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Os Tribunais Angolanos no Quadro do Novo Sistema Judiciário e Jurídico

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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO CARDEAL DOM ALEXANDRE DO 
NASCIMENTO – MALANJE 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E ECONÓMICAS. 
CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL I 
 
 
OS TRIBUNAIS ANGOLANOS NO QUADRO DO NOVO SISTEMA 
JUDICIÁRIO E JURÍDICO: Avanços e Retrocessos 
 
 
4º ANO 
PERÍODO: MANHÃ 
 
 
 
Malanje, 
Novembro de 2021 
 
OS AUTORES 
Ana Natália Gonçalves 
Celma Tenente Bande 
Cláudia Chimbundu Fical 
Denise Ornela 
Dimilson de Oliveira 
Dinilsa da Rosa 
Elisângela Chimbanjelo 
Felicidade Gonçalves 
Hermenegilda Cassuto 
Job Pedro Ferraz Domingos 
Jorge Serrote G. Mussango 
Márcia Karina 
Márcia Quimbamba António 
Maria de Fátima 
Marinela António Manuel 
Olga Latoia 
OS TRIBUNAIS ANGOLANOS NO QUADRO DO NOVO SISTEMA 
JUDICIÁRIO E JURÍDICO: Avanços e Retrocessos 
Trabalho apresentado como requisito de Avaliação 
Parcial na disciplina de Direito Processual Penal I, 
do curso de Direito do Instituto Superior Politécnico 
Cardeal Dom Alexandre do Nascimento. 
 
 Docente: Manuel Assunção Taveira 
 
 
Malanje, 
Novembro de 2021. 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 3 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 5 
1. NOÇÕES PRELIMINARES ..................................................................................... 5 
1.1. Os tribunais ................................................................................................................ 5 
1.2. Classificação dos tribunais ........................................................................................ 5 
2. O SISTEMA JUDICIÁRIO ANGOLANO .............................................................. 7 
2.1. Noção ......................................................................................................................... 7 
2.2. A evolução político-constitucional do Sistema Judiciário angolano ......................... 7 
2.3. Organização Judiciária angolana ............................................................................... 9 
2.3.1. Os Tribunais de Comarca ..................................................................................... 13 
2.3.1.1. Competência territorial e material ..................................................................... 13 
2.3.1.2. Organização e funcionamento ........................................................................... 14 
2.3.2. Os Tribunais da Relação ....................................................................................... 15 
3. OS AVANÇOS E OS RETROCESSOS DECORRENTES DO NOVO SISTEMA 
JUDICIÁRIO NO QUE RESPEITA AOS TRIBUNAIS .......................................... 16 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 18 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
É um facto que para uma ampla panóplia de questões jurídicas ligadas a vários ramos do 
Direito, a nossa praça jurídica apresenta-se escassa do ponto de vista de bibliografias 
que abordam directamente sobre o assunto, assim, traduz-se numa aventura, exercício 
árduo e desafiador lançar mãos a pesquisa e produção sobre os mesmos. É o caso do 
tema que constitui o nosso objecto de estudo no presente trabalho, no caso, “os 
Tribunais angolanos no quadro do novo Sistema Judiciário e Jurídico, os seus Avanços 
e Retrocessos”, temática que pese a inexistência de bibliografias que a abordam 
directamente, configura-se extremamente pertinente e aliciante. É assim que com muito 
afinco abraçamos a causa de levar a cabo a árdua tarefa de, sobre o mesmo nos 
debruçarmos com profundida e rigor científico e jurídico. 
O sistema judiciário e jurídico angolano é marcado por um período histórico que data 
do período pós-independência até aos nossos dias, pelo que, de lá para cáo mesmo tem 
sido sujeito a várias reformas, cujo intuito é fundamentalmente adequar-se ao quadro 
sócio-económico e político do país. Deste modo, tais reformas atribuíram ao sistema 
judiciário e jurídico uma nova roupagem, com implicações directas nas instituições nele 
inerentes, como é o caso dos tribunais. As reformas em questão, deram azo à nova 
organização judiciária que gradualmente vem se implementando em Angola, e, a 
aprovação de distintos e importantíssimos diplomas legais, como é o caso da Lei 
Orgânica da Organização e Funcionamento dos Tribunais de Jurisdição Comum, os 
Códigos Penal e Processual Penal, etc. A questão que se impõe reflectir, é relativa aos 
avanços e os retrocessos ou recuos decorrentes do novo quadro judiciário e jurídico, e, 
em atenção nisso, no presente trabalho nos propomos em reflectir sobre o assunto. 
Do ponto de vista da estruturação do trabalho, começamos por apresentar um panorama 
geral sobre os tribunais, seguindo-se uma abordagem sobre o sistema judiciário 
angolano, onde o conceituamos, descrevemos sinteticamente a sua evolução histórica, 
que passa por uma análise político-constitucional, em seguida, debruçamo-nos sobre a 
organização judiciária angolana (o cerne do trabalho), e culminamos apresentando 
sinteticamente os avanços e retrocessos decorrentes do novo quadro judiciário e 
jurídico, no que respeita aos tribunais. 
 
