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Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 7 ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE CARACTERIZAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DE TRABALHADORES COM CÂNCER EM UMA REGIÃO DE FRUTICULTURA IRRIGADA Luiza Taciana Rodrigues de Mouraa Paula Rayanne Lopes de Carvalho Aningerb Amanda Vieira Barbosac Cheila Nataly Galindo Bedord Resumo A exposição humana a agrotóxicos pode causar intoxicações agudas e crônicas com diversas implicações no processo saúde-doença dos indivíduos; dentre os efeitos da exposição crônica aos agrotóxicos encontram-se as neoplasias malignas. O objetivo deste trabalho foi descrever o perfil clínico-epidemiológico dos trabalhadores com câncer em tratamento em um centro de oncologia. Participaram do estudo 83 pacientes com câncer divididos em dois grupos. Um constituído por 36 trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos e outro por 47 participantes de outras profissões. Foi realizada entrevista com instrumento estruturado que abordou características clínico-epidemiológicas, ambientais e de morbidade. Realizou-se análise estatística descritiva e aplicou-se teste de Mann-Whitney. Os resultados indicam maioria de participantes do sexo masculino com predominância de neoplasias do sistema hematológico e câncer de próstata, evidenciando um perfil de adoecimento por câncer diferenciado das estimativas para o Brasil e região nordeste. Nos trabalhadores rurais, foram identificadas vulnerabilidades durante a exposição ocupacional como baixa escolaridade, longo tempo de exposição e descarte incorreto das embalagens vazias. Concluiu-se que o perfil de adoecimento dos trabalhadores rurais pode estar relacionado ao modo de produção agrário vigente na região, associado às vulnerabilidades durante a exposição ocupacional. A alta prevalência de câncer do sistema hematológico nos participantes não diretamente a Enfermeira. Mestre em Ciências. Docente Assistente do Colegiado de Enfermagem da Universidade Federal do Vale do São Francisco. Petrolina, Pernambuco, Brasil. b Farmacêutica. Mestre em Ciências. Petrolina, Pernambuco, Brasil. c Discente de Medicina da Universidade Federal do Vale do São Francisco. Petrolina, Pernambuco, Brasil. d Biomédica. Doutora em Saúde Pública. Docente Adjunta do Colegiado de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Vale do São Francisco. Petrolina, Pernambuco, Brasil. Endereço para correspondência: Avenida José Sá Maniçoba, s/n, Colegiado de Enfermagem, Centro. Petrolina, Pernambuco, Brasil. CEP: 56304-205. E-mail: luiza.taciana@univasf.edu.br DOI: 10.22278/2318-2660.2018.v42.n1.a2363 8 expostos a agrotóxicos pode sugerir a importância da exposição indireta a esses compostos. Palavras-chave: Agroquímicos. Neoplasias. Saúde do trabalhador. Epidemiologia. EPIDEMIOLOGICAL CHARACTERIZATION OF CANCER WORKERS IN AN IRRIGATED FRUIT PRODUCTION REGION Abstract Human exposure to pesticides can cause acute and chronic intoxications with diverse implications in the health-disease process of individuals; among the effects of chronic exposure to pesticides are malignant neoplasms. The objective of this study was to describe the clinical-epidemiological profile of workers with cancer undergoing treatment at an oncology center. 83 cancer patients were divided into two groups. One consisting of 36 rural workers exposed to pesticides and the other by 47 participants from other professions. An interview was conducted with a structured instrument that addressed clinical-epidemiological, environmental and morbidity characteristics. A descriptive statistical analysis was performed and the Mann-Whitney test was applied. The results indicate a majority of male participants with predominance of neoplasms of the hematologic system and prostate cancer, evidencing a profile of cancer illness differentiated from the estimates for Brazil and northeast region. In rural workers, vulnerabilities were identified during occupational exposure such as low schooling, long exposure time and incorrect disposal of empty containers. It was possible to conclude that the sickness profile of rural workers may be related to the agrarian mode of production in the region, associated with vulnerabilities during occupational exposure. The high prevalence of hematological system cancer in participants not directly exposed to pesticides may suggest the importance of indirect exposure to these compounds. Keywords: Agrochemicals. Neoplasms. Occupational health. Epidemiology. CARACTERIZACIÓN EPIDEMIOLÓGICA DE TRABAJADORES CON CÁNCER EN UNA REGIÓN DE FRUTICULTURA IRRIGADA Resumen La exposición humana a agrotóxicos