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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO CARDEAL DOM ALEXANDRE DO NASCIMENTO – MALANJE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E ECONÓMICAS. CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO DIREITO PROCESSUAL PENAL I OS TRIBUNAIS ANGOLANOS NO QUADRO DO NOVO SISTEMA JUDICIÁRIO E JURÍDICO: Avanços e Retrocessos 4º ANO PERÍODO: MANHÃ Malanje, Novembro de 2021 OS AUTORES Ana Natália Gonçalves Celma Tenente Bande Cláudia Chimbundu Fical Denise Ornela Dimilson de Oliveira Dinilsa da Rosa Elisângela Chimbanjelo Felicidade Gonçalves Hermenegilda Cassuto Job Pedro Ferraz Domingos Jorge Serrote G. Mussango Márcia Karina Márcia Quimbamba António Maria de Fátima Marinela António Manuel Olga Latoia OS TRIBUNAIS ANGOLANOS NO QUADRO DO NOVO SISTEMA JUDICIÁRIO E JURÍDICO: Avanços e Retrocessos Trabalho apresentado como requisito de Avaliação Parcial na disciplina de Direito Processual Penal I, do curso de Direito do Instituto Superior Politécnico Cardeal Dom Alexandre do Nascimento. Docente: Manuel Assunção Taveira Malanje, Novembro de 2021. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 5 1. NOÇÕES PRELIMINARES ..................................................................................... 5 1.1. Os tribunais ................................................................................................................ 5 1.2. Classificação dos tribunais ........................................................................................ 5 2. O SISTEMA JUDICIÁRIO ANGOLANO .............................................................. 7 2.1. Noção ......................................................................................................................... 7 2.2. A evolução político-constitucional do Sistema Judiciário angolano ......................... 7 2.3. Organização Judiciária angolana ............................................................................... 9 2.3.1. Os Tribunais de Comarca ..................................................................................... 13 2.3.1.1. Competência territorial e material ..................................................................... 13 2.3.1.2. Organização e funcionamento ........................................................................... 14 2.3.2. Os Tribunais da Relação ....................................................................................... 15 3. OS AVANÇOS E OS RETROCESSOS DECORRENTES DO NOVO SISTEMA JUDICIÁRIO NO QUE RESPEITA AOS TRIBUNAIS .......................................... 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 19 3 INTRODUÇÃO É um facto que para uma ampla panóplia de questões jurídicas ligadas a vários ramos do Direito, a nossa praça jurídica apresenta-se escassa do ponto de vista de bibliografias que abordam directamente sobre o assunto, assim, traduz-se numa aventura, exercício árduo e desafiador lançar mãos a pesquisa e produção sobre os mesmos. É o caso do tema que constitui o nosso objecto de estudo no presente trabalho, no caso, “os Tribunais angolanos no quadro do novo Sistema Judiciário e Jurídico, os seus Avanços e Retrocessos”, temática que pese a inexistência de bibliografias que a abordam directamente, configura-se extremamente pertinente e aliciante. É assim que com muito afinco abraçamos a causa de levar a cabo a árdua tarefa de, sobre o mesmo nos debruçarmos com profundida e rigor científico e jurídico. O sistema judiciário e jurídico angolano é marcado por um período histórico que data do período pós-independência até aos nossos dias, pelo que, de lá para cáo mesmo tem sido sujeito a várias reformas, cujo intuito é fundamentalmente adequar-se ao quadro sócio-económico e político do país. Deste modo, tais reformas atribuíram ao sistema judiciário e jurídico uma nova roupagem, com implicações directas nas instituições nele inerentes, como é o caso dos tribunais. As reformas em questão, deram azo à nova organização judiciária que gradualmente vem se implementando em Angola, e, a aprovação de distintos e importantíssimos diplomas legais, como é o caso da Lei Orgânica da Organização e Funcionamento dos Tribunais de Jurisdição Comum, os Códigos Penal e Processual Penal, etc. A questão que se impõe reflectir, é relativa aos avanços e os retrocessos ou recuos decorrentes do novo quadro judiciário e jurídico, e, em atenção nisso, no presente trabalho nos propomos em reflectir sobre o assunto. Do ponto de vista da estruturação do trabalho, começamos por apresentar um panorama geral sobre os tribunais, seguindo-se uma abordagem sobre o sistema judiciário angolano, onde o conceituamos, descrevemos sinteticamente a sua evolução histórica, que passa por uma análise político-constitucional, em seguida, debruçamo-nos sobre a organização judiciária angolana (o cerne do trabalho), e culminamos apresentando sinteticamente os avanços e retrocessos decorrentes do novo quadro judiciário e jurídico, no que respeita aos tribunais. 