 
 
4 
 
PROBLEMA 
O sistema judiciário e jurídico angolano como resultante da evolução histórico social, 
tem sido sujeito a necessárias e inevitáveis mudanças, destarte, com a afirmação de 
Angola como Estado soberano, no recente período pós-independência, vigorava o 
sistema herdado do colonizador, entretanto, por conta da necessária adequação social e 
ao texto constitucional, foram feitas reformas que se mantêm em curso, pese embora já 
se possa falar verdadeiramente dum novo sistema judiciário, deste modo, impõe-se-nos 
saber, “no quadro do novo sistema judiciário e jurídico, qual é o posicionamento 
dos tribunais, e quais os avanços e os retrocessos decorrentes do novo quadro”? 
OBJECTIVOS 
Geral: Compreender o posicionamento dos tribunais no quadro do novo sistema 
judiciário e jurídico, e os avanços e retrocessos disso decorrentes; 
Específicos: 
 Definir sistema judiciário e jurídico; 
 Explicar do ponto de vista de evolução histórico-legal e organização, o quadro 
geral dos tribunais em Angola; 
 Aferir os avanços e os retrocessos decorrentes da reforma dos sistemas judiciário 
e jurídico no que diz respeito aos tribunais; 
JUSTIFICATIVA 
Uma reforma no sistema de justiça e do Direito de um país, implica mudanças nas 
estruturas judiciárias e judiciais, e isso se reflecte na vida dos cidadãos, os quais 
acorrem a tais instituições para garantir a tutela efectiva dos seus direitos, entretanto, 
uma pesquisa acurada em torno do assunto faz-se necessária. Para além da pertinência 
que lhe é inerente, pouquíssimo ou mesmo nada se produziu sobre o assunto, o que, 
definitivamente faz transparecer um clamor para pronunciamentos académicos, deste 
modo, a pesquisa deste tema (os tribunais angolanos no quadro do novo sistema 
judiciário e jurídico), vem atender a tal clamor. 
METODOLOGIA 
Para a concretização do trabalho, do ponto de vista da natureza a pesquisa é do tipo 
básico; quanto aos procedimentos técnicos, a nossa pesquisa foi bibliográfica e 
documental (pese a predominância tenha estado nesta última), pelo que fizemos uma 
sondagem às diferentes doutrinas e essencialmente legislações, para então dar respostas 
ao problema ora aduzido. 
 
5 
 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
1. NOÇÕES PRELIMINARES 
1.1. Os tribunais 
Um tribunal (do latim: tribunalis, significando "dos tribunos"
1
) é um órgão de soberania 
com competência para administrar a justiça em nome do povo (art. 174.ºda C.R.A). É 
nos tribunais que os cidadãos, vendo os seus direitos violados, podem exigir que esses 
direitos se tornem efectivos e que sejam reparados os danos resultantes de uma violação. 
Os tribunais têm o dever de defender os direitos e interesses protegidos por lei, corrigir 
a violação da legalidade e decidir sobre os conflitos de interesses públicos e privados. 
Neste sentido, os tribunais são responsáveis por proteger os interesses dos cidadãos e 
das instituições do Estado
2
. 
Os Professores Gomes Canotilho e Vital Moreira, ensinam que “os Tribunais são, a par 
do Presidente da República e do Parlamento, órgãos de soberania, com características 
que os diferenciam dos restantes órgãos, visto não integram o sistema de governo e não 
participarem nas funções de direcção e definição política do Estado”
3
. 
Ademais, como plasma a Constituição, as decisões dos tribunais são de cumprimento 
obrigatório para todas as entidades públicas e privadas e prevalecem sobre as de 
quaisquer outras autoridades (artigo 177º da C.R.A). 
1.2. Classificação dos tribunais 
Tal como alude o professor Vasco Grandão Ramos, habitualmente a doutrina tem 
classificado os tribunais de um país em: Ordinários e Extraordinários
4
. 
Ordinários: são os que fazem parte da estrutura comum da organização judiciária. Em 
Angola, são tribunais ordinários, os tribunais de comarca, os tribunais da relação e o 
tribunal supremo. 
 
1
 “Lugar elevado de onde falam os oradores”, como se vê no Dicionário Jurídico, J. M. Othon Sidou, p. 
1032; 
2
Fica aqui esclarecido que, a função dos tribunais é garantir a defesa dos direitos e dos interesses dos 
cidadãos, protegidos por lei, reprimir a violação da legalidade democrática e dirimir os conflitos de 
interesses públicos e privados. 
3
 J. J. Gomes Canotilho e Vital Moreira. Fundamentos da Constituição, Coimbra Editora, 1991. p. 
223. 
4
RAMOS, Vasco Grandão. Direito Processual Penal: Noções Fundamentais. Lobito: escolar editora, 
2013, p. 97-98; 
 
6 
 
Extraordinários: são os que se encontram fora deste sistema. Podem ser especiais e os 
extraordinários propriamente ditos ou de excepção – aqueles que se constituem a 
título ocasional para julgar apenas certas e determinadas categorias de crimes -. Os 
tribunais de excepção, em Angola foram extintos pela lei n.º 18/88. Ademais, a C.R.A 
proíbe a sua criação, como consta do art. 176.º n.º 5 da C.R.A. Já os especiais, são 
aqueles que julgam somente alguns casos (crimes), em razão da qualidade dos seus 
agentes, a título de exemplo encontramos neste caso o tribunal militar. 
Outra classificação (que se afigura muito mais contextualizada, portanto a que o nosso 
grupo entende ser a mais ajustada)
5
 é a que agrupa os tribunais tendo como critérios a 
especialidade e a hierarquia, assim sendo, do ponto de vista da especialidade, os 
tribunais podem ser: tribunais judiciais de jurisdição comum ou tribunais de 
jurisdição especializada. Na jurisdição comum encontramos o Tribunal Supremo que 
comporta os Tribunais da Relação e os de Comarca e a Jurisdição Especializada, onde 
encontramos o Tribunal Constitucional, o Tribunal de Contas e por fim, o Supremo 
Tribunal Militar. 
Quanto à hierarquia, os tribunais podem ser: Tribunais Superiores e Tribunais 
Comuns. São tribunais superiores: o Tribunal Supremo, o Tribunal Constitucional, o 
Tribunal de Contas e, por último, o Supremo Tribunal Militar (art. 176.º n.º 1 da 
C.R.A). Sendo que os tribunais comuns são todos os Tribunais da Relação e de 
Comarca (art. 176.º n.º 2 da C.R.A, e art. 24.º da Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro). 
Finalmente, na República de Angola existem os seguintes tribunais (art. 176.º da 
C.R.A): 
Tribunal Constitucional: É o tribunal que fiscaliza a constitucionalidade das leis 
aplicáveis aos casos julgados em tribunal e verifica a constitucionalidade de todos os 
actos normativos do Estado, titulares dos órgãos de soberania e seus agentes. 
Tribunal de Contas: É o tribunal que Fiscaliza a legalidade das finanças públicas, 
verifica se os gastos públicos estão a ser utilizados de uma forma eficiente e efectiva e 
controla as contas do Estado. 
Supremo Tribunal Militar: É o órgão superior dos tribunais militares, encarregado do 
julgamento de crimes militares. 
 