puede causar intoxicaciones agudas y crónicas con diversas implicaciones en el proceso salud-enfermedad de los individuos; entre Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 9 los efectos de la exposición crónica a los agrotóxicos se encuentran las neoplasias malignas. El objetivo de este trabajo fue describir el perfil clínico-epidemiológico de los trabajadores con cáncer en tratamiento en un centro de oncología. En el estudio participaron 83 pacientes con cáncer divididos en dos grupos. Uno constituido por 36 trabajadores rurales expuestos a agrotóxicos y otro por 47 participantes de otras profesiones. Fue realizada una entrevista con un instrumento estructurado que abordó características clínico-epidemiológicas, ambientales y de morbilidad. Fue realizado análisis estadístico descriptivo y aplicóse la prueba de Mann- Whitney. Los resultados indican la mayoría de los participantes del sexo masculino con predominio de neoplasias del sistema hematológico y cáncer de próstata, evidenciando un perfil de enfermedad por cáncer diferenciado de las estimaciones para Brasil y región nordeste. En los trabajadores rurales, identificaronse vulnerabilidades durante la exposición ocupacional como baja escolaridad, largo tiempo de exposición y descarte incorrecto de los envases vacíos. Concluyóse que el perfil de enfermedad de los trabajadores rurales puede estar relacionado con el modo de producción agrícola vigente en la región, asociado a las vulnerabilidades durante la exposición ocupacional. La alta prevalencia de cáncer del sistema hematológico en los participantes no directamente expuestos a agrotóxicos puede sugerir la importancia de la exposición indirecta a estos compuestos. Palabras clave: Agroquímicos. Neoplasias. Salud laboral. Epidemiología. INTRODUÇÃO A exposição humana a agrotóxicos influencia no processo saúde-doença tanto da população diretamente exposta a esses compostos, a exemplo dos trabalhadores rurais, como dos consumidores de água e alimentos contaminados. Dentre os efeitos da exposição crônica aos agrotóxicos encontram-se as neoplasias malignas1-3. Estudo que revisou evidências epidemiológicas relacionadas à exposição ocupacional a agrotóxicos e à incidência de câncer identificou 19 produtos associados ao aumento do risco de vários tipos de neoplasias malignas. Dentre eles: os organofosforados relacionados a câncer de pulmão e cólon; os piretroides associados a mieloma múltiplo; e os carbamatos com forte associação ao melanoma3. Outras pesquisas relacionaram a presença de agrotóxicos em amostras biológicas, sangue e urina, a um aumento do risco de câncer de mama em mulheres e de leucemia em crianças4-5. Os agrotóxicos podem ser indutores do processo de carcinogênese por mecanismos genotóxicos como a formação de adutos de ácido desoxirribonucleico (DNA), 10 alterações de micronúcleos e aberrações cromossômicas6. Esses compostos também podem induzir mudanças epigenéticas como alterações hereditárias de metilação do DNA, estresse oxidativo e toxicidade mediada por ativação de receptores hormonais1-2. O estabelecimento do nexo causal entre exposição a agrotóxicos e efeitos crônicos tem sido apontado como uma das principais barreiras para ao banimento ou restrição do uso dessas substâncias,principalmente nos países em desenvolvimento7. Em relação às neoplasias malignas, isso ocorre principalmente pelas limitações nas metodologias dos estudos relacionadas ao próprio metabolismo desses compostos, à dificuldade de extrapolar o resultado de estudos em animais para a espécie humana, à múltipla exposição a produtos, à variabilidade nos métodos de aplicação e ao longo tempo entre a exposição e o surgimento do câncer6,8. Nesse sentido, os estudos epidemiológicos são ferramentas importantes, que permitem discutir mais detalhadamente a relação entre as características de exposição a esses compostos e o perfil de morbimortalidade por câncer. Nesses estudos é essencial o apontamento de diversos elementos como risco ocupacional, nocividade dos agrotóxicos utilizados, condições de exposições e as vulnerabilidades das populações expostas. Na região do submédio do Vale do São Francisco, especificamente no polo Petrolina (PE) – Juazeiro (BA), que possui como atividade econômica mais importante a fruticultura irrigada, foi identificado uso indiscriminado de agrotóxicos, principalmente os organofosforados, em condições inseguras de trabalho que comprometem a saúde dos expostos9. Estudos sobre câncer na região demonstraram um aumento de mortalidade por doenças neoplásicas, em ambos os sexos, sendo que, em trabalhadores rurais, as principais taxas de mortalidade por câncer estavam relacionadas às neoplasias malignas