Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
\ Peça.docx OS SETE PRINCÍPIOS DA ABA – ANÁLISE DIAGNÓSTICA 2 SUMÁRIO ASPECTOS INTRODUTÓRIOS .................................................................................. 4 DIMENSÃO APLICADA............................................................................................ 11 DIMENSÃO COMPORTAMENTAL .......................................................................... 14 DIMENSÃO ANALÍTICA ........................................................................................... 17 DIMENSÃO TECNOLÓGICA .................................................................................... 21 DIMENSÃO CONCEITUAL....................................................................................... 23 DIMENSÃO EFETIVA ............................................................................................... 24 DIMENSÃO GENERALIZÁVEL ................................................................................ 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 27 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 29 3 NOSSA HISTÓRIA A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criada a INSTITUIÇÃO, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS O transtorno do espectro do autismo (TEA) é caracterizado por alterações qualitativas nas habilidades de interação social, dificuldades de comunicação e o engajamento em comportamentos repetitivos e estereotipados (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000). O TEA pode afetar crianças de qualquer raça ou cultura e a expressão dos sintomas pode variar de leve a severo através dessas três áreas fundamentais (BERTOGLIO; HENDREN, 2009). Desse modo, os comportamentos, habilidades, preferências, funcionamento e necessidades de aprendizagem são diferentes de criança para criança e mudam ao longo do desenvolvimento (BOYD et al., 2008; LORD et al., 2000). Devido a variação na severidade dos sintomas, o transtorno do espectro do autismo representa um termo amplo que inclui, predominantemente, características diferentes de crianças com autismo clássico, síndrome de Asperger e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000; LEACH et al., 2009). A prevalência de crianças diagnosticadas com TEA vêm crescendo em todo o mundo. Estatísticas recentes estimam que 1 em cada 50 crianças em idade escolar (6-12 anos) são diagnosticadas com autismo nos Estados Unidos (BLUMBERG et al., 2013; CENTER OF DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2013). No Brasil, não existe uma estimativa epidemiológica oficial (BRASIL, 2013), mas o número de brasileiros afetados pelo TEA também vêm aumentando, em parte pelo maior acesso à informações sobre o transtorno e à ferramentas de identificação precoce. O transtorno do espectro do autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento que persiste por toda a vida e não possui cura nem causas claramente conhecidas. No entanto, sabe-se que intervenções e métodos educacionais com base na psicologia comportamental têm demostrado reduzir os sintomas do espectro do autismo e promover uma variedade de habilidades sociais, de comunicação e comportamentos adaptativos. Esse método de intervenção e ensino é conhecido como a análise do comportamento aplicada ou ABA, sigla em inglês para Applied Behavior Analysis. (HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007; VIRUES-ORTEGA, 2010; VISMARA; ROGERS, 2010). 5 Características gerais de uma intervenção baseada na ABA tipicamente envolvem identificação de comportamentos e habilidades que precisam ser melhorados (por exemplo, comunicação com pais e professores, interação social com pares, etc.), seguido por métodos sistemáticos de selecionar e escrever objetivos para, explicitamente, delinear uma intervenção envolvendo estratégias comportamentais exaustivamente estudadas e comprovadamente efetivas. Além disso, ABA é caracterizada pela coleta de dados antes, durante e depois da intervenção para analisar o progresso individual da criança e auxiliar na tomada de decisões em relação ao programa de intervenção e às estratégias que melhor promovem a aquisição de habilidades especificamente necessárias para cada criança (BAER, WOLF; RISLEY, 1968, 1987; HUNDERT, 2009). Por apresentar uma abordagem individualizada e altamente estruturada, ABA torna-se uma intervenção bem sucedida para crianças com TEA que tipicamente respondem bem à rotinas e diretrizes claras e planejadas (SCHOEN, 2003). Sabe-se que o método ABA possui grande suporte científico e tem sido o método de intervenção mais pesquisado e amplamente adotado, sobretudo nos Estados Unidos, para promover a qualidade de vida de pessoas com transtorno do espectro do autismo (GILLIS & BUTLER, 2007; LOVAAS, 1987; VAUGHN et al., 2003; VIRUÉS-ORTEGA, 2010; HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007). No entanto, uma melhor e mais completa compreensão do ABA, enquanto método de intervenção em todas as suas dimensões e complexidade, requer o claro entendimento de sua base conceitual e dos princípios do comportamento que determinam a sua prática e fazem desta uma abordagem de intervenção efetiva, principalmente para pessoas com autismo. Portanto, nos propomos a seguir a introduzir brevemente, mas com maior profundidade, a definição, características e conceitos filosóficos que subjazem esta disciplina. Inicialmente, a análise do comportamento aplicada pode ser definida como uma sistema teórico para a explicação e modificação do comportamento humano baseado em evidência empírica (HEFLIN; ALAIMO, 2007). Entretanto, uma completa definição da ABA requer o entendimento deste campo do conhecimento como uma abordagem científica, tecnológica e profissional. Como uma abordagem científica, ABA é definida como um método para avaliar, explicar e modicar comportamentos baseado nos 6 princípios do condicionamento operante introduzidos por B.F. Skinner (SKINNER, 1953). Na perspectiva do condicionamento operante, os comportamentos são aprendidos no processo de interação entre o indivíduo e seu ambiente físico e social (SKINNER, 1953). Em outras palavras, o comportamento é influenciado pelos estímulos ambientais que o antecedem (chamados de antecedentes), e são aprendidos em função de suas consequências. Comportamentos que são seguidos por consequências que são especificamente agradáveis para o sujeito (por exemplo, atenção ou recompensa) tendem a ser repetidos e aprendidos, enquanto comportamentos que tem como consequência situações desagradáveis para o sujeito (por exemplo, uma reprimenda), tendem a não ser repetidos ou nãoaprendidos (ALBERTO; TROUTMAN, 2009). Considerando que esses princípios governam os comportamentos dos seres humanos, estes são entendidos como passíveis de predição, sendo que suas causas e funções podem