestigiadas pelo simples fato de ser como são. Pensando nisso, o espaço da escola se configura como um lugar de construção dessa temática para que as gerações seguintes possam existir no mundo do trabalho, respeitando cada vez mais a diversidade cultural que faz parte do mundo. Se olharmos para a escola brasileira nos primeiros anos do século XX, a menos de um século, vamos perceber que, naquele tempo, as divisões por gênero apareciam na escola através de diferentes modos, como na arquite- tura, no currículo e nas escolhas pedagógicas. Formar para a cidadania participativa e para a defesa das con- dições de igualdade é o que fundamenta os Parâmetros Curriculares Nacionais, buscando formar a identidade nacional e pessoal. Assim poderemos formar sujeitos capazes de sentirem-se pertencentes ao país e em condições de existir, defendendo o nosso patrimônio cul- tural e material. Conhecer sobre a diversidade do patrimônio sociocultural brasileiro é o ponto de partida para a instauração dos fundamentos da Educação e a Sexualidade. É esse processo de conhecimentos so- bre o próprio país e outros povos e nações que funcionará como base para que as alunas e os alunos possam desenvolver as condições 31 necessárias para se posicionarem contra todas as formas de discri- minação pautadas nas diferenças culturais. Além disso, é nesse horizonte que vemos o quão importante é a Educação e a Sexualidade para a formação dos sujeitos da escola. Conforme consta nos PCNs da pluralidade cultural e da orientação sexual, em termos gerais, o objetivo principal do Ensino Funda- mental é desenvolver o conhecimento de si e das suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social. Lembre-se que esses conhecimentos possibilita- rão o exercício da cidadania. Do ponto de vista dos PCNs, a pluralidade cultural e a orien- tação sexual na escola serão importantes para que as alunas e os alunos se conheçam e cuidem do próprio corpo e, assim, passem a cuidar e valorizá-lo, escolhendo hábitos saudáveis que vão desde a escolha de alimentos e atividades físicas, até mesmo as relações afetivas que os/as façam crescer emocionalmente. Além disso, é importante dizer que os PCNs visam dar diretrizes para preparar os sujeitos da escola para agir com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva. Conforme consta nos PCNs, para que todos os objetivos e conhecimentos sejam desenvolvidos, é importante a utilização de diferentes linguagens de diferentes áreas, seja a verbal e a não ver- bal, a gráfica, a plástica, da matemática ou mesmo a corporal, como meio de produção e comunicação das suas ideias. Essa forma é o que funcionará para que todos possam usufruir das produções culturais. Desta forma, a escola se coloca como o espaço da preparação para que todos, em contextos públicos e privados diversos, possam atender às diferentes tensões situacionais. Assim, de acordo com os PCNs da pluralidade sexual e da orientação sexual, deve-se prepa- rar os sujeitos na escola para que possam oferecer as respostas com as diferentes fontes de informação e tecnologias no seu processo de construção do conhecimento. Além disso, consta nos PCNs (1997) que cabe à escola a pos- sibilidade de empreender uma reflexão que integre, de maneira ímpar, teoria e prática, reflexão e ação. Esse trabalhodeve ser cons- truído por meio de fundamentos éticos, conhecimentos jurídicos, 32 históricos e geográficos, sociológicos, antropológicos, linguagens, populacionais, psicológicos e pedagógicos. Como você pode perceber, os fundamentos éticos direcionam a proposta curricular para a construção da cidadania visando às di- versidades existentes na sociedade. Conforme consta nos PCNs, a ética norteia e estabelece existências para que todos os sujeitos da escola, em particular educadoras e educadores, para que atuem de maneira ética e coerente. Assim, a escola contribui para promover princípios éticos de dignidade, justiça, equidade e solidariedade cumprindo, assim, o princípio constitucional de igualdade. Esses fundamentos vão exigir de todos que fazem a escola sensibilidade para com a diversidade cultural e modos de combater toda forma de injustiça e violência. Pensando assim, os conhecimentos jurídicos vão nortear a organização do ambiente escolar e garantir a fluidez da sua dinâ- mica, assegurando todas e todos dentro do espaço da escola. Todos esses fundamentos, conforme consta nos PCNs da pluralidade cul- tural e da orientação sexual, vai apontar para a defesa da dignidade da pessoa humana, com base nos Direitos Humanos, para que seja todas as formas de violência sejam combatidas no espaço escolar. Dessa maneira, conhecimentos históricos e geográficos vão ajudar no processo de formação sobre o território brasileiro com toda a sua diversidade populacional e territorial. Isso porque é uma forma de trabalhar diferentes temas que poderão contribuir para o enfretamento de violências e injustiças que, historicamente, foram se constituindo e fazendo parte do território brasileiro. Conforme consta nos PCNs, os aspectos históricos e geográficos expõem uma diversidade regional marcada pela desigualdade. Além disso, para os PCNs (1997), a formação histórica do Bra- sil é marcada por mecanismos de resistência ao processo de domi- nação, desenvolvidos pelos grupos sociais em diferentes momentos. Assim, ao trabalhar com a Educação e a sexualidade na escola, con- tribuiremos, também, para a construção dessas diferentes formas de dominação e as formas de resistências de grupos que procuraram modos de preservar sua identidade cultural. 