de próstata e de pulmão10-11. Considerando as vulnerabilidades da população do submédio do Vale do São Francisco aos efeitos da utilização indiscriminada de agrotóxicos, somadas à escassez de estudos regionais que comprovem a associação entre o aumento do risco de incidência de câncer e a exposição a esses agentes tóxicos, este estudo teve como objetivo descrever o perfil clínico-epidemiológico de trabalhadores acometidos por câncer em tratamento em um Centro de Oncologia do submédio do Vale do São Francisco, comparando os resultados entre os trabalhadores rurais e outros profissionais. MATERIAL E MÉTODOS Estudo do tipo quantitativo, transversal e descritivo, realizado em um Centro de Oncologia do município de Juazeiro, Bahia, referência no tratamento de câncer para a população de 53 municípios dos Estados da Bahia e Pernambuco. Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 11 O município de Juazeiro localiza-se ao norte da Bahia, faz divisa com o município de Petrolina, Pernambuco, apresenta uma área de 6.500 km2, e população de 197.965 habitantes12. O polo Petrolina-Juazeiro é o principal centro de produção e exportação de frutas tropicais do país, com destaque para a produção de manga e uva, tendo uma parcela importante da sua população trabalhando neste setor produtivo13. Foram selecionados pacientes com câncer em tratamento no Centro de Oncologia do Hospital Regional de Juazeiro, divididos em dois grupos. Os pacientes com 18 anos ou mais de idade, de ambos os sexos, e que trabalhavam ou tinham trabalhado por pelo menos cinco anos no cultivo de frutas e hortaliças, atuando nos processos de preparação, manejo e aplicação de agrotóxicos, foram inclusos no grupo de trabalhadores rurais. Como critérios de inclusão para o grupo de outros profissionais, foram considerados os pacientes com câncer que nunca tenham residido em zona rural e/ou trabalhado em atividades que envolvessem utilização de agrotóxicos. A amostra foi calculada pelo levantamento dos prontuários dos pacientes em tratamento na clínica no mês de agosto de 2013. Nessa época, havia 58 pacientes provenientes de zona rural e 105 pacientes de zona urbana. Considerando um nível de confiança de 95%, um erro amostral de 5%, calculou-se o número de participantes de cada grupo, resultando em 51 indivíduos no grupo de trabalhadores rurais e 83 indivíduos no grupo de outros profissionais, totalizando uma população de 134 pacientes. Apesar de ter sido feito o cálculo de amostra, os participantes foram selecionados por conveniência, sendo estudados todos os casos que aceitaram participar da pesquisa. Por essa razão, não foi possível realizar a pesquisa com o número de indivíduos preconizado pelo cálculo da amostra devido à recusa dos pacientes em colaborar com o estudo. Os participantes foram entrevistados pelo pesquisador, com a utilização de um formulário estruturado com dados relativos às características sociodemográficas, clínicas, ambientais e ocupacionais. As informações complementares sobre a doença foram obtidas por consulta aos prontuários médicos. A coleta de dados ocorreu de novembro de 2013 a março de 2014. Foi feita análise descritiva por estatística simples e também foi realizado um cruzamento entre as variáveis: tipos de câncer e categoria profissional. O teste de Shapiro- Wilk identificou que os dados não seguem uma distribuição normal, por isso foi aplicado teste estatístico de Mann-Whitney para comparação dos resultados entre os grupos. A significância estatística foi determinada considerando intervalo de confiança de 95% e valor de p<0.05. Na análise estatística, foi utilizado o programa R 3.0.1. 12 O estudo não possui conflito de interesses e foi aprovado pelo Comitê de Ética e Deontologia em Estudos e Pesquisas (CEDEP) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) protocolo n. 0014/040613 CEDEP/UNIVASF. RESULTADOS No período estudado, foram coletados dados de 36 participantes do grupo de trabalhadores rurais e de 47 participantes do grupo de outros profissionais, totalizando uma amostra de 83 participantes. Os dados serão apresentados a seguir, de maneira comparativa ente os grupos. A Tabela 1 descreve as características demográficas, socioeconômicas e de hábitos de vida. Tabela 1 – Distribuição dos participantes conforme características demográficas, socioeconômicas e hábitos de vida. Juazeiro, Bahia, Brasil – 2014 Variáveis Grupo trabalhadores rurais n=36 Grupo outros profissionais n=47 Total n=83 n % n % n % Sexo Feminino 6 16,7 19 40,4 25 30,1 Masculino 30 83,3 28 59,6 58 69,9 Faixa etária (anos) 20-40 3 8,4 4 8,5 7 8,4 41-60 14 38,9 19 40,4 33 39,8 61 e + 19 52,7 24 51,1 43 51,8 Escolaridade Sem instrução 11 30,6 9 19,2 20 24,1 Ensino Fundamental Incompleto 20 55,5 16 34,0 36 43,4 Ensino Fundamental Completo ou mais 5 13,9 22 46,8 27 32,5 Renda Mensal 1 salário mínimo 33 91,7 32 68,1 65 78,3 2 - 4 salários mínimos 1 2,8 13 27,7 14 16,9 ≥ 5 salários mínimos 2 5,5 2 4,2 4 4,8 Hábitos de vida Tabagismo Sim 23 63,9 24 51 47 56,6 Não 13 36,1 23 49 36 43,4 Atividade física Sim 15 41,7 20 42,5 35 42,2 Não 21 58,3 27 57,5 48 57,8 Consumo de álcool Sim 07 19,4 04 8,5 11 13,3 Não 29 80,6 43 91,5 72 86,7 Fonte: Elaboração própria. Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 13 Os trabalhadores rurais representavam 43,3% (n=36) da população estudada. Nos participantes do grupo de outros profissionais, as ocupações mais frequentes foram do lar (27,6%, n=13), pedreiro (12,7%, n=6) e motorista (10,6%, n=5). Para a análise da distribuição dos tipos de câncer, as neoplasias leucemia, linfoma Hodgkin, linfoma não-Hodgkin e mieloma múltiplo foram agrupadas como cânceres hematológicos, seguindo o modelo de outros estudos14-15. Considerando os tipos de câncer de acordo com sua localização primária, no total da amostra, o câncer hematológico foi o mais frequente (27,7%, n=23), seguido pelos cânceres de próstata (15,7%, n=13), pulmão (10,8%, n=9) e cólon (10,8%, n=9). O Gráfico 1 evidencia as principais neoplasias por grupos de trabalhadores, sendo também as neoplasias hematológicas as mais frequentes em ambos os grupos, 25% no grupo de trabalhadores rurais e 29,8% no grupo de outros profissionais. O teste estatístico de Mann- Whitney obteve valor de p unilateral=0.2773 e valor de p bilateral=0.5545, evidenciando que não há diferença estatística significante na comparação entreas duas amostras, ou seja, a distribuição dos tipos de câncer é semelhante em ambos os grupos. Gráfico 1 – Distribuição das neoplasias conforme localização primária do tumor por grupo. Juazeiro, Bahia, Brasil – 2014 To ta l d e pa rt ic ip an te s do s gr up os Localização primária do tumor Grupo de trabalhadores rurais Grupo de outros profissionais 0 2 4 6 8 9 14 5 8 5 4 6 3 3 1 3 3 2 2 4 1 1 1 1 1 1 4 10 12 14 16 he ma tol óg ico s pró sta ta có lon pu lm ão ret o est ôm ago me lan om a be xig a fíg ad o pê nis sar c p art es mo les ves ícu la Fonte: Elaboração própria. Considerando a distribuição dos tipos de câncer por sexo, a Tabela 2 mostra que, no grupo de trabalhadores rurais, as neoplasias do sistema hematológico foram as mais frequentes tanto em homens quanto em mulheres. No grupo de outros profissionais, os cânceres 14 mais prevalentes nas mulheres foram as neoplasias do sistema hematológico e nos homens houve maior frequência de câncer de próstata. Tabela 2 – Distribuição dos participantes dos grupos conforme tipo de câncer e gênero. Juazeiro, Bahia, Brasil – 2014 Tipos de câncer/ sexo Grupo trabalhadores rurais n=36 Grupo outros profissionais n=47 Total n=83 Masculino n=30 Feminino n=6 Masculino n=28 Feminino n=19 Masculino n=58 Feminino n=25 n % n % n % n % n % n % Hematológico 6 20 3 50 7 25 7 36,8 13 22,4 10 40 Próstata 5 16,6 - - 8 28,5 - - 13 22,4 - - Cólon 4 13,3 1 16,7 1 3,5 3 15,8 5 8,6 4 16 Pulmão 3 10 - - 3 10,7 3 15,8 6 10,3 3 12 Reto 1 3,3 2 33,3 2 7,1 1 5,2 3 5,2 3 12 Estômago 1 3,3 - - 3 10,7 1 5,2 4 7 1 4 Melanoma 1 3,3 - - 3 10,7 1 5,2 4 7 1 4 Bexiga 3 10 - - - - 1 5,2 3 5,2 1 4 Fígado 2 6,6 - - - - 1 5,2 2 3,4 1 4 Pênis 2 6,6 - - - - - - 2 3,4 - - Sarcoma de partes moles 1 3,3 - - 1 3,5 - - 2 3,4 - - Vesícula 1 3,3 - - - - 1 5,2 1 1,7 1 4 Total 30 100 6 100 28 100 19 100 58 100 25 100 Fonte: Elaboração própria. Nota: Sinal convencional utilizado: - Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento. Dentre a população de trabalhadores rurais que participou desse estudo, buscou- -se a caracterização da exposição ocupacional a agrotóxicos. Esses trabalhadores plantavam principalmente feijão, milho, cebola e melancia. Cerca de 90% (n=32) referiram o cultivo de mais de um tipo de cultura e 61% (n=22) dos entrevistados são proprietários da terra em que trabalham. Em relação aos agrotóxicos, os mais utilizados pertenciam ao grupo químico dos organofosforados (56,4%), seguidos dos piretroides (12,8%), e todos foram classificados de medianamente a extremamente tóxicos. É importante enfatizar que 33,3% dos trabalhadores (n=12), referiram usar mais de 1 agrotóxico, e 33,3% (n=12) não sabiam o nome do produto que manipulavam. Dos nomes de agrotóxicos citados, 5 não foram identificados e 2 princípios ativos já foram banidos de comercialização no Brasil (metamidofós e endossulfam). Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 15 Foram observadas muitas vulnerabilidades durante a exposição a agrotóxicos, como o uso prolongado desses produtos, a falta de orientação em relação a sua utilização adequada e o descarte inadequado das embalagens vazias. Outra variável importante é a distância da residência até a plantação em que os agrotóxicos são aplicados, a maioria das casas localiza-se a até 500 metros do local (Tabela 3). Tabela 3 – Características de exposição dos trabalhadores rurais aos agrotóxicos. Juazeiro, Bahia, Brasil – 2014 (continua) Características de exposição n=36 % Tempo utilização de agrotóxicos (anos) 1-5 8 22,2 6-10 7 19,5 >10 18 50,0 Não lembra 3 8,3 Média ± Desvio padrão 14 ± 11,9 Tipo de aplicação Bomba costal 30 83,3 Manual 01 2,8 Motorizada 03 8,3 Não lembra 2 5,6 Tempo de exposição diária (horas) 1-4 7 19,4 5-8 21 58,3 9 e + 3 8,3 Não lembra 5 14,0 Média ± Desvio padrão 5 ± 3,18 Tempo de exposição em dias por semana 1-4 25 69,4 5 e + 7 19,5 Não lembra 4 11,1 Média ± Desvio padrão 3 ± 1,76 Última vez que usou (anos) 0-1 13 36,1 2-9 8 22,3 10 e + 13 36,1 Não lembra 2 5,5 Não lembra 2 5,5 Recebe orientação para uso do produto Sim 11 30,5 Não 23 64,0 Não respondeu 2 5,5 16 Tabela 3 – Características de exposição dos trabalhadores rurais aos agrotóxicos. Juazeiro, Bahia, Brasil – 2014 (conclusão) Características de exposição n=36 % Quem orienta n=11 Agrônomo 1 9,2 Técnico agrícola 5 45,4 Vendedor 5 45,4 Tem o hábito de ler os rótulos Sim 12 33,3 Não 22 61,1 Não respondeu 2 5,6 Compra com receituário agronômico Sim 4 11,1 Não 29 80,6 Não sabe 3 8,3 Destino das embalagens vazias Deixa ao ar livre 9 25,0 Devolve na associação/loja 14 38,9 Enterra 2 5,6 Queima 8 22,2 Não sabe 3 8,3 Distância da residência até plantação 0-500m 11 30,5 501-1000 m 4 11,2 1001m e + 10 27,8 Não sabe 11 30,5 Fonte: Elaboração própria. Entre os participantes, 36,1% (n=13) declaram não usar nenhum tipo de equipamento de proteção individual (EPI). Além disso, dos 23 trabalhadores rurais que usavam EPI, apenas 8,7% o faziam de maneira completa. Quando questionados sobre já terem sofrido intoxicação por agrotóxicos, a maioria respondeu negativamente (Tabela 4), porém 25 agricultores (69,4%) relataram ter sintomas após a manipulação dos compostos químicos, sendo, os mais citados, tontura, prurido intenso, dor de cabeça, lacrimejamento, espirros, formigamento de pálpebra e lábios, fraqueza, visão turva. Desses trabalhadores, 36% (n=9) referiram mais de 5 sintomas. Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 17 Tabela 4 – Características das intoxicações por agrotóxicos. Juazeiro, Bahia, Brasil –2014 Características da intoxicação n=36 % Já sofreu intoxicação por agrotóxico Sim 9 25 Não 27 75 Produto associadoà intoxicação n=9 Karate 1 11,1 Curacron 1 11,1 Endossulfan 1 11,1 Lannate 1 11,1 Polytrin 1 11,1 Não sabe 4 44,5 Procurou atendimento médico Sim 3 33,3 Não 6 66,7 Fonte: Elaboração própria DISCUSSÃO Neste estudo, a população acometida por câncer é composta, na sua maioria, por homens na faixa etária acima de 61 anos. A maior frequência de participantes do sexo masculino entre os trabalhadores rurais deve-se às características dos critérios de inclusão dos mesmos no grupo, pois, no âmbito da agricultura, os aplicadores e manipuladores de agrotóxicos são, na maioria, homens, excetuando-se algumas situações que ocorrem na agricultura familiar, em que, eventualmente, as mulheres podem exercer tais funções. Outra questão que explica a maior proporção de homens em ambos os grupos é que o tratamento das neoplasias de mama e colo de útero tem como referência para tratamento um Centro de Oncologia no município de Petrolina, Pernambuco, o que torna reduzida a procura do serviço onde foi feita a pesquisa para esse tipo de doença, específica em mulheres. Considerando a faixa etária, a predominância de casos de câncer por volta dos 60 anos de idade é compatível com o encontrado em outros estudos16-17. As condições socioeconômicas evidenciadas pelo baixo nível de escolaridade, índice alto de analfabetismo e renda predominante de 1 salário mínimo, influenciam em vários aspectos, como: manutenção do estado de saúde do indivíduo; conhecimento a respeito do câncer; acesso aos serviços de saúde; e identificação de riscos na manipulação de produtos químicos. Estudo feito no Rio de Janeiro identificou que o baixo nível de escolaridade está 18 entre os principais fatores responsáveis pelos níveis de contaminação por agrotóxicos, pois torna difícil o entendimento, mesmo superficial, de informações técnicas e a interpretação de figuras presentes em rótulos e bulas de formulações de agrotóxicos18. O tabagismo, o uso excessivo de álcool, a obesidade, práticas inadequadas de alimentação e o sedentarismo são os principais fatores de risco modificáveis para a ocorrênciade