ser identificadas nos eventos do ambiente (SKINNER, 1978). Portanto, ABA investiga as variáveis que afetam o comportamento humano, sendo capaz de mudá-los através da modificação de seus antecedentes (o que ocorreu antes e pode ter sido um possível gatilho para a ocorrência do comportamento) e suas consequências - eventos que se sucederam após a ocorrência do comportamento, e que podem ter sido agradáveis ou desagradáveis determinando a probabilidade de que ocorram novamente (SUGAI, LEWIS-PALMER; HAGAN- BURKE, 2000). Para estes propósitos, ABA usa métodos experimentais e sistemáticos de observação e mensuração dos comportamentos, os quais são definidos como aquelas ações dos indivíduos que são passíveis de serem observadas e mensuradas (MAYER et al., 2012). Ao medir comportamentos observáveis, ABA assume uma abordagem conduzida pelos dados na avaliação e intervenção de comportamentos que são importantes para os indivíduos e para a sociedade (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Portanto, enquanto uma abordagem científica, ABA utiliza princípios derivados de investigações científicas e demostra experimentalmente, através de dados empíricos consistentes, a eficácia dos procedimentos utilizados nas intervenções. Na medida em que o conhecimento sobre como os comportamentos humanos são aprendidos e modificados são gradualmente produzidos em investigações 7 experimentais, analistas do comportamento desenvolvem novos procedimentos e estratégias de intervenção para comportamentos que requerem atenção, tais como aqueles relacionados à habilidades acadêmicas, sociais e habilidades adaptativas de vida diária. Ao fornecer uma descrição específica, completa e cuidadosa de procedimentos baseados na evidência para modificar tais comportamentos, ABA é definida como uma tecnologia que é aplicada em situações de vida reais onde comportamentos apropriados e inapropriados podem ser melhorados, aumentados ou diminuídos. Embora amplamente conhecida como um método de intervenção para pessoas com autismo (HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007), ABA é uma tecnologia que pode ser aplicada à crianças e adultos com ou sem necessidades especiais em clínicas, escolas, hospitais, em casa, no ambiente de trabalho ou na comunidade (CAUTILLI, DZIEWOLSKA, 2008). Procedimentos usados pela ABA são baseados na avaliação detalhada das consequências que mantém os comportamentos de cada indivíduo e podem ser modificados, na medida em que a evidência demostra melhoras ou não ao longo do tempo e da intervenção. Cabe ressaltar com grande ênfase que os métodos e estratégias utilizadas na ABA não são baseadas em práticas aversivas para reduzir comportamentos indesejáveis. Embora estes procedimentos tenham sido estudados em experimentos com animais, a pesquisa atual tem enfatizado e demonstrado empiricamente que métodos baseados em técnicas de reforçamento positivo, que são consequências que motivam e aumentam a probabilidade de comportamentos desejáveis e adequados ocorrerem novamente, são mais efetivas e produzem melhoras mais significativas e duradouras do que métodos de punição, devendo portanto serem utilizadas em detrimento destes últimos (CAMERON, PIERCE, 1994; MAAG, 2001). Considerando que a aplicação dos métodos da ABA requer treinamento apropriado, ABA pode ser também definida como uma abordagem profissional (MAYER et al., 2012). Analistas do comportamento são profissionais treinados para conduzir a análise do comportamento em sua dimensão, tanto experimental (através da pesquisa), quanto aplicada (através da intervenção). Os analistas do comportamento são orientados a utilizar intervenções efetivas, baseadas na evidência através de pesquisas experimentais controladas em casos envolvendo tanto 8 comportamentos simples quanto complexos e possuem um código de princípios éticos fundamentais para guiar sua prática (BAILEY, BURCH, 2011). Nos Estados Unidos, o Behavior Analysis Certification Board é uma organização que representa e regulamenta a profissão, fornecendo certificação para profissionais que provem estar habilitados para desenvolver e aplicar intervenções baseadas nos princípios da análise dos comportamento. Embora nem todos os profissionais envolvidos com ensino e pesquisa em ABA, obrigatoriamente, tenham certificação do Board, a mesma tem sido exigida àqueles que oferecem serviços de intervenção para o público (CAUTILLI, DZIEWOLSKA, 2008; MAYER et al., 2012). Em outros países, como o Brasil, psicólogos são licenciados para trabalhar com a análise do comportamento, mas cabe ressaltar que estes devem buscar treinamento adicional e continuado de qualidade para atuar nessa área (TODOROV, HANNA, 2010). As características científicas, tecnológicas e profissionais que definem a ABA acima descritas estão intimamente relacionadas com quatro pressupostos filosóficos, nos quais esta área do conhecimento se baseia: determinismo, empiricismo, parcimônia e método científico (ALBERTO, TROUTMAN, 2009; KIMBALL, 2002; MAYER et al., 2012). Estes pressupostos têm suas raízes nos movimentos filosóficos do século XIX (a saber, positivismo, funcionalismo, estruturalismo e associacionismo), que enfatizavam que o comportamento humano deveria ser objetivamente estudado ao invés de abstratamente especulado (ALBERTO, TROUTMAN, 2009; KIMBALL, 2002). Tais pressupostos tiveram forte influência no behaviorismo radical - a filosofia do comportamento humano originado por B. F. Skinner em experimentos conduzidos sob o rigor dos métodos científicos (SMITH, 1992). Enquanto uma ciência derivada do trabalho de Skinner, ABA pode ser descrita pelos quatro pressupostos filosóficos que estão nas raízes do behaviorismo radical (LAMAL, 2000). O determinismo é o pressuposto filosófico de que o comportamento humano é determinado ou causado pelos eventos do ambiente, portanto está sujeito à investigação científica e à predição, como qualquer outro fenômeno natural (LOCKE, 1964). Esta perspectiva da regularidade dos comportamentos é essencial na ABA que, baseada nos princípios do condicionamento operante, postula que a forma como seres humanos se comportam está diretamente e funcionalmente relacionada às consequências de suas ações (SUGAI, LEWIS-PALMER, HAGAN-BURKE, 2000). 