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Rodrigues, J. A. Ribeiro, M. R. (2007). Análise do Comportamento - Pesquisa, Teoria e Aplicação

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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:261
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:262
S616 Análise do comportamento [recurso eletrônico] : pesquisa, teoria e aplicação /
Josele Abreu-Rodrigues, Michela Rodrigues Ribeiro (organizadoras). –
Dados eletrônicos. – Porto Alegre : Artmed, 2007.
Editado também como livro impresso em 2005.
ISBN 978-85-363-1102-9
1. Psicologia – Comportamento. I. Abreu-Rodrigues, Josele. II. Ribeiro,
Michela Rodrigues.
CDU 159.9.019.4
Catalogação na publicação: Juliana Lagôas Coelho – CRB 10/1798
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
Pesquisa, Teoria e Aplicação
2007
Josele Abreu-Rodrigues
Michela Rodrigues Ribeiro
Organizadoras
Versão impressa
desta obra: 2005
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:263
© Artmed Editora S.A., 2005
Capa
Gustavo Macri
Preparação do original
Rubia Minozzo
Leitura final
Maria Lúcia Barbará
Supervisão editorial
Mônica Ballejo Canto
Projeto e editoração
Armazém Digital Editoração Eletrônica – Roberto Vieira
Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à
ARTMED® EDITORA S.A.
Av. Jerônimo de Ornelas, 670 - Santana
90040-340 Porto Alegre RS
Fone (51) 3027-7000 Fax (51) 3027-7070
É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer
formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na
Web e outros), sem permissão expressa da Editora.
SÃO PAULO
Av. Angélica, 1091 - Higienópolis
01227-100 São Paulo SP
Fone (11) 3665-1100 Fax (11) 3667-1333
SAC 0800 703-3444
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:264
AUTORES
Josele Abreu-Rodrigues (org.)
Universidade de Brasília
Michela Rodrigues Ribeiro (org.)
Universidade Católica de Goiás
Universidade de Brasília
Instituto de Aplicação e Pesquisa Comportamental
Alessandra de Moura Brandão
Universidade de Brasília
Alessandra Rocha de Albuquerque
Universidade Católica de Brasília
Ana Karina Curado Rangel de-Farias
Universidade Católica de Goiás
Instituto de Aplicação e Pesquisa Comportamental
Carlos Eduardo Cameschi
Universidade de Brasília
Cristiano Valério dos Santos
Universidade de São Paulo
Elenice S. Hanna
Universidade de Brasília
Elisa Tavares Sanabio-Heck
Universidade Católica de Goiás
Instituto de Aplicação e Pesquisa Comportamental
Geison Isidro-Marinho
Centro Universitário de Brasília
Instituto São Paulo de Terapia e Análise do Comportamento
Gordon R. Foxall
Cardiff University
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:265
João Claudio Todorov
Universidade Católica de Goiás
Universidade de Brasília
Jorge M. Oliveira-Castro
Universidade de Brasília
Karina de Guimarães Souto e Motta
Instituto São Paulo de Terapia e Análise do Comportamento
Kennon A. Lattal
West Virginia University
Laércia Abreu Vasconcelos
Universidade de Brasília
Lincoln da Silva Gimenes
Universidade de Brasília
Marcelo Emílio Beckert
Instituto de Educação Superior de Brasília
Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento
Marcelo Frota Benvenuti
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Rachel Nunes da Cunha
Universidade de Brasília
Raquel Maria de Melo
Universidade de Brasília
Raquel Moreira Aló
West Virginia University
Centro Universitário de Brasília
Sonia Beatriz Meyer
Universidade de São Paulo
Yvanna Aires Gadelha
Centro Universitário de Brasília
vi AUTORES
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:266
DEDICATÓRIA
Ao querido amigo Marcelo Beckert, que, com sua curiosidade,
nos mostrou como é interessante aprender, com sua
alegria, nos mostrou como é possível sorrir mesmo
nos momentos críticos e, com sua vivacidade, nos mostrou
como a vida é curta e deve ser aproveitada.
Marcelo, você está presente em nossa vívida história...
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:267
SUMÁRIO
Apresentação .................................................................................................................... 11
1. Ciência, tecnologia e análise do comportamento .......................................................15
Kennon A. Lattal
2. Operações estabelecedoras: um conceito de motivação ............................................27
Rachel Nunes da Cunha
Geison Isidro-Marinho
3. História de reforçamento .............................................................................................45
Raquel Moreira Aló
4. Momento comportamental ...........................................................................................63
Cristiano Valério dos Santos
5. Desamparo aprendido ..................................................................................................81
Elisa Tavares Sanabio-Heck
Karina de Guimarães Souto e Motta
6. Comportamento adjuntivo: da pesquisa à aplicação .................................................99
Lincoln da Silva Gimenes
Alessandra de Moura Brandão
Marcelo Frota Benvenuti
7. Contingências aversivas e comportamento emocional ........................................... 113
Carlos Eduardo Cameschi
Josele Abreu-Rodrigues
8. Generalização de estímulos: aspectos
conceituais, metodológicos e de intervenção .......................................................... 139
Yvanna Aires Gadelha
Laércia Abreu Vasconcelos
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:269
9. Quantificação de escolhas e preferência .................................................................. 159
João Claudio Todorov
Elenice S. Hanna
10. Autocontrole: um caso especial de comportamento de escolha ............................ 175
Elenice S. Hanna
Michela Rodrigues Ribeiro
11. Variabilidade comportamental .................................................................................. 189
Josele Abreu-Rodrigues
12. Regras e auto-regras no laboratório e na clínica ..................................................... 211
Sonia Beatriz Meyer
13. Correspondência verbal/não-verbal:
pesquisa básica e aplicações na clínica .................................................................... 229
Marcelo Emílio Beckert
14. Equivalência de estímulos: conceito,
implicações e possibilidades de aplicação ............................................................... 245
Alessandra Rocha de Albuquerque
Raquel Maria de Melo
15. Comportamento social: cooperação,
competição e trabalho individual ............................................................................. 265
Ana Karina Curado Rangel de-Farias
16. Análise do comportamento do consumidor ............................................................. 283
Jorge M. Oliveira-Castro
Gordon R. Foxall
10 SUMÁRIO
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:2610
APRESENTAÇÃO
A Análise do Comportamento é uma ciên-
cia do comportamento fundamentada na filo-
sofia do Behaviorismo Radical e que tem como
objeto de estudo a interação do indivíduo com
o ambiente. Skinner repetidas vezes afirmou
que o comportamento humano é um campo
de estudo delicado. Delicado no sentido de que
há controvérsia sobre qual seria a melhor forma
de estudá-lo. Delicado também no sentido de
que é multiplamente determinado e que, por-
tanto, consiste em um evento bastante com-
plexo. Esta obra ilustra ambos os aspectos ao
oferecer uma alternativa teórico-conceitual
para o estudo do comportamento humano e
ao especificar diversas estratégias metodoló-
gicas utilizadas na identificação de suas variá-
veis de controle.
Este livro consiste em uma coletânea de
textos que apresentam um conhecimento atua-
lizado e empiricamente fundamentado sobre
processos comportamentais complexos, bem
como as possíveis aplicações desse conhecimen-
to na resolução de problemas práticos. No Ca-
pítulo 1, Kennon A. Lattal apresenta uma aná-
lise das relações entre ciência básica, ciência
aplicada e tecnologia, o que dá suporte para
todas as discussões apresentadas nos capítu-
los posteriores. Para o autor, as pesquisas bási-
ca e aplicada em análise do comportamento
contribuem para o desenvolvimento de tecno-
logias que, porsua vez, ao serem implemen-
tadas e desenvolvidas, fornecem subsídios para
futuras pesquisas. Assim sendo, haveria uma
interdependência entre ciência básica e apli-
cada e tecnologia, tendo em vista que o cresci-
mento de um campo depende das conquistas
efetuadas no outro campo. Apesar de ser co-
mum a realização de estudos em que a transver-
salidade de informações entre ciência e tec-
nologia é descartada, os capítulos deste livro
pretendem seguir um caminho contrário e
apresentam algumas possíveis inter-relações
desses três campos.
No Capítulo 2, Rachel Nunes da Cunha e
Geison Isidro-Marinho apresentam a aborda-
gem analítico-comportamental do conceito de
motivação. A ênfase dos autores recai sobre o
conceito de operação estabelecedora (OE) que,
na atualidade, consiste em um instrumento
conceitual e metodológico para o estudo da
motivação em situação experimental e aplica-
da. Após apresentar uma análise histórica des-
ses conceitos, os autores definem e exemplifi-
cam as OEs incondicionadas e condicionadas
e apontam as dificuldades metodológicas de
se demonstrar empiricamente a diferença en-
tre OE e estímulo discriminativo. São também
descritas pesquisas aplicadas, as quais sugerem
que o conceito de OE é fundamental para a aná-
lise funcional do comportamento e, conseqüen-
temente, para o planejamento de intervenções
efetivas. Ao final do capítulo, os autores discor-
rem sobre as relações entre OEs e estados emo-
cionais, com ênfase no contexto clínico.