4 PROBLEMA O sistema judiciário e jurídico angolano como resultante da evolução histórico social, tem sido sujeito a necessárias e inevitáveis mudanças, destarte, com a afirmação de Angola como Estado soberano, no recente período pós-independência, vigorava o sistema herdado do colonizador, entretanto, por conta da necessária adequação social e ao texto constitucional, foram feitas reformas que se mantêm em curso, pese embora já se possa falar verdadeiramente dum novo sistema judiciário, deste modo, impõe-se-nos saber, “no quadro do novo sistema judiciário e jurídico, qual é o posicionamento dos tribunais, e quais os avanços e os retrocessos decorrentes do novo quadro”? OBJECTIVOS Geral: Compreender o posicionamento dos tribunais no quadro do novo sistema judiciário e jurídico, e os avanços e retrocessos disso decorrentes; Específicos: Definir sistema judiciário e jurídico; Explicar do ponto de vista de evolução histórico-legal e organização, o quadro geral dos tribunais em Angola; Aferir os avanços e os retrocessos decorrentes da reforma dos sistemas judiciário e jurídico no que diz respeito aos tribunais; JUSTIFICATIVA Uma reforma no sistema de justiça e do Direito de um país, implica mudanças nas estruturas judiciárias e judiciais, e isso se reflecte na vida dos cidadãos, os quais acorrem a tais instituições para garantir a tutela efectiva dos seus direitos, entretanto, uma pesquisa acurada em torno do assunto faz-se necessária. Para além da pertinência que lhe é inerente, pouquíssimo ou mesmo nada se produziu sobre o assunto, o que, definitivamente faz transparecer um clamor para pronunciamentos académicos, deste modo, a pesquisa deste tema (os tribunais angolanos no quadro do novo sistema judiciário e jurídico), vem atender a tal clamor. METODOLOGIA Para a concretização do trabalho, do ponto de vista da natureza a pesquisa é do tipo básico; quanto aos procedimentos técnicos, a nossa pesquisa foi bibliográfica e documental (pese a predominância tenha estado nesta última), pelo que fizemos uma sondagem às diferentes doutrinas e essencialmente legislações, para então dar respostas ao problema ora aduzido. 5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1. NOÇÕES PRELIMINARES 1.1. Os tribunais Um tribunal (do latim: tribunalis, significando "dos tribunos" 1 ) é um órgão de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo (art. 174.ºda C.R.A). É nos tribunais que os cidadãos, vendo os seus direitos violados, podem exigir que esses direitos se tornem efectivos e que sejam reparados os danos resultantes de uma violação. Os tribunais têm o dever de defender os direitos e interesses protegidos por lei, corrigir a violação da legalidade e decidir sobre os conflitos de interesses públicos e privados. Neste sentido, os tribunais são responsáveis por proteger os interesses dos cidadãos e das instituições do Estado 2 . Os Professores Gomes Canotilho e Vital Moreira, ensinam que “os Tribunais são, a par do Presidente da República e do Parlamento, órgãos de soberania, com características que os diferenciam dos restantes órgãos, visto não integram o sistema de governo e não participarem nas funções de direcção e definição política do Estado” 3 . Ademais, como plasma a Constituição, as decisões dos tribunais são de cumprimento obrigatório para todas as entidades públicas e privadas e prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades (artigo 177º da C.R.A). 1.2. Classificação dos tribunais Tal como alude o professor Vasco Grandão Ramos, habitualmente a doutrina tem classificado os tribunais de um país em: Ordinários e Extraordinários 4 . Ordinários: são os que fazem parte da estrutura comum da organização judiciária. Em Angola, são tribunais ordinários, os tribunais de comarca, os tribunais da relação e o tribunal supremo. 1 “Lugar elevado de onde falam os oradores”, como se vê no Dicionário Jurídico, J. M. Othon Sidou, p. 1032; 2 Fica aqui esclarecido que, a função dos tribunais é garantir a defesa dos direitos e dos interesses dos cidadãos, protegidos por lei, reprimir a violação da legalidade democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e privados. 3 J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira. Fundamentos da Constituição, Coimbra Editora, 1991. p. 223. 4 RAMOS, Vasco Grandão. Direito Processual Penal: Noções Fundamentais. Lobito: escolar editora, 2013, p. 97-98; 6 Extraordinários: são os que se encontram fora deste sistema. Podem ser especiais e os extraordinários propriamente ditos ou de excepção – aqueles que se constituem a título ocasional para julgar apenas certas e determinadas categorias de crimes -. Os tribunais de excepção, em Angola foram extintos pela lei n.º 18/88. Ademais, a C.R.A proíbe a sua criação, como consta do art. 176.º n.º 5 da C.R.A. Já os especiais, são aqueles que julgam somente alguns casos (crimes), em razão da qualidade dos seus agentes, a título de exemplo encontramos neste caso o tribunal militar. Outra classificação (que se afigura muito mais contextualizada, portanto a que o nosso grupo entende ser a mais ajustada) 5 é a que agrupa os tribunais tendo como critérios a especialidade e a hierarquia, assim sendo, do ponto de vista da especialidade, os tribunais podem ser: tribunais judiciais de jurisdição comum ou tribunais de jurisdição especializada. Na jurisdição comum encontramos o Tribunal Supremo que comporta os Tribunais da Relação e os de Comarca e a Jurisdição Especializada, onde encontramos o Tribunal Constitucional, o Tribunal de Contas e por fim, o Supremo Tribunal Militar. Quanto à hierarquia, os tribunais podem ser: Tribunais Superiores e Tribunais Comuns. São tribunais superiores: o Tribunal Supremo, o Tribunal Constitucional, o Tribunal de Contas e, por último, o Supremo Tribunal Militar (art. 176.