5
Artigo: UM OLHAR SOBRE A JURISDIÇÃO COMUM EM ANGOLA: Conceitos e Divisão Judicial, 
da JuLaw, Hélia Pimentel. 
 
7 
 
Tribunais Judiciais ou de Jurisdição Comum: São os tribunais que tratam de 
matérias civis e criminais e exercem funções em todas as áreas que não são atribuídas 
aos outros tribunais. Nos termos do artigo 24.º da Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro
6
, são os 
tribunais da Jurisdição Comum, o Tribunal Supremo
7
, os Tribunais da Relação e os 
Tribunais de Comarca. Ao abrigo do mesmo artigo, os tribunais de Comarca são os 
tribunais de Primeira Instância, e os da Relação são os de Segunda Instância. 
2. O SISTEMA JUDICIÁRIO ANGOLANO 
2.1. Noção 
Sistema Judiciário
8
 consiste na organização estrutural-funcional do sistema de justiça 
como um todo. Nesta ordem de ideias, atrelado ao contexto jurídico angolano, o sistema 
judiciário reflete dum modo global, a organização institucional e o aglomerado de 
normas atinentes às instituições vocacionadas a resolução de conflitos e a administração 
da justiça. Entretanto, a nossa atenção aqui estará essencialmente voltada a organização 
dos tribunais angolanos que, como se observa dos registros históricos, vem sendo 
sujeita a várias reformas, com vistas a sua adequação social e jurídico-constitucional
9
. 
Outro conceito importante que vale referir é o de sistema jurídico, que consiste no 
“conjunto de normas jurídicas interdependentes, reunidas segundo um elo unificador (a 
Constituição da República), cuja finalidade é disciplinar a convivência social”. Assim, 
neste caso, a expressão será usada para designar a estrutura do universo jurídico 
angolano. 
2.2. A evolução político-constitucional do Sistema Judiciário angolano
10
 
A evolução político-constitucional de Angola no período pós-independência marca a 
evolução do sistema de justiça e das reformas a ele dirigidas. Esta evolução é, 
tradicionalmente, dividida em três períodos, acompanhando o desenvolvimento 
histórico-constitucional do país. 
 
6
Lei Orgânica sobre a organização e funcionamento dos tribunais da Jurisdição Comum. 
7
Ao abrigo da nova redação do n.º 1 do art. 176.º do texto constitucional, fruto da recente revisão 
constitucional, o Tribunal Supremo já se enxerta em primeiro lugar na ordem de citação dos tribunais 
superiores da República de Angola; 
8
Devendo-se diferenciá-lo (judiciário) do judicial, termo que se aplica directamente ao que se refere ao 
juiz ou ao tribunal. Assim, por exemplo, diz-se «actos judiciais», «erro judicial», «magistratura judicial» 
e, por razões históricas, «tribunais judiciais» (a expressão sobrevive apesar de ser redundante), nome dado 
aos tribunais de comarca (por contraste com os tribunais administrativos, fiscais e de trabalho). 
9
É nesta ordem de ideias que se observa a existência de algumas leis que são essencialmente vertidas 
neste quesito. 
10
Desafios a Mudança do Sistema Judicial: Para uma nova Geografia da Justiça, Luanda, Maio de 2012, 
p. 143 e ss; Para um Programa Estratégico da Reforma da Justiça, Janeiro de 2014, p. 29 e ss. 
 
8 
 
a) Primeiro Período: O primeiro período, que se reportou ao tempo da 1.ª República 
(entre 1975 e 1991), marcado pelo processo revolucionário, pela libertação do Estado 
colonial e pela adopção de um Estado socialista, e que lançou as bases do chamado 
Sistema Unificado de Justiça. 
Salientam-se, neste primeiro período, duas reformas com forte impacto no sistema de 
justiça: a aprovação da Lei da Justiça Laboral e a aprovaçãoda Lei do Sistema 
Unificado de Justiça. Com a Lei da Justiça Laboral, procedeu-se à extinção dos 
Tribunais do Trabalho. Com a segunda das leis acima identificadas, congregou-se numa 
organização judiciária única todas as jurisdições com o objectivo de racionalizar os 
meios existentes, afirmando-se o propósito de construção de uma justiça popular que 
confirmasse o papel dos tribunais no apoio ao sistema político e social existente. 
Entretanto, o facto é que, o verdadeiro ponto de viragem e a maior reforma ao sistema 
judiciário do período de pós-independência de Angola ocorreu com a aprovação do já 
referido Sistema Unificado de Justiça, a 31 de Dezembro de 1988. 
Neste novo modelo, a divisão territorial da justiça foi ajustada à divisão político-
administrativa do país, com os Tribunais judiciais a organizarem-se em Tribunal 
Popular Supremo, Tribunais Populares Provinciais e Tribunais Populares Municipais. O 
Tribunal Popular Supremo, com jurisdição em todo o território nacional e sede em 
Luanda, foi instituído como a segunda e mais alta instância na hierarquia dos Tribunais 
Judiciais. 
b) Segundo Período: o segundo período, que se iniciou com as reformas 
constitucionais de 1991 e 1992, e que deu os primeiros passos na consagração do Estado 
de Direito Democrático, do Multipartidarismo Político e da abertura à economia de 
mercado. 
O processo de reforma do sistema de justiça, desenvolvido entre 1991 e 2010 é, assim, 
marcado pela aproximação ao modelo judicial moderno. Com a revisão constitucional 
de 1992 foi retirada a designação “popular” dos tribunais, previu-se a criação de um 
Tribunal Constitucional e constitucionalizou-se os Conselhos Superiores da 
Magistratura Judicial e do Ministério Público, como passo importante para a 
consagração da independência do poder judicial. 
Ao sistema de justiça base - erigido sobre os alicerces do Sistema Unificado de Justiça -
foram-se enxertando reformas legislativas sectoriais, que procuravam responder ao novo 
 
