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CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO A percepção dos discentes sobre a prática docente no ensino de contabilidade de uma instituição de ensino superior privada do sudoeste do estado de Minas Gerais Vilma Vieira Mião Oliveira Ribeirão Preto 2010 VILMA VIEIRA MIÃO OLIVEIRA A percepção dos discentes sobre a prática docente no ensino de contabilidade de uma instituição de ensino superior privada do sudoeste do estado de Minas Gerais Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação do Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Área de Concentração: Educação Escolar Linha de Pesquisa: Currículo, Cultura e Práticas Escolares Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes Ribeirão Preto 2010 Catalogação na fonte elaborada pela Biblioteca do Centro Universitário Moura Lacerda Bibliotecária Gina Botta Corrêa de Souza CRB 8/7006 Oliveira, Vilma Vieira Mião. A percepção dos discentes sobre a prática docente no ensino de contabilidade de uma instituição de ensino superior privada do sudoeste do estado de Minas Gerais / Vilma Vieira Mião Oliveira. - Ribeirão Preto, 2010. 112p. Dissertação (Mestrado) -- Centro Universitário Moura Lacerda, 2010. Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes 1. Prática docente. 2. Ciências Contábeis. 3. Processo ensino- aprendizagem. I. Fernandes, Maria Cristina da Silveira Galan. II. Centro Universitário Moura Lacerda. III. Título. VILMA VIEIRA MIÃO OLIVEIRA A percepção dos discentes sobre a prática docente no ensino de contabilidade de uma instituição de ensino superior privada do sudoeste do estado de Minas Gerais Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação do Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Área de Concentração: Educação Escolar Linha de Pesquisa: Currículo, Cultura e Práticas Escolares. Comissão Julgadora Orientadora: Profa. Dra. Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes (UFSCAR):_________ __________________________________________________________________________ 2° examinador: Dr. Mauricio Gonçalves Saliba(UNESP)_____________________________ 3o examinador: Dra. Alessandra David(CUML)____________________________________ Ribeirão Preto, 07 de junho de 2010. DEDICO ESTE TRABALHO: Aos meus filhos: Marcos Túlio, Carlos Cesar e Crassos Caio, meus tesouros. AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus filhos: Marcos Túlio, Carlos Cesar e Crassos Caio, pelo incentivo e carinho nesta caminhada e em muitas outras. À professora e orientadora Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes fica minha admiração e respeito pela excelente educadora que é. Obrigada pelo carinho, pela paciência, sabedoria, sensibilidade e simplicidade, com que me ajudou a conduzir este trabalho. A professora Alessandra pelo carinho com que aceitou o convite para compor as Bancas de Qualificação e Defesa. Ao professor Mauricio Gonçalves Saliba, que não mediu esforço, e aceitou com muita dedicação o convite para participar das Bancas de Qualificação e Defesa. Suas contribuições, na Banca de Qualificação, foram valiosas para a finalização da dissertação. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário Moura Lacerda, que demonstram enorme paixão pelo que fazem, além de um conhecimento admirável, me enriqueceu muito com seus ensinamentos. Muito obrigada. À FECOM – Fundação Educacional Comunitária de São Sebastião do Paraíso, mantenedora da Libertas-Faculdades Integradas, pelo incentivo financeiro. Oliveira, Vilma Vieira Mião. A percepção dos discentes sobre a prática docente no ensino de contabilidade de uma instituição de ensino superior privada do sudoeste do estado de Minas Gerais. Ribeirão Preto, SP: CUML, 2010. 112f. Centro Universitário Moura Lacerda. RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo analisar a percepção discente sobre a prática docente em um curso de Ciências Contábeis, visando verificar em que medida a prática pedagógica se relaciona com a qualidade do ensino. O foco desta pesquisa se direciona aos discentes enquanto sujeitos concretos e atuantes no processo educacional. Ao ouvir os alunos de um curso de Ciências Contábeis, os resultados da pesquisa podem contribuir para uma maior reflexão sobre o processo ensino-aprendizagem e a qualidade de ensino do curso. A pesquisa se fundamenta em estudos crítico-dialéticos de educação e se caracteriza como pesquisa de campo, participante e qualitativa. Optou-se quanto aos procedimentos de coleta de dados pela entrevista semiestruturada, com 12 alunos do Curso de Ciências Contábeis, do período noturno (três alunos de cada uma das quatro séries do curso), definidos por livre manifestação de cada um dos estudantes. A análise de dados das entrevistas foi realizada por meio da análise de conteúdo. O resultado da análise de conteúdo (temática) foi disposto em duas tabelas definidas por dois eixos temáticos (aprendizagem do aluno e prática docente), as quais apresentam as categorias, subcategorias, trechos de fala dos alunos e freqüência das falas. Os resultados da pesquisa permitem perceber que todos os entrevistados valorizam um conjunto de características pessoais dos professores e que o processo de aprendizagem se dá de várias maneiras. Conclui-se que o “bom” professor de contabilidade está relacionado aos aspectos afetivos e à forma como o professor desenvolve os conteúdos de sua disciplina. Ter amor à profissão, ter paixão, gostar do que faz, ter vocação, saber contextualizar, valorizar as potencialidades dos alunos, ter um relacionamento mais humano, são características marcantes que contribuem para a qualidade do ensino deste professor. Palavras-chave: Prática Docente; Ciências Contábeis; Processo Ensino-Aprendizagem. Oliveira, Vilma Vieira Mião. The perception of students on the practice in the teaching of accounting in a private institution of higher education in southwestern Minas Gerais. Ribeirão Preto, SP: CUML, 2010. 112f. Centro Universitário Moura Lacerda. ABSTRACT This research aims to analyze the practice of teaching Accounting Sciences from the perspective of students, to verify the extent to which educational practice is related to the quality of education. The focus of this research is directed to the students as concrete and active subjects in the educational process. Hearing Accounting students, the research results may contribute to further reflection on the teaching-learning process and the quality of the course. The research is based on critical-dialectical studies of education and it is characterized as field research, participatory and qualitative. The chosen procedures for data collection were semi-structured interviews with 12 students of Accounting Sciences, night period (three students from each of the four grades of course), defined by the free expression of each individual student. Data analysis of the interviews was done through content analysis. The results of content analysis (thematic) was set up in two tables defined by two themes (student learning and teaching practice), which present the categories, subcategories,passages of students speech and frequency of speech. The survey results allow us to perceive that all students value a set of personal characteristics of teachers and the learning process takes place in several ways. It is concluded that the "good" accounting professor is related to the emotional aspect and the way the teacher deals with its content. Having love for the profession, having passion, loving what you do, having a vocation, knowing how to contextualize, exploiting the potential of students, having a more human relationship are characteristics of this teacher who contribute to the quality of education. Keywords: Teacher Practice, Accounting Science, Teaching-Learning Process. LISTA DE QUADROS, TABELAS E FIGURAS Quadro 1 Matriz curricular do curso de Ciências Contábeis do ano de 2008..............03 Tabela 1 Eixos temáticos e categorias de análises....................................................... 