9 Devido ao fato de que essa perspectiva se mostra contrária às postulações filosóficas do livre arbítrio, em que seres humanos são considerados livres para decidir o curso de suas ações, técnicas comportamentais que alteram o comportamento humano são frequentemente criticadas como práticas coercivas e desumanas (AXELROD, 1996). Entretanto, o pressuposto de regularidade e leis que regem os comportamentos não indicam que ABA rejeita a liberdade humana (NEWMAN, REINECKE, KURTZ, 1996). Ao contrário, analistas do comportamento definem liberdade em termos da habilidade dos seres humanos de fazerem escolhas e do direito de exercitarem essa habilidade e terem opções (ALBERTO, TROUTMAN, 2009; BANDURA, 1975). O objetivo do analista do comportamento é aumentar as opções para o indivíduo com autismo, por exemplo, exercitar sua liberdade para escolher respostas alternativas a comportamentos mal adaptativos (ALBERTO, TROUTMAN, 2009) O empiricismo, enquanto outro conceito filosófico fundamental da ABA, postula que o conhecimento deve ser obtido a partir de fenômenos observáveis e mensuráveis, verificados pela experiência ou prática experimental (KIMBALL, 2002; KUBINA JR, FAN-YU, 2008). Enquanto uma ciência empírica, ABA conta com dados verificáveis obtidos através da observação sistemática de comportamentos como a fonte de conhecimento e técnicas produzidas. Parcimônia refere-se ao pressupostofilosófico de que, quando duas teorias tentam explicar os mesmos fatos, aquela que é mais simples, mais breve, que faz suposições baseadas na observação, que pode ser mais facilmente explicada e tem maior probabilidade de generalidade, deve então ser considerada (EPSTEIN, 1984). Desse modo, parcimônia subjaz ABA, enquanto uma ciência empírica que explica comportamentos humanos, fornecendo conhecimento e estratégias sistemáticas, objetivas e concisas para a modificação do comportamento ao mesmo tempo que verifica a generalidade de suas suposições para diferentes pessoas, ambientes, culturas e comportamentos. Por último, o método científico é um pressuposto filosófico que envolve um conjunto de técnicas controladas para empiricamente verificar hipóteses e estabelecer relações causais entre eventos (MAYER et al., 2012). Tanto a pesquisa básica, que tipicamente investiga princípios do comportamento em laboratórios, quanto a pesquisa 10 aplicada, que investiga a aplicação desses princípios em ambientes e situações do cotidiano das pessoas, são baseadas no método científico. Embora experimentos altamente controlados sejam difíceis de serem conduzidos em situações cotidianas reais, ABA utiliza métodos de pesquisa de caso único (single case research) para delinear experimentos que possibilitam o controle de variáveis e obter conhecimento científico que são úteis para melhorar comportamento e a vida das pessoas. Considerando os pressupostos filosóficos acima mencionados que se encontram nas bases conceituais da ABA, Baer, Wolf, Risley (1968) publicaram um artigo inaugural, apresentando sete dimensões da ABA na primeira edição do Journal of Applied Behavior Analysis (JABA). Estas dimensões são consideradas características fundamentais que definem e qualificam a análise do comportamento aplicada e que devem estar presentes em uma intervenção para que ela seja considerada ABA (HEFLIN, ALAIMO, 2007; MAYER et al., 2012). As dimensões são: aplicada, comportamental, analítica, tecnológica, conceitualmente sistemática, efetiva e generalidade. Cada uma destas dimensões será descrita ao longo da disciplina. 11 DIMENSÃO APLICADA A análise do comportamento individual é um problema na demonstração científica, razoavelmente bem compreendido (Skinner, 1953), amplamente descrito (SIDMAN, 1960) e bastante praticado (Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 1957). Essa análise tem sido realizada em muitos contextos ao longo de muitos anos. Apesar da precisão e poder variáveis, resultou em declarações descritivas gerais de mecanismos que podem produzir muitas das formas que o comportamento individual pode assumir. A afirmação desses mecanismos estabelece a possibilidade de sua aplicação ao comportamento-problema. Melhores aplicações, espera-se, levarão a um melhor estado da sociedade, na medida em que o comportamento de seus membros possa contribuir para o bem de uma sociedade. Uma vez que a avaliação do que uma “boa” sociedade é em si um comportamento de seus membros, essa esperança gira em torno de si mesma de maneira filosoficamente interessante. No entanto, é pelo menos uma presunção justa de que as aplicações comportamentais, quando eficazes, às vezes podem levar à aprovação e adoção social. As aplicações comportamentais dificilmente são um fenômeno novo. Aplicações comportamentais analíticas, ao que parece, são. A aplicação comportamental analítica é o processo de aplicar princípios de comportamento às vezes experimentais para a melhoria de comportamentos específicos e, simultaneamente, avaliar se quaisquer mudanças observadas são de fato atribuíveis ao processo de aplicação – e, em caso afirmativo, a quais partes desse processo. Em suma, a aplicação comportamental analítica é um procedimento de pesquisa de autoexame, auto avaliação e orientado para a descoberta para estudar o comportamento. Assim, é toda pesquisa comportamental experimental (pelo menos, de acordo com as restrições usuais do treinamento moderno de pós-graduação). As diferenças são questões de ênfase e de seleção. 12 As diferenças entre pesquisa aplicada e pesquisa básica não são diferenças entre o que “descobre” e o que apenas “aplica” o que já é conhecido. Ambos os esforços perguntam o que controla o comportamento em estudo. A pesquisa não aplicada provavelmente examinará qualquer comportamento e qualquer variável que possa estar relacionada a ele. A pesquisa aplicada limita-se a olhar para variáveis que podem ser eficazes para melhorar o comportamento em estudo. Da mesma forma, a pesquisa aplicada é restrita a examinar comportamentos que são socialmente importantes, em vez de convenientes para o estudo. Implica também, com muita frequência, o estudo desses comportamentos em seus ambientes sociais habituais, e não em um ambiente de “laboratório”. Mas um laboratório é simplesmente um lugar projetado para que o controle experimental de variáveis relevantes seja o mais fácil possível. Infelizmente, o ambiente social usual para comportamentos importantes raramente é um lugar assim. Assim, a avaliação de um estudo que pretende ser uma análise do comportamento aplicada é um pouco diferente da avaliação de uma análise laboratorial semelhante. Obviamente, o estudo deve ser aplicado, comportamental e analítico; além disso, deve ser tecnológico, conceitualmente sistemático e eficaz, e deve apresentar alguma generalidade. Esses termos são explorados a seguir e comparados com os critérios frequentemente indicados para a avaliação da pesquisa comportamental que, embora analítica, não é aplicada. O rótulo aplicado não é determinado pelos procedimentos de pesquisa utilizados, mas pelo interesse que a sociedade demonstra pelos problemas que estão sendo estudados. Na aplicação comportamental, o comportamento, estímulos e/ou organismo em estudo são escolhidos por causa de sua importância para o homem e a sociedade, e não por sua importância para a teoria. O pesquisador não aplicado pode estudar o comportamento alimentar, por exemplo, porque se relaciona diretamente com o metabolismo, e existem hipóteses sobre a interação entre comportamento e metabolismo. O pesquisador não aplicado também pode estudar a pressão da barra porque é uma resposta conveniente para o estudo; fácil para o sujeito e simples de registrar e integrar com eventos ambientais teoricamente significativos. 