º n.º 1 da C.R.A). Sendo que os tribunais comuns são todos os Tribunais da Relação e de Comarca (art. 176.º n.º 2 da C.R.A, e art. 24.º da Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro). Finalmente, na República de Angola existem os seguintes tribunais (art. 176.º da C.R.A): Tribunal Constitucional: É o tribunal que fiscaliza a constitucionalidade das leis aplicáveis aos casos julgados em tribunal e verifica a constitucionalidade de todos os actos normativos do Estado, titulares dos órgãos de soberania e seus agentes. Tribunal de Contas: É o tribunal que Fiscaliza a legalidade das finanças públicas, verifica se os gastos públicos estão a ser utilizados de uma forma eficiente e efectiva e controla as contas do Estado. Supremo Tribunal Militar: É o órgão superior dos tribunais militares, encarregado do julgamento de crimes militares. 5 Artigo: UM OLHAR SOBRE A JURISDIÇÃO COMUM EM ANGOLA: Conceitos e Divisão Judicial, da JuLaw, Hélia Pimentel. 7 Tribunais Judiciais ou de Jurisdição Comum: São os tribunais que tratam de matérias civis e criminais e exercem funções em todas as áreas que não são atribuídas aos outros tribunais. Nos termos do artigo 24.º da Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro 6 , são os tribunais da Jurisdição Comum, o Tribunal Supremo 7 , os Tribunais da Relação e os Tribunais de Comarca. Ao abrigo do mesmo artigo, os tribunais de Comarca são os tribunais de Primeira Instância, e os da Relação são os de Segunda Instância. 2. O SISTEMA JUDICIÁRIO ANGOLANO 2.1. Noção Sistema Judiciário 8 consiste na organização estrutural-funcional do sistema de justiça como um todo. Nesta ordem de ideias, atrelado ao contexto jurídico angolano, o sistema judiciário reflete dum modo global, a organização institucional e o aglomerado de normas atinentes às instituições vocacionadas a resolução de conflitos e a administração da justiça. Entretanto, a nossa atenção aqui estará essencialmente voltada a organização dos tribunais angolanos que, como se observa dos registros históricos, vem sendo sujeita a várias reformas, com vistas a sua adequação social e jurídico-constitucional 9 . Outro conceito importante que vale referir é o de sistema jurídico, que consiste no “conjunto de normas jurídicas interdependentes, reunidas segundo um elo unificador (a Constituição da República), cuja finalidade é disciplinar a convivência social”. Assim, neste caso, a expressão será usada para designar a estrutura do universo jurídico angolano. 2.2. A evolução político-constitucional do Sistema Judiciário angolano 10 A evolução político-constitucional de Angola no período pós-independência marca a evolução do sistema de justiça e das reformas a ele dirigidas. Esta evolução é, tradicionalmente, dividida em três períodos, acompanhando o desenvolvimento histórico-constitucional do país. 6 Lei Orgânica sobre a organização e funcionamento dos tribunais da Jurisdição Comum. 7 Ao abrigo da nova redação do n.º 1 do art. 176.º do texto constitucional, fruto da recente revisão constitucional, o Tribunal Supremo já se enxerta em primeiro lugar na ordem de citação dos tribunais superiores da República de Angola; 8 Devendo-se diferenciá-lo (judiciário) do judicial, termo que se aplica directamente ao que se refere ao juiz ou ao tribunal. Assim, por exemplo, diz-se «actos judiciais», «erro judicial», «magistratura judicial» e, por razões históricas, «tribunais judiciais» (a expressão sobrevive apesar de ser redundante), nome dado aos tribunais de comarca (por contraste com os tribunais administrativos, fiscais e de trabalho). 9 É nesta ordem de ideias que se observa a existência de algumas leis que são essencialmente vertidas neste quesito. 10 Desafios a Mudança do Sistema Judicial: Para uma nova Geografia da Justiça, Luanda, Maio de 2012, p. 143 e ss; Para um Programa Estratégico da Reforma da Justiça, Janeiro de 2014, p. 29 e ss. 8 a) Primeiro Período: O primeiro período, que se reportou ao tempo da 1.ª República (entre 1975 e 1991), marcado pelo processo revolucionário, pela libertação do Estado colonial e pela adopção de um Estado socialista, e que lançou as bases do chamado Sistema Unificado de Justiça. Salientam-se, neste primeiro período, duas reformas com forte impacto no sistema de justiça: a aprovação da Lei da Justiça Laboral e a aprovaçãoda Lei do Sistema Unificado de Justiça. Com a Lei da Justiça Laboral, procedeu-se à extinção dos Tribunais do Trabalho. Com a segunda das leis acima identificadas, congregou-se numa organização judiciária única todas as jurisdições com o objectivo de racionalizar os meios existentes, afirmando-se o propósito de construção de uma justiça popular que confirmasse o papel dos tribunais no apoio ao sistema político e social existente. Entretanto, o facto é que, o verdadeiro ponto de viragem e a maior reforma ao sistema judiciário do período de pós-independência de Angola ocorreu com a aprovação do já referido Sistema Unificado de Justiça, a 31 de Dezembro de 1988. Neste novo modelo, a divisão territorial da justiça foi ajustada à divisão político- administrativa do país, com os Tribunais judiciais a organizarem-se em Tribunal Popular Supremo, Tribunais Populares Provinciais e Tribunais Populares Municipais. O Tribunal Popular Supremo, com jurisdição em todo o território nacional e sede