52 Tabela 2 Formas de aprendizagem dos alunos .............................................................56 Tabela 3 Responsabilidade pelo processo de ensino aprendizagem............................. 58 Tabela 4 Elementos que contribuem para o sucesso da aprendizagem do aluno ........ 61 Tabela 5 Aplicabilidade dos conceitos apreendidos...................................................... 65 Tabela 6 Preferência dos alunos quanto aos tipos de aulas .......................................... 68 Tabela 7 Características dos professores do curso de Ciências Contábeis.....................70 Tabela 8 Características de professores marcantes ........................................................77 Tabela 9 O bom professor do curso de Ciências Contábeis ...........................................81 SUMÁRIO RESUMO ................................................................................................................................ 06 LISTA DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS................................................................... 08 1.INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 10 2. A PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR DE CONTABILIDADE.................. 2.1.Prática Docente no Ensino Superior............................................................................. 2.2. O Curso de Ciências Contábeis: contextualização....................................................... 2.2.1. O Curso de Ciências Contábeis - breve gênese histórica................................... 2.3. A história do Curso de Ciências Contábeis da IES pesquisada..................................... 2.4. Prática Docente no Ensino de Ciências Contábeis........................................................ 20 20 26 28 34 39 3. METODOLOGIA............................................................................................................... 45 3.1. Tipo de pesquisa ......................................................................................................... 3.2. Sujeitos e local da pesquisa......................................................................................... 3.3. Procedimentos de coleta............................................................................................. 3.4. Procedimentos de análise............................................................................................ 45 46 48 51 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS............................................................. 54 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 88 REFERÊNCIAS................................................................................................................... 93 APÊNDICES........................................................................................................................ Apêndice I – Roteiro da Entrevista..................................................................................... Apêndice II – Formulário para caracterização dos participantes da pesquisa..................... Apêndice III – Exemplo de Transcrição da Entrevista........................................................ 99 99 100 101 10 1 INTRODUÇÃO A sociedade de hoje passa por grandes transformações, sendo considerada a sociedade do conhecimento, o que pode ser percebido graças às exigências socio- educacionais, na inquietude, inteligência, idéias e criatividade do ser humano, um ser sedento de saber, impulsionado pelo auxílio dos mais sofisticados processos científicos, tecnológicos e cibernéticos. O contexto social, político, econômico e cultural no qual a sociedade contemporânea está inserida, faz com que suas ações sejam incertas em face da emergência de novos conhecimentos e atitudes procedimentais do ser humano, os quais se intensificam e acabam por afetar o conjunto da sociedade humana. É preciso repensar o sujeito no conjunto complexo das relações humanas, para que no contexto de sua condição, seja possível enfrentar o desafio que se coloca a todas as instituições, ao mesmo tempo em que se coloca a todos os seres humanos (LAFFIN, 2005, p.15). Na área organizacional, buscam-se modelos de atividades e de comportamentos necessários ao acompanhamento da evolução tecnológica, à nova perspectiva social e ao fortalecimento da empresa, voltados a oferecer satisfação aos seus proprietários, trabalhadores, fornecedores e consumidores. Também a educação brasileira vem passando por grandes reformulações, com o objetivo de acompanhar as tendências do mundo do trabalho e de formação de um cidadão mais consciente, mais comprometido consigo mesmo e com a sociedade. Estas reorganizações passam a ser desafiantes para qualquer educador, que milita no magistério em qualquer nível escolar. A sociedade contemporânea é complexa, está arraigada aos princípios conservadores, no entanto, em muitos momentos é contraditória nas suas próprias ações. Isto reflete diretamente nas escolas (CUNHA, 2003). A tecnologia é outro fator competitivo da escola. Os alunos de hoje já trazem um conhecimento de informática e da rede mundial de computadores, muitas vezes, a própria escola não tem infraestrutura física e humana para acompanhar, o que se torna, desta forma, um fator desmotivador. Desde o início de minha carreira como professora, (inicialmente no curso superior), tenho me preocupado com a metodologia de ensino, o fazer pedagógico.11 A oportunidade que me foi oferecida veio ao encontro da realização de um sonho, pois, quando mais jovem, sonhava em ser professora, mas, a dificuldade financeira na época, não me permitiu cursar o magistério. Na minha região, este curso era oferecido apenas por escolas particulares, ser normalista era só para a elite. Estudei em escola pública, fiz o antigo científico, hoje, ensino médio, à noite, porquanto tinha que trabalhar para me sustentar e ainda auxiliar minha família. Assim que terminei o ensino científico, passei no processo seletivo para trabalhar numa empresa de renome na minha cidade, só assim, pude cursar o ensino superior em Ciências Contábeis, com recursos próprios. Dentro das minhas condições financeiras era o que podia fazer. Mas o sonho de ser professora estava apenas engavetado, não havia desistido dele. Um dia, depois de formada, exercendo a profissão de contadora, encontro com meu ex-professor da faculdade, na fila de espera de um banco, e este me convida para substituí-lo, pois precisaria se afastar de suas aulas, por um período. Aquela noite não dormi, estava ali a oportunidade de ser professora. Passou um filme pela minha memória, professora de contabilidade, num curso superior, era o meu momento. É óbvio que aceitei, e, estou professora até hoje, há 22 anos. Nestes vinte e dois anos de magistério, houve muitos encontros, mas também muitos desencontros. Em alguns momentos houve e há muitas frustrações, por exemplo, conviver com a relação de “poder” e as “políticas” das Instituições de Ensino e fazer educação são práxis totalmente diferentes. Porém, a “paixão” e o “amor” pela profissão, creio que supera todos os obstáculos. Concordo com os professores Marion e Marion (2006): É importante que a missão de quem ensine não se restrinja a apenas transmitir puramente conhecimento ou passar um conteúdo, mas que haja “coração” no seu contexto. É importante que o professor, no seu sentido lato referido, não apenas planeje, ordene e prepare boas aulas, mas também seja um educador na acepção da palavra, aí sim envolvendo