33 Pensando nisso, para a efetivação do debate sobre a diver- sidade cultural, faz-se importante o desenvolvimento dos conhe- cimentos sociológicos, indispensáveis na discussão da Pluralidade Cultural. Esse campo de estudos nos ajuda com possibilidades de abertura e compreensão de processos complexos da interação entre fenômenos diversos. Assim, conforme consta nos PCNs, toda sele- ção que fazemos para compor o currículo será marcada por fatores culturais, sociais e políticos. Assim, a antropologia poderá ajudar no processo de cons- trução de conhecimentos sobre os diferentes grupos e sociedades humanas que não se explicam apenas pelo socioeconômico, como a relação do ser humano com a organização de seu grupo; mas tam- bém pelo mágico, pelo sagrado e pela relação com o patrimônio cul- tural, ou seja, tudo aquilo que o precede e sucede. Diante disto, os usos das diferentes linguagens vão possibi- litar a apropriação de diferentes códigos linguísticos de diferentes manifestações culturais. São formas de levar o tema da Educação e da sexualidade por várias e diferentes abordagens que podem se tornar significativas para todos. Assim, a língua portuguesa pode ser trabalhada para o respeito para com a diversidade regional, den- tre outros pontos específicos, que ajudam a formar os sujeitos na perspectiva da cidadania. Além disso, os conhecimentos populacionais constituem uma fonte de informação relevante a partir do segundo ciclo. De acordo com os PCNs, dados estatísticos sobre a população brasileira fornecem um quadro informativo de como se vive no Brasil. Essas informações podem ser trabalhas na sala de aula para a promoção da conscientização sobre as desigualdades de gênero, por exemplo. Como você pode perceber, trabalhar com os conhecimentos popu- lacionais é uma forma de abrir, no ambiente escolar, debates refe- rentes às trajetórias das etnias no Brasil, conforme consta nos PCNs. Dessa maneira, de acordo com os PCNs, os aspectos psicoló- gicos e pedagógicos podem auxiliar as professoras e os professores a compreenderem o fracasso e o sucesso que se apresentam como sendo mais da escola e de sua atividade didática, e não só dos alu- nos, e, além disso, levam à redefinição de procedimentos em sala CURIOSIDADE EXEMPLO 34 de aula. Do ponto de vista pedagógico, pode-se considerar decisivas as posturas da escola nas situações de discriminação, seja qual for o motivo. Todas essas diferentes áreas do conhecimento atravessam os PCNs da pluralidade cultural e da orientação sexual para que tenha- mos condições de refletir e organizar o nosso trabalho e educação sexual na escola da melhor forma possível. Dito isto, agora vamos retomar um pouco o que nos escreve Louro (2014) sobre a invenção da escola. Conforma nos escreve essa autora, desde que foi inventada, a escola atua exercendo ações distintivas. Ela é responsável por lo- calizar as identidades no espaço, separando-as por gênero, classe social, dentre outros aspectos. Outro texto de Louro (2005) vai nos dizer que os currículos, os procedimentos de ensino, entre outros, constituem-se como espaços de construção das diferenças. Há quase cem anos meninas e meninos não estudavam nas mesmas salas, isso quando as meninas podiam estudar. E, quando esses su- jeitos estavam na escola, cada grupo recebia uma orientação educa- cional diferenciada. Aos meninos, muitas bases científicas e noções de cidadania. Já para as meninas, os cuidados com a vida doméstica e noções de docilidade, conforme vimos no trabalho de Santos (2021). Caro(a) aluno(a), como exemplo, dos diferentes modos de como o conhecimento era distribuído do ponto de vista de gênero, temos as disciplinas escolares que, por muito tempo, não eram iguais. Para os rapazes, reforço gramatical. Já para as moças, aulas de corte e SAIBA MAIS DEFINIÇÃO 35 costura. Em virtude dessas diferenças curriculares, nos primeiros anos do século XX, as mulheres não podiam votar e quando traba- lhavam ganhavam espaço nas profissões de magistério e enferma- gem, por demandarem cuidados, enquanto os homens ocupavam os cargos de prestígio e de comando social. Com o passar dos anos, essa divisão trouxe como reflexo para os dias atuais o aumento da violência de gênero. As manchetes de jornais indicam que a violência contra mulher e contra a população LGBTQIA+ vem aumentando nos últimos anos. Basta olharmos para os noticiários dos jornais ou para a timeline das nossas redes sociais que nos depararemos, constantemente, com essa infeliz realidade. A violência de gênero se define como qualquer tipo de agressão que pode ser física, psicológica, sexual ou simbólica contra qual- quer pessoa que esteja em situação de vulnerabilidade, devido a sua orientação sexual ou a sua identidade de gênero. Até os anos de 1990 a homossexualidade era tratada no dis- curso médico no Brasil como perversão ou como um distúrbio se- xual, mesmo não constando como tal nos manuais da Associação Médica Brasileira desde 1985, sendo retirada dos documentos legais. Homossexualidade é o termo correto para se referir às pessoas que sentem atração física, estética e/ou emocional por outro ser do mesmo sexo ou gênero. Desde 1990 a Organização Mundial de Saú- de (OMS) extinguiu o sufixo “ismo” quando se refere aos homos- sexuais, pois essa terminação, nos termos médicos, está associada à doença. VOCÊ SABIA? 