doenças crônicas não transmissíveis no mundo, entre elas o câncer19. A prevalência de tabagismo entre os participantes da pesquisa foi maior do que em estudo realizado nas capitais brasileiras, em que a frequência de fumantes foi de 14,8%, sendo maior entre os homens (18,1%) do que entre as mulheres (12%)20. Já o consumo de álcool foi menor do que a prevalência de 38,3% de uso da substância no Brasil, no mês de realização da pesquisa21. O tabagismo é responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão e por 30% das mortes ocorridas por outros tipos de câncer como boca, laringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga, colo do útero e leucemia22. Neste estudo, as neoplasias mais frequentes nas diversas classes de trabalhadores foram as do sistema hematológico, de próstata, cólon e pulmão. Há uma maior prevalência de tipos de cânceres específicos entre algumas profissões como câncer de pulmão entre pintores e mecânicos; câncer de bexiga em metalúrgicos, pintores e motoristas; câncer de cavidade nasal e orofaringe entre carpinteiros, pedreiros e pintores; câncer de estômago em motoristas e trabalhadores de limpeza; e câncer de fígado entre mecânicos23. Porém as profissões citadas entre os portadores de câncer, além dos trabalhadores rurais, foram do lar, pedreiro e motorista. Ao avaliar a prevalência dos tipos de câncer na população estudada, observa-se que há diferenças em relação às estimativas de câncer para o Brasil em 2014: dos 203.930 casos novos estimados para a população masculina, a maior incidência seria de câncer de próstata (22,8%), seguido de traqueia, brônquios e pulmão (5,4%), e os cânceres hematológicos apareceriam em 5º lugar, com 3,72% dos casos. Nas mulheres, dos 190.520 casos novos estimados, haveria maior incidência de câncer de mama (20,8%), seguido de câncer de cólon e reto (6,4%), com as neoplasias do sistema hematológico ocupando o 5º lugar (3,7%)24. Para a região Nordeste, a estimativa, em 2014, seria de uma maior incidência de câncer de próstata (27,2%) e estômago (5,9%) nos homens, enquanto nas mulheres haveria maior incidência de câncer de mama (20,4%) e colo de útero (10,4%). Em ambos os sexos, as neoplasias malignas do sistema hematológico ocupariam o 5º lugar na incidência de todos os casos, seguindo o perfil da estimativa para a população total do Brasil24. Neste estudo, o câncer hematológico ocupa o 1º lugar entre as mulheres (40%), sendo, também, mais frequente nos homens, conjuntamente com o câncer de próstata (22,4% cada). Ressalta-se que, mesmo se os Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 19 cânceres hematológicos fossem descritos separadamente, as leucemias (n=9, 10/8%) e linfomas (n=9, 10,8%) ocupariam o segundo lugar na prevalência entre os participantes, ficando atrás, apenas, do câncer de próstata. Deve-se considerar, também, que no Centro de Oncologia estudado não há atendimento para cânceres ginecológicos, que são os mais frequentes entre as mulheres no Brasil. Provavelmente, se houvesse tratamento para esses tipos de câncer, as neoplasias do sistema hematológico apareceriam após os cânceres ginecológicos, mas ainda ocupando uma posição acima do esperado para 2014. O modo de produção agrário, predominante no submédio do Vale do São Francisco, com ênfase na agricultura irrigada e utilização massiva de agrotóxicos, pode ser um dos fatores ambientais e sociais que estejam influenciando no processo saúde-doença das populações expostas a esses produtos químicos, cuja consequência é um perfil de acometimento de câncer diferente dos padrões estimados para o Brasil e para a região Nordeste. Em regiões agrícolas no Brasil, estudos descrevem um maior risco de incidência de câncer nos trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos. Entre os tipos de câncer mais frequentes nesses trabalhadores, estão: linfomas não-Hodgkin, estômago e cérebro17,25-26. A semelhança na distribuição dos tipos de câncer entre os grupos de trabalhadores rurais e de outros profissionais sugere que ambas as populações estão expostas aos mesmos fatores e determinantes para o câncer. Nessa região, devido ao uso maciço e sem controle de agrotóxicos, já descritos em literatura, a população é vulnerável aos efeitos desses compostos, entre eles o câncer9. Estudo sobre mortalidade feito nos municípios de Petrolina e Juazeiro verificou maior prevalência de taxas de mortalidade por câncer de encéfalo, linfoma não-Hodgkin, leucemia e câncer de bexiga na população de zona rural, quando comparada à população da zona urbana10. A exposição crônica a agrotóxicos pode aumentar o risco de incidência de neoplasias de pele, pulmão, bexiga, cavidade oral, faringe, laringe, leucemias, mieloma