emoções, afetividade, compreensão do homem e seu ambiente, juntamente com uma boa comunicação. (p.1) Fui diretora pedagógica de uma escola de ensino médio, com uma proposta pedagógica arrojada, contextualizada e muito bem fundamentada em um modelo austríaco, o qual consolidou toda a minha formação pedagógica, mediante a participação em vários cursos, treinamentos e encontros oferecidos. Esta experiência inquietou-me ainda mais quanto ao fazer pedagógico. Entende-se como “fazer pedagógico” o ato que se estabelece em relação educando e educador, no processo ensino-aprendizagem. Tem-se a sensação de ser uma relação de incompreendidos: o professor não compreende o aluno, o aluno não compreende o professor. A mesma sensação 12 em que, muitas vezes, esta pesquisadora, enquanto professora, também sente. De acordo com Cunha, (2003): Há um certo consenso sobre os comportamentos que se espera de um aluno e o mesmo acontece com relação ao professor. Isto significa dizer que parte da relação professor-aluno já é pré-determinada socialmente. O modelo de sociedade define o modelo de escola e nele está contida a ideologia dominante. (p.65) A escola como instituição social determina aos seus próprios integrantes os comportamentos que deles se espera. Reproduz a ideologia dominante. Existe entre o aluno e o professor um jogo de expectativas relacionadas aos seus respectivos desempenhos. (PIMENTA; ANASTASIOU, 2008). No momento, enquanto coordenadora de um curso de Ciências Contábeis, percebo, muitas vezes, que alguns professores conseguem estabelecer esta relação do fazer pedagógico, com muito mais propriedade que outros. Esta percepção me instiga a uma inquietação de como é visto este fazer pedagógico, de um curso noturno de Ciências Contábeis, na perspectiva dos discentes, razão pela qual se propõe esta pesquisa. A reflexão teórica da prática docente e, mais especificamente, sobre o processo ensino-aprendizagem em cursos superiores, sua natureza e especificidades não tem sido objeto de muitas discussões nas faculdades e universidades. No que se refere à pesquisa na área de contabilidade, especificamente no ensino de contabilidade, percebe-se que se trata de uma área extremamente carente. Há poucos pesquisadores preocupados com a produção científica deste segmento. “É difícil pensar num bom professor de contabilidade que não pesquise; que seja apenas copiador de conhecimento alheio, ou um bom decifrador dos livros textos” (MARION, 2001). Em se tratando da prática docente ou prática pedagógica, de maneira mais ampla, algumas dissertações e teses, frutos de pesquisas mais sistematizadas, têm buscado aprofundar as discussões. Em sua tese de doutorado, Lelis (2001) faz uma reflexão a respeito do trabalho docente das escolas públicas do Rio de Janeiro. Sua pesquisa, com trajetórias de vida dos professores, nasceu da insatisfação com um discurso sobre a desqualificação dos saberes e práticas do magistério, visto como incompetente tecnicamente e descompromissado politicamente na tarefa de ensinar aos setores das camadas populares. Gestado a partir dos anos de 1980, especialmente no interior das burocracias educacionais, este discurso tem servido à definição de políticas de controle do Estado sobre o trabalho do professor por meio de mecanismos de racionalização e privatização do ensino. Pensar a construção social do trabalho docente a partir de trajetórias de vida de professoras representou um esforço de superação de perspectivas etnocêntricas que tendem a definir a profissão a partir de um olhar “para dentro”, enclausurado no 13 campo científico e político. Este olhar historicamente tem virado as costas à uma trama complexa de práticas, valores e saberes daqueles que fazem a escola quotidianamente”. (LELIS, 2001, p.48) Outrapesquisa de relevância é a de uma equipe de professores da USP (ALVES; CORRAR e SLOMSKI, 2004), que teve como objetivo comparar o desempenho de alunos dos cursos de graduação em Ciências Contábeis no Brasil, levando-se em consideração determinados aspectos da docência e de outros recursos educacionais, de modo a verificar o possível impacto destes fatores sobre o desempenho dos discentes. Os autores colocam que as ações que visem à melhoria do processo ensino- aprendizagem poderão ser adequadamente implementadas, à medida que se conheçam os fatores que influenciam a performance educacional dos estudantes, e concluíram pelos resultados, que os professores tiveram influência no desempenho dos seus educandos, sob três aspectos: domínio atualizado das disciplinas ministradas, técnicas de ensino empregadas e recursos didáticos utilizados. Além disso, o acesso a microcomputadores também impactou a performance dos discentes, no entanto, o mesmo não aconteceu em relação às condições físicas da biblioteca para estudo. Assim, os autores esperam que o desenho de políticas cujo alvo seja a melhoria do ensino superior em Contabilidade leva em consideração esses fatores que, dentre outros, influenciam o desempenho dos alunos (ALVES; CORRAR; SLOMSKI, 2004 p.1). A relação ensino-aprendizagem deve ser focada como processo dialético e o trabalho docente como uma via de mão dupla em ação, reflexão, inquietação e incertezas, virtudes indispensáveis a um professor. Nesse sentido, de grande contribuição, destaca-se a pesquisa feita na UFMG que buscou conhecer a gênese da profissão docente de contadores- professores: Buscar a gênese e o sentido da profissão docente de contadores-professores significa desvelar tradições históricas de múltiplos significados no curso de Ciências contábeis da UFMG, onde o ser pessoal se identifica com o ser profissional, independente de sua formação ou atuação. A identidade profissional desses docentes se constrói e reconstrói nas relações com todos que compartilham da complexa rede cultural e científica desse ambiente universitário, com mais de sessenta anos de atuação (PESSOA, 2004 p. 1). Esta pesquisa vem ao encontro da idéia de que a construção da identidade do professor de ciências contábeis, o ser pessoal se confunde com o ser profissional, e que esta construção do contador-docente se dá ao longo do tempo, na interação entre o individual e o coletivo. Nas atividades de sua docência, aos poucos vai-se incorporando o papel de professor. 14 A construção de identidades ocorre em processo ao longo do tempo, entre gerações com posicionamentos similares ou antagônicos, na interação entre o individual e o coletivo. Destacam-se concepções do tipo biográfico e relacional; de pertença atribuída e de pertença adquirida ou escolhida; a identidade para si e a identidade para os outros, como sugestivas para argumentar a socialização profissional, embora não sejam restritas apenas ao profissional docente (DUBAR, 2005). Apesar do crescimento dos cursos de graduação de ciências contábeis, principalmente com os EAD (Ensino a Distância), a pesquisa de Rodrigues (2006) mostra que a maioria das universidades/faculdades não está preocupada com a formação pedagógica dos professores. Não há muitas exigências legais, ao que se refere à titulação/formação pedagógica. O nível de exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (1996), cobra-se que apenas um terço do corpo docente tenha mestrado ou doutorado. Para os demais (dois terços dos professores), basta que tenham apenas o curso de graduação na área. Outra pesquisa relevante é a de Peleias et al., (2007) sobre a evolução do ensino de contabilidade no Brasil, apresentaram a evolução histórica do ensino de contábeis que nasceu como escola de comércio (técnico), para depois tornar-se graduação. A partir de tal evolução é possível entender as dificuldades vivenciadas pelos contadores-professores atuantes em sala de aula hoje. O ensino foi considerado por muito tempo apenas