36 Dinis e Asineli-Luz (2007) escrevem que o trabalho de edu- cação sexual na escola serve para problematizar a sexualidade no sentido de questionar as evidências e apresentar as possibilidades de conhecimentos para que a sexualidade seja entendida como um aspecto predominantemente histórico-cultural. A perspectiva apresentadapelos autores nos possibilita des- construir discursos normativos que regem as construções do mas- culino e do feminino, pois esses discursos impossibilitam o respeito às novas vivências da sexualidade. Para Dinis e Asineli-Luz (2007), a prevenção às ISTs (In- fecções Sexualmente Transmissíveis), assim como o aumento do número de gravidez precoce, apresentam-se como as principais justificativas para o desenvolvimento da educação sexual no Brasil. O dia 17 de maio é considerado, mundialmente, a data do combate à lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia (LGBTfobia). Essa data marca a luta histórica contra a patologização e pela cidadania plena da população LGBTQIA+. Como dito anteriormente, foi em maio de 1990 que a OMS retirou o termo “homossexualismo” da CID-10. Após essa data, o referido termo passou a ser substituído por “homossexualidade”, pois o sufixo “ismo”, nos termos médicos, remete a doença. Isso porque, quase na metade do século passado, em 1948, os homosse- xuais estavam incluídos na Classificação Internacional de Doenças (CID) como sendo uma patologia na CID-6, mas, no decorrer dos anos seguintes, as pesquisas científicas que foram desenvolvidas não confirmaram essa tese, o que provocou a retirada desta popu- lação da lista de doenças mais de quarenta anos depois. O entendimento de que a homossexualidade não pode ser mais vista como um distúrbio sexual ou perversão é datado desde REFLITA 37 maio de 1990 quando a OMS a retirou de seus manuais de doença. Além disso, a Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº1/99, de março de 1999, indica normas de atuação para os psicólogos que passam a considerar a homossexualidade como uma orientação, passando a não considerá-la como distúrbio ou perversão. Se a Organização Mundial da Saúde (OMS), há mais de trinta anos, já não considera a população LGBTQIA+ dentro do seu quadro de do- cenças, o que leva algumas pessoas a praticarem as mais diversas violências para com os sujeitos que compõem as identidades desta sigla? Se todas e todos nós somos iguais, se os nossos sangues não são diferentes, o que faz de alguns corpos estarem sempre em risco de sofrer ameças ou espancamentos gratuitos pelo simples fato de existirem no mundo como de fato são? Agora que já compreendemos a importância de entender so- bre a situação de vulnerabilidade de algumas identidades na esfera social, e que a escola se configura como um dos espaços que com- bate às diferentes agressões, visando uma equidade de gênero e a promoção do respeito à alteridade, a partir desse momento vamos discutir sobre Os Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual (PCNs/1997), nosso documento oficial que norteia as Práticas de Educação e Sexualidade na Escola. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual (PCNs/1997) apontam que o tema da educação e da sexualidade deve ser trabalho nas escolas da Educação Básica através de três eixos, são eles: 38 Figura 1 - Temas da Educação e Sexualidade nas escola s segundo o PCN Fonte: ead.mauriciodenassau.edu.br Olhando para cada um desses eixos temáticos, vamos perce- ber que o lugar da Educação e da Sexualidade é no ambiente escolar e, também, no não escolar. De acordo com esse documento, o desa- fio da escola é formar numa perspectiva de construção da cidadania, do respeito às diferenças, da prevenção aos perigos de um ato sexual desprotegido e para o conhecimento do próprio corpo. São três eixos que geram diferentes debates em sala de aula, com o intuito de formar para proteger. É através das diferentes abordagens propostas pelo PCN que vamos contribuir para que as crianças, adolescentes e jovens aprendam a se proteger desde cedo e possam desenvolver condições para estabelecer boas escolhas para os seus relacionamentos ao longo da vida adulta. Dando continuidade aos seus estudos, vamos refletir um pouco sobre cada um desses eixos que norteiam o (PCNs/1997) vol- tado para a educação e sexualidade? Vamos lá! O corpo como matriz da sexualidade dever ser o ponto de partida para a construção de conhecimentos quem ajudem nos cui- dados com o próprio corpo e o respeito à dimensão corpórea dos ou- tros. Assim, conforme consta no (PCNs/1997), o conceito de corpo se refere às possibilidades de apropriação subjetiva de toda a expe- riência na interação com o meio. O PCNs da Educação e Sexualidade contribui para que alu- nas e alunos possam fortalecer a autoimagem e, assim, conquistar uma autonomia, atribuindo à importância do corpo na identidade DEFINIÇÃO 39 pessoal. Trabalhá-lo na escola ajudará no processo de construção da autonomia e identidade dos/as educandos/as para que possam exis- tir conscientes da sua dimensão corpórea, existindo e respeitando a sua e a dos/as outros/as. Os Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orien- tação sexual (PCNs/1997) definem o corpo como organismo atra- vessado pela