em Luanda, foi instituído como a segunda e mais alta instância na hierarquia dos Tribunais Judiciais. b) Segundo Período: o segundo período, que se iniciou com as reformas constitucionais de 1991 e 1992, e que deu os primeiros passos na consagração do Estado de Direito Democrático, do Multipartidarismo Político e da abertura à economia de mercado. O processo de reforma do sistema de justiça, desenvolvido entre 1991 e 2010 é, assim, marcado pela aproximação ao modelo judicial moderno. Com a revisão constitucional de 1992 foi retirada a designação “popular” dos tribunais, previu-se a criação de um Tribunal Constitucional e constitucionalizou-se os Conselhos Superiores da Magistratura Judicial e do Ministério Público, como passo importante para a consagração da independência do poder judicial. Ao sistema de justiça base - erigido sobre os alicerces do Sistema Unificado de Justiça - foram-se enxertando reformas legislativas sectoriais, que procuravam responder ao novo 9 contexto sócio-económico, marcado, tanto pelas consequências de um longo período de guerra, como pela expansão e abertura à economia de mercado. Entre tantos outros factores, saliente-se assim, a aprovação do Estatuto dos Magistrados Judiciais e do Ministério Público; a criação do Tribunal de Contas; a criação do Tribunal Constitucional. E, considerando, a vertente mais económica, destaca-se a criação da Sala das Questões Marítimas do Tribunal Provincial de Luanda; a criação do Julgado de Menores; e a aprovação da Lei sobre a Arbitragem Voluntária. c) Terceiro Período: o terceiro período, resultante das alterações ao texto constitucional aprovadas em Fevereiro de 2010, que marcam definitivamente uma ruptura com o modelo herdado da 1.ª República e plasmado na Lei do Sistema Unificado de Justiça (SUJ). A Constituição de 2010 abriu as portas ao terceiro período de reforma do sistema de justiça angolano, assumindo, no que respeita à organização judiciária, uma posição de ruptura face ao Sistema Unificado de Justiça, como mencionámos acima, e introduzindo inovações em várias áreas com impacto no sistema judicial, designadamente no que respeita à independência do poder judicial e ao reforço das liberdades e garantias dos cidadãos. Especificamente no que respeita à estrutura judicial, a Constituição de 2010 estabeleceu directrizes claras para um novo modelo de organização da justiça: a criação de vários tribunais superiores (Tribunal Supremo, Tribunal Constitucional, Tribunal de Contas e Supremo Tribunal Militar); a possibilidade da criação de uma jurisdição administrativa, fiscal e aduaneira autónoma, para além da eventualidade da existência de tribunais marítimos; a existência de Tribunais de Relação; a autonomia administrativa e financeira dos Tribunais; a constitucionalização do exercício da advocacia; a atribuição à Ordem dos Advogados de Angola de competências para regular, além do acesso e o exercício da advocacia, o patrocínio forense; 2.3. Organização Judiciária angolana O novo sistema judiciário é o resultado do Programa Executivo de Reforma da Justiça e do Direito, que teve como pano de fundo a actualização, modernização, desburocratização, simplificação e aproximação dos serviços e procedimentos, contemplado à luz dos Programas de Governação do Executivo para os Quinquénios 2012 – 2017 e 2017 – 2022, Plano Nacional de Desenvolvimento – PND e outros –, 10 sedimenta o compromisso de instituição de uma política criminal e de reforma da justiça penal, que contemple resposta pronta e optimizada à criminalidade a todos os níveis, a reorganização judiciária e a instituição de um paradigma do processo melhor adaptado às necessidades da contemporaneidade 11 . A aludida reforma, de acordo com o diploma citado, teve inúmeros Objectivos, doze para sermos exactos, donde para fins do presente labour destacamos os seguintes: a) Reforma do Código de Processo Penal, com a clara definição das competências dos distintos sujeitos e participantes processuais na investigação e garantia dos direitos de vítimas e arguidos, e clarificação dos regimes do segredo de justiça, das escutas telefónicas, dos novos meios probatórios e da prisão preventiva, de modo a torná-los inequivocamente congruentes com os princípios e normas constitucionais; b) Garantia de um efectivo duplo grau de jurisdição em matéria de facto, através da implementação de Tribunais da Relação distribuídos por diversas regiões do País; c) Criação das salas de execução de penas, junto dos Tribunais existentes; d) A institucionalização do juiz de garantias para o asseguramento da intervenção judicial na fase de instrução preparatória do processo penal, quer para fiscalização judicial de garantias aquando da actuação das autoridades judiciárias em instrução preparatória, quer para o asseguramento da pratica dos actos e diligências processuais susceptíveis de afectação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, para aplicação das medidas de cautelares em processo penal, com destaque para de privação de liberdade, e para decisão dos procedimentos garantísticos na fase de instrução preparatória. A pesar de a reforma do sistema judiciário ter iniciado anos atrás, se torna necessário olharmos aos contornos da revisão constitucional efectuada a bem pouco tempo. Ademais, é a partir do texto constitucional que se pode compreender e depreender o tipo de sistema judiciário que vigora num determina estado, quanto mais num estado de Direito como é angola. 