como uma “técnica”. É muita nova a visão da contabilidade como ciência, isto leva um tempo para ser assimilado. É um processo. Pachane (1998) em sua dissertação de mestrado, analisa a experiência universitária e sua contribuição ao desenvolvimento pessoal dos estudantes, partindo da percepção do aluno. Com base em uma concepção dialética, a pesquisa busca compreender essa percepção a respeito da influência da experiência universitária em seu desenvolvimento pessoal, desenvolvido como um estudo descritivo-exploratório ao analisar as continuidades e rupturas vivenciadas pelos estudantes durante a realização de seu curso universitário. Os resultados revelam a importância dos relacionamentos pessoais (aluno-aluno e professor-aluno), e da realização de atividades de pesquisa. Para entender a prática pedagógica dos professores do curso de Ciências Contábeis, Slomski (2007) discute as novas tendências investigativas para a formação de professores que valorizam os saberes docentes, defende a docência como profissão e baseia-se na idéia de que o ensino demanda saberes próprios, sendo assim, um ofício feito de saberes. Já Franco (2008) coloca em destaque as diferentes concepções que sustentam a lógica que preside as práticas docentes e aquela que organiza os processos formativos, para então, considerar que os saberes pedagógicos vistos como saberes estruturantes do conhecimento profissional, podem ser o elo necessário para produzir os diálogos entre essas 15 duas instâncias que coexistem na prática social de formação de docentes, embora, muitas vezes, de forma desconectada. A seguir, propõe-se analisar as possibilidades da prática como elemento constitutivo e fertilizante da formação docente. Pela sua pesquisa, pode-se contatar que há diferentes concepções de prática, realçando que há uma prática que forma, informa e transforma, simultaneamente, o sujeito e suas circunstâncias, e há uma prática que oprime, distorce e congela especialmente o sujeito que nela se exercita e, nesse caso, este perde o acesso às suas circunstâncias. O fazer docente, segundo Gomes et al. (2006) desperta o interesse dos educadoresque tratam deste tema sob diferentes ópticas: competência do professor; integração do conhecimento subjacente do aluno; do professor reflexivo-crítico; da proposta de educação libertadora e prática política; e reconhecimento da complexidade da educação e reflexão sobre a fragmentação das disciplinas, dificultando a interdisciplinaridade. A prática docente, segundo Cruz (2007), se constitui em um exercício que transcende a dimensão técnica, não podendo ser assumida tão-somente como o atendimento às prescrições curriculares desenvolvidas por outros. Em uma pesquisa realizada sobre a qualidade do ensino de contabilidade, elaborada por Marion (2005), em conjunto com o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC/SP), mediante Workshops regionais foram identificados alguns problemas no processo ensino-aprendizagem de contabilidade, como: (1) os professores de ensino superior de Contabilidade ainda não adquiriram o hábito de fazer pesquisas; (2) os alunos dos cursos de graduação em Ciências Contábeis não pesquisam previamente, antes de entrarem nas salas de aulas, reunindo-se em grupos ou dirigindo-se à biblioteca ou laboratórios de computação, alegando sempre que, por trabalharem, não lhes resta tempo suficiente para pesquisas; (3) os alunos dos cursos de graduação em Ciências Contábeis mantêm atitudes apenas passivas em salas de aula, aguardando que os professores lhes transmitam os conhecimentos desejados sem qualquer crítica ou participação, e a desculpa é sempre a mesma: falta de tempo porque trabalham durante o dia. Por meio de pesquisas, Marion e Marion (1999, p. 24) firmam que não existe uma metodologia única para qualquer tipo de público e colocam que conhecer o público e os diversos métodos de ensino, são atributos inseparáveis do professor. Acredita-se que estes problemas apontados na pesquisa feita pelos professores Marion e Marion, ainda persistem em muitas faculdades/universidades, prejudicando a qualidade de ensino do curso de Ciências Contábeis. 16 Referindo-se à questão da qualidade de ensino, considera-se relevante a pesquisa de doutorado de Fernandes (2002), que teve como objetivo desvelar e analisar as concepções de qualidade de ensino que norteiam a prática docente em uma instituição de ensino superior privado noturno, visando a uma maior compreensão do conceito de qualidade que permeia esse tipo de ensino. Ainda com relação à qualidade também Nossa (1999) coloca que: A melhoria na qualidade de ensino não depende somente das mudanças curriculares e estruturais das instituições de ensino superior, mas principalmente, da seriedade, dedicação e compromisso assumido pelos professores na capacidade de formar bons profissionais e não apenas informá-los sobre alguns conteúdos. (p.18 ). Observa-se que os autores que se preocupam com um ensino de melhor qualidade, tanto para o Ensino Superior como para a contabilidade estão buscando novas tecnologias que possam contribuir para a formação de um profissional com melhores condições educacionais. Considera-se formação profissional com qualidade aquela que é oferecida ao aluno e à sociedade de forma justa, formando cidadãos críticos e participativos para atuarem conjuntamente na transformação da sociedade. Para que tal processo de formação ocorra, é necessário que os acadêmicos sintam-se amparados no momento da construção da sua identidade, tornando-se seguros e autônomos em suas ações, para que possam com base neste ponto, terem a possibilidade de se sentirem realmente sujeitos construtores da sua própria aprendizagem, dando significado ao conhecimento. A necessidade de desvendar o cotidiano escolar do aluno para com seus professores norteou os procedimentos metodológicos, contribuindo para que a descrição do campo de estudo se transforme em conhecimento. Maffesoli (1984) apud TEIXEIRA (1990) explicita bem este desvendar do cotidiano aluno/professor: “[...] o cotidiano precisa ser o lugar privilegiado da análise social, pois é nele que se pode apreender o irracional, o não racional, o não lógico, a desordem, o acaso, a diferença, isto é, tudo o que tem um papel não quantificável no vir-a-ser social.” (p. 38). O objeto deste estudo é, portanto, a prática pedagógica do professor na visão dos estudantes de um curso de ciências contábeis. Segundo Cunha (2003) “a sala de aula é o lugar privilegiado onde se realiza o ato pedagógico escolar” e é, neste espaço, por meio deste convívio aluno/professor que o processo ensino-aprendizagem acontece. Ambos recebem influências do ambiente escolar e influenciam este mesmo ambiente. Nessa direção, entende-se que é preciso conhecer melhor o ambiente escolar, as faculdades de ensino superior, particularmente a escola destinada à classe trabalhadora. O ensino superior privado 17 noturno, no Brasil, atende prioritariamente alunos de classe média baixa, uma camada social que estuda, à noite, porque trabalha durante o dia (CASTANHO,1989; SPÓSITO,1986,1989; FURLANI,1998 apud FERNANDES, 2002). Quem são seus professores? Como esses sujeitos que estudam nas faculdades particulares, noturnas, vêem, percebem a prática pedagógica de seus professores? Considera-se necessário ouvir quem participa do processo ensino-aprendizagem, quem convive cotidianamente com faculdades privadas e, em especial, com os cursos noturnos, ao se discutir a prática pedagógica. Esse modo de perceber o professor no cotidiano escolar direcionou a escolha do tema da pesquisa e a elaboração de algumas questões norteadoras. Como os alunos percebem a prática pedagógica de seus professores? Quem é um bom professor para os alunos de um curso de Ciências Contábeis? Que características