inteligência e desejo, portanto, onde estão incluídas as dimensões da aprendizagem e as potencialidades do indivíduo para a apropriação das suas vivências. O trabalho do corpo como matriz da sexualidade pode ser de- senvolvido nas aulas de diferentes disciplinas como Educação Física e Artes Ciências Naturais para o desenvolvimento do autoconheci- mento, respeito a todas as formas de sexualidade e prevenção de In- fecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). O trabalho sobre as relações de gênero objetiva combater to- das as formas de discriminação de gênero, questionar a rigidez dos padrões de conduta estabelecidos para homens e mulheres e apon- tar para sua transformação. De acordo com o (PCNs, 1997), os pa- drões de comportamento diferenciados para homens e mulheres vão sendo construídos e passados desde muito cedo, a exemplo das repressões de docilidade para os meninos e da agressividade para as meninas. Conforme consta no (PCNs, 1997), esse tema pode ser traba- lhado na escola a partir das disciplinas de geografia, história, língua portuguesa e estrangeira, matemática, artes, e até mesmo Educação Física. Assim, vemos a vasta possibilidade de trabalhar as relações de gênero em diferentes disciplinas, possibilitando também traba- lhos interdisciplinares. SAIBA MAIS 40 O tema da prevenção das doenças sexualmente transmissí- veis/Aids, conforme consta no próprio nome, assume uma perspec- tiva preventiva. O intuito é que as informações sobre as ISTs sejam passadas para que os/as educandos/as se protejam, entendam como funciona cada uma das infecções e respeitem as pessoas vivendo com HIV. O HIV é o vírus que, quando não tratado, pode acarretar a Aids, doença que surge em decorrência de uma infecção por HIV não tra- tada. Hoje o tratamento para essa infecção permite que a pessoa possa viver bem sem transmitir o vírus. De acordo com o PCNs, 1997, a prevenção das doenças se- xualmente transmissíveis/Aids pode ser trabalhada nas aulas de educação física e ciências da natureza. Outras áreas como a litera- tura, história e geografia e artes também podem ser o espaço de co- nhecimento, de discussão e de debates sobre esse tema, sempre na perspectiva preventiva. Ainda segundo o PCNs/1997, o trabalho de orientação sexual na escola supõe refletir sobre e se contrapor aos estereótipos de gê- nero, raça, nacionalidade, cultura e classe social ligados à sexuali- dade. Assim, há a possibilidade de combate e enfrentamento a todas as formas de discriminação associadas à expressão da sexualidade, especificamente a população LGBTQI+. Escrevem Dinis e Asineli-Luz (2007) que, para além dos ei- xos (Corpo: matriz da sexualidade; Relações de Gênero; Prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids) o PCNs deixa clara a necessidade de discutir a discriminação social e o preconceito de que são vítimas as pessoas que vivem com HIV e os doentes de Aids. Assim, o documento enfatiza os valores de solidariedade, respeito ao outro e a participação de todos no enfrentamento aos diversospreconceitos. 41 Para Dinis e Asineli-Luz (2007, p.9) o entendimento da se- xualidade, na perspectiva histórico-cultural, possibilita vivenciar na escola a diversidade das relações afetivas e sociais provocadas pela educação sexual que traz como contribuições as novas possibi- lidades do exercício da alteridade em contextos mais amplos. Agora que já vimos os três eixos dos Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual (PCNs/1997) que norteiam a educação e sexualidade na escola, vamos refletir sobre pesquisas dentro do campo da educação que estão relacionadas com o ambiente escolar. São trabalhos científicos interessantes e pertinentes. Eles podem servir de inspiração para ideias e desenvolvimento de outros trabalhos dentro desta mesma temática. Escrevem Carolina Miranda e Gilvaneide Oliveira (2016) so- bre a importância de se perceber a sexualidade sob um olhar trans- disciplinar. As autoras pontuam que a sexualidade está presente nos documentos oficiais, o PCNs/1997, mas a escola ainda não aprendeu a contextualizar os eixos temáticos em diferentes disciplinas. A necessidade de formação específica para tratar deste tema é outra questão que emerge do trabalho de Miranda e Oliveira (2016), pois as autoras identificam esse problema como uma das dificul- dades de cumprimento dos três eixos temáticos para o trabalho de educação e sexualidade nas escolas. Notamos, na pesquisa de Miranda e Oliveira (2016), que é possível pensar o desenvolvimento de um trabalho de educação e sexualidade nas escolas em diferentes disciplinas conforme nos propõe o PCN/1997. Essa perspectiva, além de potencializar traba- lhos interdisciplinares, poderá promover práticas de emancipação no processo de formação das identidades das alunas e alunos na escola. Pensando no equilíbrio emocional de todos os envolvidos, Miranda e Oliveira (2016) consideram que a sexualidade, como tema transdisciplinar na escola, pode promover crescimentos em aspec- tos mais amplos da formação dos sujeitos da escola. 