múltiplo, linfomas não-Hodgkin, estômago e esôfago, pâncreas, mama e cérebro23. Entre os fatores de risco associados à incidência de linfoma não-Hodgkin estão: imunossupressão, exposição a agentes infecciosos e químicos, principalmente na situação de exposição ocupacional. Em particular, a exposição a agrotóxicos na atividade agrícola tem sido foco de estudos pelo aumento do risco de incidência de linfomas entre os trabalhadores rurais15. Uma revisão de vários estudos de coorte nos Estados Unidos identificou que a exposição a agrotóxicos como clorpiriflós, diazinon, e alaclhor foi associada a um maior risco de todos os cânceres do sistema linfohematopoiético. Considerando os tipos de câncer de 20 maneira específica, a exposição a heptaclor, diazinon e fonofós foi associada à maior incidência de leucemia; os casos de linfoma não-Hodgkin foram associados à exposição ao lindano e a incidência de mieloma múltiplo à exposição a permetrina. Entre os agrotóxicos citados, fazem parte do grupo químico dos organofosforados: clorpirifós, diazinon e fonofós3. A predominância de pequenos proprietários de terra explica a diversidade de culturas identificadas no estudo, associadas à agricultura familiar, o que aumenta a vulnerabilidade desses indivíduos durante a exposição ocupacional, já que nessas propriedades a orientação em relação ao uso do produto é incipiente e não há fiscalização em relação à utilização adequada de equipamentos de proteção individual. Os trabalhadores rurais, às vezes, recebem orientação específica para determinados tipos de venenos e utilizam o mesmo parâmetro para outros que são mais concentrados, o que acarreta erros quantitativos prejudiciais ao homem, ao ambiente e à cultura submetida27. Na região do submédio do Vale do São Francisco, cerca de 21% das indicações de uso dos agrotóxicos feitas pelos vendedores difere do preconizado pelo Ministério da Pecuária Agricultura e Abastecimento28. Outro fator importante é a associação de diversos tipos de agrotóxicos, com ênfase naqueles classificados como extremamente tóxicos, que também influencia no aumento do risco de intoxicação aguda e crônica. Essa mistura promove interação entre os compostos, causando efeitos adversos diferentes e, às vezes, mais intensos do que aqueles provocados pelo uso individual dos produtos29. Entre os agrotóxicos citados pelos trabalhadores, aqueles à base dos princípios ativos metamidofós e endossulfam já foram banidos recentemente de comercialização no Brasil, em 2012 e 2013 respectivamente. O endossulfam possui características genotóxicas, neurotóxicas, imunotóxicas e provoca toxicidade endócrina ou hormonal, reprodutiva e sobre o desenvolvimento embriofetal. Já o metamidofós apresenta características neurotóxicas, imunotóxicas e provoca toxicidade sobre o sistema endócrino, reprodutor e desenvolvimento embriofetal. Essa situação evidencia a necessidade de reavaliação dos produtos comercializados no Brasil e, também, os graves riscos à saúde a que estão submetidas as populações expostas30. O tempo de exposição durante a semana, acumulado em muitos anos de trabalho, o inadequado e até mesmo ausente uso de EPI, bem como o descarteincorreto das embalagens vazias também são significantes vulnerabilidades encontradas. A exposição prolongada pode ocasionar intoxicações crônicas, com o surgimento de doenças como câncer, depressão, doenças renais entre outros29. Os organofosforados podem ser absorvidos por via dérmica, oral e respiratória, porém a via dérmica é a mais frequente no caso de intoxicações ocupacionais6. Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 21 Em outro estudo realizado na região, foi encontrado um maior percentual de devolução de embalagens vazias (78%) a uma associação que faz o trabalho local de recolhimento desses objetos, para o descarte adequado9. Porém, o trabalho de recolhimento nas propriedades é feito de maneira pontual, conforme informações obtidas no site da associação. Esse fato pode justificar o relato dos entrevistados sobre o destino das embalagens: deixadas ao ar livre, enterradas ou queimadas. O descarte inadequado favorece a contaminação humana por via ambiental, caracterizada pela dispersão e distribuição desses produtos na água, na atmosfera e nos solos18. Os relatos de episódios de intoxicação, a não procura por atendimento médico e a diversidade de sintomas encontrados evidenciam, também, os riscos durante a exposição e os efeitos à saúde dos trabalhadores. A incidência de relatos de intoxicação (25%) nesta pesquisa foi maior do que a encontrada em outro estudo na região (7%)9. Os sintomas relatados também coincidiram com os identificados em outro estudo na