pessoais e profissionais têm estes professores? Quais características destes professores podem contribuir para a qualidade do processo ensino-aprendizagem do curso? Tais indagações levaram a um questionamento maior que se configurou no problema da pesquisa: Como se dá a prática pedagógica dos professores de um curso noturno de Ciências Contábeis, de uma IES privada, pela percepção dos alunos? Segundo Slomski (2007): Analisando a situação dos professores que atuamhoje nas salas de aula da universidade, verifica-se que, com exceção dos docentes provenientes das licenciaturas, a grande maioria não contou com a formação sistemática necessária à construção de uma identidade profissional para a docência. Embora estejam dando aulas, esses professores, nem sempre dominam as condições necessárias para atuar como tais. (p. 91). Considera-se como hipótese da pesquisa que, na percepção dos alunos, os professores de Ciências Contábeis da instituição de ensino estudada são profissionais com pouca didática, pois sua prática pedagógica se pauta na experiência profissional de mercado. Supõe-se que a pesquisa possa suscitar depoimentos dos alunos que responderão: como são, como atuam, e que características possuem seus professores. O que diferencia um professor para ser reconhecido positivamente na perspectiva dos discentes, como bons professores. Nesse sentido, este estudo pode contribuir com a instituição em que a pesquisa se desenvolve, trazendo uma análise científica da prática pedagógica dos professores que atuam no curso de Ciências Contábeis, com suas características pessoais e profissionais e quais destas podem contribuir para a qualidade do processo ensino-aprendizagem do curso. 18 Espera-se que os resultados obtidos possam contribuir, ainda, para a ampliação das discussões sobre a profissão docente, especialmente, do ensino superior de Ciências Contábeis, pois segundo Marion (2006) “ensino de contabilidade é uma área muito carente de pesquisas no Brasil.” Justifica-se ainda, que ao ouvir os alunos de um curso de Ciências Contábeis, os resultados da pesquisa podem contribuir para uma maior reflexão sobre o processo ensino- aprendizagem e a qualidade de ensino em cursos de Ciências Contábeis. Nessa perspectiva o objetivo geral deste estudo consiste em: Conhecer a prática docente em um curso de Ciências Contábeis, na perspectiva dos alunos, visando verificar em que medida a prática pedagógica se relaciona com a qualidade do ensino. Os objetivos específicos da pesquisa são: Descrever e analisar as práticas pedagógicas dos professores do curso de ciências contábeis, no período noturno, na perspectiva dos discentes. Identificar e analisar quais são as práticas docentes que mais se identificam com as desejadas pelos discentes. Levantar as características de um “bom professor” pela visão dos alunos. Verificar que características pessoais e profissionais desses professores podem contribuir para a qualidade do processo ensino-aprendizagem do curso. A apresentação deste estudo foi organizada em cinco seções: (1) Introdução; (2) A Prática Docente no Ensino Superior de Contabilidade; (3) Metodologia da pesquisa; (4) Resultados e discussão dos dados; (5) Considerações Finais. A seção 1- Introdução apresenta o tema, a revisão da literatura, a construção do problema e os objetivos da pesquisa. Na seção 2 - A Prática Docente no Ensino Superior de Contabilidade apresenta os estudos crítico-dialéticos em educação que fundamentam a presente pesquisa. Discute-se a prática docente no ensino superior e no ensino de contabilidade, a contextualização do curso de Ciências Contábeis - uma breve gênese histórica e o Curso de Ciências Contábeis da Instituição pesquisada. Na seção 3 – Método - apresenta-se o espaço físico e a população estudada, indicando-se os procedimentos adotados para a coleta e análise de dados, situando-se a pesquisa em uma abordagem qualitativa em que se privilegia a entrevista semiestruturada como recurso para a obtenção de informações. 19 Na seção 4 - Resultados e Discussão dos Dados com a análise crítica dos dados que, a partir da categorização das entrevistas permitiu a constituição de dois eixos temáticos: a aprendizagem do aluno e a prática docente. Os dois eixos temáticos foram compostos por oito categorias, sendo quatro referentes a cada eixo. O eixo temático, A Aprendizagem do Aluno compõe-se das seguintes categorias: formas de aprendizagem dos alunos; responsabilidade pelo processo de ensino-aprendizagem; elementos que contribuem para o sucesso da aprendizagem; aplicabilidade dos conceitos apreendidos; já o eixo temático, Prática Docente, apresenta as categorias: preferência dos alunos quanto ao tipo de aula; as características/perfil dos professores do curso de Ciências Contábeis, que contribuem para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem; características de professores marcantes; e o “Bom” professor do curso de Ciências Contábeis. A quinta e última seção consiste nas Considerações Finais em que se retoma o problema que norteia a pesquisa e se sintetizam os resultados obtidos. 20 2 A PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR DE CONTABILIDADE Com o intuito de fazer da escola e da universidade lugares privilegiados da educação e do conhecimento, de unir saber e ação, este capítulo apresenta a discussão sobre a prática dos professores nas universidades, principalmente no ensino de Ciências Contábeis, sob a perspectiva crítica que orienta o estudo, bem como o processo de implantação do ensino de contabilidade nas universidades e na IES estudada. Têm-se como referenciais: Cunha (2003), Demo (1996), Freire (1998), Pimenta e Anastasiou (2002),Marion (2001), Marion e Marion (2006). Estes autores já vêm discutindo a questão da prática docente numa visão crítica da educação. De acordo com Demo (1996): [...] o desafio que temos a enfrentar é evidente: passar da mera aprendizagem para o aprender a aprender, fazer da escola e da universidade lugares privilegiados da educação e do conhecimento, unir saber e ação. Só assim poderemos garantir e gerar futuro, com uma sociedade que tenha acesso a uma base educativa que lhe propicie a respectiva cidadania. (p.1). Nesse sentido, torna-se necessário um estudo mais aprofundado da prática docente, particularmente na visão crítico-dialética da educação, tanto no ensino superior de maneira mais ampla quanto ao ensino de contabilidade de forma mais específica. 2.1 Prática Docente no Ensino Superior A palavra prática está ligada à realização de uma teoria concretamente. Uma teoria só é considerada como tal, se for provada pela prática, ou seja, não existe teoria sem prática. Einstein quando formulou a teoria da relatividade já a tinha provado matematicamente. Ao realizar um feito, deve-se aplicar a teoria na prática por serem duas dimensões de um mesmo fenômeno e que, frequentemente, geram controvérsia entre o que é dito e o que é feito, é comumente dito que "na prática a teoria é outra”. A palavra prática, vem do latim practĭcus e este do grego πρακτικός, que quer dizer o ato de praticar. Já a palavra Docente - vem do latim docens - entis, particípio ativo do verbo docēre (ensinar), então o que é Docente? É o professor, aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina. Diz-se do que se refere mais à experiência vivida do que aos conhecimentos teóricos acumulados. (CULTURAL, 1998). Se unirmos as duas palavras “Prática Docente” teremos a “Práxis” palavra que vem do grego πράξις e é definida como o processo pelo qual uma teoria, lição ou habilidade é 21 executada ou praticada, se convertendo em parte da experiência vivida. Na Sociologia, pode ser resumida como as atividades materiais e intelectuais exercidas pelo homem que contribui à transformação da