42 Outro trabalho que traz contribuições sobre o debate da edu- cação e da sexualidade no ambiente escolar é o artigo de Rosangela Tenório de Carvalho (2021) sobre rituais da escolarização e gênero. A autora propõe uma análise de enunciados ritualísticos no discurso pedagógico da educação escolarizada no século XIX na Itália. Carvalho (2021) sustenta sua análise nos argumentos do caráter performático dos rituais, assim, a pedagogia é vista como prática de disciplinamento e da ação performática na produção dos sujeitos de gênero. As reflexões sobre rituais, através de diferentes exemplos no decorrer da arte, nos ajudam a compreender como es- tes, apesar de parecerem inocentes, são carregados de sentindo a ponto de servir como atos de subjetivação. Esses atos vão sendo interpelados pelo saber, por isso Carva- lho (2016) os enxerga como discursos performativos. É através de- les, dentre tantos outros fatores, que o ambiente escolar se constitui como um dos espaços de produção das identidades de gênero e de sexualidade. A análise de enunciados ritualísticos feita por (Carvalho 2022) mostra que na escola, mais do que ensinar a ler, escrever, contar, ou qualquer outra operação, ensinam-se modos de existir do ponto de vista de masculino e feminino. Assim, a autora considera os rituais como um sistema poderoso não por ser opressor, e sim porque ele se dedica, dá atenção, seleciona e individualiza os sujeitos da educação masculinos e femininos (CARVALHO, 2021, p. 15). A dissertação de Natália Belarmino (2015) sobre os cadernos escolares que “falam” vai nos dizer sobre os diferentes discursos que permeiam esse artefato tão usado por todas e todos nos dife- rentes ambientes escolares. A autora nos diz que o caderno, artefato cultural de escolarização, assume funções que ultrapassam a função de aprendizagem, funcionando como ações identitárias. Belarmino (2015) buscou mostrar como os cadernos esco- lares, tão diferentes do ponto de vista estético, ensinam como, do ponto de vista da identidade de gênero e sexualidade, devem ser e estar no mundo as crianças. Assim, a autora investigou 40 cadernos escolares de crianças do Ensino Fundamental de escolas públicas e SINTETIZANDO 43 privadas de Pernambuco, percebendo que há marcadores que inter- pelam as crianças. O que Belarmino (2015) nos escreve é que, nos cadernos es- colares, a formação da identidade de gênero e sexualidade vai sendo construída através de elementos estéticos como a marcação das co- res, a representação de crianças com heróis da mídia, propagandas sexistas e consumistas e atividades de auto-interpretação. Com o trabalho de Belarmino (2015), podemos considerar que os cadernos escolares, apesar de serem artefatos culturais na escola, não são elaborados de modo inocente. Há todo um investimento por trás deles e isso acaba implicando nos comportamentos das crian- ças atuando, assim, nas suas identidades de como devem existir no mundo. Os meninos, em sua maioria, preferem os cadernos com as marcações dos heróis e as meninas cadernos com imagens de prin- cesas. Dessa maneira, Belarmino (2015) escreve que os cadernos ainda se mostram como poderosos artefatos curriculares. E isso pode nos ajudar a refletir sobre como o arranjo estético dos cader- nos atua encaixando os sujeitos em determinados lugares. Caro(a) aluno(a), Ao longo deste material, iniciamos os nossos estudos sobre Educa- ção e Sexualidade abordando os paradigmas subjacentes às várias abordagens de educação sexual. Vimos o quanto algumas conquis- tas tão importantes foram significativas para entender e espeitar as identidades que, durante muito tempo, eram tratadas como seres não normais. Essas conquistas históricas são extremamente importantes para que possamos estabelecer, não apenas na escola, mas em todos os espaços da sociedade, o respeito à alteridade e a diferença. Todas as identidades têm o direito de existir, de respeitar e de serem respei- tas em qualquer ambiente. Ninguém pode sofrer discriminação ou 44 violência pelo simples fato de ser quem são. Por isso a conquista da retirada da retirada do sufixo “ismo”, por parte da OMS, do quadro de doenças se faz tão significativa para a população LGBTQUIA+. Esses movimentos mobilizam a história, quebram ciclos viciosos e têm o poder de modificar o curso das coisas. Pensar através desse ponto de vista vai nos ajudar a construir o foco da escolarização bra- sileira na perspectiva da emancipação dos sujeitos que por ela pas- sam, pois a educação para a sexualidade precisa seguir a perspectiva da equidade de gênero, prevenção do preconceito e discriminação. Para que a educação e a sexualidade se configurem como constru- ções significativas no ambiente escolar, é importante considerar o que consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais: pluralidade cul- tural, orientação sexual (PCNs/1997), documento legal e oficial que é a base comum para o ponto de partida para todos os trabalhos de educação e sexualidade na escola. Olhar para os eixos dos Parâmetros Curriculares Nacionais da plu- ralidade cultural, orientação sexual, nos revela uma urgência da promoção da educação e da sexualidade no ambiente escolar, pois o Brasil é uma dos países que mais aprensentam problemas que de- correm da ausência de uma educação para a sexualidade. Quanto aos problemas, estamos conscientes da sua ocorrência com frequência. Podemos citar a gravidez precoce, as infecções por atos sexuais desprotegidos, a violência de gênero, os crimes contra a população LGBTQUIA+, dentre outros. Pensando nisso, o debate da educação e da sexualidade na escola se coloca como o espaço para a interrupção desses ciclos e, assim, pode ser estabelecido na pers- pectiva de uma emancipação e conscientização para evitar que de essas pessoas estarem sempre vulneráveis. Sabemos que os pilares que norteiam os Parâmetros Curriculares para a educação e para a sexualidade na escola apontamque os tra- balhos podem ser feitos em diversas disciplinas da Educação Básica, possibilitando também articulações interdisciplinares. Assim, para a efetivação dos objetivos postos no PCNs/1997, é importante que professoras e professores conheçam o tema para, então, refletir e desenvolver as suas práticas. 