9 
 
contexto sócio-económico, marcado, tanto pelas consequências de um longo período de 
guerra, como pela expansão e abertura à economia de mercado. 
Entre tantos outros factores, saliente-se assim, a aprovação do Estatuto dos Magistrados 
Judiciais e do Ministério Público; a criação do Tribunal de Contas; a criação do 
Tribunal Constitucional. E, considerando, a vertente mais económica, destaca-se a 
criação da Sala das Questões Marítimas do Tribunal Provincial de Luanda; a criação do 
Julgado de Menores; e a aprovação da Lei sobre a Arbitragem Voluntária. 
c) Terceiro Período: o terceiro período, resultante das alterações ao texto constitucional 
aprovadas em Fevereiro de 2010, que marcam definitivamente uma ruptura com o 
modelo herdado da 1.ª República e plasmado na Lei do Sistema Unificado de Justiça 
(SUJ). 
A Constituição de 2010 abriu as portas ao terceiro período de reforma do sistema de 
justiça angolano, assumindo, no que respeita à organização judiciária, uma posição de 
ruptura face ao Sistema Unificado de Justiça, como mencionámos acima, e introduzindo 
inovações em várias áreas com impacto no sistema judicial, designadamente no que 
respeita à independência do poder judicial e ao reforço das liberdades e garantias dos 
cidadãos. 
Especificamente no que respeita à estrutura judicial, a Constituição de 2010 estabeleceu 
directrizes claras para um novo modelo de organização da justiça: a criação de vários 
tribunais superiores (Tribunal Supremo, Tribunal Constitucional, Tribunal de Contas e 
Supremo Tribunal Militar); a possibilidade da criação de uma jurisdição administrativa, 
fiscal e aduaneira autónoma, para além da eventualidade da existência de tribunais 
marítimos; a existência de Tribunais de Relação; a autonomia administrativa e 
financeira dos Tribunais; a constitucionalização do exercício da advocacia; a atribuição 
à Ordem dos Advogados de Angola de competências para regular, além do acesso e o 
exercício da advocacia, o patrocínio forense; 
2.3. Organização Judiciária angolana 
O novo sistema judiciário é o resultado do Programa Executivo de Reforma da Justiça e 
do Direito, que teve como pano de fundo a actualização, modernização, 
desburocratização, simplificação e aproximação dos serviços e procedimentos, 
contemplado à luz dos Programas de Governação do Executivo para os Quinquénios 
2012 – 2017 e 2017 – 2022, Plano Nacional de Desenvolvimento – PND e outros –, 
 
10 
 
sedimenta o compromisso de instituição de uma política criminal e de reforma da justiça 
penal, que contemple resposta pronta e optimizada à criminalidade a todos os níveis, a 
reorganização judiciária e a instituição de um paradigma do processo melhor adaptado 
às necessidades da contemporaneidade
11
. 
A aludida reforma, de acordo com o diploma citado, teve inúmeros Objectivos, doze 
para sermos exactos, donde para fins do presente labour destacamos os seguintes: 
a) Reforma do Código de Processo Penal, com a clara definição das competências dos 
distintos sujeitos e participantes processuais na investigação e garantia dos direitos de 
vítimas e arguidos, e clarificação dos regimes do segredo de justiça, das escutas 
telefónicas, dos novos meios probatórios e da prisão preventiva, de modo a torná-los 
inequivocamente congruentes com os princípios e normas constitucionais; 
b) Garantia de um efectivo duplo grau de jurisdição em matéria de facto, através da 
implementação de Tribunais da Relação distribuídos por diversas regiões do País; 
c) Criação das salas de execução de penas, junto dos Tribunais existentes; 
d) A institucionalização do juiz de garantias para o asseguramento da intervenção 
judicial na fase de instrução preparatória do processo penal, quer para fiscalização 
judicial de garantias aquando da actuação das autoridades judiciárias em instrução 
preparatória, quer para o asseguramento da pratica dos actos e diligências processuais 
susceptíveis de afectação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, 
para aplicação das medidas de cautelares em processo penal, com destaque para de 
privação de liberdade, e para decisão dos procedimentos garantísticos na fase de 
instrução preparatória. 
A pesar de a reforma do sistema judiciário ter iniciado anos atrás, se torna necessário 
olharmos aos contornos da revisão constitucional efectuada a bem pouco tempo. 
Ademais, é a partir do texto constitucional que se pode compreender e depreender o tipo 
de sistema judiciário que vigora num determina estado, quanto mais num estado de 
Direito como é angola. 
 