13 Em contraste, o pesquisador aplicado provavelmente estudará a alimentação porque há crianças que comem muito pouco e adultos que comem demais, e ele estudará a alimentação exatamente nesses indivíduos, e não nos mais convenientes. Em resumo, para ser considerada aplicada, uma intervenção deve focar comportamentos ou situações que são imediatamente importantes para o indivíduo e para a sociedade ao invés de importantes para teoria. Ao invés de estar interessada em comportamentos alimentares por que são importantes para o metabolismo, por exemplo, ABA está interessada neste comportamento devido a sua importância para a saúde e qualidade de vida das pessoas (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). O objetivo final de uma intervenção considerada aplicada é tornar as pessoas mais independentes e socialmente ajustadas. Portanto, uma intervenção baseada na ABA deve ter validade social, isto é, deve vir ao encontro das necessidades dos indivíduos e da sociedade que devem estar satisfeitos com os procedimentos e resultados obtidos (WOLF, 1978). 14 DIMENSÃO COMPORTAMENTAL Behaviorismo e pragmatismo parecem muitas vezes andar de mãos dadas. A pesquisa aplicada é eminentemente pragmática; pergunta como é possível conseguir que um indivíduo faça algo de maneira eficaz. Assim, geralmente estuda o que os sujeitos podem ser levados a fazer em vez do que podem ser levados a dizer;a menos, é claro, que uma resposta verbal seja o comportamento de interesse. Consequentemente, a descrição verbal de um sujeito de seu próprio comportamento não-verbal geralmente não seria aceita como uma medida de seu comportamento real, a menos que fosse substanciada independentemente. Portanto, há pouco valor aplicado na demonstração de que um homem impotente pode dizer que não é mais impotente. A questão relevante não é o que ele pode dizer, mas o que ele pode fazer. A aplicação não foi alcançada até que esta questão tenha sido respondida satisfatoriamente. Como o comportamento de um indivíduo é composto por eventos físicos, seu estudo científico requer sua medição precisa. Como resultado, o problema da quantificação confiável surge imediatamente. O problema é o mesmo para a pesquisa aplicada e para a não-aplicada. No entanto, a pesquisa não aplicada normalmente escolherá uma resposta facilmente quantificada de maneira confiável, enquanto a pesquisa aplicada raramente terá essa opção. Como resultado, o pesquisador aplicado deve se esforçar mais, em vez de ignorar esse critério de toda pesquisa confiável. A pesquisa aplicada atual muitas vezes mostra que a quantificação totalmente confiável do comportamento pode ser alcançada, mesmo em ambientes totalmente difíceis. No entanto, também sugere que a gravação instrumentada com sua confiabilidade típica nem sempre será possível. O uso confiável de seres humanos para quantificar o comportamento de outros seres humanos é uma área da tecnologia psicológica há muito desenvolvida, completamente relevante e muitas vezes necessária para a análise do comportamento aplicada. Uma tática útil na avaliação dos atributos comportamentais de um estudo é perguntar não apenas se o comportamento mudou, mas também, o comportamento de quem? 15 Normalmente, seria assumido que foi o comportamento do sujeito que foi alterado; no entanto, uma reflexão cuidadosa pode sugerir que este não era necessariamente o caso. Se os humanos estão observando e registrando o comportamento em estudo, então qualquer mudança pode representar uma mudança apenas em suas respostas de observação e registro, e não no comportamento do sujeito. A medição explícita da confiabilidade de observadores humanos torna-se, assim, não apenas uma boa técnica, mas um critério primordial para saber se o estudo foi adequadamente comportamental. (Um estudo meramente do comportamento de observadores é comportamental, é claro, mas provavelmente irrelevante para o objetivo do pesquisador.) Alternativamente, pode ser que apenas o comportamento do experimentador tenha mudado. Pode-se relatar, por exemplo, que certo paciente raramente se vestia ao acordar e, consequentemente, era vestido por seu atendente. A técnica experimental a ser aplicada pode consistir em alguma penalidade imposta, a menos que o paciente esteja vestido dentro de meia hora após o despertar. O registro de uma probabilidade aumentada de se vestir nessas condições pode atestar a eficácia da penalidade na mudança de comportamento; no entanto, também pode atestar o fato de que o paciente provavelmente se vestiria dentro de meia hora depois de acordar, mas anteriormente raramente era deixado sem roupa por tanto tempo antes de ser vestido por seu atendente eficiente. (O atendente agora é o experimentador que impõe a penalidade e, portanto, sempre dá ao paciente sua meia hora completa, no interesse de uma técnica experimental precisa, é claro.) Esse erro talvez seja elementar. Mas sugere que, em geral, quando um experimento prossegue de sua linha de base para sua primeira fase experimental, as mudanças no que é medido nem sempre precisam ser refletem o comportamento do sujeito. Uma intervenção considerada comportamental é aquela preocupada com o que os indivíduos fazem ao invés do que eles dizem que fazem (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Isto significa que comportamentos devem ser observados e precisamente medidos, possibilitando avaliar a ocorrência de mudanças e a efetividade da intervenção. A precisão na mensuração de comportamentos pode ser um problema em estudos aplicados, porque torna-se necessário garantir que as mudanças realmente ocorreram no indivíduo observado e, não apenas, na percepção do 16 observador. Para reduzir esse problema, analistas do comportamento utilizam medidas de confiabilidade para calcular o percentual de concordância entre dois ou mais observadores. 