45 A educação e a sexualidade na escola ajudam nas percepções que as alunas e os alunos podem desenvolver sobre o prórpio corpo, so- bre as relações de gênero e os conhecimentos sobre as infecções sexualmente transmissíveis. Todos esses conhecimentos são fun- damentais para que possam crescem aprendendo a estabelecer boas escolas para seus relacionamentos e, também, aprendendo a se proteger dos perigos que uma relação sexualmente de risco pode causar. Infelizmente na nossa sociedade permiam diferentes preconceitos. Um dos mais expressivos ainda hoje é sobre o HIV/Aids. O conheci- mento correto sobre esse vírus é uma das formas de prevenção, pois é importante que todos não se sitam amendrotados porque o medo só atrapalha a prevenção e o tratamento. Trabalhar na escola para a prevenção das Infecçoes Sexualmente Transmissíveis é uma das formas preventivas, tal qual a prevenção da gravidez precoce. Assim, quanto mais os jovens estiverem muni- dos de informação, melhor poderão se relacionar sem exposição a grandes riscos. Além disso, nesse material vimos diferentes pesquisas sobre gênero e sobre sexualidade no campo da educação que nos ajudaram am- pliar o debate deste módulo. É importante considerar que esses são temas que podem inspirar outras pesquisas a serem desenvolvidas com as temáticas aqui abordadas. Vale muito a pena ler com mais profundidade cada um dos trabalhos citados e, assim, desenvolver as leituras que aqui foram apresentadas. Não deixe de conferir o material audiovisual e de leitura indicados aqui. Bons estudos! UN ID AD E 3 Objetivos Caro(a) aluno(a), ao final desta etapa de estudos, você deverá: 1. Compreender abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil; 2. Identificar estudos e teorias de gênero, educação e sexualidade; 3. Compreender as interfaces entre gênero, orientação sexual e igualdade étnico-racial. Vamos começar! 48 Introdução Caro(a) estudante, bem-vindo(a) à mais uma fase de estudos da disciplina de Educação e Sexualidade. Neste momento, estudaremos as abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil, as inter- faces de gênero, de orientação sexual e de igualdade étnico-racial. Discutiremos aqui os estudos de gênero e educação, em sua história, seus conceitos e seus movimentos políticos. Estudaremos também os principais objetivos que norteiam os Parâmetros Curriculares Nacionais da orientação sexual e como eles podem nos ajudar a refletir sobre diferentes pontos que estão rela- cionados ao campo da educação para pensarmos a educação, pois este documento curricular é a nossa base para colocar em prática a educação na escola. Veremos as abordagens pedagógicas da educação sexual a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais da orientação sexual. Faremos reflexões sobre a sexualidade em diferentes etapas da vida humana, buscando compreender cada uma delas para melhor de- senvolver estratégias para trabalhar com as alunas e os alunos no espaço escolar e não escolar, estabelecendo reflexões que promo- vam a igualdade étnico-racial. Além disso, veremos a partir desde documento como se ex- pressam as relações de gênero na sociedade e como os fundamentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais da orientação sexual podem nos ajudar a melhor compreender as desigualdades para produzir- mos práticas de atuação na escola que promovam a igualdade e não as diferenças no espaço escolar e não escolar. Fique atento(a), pois a reflexão sobre os estudos de gênero e educação, em sua história, seus conceitos e movimentos políticos será feita a partir da abordagem das teorias feministas e queer pela importância epistemológica e política para pensarmos a educação e a sexualidade em perspectivas mais amplas. Pensando nisso, as teorias feministas se fazem significati- vas devido ao levantamento em torno das questões discursivas que 49 permeiam as diferentes circunstâncias e produtos culturais que vão contribuindo para a formação identitária dos sujeitos. O que esse campo teórico vai nos dizer é que, as representações das identidades de gênero não partem do mesmo lugar e que algumas ocupam posi- ções de prestígio e privilégio enquanto outras seguem em posições subalternizadas. Assim, uma pedagogia feminista vai levantar a importância sobre as desconstruções de narrativas que, historicamente, vem promovendo práticas de desigualdade e distanciamento entre as di- ferentes identidades de gênero. Essa perspectiva que vai nos indicar a importância de estabelecimento do clima de respeito. Já as terias queers tomam o termo estranho como um discur- so que releva que esse outro, estranho e incomum, possa ser visto como um corpo político e que tem o direito de existir enquanto cor- po estranho. Assim, essas teorias propõem que a escola se configura como um espaço de acolhimento das diferenças no seu direito de existir enquanto