11
Relatório de fundamentação da proposta do código do processo penal, redigido pelo Departamento de 
Estudos e Legislação do ministério da justiça e dos direitos humanos no dia 22 de Maio de 2018. Página 
2. 
 
11 
 
Com a revisão constitucional, consumada com a aprovação da lei 18/21 de 16 de 
agosto
12
, o sistema jurisdicional viu a sua organização
13
 alterada, embora se defenda que 
a norma do artigo 176º da constituição da república de angola - doravante designada por 
CRA – não faz uma hierarquia dos tribunais superiores pelo facto de não se poder 
hierarquizar instituições cujo fim e a natureza são isomorfas
14
. Ainda assim, o 
entendimento dominante na comunidade jurídica é que a alteração feita naquela norma 
denota uma mudança na organização hierárquica dos tribunais superiores, onde o 
tribunal supremo figura na posição cimeira da pirâmide seguida pelos tribunais 
constitucional, de contas e o supremo tribunal militar. Diferente da solução do 
legislador constituinte originário que estatuía o tribunal constitucional no cume da 
pirâmide da organização do poder jurisdicional. 
Tal arrumação apesar de se mostrar inaudível, é de relevância imensa, pois permitirá 
saber qual é o órgão máximo do sistema judicial angolano, ou qual é a jurisdição 
superior competente para seinterpuser um recurso consequente de uma decisão de 
algum tribunal superior, ou dito numa só palavra, qual tribunal superior é a última 
instancia do sistema jurisdicional angolano. 
Por razões metodológicas, não vamos esgotar tal discussão no presente labor, poderá ser 
uma problemática para futuras pesquisas. No entanto, antes da exposição do que nos 
interessa, ou seja, antes de fazermos menção sobre a organização dos tribunais de 
jurisdição comum a luz da lei orgânica sobre a organização e funcionamento dos 
tribunais da jurisdição comum, cumpri-nos referir que os tribunais, conforme o conceito 
da CRA (tal como aludido acima)
15
, São órgãos de soberania com competência para 
administrar a justiça em nome do povo, e de acordo a doutrina o tribunal é um dos 
sujeitos processuais, juntamente com o ministério público e o arguido
16
. Assim é que o 
 
12
 Lei de revisão constitucional. 
 
14
 No dizer do proponente: “Esta alteração justifica-se pelo facto de o Tribunal Supremo ser o tribunal de 
topo da jurisdição comum, o seu Presidente presidir o Conselho Superior da Magistratura Judicial (com 
competências sobre toda a magistratura judicial) e porque constitui a instância máxima de recurso da 
jurisdição comum para matérias da sua competência. Além disso, a nível de todo o território nacional, o 
Tribunal Supremo constitui a continuidade orgânica dos tribunais da Relação e de Comarca. Com este 
ajuste constitucional, substitui-se o Tribunal Constitucional desse lugar de precedência hierárquica e 
protocolar, por se tratar de um tribunal de especialidade, tal como o são os demais tribunais superiores 
(Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal Militar)”. Página 15 do relatório de fundamentação da 
proposta de revisão constitucional. 
15
 Artigo 174º da CRA. 
RAMOS, Vasco Grandão. Direito Processual Penal: Noções Fundamentais. Lobito: escolar editora, 2013, 
p.90. 
 
12 
 
código de processo penal estatui que só os tribunais judiciais e os respectivos juízes 
podem conhecer de causas e aplicar penas e medidas de segurança
17
. 
Dito isto, estamos em condições de expormos a forma como está organizado o sistema 
judiciário angolano, todavia, nos vamos apegar a lei ordinária
18
, anteriormente referida 
para de forma sumária apresentarmos o modo de funcionamento e organização dos 
tribunais de jurisdição comum. 
Como sabemos, o tribunal supremo é o órgão superior da jurisdição comum. Em 
consequência, o artigo 3º da lei 2/15, hierarquiza a jurisdição comum, colocando, 
obviamente, o tribunal supremo no topo, seguido pelos tribunais da relação e, abaixo 
desses, os tribunais de comarca. 
A mesma lei estabelece um conjunto de princípios, donde se assentam o funcionamento 
daqueles tribunais, alguns deles constituem novidade no nosso sistema jurisdicional, 
desde logo o princípio da autonomia administrativa e financeira dos tribunais, 
estatuído pelo artigo 15.º, tal princípio consubstancia um avanço no sistema de justiça 
em Angola, e desde logo encerra um período de relativa subordinação do poder judicial 
face ao poder executivo, tal subordinação evidenciava-se através da Secção III, sobre 
prestação de contas, artigo 50º, com a epigrafe, dever e periodicidade, da lei 18/88 de 31 
de dezembro
19
, que obrigava aos magistrados judiciais a prestação de contas das suas 
actividades jurisdicionais. Ressalta-nos também outros princípios, tais como o da 
independência dos tribunais, o da garantia de acesso ao direito e aos tribunais, o da 
tutela jurisdicional efectiva, da presunção da inocência, da publicidade e o da 
imparcialidade que no fundo não são de todo uma novidade, se pensarmos que com o 
advento da CRA, todos estes princípios foram acolhidos pelo legislador constituinte. E 
na prática os tribunais, mesmo antes do início da actual reforma judiciaria, funcionam 
de forma independente, pública, imparcial etc. 
No capitulo dos magistrados, sublinha-se a figura do juiz de turno, estatuída pelo artigo 
18º, que em caso de necessidade ou de férias judiciais têm a competência de julgar 
processos urgentes de réus presos. Vemos aqui, portanto, mais um avanço. 
Sequencialmente, o diploma legal, cria um mapa judiciário, estabelecendo regiões e 
províncias judiciais. As primeiras agrupam as segundas, ou seja, ao conjunto de 
províncias judiciárias denominam-se regiões judiciárias. Enquanto que a província 
 
17
 Vide o artigo 9º do Código Processo Penal. 
18
 Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro. 
19
 Lei do Sistema Unificado de Justiça. 
 