17 DIMENSÃO ANALÍTICA A análise de um comportamento, como o termo é usado aqui, requer uma demonstração crível dos eventos que podem ser responsáveis pela ocorrência ou não daquele comportamento. Um experimentador conseguiu uma análise de um comportamento quando pode exercer controle sobre ele. Pelos padrões comuns de laboratório, isso significa uma habilidade do experimentador para ativar e desativar o comportamento, ou para cima e para baixo, à vontade. Os padrões de laboratório geralmente tornam esse controle claro ao demonstrá-lo repetidamente, mesmo de forma redundante, ao longo do tempo. A pesquisa aplicada, como observado anteriormente, muitas vezes não pode abordar essa clareza arrogantemente frequente de estar no controle de comportamentos importantes. Consequentemente, a aplicação, por ser analítica, demonstra controle quando pode e, assim, apresenta ao seu público um problema de julgamento. O problema, é claro, é se o experimentador mostrou controle suficiente, e com frequência suficiente, para a credibilidade. Demonstrações laboratoriais, seja por super replicação ou um nível de probabilidade aceitável derivado de testes estatísticos de dados agrupados, tornam esse julgamento mais implícito do que explícito. Como assinala Sidman (1960), ainda há um problema de julgamento em qualquer caso, e provavelmente é melhor quando explícito. Existem pelo menos dois projetos comumente usados para demonstrar o controle confiável de uma importante mudança comportamental. A primeira pode ser chamada de técnica de “reversão”. Aqui um comportamento é medido e a medida é examinada ao longo do tempo até que sua estabilidade seja clara. Em seguida, aplica- se a variável experimental. O comportamento continua a ser medido, para ver se a variável produzirá uma mudança comportamental. Se isso acontecer, a variável experimental é descontinuada ou alterada, para ver se a mudança comportamental que acaba de ocorrer depende dela. Nesse caso, a mudança comportamental deve ser perdida ou diminuída (daí o termo “reversão”). A variável experimental é então aplicada novamente, para ver se a mudança comportamental pode ser recuperada. Se puder, é prosseguido, já que se trata de pesquisa aplicada e a mudança comportamental buscada é importante. Ele pode ser revertido brevemente 18 novamente, e mais uma vez, se a configuração em que o comportamento ocorre permitir outras reversões. Mas esse cenário pode ser um sistema escolar ou uma família, e reversões contínuas podem não ser permitidas. Eles podem parecer em si mesmos prejudiciais para o assunto se forem perseguidos com muita frequência. (Se eles são de fato prejudiciais provavelmente permanecerá uma questão não examinada, desde que o ambiente social em que o comportamento é estudado dite contra usá-los repetidamente. De fato, pode ser que reversões repetidas em algumas aplicações tenham um efeito positivo sobre o sujeito, possivelmente contribuindo para a discriminação de estímulos relevantes envolvidos no problema.) Ao usar a técnica de reversão, o experimentador está tentando mostrar que uma análise do comportamento está à mão: que sempre que ele aplica uma determinada variável, o comportamento é produzido, e sempre que ele remove essa variável, o comportamento está perdido. No entanto, a análise do comportamento aplicada é exatamenteo tipo de pesquisa que pode tornar essa técnica autodestrutiva com o tempo. Aplicação normalmente significa produzir um comportamento valioso; comportamento valioso geralmente encontra reforço extra experimental em um ambiente social; assim, um comportamento valioso, uma vez estabelecido, pode não mais depender da técnica experimental que o criou. Consequentemente, o número de reversões possíveis em estudos aplicados pode ser limitado pela natureza do ambiente social em que o comportamento ocorre, em mais de uma maneira. Uma alternativa à técnica de reversão pode ser chamada de técnica de “linha de base múltipla”. Essa alternativa pode ser de particular valor quando um comportamento parece irreversível ou quando a reversão do comportamento é indesejável. Na técnica de linha de base múltipla, várias respostas são identificadas e medidas ao longo do tempo para fornecer linhas de base contra as quais as mudanças podem ser avaliadas. Com essas linhas de base estabelecidas, o experimentador então aplica uma variável experimental a um dos comportamentos, produz uma mudança nele e talvez observe pouca ou nenhuma mudança nas outras linhas de base. Nesse caso, em vez de reverter a mudança recém-produzida, ele aplica a 19 variável experimental a uma das outras respostas, ainda inalteradas. Se ela mudar nesse ponto, estão surgindo evidências de que a variável experimental é realmente eficaz e que a mudança anterior não foi simplesmente uma questão de coincidência. A variável então pode ser aplicada a outra resposta, e assim por diante. O experimentador está tentando mostrar que ele tem uma variável experimental confiável, em que cada comportamento muda ao máximo apenas quando a variável experimental é aplicada a ele. Quantas reversões, ou quantas linhas de base, contribuem para a credibilidade é um problema para a audiência. Se a análise estatística for aplicada, o público deve então julgar a adequação da estatística inferencial escolhida e a propriedade desses dados para aquele teste. Alternativamente, o público pode inspecionar os dados diretamente e relacioná-los com experiências anteriores com dados semelhantes e procedimentos semelhantes. Em ambos os casos, os julgamentos exigidos são altamente qualitativos e as regras nem sempre podem ser estabelecidas de forma lucrativa. No entanto, qualquer um dos projetos anteriores reúne dados de maneiras que exemplificam o conceito de replicação, e a replicação é a essência da credibilidade. No mínimo, parece que uma abordagem de replicação é melhor do que nenhuma abordagem. Isso deve ser especialmente verdadeiro para um campo tão embrionário como a aplicação comportamental, cuja própria possibilidade ainda é ocasionalmente negada. A discussão anterior foi direcionada ao problema da confiabilidade: se um determinado procedimento foi ou não responsável por uma mudança comportamental correspondente. Os dois procedimentos gerais descritos dificilmente esgotam as possibilidades. Cada um deles tem variações humanas agora vistas na prática; e experiências atuais sugerem que muito mais variações são extremamente necessárias, para que a tecnologia de mudança comportamental importante seja consistentemente crível. Dada alguma abordagem à confiabilidade, existem outras análises de valor óbvio que podem ser construídas sobre essa base. Por exemplo, há análise no sentido de simplificação e separação de processos componentes. Frequentemente, os procedimentos comportamentais atuais são complexos, até mesmo “espingardas” em sua aplicação. Quando são bem-sucedidos, eles claramente precisam ser analisados 20 em seus componentes efetivos. Assim, um professor dando M&M's a uma criança pode conseguir mudar seu comportamento conforme planejado. No entanto, ela quase certamente confundiu sua atenção e/ou aprovação com cada M&M. Análises adicionais podem ser abordadas pelo uso da atenção apenas, cujos efeitos podem ser comparados aos efeitos da atenção combinada com doces. Se ela vai descontinuar os M&M's, como na técnica de reversão, ou aplicar atenção com M&M's a certos comportamentos e atenção apenas a alguns outros, como no método de linha de base múltipla, é