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Débito Cardíaco e Retorno Venoso 1 📄 Débito Cardíaco e Retorno Venoso Débito cardíaco é a quantidade de sangue bombeado para a aorta a cada minuto pelo coração, correspondendo à quantidade de sangue que flui para a circulação. Retorno venoso é a quantidade de sangue que flui das veias cavas para o átrio direito a cada minuto. O DC e o RV devem ser iguais um ao outro. Os fatores que influenciam o débito cardíaco são o nível basal do metabolismo corporal, se a pessoa está se exercitando, a idade da pessoa e as dimensões do corpo. Em homens jovens saudáveis, o débito é de 5,6 L/min, já mulheres é de 4,6 L/min. Observa-se que o débito cardíaco varia com a idade. Controle do Débito Cardíaco pelo Retorno Venoso — O Mecanismo de Frank-Starling do Coração Normalmente o coração não controla o débito cardíaco, mas sim fatores da circulação periférica que afetam o fluxo sanguíneo de retorno pelas veias (retorno venoso). Isso ocorre pois o coração bombeia automaticamente toda e qualquer quantidade de sangue que flua das veias para o átrio direito. Débito Cardíaco e Retorno Venoso 2 💡 Mecanismo de Frank-Starling: quando quantidades elevadas de sangue fluem para o coração, essa maior quantidade distende as paredes das câmaras cardíacas, assim o músculo cardíaco contrai com mais força, fazendo com que seja ejetado todo o sangue adicional que entrou da circulação sistêmica. Outro fato é que a distensão do coração faz com que seu bombeamento seja mais rápido, devido à distensão do nodo sinusal. 💡 Reflexo de Bainbridge: reflexo nervoso que passa pelo centro vasomotor do encéfalo e volta para o coração pela via nervosa simpática, acelerando a frequência. O metabolismo tecidual regula a maior parte do fluxo sanguíneo. O retorno venoso é a soma de todos os fluxos sanguíneos locais, por todos os segmentos da circulação periférica. Na maioria dos tecidos, o fluxo sanguíneo aumenta proporcionalmente ao metabolismo do tecido (ex: aumento do consumo de oxigênio tecidual). A resistência vascular periférica total influencia o débito cardíaco, de modo inversamente proporcional. Débito Cardíaco e Retorno Venoso 3 A curva da função cardíaca indica, no nível do platô, o limite de volume de sangue que o coração consegue bombear independente do aumento progressivo da pressão. Em níveis normais, o limite da curva é 13 L/min, sendo 2,5x mais do que o débito cardíaco normal de 5 L/min. Assim, o coração (sem qualquer estímulo adicional) pode bombear quantidade de retorno venoso até 2,5 antes de passar a ser fator limitante no controle do débito cardíaco. Condições patológicas podem deixar o coração hipereficaz ou hipoeficaz. O coração pode se tornar hipereficaz devido: Débito Cardíaco e Retorno Venoso 4 Aspectos nervosos: a estimulação simpática e a inibição parassimpática aumentam o bombeamento cardíaco pelo aumento da frequência e da força de contração. Hipertrofia cardíaca. O coração pode se tornar hipoeficaz devido ao: hipertensão, inibição da excitação nervosa, patologias de ritmo ou frequência, isquemia, valvulopatia, cardiopatia congênita, miocardite, hipóxia. Durante o exercício, o intenso aumento do metabolismo relaxa as arteríolas musculares para permitir o acesso ao oxigênio adequado, isso diminui a resistência periférica e, normalmente a pressão arterial. Todavia, o sistema nervoso a compensa. A mesma região encefálica que envia sinais para os músculos envia sinais para a constrição das veias maiores, aumentando a FC e a contratilidade do coração. Débito cardíaco aumentado pela redução da resistência periférica total: beribéri (deficiência de tiamina - vitamina B); fístula arteriovenosa (derivação AV); hipertireoidismo e anemia. Débito cardíaco diminuído por fatores cardíacos: bloqueio grave de vaso sanguíneo coronário e infarto consequente; cardiopatia valvular grave; miocardite; tamponamento cardíaco; distúrbios metabólicos carácos. 