realidade social, enquanto, no ensino, uma lição é apenas absorvida em nível intelectual no decurso de uma aula, as ideias são postas à prova e experimentadas no mundo real, seguidas de uma contemplação reflexiva. Desta maneira, os conceitos abstratos ligam-se com a realidade vivida. (CULTURAL, 1998). É o “fazer pedagógico”, experimentado no mundo real, através do ato que se estabelece na relação educando e educador, no processo ensino-aprendizagem, numa via de mão dupla de ação e reflexão. Segundo Tardif e Lessard (2005, p. 23) o ensino caminha para uma centralidade política e cultural, e o ensino, no contexto escolar, representa há quase três séculos o modo dominante de socialização e de formação nas sociedades modernas, e, a escola, como local de socialização e formação, vem perdendo o espaço para outras instituições sociais como famílias, corporações e profissões, indústrias, esportes e lazeres. Nesta perspectiva, acredita-se que o fazer pedagógico, muitas vezes fica atrelado às tarefas do trabalho docente, amarradas a práticas e métodos tradicionais de ensino, ao invés de valorizar a competência profissional e as práticas inovadoras. A temática da profissionalização do ensino não pode estar dissociada da problemática do trabalho escolar e docente, e dos modelos que regem a organização. Muitas vezes, estas práticas, estão acentuadas por decretos e receitas, não são gestadas no universo das práticas cotidianas dos profissionais do ensino, distanciando-se do diaadia escolar e comprometendo o envolvimento de cada um no processo de ensino-aprendizagem. Para entender melhor como acontece o processo de ensino-aprendizagem no Curso de Ciências Contábeis, é necessário entender um pouco da docência enquanto trabalho. A docência segundo Tardif e Lessard (2005) é uma das mais antigas ocupações modernas e que cada vez mais vem recebendo um status de importância, pois: [...] As transformações atuais que caracterizam o mundo do trabalho constituem, em nossa opinião, um momento intelectualmente propício para refletir melhor e de maneira crítica sobre os modelos teóricos do trabalho que têm servido, até hoje, de referências à análise da docência. Na verdade, acreditamos que a presença de um “objeto humano” modifica profundamente a própria natureza do trabalho e a atividade do trabalhador. (p.21). Se o objeto humano, com o qual o docente trabalha é o aluno, o tratamento reservado ao objeto não pode ser reduzido à sua transformação objetiva, técnica e instrumental, mas sim 22 às questões complexas do poder, da afetividade e da ética, que são inerentes à interação humana, à relação com o outro. Conhecendo como se deu o nascimento do ensino superior no Brasil, é possível entender o trabalho docente nas Instituições de ensino na visão da prática docente, decretos, políticas institucionais (receitas prontas) e na complexidade da interação com os seres humanos, porque ensinar “é trabalhar com seres humanos, sobre seres humanos e para seres humanos” (TARDIF e LESSARD, 2005, p.31). Por esta razão, apresenta-se, a seguir, uma breve retrospectiva histórica do ensino superior no Brasil, com o objetivo de oferecer referenciais históricos e contextualizar a discussão sobre o ensino superior no Brasil. O processo de construção do conhecimento do ensino superior no Brasil teve origem em 1808, com a colonização do país, nos modelos de escolas Jesuíticas de vários países. Os jesuítas tomaram como referência o método escolástico, existente desde o século XII e o modus parisiensis em vigor na Universidade de Paris, local onde Inácio de Loyola e os demais jesuítas fundadores da Companhia de Jesus realizaram seus estudos, conforme citam Pimenta e Anastasiou (2008): As aulas ocorriam em período integral, e ao final da manhã e da tarde os alunos faziam as repetições do meio-dia e do final da tarde, sob o comando de um aluno decurião, que, a exemplo do modelo do exército romano, era o “comandante” de um grupo de dez alunos. (p.146). A formação e a personalidade de cada professor– um sacerdote – eram elementos fundamentais para a eficácia do método. Ainda segundo Pimenta e Anastasiou (2008): [...] as normas eram rigidamente seguidas por discentes e docentes. A base estava na hierarquia da organização dos estudos, na divisão e na graduação das classes e programas em extensão e dificuldade, não se permitindo passar a uma etapa mais avançada sem que a anterior estivesse totalmente dominada. O Conhecimento, tomado como algo posto, indiscutível, pronto e acabado, devia ser assim repassado e a memorização era concebida como operação essencial e recurso básico de ensino e aprendizagem. O material de ensino era comum em todas as escolas jesuíticas, independente do país em que se encontravam, e estava contido no documento chamado de Ratio Studiorum, cabendo ao professor apenas cumpri-lo. (p.146). Entende-se a prática docente presente nas escolas/universidades no dias atuais, fazendo uma reflexão sobre dois pilares: o modelo pedagógico dos jesuítas e os professores que se criaram por si mesmos. Percebe-se que muitos dos professores presentes em sala de aula das universidades foram formados nesta linha pedagógica dos jesuítas ou se fez professor no seu cotidiano. O professor conhece bem do assunto específico de sua área, no entanto, muito pouco de didática. 23 Estes professores, muitas vezes, nos discursos, pregam uma nova forma de ensinar, porém, estão arraigados no processo configurado por um Habitus – que nada mais é do que o processo que “permite a incorporação de alterações nos discursos e não nas práticas, instala-se e acaba sendo modificado apenas superficialmente, num avanço que fica presente muito mais no discurso do que na alteração da visão formal do conhecimento e, conseqüentemente, da memorização como metodologia na e da sala de aula.” (PIMENTA e ANASTASIOU, 2008, p. 147). Outra influência do ensino universitário no Brasil foi o modelo francês, de faculdades isoladas, com o objetivo de atender as elites. Cunha (1986) cita a fala do Conselheiro Almeida, no Congresso de Educação em 1822: A universidade é uma coisa obsoleta e o Brasil, como país novo, não pode querer voltar atrás para construir a universidade; deve manter suas escolas especiais, porque o ensino tem que entrar em fase de especialização profunda; a velha universidade não pode ser restabelecida (CUNHA, 1986, p.132-137). Porém, a prática pedagógica adotada em sala de aula nestas faculdades isoladas, não se altera, mantendo o modelo jesuítico. O ensino universitário brasileiro também sofreu influência do modelo alemão, introduzido no texto da Lei n.º 5540/68, diretrizes propostas pelas reformas educacionais do período da ditadura militar, os quais vigoraram até 1996. O elemento essencial deste modelo é a valorização da produção do conhecimento e do processo de pesquisa. Na Alemanha, a universidade surge com um processo de edificação nacional. O avanço da ciência, por meio da pesquisa das questões nacionais, é proposto como saída para renovação tecnológica, num momento em que a Alemanha perde o pioneirismo da Revolução Industrial, já iniciada pela França e Inglaterra. A prática docente, neste modelo, é diferenciada, pois a universidade se volta para a resolução dos problemas nacionais mediante a ciência, busca unir os professores entre si e aos alunos pela pesquisa em dois espaços de atuação: os institutos e os centros de pesquisa, que seriam regidos por situações essencialmente opostas ao modelo francês. Segundo Pimenta e Anastasiou (2008): Numa proposta em que “o professor não existe para o aluno, mas ambos pela ciência“ fica estabelecida uma forma de relação em parceria a direção da construção do conhecimento, em que não prevalece tanto a figura do docente transmissor como uma metodologia tradicional autoritária, centrada no saber docente a ser transmitido. Um novo papel é solicitado ao aluno na direção da construção do conhecimento, que se entende estar em movimento e transformação. Nesse contexto deve, ao menos, coexistir uma pedagogia da transformação. (p.151). 