O Capítulo 3 aborda os efeitos da histó-
ria de reforçamento sobre a sensibilidade
comportamental a mudanças nas contingên-
cias. Inicialmente, Raquel Aló apresenta as di-
ferentes definições do termo história de refor-
çamento e, em seguida, indica que os efeitos
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:2611
12 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
da história dependem de variáveis tais como o
tipo de esquema de reforçamento presente
antes da mudança, da similaridade entre os
estímulos discriminativos antes e após a mu-
dança, das operações estabelecedoras em vi-
gor, etc. Também são apontadas algumas pes-
quisas aplicadas que ilustram os efeitos da his-
tória sobre o comportamento de estudar e so-
bre comportamentos agressivos. A autora dis-
cute possíveis aplicações dos resultados da
pesquisa empírica, enfatizando a relevância das
variáveis históricas para o diagnóstico e a in-
tervenção no ambiente clínico. Por fim, a au-
tora analisa os pontos em comum entre os es-
tudos de história de reforçamento e de outras
áreas, como aqueles sobre resistência a mu-
danças, desamparo aprendido e comportamen-
to governado por regras, incentivando a
integração dos resultados desses estudos.
No Capítulo 4, Cristiano Valério dos San-
tos discute diversas questões metodológicas pre-
sentes nos estudos sobre resistência a mudan-
ças, tanto no que se refere aos procedimentos
experimentais utilizados quanto à mensuração
da resistência. É apresentada uma distinção en-
tre taxa de respostas e resistência à mudança,
as quais seriam determinadas por diferentes
processos comportamentais, bem como uma
definição do modelo de momento comporta-
mental. Após descrever pesquisas básicas sobre
os determinantes (p. ex.: magnitude, atraso,
taxa e tipo de reforço) da resistência, o autor
estabelece um paralelo entre resistência à mu-
dança e escolha/preferência, controle instrucio-
nal e história de reforçamento. Ao final, o autor
exemplifica a utilização dos conceitos de mo-
mento comportamental e resistência à mudan-
ça na solução de problemas aplicados tais como
seguimento de instruções, resolução de proble-
mas de matemática, desempenho em jogos es-
portivos e autocontrole.
O Capítulo 5, de Elisa Tavares Sanabio-Heck
e Karina de Guimarães Souto e Motta, aborda o
fenômeno comportamental conhecido como de-
samparo aprendido, o qual resulta da exposição
a situações de incontrolabilidade, bem como as
estratégias metodológicas utilizadas na preven-
ção e na reversão desse fenômeno. As autoras
também fazem uma análise crítica do status cau-
sal comumente atribuído ao conceito de expec-
tativa pelos pesquisadores dessa área de investi-
gação. Para tanto, analisam estudos de desam-
paro caracterizados pela presença ou pela ausên-
cia de correspondência entre comportamento ver-
bal e não-verbal, apresentando uma interpretação
analítico-comportamental das relações verbais
presentes nesses estudos. Finalmente, são discu-
tidas algumas estratégias terapêuticas (p. ex.:
treino de auto-observação, treino de repertórios
não-verbais e modelagem de relatos discrimina-
dos) relevantes para a reversão dos efeitos da
história de incontrolabilidade.
No Capítulo 6, Lincoln da Silva Gimenes,
Alessandra de Moura Brandão e Marcelo Frota
Benvenuti apresentam a definição de compor-
tamento adjuntivo ou, alternativamente, com-
portamento induzido por contingências de
reforçamento, descrevem alguns tipos desse
comportamento e exemplificam a generalida-
de do fenômeno. Esses autores sugerem que o
modelo de comportamento adjuntivo pode ser
útil para o entendimento de diversos distúrbi-
os comportamentais, tais como drogadição,
obesidade, bulimia, anorexia e síndrome do
cólon irritável, entre outros. Além disso, é tam-
bém ilustrada a possibilidade de controle de
estímulos sobre o comportamento adjuntivo.
O Capítulo 7, de Carlos Eduardo Cames-
chi e Josele Abreu-Rodrigues, avalia a pesquisa
básica sobre contingências aversivas e seus
principais efeitos sobre o comportamento de
organismos humanos e não-humanos. Ao anali-
sar a punição e o reforçamento negativo, além
de apresentar algumas variáveis determinantes
das propriedades aversivas dos eventos
ambientais, os autores enfatizam as controvér-
sias existentes sobre a efetividade da punição,
as dificuldades metodológicas encontradas no
estudo da resposta de fuga, o procedimento
de esquiva de Sidman e o debate entre os adep-
tos de interpretações molares e moleculares do
processo de esquiva. Além disso, os autores
discutem a abordagem analítico-comporta-
mental do comportamento emocional. Por últi-
mo, há uma discussão sobre o uso de controle
aversivo em procedimentos terapêuticos diver-
sos, tais como na Terapia Analítica Funcional
e na Terapia da Aceitação e do Compromisso.
No Capítulo 8, Yvanna Aires Gadelha e
Laércia Abreu Vasconcelos apresentam uma
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:2612
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 13
análise teórico-conceitual e metodológica do
processo de generalização. Para tanto, as auto-
ras estabelecem diferenças entre pseudogene-
ralização e generalização verdadeira, generali-
zação e generalidade, classes funcionais e clas-
ses de equivalência, generalização de estímulos
e de respostas. Este capítulo contém, ainda, uma
descrição de estratégias metodológicas para a
promoção de generalização (p.ex., mediação da
generalização, treinamento direto da generali-
zação) e uma discussão do fenômeno da gene-
ralização no contexto clínico. Nessa discussão,
as autoras destacam os conceitos de integrida-
de do tratamento e satisfação do consumidor.
Na seqüência são apresentados dois capí-
tulos referentes à análise do comportamento
de escolha. No Capítulo 9, João Claudio Todorov
e Elenice S. Hanna apresentam os estudos de
quantificação de escolhas e preferência, indi-
cando modelos matemáticos desenvolvidos
para descrever o comportamento de escolha,
em especial o modelo conhecido como lei da
igualação. Os autores também apontam variá-
veis que influenciam a igualação entre distribui-
ção de respostas e de reforços, tais como o atra-
so do reforço para respostas de mudança, a his-
tória dos sujeitos experimentais e os tipos de
esquemas de reforçamento envolvidos na situa-
ção de escolha. Esse capítulo também apresenta
a controvérsia sobre o princípio da relativida-
de, discute a generalidade da lei da igualação
para o comportamento de escolha de huma-
nos ediscorre sobre possíveis aplicações da
relação de igualação para o comportamento de
indivíduos autistas, atletas e estudantes.
No Capítulo 10, Elenice S. Hanna e
Michela Rodrigues Ribeiro avaliam um tipo es-
pecial de situação de escolha – a situação de
autocontrole. Esse capítulo discute o conceito
de autocontrole e impulsividade a partir do
paradigma de autocontrole proposto por
Rachlin. Dentre as variáveis determinantes do
autocontrole, as autoras destacam os parâme-
tros do reforço (atraso, probabilidade, freqüên-
cia e magnitude), atividades desenvolvidas
durante o atraso do reforço, a história de
reforçamento, os estímulos discriminativos pre-
sentes na situação e o custo da resposta. Tam-
bém é discutido o papel do procedimento de
esvanecimento para fortalecer o comportamen-
to de autocontrole em contextos aplicados (p.
ex., indivíduos com atraso de desenvolvimen-
to, crianças hiperativas, adictos em nicotina,
mulheres com vaginismo). Ao final, as autoras
discorrem sobre o papel do comprometimento
em situações aplicadas de autocontrole.
No Capítulo 11, Josele Abreu-Rodrigues
discute o fenômeno da variabilidade com-
portamental. Ao apresentar as contribuições
da pesquisa básica e aplicada para a compre-
ensão desse fenômeno, a autora analisa sepa-
radamente a variabilidade como um sub-
produto de variáveis ambientais (p. ex., in-
termitência do reforço, retirada do reforço) e
como um produto direto de contingências de
variação. Na discussão do controle operante
da variabilidade, a autora discorre sobre tó-
picos tais como controle de estímulos, resistên-
cia à mudança, escolha entre repetição e va-
riação, história de reforçamento e controle
verbal. Neste capítulo, a autora também dis-
cute a relevância dos estudos sobre variabili-
dade para a compreensão do comportamento
criativo e de questões relacionadas à liberda-
de de escolha.
O livro ainda contém uma análise do com-
portamento verbal sob três diferentes ângulos.
Sonia Beatriz Meyer, no Capítulo 12, discute a
utilização de regras e auto-regras no laborató-
rio e na clínica analítico-comportamental. Ao
descrever os principais resultados da pesquisa
básica sobre o tema, a autora aponta diversas
variáveis que afetam a sensibilidade do com-
portamento verbalmente controlado a mudan-
ças nas contingências, tais como o grau de con-
tato com a nova contingência, o conteúdo da
regra, o nível de variabilidade comportamental,
a história de reforçamento e o grau de
discriminabilidade das contingências em vigor.