💡 Choque cardiogênico: é o estado nutricional deficiente que ocorre quando o débito cardíaco torna-se insuficiente. Débito cardíaco diminuído por fatores periféricos não cardíacos: volume sanguíneo diminuído decorrente de hemorragia; dilatação venosa aguda; obstrução das veias maiores; massa tecidual diminuída; diminuição da atividade metabólica dos tecidos. 💡 Choque circulatório: é o estado nutricional extremamente abaixo do necessário. Débito Cardíaco e Retorno Venoso 5 Análise mais Quantitativa do Débito Cardíaco Para se realizar a análise mais quantitativa, é preciso entender as curvas de débito cardíaco (que representam a capacidade de bombeamento do coração) e as curvas de retorno venoso (que relaciona os fatores periféricos). Curvas de débito cardíaco. Efeito da pressão externa fora do coração sobre as curvas do débito cardíaco. A pressão externa normal é igual à pressão intrapleural normal (-4 mmHg). Na elevação da pressão intrapleural o débito cardíaco é deslocado para a direita na mesma quantidade, pois, para encher as câmaras cardíacas, é necessário que a pressão interna do coração supere a externa em 2mmHg. Débito Cardíaco e Retorno Venoso 6 Alguns fatores que podem alterar a pressão intrapleural: alterações cíclicas da pressão durante a respiração; respiração contra pressão negativa ou positiva; abertura da caixa torácica; tamponamento cardíaco. Combinações simultâneas de vários fatores podem agir sobre o débito cardíaco, por exemplo a combinação do coração hipereficaz e a pressão intrapleural aumentada pode levar o débito cardíaco a seu nível máximo. Curvas de retorno venoso. Três fatores principais afetam o retorno venoso: a pressão atrial direita (que exerce força retrógrada contra as veias); o grau de enchimento da circulação sistêmica (pressão média de enchimento sistêmico); a resistência ao fluxo sanguíneo entre os vasos periféricos e o átrio direito. A curva do retorno venoso relaciona o retorno venoso à pressão atrial direita. A curva normal mostra que, quando a capacidade de bombeamento do coração é Débito Cardíaco e Retorno Venoso 7 diminuída, fazendo com que aumente sua pressão, a força retrógrada da pressão atrial sobre as veias diminui o retorno venoso do sangue. Se todos os reflexos circulatórios nervosos forem impedidos de atuar, o retorno venoso cai a zero quando a pressão atrial direita se eleva a +7 mmHg. Isso ocorre pois qualquer aumento da pressão retrógrada faz com que o sangue se acumule em bolsa em vez de retornar. Em virtude da diminuição do retorno venoso, o débito cardíaco também reduz. Quando a pressão atrial direita cai abaixo de zero, quase não ocorre aumento do retorno venoso, permanecendo em valores de platô, causado pelo colapso das veias que entram no tórax. A pressão negativa do átrio suga as paredes das veias fazendo com que elas se juntem no ponto em que penetram no tórax, o que impede qualquer fluxo adicional de sangue. A pressão média de enchimento circulatório é o valor da pressão uniforme atingida em qualquer parte da circulação quando o fluxo sanguíneo é interrompido. O valor da pressão média de enchimento circulatório aumenta conforme o volume sanguíneo aumenta, pois o volume de sangue adicional distende as paredes da vasculatura. A forte estimulação simpática contrai os vasos sanguíneos, assim a Débito Cardíaco e Retorno Venoso 8 capacidade do sistema diminui, de modo que aumenta a pressão média de enchimento circulatório para 17 mmHg. De modo contrário, a inibição completa do SNS relaxa os vasos sanguíneos, diminuindo a pressão média de enchimento circulatório para 4 mmHg. A pressão média de enchimento sistêmico (Pes) é a pressão medida em qualquer parte da circulação sistêmica após o fluxo sanguíneo ter sido interrompido pelo pinçamento dos grandes vasos do coração, assim as pressões da circulação sistêmica podem ser medidas independente das pulmonares. A Pes é quase sempre igual à pressão média de enchimento circulatório. Quanto maior for a Pes, mais fácil o sangue adentrar o coração e maior seráo retorno venoso. 