11 Relatório de fundamentação da proposta do código do processo penal, redigido pelo Departamento de Estudos e Legislação do ministério da justiça e dos direitos humanos no dia 22 de Maio de 2018. Página 2. 11 Com a revisão constitucional, consumada com a aprovação da lei 18/21 de 16 de agosto 12 , o sistema jurisdicional viu a sua organização 13 alterada, embora se defenda que a norma do artigo 176º da constituição da república de angola - doravante designada por CRA – não faz uma hierarquia dos tribunais superiores pelo facto de não se poder hierarquizar instituições cujo fim e a natureza são isomorfas 14 . Ainda assim, o entendimento dominante na comunidade jurídica é que a alteração feita naquela norma denota uma mudança na organização hierárquica dos tribunais superiores, onde o tribunal supremo figura na posição cimeira da pirâmide seguida pelos tribunais constitucional, de contas e o supremo tribunal militar. Diferente da solução do legislador constituinte originário que estatuía o tribunal constitucional no cume da pirâmide da organização do poder jurisdicional. Tal arrumação apesar de se mostrar inaudível, é de relevância imensa, pois permitirá saber qual é o órgão máximo do sistema judicial angolano, ou qual é a jurisdição superior competente para seinterpuser um recurso consequente de uma decisão de algum tribunal superior, ou dito numa só palavra, qual tribunal superior é a última instancia do sistema jurisdicional angolano. Por razões metodológicas, não vamos esgotar tal discussão no presente labor, poderá ser uma problemática para futuras pesquisas. No entanto, antes da exposição do que nos interessa, ou seja, antes de fazermos menção sobre a organização dos tribunais de jurisdição comum a luz da lei orgânica sobre a organização e funcionamento dos tribunais da jurisdição comum, cumpri-nos referir que os tribunais, conforme o conceito da CRA (tal como aludido acima) 15 , São órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo, e de acordo a doutrina o tribunal é um dos sujeitos processuais, juntamente com o ministério público e o arguido 16 . Assim é que o 12 Lei de revisão constitucional. 14 No dizer do proponente: “Esta alteração justifica-se pelo facto de o Tribunal Supremo ser o tribunal de topo da jurisdição comum, o seu Presidente presidir o Conselho Superior da Magistratura Judicial (com competências sobre toda a magistratura judicial) e porque constitui a instância máxima de recurso da jurisdição comum para matérias da sua competência. Além disso, a nível de todo o território nacional, o Tribunal Supremo constitui a continuidade orgânica dos tribunais da Relação e de Comarca. Com este ajuste constitucional, substitui-se o Tribunal Constitucional desse lugar de precedência hierárquica e protocolar, por se tratar de um tribunal de especialidade, tal como o são os demais tribunais superiores (Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal Militar)”. Página 15 do relatório de fundamentação da proposta de revisão constitucional. 15 Artigo 174º da CRA. RAMOS, Vasco Grandão. Direito Processual Penal: Noções Fundamentais. Lobito: escolar editora, 2013, p.90. 12 código de processo penal estatui que só os tribunais judiciais e os respectivos juízes podem conhecer de causas e aplicar penas e medidas de segurança 17 . Dito isto, estamos em condições de expormos a forma como está organizado o sistema judiciário angolano, todavia, nos vamos apegar a lei ordinária 18 , anteriormente referida para de forma sumária apresentarmos o modo de funcionamento e organização dos tribunais de jurisdição comum. Como sabemos, o tribunal supremo é o órgão superior da jurisdição comum. Em consequência, o artigo 3º da lei 2/15, hierarquiza a jurisdição comum, colocando, obviamente, o tribunal supremo no topo, seguido pelos tribunais da relação e, abaixo desses, os tribunais de comarca. A mesma lei estabelece um conjunto de princípios, donde se assentam o funcionamento daqueles tribunais, alguns deles constituem novidade no nosso sistema jurisdicional, desde logo o princípio da autonomia administrativa e financeira dos tribunais, estatuído pelo artigo 15.º, tal princípio consubstancia um avanço no sistema de justiça em Angola, e desde logo encerra um período de relativa subordinação do poder judicial face ao poder executivo, tal subordinação evidenciava-se através da Secção III, sobre prestação de contas, artigo 50º, com a epigrafe, dever e periodicidade, da lei 18/88 de 31 de dezembro 19 , que obrigava aos magistrados judiciais a prestação de contas das suas actividades jurisdicionais. Ressalta-nos também outros princípios, tais como o da independência dos tribunais, o da garantia de acesso ao direito e aos tribunais, o da tutela jurisdicional efectiva, da presunção da inocência, da publicidade e o da imparcialidade que no fundo não são de todo uma novidade, se pensarmos que com o advento da CRA, todos estes princípios foram acolhidos pelo legislador constituinte. E na prática os tribunais, mesmo antes do início da actual reforma judiciaria, funcionam de forma independente, pública, imparcial etc. No capitulo dos magistrados, sublinha-se a figura do juiz de turno, estatuída pelo artigo 18º, que em caso de necessidade ou de férias judiciais têm a competência de julgar processos urgentes de réus presos. Vemos aqui, portanto, mais um avanço. Sequencialmente, o diploma legal, cria um mapa judiciário, estabelecendo regiões e províncias judiciais. As primeiras agrupam as segundas, ou seja, ao conjunto de províncias judiciárias denominam-se regiões judiciárias. Enquanto que a província 17 Vide o artigo 9º do Código Processo Penal. 