novamente o problema da confiabilidade básica discutido acima. Outra forma de análise é paramétrica: uma demonstração da eficácia de diferentes valores de alguma variável na mudança de comportamento. O problema novamente será tornar tal análise confiável e, como antes, que possa ser abordada pelo uso alternado repetido de diferentes valores no mesmo comportamento (reversão), ou pela aplicação de diferentes valores a diferentes grupos de respostas (linha de base múltipla). Neste estágio do desenvolvimento da análise do comportamento aplicada, a preocupação principal geralmente é com a confiabilidade, e não com a análise paramétrica ou análise de componentes. Em resumo, em sua dimensão analítica, ABA requer a demonstração confiável dos eventos responsáveis pela ocorrência ou não-ocorrência dos comportamentos em estudo, permitindo assim a predição e controle das variáveis que afetam e mantém tais comportamentos (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Uma demonstração confiável envolve a replicação de medidas que consistentemente e repetidamente indicam certos procedimentos como responsáveis pelas mudanças observadas nos comportamentos. Demonstrações consistentes e controladas são geralmente obtidas através de designs de caso único (por exemplo, reversão experimental e linhas de base múltiplas) através das quais torna-se possível demonstrar e analisar relações causais entre os comportamentos e os eventos que os precederam ou sucederam. 21 DIMENSÃO TECNOLÓGICA “Tecnológico” aqui significa simplesmente que as técnicas que compõem uma aplicação comportamental específica são completamente identificadas e descritas. Nesse sentido, “ludoterapia” não é uma descrição tecnológica, nem “reforço social”. Para fins de aplicação, todos os ingredientes salientes da ludoterapia devem ser descritos como um conjunto de contingências entre a resposta da criança, a resposta do terapeuta e os materiais lúdicos, antes que uma declaração da técnica seja abordada. Da mesma forma, todos os ingredientes do reforço social devem ser especificados (estímulos, contingência e cronograma) para se qualificar como um procedimento tecnológico. A melhor regra geral para avaliar uma descrição de procedimento como tecnológica é provavelmente perguntar se um leitor tipicamente treinado poderia replicar aquele procedimento suficientemente bem para produzir os mesmos resultados, dada apenas uma leitura da descrição. Este é praticamente o mesmo critério aplicado às descrições de procedimentos em pesquisas não aplicadas, é claro. Ela precisa de ênfase, aparentemente, porque ocasionalmente existe um estereótipo menos preciso de pesquisa aplicada, onde a aplicação é nova e derivada de princípios produzidos por meio de pesquisa não aplicada, como na análise do comportamento aplicada atual, o inverso se aplica com grande urgência. Especialmente onde o problema é a aplicação, as descrições procedimentais requerem detalhes consideráveis sobre todas as possíveis contingências do procedimento. Não basta dizer o que deve ser feito quando o sujeito dá a resposta R; é essencial também sempre que possível dizer o que deve ser feito se o sujeito fizer as respostas alternativas, R2, R3, etc. Em suma, a dimensão tecnológica da ABA refere-se à elaboração e definição operacional completa das estratégias e procedimentos que são efetivos para a aprendizagem e mudança de comportamentos (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Para ser considerada tecnológica, tanto a descrição do comportamento quanto dos procedimentos de intervenção devem ser claramente e objetivamente detalhados. A descrição de uma intervenção utilizando técnicas de reforçamento para comportamentosapropriados, por exemplo, precisam informar qual o tipo de reforço 22 está sendo empregado, quem fornecerá e quando será fornecido o reforço e o que será considerado comportamento apropriado (incluindo informações relevantes como frequência, intensidade e duração) para estabelecer a contingência entre o comportamento emitido e o reforço, como consequência deste comportamento. Descrições tecnológicas são características importantes da ABA por que permitem a aplicação e replicação dos procedimentos de intervenção utilizados. 23 DIMENSÃO CONCEITUAL Além de precisa, a descrição dos procedimentos da ABA deve ser conceitualmente sistemática (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Isso significa que os procedimentos devem estar relacionados com os princípios básicos do comportamento que as originaram. Procedimentos que fazem referência ao uso do reforço para aumentar a probabilidade de que comportamentos adequados ocorram, por exemplo, estão conceitualmente atrelados aos princípios do condicionamento operante. Este link entre a tecnologia e os conceitos básicos do comportamento são importantes, pois permitem que a análise aplicada do comportamento progrida como uma disciplina aplicada consistente. O campo da análise aplicada do comportamento provavelmente avançará melhor se as descrições publicadas de seus procedimentos não forem apenas precisamente tecnológicas, mas também buscarem relevância para os princípios. Descrever exatamente como um professor de pré-escola atenderá a escalada em uma criança com medo de altura é uma boa descrição tecnológica; mas, além disso, chamá-lo de procedimento de reforço social relaciona-o a conceitos básicos de desenvolvimento comportamental. Da mesma forma, é bom descrever a sequência exata de mudanças de cor pela qual uma criança é movida de uma discriminação de cor para uma discriminação de forma; referir-se também a “desvanecimento” e “discriminação sem erros” é melhor. Em ambos os casos, a descrição total é adequada para replicação bem sucedida pelo leitor; e também mostra ao leitor como procedimentos semelhantes podem ser derivados de princípios básicos. Isso pode ter o efeito de transformar um corpo de tecnologia em uma disciplina, em vez de uma coleção de truques. Coleções de truques historicamente têm sido difíceis de expandir sistematicamente e, quando extensas, difíceis de aprender e ensinar. 