💡 Gradiente de pressão: diferença entre a pressão média de enchimento sistêmico e a pressão arterial direita. Quanto maior for o gradiente de pressão, maior será o retorno venoso. Débito Cardíaco e Retorno Venoso 9 A resistência ao retorno venoso de sangue ocorre principalmente nas veias, mas também nas artérias. Quando a resistência aumenta o sangue passa a se acumular nas veias, porém a pressão venosa pouco aumenta, uma vez que elas são distensíveis, e isso complica o retorno do sangue ao átrio. No entanto, o mesmo acúmulo de sangue nas artérias e suficiente para aumentar bastante a pressão. Caso a resistência ao retorno diminua pela metade, o retorno venoso aumenta 2x. Débito Cardíaco e Retorno Venoso 10 💡 Quando a curva do retorno venoso atinge 0 na linha da pressão atrial direita, significa que o valor da pressão atrial direita SE IGUALOU AO VALOR DA PRESSÃO MÉDIA DE ENCHIMENTO SISTÊMICO. Débito Cardíaco e Retorno Venoso 11 Análise do débito cardíaco e da pressão atrial direita utilizando simultaneamente as curvas do débito cardíaco e do retorno venoso. Pressupostos: o retorno venoso é igual ao débito cardíaco e a pressão atrial direita é a mesma para o coração e toda circulação sistêmica. Pode-se prever o débito cardíaco e a pressão atrial direita: 1. Determine a capacidade momentânea de bombeamento do coração e represente-a na forma de curva do débito cardíaco; 2. Determine o estado momentâneo do fluxo de da circulação sistêmica para o coração e represente-o na forma de curva do retorno venoso e represente-o; 3. Equipare as curvas. O ponto A (de equilíbrio), em que o retorno venoso é igual ao débito cardíaco e onde a pressão atrial é a mesma para o coração e para a circulação sistêmica. Efeito do aumento do volume sanguíneo. O aumento do volume sanguíneo aumenta o débito cardíaco, aumenta a pressão média de enchimento sistêmico, que aumenta o retorno venoso. O volume de sangue aumentado distende os vasos, assim reduz a resistência. O débito cardíaco aumentado em decorrência do aumento do volume sanguíneo não é duradouro pois: aumenta a pressão capilar e o líquido extravasa para fora dos capilares; a pressão aumentada nas veias faz com que elas se distendam pelo relaxamento por estresse, fazendo com que o fígado e o baço se distendam, Débito Cardíaco e Retorno Venoso 12 reduzindo a pressão sistêmica média; o excesso de fluxo sanguíneo pelos tecidos causa aumento da resistência ao retorno venoso. Efeito do sistema nervoso simpático. A estimulação simpática faz o coração bater mais forte, aumenta a Pes e aumenta a resistência ao retorno venoso. Apesar disso, a pressão atrial direita quase não se altera. A inibição simpática causa a redução da Pes, a redução da eficácia do coração (débito cardíaco). Efeito da abertura da grande fístula arteriovenosa. Débito Cardíaco e Retorno Venoso 13 1. A curva vermelha são as condições normais. 2. O ponto B mostra a condição circulatória imediatamente após a abertura de grande fístula. Efeitos: grande diminuição da resistência do retorno venoso, aumentando-o; aumento discreto do nível da curva do débito cardíaco; aumento da pressão atrial direita. 3. O ponto C representa um minuto após. Efeitos: aumento da Pes; aumento do débito cardíaco; aumento do retorno venoso; aumento da pressão atrial direita. 4. O ponto D representa semanas após. Efeitos: aumento do débito cardíaco; aumento do retorno venoso; aumento da Pes; aumento da pressão atrial direita.