O capítulo apresenta, em seguida, uma discus-
são sobre o controle verbal no contexto clíni-
co, na qual a autora avalia a efetividade do
uso de regras/instruções e de modelagem na
promoção de mudanças comportamentais. Há
também uma discussão sobre duas variáveis
que influenciam o uso de estratégias diretivas:
a abordagem teórica do terapeuta e a história
de vida do cliente. Por fim, a autora analisa a
relação entre controle verbal e resistência e
adesão ao tratamento.
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:2613
14 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
Marcelo Emílio Beckert, no Capítulo 13,
apresenta uma descrição e a análise da corres-
pondência entre comportamento verbal e com-
portamento não-verbal. O autor discute aspec-
tos teóricos e metodológicos derivados da pes-
quisa sobre correspondência, enfatizando a di-
versidade metodológica existente na área, a
efetividade dos diversos tipos de treino da cor-
respondência (p. ex., fazer-dizer, dizer-fazer,
dizer-fazer-dizer) e as variáveis que afetam a
aquisição, a generalização e a manutenção da
correspondência. O capítulo também apresen-
ta algumas implicações dos resultados da pes-
quisa básica para contextos aplicados, com ên-
fase no contexto clínico. Aqui, o autor discorre
sobre a relevância do treino da correspondên-
cia para a aquisição dos comportamentos de
autoconhecimento e de autocontrole.
Alessandra Rocha de Albuquerque e Ra-
quel Maria de Melo, no Capítulo 14, discutem
a aprendizagem por equivalência de estímu-
los. As autoras inicialmente apresentam uma
diferenciação entre equivalência e generaliza-
ção e uma caracterização do procedimento
comumente utilizado para avaliar equivalên-
cia. Ao descrever os resultados da pesquisa
básica sobre o tema, as autoras discutem se a
nomeação oral dos estímulos é necessária para
a emergência de equivalência e sobre a possi-
bilidade de transferência de função entre os
membros de uma classe de equivalência. Por
fim, as autoras discorrem sobre a aplicabilidade
do paradigma de equivalência para o treino de
leitura, escrita, habilidades matemáticas e com-
portamentos clinicamente relevantes (p. ex.,
consumo de drogas, autoconceito negativo).
Finalizando, os dois últimos capítulos
abordam temas sociais. No Capitulo 15, Ana
Karina Curado Rangel de-Farias avalia a
pertinência de uma análise experimental do
comportamento social, enfatizando as estraté-
gias metodológicas utilizadas nas investigações
dos comportamentos de cooperação, competi-
ção e trabalho individual. A autora destaca,
dentre as variáveis de controle desses compor-
tamentos, a magnitude dos reforços, a história
de reforçamento, o custo da resposta, o con-
teúdo das instruções e a iniqüidade de refor-
ços entre os participantes da situação social. É
também discutida a relevância dos estudos so-
bre comportamento social para diversas situa-
ções aplicadas, tais como produtividade no tra-
balho, desempenho acadêmico, participação
em cooperativas de trabalho e manutenção de
recursos naturais.
No Capítulo 16, Jorge M. Oliveira-Castro
e Gordon Foxall apontam a relevância da
abordagem analítico-comportamental para o
estudo do comportamento do consumidor. São
apresentados resultados de pesquisas sobre tó-
picos relacionados ao comportamento do con-
sumidor, como, por exemplo, economia
comportamental, escolha e preferência, siste-
mas de economia de fichas e marketing social.
O capítulo também contém uma caracterização
dos padrões de escolha do consumidor, bem
como uma discussão sobre questões como o ce-
nário de consumo, a história de aprendizagem
do consumidor e as conseqüências do consu-
mo. Os autores mostram, ainda, uma proposta
de categorização do comportamento do consu-
midor. Por fim, os autores descrevem o uso de
procedimentos respondentes e operantes para
investigar o comportamento do consumidor.
É com muito entusiasmo que apresenta-
mos este livro, que poderá ser de grande utili-
dade a alunos de graduação e pós-graduação,
tendo em vista que os temas de que trata cons-
tituem parte de disciplinas obrigatórias na for-
mação desses alunos. Os profissionais que ado-
tam a abordagem analítico-comportamental,
bem como aqueles de áreas afins, que buscam
um conhecimento atualizado e fundamentado
na pesquisa básica e aplicada sobre processos
comportamentais diversos, também se benefi-
ciarão com a leitura deste livro. Além disso,
esta obra poderá amenizar as dificuldades dos
professores da área em oferecer bibliografia
atualizada na língua portuguesa, dificuldade
esta que nos têm levado a adotar, nos cursos
de graduação, traduções já defasadas ou tex-
tos em outros idiomas, o que freqüentemente
traz prejuízos ao processo ensino-aprendiza-
gem. Por fim, queremos agradecer a todos os
colaboradores pelo esforço em apresentar tra-
balhos fortemente embasados na literatura ci-
entífica e em apontar possíveis aplicações dos
resultados da pesquisa a contextos diversos.
As organizadoras
Iniciais_Eletronico.p65 19/7/2007, 15:2614
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 15
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
KENNON A. LATTAL
os cientistas fazem envolve um “conjunto de ati-
tudes” caracterizado por “uma disposição para
aceitar fatos mesmo quando eles são opostos a
desejos” (p. 12). O comportamento de um cien-
tista envolve “uma busca por ordem, por uni-
formidade, por relações ordenadas entre os
eventos na natureza”e, além disso, demonstra
“mais e mais relações entre eventos ... mais e
mais precisamente” (p.13).
Para essa discussão será também útil dis-
tinguir a ciência básica da aplicada. Tal distin-
ção pode ser feita comportamentalmente em
termos das variáveis que controlam o compor-
tamento do cientista. Na ciência básica o com-
portamento do cientista, amplamente definido,
é controlado pela aquisição de novos conheci-
mentos e pelo desenvolvimento de teorias. O
comportamento do cientista aplicado é simi-
larmente controlado pela aquisição de novos
conhecimentos, mas novos conhecimentos à
medida que estes se relacionam com o impac-
to do conhecimento sobre problemas práticos
(sociais para alguns, como Baer, Wolf, e Risley,
1968), isto é, faz as coisas funcionarem. Como
disse Baer (1991), “algumas disciplinas não se
dedicam a fazer alguma coisa funcionar, mas
sim a notar regularidade, ordem e predições,
enquanto outras dedicam-se a fazer as coisas
funcionarem” (p.429). A adição de controle ao
repertório do cientista aplicado, por meio do
desenvolvimento teórico, obscurece a distin-
ção entre ciência básica e aplicada, mas as va-
riáveis que controlam os dois empreendimen-
tos, aquelas relacionadas com a aquisição de
conhecimento versus aquelas relacionadas com
Os capítulos que compõem este livro ofe-
recem substância para as relações entre os ele-
mentos descritos no título deste primeiro capí-
tulo. Os autores descrevem muitos desenvol-
vimentos na análise experimental de proces-
sos básicos de aprendizagem, e muitos deles
também discutem as implicações de uma com-
preensão desses processos básicos para a reso-
lução de problemas do comportamento huma-
no. A interação entre ciência e tecnologia é
central para o bem-estar da ciência do com-
portamento e da tecnologia que envolve inter-
venções comportamentais planejadas para
melhorar problemas de comportamento. Este
capítulo examina as origens, os pressupostos e
a natureza da interação entre ciência e
tecnologia como um prelúdio para as discus-
sões de tais relações, as quais são desenvolvidas
para áreas específicas e substantivas da análi-
se do comportamento nos capítulos seguintes.
CIÊNCIA BÁSICA, CIÊNCIA APLICADA
E TECNOLOGIA
Uma definição satisfatória e mutuamen-
te acordada de ciência pode ser tão difícil de
se alcançar quanto a de uma série de conceitos
em psicologia, mas é necessária uma definição
como um ponto de partida. A famosa defini-
ção de E. G. Boring de inteligência como “aqui-
lo que os testes de inteligência testam” pode ser
refraseada para definir ciência como “aquilo que
os cientistas fazem”. A partir disso, Skinner
(1953) elaborou a definição de que aquilo que
11
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4415
16 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
a aquisição de conhecimento controlada por
seu impacto em assuntos práticos, ainda dis-
tinguem as duas.
A tecnologia não é controlada por nenhu-
ma dessas variáveis, mas por seu impacto so-
bre problemas práticos. O comportamento do
tecnicista é aquele de adaptação e de aplica-
ção do que é conhecido a partir das ciências
básica e aplicada para resolver problemas prá-
ticos da vida cotidiana, sejam eles construir
uma ponte melhor, ajudar um adulto que atra-
vessa uma crise pessoal ou melhorar a quali-
dade de vida de um adolescente gravemente
retardado. Assim como a distinção entre ciên-
cia básica e aplicada também o é, a distinção
entre ciência aplicada e tecnologia é, algumas
vezes, obscura (cf. Hawkins e Anderson, 2002;
Johnston, 1996).