13 
 
judiciaria é o conjunto de comarcas. Desta feita, citando o artigo 21º daquela lei
20
, o 
pais é organizado em cinco regiões judiciais, sendo a primeira região constituída pelas 
províncias de Luanda, onde está a sede
21
, Bengo e Cuanza Norte; A segunda região 
compreende as províncias do Uíge, sede da região, Malanje, Cabinda e Zaire; Terceira 
região com sede em Benguela é constituída também pelas províncias do Cuanza sul, Bié 
e huambo; a quarta região judicial é constituída pelas províncias da Huíla, com a sede 
no Lubango, Cuando Cubango, Cunene e Namibe; e finalmente, a quinta região, com 
sede em Saurimo, é constituída pelas províncias da Lunda Sul, Lunda norte e Moxico. 
Os tribunais de comarca são em regra os tribunais de primeira instancia, com 
competência na área territorial da respectiva comarca, os tribunais de relação tem a 
competência territorial sobre a região judicial a si adstrita, ao passo que o tribunal 
supremo tem competência jurisdicional em todo território nacional. A isto a doutrina 
denomina competência em razão do território. Todavia, foi também consagrado o 
regime da deslocação de competência, que se suscita quando ocorra, no tribunal 
competente, situações gravemente perturbadoras do normal andamento do processo e da 
realização de justiça. A deslocação implica uma alteração extraordinária da competência 
legalmente estabelecida, passando o processo para o tribunal da mesma espécie, 
hierarquia e territorialmente mais próximo do tribunal afectado, em relação ao qual, as 
razões ora suscitadas não se colocam. É o entendimento que tiramos do artigo 32º da lei 
que temos vindo a citar. 
2.3.1. Os Tribunais de Comarca 
O tribunal de comarca, como aludido supra, e de acordo com o artigo 41º da lei 2/15
22
, 
são em regra, os tribunais judiciais de primeira instancia, com jurisdição na área 
territorial da respectiva comarca, e por regra, é designado pelo nome do município onde 
se encontra instalado. 
2.3.1.1. Competência territorial e material 
Os tribunais de comarca julgam, em primeira instancia todas as causas 
independentemente da sua natureza e do seu valor, desde que não estejam sujeitos a 
competências de tribunais especializados. No fundo mais um avanço, o facto de poder 
conhecer de todas as causas independentemente da sua natureza e valor, diferente da 
solução anterior onde os extintos tribunais municipais e provinciais poderiam julgar 
 
20
 Lei 2/25 de 2 de Fevereiro. 
21
 Enunciar que a sede, para efeitos legais, compreende o tribunal de relação. 
22
 Lei orgânica sobre a Organização e Funcionamento dos Tribunais da Jurisdição Comum. 
 
14 
 
causas até determinado valor previamente estabelecido, por exemplo a alçada dos 
tribunais municipais em matéria cível era de 50.000.00 (cinquenta mil Kwanzas)
23
. 
2.3.1.2. Organização e funcionamento 
Aos tribunais de comarca, tendo em conta as necessidades, o legislador estatui uma 
norma permissiva (facultativa) para que no seu funcionamento possam ser criadas salas 
de competências especializadas, ademais o artigo 25º da lei 2/15, faz nascer um 
princípio indispensável na organização judicial dos tribunais, nomeadamente o princípio 
da flexibilização da organização judiciaria, segundoo qual a organização interna dos 
tribunais deve adequar-se à procura judicial de cada província e município, bem como 
ao contexto sócio econômico e geográfico. Daí resulta que a criação de salas 
especializadas poderá não ser uniforme nas diferentes comarcas, a título ilustrativo, a 
comarca de Malanje poderá não ter uma sala para questões marítimas. 
Quanto ao seu funcionamento, as comarcas poderão funcionar como tribunal singular ou 
colectivo, dependendo da causa e do valor, em matéria criminal deverá funcionar como 
tribunal colectivo sempre que o crime seja punível com pena superior a cinco anos e em 
matéria cível sempre que a causa seja de valor superior ao dobro da alçada do tribunal 
da relação, como faz referência o artigo 45º. Ademais os tribunais de comarca são 
constituídos por um juiz presidente e pelos magistrados judiciais que o integram. 
Há uma exigência legal no nº 2 do artigo 44º
24
, que de certo modo, encerra um avanço, 
a exigência segundo ao qual os magistrados judiciais devem ter formação 
especializada antes da sua colocação na respectiva sala de competência especializada, 
exceptuam-se, contudo, os juízes de pequenas causas criminais. Tal percepção é 
justificada pelo facto de algumas matérias, pela sua natureza complexa, exigirem 
formação especializada por parte do aplicador. Diferente da realidade actual em que 
inexiste a exigência legal de formação especializada, permitindo ao magistrados 
conhecer causas de naturezas distintas, muitas vezes sem o necessário domínio da 
matéria jurídico-legal em lide. 
Todavia, examinando o artigo 68º – sobre as competências da comissão nacional de 
coordenação judicial – da lei que temos vindo a analisar, deparamo-nos com uma norma 
que no nosso entender constitui um recuo ao sistema jurisdicional, trata-se da norma 
estatuída pela alínea g) do supracitado artigo, segundo a qual compete a esta comissão 
 