18 Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro. 19 Lei do Sistema Unificado de Justiça. 13 judiciaria é o conjunto de comarcas. Desta feita, citando o artigo 21º daquela lei 20 , o pais é organizado em cinco regiões judiciais, sendo a primeira região constituída pelas províncias de Luanda, onde está a sede 21 , Bengo e Cuanza Norte; A segunda região compreende as províncias do Uíge, sede da região, Malanje, Cabinda e Zaire; Terceira região com sede em Benguela é constituída também pelas províncias do Cuanza sul, Bié e huambo; a quarta região judicial é constituída pelas províncias da Huíla, com a sede no Lubango, Cuando Cubango, Cunene e Namibe; e finalmente, a quinta região, com sede em Saurimo, é constituída pelas províncias da Lunda Sul, Lunda norte e Moxico. Os tribunais de comarca são em regra os tribunais de primeira instancia, com competência na área territorial da respectiva comarca, os tribunais de relação tem a competência territorial sobre a região judicial a si adstrita, ao passo que o tribunal supremo tem competência jurisdicional em todo território nacional. A isto a doutrina denomina competência em razão do território. Todavia, foi também consagrado o regime da deslocação de competência, que se suscita quando ocorra, no tribunal competente, situações gravemente perturbadoras do normal andamento do processo e da realização de justiça. A deslocação implica uma alteração extraordinária da competência legalmente estabelecida, passando o processo para o tribunal da mesma espécie, hierarquia e territorialmente mais próximo do tribunal afectado, em relação ao qual, as razões ora suscitadas não se colocam. É o entendimento que tiramos do artigo 32º da lei que temos vindo a citar. 2.3.1. Os Tribunais de Comarca O tribunal de comarca, como aludido supra, e de acordo com o artigo 41º da lei 2/15 22 , são em regra, os tribunais judiciais de primeira instancia, com jurisdição na área territorial da respectiva comarca, e por regra, é designado pelo nome do município onde se encontra instalado. 2.3.1.1. Competência territorial e material Os tribunais de comarca julgam, em primeira instancia todas as causas independentemente da sua natureza e do seu valor, desde que não estejam sujeitos a competências de tribunais especializados. No fundo mais um avanço, o facto de poder conhecer de todas as causas independentemente da sua natureza e valor, diferente da solução anterior onde os extintos tribunais municipais e provinciais poderiam julgar 20 Lei 2/25 de 2 de Fevereiro. 21 Enunciar que a sede, para efeitos legais, compreende o tribunal de relação. 22 Lei orgânica sobre a Organização e Funcionamento dos Tribunais da Jurisdição Comum. 14 causas até determinado valor previamente estabelecido, por exemplo a alçada dos tribunais municipais em matéria cível era de 50.000.00 (cinquenta mil Kwanzas) 23 . 2.3.1.2. Organização e funcionamento Aos tribunais de comarca, tendo em conta as necessidades, o legislador estatui uma norma permissiva (facultativa) para que no seu funcionamento possam ser criadas salas de competências especializadas, ademais o artigo 25º da lei 2/15, faz nascer um princípio indispensável na organização judicial dos tribunais, nomeadamente o princípio da flexibilização da organização judiciaria, segundoo qual a organização interna dos tribunais deve adequar-se à procura judicial de cada província e município, bem como ao contexto sócio econômico e geográfico. Daí resulta que a criação de salas especializadas poderá não ser uniforme nas diferentes comarcas, a título ilustrativo, a comarca de Malanje poderá não ter uma sala para questões marítimas. Quanto ao seu funcionamento, as comarcas poderão funcionar como tribunal singular ou colectivo, dependendo da causa e do valor, em matéria criminal deverá funcionar como tribunal colectivo sempre que o crime seja punível com pena superior a cinco anos e em matéria cível sempre que a causa seja de valor superior ao dobro da alçada do tribunal da relação, como faz referência o artigo 45º. Ademais os tribunais de comarca são constituídos por um juiz presidente e pelos magistrados judiciais que o integram. Há uma exigência legal no nº 2 do artigo 44º 24 , que de certo modo, encerra um avanço, a exigência segundo ao qual os magistrados judiciais devem ter formação especializada antes da sua colocação na respectiva sala de competência especializada, exceptuam-se, contudo, os juízes de pequenas causas criminais. Tal percepção é justificada pelo facto de algumas matérias, pela sua natureza complexa, exigirem formação especializada por parte do aplicador. Diferente da realidade actual em que inexiste a exigência legal de formação especializada, permitindo ao magistrados conhecer causas de naturezas distintas, muitas vezes sem o necessário domínio da matéria jurídico-legal em lide. Todavia, examinando o artigo 68º – sobre as competências da comissão nacional de coordenação judicial – da lei que temos vindo a analisar, deparamo-nos com uma norma que no nosso entender constitui um recuo ao sistema jurisdicional, trata-se da norma estatuída pela alínea g) do supracitado artigo, segundo a qual compete a esta comissão 23 Vide o artigo 41º da lei 18/88 de31 de dezembro, lei do sistema unificado de justiça. 