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO COMO
UMA CIÊNCIA E UMA TECNOLOGIA
A ciência da análise do comportamento
começou com o trabalho de Skinner na déca-
da de 1930 (Skinner, 1956) sobre processos
básicos de aprendizagem. Os métodos de
Skinner encontraram seu espaço na aplicação,
talvez primeiramente na análise experimental
dos efeitos de drogas sobre o comportamento
(Skinner e Heron, 1937) e depois no desen-
volvimento de bombas teleguiadas por pom-
bos para o governo dos Estados Unidos
(Skinner, 1960), mas mais importante, por
meio do que mais tarde tornou-se a análise
comportamental aplicada (ver Ullman e
Krasner, 1965, p. 1-63, para uma revisão his-
tórica). Talvez as mais amplas questões nesses
desenvolvimentos em análise do comportamen-
to tenham sido aquelas referentes a como a
ciência básica, a ciência aplicada e a tecnologia
podem e relacionam-se entre si. Essas questões
têm resultado em um número de revisões úteis
dessas relações. Alguns têm discutido a carac-
terização da análise comportamental aplicada
como uma ciência e uma tecnologia (Hayes,
1978; Epling e Pierce, 1986; Johnston, 1996;
Smith, 1992), outros têm considerado a lacu-
na entre a análise comportamental básica e a
aplicada e sugerido maneiras de eliminá-la
(Baron e Perone, 1982; Hake, 1982; Epling e
Pierce, 1986), e outros ainda têm defendido a
necessidade de considerar as três não em ter-
mos de hierarquia, mas em termos de suas con-
tribuições independentes para a disciplina
(Epling e Pierce, 1986; Hayes, 1978).
A ciência da análise do comportamento é
controlada por variáveis de pelo menos três
fontes: pesquisa empírica passada, teoria e
observações correntes do comportamento. Com
a pesquisa empírica passada e a teoria, o con-
trole é amplamente verbal, visto que estímu-
los tanto escritos quanto orais estabelecem oca-
siões para novas pesquisas. Observações do
comportamento podem ser realizadas tanto no
laboratório quanto em cenários “aplicados”,
tais como clínico e educacional. Essas obser-
vações também incluem o bem conhecido prin-
cípio de “serendipidade” (Bachrach, 1960;
Skinner, 1956), por meio do qual observações
sistemáticas futuras do comportamento são
controladas por observações que desviam do
esperado, isto é, por contingências mais locais
e imediatas em contraste com as contingên-
cias de mais longo termo envolvidas no contro-
le da pesquisa pela teoria ou pela experimenta-
ção prévia.
Um dos objetivos da análise do compor-
tamento como uma ciência é desenvolver prin-
cípios comportamentais gerais que podem ser
aplicados igualmente a humanos e a não-huma-
nos, tanto em laboratório quanto em ambientes
naturais. Hake (1982) propôs que a pesquisa
básica sobre comportamento social e verbal
com humanos poderia servir como uma ponte
entre pesquisa básica com animais não-huma-
nos e a aplicação dos princípios a problemas
de comportamento humano, por exemplo, em
situações clínicas e educacionais. A importân-
cia da pesquisa básica nesses dois tópicos em
relação à aplicação é inquestionável porque
essas características definem partes importan-
tes do ambiente natural dos humanos. O que é
questionável é se elas são uma conexão neces-
sária entre pesquisa básica de laboratório com
animais e trabalho aplicado com humanos.
Hake definiu essa ponte como a extensão dos
princípios comportamentais para novas popu-
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4416
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 17
lações e novos padrões de comportamento, e,
nesse sentido, a pesquisa operante básica so-
bre comportamento social e verbal em huma-
nos pode ser considerada uma ponte. Essa ob-
servação não sugere, entretanto, que a pesqui-
sa operante com humanos seja necessária an-
tes da aplicação dos princípios comporta-
mentais a problemas do cotidiano. A história
da análise comportamental aplicada mostra
que o desenvolvimento do trabalho aplicado
não se deu por tal processo de três fases: da
pesquisa operante básica com animais para a
pesquisa operante com humanos e para a apli-
cação. A análise comportamental aplicada de-
senvolveu-se, pelo menos inicialmente, em
função do sucesso da extensão direta dos prin-
cípios comportamentais desenvolvidos com
animais não-humanos, em função da falta de
significativa produção de pesquisa operante bá-
sica com humanos. Uma vez que tanto o com-
portamento social quanto o verbal não são en-
contradosno laboratório animal, tal pesquisa
com humanos parece útil se o interesse é na
melhora de problemas comportamentais que
envolvem esses dois processos. As mesmas fon-
tes de controle na ciência básica operam na
ciência aplicada da análise do comportamen-
to. Embora esta possa estar fundamentada na
ciência básica, ela se desenvolve independen-
temente da ciência básica, uma vez que os pro-
blemas estudados por ela são controlados por
diferentes características do ambiente.
A análise do comportamento funciona
como uma tecnologia de duas maneiras dife-
rentes: aplicando princípios estabelecidos por
meio das pesquisas básica e aplicada para o
melhoramento de problemas de significância
social (Baer et al., 1968) e como uma fonte de
métodos para tornar “observação e mensura-
ção válidas e confiáveis” (Baer, 1991, cf.
Cardwell, 1994, p. 492). É a ênfase na solução
de problemas práticos que tem creditado à
análise do comportamento, dirigida a huma-
nos, sua reputação positiva. Melhoras na vali-
dade e na confiabilidade das observações por
meio do desenvolvimento de tecnologias
observacionais têm, entretanto, contribuído
significativamente para fornecer evidências de
que a análise do comportamento, de fato, fun-
ciona. Além disso, a aplicação de métodos ana-
lítico-comportamentais em áreas diversificadas,
como cognição animal e farmacologia compor-
tamental, tem contribuído imensamente para
o sucesso dessas disciplinas, pelo avanço da
ciência básica associada a cada uma delas.
PRAGMATISMO E PRÁTICA
A análise de comportamento é definida
como uma disciplina pragmática (Moxley,
2001; Baum, 1994), o que significa dizer que
tanto a ciência como a tecnologia da análise
do comportamento têm como critério de ver-
dade de um conceito a utilidade daquele con-
ceito. Na distinção entre pragmática e prática,
Morris (1970) observou que Peirce, quem pri-
meiro descreveu pragmatismo, “preferiu o ter-
mo ‘pragmatismo’ ... [porque] pragmatismo
não estava preocupado com ‘o prático’, nem
mesmo com todos os tipos de ‘prática’, mas com
a maneira como o conhecimento humano ... é
relacionado a ação ou conduta humana” (p. 9-
10). A distinção entre pragmatismo e prática é
importante para discussões das relações entre
ciência básica, ciência aplicada e tecnologia
porque os dois termos, às vezes, são equipara-
dos, com a implicação resultante de que a meta
final da análise do comportamento está em con-
tribuir para a solução de problemas práticos.
Por exemplo, Baer e colaboradores (1968) no-
taram que “behaviorismo e pragmatismo
freqüentemente parecem caminhar lado a lado.
A pesquisa aplicada é eminentemente pragmá-
tica; ela pergunta como conseguir com que um
indivíduo faça algo de maneira eficaz” (p. 93).
O segundo termo é, então, examinado em re-
lação “ao valor de aplicação” e às metas que
são “socialmente importantes” (p. 93). Metas
socialmente importantes certamente podem ser
tanto pragmáticas como práticas, porém nem
todas as metas pragmáticas são práticas. Do
ponto de vista da filosofia pragmática, qual-
quer solução, mesmo aquelas que podem não
satisfazer outros critérios, tais como a aceitabi-
lidade social (sem mencionar a relevância),
pode ser pragmática na medida em que satis-
faça as metas estabelecidas. A pesquisa básica
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4417
18 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
em análise do comportamento é pragmática
sem carregar, com esse rótulo, a necessidade
de ser prática.
O que significa uma disciplina pragmáti-
ca? O pragmatismo veio para a psicologia, e
então para a análise do comportamento, pelos
primeiros trabalhos de James e Dewey que, jun-
tos com Peirce, são considerados os fundado-
res da escola pragmática da filosofia. James e
Dewey rejeitaram a abordagem estruturalista
e seu substrato filosófico racionalista, que de-
finiu o início da psicologia como uma discipli-
na separada da filosofia e da fisiologia. Para
esses três fundadores (Morris, 1970, p. 10):
A ação humana é um tópico de preocupação
central. Esta preocupação, porém, não é com
o “movimento” ou a “atividade” como tal, nem
com os efeitos de idéias sobre a vida humana,
nem com uma teoria completa da natureza
humana; é principalmente focalizada (embo-
ra não exclusivamente) em um aspecto do
comportamento humano: ação inteligente,
que seria o comportamento propositivo ou
dirigido a metas, influenciado por reflexão.
Se o alvo é um assunto teórico ou prático,
o critério pragmático de verdade de utilidade é
definido em termos das metas que são determi-
nadas conforme for mencionado na citação an-
terior. Essa operacionalização de utilidade pa-
rece, a princípio, estar em conflito com uma ci-
ência do comportamento; o próprio Skinner
(1974, p. 55), entretanto, sugeriu que a análise
do comportamento é “o próprio campo do pro-
pósito e da intenção”. Lattal e Laipple (no pre-
lo) descreveram vários modos em que o critério
de verdade de utilidade é incorporado em uma
visão behaviorista de mundo. Pode ser, por
exemplo, considerada uma instância de corres-
pondência entre dizer e fazer (Ribeiro, 1989)
com o estabelecimento da meta e a realização
da meta correspondendo a dizer e a fazer.
RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA BÁSICA,
CIÊNCIA APLICADA E TECNOLOGIA
Tanto a ciência como a tecnologia da aná-
lise do comportamento são controladas por
eventos antecedentes e conseqüentes. Os even-
tos antecedentes incluem desenvolvimentos em
ciência básica, em ciência aplicada e em
tecnologia, e eventos conseqüentes envolvem
a “utilidade” ao longo das linhas do critério
pragmático de verdade de realização de metas
esboçado na seção anterior. A interação entre
esses eventos antecedentes e conseqüentes
constitui um progresso científico e tecnológico.
Moxley (1989) e Neef e Peterson (no pre-
lo) descreveram um modelo interativo, apre-
sentado na Figura 1.1, para enquadrar as rela-
ções entre ciência básica, ciência aplicada e
tecnologia. As atividades no lado esquerdo da
matriz constituem a fonte de informações, isto
é, a condição antecedente, e aquela no topo
da matriz constituiu o receptor ou o beneficiá-
rio das informações. Desse modo, cada ativi-
dade influencia as outras. Os próximos três
itens consideram as implicações de tal confi-
guração para a ciência e para a tecnologia da
análise do comportamento.
A ciência da análise do comportamento
A independência da ciência básica
e da aplicada
As interações mais comuns e influentes
na ciência da análise do comportamento en-
volvem ciência básica para ciência básica e ci-
ência aplicada para ciência aplicada. A análise
do comportamento foi caracterizada como uma
FIGURA 1.1 Uma matriz descrevendo as interações
entre ciência básica, ciência aplicada e tecnologia.
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4418
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 19
ciência histórica, visto que práticas atuais e des-
cobertas são construídas a partir de observa-
ções e de experimentações prévias. Este livro
ilustra como o conhecimento atual sobre pro-
cessos e fenômenos comportamentais é o re-
sultado do acúmulo de experimentação, em
que novos experimentos são fundamentados
em experimentos anteriores. As fontes mais
fortes de controle sobre práticas científicas atu-
ais em ciência básica e em ciência aplicada são
os experimentos que as precederam em, na
maioria das vezes, uma área similar ou relacio-
nada. Pode ser só um leve exagero dizer que
muitos, se não a maioria, dos cientistas bási-
cos lêem principalmente o que outros cientis-
tas básicos escrevem. Quer dizer, eles lêem
pouco sobre ciência aplicada ou áreas tecnoló-
gicas de sua disciplina. O mesmo pode ser dito
de cientistas aplicados com respeito à literatu-
ra aplicada. Essa afirmativa é sustentada por
estudos que mostram que as taxas de citações
transversais em artigos de análise do compor-
tamento que aparecem no Journal of the Expe-
rimental Analysis of Behavior e no Journal of
Applied BehaviorAnalysis são, realmente, bas-
tante pequenas (Poling, Alling e Fuqua, 1994).
Uma implicação dessa infreqüente taxa
de citações transversais é que as ciências bási-
cas e as aplicadas da análise de comportamen-
to estão operando de maneira relativamente
independentes entre si. Esse achado não é in-
salubre nem particularmente surpreendente.
A independência entre análise do comporta-
mento básica e aplicada, em termos de pro-
gramas de trabalho de pesquisas e de assuntos
conceituais que comandam a atenção, é um
sinal saudável de crescimento na disciplina
como um todo. Embora a análise do compor-
tamento aplicada derive seus princípios e sua
visão de mundo da ciência básica baseada em
investigações com humanos e com não-huma-
nos dentro da análise experimental do com-
portamento, a análise do comportamento apli-
cada não pode ser estritamente limitada pela
ciência básica em termos tanto dos problemas
que investiga quanto dos métodos que desen-
volve para estudá-los. Ela se fundamenta em
alguns dos assuntos e problemas teóricos deri-
vados da análise do comportamento básica,
entretanto muitos problemas encontrados na
aplicação de princípios do comportamento tam-
bém devem ser tratados. É improvável que a
ciência básica trate esses problemas, colocan-
do, assim, o ônus de investigá-los na análise
do comportamento aplicada. A análise do com-
portamento aplicada não é também limitada
pelos métodos da ciência básica. A importân-
cia dos planejamentos de reversão na ciência
básica é uma parte de quase toda investigação
de um processo básico de aprendizagem. O
procedimento de linha de base múltipla foi de-
senvolvido porque as demandas na condução
de pesquisa em situações naturais algumas
vezes impedem a reversão para a condição de
linha de base. Embora aquele planejamento
seja um “cavalo de força” da análise do com-
portamento aplicada, isto raramente, se algu-
ma vez, foi usado em situações de pesquisa
básica.
Relações interdependentes entre
a ciência básica e a aplicada
Como já foi sugerido, a análise do com-
portamento básica se desenvolveu antes da ci-
ência aplicada e, nesse sentido, a última é uma
descendente linear da primeira. Desse modo,
as ciências básica e aplicada da análise do com-
portamento compartilham uma linhagem co-
mum que inclui uma visão comum de mundo,
uma visão comum das variáveis que determi-
nam o comportamento e os métodos sobrepos-
tos (mas métodos freqüentemente não-idênti-
cos porque os ambientes naturais em que a ci-
ência aplicada muitas vezes ocorre colocam
especial demanda sobre os métodos, deman-
das essas não colocadas sobre pesquisas em
situações de laboratório, como notado anterior-
mente). De forma geral, as ciências básica e
aplicada influenciam fortemente uma a outra.
Mais especificamente, é muito freqüente
o caso em que a pesquisa básica provê o ímpe-
to para a pesquisa aplicada, e muitos têm dis-
cutido que isso deveria ser mais freqüente.
Mace (1994), por exemplo, clamou pelo de-
senvolvimento de pesquisa básica em várias
áreas que ele sugeriu como particularmente
relevantes para a análise do comportamento
aplicada: distribuição de respostas, resistência
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4419
20 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
gia deixar o que se está fazendo e estudar a
nova descoberta. Se tomado muito literalmen-
te, a ciência nunca progrediria porque novas
descobertas definem a atividade. Menos lite-
ralmente, Skinner estava sugerindo que seguir
os dados de maneira indutiva pode ter resulta-
dos recompensadores. Uma maneira de facili-
tar a exposição do cientista para outro tipo de
problema é pedir a ele para relacionar sua pró-
pria pesquisa com outras coisas. Como um bom
exemplo de como isso poderia ser feito, recen-
temente o Journal of Applied Behavior Analysis
tomou a iniciativa criativa de convidar pesqui-
sadores básicos e aplicados para colaborarem
no desenvolvimento de uma revisão de uma
área de análise do comportamento básica com
um olhar nas aplicações de tais pesquisas
(Lattal e Neef, 1996). Desse modo, cientistas
com diferentes focos examinam problemas re-
lacionados a sua própria pesquisa, mas em uma
outra arena.
Ciência e tecnologia
Foram sugeridos dois modelos gerais de
interações entre as ciências, tanto a básica
como a aplicada, e a tecnologia. O mais con-
vencional modelo de progresso da ciência para
a aplicação é um modelo linear. Com esse mo-
delo, desenvolvimentos em ciência básica são
refinados e tornados relevantes por cientistas
aplicados, que, por sua vez, entregam seus pro-
dutos para indivíduos qualificados e bem-trei-
nados para empregá-los como uma tecnologia.
É o caso do modelo de progressão da física e
da química para a engenharia e, então, para a
construção ou produção. O segundo modelo é
parte do que foi descrito previamente como um
modelo interativo em que ciência e tecnologia
influenciam-se mutuamente. Ainda existe o mo-
vimento da ciência básica e da aplicada para a
aplicação, mas os movimentos reversos também
são reconhecidos (cf. Cardwell, 1994).
O modelo linear tem sido apresentado
como uma justificativa para a pesquisa básica,
como a fundação da tecnologia moderna. Como
tal, às vezes é visto como o modo ideal para
maximizar ganhos a partir do conhecimento
científico. Segundo esse modelo, a ciência bá-
à mudança, contracontrole, formação e dife-
renciação/discriminação de classes de estímu-
los e de respostas, análise de comportamento
de taxa baixa e comportamento governado por
regra.
Ocasionalmente, a relação inversa tam-
bém ocorre. Dois exemplos ilustram o movi-
mento de pesquisa aplicada para pesquisa bá-
sica. Às vezes, a pesquisa aplicada influencia a
pesquisa básica quando uma pesquisa sobre um
problema aplicado revela uma anomalia ou um
resultado inesperado que não é intuitivo a par-
tir do que é conhecido na ciência básica. Como
um exemplo simples, em meu próprio labora-
tório, há vários estudos aplicados que demons-
tram que usando dois tipos diferentes de re-
compensas para a mesma tarefa, brinquedos e
M&M (pastilhas de chocolate), por exemplo,
ocorre um melhor desempenho do que quando
utilizado um ou outro tipo de recompensa in-
dividualmente. Não é óbvio por que isso deve-
ria acontecer, e agora estamos estudando o
problema, usando ratos como sujeitos e pelotas
de comida e leite condensado como reforça-
dores. Outras vezes, modelos de laboratório,
com humanos ou não-humanos, são construí-
dos a partir da ciência básica para estudar fe-
nômenos de interesse para a ciência aplicada
sob condições mais controladas, mas mais im-
portante em termos da discussão presente,
permitir que o fenômeno aplicado seja mais
sistematicamente relacionado aos processos
comportamentais básicos. Lattal (2001) tem
discutido a natureza da extensão dos princí-
pios de um lado para outro entre a ciência
básica e a aplicada dentro da análise do com-
portamento.