24 Esta influência dos modelos da universidade alemã e francesa adverte para uma reflexão quanto ao modelo de faculdades isoladas e as universidades que existe, hoje, no país. As universidades, obrigatoriamente, têm que investir em pesquisas, com isto, acredita- se que pedagogicamente seus alunos desenvolvem um perfil de autonomia na busca de seu conhecimento, diferenciando-se dos alunos de faculdades isoladas que estão presos a um modelo mais tradicional de ensino em que há pouco desenvolvimento da prática da busca de novos conhecimentos mediante a pesquisa. Enquanto instituição social, a universidade se caracteriza segundo Pimenta, Anastasiou (2008) como: [...] ação e prática social, pautando-se pela idéia de um conhecimento guiado por suas próprias necessidades e por sua própria lógica, tanto no que se refere à descoberta e invenção quanto à transmissão deste conhecimento. Desde suas origens, a universidade buscou efetivar os princípios de formação, criação, reflexão e crítica, tendo sua legitimidade derivada da autonomia do saber ante a religião e o Estado. (p.168) Inicia-se um processo de preocupação com a qualidade do ensino superior no Brasil, focados na produção cultural e do conhecimento por meio da ciência, com a criação do Conselho Nacional de Educação, que segundo Saviani (2006) foi instituído: [...] pelo Decreto n.º 19.850 de 11 de abril de 1931, juntamente com um conjunto de seis decretos, conhecidos como reforma Francisco Campos, ao longo da primeira República, pelo ministro da Educação e Saúde daquela época. Sendo que a organização do ensino superior e o regime universitário foram instituídos pelo Decreto n.º 19.851 e ainda o Decreto n.º 19.852 instituiu a organização da Universidade do Rio de Janeiro, são da mesma data, intrínsecos no conjunto dos seis decretos da referida reforma. (p.32). Este decreto cria também a Faculdade de Educação, Ciências e Letras, sinalizando-se a importância da área de educação, que se fazia presente na reorganização da Universidade do Rio de Janeiro, definida como modelo para as universidades e institutos equiparados (CAMPOS,2000, p.126 apud SAVIANI, 2006, p.32). A constituição de 1934 consagrou o Conselho Nacional de Educação, atribuindo-lhe como principal função a elaboração do Plano Nacional de Educação. Para atender esta finalidade, o Conselho foi reestruturado e reinstalado em 11 de fevereiro de 1937. Francisco Campos, ao propor a criação da Faculdade de Educação, Ciências e Letras, conclui que a nova Faculdade não seria apenas um “órgão de alta cultura ou de ciência desinteressada”, mas deveria ser “antes de tudo e eminentemente, um Instituto de Educação”, cuja função precípua seria a formação dos professores, sobretudo os de ensino normal e secundário, considerando que “o ensino no Brasil é um ensino sem professores, isto é, em que 25 os professores criam a si mesmos, e toda a nossa cultura é puramente autodidática’’ (CAMPOS, 2000, p.127, apud SAVIANI, 2006, p. 36). Já em 1937, havia uma preocupação com a formação de professores, o que predomina até os dias atuais, mormente, fazendo uma análise mais aprofundada, entende-se que a nossa cultura de professor universitário tem raízes nos professores que se fizeram por si mesmos. É o que o Saviani (2006), denomina de “autodidática”; aprende-se a ser professor ao longo de sua trajetória como professor. Acredita-se que não houve muitas mudanças neste processo, as faculdades e universidades de hoje contratam seus professores sem se preocupar com a sua formação pedagógica. O professor, muitas vezes, é convidado a dar aula pelo conhecimento específico da disciplina, ou até se submete a concursos, como é o caso das universidades públicas, mas nem sempre com avaliação do seu conhecimento pedagógico. Pode-se questionar, então, se houve evolução em relação à formação pedagógica de professores universitários de 1937 até os dias atuais. Percebe-se que a única evolução a qual está atrelada a formação de Mestres e Doutores, é uma formação mais voltada para a pesquisa. Será que esse tipo de formação é suficiente? A Faculdade de Educação, Ciências e Letras, proposta por Francisco Campos não chegou a ser instalada. Apenas em 1939 o ministro da Educação Gustavo Capanema reorganizou pelo Decreto n.º 1.190 de 11 de abril, na Universidade do Brasil, a Faculdade Nacional de Filosofia, estruturada em quatro seções: Filosofia, Ciências, Letras e Pedagogia, às quais se acrescentou, ainda, uma seção denominada Didática. Esta foi considerada modelo para instalação das demais faculdades de filosofia, ciências e letras no Brasil. Neste momento, nasceram os cursos de Bacharelado de três anos e os de Licenciatura com duração de mais um ano. Nos cursos de licenciaturas foram incluídas as disciplinas de didáticas. (SAVIANI, 2006, p.37). Houve um período de estagnação do processo crítico, durante o Regime Militar,em que se reforça um ambiente adequado a uma prática pedagógica calcada na transmissão de saberes, num papel docente centralizador. A reprodução do conhecimento é considerada como verdadeira sem uma análise crítica da realidade social, cultural, econômica e científica. Após a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 20 de dezembro de 1996, a docência do ensino superior ficou amparada pelos programas de Pós- Graduação Stricto-Sensu. Isto trouxe uma preocupação porque os programas de Mestrado e Doutorado em áreas diversas da educação se voltam para a formação de pesquisadores, e não para a formação de professores, permanecendo estes sem a devida formação docente. 26 Em muitas universidades ainda predomina a figura do professor transmissor de conteúdos curriculares. Segundo Pimenta e Anastasiou (2008, p.154) imperam fortes resquícios da metodologia jesuítica e do modelo organizacional francês, impedindo a universidade de cumprir o seu papel de possibilitar o processo de construção do conhecimento, porque, o professor se considera inquestionável e seus conteúdos considerados como verdadeiros. Conteúdos estes, certamente, fragmentados, desarticulados, não significativos para o aluno, sem contextualização com os problemas que a realidade apresenta. Estes professores, muitas vezes, esquecem que estão lidando com seres humanos, que a docência é uma relação entre pessoas que envolvem, necessariamente, componentes como o calor, a empatia, a compreensão, a abertura de espírito, ou seja, é um trabalho interativo. O trabalho sobre o outrem levanta questões de poder e até mesmo de conflitos de valores, visto que, seu objeto é ele mesmo, um ser humano capaz de juízos de valores e detentor de direitos e privilégios. (TARDIF e LESSARD, 2005). 