24 Lei 2/15. 15 elaborar um relatório sobre o movimento processual de todos os tribunais de jurisdição comum para ser apresentado ao presidente da república, a assembleia nacional e aos conselhos superiores da magistratura judicial e do ministério público. Ora, esta norma nos recorda o texto constante da proposta de revisão constitucional considerada inconstitucional pelo plenário do tribunal constitucional 25 . A referida norma previa que: “Os Tribunais superiores elaboram anualmente o relatório da sua actividade que é apreciado pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial e remetido ao Presidente da República e à Assembleia Nacional para conhecimento” 26 . Para aquele colégio de juízes, “o nº 5 do artigo 181.º; n.º 4 do 182.º, nº 4 do 183º, nº 6 do 184.º, todos da lei de revisão constitucional que estabelecem a remessa de relatórios dos órgãos jurisdicionais, para outros órgãos de soberania, constitui desrespeito ao limite material de revisão da CRA, previsto nas alíneas i) e j), referentes aos princípios da independência dos tribunais e da separação de poderes e interdependência dos órgãos de soberania” 27 . Com efeito, pensamos que a norma ordinária que vai na mesma direcção da lei de revisão constitucional, impondo a obrigação de prestação de contas, deverá ser entendida ou como um retrocesso, ou na pior das hipóteses ser encarada como uma inconstitucionalidade, tendo em conta os limites da separação dos poderes e da independência dos tribunais, ademais, é deveras um contrassenso, por um lado consagrar a autonomia administrativa e financeira, por nós elogiada supra, e ao mesmo tempo criar um órgão que no fundo fiscaliza as actividades judiciais dos tribunais comuns. Portanto um recuo que nos remete ao já mencionado artigo 50.º da lei do sistema unificado de justiça, que impunha aos magistrados judiciais o dever de prestar contas de suas actividades jurisdicionais. 2.3.2. Os Tribunais da Relação Como fizemos referência anteriormente, os tribunais de relação são as sedes da região judicial, órgão com competência extensiva da respectiva região judicial e é, por excelência, o tribunal judicial de segunda instancia. Diferente da organização judicial colonial em que os tribunais de relação que exercia jurisdição sobre todo o pais, e 25 Vide a decisão do acordão 688/2021. 26 Nº 4 do artigo 184.º da proposta de revisão constitucional. 27 Ponto 2 da conclusão do acordão 688/2021, sobre a fiscalização preventiva da lei de revisão constitucional. 16 julgava os recursos de agravo e de apelação interpostos das decisões dos tribunais que lhe eram inferiores, como faz referência Grandão Ramos 28 . Entretanto o funcionamento e orgânica dos tribunais de relação são definidas por lei própria, de acordo com o artigo 39.º da lei 2/15. Com efeito, tramita actualmente na assembleia nacional a proposta de lei orgânica dos tribunais de relação, com sua aprovação estes tribunais passarão a ser competentes para conhecer os recursos interposto das decisões de todos os tribunais de comarca. Finalmente, cumpre-nos informar que a proclamada reforma está sendo implementada de forma gradual, gradualismo este que permite a coabitação de ambas as formas de organização judicial, mormente a organização emanada pela lei 18/88 e a que está sendo instituída com base na lei 2/15, assim é que em Malanje, por exemplo, ainda exista o tribunal provincial, quando noutras regiões do pais já se estabeleceram tribunais de comarca e de relação. Tem-se dito que nada é permanente, excepto a mudança, nestes termos a reforma do sistema jurisdicional angolano poderá levar mais tempo do que se deseja, pois envolverá meios e outros recurso financeiros e humanos necessários para o aperfeiçoamento e desenvolvimento deste Estado Democrático e de Direito. 3. OS AVANÇOS E OS RETROCESSOS DECORRENTES DO NOVO SISTEMA JUDICIÁRIO NO QUE RESPEITA AOS TRIBUNAIS No subtema anterior, quando falámos sobre a organização judiciária angolana já mencionámos vários avanços e fundamentalmente um retrocesso decorrentes da reforma da justiça e consequente inovação do sistema judiciário e jurídico. Contudo, convencionámos, duma maneira mais resumida e sistematizada elencar alguns avanços e retrocessos ou recuos que se podem deduzir do novo panorama judiciário e jurídico vigente em Angola. Assim, do ponto de vista dos avanços, podemos citar: A autonomia administrativa e financeira dos tribunais, que desde logo encerra um período de relativa subordinação do poder judicial face ao poder executivo; O alargamento da rede de tribunais a partir do novo mapa judiciário, que gradualmente vem contribuindo, sobremaneira, para a aproximação das populações nos centros de decisão judiciária, que, assim, se transformarão em verdadeiros instrumentos de acção social; A instituição do juiz de garantia nos tribunais de jurisdição comum; 28 Op. Cit. Página 93. 17 As exigências segundo aos quais os magistrados judiciais devem ter formação especializada antes da sua colocação na respectiva sala de competência especializada, exceptuam-se, contudo, os juízes de pequenas causas criminais. A criação de vários tribunais superiores (Tribunal Supremo, Tribunal Constitucional, Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal Militar), o que inexistia no passado; A Lei n.