As pesquisas básica e aplicada parecem
mutuamente importantes uma para a outra
como uma fonte de novas idéias e soluções de
problemas práticos, mas a dificuldade está em
encontrar formas para pesquisadores básicos e
aplicados deixarem o que estão fazendo e es-
tudar em alguma outra coisa, presumivelmen-
te por causa das contingências que operam para
manter suas atividades presentes. O problema
é o controle do comportamento, neste caso,
do comportamento científico. Skinner (1956)
observou que, quando alguém descobre algo
interessante algumas vezes é uma boa estraté-
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4420
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 21
sica tem fornecido a base necessária para a apli-
cação tecnológica de tal forma que se torna
simplesmente uma questão de adaptar o prin-
cípio científico para algum problema prático.
Embora isso freqüentemente seja verdade, não
é sempre o caso, e contra-exemplos trazem à
discussão a generalidade do modelo.
Em sua análise de revoluções científicas,Kuhn (1971) notou que a ciência é perita em
esconder conflitos, especialmente conflitos te-
óricos. Sua posição é que a ciência normal even-
tualmente permite falhas no paradigma sob o
qual ela é conduzida. As falhas são escondidas
ou ignoradas até que um paradigma novo e
melhorado apareça. Então, a história do pro-
blema é reescrita de tal maneira que as incon-
sistências anteriores são encobertas, e a ciên-
cia é apresentada como um acúmulo gradual e
fluente de conhecimento. Essas mesmas idéias
podem ser aplicadas à relação entre ciência e
tecnologia. Moxley (1989) ofereceu o exem-
plo de como o uso de laranjas e limões se de-
senvolveu em um tratamento para o escorbuto.
A descoberta científica dos mecanismos
freqüentemente é retratada como a razão para
a prática (Skinner, 1987), o que se constitui
em um exemplo clássico do modelo linear.
Comer frutas como um tratamento para aque-
le flagelo do serviço naval, o escorbuto, po-
rém, era parte da medicina popular pelo me-
nos por 400 anos antes de ser descoberto que
o escorbuto era o resultado de uma falta de
vitamina C na dieta. Moxley sugeriu que a
tecnologia de comer frutas para prevenir o
escorbuto não foi causalmente ligada à desco-
berta dos mecanismos no final dos anos 1700.
Ele notou que (1989, p. 49):
A história da cura para o escorbuto não é a
história do atraso lento entre uma descoberta
científica inicial e sua aplicação prática. Ao
invés disso, é a história de quanto tempo pode
levar antes que alguma adventícia aplicação
prática bem-sucedida possa ser cientificamen-
te explicada.
O modelo interativo oferece uma visão
relacionada, mas mais completa, da relação
entre a ciência e a tecnologia, levando em conta
os círculos de retroalimentação entre a tecnolo-
gia e as ciências a partir das quais elas se de-
senvolvem. Mesmo dentro de um modelo in-
terativo, a tecnologia é mais freqüentemente
influenciada pela ciência aplicada porque as
aplicações são mais diretas desta para a outra.
Em muitos casos, entretanto, a aplicação
tecnológica é suficientemente direta, de for-
ma que pesquisa aplicada adicional não é ne-
cessária, ou pode ser adiada até que a aplicação
direta da pesquisa básica seja tentada.
Qual a contribuição da
ciência para a tecnologia?
A ciência contribuiu mais freqüentemente
com as matérias-primas das quais a tecnologia
é construída, e esta parte da relação segue o
modelo linear de ciência para tecnologia, pre-
viamente discutido. As tecnologias da análise
do comportamento, por exemplo, foram inicial-
mente construídas sobre os fundamentos
conceituais e experimentais do trabalho de
Skinner, como já notado. O modelo linear não
dá conta, porém, de todas as instâncias de
tecnologia porque algumas tecnologias desen-
volvem-se em resposta direta às contingências
naturais locais sem que, necessariamente, exis-
ta uma ciência básica como pré-requisito. A
roda, a escrita e o desenvolvimento do ferro
podem ser exemplos de tais respostas diretas.
Thomas Edison, o “mago do Parque Menlo”
como era chamado, era um dos inventores mais
prolíferos e bem-sucedidos entre aqueles rei-
vindicados pelos Estados Unidos, mas ele
não tinha nada a ver com a compreensão cien-
tífica de mecanismos. Seu único interesse era
inventar “coisas úteis”. É claro, pode ser argu-
mentado que as matérias-primas das quais ele
construiu suas invenções eram, de fato, um
produto das ciências do seu tempo. Além dis-
so, o trabalho de Edison, e de outros invento-
res, poderia ter prosseguido de maneira mais
eficaz se tivesse a ciência básica provido uma
fundação mais formal. Nikola Tesla, o princi-
pal competidor de Edison e de igual inventi-
vidade, nascido na Croácia, disse sobre Edison
(White, 2002, p. 132):
Se ele tivesse de achar uma agulha em um
palheiro, ele procederia com a diligência da
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4421
22 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
abelha para examinar palha após palha até
encontrar o objeto de sua procura. Eu fui uma
testemunha penosa de tais ações, sabendo que
um pouco de teoria e de cálculo teria econo-
mizado 90% de seu trabalho.
Aqueles que aplicam a tecnologia prova-
velmente têm uma interação direta, relativa-
mente pequena, tanto com a ciência básica
como com a aplicada, mas suas informações
sobre os desenvolvimentos nessas áreas e as
implicações de tais desenvolvimentos para a
prática podem vir daqueles envolvidos tanto
em uma como em outra ciência. Tais informa-
ções são destiladas para algo facilmente apli-
cado e apresentadas em foros tais como semi-
nários, documentação escrita e apresentações
em conferências.
Qual a contribuição da tecnologia
para a ciência?
A ciência também fornece à tecnologia
muitos problemas práticos que ela, a ciência,
precisa que sejam resolvidos para os avanços
adicionais e, diretamente ao ponto desta sub-
seção, a tecnologia retroalimenta a ciência com
muitas das ferramentas que esta precisa de-
senvolver e que, de outra maneira, não se-
ria possível. O fornecimento dessas ferramen-
tas tem um impacto que vai além do propósito
original de seu desenvolvimento. Embora fer-
ramentas sejam criadas em resposta a certas
demandas específicas do ambiente, uma vez
que uma ferramenta torna-se disponível pode
ser disponibilizada para muitos outros usos.
Um desses usos é a expansão da ciência básica
até mesmo em outras direções daquela permi-
tida pela ferramenta original. Avanços tecno-
lógicos, tal como um novo modo de medir uma
resposta difícil ou um novo teste estatístico,
desenvolvido para um determinado propósito,
podem ter uma larga aplicação para outros
problemas da ciência básica e da aplicada.
Desse modo, por exemplo, o desenvolvimento
de uma tecnologia para a análise funcional de
comportamentos-problema de crianças com
atraso de desenvolvimento tem provado ser va-
lioso para um amplo espectro de problemas e
de ambientes.
 Existe um problema potencial de circu-
laridade no fato de que a tecnologia retroali-
menta a ciência básica da qual ela deriva. A
circularidade é quebrada em parte porque a
tecnologia importada de volta para a ciência
é baseada em outras facetas da ciência em
questão, ou porque a tecnologia pode ser im-
portada de outra disciplina (isto é, tecnologia
computacional no caso da ciência da análise
do comportamento). O importante papel da
tecnologia em desenvolvimento científico pa-
rece ser contrário a um modelo estritamente
linear de desenvolvimento científico para apli-
cação porque ele não permite que a tecnologia
retroalimente a ciência e, assim, altere o cur-
so da ciência.
A tecnologia pode sustentar-se sozinha?