diferenças. Dessa maneira, veremos o quão importante é o pensar queer enquanto proposta de pedagogia para as percepções do corpo es- tranho na sua importância política como expressão cultural das diferenças no espaço. Assim, veremos como essa perspectiva pode, assim como a feminista, ajudar na ampliação do nosso olhar para com as diferenças. Para fortalecer o entendimento das ideias centrais deste ma- terial, veremos trabalhos desenvolvidos dentro do campo da edu- cação que seguiram os fundamentos teóricos que estão presentes no debate aqui apresentado. Assim, são importantes, não só para inspirar as ideias para o desenvolvimento de reflexões e trabalhos futuros, como também para fornecer novos olhares e para pensar o fazer a educação. Assim, nas próximas linhas iremos trabalhar os seguintes tópicos: – Abordagens pedagógicas da educação sexual no Brasil e as interfaces entre gênero, orientação sexual e igualdade étnico-racial; 50 – Estudos de gênero e educação, em sua história, seus conceitos e movimentos políticos. Tudo pronto para iniciarmos mais uma etapa de estudos? É importante salientar, mais uma vez, que a sua participação é ex- tremamente importante neste processo de construção do conhe- cimento. Reserve um momento para conferir o material. Faça as leituras aqui propostas, assista às mídias aqui compartilhadas e não deixe de sintetizar em notas tudo o que for aprendendo. Bons estudos! 51 Abordagens Pedagógicas da Educação Sexual no Brasil: Interfaces entre Gênero, Orientação Sexual e Igualdade Étnico-Racial A existência da pluralidade cultural no Brasil é resultado de um lon- go processo histórico de interação que envolve aspectos políticos e econômicos. Ele explica o porquê devemos dedicar tanta atenção à questão da diversidade cultural, pois é a base da formação da socie- dade brasileira. Se você parar para observar, a nossa formação cultural é composta de culturas diferentes que coexistem, cada qual com a sua singularidade. Assim, estão todas ligadas às suas identidades de origem que são compostas pelos diferentes grupos étnicos e cultu- rais. Os diferentes modos de existir são formas diversas de ocupar o espaço e cada expressão cultural influencia e é influenciada por outras. A identidade nacional se dá em uma constante redefinição devido às diversas trocas culturais que ocorrem no Brasil. Com- preender que somos diferentes coexistindo entre si é a base para construir a educação e sexualidade no espaço escolar e não escolar. Se pensarmos do ponto de vista do espaço, os modos de vi- ver, ainda que na mesma região, não são da mesma forma. Viver nas áreas urbanas é diferente da experiência de viver nas regiões rurais em um mesmo espaço. E, quando pensamos em uma escala nacio- nal, os nossos olhares para com a diversidadese ampliam devido ao tamanho do Brasil, país de dimensões continentais. Os Parâ- metros curriculares nacionais da pluralidade cultural e orientação sexual (PCNs/1997) reforçam que a diversidade marca a vida social brasileira. Assim, de acordo com os PCNs da pluralidade cultural e orientação sexual, a diversidade cultural brasileira vem sendo pou- co explorada. Esse problema coloca a escola para refletir sobre al- guns dos silenciamentos para com algumas expressões culturais, 52 uma vez que ela é composta pelas diferenças e é na escola que as crianças e jovens aprendem uns sobre os outros. Os PCNs da pluralidade cultural e orientação sexual vão con- siderar que o debate sobre sexualidade na escola se faz importante por se tratar de um tempo necessário ao aspecto do ser humano que não está desvinculado a outros aspectos da vida. Assim, a sexuali- dade não pode ser vista como sinônimo do ato sexual, pois, vai além disso, envolve sentimentos afetivos, cuidados de si e respeito ao outro. O desenvolvimento da vida psíquica do indivíduo é outro grande benefício que o trabalho de orientação sexual pode trazer, por construir diferentes conhecimentos que estão relacionados ao desenvolvimento afetivo, podendo trazer contribuições para a for- mação de vínculos afetivos. Conforme consta nos PCNs, a sexualidade na infância e ado- lescência é algo que começa a ser construído desde os contatos de uma mãe com seu filho, em que são despertadas as primeiras vivên- cias de prazer. Essas primeiras experiências não são essencialmente biológicas, mas formam o repertório psíquico do indivíduo. A sexualidade infantil se desenvolve desde os primeiros dias de vida e continua se manifestando de forma diferente em cada momento no período da infância, sendo construída a partir das possibilidades individuais e da interação com o meio. Assim, as ex- periências culturais acabam sendo significativas para a formação desse processo. De acordo com os PCNs da orientação sexual, os padrões de comportamento têm origem nas representações sociais e culturais elaboradas a partir das diferenças biológicas dos sexos. Assim, a educação tem um papel significativo nesse processo de transmis- são, sendo essas representações fundamentais para a formação da identidade da criança. A puberdade se refere à fase de mudanças físicas com altera- ções hormonais que, quase sempre, provocam estados de excitação difíceis de controlar. Essa é a fase de descobertas e experimentações, em que pode ocorrer a exploração da atração e das fantasias sexuais 53 com pessoas do mesmo sexo e do outro sexo, conforme consta