região, como dor de cabeça, tonturas e lacrimejamento27, além de muitos serem compatíveis com intoxicação por organofosforados, como: náuseas, vômitos, perda de apetite, lacrimejamento, visão turva, fraqueza muscular, agitação, entre outros. O diagnóstico das intoxicações ainda é falho, não só na região como no Brasil. Entre os fatores relacionados à dificuldade de diagnosticar episódios de intoxicação aguda, estão: desinformação dos trabalhadores sobre os riscos de uso de agrotóxicos e não associação dessa utilização com os sintomas apresentados pelos mesmos; inespecificidade dos sintomas agudos que podem ser confundidos com viroses ou alergias; não investigação da causa dos sintomas pelos profissionais da saúde; interferência das grandes empresas de agronegócio no sentido de ocultar os casos de intoxicação. No caso das intoxicações crônicas, o diagnóstico é dificultado pelo tempo de exposição prolongado; escassez e pouca acessibilidade a testes laboratoriais que possam identificar resíduos de agrotóxicos em pequenas quantidades no organismo; uso de múltiplos produtos na agricultura; existência de outros fatores de risco para o surgimento das doenças crônicas como câncer e problemas neurológicos29. A associação da exposição a organofosforados à ocorrência de diversos tipos de câncer está em acordo com o descrito na literatura. Estudos de revisão verificaram a relação entre a exposição a este grupo químico com uma maior incidência de câncer de pulmão, câncer de cólon, câncer de próstata, câncer do sistema nervoso central e todos os cânceres do sistema hematológico2-3. Os resultados desta pesquisa reforçam que essa população, que sobrevive principalmente da fruticultura irrigada, continua exposta, sob diversos aspectos, ao modelo 22 produtivo do agronegócio. Principalmente no tocante às vulnerabilidades durante a exposição ocupacional, com ênfase para o uso de agrotóxicos com alto poder de toxicidade, condições inseguras de trabalho e orientação técnica precária em relação ao uso desses produtos químicos. CONCLUSÃO O perfil clínico dos trabalhadores acometidos por câncer nesse estudo segue um padrão próximo ao descrito para as regiões agrícolas, chamando atenção principalmente para a prevalência dos cânceres hematológicos. Considerando que a exposição a agrotóxicos é descrita em literatura como um importante fator de risco para a incidência de neoplasias do sistema hematológico, conclui-se que esse perfil clínico da população estudada pode estar relacionado ao modo de produção agrário vigente na região, que usa indiscriminadamente agrotóxicos em seus processos produtivos, associado às vulnerabilidades dos trabalhadores rurais durante a exposição ocupacional a esses produtos químicos. Além disso, a maior prevalência de câncer do sistema hematológico no grupo de outros profissionais em relação ao grupo de trabalhadores rurais, pode sugerir a importância da exposição indireta a agrotóxicos na população em geral. A principal limitação do estudo foi o número pequeno de participantes, o que dificultou a análise estatística e inviabilizou a generalização dos resultados para toda a população da região. Porém, os dados encontrados mostram um grave problema de saúde pública, que pode ter origem nos processos produtivos locais vigentes. Nesse sentido, é fundamental a discussão a respeito do uso de agrotóxicos no submédio do Vale do São Francisco entre a comunidade em geral, as entidades de classe que representam os trabalhadores rurais, as Universidades e outras agências de pesquisa, com o intuito de propor alternativas ao uso desses produtos na região, para minimizar os riscos à saúde de toda a população. É necessário, também, que sejam realizadas novas investigações utilizando outros delineamentos de estudo como caso-controle e coorte, para ampliar a produção científica a respeito do tema. COLABORADORES 1. Concepção do projeto, análise e interpretação dos dados: Luiza Taciana Rodrigues de Moura, Paula Rayanne Lopes de Carvalho Aninger, Amanda Vieira Barbosa e Cheila Nataly Galindo Bedor. 2. Redação do artigo e revisão crítica relevante do conteúdo intelectual: Luiza Taciana Rodrigues de Moura e Cheila Nataly Galindo Bedor. Revista Baiana de Saúde Pública v. 42, n.1, p. 7-25 jan./mar. 2018 23 3. Revisão e/ou aprovação final da versão a ser publicada: Cheila Nataly Galindo Bedor. 4. Ser responsável por todos os aspectos do trabalho na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra: Luiza Taciana Rodrigues de Moura e Cheila Nataly Galindo Bedor. REFERÊNCIAS 1. Mostafalou S, Mohammad A. Pesticides and human chronic diseases: Evidences, mechanisms, and perspectives. 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