O bloco restante da matriz na Figura 1.1
é aquele em que tecnologia é tanto a fonte
quanto o recipiente, gerando a pergunta no tí-
tulo desta subseção. Somente de modo limita-
do pode a tecnologia sustentar-se. Algumas
vezes, ela fornece soluções locais, circunscri-
tas a problemas que surgem em situações es-
pecíficas; mas existem pelo menos três proble-
mas com tecnologia alimentando tecnologia,
talvez especialmente em psicologia. O primei-
ro é que na ausência de qualquer avaliação e
modificação resultante dessa avaliação, tais in-
tervenções psicológicas tecnologicamente
dirigidas tornam-se nada mais do que psicolo-
gia popular, um tipo de alquimia psicológica
em que cada praticante procura seu próprio
caminho de acordo com suas próprias regras,
nenhum dos quais necessariamente concordan-
do com as regras dos outros. Como os limões,
no caso dos marinheiros britânicos, tais inter-
venções podem funcionar, mas sua aplicação
pode ser limitada e ineficiente sem uma com-
preensão do mecanismo que uma análise cien-
tífica permitiria. Tais soluções estritamente
tecnológicas freqüentemente levam a aborda-
gens de pacotes para problemas em que várias
coisas são tentadas de uma vez e, se efetivo, o
pacote permanece o tratamento de escolha, em-
bora só um ou dois elementos possam ser res-
ponsáveispelos efeitos. O segundo problema
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4422
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 23
é relacionado ao primeiro. Quando um pacote
tecnológico não funciona como devia, a me-
nos que os próximos passos sejam articulados,
para o técnico não é claro qual a próxima coi-
sa a ser feita. Desse modo, por exemplo, se re-
compensar algum comportamento alternativo
apropriado de um adolescente com atraso de
desenvolvimento não aumenta a freqüência
daquele comportamento, a solução estritamen-
te técnica de recompensar um comportamen-
to apropriado não sugere qual o próximo pas-
so em direção a aumentar o comportamento-
alvo. Em parte, isso é um problema do quão
específica a tecnologia é, mas quando aplica-
ções tecnológicas começam a incorporar a no-
ção de teorias ou princípios gerais, a distinção
entre tecnologia e ciência é obscurecida. Em
parte, porque não se espera que técnicos sai-
bam os princípios científicos subjacentes; a
menos que se utilizem métodos precisos para
manter a tecnologia como planejada para ser
aplicada, a aplicação da tecnologia pode mu-
dar da sua forma pretendida originalmente.
Essa mudança tecnológica constitui o terceiro
problema da tecnologia servindo tanto como
fonte quanto como recipiente. Particularmen-
te em psicologia, em que muito da tecnologia
envolve pessoas que se comportam de deter-
minadas maneiras, na ausência das condições
originais, o comportamento das pessoas des-
loca-se de seu treinamento original quando
contingências mais locais, nem sempre consis-
tentes com as metas de longo prazo da inter-
venção, entram em jogo. Pennypacker (1986),
por exemplo, descreveu os problemas de trans-
ferência de tecnologia com respeito a manter
um programa de treinamento para ensinar mu-
lheres a realizar auto-exame de mamas como
uma intervenção de prevenção ao câncer.
Trazendo, para a análise do comportamento,
elementos de outras disciplinas
Desde o início, a psicologia, em geral, e a
análise de comportamento, em particular, têm
utilizado idéias de outras disciplinas. A psico-
logia propriamente é uma disciplina híbrida,
tendo surgido de um “casamento” peculiar en-
tre a filosofia e a fisiologia. Sendo assim, des-
de o início a psicologia tem abstraído idéias e
tecnologias de outros universos de discurso.
Idéias filosóficas, como operacionismo, o prag-
matismo, o selecionismo e outras, abundam na
teoria analítico-comportamental moderna tan-
to “básica” como “aplicada”. Muitos dos pro-
blemas científicos mais amplos da psicologia
desenvolveram-se de antigos problemas trata-
dos por filósofos e fisiologistas. Semelhante-
mente, pesquisas básicas em análise do com-
portamento sobre questões como a natureza
de reforço e punição (Dinsmoor, 2001), a con-
dição da força da resposta, as variáveis deter-
minantes da escolha e a natureza da equiva-
lência de estímulos (Sidman, 1986) refletem
questões antigas tanto da psicologia como de
outras disciplinas, como a lógica, a matemáti-
ca e a fisiologia.
Existe uma diferença importante entre a
influência de dados de outras disciplinas e a
incorporação de outras visões de mundo na
metateoria analítico-comportamental. Por
exemplo, um assunto um pouco preocupante
tem sido a relação entre a análise do compor-
tamento e a fisiologia. Schaal (no prelo) no-
tou um número de benefícios derivados da in-
clusão de dados fisiológicos na análise do com-
portamento predominante, mas Reese (1996)
sugeriu que a análise do comportamento não
tem nenhuma obrigação de fazer tal inclusão.
Na verdade, Reese discute que fazê-lo pode
obscurecer a distinção entre as duas e custar
à análise do comportamento um pouco de sua
condição como uma disciplina independente.
Trazer a pesquisa e a teoria de outras discipli-
nas é, porém, tanto inevitável quanto pode
ser altamente útil em expandir o âmbito da
análise do comportamento. Dependendo de
como a mistura é feita, a visão de mundo não
precisa ser necessariamente comprometida.
Por exemplo, Branch (1984) examinou os
modos em que o estudo de ações de drogas
poderia expandir o entendimento dos meca-
nismos tanto das drogas quanto do compor-
tamento. Sua sugestão é que um contribui
para o entendimento do outro, uma posição
diferente daquela de outros que simplesmen-
te usam os métodos da análise do comporta-
mento como uma tecnologia para estudar a
ação de drogas.
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4423
24 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
Tomar elementos de outras disciplinas
não é, claramente, limitado a assuntos
conceituais e teóricos. Thompson (1984) no-
tou as estranhas semelhanças entre os méto-
dos da fisiologia experimental descritos no sé-
culo XIX por Bernard (1865/1957) e os méto-
dos contemporâneos da análise experimental
do comportamento. Realmente, um dos mais
importantes instrumentos de pesquisa de
Skinner, o registro cumulativo, evoluiu do
quimógrafo, uma invenção do fisiologista ex-
perimental alemão, Karl Ludwig. Skinner re-
formou o registro cumulativo durante a maior
parte de sua carreira de pesquisador, modifi-
cando e melhorando as versões antigas até
desaparecer, junto com o tambor de memória,
na era da mais versátil tecnologia adotada e
adaptada, o computador digital.
SELECIONISMO, CIÊNCIA
E TECNOLOGIA
O selecionismo tem sido sugerido como
um modelo para evolução orgânica e também
para mudanças ontogenéticas e culturais
(Skinner, 1981). Reconhecendo a análise de
Skinner como um importante componente da
cultura humana, ciência e tecnologia estão,
desse modo, sujeitas aos mesmos princípios de
variação e de seleção que qualquer outra prá-
tica cultural. Petroski (1992) ilustrou a aplica-
ção de um modelo selecionista para entender
a evolução da tecnologia diária na forma de
objetos úteis, como lápis e clipes para papel.
Um quadro de referência selecionista começa
com a variação, porque sem variação não exis-
te nada a ser selecionado por processos natu-
rais. A variação, desse modo, é um elemento
crítico na evolução contínua das práticas cul-
turais de ciência e de tecnologia.
Uma vantagem de conceitualizar a rela-
ção entre a ciência e a tecnologia em termos
do modelo interativo mostrado na Figura 1.1
é que ela representa uma descrição mais am-
pla das fontes de variação nas relações entre
ciência básica, ciência aplicada e tecnologia.
Vários autores têm assinalado a falta de comu-
nicação entre as psicologias operante e não-
operante (Krantz, 1971), entre a análise do
comportamento básica e a aplicada (Poling et
al., 1994) e entre os pesquisadores que traba-
lham com humanos e os que trabalham com-
não-humanos dentro da ciência básica da aná-
lise do comportamento (Perone, 1985). Exis-
tem razões práticas e científicas razoáveis para
tais comunicações restritas, como foi notado
anteriormente neste capítulo. Mas, do ponto
de vista de um selecionista, um sistema muito
fechado é desvantajoso porque limita a maté-
ria-prima sobre a qual a seleção pode agir. Cada
uma dessas fontes é uma fonte potencial de
variação em idéias para o desenvolvimento de
outras que não estão sendo otimizadas.
Outras fontes de variação também podem
contribuir para a evolução contínua da ciência
e da tecnologia da análise do comportamento.
As muitas outras áreas de ciência e de tecno-
logia psicológicas servem para essa função, as-
sim como ocorre com o constante influxo de
jovens cientistas e de técnicos em análise do
comportamento. Kuhn (1971) notou que as
mudanças dentro daquela disciplina freqüen-
temente são provocadas por uma pessoa nova
na disciplina, por uma pessoa jovem ou alguém
mais velho, mas com treinamento diferencia-
do que só agora está entrando na disciplina.
Dentro da disciplina, pesquisadores básicos
considerando problemas aplicados e pesquisa-
dores aplicados considerando problemas bási-
cos semelhantemente podem introduzir varia-
ções saudáveis para as áreas nas quais eles não
trabalharam antes.A variação não é menos
importante para os diferentes empenhos da
análise do comportamento do que é para os
pássaros e para as abelhas.
CONCLUSÃO
Que relações existem entre a ciência bá-
sica, a ciência aplicada e a tecnologia da análi-
se do comportamento? A tecnologia depende
das ciências básica e aplicada, mas de outra
forma também as retroalimenta, provendo mui-
tas das ferramentas para o crescimento e o
desenvolvimento futuros.
As ciências básica e aplicada da análise
do comportamento não podem operar de ma-
neira totalmente independente uma da outra,
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4424
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 25
pois cada uma é controlada por um conjunto
de assuntos e de circunstâncias único em seus
ambientes naturais. Elas dependem uma da
outra para idéias e como um meio de exami-
nar a confiabilidade, a validade e a generali-
dade dos processos e dos mecanismos compor-
tamentais que estão sob investigação. Cada
uma dessas áreas da análise do comportamen-
to também é enriquecida por pesquisas e in-
formações técnicas de outras áreas da psicolo-
gia e também de outras ciências. A interação
de todos esses elementos provê fontes ricas de
variação das quais o ambiente natural pode
selecionar as práticas que definirão a análise
do comportamento no futuro.