º 5-A/21 de 5 de Março, Lei que Altera a Lei sobre a Actualização das Custas Judiciais e Alçadas dos Tribunais, entendemos que também se consubstancia num avanço, pois, diferente do Código das Custas Judiciais, e da Lei n.º 9/05 de 17 de Agosto, Lei sobre a Actualização das Custas Judiciais e Alçadas dos Tribunais (que só foi derrogada), este diploma já fixa a alçada dos tribunaise as taxas, em Kwanzas, o que outrora era fixado em UCF (Unidade de Correção Fiscal), o que impunha aos intérpretes e aplicadores do Direito o recurso a cálculos matemáticos para determinar o valor de tais taxas em Kwanzas. Assim, este diploma apresenta-nos um panorama mais simplificado. Quanto aos retrocessos, pese o seu carácter discutível, apontamos apenas dois, o que não implica que eventualmente já não haja, pelo que em algum momento podemos aferir mais alguns. Como retrocessos, apontamos: A norma que impõe à comissão nacional de coordenação judicial, a obrigação de elaboração de um relatório sobre o movimento processual de todos os tribunais de jurisdição comum para ser apresentada ao presidente da república, a assembleia nacional e aos conselhos superiores da magistratura judicial e do ministério público; Falta de um tribunal que assuma a liderança sobre todos os outros, isto é, um tribunal supremo no pleno sentido da palavra, algo que pelo menos a própria Constituição não tem muito clara, pois, enquadra o Tribunal Supremo meramente como um Tribunal Superior junto dos outros (tal como apregoa o jurista Albano Pedro, com o qual corroboramos). 18 CONSIDERAÇÕES FINAIS Falar dos tribunais angolanos no quadro do novo sistema judiciário, é falar indispensavelmente da necessidade de reforma que o estado angolano sentiu com a entrada em vigor da constituição de 2010, uma constituição moderna, por isso exigente, uma constituição democrata, portanto humanista, uma constituição revolucionária, daí evolucionista. Uma constituição assim exigiria claramente uma reforma profunda das instituições, das quais os órgãos de administração da justiça como são os tribunais. Com efeito, houve necessidade de adequar o sistema jurisdicional a nova realidade jurídico-constitucional. Concomitantemente, criaram-se comissões especializadas, elaboraram-se documentos reitores, aprovaram-se leis, construíram-se infraestruturas, formaram-se quadros tudo para o sucesso da necessária reforma do direito e da justiça. Se é verdade que a reforma vem dando passos grandes, e produzindo efeitos profícuos na nossa jovem democracia, portanto muitos são os avanços que pudemos registar durante a pesquisa que sustentou o presente trabalho. Todavia, Não é de humanos as obras perfeitas, para inferir que também destacamos retrocesso, apesar de poder ser objecto de discussão e/ou analise em sede da apresentação, verdade é que deparamos com uma norma ordinária que nos pareceu um verdadeiro recuo. Portanto, a reforma como dissemos, é necessária, fez nascer um código penal e de processo penal inovador, humanista, um código efetivamente democrático, adequado ao nosso sistema, um código que reflecte o nível de maturação jurídica do povo angolano. Tais códigos representam efectivamente o auge da reforma do direito e da justiça do estado angolano. Os sujeitos processuais, nomeadamente os tribunais, no quadro do novo sistema judiciário saem com competências mais esclarecidas, e, portanto reforçadas. 19 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CANOTILHO,J. J. Gomes; MOREIRA, Vital. Fundamentos da Constituição. Coimbra: Coimbra Editora, 1991; RAMOS, Vasco Grandão. Direito Processual Penal: Noções Fundamentais. Lobito: escolar editora, 2013; Artigo: UM OLHAR SOBRE A JURISDIÇÃO COMUM EM ANGOLA: Conceitos e Divisão Judicial, da JuLaw, Hélia Pimentel; Desafios a Mudança do Sistema Judicial: Para uma nova Geografia da Justiça, Luanda, Maio de 2012, pelo Observatório de Justiça de Angola; Para um Programa Estratégico da Reforma da Justiça, Janeiro de 2014, pelo Observatório de Justiça de Angola; Relatório de fundamentação da proposta do relatório de fundamentação da proposta do código do processo penal, redigido pelo O Departamento de Estudos e Legislação do ministério da justiça e dos direitos humanos no dia 22 de Maio de 2018; Dicionário Jurídico, J. M. Othon Sidou; Constituição da República de Angola; Lei n.º 18/21 de 16 de Agosto – Lei de Revisão Constitucional; Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro - Lei Orgânica sobre a organização e funcionamento dos tribunais da Jurisdição Comum; Lei n.º 18/88 de 31 de Dezembro – Lei do Sistema Unificado de Justiça; Lei n.º 39/20 de 11 de Novembro – Lei que aprova o Código do Processo Penal Angolano; Acordão 688/2021, sobre a fiscalização preventiva da lei de revisão constitucional. INTRODUÇÃO FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1. NOÇÕES PRELIMINARES 1.1. Os tribunais 1.2. Classificação dos tribunais 2. O SISTEMA JUDICIÁRIO ANGOLANO 2.1. Noção 2.3. Organização Judiciária angolana 2.3.1.2. Organização e funcionamento 2.3.2. Os Tribunais da Relação 3. OS AVANÇOS E OS RETROCESSOS DECORRENTES DO NOVO SISTEMA JUDICIÁRIO NO QUE RESPEITA AOS TRIBUNAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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