23
 Vide o artigo 41º da lei 18/88 de31 de dezembro, lei do sistema unificado de justiça. 
24
 Lei 2/15. 
 
15 
 
elaborar um relatório sobre o movimento processual de todos os tribunais de jurisdição 
comum para ser apresentado ao presidente da república, a assembleia nacional e aos 
conselhos superiores da magistratura judicial e do ministério público. Ora, esta norma 
nos recorda o texto constante da proposta de revisão constitucional considerada 
inconstitucional pelo plenário do tribunal constitucional
25
. 
A referida norma previa que: “Os Tribunais superiores elaboram anualmente o 
relatório da sua actividade que é apreciado pelo Conselho Superior da Magistratura 
Judicial e remetido ao Presidente da República e à Assembleia Nacional para 
conhecimento”
26
. Para aquele colégio de juízes, “o nº 5 do artigo 181.º; n.º 4 do 182.º, 
nº 4 do 183º, nº 6 do 184.º, todos da lei de revisão constitucional que estabelecem a 
remessa de relatórios dos órgãos jurisdicionais, para outros órgãos de soberania, 
constitui desrespeito ao limite material de revisão da CRA, previsto nas alíneas i) e j), 
referentes aos princípios da independência dos tribunais e da separação de poderes e 
interdependência dos órgãos de soberania”
27
. 
Com efeito, pensamos que a norma ordinária que vai na mesma direcção da lei de 
revisão constitucional, impondo a obrigação de prestação de contas, deverá ser 
entendida ou como um retrocesso, ou na pior das hipóteses ser encarada como uma 
inconstitucionalidade, tendo em conta os limites da separação dos poderes e da 
independência dos tribunais, ademais, é deveras um contrassenso, por um lado 
consagrar a autonomia administrativa e financeira, por nós elogiada supra, e ao mesmo 
tempo criar um órgão que no fundo fiscaliza as actividades judiciais dos tribunais 
comuns. Portanto um recuo que nos remete ao já mencionado artigo 50.º da lei do 
sistema unificado de justiça, que impunha aos magistrados judiciais o dever de prestar 
contas de suas actividades jurisdicionais. 
2.3.2. Os Tribunais da Relação 
Como fizemos referência anteriormente, os tribunais de relação são as sedes da região 
judicial, órgão com competência extensiva da respectiva região judicial e é, por 
excelência, o tribunal judicial de segunda instancia. Diferente da organização judicial 
colonial em que os tribunais de relação que exercia jurisdição sobre todo o pais, e 
 
25
 Vide a decisão do acordão 688/2021. 
26
 Nº 4 do artigo 184.º da proposta de revisão constitucional. 
27
 Ponto 2 da conclusão do acordão 688/2021, sobre a fiscalização preventiva da lei de revisão 
constitucional. 
 
16 
 
julgava os recursos de agravo e de apelação interpostos das decisões dos tribunais que 
lhe eram inferiores, como faz referência Grandão Ramos
28
. 
Entretanto o funcionamento e orgânica dos tribunais de relação são definidas por lei 
própria, de acordo com o artigo 39.º da lei 2/15. Com efeito, tramita actualmente na 
assembleia nacional a proposta de lei orgânica dos tribunais de relação, com sua 
aprovação estes tribunais passarão a ser competentes para conhecer os recursos 
interposto das decisões de todos os tribunais de comarca. 
Finalmente, cumpre-nos informar que a proclamada reforma está sendo implementada 
de forma gradual, gradualismo este que permite a coabitação de ambas as formas de 
organização judicial, mormente a organização emanada pela lei 18/88 e a que está sendo 
instituída com base na lei 2/15, assim é que em Malanje, por exemplo, ainda exista o 
tribunal provincial, quando noutras regiões do pais já se estabeleceram tribunais de 
comarca e de relação. Tem-se dito que nada é permanente, excepto a mudança, nestes 
termos a reforma do sistema jurisdicional angolano poderá levar mais tempo do que se 
deseja, pois envolverá meios e outros recurso financeiros e humanos necessários para o 
aperfeiçoamento e desenvolvimento deste Estado Democrático e de Direito. 
3. OS AVANÇOS E OS RETROCESSOS DECORRENTES DO NOVO SISTEMA 
JUDICIÁRIO NO QUE RESPEITA AOS TRIBUNAIS 
No subtema anterior, quando falámos sobre a organização judiciária angolana já 
mencionámos vários avanços e fundamentalmente um retrocesso decorrentes da reforma 
da justiça e consequente inovação do sistema judiciário e jurídico. Contudo, 
convencionámos, duma maneira mais resumida e sistematizada elencar alguns avanços 
e retrocessos ou recuos que se podem deduzir do novo panorama judiciário e jurídico 
vigente em Angola. Assim, do ponto de vista dos avanços, podemos citar: 
 A autonomia administrativa e financeira dos tribunais, que desde logo encerra 
um período de relativa subordinação do poder judicial face ao poder executivo; 
 O alargamento da rede de tribunais a partir do novo mapa judiciário, que 
gradualmente vem contribuindo, sobremaneira, para a aproximação das 
populações nos centros de decisão judiciária, que, assim, se transformarão em 
verdadeiros instrumentos de acção social; 
 A instituição do juiz de garantia nos tribunais de jurisdição comum; 
 