NOTA DO AUTOR
Uma versão deste capítulo foi apresenta-
da em um colóquio na Universidade de Brasília,
em janeiro de 2003, como parte das comemo-
rações do quadragésimo aniversário do Insti-
tuto de Psicologia. Agradeço a Lincoln Gimenes
pelos úteis comentários sobre a versão inicial
e pela tradução do capítulo para a língua por-
tuguesa.
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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 27
OPERAÇÕES ESTABELECEDORAS:
UM CONCEITO DE MOTIVAÇÃO
RACHEL NUNES DA CUNHA
GEISON ISIDRO-MARINHO
apresentar ambigüidades pelas várias acepções
do verbete na língua portuguesa. O dicionário
eletrônico do Instituto Antônio Houaiss (2001)
da língua portuguesa traz o verbete motivação
como um substantivo feminino, e na acepção
de “ato ou efeito de motivar”, o verbete é defi-
nido em termos jurídico, lingüístico e semió-
tico e psicológico. Na rubrica da psicologia,
apresenta como significado um “conjunto de
processos que dão ao comportamento uma in-
tensidade, uma direção determinada e uma
forma de desenvolvimentopróprias da ativi-
dade individual”. Tal definição é apresentada
no referido dicionário como:
1. motivação altruísta, aquela “que
considera ou favorece o bem-estar
de outrem”;
2. motivação de eficácia, aquela rela-
cionada à competência (capacida-
de). O dicionário indica como sinô-
nimo e variantes a consulta do ver-
bete “causa”.
Douglas Mook, em seu livro Motivation –
The organization of action (edição de 1987), pre-
ocupa-se com a forma como as diferentes abor-
dagens do conceito de motivação têm sido apre-
sentadas. Refere-se, por exemplo, às controvér-
sias e às questões teóricas que, às vezes, são apre-
sentadas uma em oposição à outra, a exemplo
de impulsos versus instintos (padrões-fixos-de-
ação), impulso animal versus teorias cognitivas,
pesquisa com humanos versus com organismos
não-humanos. Para Mook, esse modo de com-
2
O emprego do conceito de motivação
como termo técnico da psicologia requer pre-
cisão seja qual for o referencial teórico e meto-
dológico utilizado, de modo a dirimir a ambi-
güidade que o termo encerra na linguagem
coloquial.
Historicamente, as variáveis motivacio-
nais têm sido consideradas como determinan-
tes da ação humana, aspecto que manteve o
conceito de motivação como um tópico vigen-
te na psicologia. O que torna esse tema fasci-
nante e desafiador para os psicólogos é com-
preender a que esse conceito se refere no am-
plo arcabouço teórico, conceitual e metodoló-
gico da psicologia. A questão fundamental está
no tratamento e na descrição das variáveis
controladoras do comportamento. Análises so-
bre o papel da motivação na explicação do com-
portamento têm conduzido a várias concepções
teóricas e metodológicas que refletem os es-
forços da psicologia para elucidar uma pergun-
ta básica: por que os homens comportam-se
da maneira como o fazem? O estudo do tópico
de motivação nos conduz à discussão sobre a
natureza das variáveis motivacionais que têm
sido caracterizadas tanto como processos in-
ternos quanto como eventos do ambiente ex-
terno. Essas diferenças ocorrem porque a psi-
cologia apresenta diversidades na definição de
seu objeto de estudo, de sua metodologia e de
seus pressupostos epistemológicos. Para os ana-
listas do comportamento, as variáveis motiva-
cionais são variáveis ambientais.
Um fator complicador é que “motivação”,
como um termo da linguagem coloquial, pode
Analise_do_Comportamento.p65 17/7/2007, 15:4427
tatim
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28 ABREU-RODRIGUES, RIBEIRO & COLS.
paração pode levar-nos a negligenciar algumas
possibilidades de interface que, por exemplo, as
pesquisas com organismos não-humanos e hu-
manos têm, como nos tópicos sobre fome, sede,
afeiçoamento ou simpatia e desamparo. Não
podemos negar essas divergências e devemos
ter o cuidado para não pôr uma teoria contra
outra, porque poderemos cometer erros de na-
tureza lógica, epistemológica e conceitual. Tal-
vez o maior equívoco seja perder as possibilida-
des de interface entre diferentes concepções que
podem proporcionar uma visão nova ou um me-
lhoramento – ou maior esclarecimento – do con-
ceito de motivação com todo o rigor que a pes-
quisa exige para descaracterizar o uso coloqui-
al do termo motivação.
O conceito de motivação passou por vá-
rias acepções ao longo do tempo – tais como
instinto, impulso e a retomada do conceito de
instinto pelos etologistas –, mas, sem dúvida al-
guma o termo impulso foi o que teve maior im-
pacto. Esse impacto é refletido, por exemplo,
na postura dos analistas do comportamento ao
definir o conceito de motivação sem fazer refe-
rência ao termo impulso, de modo a dissipar a
base mentalista ou organísmica que o termo
recebeu dos behavioristas metodológicos, como,
por exemplo, Clark Hull (1884-1952).
Quando o conceito de impulso tinha um
status fortemente mentalista ou organísmico,
Skinner, em seu livro publicado em 1938, The
behavior of organisms – An experimental
analysis, dedicou dois capítulos a este concei-
to (Capítulo 9 – “Drive” e Capítulo 10 – “Drive
and conditioning: The interactions of two va-
riables”), nos quais fornece uma abordagem
essencialmente objetiva sobre o tópico. Segun-
do Skinner, o problema que temos com o con-
ceito de impulso é a natureza causal de proprie-
dades internas que foi atribuída a essa variá-
vel. Skinner (1938, 1953/2000) trata a moti-
vação em termos de operações de privação,
saciação e estimulação aversiva, enfatizando
essas operações como variáveis ambientais
controladoras do comportamento.
Skinner (1938, 1953/2000), posterior-
mente Keller e Schoenfeld (1950/1974),
Millenson (1967) e Millenson e Leslie (1979)
referem-se ao termo impulso como um evento
do meio ambiente, ou seja, como a descrição
de uma operação que pode ser executada so-
bre o organismo (p. ex.: privá-lo de alimento,
aumentar a temperatura do ambiente acima
das condições adequadas de adaptação e con-
forto). Verificamos, portanto, que a questão
crucial que gera as divergências na definição
do termo motivação está na concepção da cau-
salidade do comportamento dos organismos.
Skinner (1953/2000, p. 24) abordou os ter-
mos causa e efeito em ciência a partir de uma
relação funcional, uma causa foi definida como
“uma mudança em uma variável independen-
te” e um efeito foi definido como “uma mu-
dança em uma variável dependente”. Dessa
forma, para ele, a relação de “causa e efeito”
foi transformada em uma relação funcional.
Para descrever uma relação funcional entre o
organismo e o ambiente, Skinner desenvolveu
um instrumento conceitual que se tornou a fer-
ramenta básica do analista do comportamen-
to: as contingências de reforço.
Para garantir a especificidade de um ter-
mo, na acepção psicológica faz-se necessário
um conjunto de ferramentas intelectuais e ex-
perimentais, constituído de conceitos básicos
e de princípios que norteiem uma análise sis-
temática e funcional do comportamento. Essa
exigência está presente na abordagem analíti-
co-comportamental do conceito de motivação,
denominada de Operações Estabelecedoras.
OPERAÇÕES ESTABELECEDORAS
O termo operações estabelecedoras, como
um conceito de motivação, será abordado, con-
siderando os aspectos históricos, metodológicos
e teóricos das pesquisas básica e aplicada.
Considerações históricas
Keller e Schoenfeld (1950/1974) enfati-
zaram a necessidade de se conceituar a mo-
tivação como variáveis ambientais controla-
doras do comportamento de forma a evitar o
conceito de impulso como variável interna, con-
forme defendido pelos behavioristas metodo-
lógicos, e de acordo com o empreendimento
científico de Skinner denominado de Análise
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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 29
Experimental do Comportamento. Keller e
Schoenfeld chamavam a atenção dos analistas
do comportamento para outros eventos
ambientais, além dos eventos reforçadores, ao
se fazer uma análise de contingências. O as-
pecto ressaltado nessa advertência refere-se ao
fato de que para um objeto funcionar eficaz-
mente como reforçador, faz-se necessário que
um outro evento ambiental estabeleça sua efi-
cácia. Assim, Keller e Schoenfeld introduziram
o conceito de operação estabelecedora para
identificar esses eventos ambientais e demons-
trar sua função motivacional.
Ao empregarem o termo operação estabe-
lecedora (primeiro uso do termo) para definir
a motivação na abordagem analítico-compor-
tamental, Keller e Schoenfeld (1950/1974)
demonstraram que podemos tratar a variável
motivacional como uma variável independen-
te, que pode ser manipulada de maneira expe-
rimental. Definir motivação como operações
estabelecedoras implica poder executar certas
operações

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