24 DIMENSÃO EFETIVA Se a aplicação de técnicas comportamentais não produzir efeitos suficientemente grandes para valor prático, então a aplicação falhou. A pesquisa não aplicada muitas vezes pode ser extremamente valiosa quando produz efeitos pequenos, mas confiáveis, na medida em que esses efeitos atestam a operação de alguma variável que em si tem grande importância teórica. Na aplicação, a importância teórica de uma variável geralmente não está em questão. Sua importância prática, especificamente seu poder de alterar o comportamento o suficiente para ser socialmente importante, é o critério essencial. Ao avaliar se um determinado aplicativo produziu uma mudança comportamental suficiente para merecer o rótulo, uma pergunta pertinente pode ser: quanto esse comportamento precisava ser alterado? Obviamente, essa não é uma questão científica, mas prática. Sua resposta provavelmente será fornecida por pessoas que devem lidar com o comportamento. Por fim, efetiva é outra característica essencial da ABA (BAER, WOLF, RISLEY, 1968). Os efeitos produzidos pelas técnicas comportamentais devem ser grandes o suficiente para produzir contribuições e mudanças importantes para a qualidade de vida do indivíduo e da sociedade. Novamente, isso refere-se a efeitos socialmente significativos pela sua importância prática ao invés de sua importância teórica. Portanto, uma análise do quão grande é uma mudança de comportamento é necessária para avaliar a efetividade de uma intervenção comportamental. Isto é possível através das consistentes coletas de dados ao longo da intervenção. No entanto, uma análise do tamanho da mudança ou do efeito da intervenção pode ser relativa e deve incluir pessoas que convivem diariamente com o comportamento alvo da intervenção, pois uma mudança aparentemente pequena de comportamento (por exemplo, aumento do repertório verbal de uma criança de 0 para 10 palavras) pode ser considerado significativo e socialmente importante. 25 DIMENSÃO GENERALIZÁVEL Pode-se dizer que uma mudança comportamental tem generalidade se for durável ao longo do tempo, se aparecer em uma ampla variedade de ambientes possíveis ou se espalhar para uma ampla variedade de comportamentos relacionados. Assim, a melhoria da articulação em um ambiente clínico provará ter generalidade se perdurar no futuro após a interrupção das visitas clínicas; se a articulação melhorada é ouvida em casa, na escola e nos encontros; ou se a articulação de todas as palavras, não apenas as tratadas, melhorar. Aplicação significa melhoria prática em comportamentos importantes; assim, quanto mais geral for a aplicação, melhor, em muitos casos. Essa generalidade não é alcançada automaticamente sempre que o comportamento é alterado também precisa de ênfase ocasional, especialmente na avaliação da análise do comportamento aplicada. Às vezes, assume-se que a aplicação falhou quando a generalização não ocorre. Um procedimento que é eficaz na mudança de comportamento em um ambiente talvez possa ser facilmente repetido em outros ambientes e, assim, realizar a generalização pretendida. Além disso, pode muito bem provar que uma determinada mudança de comportamento precisa ser programada em apenas um certo número de configurações, uma após a outra, talvez, para realizar uma generalização eventualmente generalizada. Intervenções comportamentais devem, não somente produzir mudanças socialmente importantes no comportamento, mas estas mudanças devem persistir através do tempo, dos ambientes e pessoas diferentes daquelas inicialmente envolvidas na intervenção. Uma intervenção que melhora a comunicação de uma criança com autismo na clínica, por exemplo, demonstra generalidade se a criança também consegue se comunicar com os pais, professores ou outras pessoas, em casa, na escola ou na comunidade, durante e após o término da intervenção. Entretanto, os autores enfatizam que a generalidade dos progressos comportamentais, não ocorrem automaticamente, sobretudo, em crianças com autismo que possuem dificuldades de transferir habilidades aprendidas para outros 26 contextos. Por isso, a generalização deve ser programada, em vez de esperada ou lamentada. A análise tornará óbvia a importância do comportamento alterado, suas características quantitativas, as manipulações experimentais que estudam com clareza o que foi responsável pela mudança, a descrição tecnologicamente exata de todos os procedimentos que contribuem para essa mudança, a eficácia desses procedimentos – capaz de fazer uma mudança suficiente para o valor, e, por fim, a generalidade dessa mudança. 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS A publicação das dimensões que caracterizam a ABA constituiu e impulsionou o campo como uma ciência, tecnologia e profissão promissoras. As sete dimensões são importantes, não apenas por que descrevem, mas também por que guiam a análise do comportamento na produção de intervenções científicas que são baseadas na evidência e são úteis para a sociedade. Após a publicação de Baer, Wolf, Risley (1968) e a sua reanálise subsequente (BAER, WOLF, RISLEY, 1987), muitos estudos publicados são refinamentos de técnicas que venham ao encontro das características da ABA, acima mencionados, e melhorem a generalidade e manutenção dos resultados obtidos (HARVEY, LUISELLI, WONG, 2009), a validadesocial (WOLF, 1978), e a fidelidade de implementação da intervenção (PETERSON, HOMER, WONDERLICH, 1982), dentre outros aspectos. Portanto, estas dimensões são designadas a guiar a análise formativa da ABA, definindo critérios para a adequação da pesquisa e da prática, movendo o campo em direção à aplicação de intervenções mais efetivas (COOPER, HERON, HEWARD, 2007). Desde a primeira publicação em 1968, ABA tem alcançado um crescimento notável, especialmente nos Estados Unidos, onde este campo de conhecimento foi originado. ABA está constantemente avançando para concretizar todas as dimensões que a tornam uma ciência respeitável. Muitas estratégias de pesquisa, avaliação e intervenção (por exemplo, designs de caso único, análise funcional do comportamento e estratégias de suporte comportamental positivos) foram desenvolvidas incorporando aspectos comportamentais, tecnológicos e conceituais que vem sendo utilizados como ferramentas valiosas para melhorar repertórios de comportamentos sociais, acadêmicos e de atividades de vida diária no cotidiano das pessoas (HORNER et al., 2005; IWATA, DORSEY, 1994; SUGAI, LEWIS-PALMER, HAGAN-BURKE, 2000). No Brasil, ABA está gradualmente ganhando espaço enquanto um método de intervenção para o autismo, mas somente poucos profissionais possuem treinamento apropriado na área. Os avanços da ABA enquanto uma ciência aplicada tem sido restritos no Brasil devido a uma maior ênfase em investigações e treinamento em pesquisa básica dos princípios do comportamento e pouco investimento em pesquisa e treinamento sobre a aplicação destes princípios para promover comportamentos socialmente importantes (TODOROV, HANNA, 2010). Ainda são necessários esforços 28 da comunidade científica da análise do comportamento brasileiro para desenvolver a pesquisa e a prática no campo da análise do comportamento aplicada, em conformidade com as dimensões e princípios éticos que a constituem. Dessa forma, enquanto o campo gradativamente progride, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, ABA cumprirá o seu papel de melhorar a qualidade de vida das pessoas. 29 REFERÊNCIAS ALBERTO, P. A.; TROUTMAN, A. C. Applied behavior analysis for teachers. 8th ed. Upper Saddle River, NJ: Pearson Education, Inc., 2009. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4th ed., text rev.). Washington, DC: Author, 2000. AXELROD, S. What's wrong with behavior analysis? Journal of Behavioral Education. v. 6, n. 3, p. 247-247, 1996. BAER, D. M.; WOLF, M. M.; RISLEY, T. R. Some current dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 1, n. 1, p. 91-97, 1968. BAER, D. M.; WOLF, M. M.; RISLEY, T. R. Some still-current dimensions of applied behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 20, n. 4, p. 313-27, 1987. BAILEY, J.; BURCH, M. Ethics for behavior analysts. 2.nd Expanded. New York: Routledge, 2011. BANDURA, A. Annual review of behavior therapy, theory and practice. In: FRANKS, C. M.; WILSON, G. T. (Ed.), The ethics and social purposes of behavior modification, New York: Brunner/Mazel, 1975. p. 13-20. BERTOGLIO, K.; HENDREN, R. New developments in autism. Psychiatric Clinics of North America, v. 32, n. 1, p. 1-1. 2009. BLUMBERG, S.J.; BRAMLETT, M.D.; KOGAN, M.D.; ET AL. Changes in prevalence of parent-reported autism spectrum disorder in school-aged U.S. children: 2007 to 2011–2012. National health statistics reports. Hyattsville, MD: National Center for Health Statistics, 2013. BOYD, B.; et al. Descriptive Analysis of Classroom Setting Events on the Social Behaviors of Children with Autism Spectrum Disorder. Education and Training in Developmental Disabilities, v. 43, n. 2, p. 186-197, 2008. BRASIL. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Transtornos do Espectro do Autismo. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. CAMERON, J.; PIERCE, W. D. Reinforcement, reward, and intrinsic motivation: A metaanalysis. Review of Educational Research, v. 64, n. 3, p. 363-363, 1994. CAUTILLI, J. D.; DZIEWOLSKA, H. Licensing behavior analysis. International Journal of Behavioral Consultation and Therapy, v. 4, n. 1, p. 1-13, 2008. COOPER, J. O.; HERON, T. E.; HEWARD, W. L. Applied behavior analysis. 2.nd. Upper Saddle River, NJ: Pearson, 2007. EPSTEIN, R. The principle of parsimony and some applications in psychology. Journal of Mind and Behavior, v. 5, n. 2, p. 119-130, 1984. 30 GILLIS, J. M.; BUTLER, R. C. Social skills interventions for preschoolers with Autism Spectrum Disorder: A description of single-subject design studies. Journal of Early & Intensive Behavior Intervention, v. 4, n. 3, p. 532-547, 2007. HARVEY, M. T.; LUISELLI, J. K.; WONG, S. E. Application of applied behavior analysis to mental health issues. Psychological Services, v. 6, n. 3, p. 212-222, 2009. HEFLIN, L. J.; ALAIMO, D. F. Students with autism spectrum disorders: effective instructional practices. Upper Saddle River, NJ: Pearson Education, Inc., 2007. HORNER, R. H.; et al. The use of single-subject research to identify evidence- based practice in special education. Exceptional Children, v. 71, n. 2, p. 165-179, 2005. HOWARD, J. S., et al. A comparison of intensive behavior analytic and eclectic treatments for young children with autism. Research in Developmental Disabilities, v. 26, n. 4, p. 359-383, 2005. HUNDERT, J. Inclusion of students with autism: using ABA-based supports in general education. Austin: ProEd., 2009. IWATA, B. A.; DORSEY, M. F. Toward a functional analysis of self-injury. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 27, n. 2, p. 197-209, 1994. KIMBALL, J. W. Behavior-analytic instruction for children with autism: philosophy matters. Focus on Autism & Other Developmental Disabilities, v. 17, n. 2, p. 66-75, 2002. KUBINA J. R.; RICHARD, M.; FAN-YU, L. Defining frequency: A natural scientific term. Behavior Analyst Today, v. 9, n. 2, p. 125-129, 2008. LAMAL, P. A. The philosophical terrain of behavior analysis: a review of B. A. Thyer (ed.), The philosophical legacy of behaviorism. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, v. 74, n. 2, p. 255-264, 2000. LANDA, R. Early communication development and intervention for children with autism. Mental Retardation & Developmental Disabilities Research Reviews, v. 13, n. 1, p. 16-25, 2007. LEACH, D.; WITZEL, B.; FLOOD, B. Meeting the social communication needs of students with autism spectrum disorders across home and school settings. Focus on inclusive education, v. 6, n. 3, p. 1-7, 2009. LOCKE, E. A. Determinism. American Psychologist, v. 19, n. 11, p. 846-847, 1964. LORD, C.; ET AL. Autism spectrum disorders. Neuron, v. 28, n. 2, p. 355-363, 2000. LOVAAS, O. I. Behavioral Treatment and Normal Educational and Intellectual Functioning in Young Autistic Children. Journal of Consulting and Clinical Psychology, v. 55, n. 1, p. 3-9, 1987. 31 MAAG, J. W. Rewarded by punishment: reflections on the disuse of positive reinforcement in education. Exceptional Children, v. 67, n. 2, p. 173-86, 2001. MAYER, G. R.; SULZER-AZAROFF, B.; WALLACE, M. D. Behavior analysis for lasting change. 2.nd. Cornwall-on-Hudson, NY: Sloan Publishing, LLC, 2012. NEWMAN, B.; REINECKE, D. R.; KURTZ, A. L. Why be moral: humanist and behavioral perspectives. The Behavior Analyst, v. 19, n. 2, p. 273-280, 1996. PETERSON, L.; HOMER, A. L.; WONDERLICH, S. A. The integrity of independent variables in behavior analysis. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 15, n. 4, p. 477-92, 1982. SCHOEN, A. A. What Potential Does the Applied Behavior Analysis Approach Have for the Treatment of Children and Youth with Autism? Journal of Instructional Psychology, v. 30, n. 2, p. 125, 2003. SKINNER,B. F. Reflections on behaviorism and society. Englewood Cliffs: Prentice-Hall, 1978. SIDMAN, Murray. Tactics of scientific researth. New York: Basic Books, 1960. SKINNER, B. F. Science and human behavior. New York: Free Press, 1953. SMITH, L. D. On prediction and control: B. F. Skinner and the technological ideal of science. The American Psychologist, v. 47, n. 2, p. 216-216, 1992. SUGAI, G.; LEWIS-PALMER, T.; HAGAN-BURKE, S. Overview of the functional behavioral assessment process. Exceptionality, v. 8, n. 3, p. 149-60, 2000. TODOROV, J. C.; HANNA, E. S. Análise do comportamento no Brasil. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 26, p. 143-153, 2010. VAUGHN, S.; et al. Social Skills Interventions for Young Children with Disabilities. Remedial & Special Education, v. 24, n. 1, p. 2, 2003. VIRUES ORTEGA, J. Applied behavior analytic intervention for autism in early childhood: meta-analysis, meta-regression and dose-response meta-analysis of multiple outcomes. Clinical Psychology Review, v. 30, n. 4, p. 387-399, 2010. VISMARA, L; ROGERS, S. Behavioral treatments in autism spectrum disorder: What do we know? Annual Review of Clinical Psychology, v. 6, p. 447-447, 2010. WOLF, M. M. Social validity: the case for subjective measurement or how applied behavior analysis is finding its heart. Journal of Applied Behavior Analysis, v. 11, n. 2, p. 203-214, 1978.
Compartilhar