nos PCNs da orientação sexual. A adolescência é marcada pela pressão da sexualidade e da intensificação das vivências amorosas. Esses aspectos são centrais na vida desses jovens, assim, o olhar para a sensualidade e, confor- me consta nos PCNS da orientação sexual, “malícia” se fazem pre- sentes nos movimentos, na postura, nas escolhas para vestimentas, escolhas musicais, dentre tantas outras coisas que os adolescentes escolhem para si. Para o trabalho de orientação sexual no espaço escolar, é pre- ciso que a escola esteja aberta ao debate e em condições para que esse debate possa fluir com foco na reflexão para a melhoraria do desenvolvimento de todas as alunas e alunos. Segundo os PCNs da orientação sexual, é papel na escola trabalhar os diversos pontos de vista, valores e crenças existentes na sociedade para auxiliar os es- tudantes a elaborar valores através das reflexões. Além disso, é importante considerar que o trabalho da escola não substitui o da família. Ambas, escola e família, devem traba- lhar juntas neste processo de construção da educação e sexualidade, mantendo uma relação de interdependência. O trabalho de educação e sexualidade no ambiente escolar deve ser desenvolvido de forma sistemática. Isso significa que o processo de escolha dos temas, o planejamento das aulas e a exe- cução das atividades deve passar por critérios de escolha do(a) pro- fessora(o) que deve procurar sempre respeitar e diversidade e as diferenças culturais que fazem parte do país. Os PCNs da orientação sexual vão indicar que os diferentes temas da sexualidade precisam ser trabalhados dentro do limite da ação pedagógica, sem invadir a intimidade e o comportamento de cada aluno ou professor. Essa é uma forma de ensinar as alunas e alunos sobre os limites para evitar posturas que só podem ser man- tidas na vivência pessoal. A proposta é de que a orientação sexual na escola aborde, com crianças e jovens, os desdobramentos das mensagens transmitidas pela mídia, pela família e pelas instituições da sociedade. Assim, é EXEMPLO REFLITA 54 importante que o espaço seja um local de debate atualizado sobre os principais tópicos do tema. Assim, é através de debates atualizados que alunas e alunos poderão desenvolver atitudes coerentes com a própria escolha de valores dentro daquilo que nos debates foi aprendido. No ambiente escolar é provável perceber algumas manifestações da sexualidade infantil. Essas manifestações se dão por meio de ca- rícias, curiosidade sobre o corpo do outro, brincadeiras, piadas e, até mesmo, na apresentação de produtos culturais que possam ex- pressar o tema. Assim, conforme nos indica os PCNs da orientação sexual, é importante que a escola se posicione no esclarecimento de dúvidas e curiosidades sobre este tema e contribua para que a criança aprenda a distinguir as expressões que fazem parte da sua intimidade e privacidade daquelas que são pertinentes ao convívio social. Suponhamos que você esteja na escola e se depare com uma situa- ção em que alguém no grupo de alunos faz a manipulação curiosa e prazerosa dos genitais ou brincadeiras que envolvam contato cor- poral nas regiões genitais. Isso se dá de modo recorrente nos ciclos iniciais. Como você agiria? A resposta para essa pergunta está contida nos PCNs da educação e orientação sexual: A intervenção dos educadores deve se dar de for- ma que aponte a inadequação de tal comportamento às normas do convívio escolar, não cabendo condenar ou aprovar essas atitudes, mas contextualizá-las. DICA 55 Considerando outra situação, agora vamos supor que, após pre- senciar um comportamento que expresse a sexualidade infantil na escola, os professores e a gestão pedagógica estejam pensando em comunicar aos pais. O que fazer? Novamente a resposta consta nos PCNs da educação e orientação sexual: os pais só devem ser chamados diante de práticas muito re- correntes e que estejam interferindo na aprendizagem ou deman- dem cuidados com a sua saúde. Assim, só devem ser chamados após a intervenção anterior dos educadores com os alunos envolvidos na situação. É importante consultar os Parâmetros Curriculares Nacionais da orientação sexual sempre que você estiver diante de uma dúvida. A leitura é fluída e se faz indispensável para todas as educadoras e educadores de todas as etapas da educação básica. Consta nos PCNs que, para um trabalho consistente de orien- tação sexual, é preciso que haja uma relação de confiança entre as alunas e os alunos e suas professoras e seus professores. Assim, cabe ao espaço da escola, informar, problematizar e debater sobre preconceitos, crenças e tabus que existam na sociedade. Além disso, conforme informam os PCNs da orientação se- xual, é preciso que os docentes mantenham certa distância das opiniões e aspectos pessoais para o empreendimento desta tarefa. Assim, é importante que a educadora ou o educador tenha acesso à formação específica para tratar de sexualidade com crianças e jo- vens na escola. Lembre-se que uma formação adequada para tratar de se- xualidade com crianças e jovens na escola é fundamental para cons- trução de uma postura profissional com condições para tratar deste tema na escola. 56 Outra questão importante que se faz presente nos PCNs da orientação da sexualidade é sobre informar aos familiares do tra- balho da educação se sexualidade
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