2.2 O Curso de Ciências Contábeis: contextualização A ciência social é um ramo do conhecimento que estuda os aspectos sociais do mundo humano, ou seja, a via social de indivíduos e grupos humanos. Uma simples palavra, um gesto isolado ou um amontoado de números só ganham sentido se, por trás deles, estiver o desejo humano de modificar e interagir com o meio social. (WEBER,1986). Ações que, para alguns, são realizadas de forma natural, como um simples hábito cotidiano, tornam-se, para outros, preciosas matérias-primas de trabalho e pesquisa, como ocorre com o Curso de Ciências Contábeis, um ramo das ciências sociais aplicadas, que, de acordo com Weber (1986): Só quando se estuda um novo problema com o auxilio de um método novo e se descobrem verdades que abrem novas e importantes perspectivas é que nasce uma nova “ciência” (p.83-84). Weber (1986) enfatiza ainda: [...] que não é possível encarar um período histórico como se nele estivesse já configurada a época seguinte, trabalha exames comparativos entre traços de um período e traços encontrados em outros, admitindo-se a especificidade de cada um. A análise comparativa não opera, então, na busca do que seja comum a várias ou a todas as configurações históricas, mas pelo contrário, permitirá trazer a tona o que é peculiar a cada uma delas. Essa visão comparativa ir-se-ia apurando cada vez mais, orientada pela busca daquilo que é específico ao mundo ocidental moderno – a presença de um capitalismo organizado nos moldes racionais e a racionalização da conduta em todas as esferas da existência humana. (p.15).27 Considerando-se as contribuições de Weber para a compreensão da origem e desenvolvimento da contabilidade, percebe-se que o avanço dessa área de conhecimento está intimamente ligado ao desenvolvimento histórico e socioeconômico da humanidade. Com o crescimento acentuado das relações sociais e, conseqüentemente, das carências e expectativas da população, surge a necessidade de tributar como forma de sustentar o bem comum (LAFFIN, 2005). Assim, uma nova visão da profissão contábil é necessária e requerida pela sociedade, porquanto a complexidade das relações sociais e econômicas torna o mundo dos negócios mais competitivo e exige dos profissionais contábeis o mesmo desenvolvimento. Sá (1997) lembra: [...] que a Contabilidade nasceu com a civilização e jamais deixará de existir em decorrência dela; talvez, por isso, quase sempre seus progressos coincidiram com aqueles que caracterizam os da evolução do homem. (p.16). Os modelos econômicos não são mais os mesmos e as transformações que estamos vivendo são maiores do que aquelas ocasionadas pela revolução industrial. As empresas são multidimensionais e atuam simultaneamente de forma global e local, configuram-se como empresas transnacionais. Segundo Boarin (2003), em sua palestra proferida no 1º Encontro Mineiro de Professores do Curso de Ciências Contábeis, no cenário atual: O contabilista terá de ser capaz de assistir aos empresários e governos, na tomada de decisões rápidas e eficazes sem perder de vista o conjunto harmonioso das atividades, não mais como mero intermediário dos registros contábeis, mas sim e como agente ativo da agregação de valores, na geração de produtos e serviços. Ou seja, tornar as informações coletadas, segundo os padrões da qualidade contábil, viabilizar as mesmas de forma integral, lógicas, seguras, dentro do princípio da relação custo/benefício e desenvolver novas habilidades para as práticas e informações, agregando valor à tomada de decisões e norteando os negócios do futuro. (p.10). Os Cursos de Ciências Contábeis estão preparados para formar este profissional? O ensino de contábeis fomenta este homem consciente? Produz o homem crítico? Esta inquietação levada para o plano da educação superior de ciências contábeis traz uma reflexão bastante interessante. Entende-se que ensino de contabilidade está voltado à formação de um cidadão técnico. O repetidor de tarefas. O ideal seria que o ensino enfatizasse as possibilidades de realização do ser no mundo com o outro e, sem se afastar da profissionalização, levar o educando à aceitação de sua responsabilidade por sua conduta. Pergunta-se qual o grau de consciência e de liberdade de que dispõe cada educador para se introduzir no ensino de contábeis esta visão crítica? Para compreender melhor o que ocorre com o ensino de contabilidade, é necessário realizar uma retrospectiva histórica. 28 2.2.1 O Curso de Ciências Contábeis – breve gênese histórica As sementes para o ensino comercial e de Contabilidade no Brasil foram lançadas no século XIX, com a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808. Até então, a atividade comercial brasileira resumia-se à venda dos bens produzidos para o mercado internacional. Segundo Peleias et al. (2007), a evolução do ensino de contabilidade no Brasil se deu a partir de 1808, quando foi criada uma cadeira de Aula Pública de Ciências Econômicas no Rio de Janeiro, atribuída a José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu. Em 1809, foram criadas as Aulas de Comércio, por meio de Alvará de 15 de julho desse ano, iniciando-se o ensino comercial no Brasil. Outro fato relevante, indicado pelos autores, foi a promulgação do Regulamento das Aulas de Comércio no Rio de Janeiro, com o Decreto nº. 456 de 6.07.1846. O período letivo original era de dois anos, com exames finais abordando disciplinas como Direito Comercial, Prática das Principais Operações e Atos Comerciais, e a Arte da Arrumação de Livros, conforme consta no artigo 12 do Regulamento. A análise do Decreto nº. 456/46 revela, segundo os autores, que o currículo da Aula de Comércio possuía disciplinas de cunho prático, voltadas às necessidades diárias dos negócios. Essas atividades requeriam instrumentos de gestão mais precisos, existentes na Contabilidade da época. A década de 50 do século XIX foi palco de outros eventos importantes para o ensino comercial e contábil brasileiro. Ocorreu a reforma da Aula de Comércio da capital imperial, com o Decreto nº. 769, de 9.08.1854. Essa reforma materializou-se com o Decreto nº. 1763, de 14.05.1856, que deu novos estatutos à Aula de Comércio da Corte, formando um curso de estudos denominado Instituto Comercial do Rio de Janeiro. Grandes mudanças ocorreram na grade curricular, mantendo-se a duração do curso em dois anos. O conteúdo foi distribuído em quatro cadeiras, sendo a primeira de Contabilidade e Escrituração Mercantil. A comparação desses Estatutos com o Regulamento contido no Decreto nº. 456/1846 revela a profundidade das mudanças promovidas na Aula de Comércio. (PELEIAS ET AL., 2007). As escolas de comércio e contabilidade tiveram várias reformas, no sentido de acompanhar a necessidade econômica do país, por exemplo, em meados do século XIX, principalmente pela substituição do trabalho escravo, o centro econômico do país começou a migrar para a Região Sudeste. A produção do café expandiu-se decisivamente, tornando-o 29 principal produto da pauta de exportações em torno da década de 40 daquele século. Além da cultura cafeeira, o surgimento do Código Comercial, em 1850, a expansão das estradas de ferro, das empresas de serviços urbanos e dos investimentos estrangeiros foram indicadores de crescimento da economia. Em 1902, ainda segundo Peleias et al., (2007) foi criada a Escola de comércio Álvares Penteado, em São Paulo. O Decreto nº. 1339/05 estendeu suas disposições à Escola Prática de Comércio de São Paulo e à extinta Academia de Comércio de Juiz de Fora. A Escola Prática de Comércio, fundada em 1902, posteriormente denominada Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, tornou-se uma referência no ensino comercial, ao lado da Academia de Comércio do Rio de Janeiro. Uma prova da importância da Academia de Comércio do Rio de Janeiro foi a edição do Decreto nº. 4724A, de 23.08.1923, que equiparou os diplomas expedidos pela Academia de Ciências Comerciais de Alagoas e de outras instituições de ensino comercial brasileiras aos expedidos da instituição carioca. A relação das instituições que tiveram seus diplomas equiparados está no art. 1º. do referido decreto. Segundo Saviani (2006, p.33), ao longo da primeira República, o Ministro da Educação e Saúde Pública baixou um conjunto de seis decretos, conhecidos como reforma Francisco Campos, dentre eles o de nº. 20.158 de 30 de junho de 1931 que organiza o ensino comercial e regulamenta a profissão de contador. Na medida em que as estruturas organizacionais se sofisticavam, surgia a necessidade de profissionais com formação mais
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