28
 Op. Cit. Página 93. 
 
17 
 
 As exigências segundo aos quais os magistrados judiciais devem ter formação 
especializada antes da sua colocação na respectiva sala de competência 
especializada, exceptuam-se, contudo, os juízes de pequenas causas criminais. 
 A criação de vários tribunais superiores (Tribunal Supremo, Tribunal 
Constitucional, Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal Militar), o que 
inexistia no passado; 
 A Lei n.º 5-A/21 de 5 de Março, Lei que Altera a Lei sobre a Actualização das 
Custas Judiciais e Alçadas dos Tribunais, entendemos que também se 
consubstancia num avanço, pois, diferente do Código das Custas Judiciais, e da 
Lei n.º 9/05 de 17 de Agosto, Lei sobre a Actualização das Custas Judiciais e 
Alçadas dos Tribunais (que só foi derrogada), este diploma já fixa a alçada dos 
tribunaise as taxas, em Kwanzas, o que outrora era fixado em UCF (Unidade de 
Correção Fiscal), o que impunha aos intérpretes e aplicadores do Direito o 
recurso a cálculos matemáticos para determinar o valor de tais taxas em 
Kwanzas. Assim, este diploma apresenta-nos um panorama mais simplificado. 
Quanto aos retrocessos, pese o seu carácter discutível, apontamos apenas dois, o que 
não implica que eventualmente já não haja, pelo que em algum momento podemos 
aferir mais alguns. Como retrocessos, apontamos: 
 A norma que impõe à comissão nacional de coordenação judicial, a obrigação de 
elaboração de um relatório sobre o movimento processual de todos os tribunais 
de jurisdição comum para ser apresentada ao presidente da república, a 
assembleia nacional e aos conselhos superiores da magistratura judicial e do 
ministério público; 
 Falta de um tribunal que assuma a liderança sobre todos os outros, isto é, um 
tribunal supremo no pleno sentido da palavra, algo que pelo menos a própria 
Constituição não tem muito clara, pois, enquadra o Tribunal Supremo 
meramente como um Tribunal Superior junto dos outros (tal como apregoa o 
jurista Albano Pedro, com o qual corroboramos). 
 
 
 
 
18 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Falar dos tribunais angolanos no quadro do novo sistema judiciário, é falar 
indispensavelmente da necessidade de reforma que o estado angolano sentiu com a 
entrada em vigor da constituição de 2010, uma constituição moderna, por isso exigente, 
uma constituição democrata, portanto humanista, uma constituição revolucionária, daí 
evolucionista. Uma constituição assim exigiria claramente uma reforma profunda das 
instituições, das quais os órgãos de administração da justiça como são os tribunais. 
Com efeito, houve necessidade de adequar o sistema jurisdicional a nova realidade 
jurídico-constitucional. Concomitantemente, criaram-se comissões especializadas, 
elaboraram-se documentos reitores, aprovaram-se leis, construíram-se infraestruturas, 
formaram-se quadros tudo para o sucesso da necessária reforma do direito e da justiça. 
Se é verdade que a reforma vem dando passos grandes, e produzindo efeitos profícuos 
na nossa jovem democracia, portanto muitos são os avanços que pudemos registar 
durante a pesquisa que sustentou o presente trabalho. Todavia, Não é de humanos as 
obras perfeitas, para inferir que também destacamos retrocesso, apesar de poder ser 
objecto de discussão e/ou analise em sede da apresentação, verdade é que deparamos 
com uma norma ordinária que nos pareceu um verdadeiro recuo. 
Portanto, a reforma como dissemos, é necessária, fez nascer um código penal e de 
processo penal inovador, humanista, um código efetivamente democrático, adequado ao 
nosso sistema, um código que reflecte o nível de maturação jurídica do povo angolano. 
Tais códigos representam efectivamente o auge da reforma do direito e da justiça do 
estado angolano. Os sujeitos processuais, nomeadamente os tribunais, no quadro do 
novo sistema judiciário saem com competências mais esclarecidas, e, portanto 
reforçadas. 
 
 
 
 
 
 
19 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
CANOTILHO,J. J. Gomes; MOREIRA, Vital. Fundamentos da Constituição. Coimbra: 
Coimbra Editora, 1991; 
RAMOS, Vasco Grandão. Direito Processual Penal: Noções Fundamentais. Lobito: 
escolar editora, 2013; 
Artigo: UM OLHAR SOBRE A JURISDIÇÃO COMUM EM ANGOLA: Conceitos e 
Divisão Judicial, da JuLaw, Hélia Pimentel; 
Desafios a Mudança do Sistema Judicial: Para uma nova Geografia da Justiça, Luanda, 
Maio de 2012, pelo Observatório de Justiça de Angola; 
Para um Programa Estratégico da Reforma da Justiça, Janeiro de 2014, pelo 
Observatório de Justiça de Angola; 
Relatório de fundamentação da proposta do relatório de fundamentação da proposta do 
código do processo penal, redigido pelo O Departamento de Estudos e Legislação do 
ministério da justiça e dos direitos humanos no dia 22 de Maio de 2018; 
Dicionário Jurídico, J. M. Othon Sidou; 
Constituição da República de Angola; 
Lei n.º 18/21 de 16 de Agosto – Lei de Revisão Constitucional; 
Lei n.º 2/15 de 2 de Fevereiro - Lei Orgânica sobre a organização e funcionamento dos 
tribunais da Jurisdição Comum; 
Lei n.º 18/88 de 31 de Dezembro – Lei do Sistema Unificado de Justiça; 
Lei n.º 39/20 de 11 de Novembro – Lei que aprova o Código do Processo Penal 
Angolano; 
Acordão 688/2021, sobre a fiscalização preventiva da lei de revisão constitucional. 
 
 
	INTRODUÇÃO
	FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
	1. NOÇÕES PRELIMINARES
	1.1. Os tribunais
	1.2. Classificação dos tribunais
	2. O SISTEMA JUDICIÁRIO ANGOLANO
	2.1. Noção
	2.3. Organização Judiciária angolana
	2.3.1.2. Organização e funcionamento
	2.3.2. Os Tribunais da Relação
	3. OS AVANÇOS E OS RETROCESSOS DECORRENTES DO NOVO SISTEMA JUDICIÁRIO NO QUE RESPEITA AOS TRIBUNAIS
	CONSIDERAÇÕES FINAIS
	REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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