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ESTADO DE MATO GROSSO POLÍCIA MILITAR DIRETORIA DE ENSINO ADESG / MT CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS ANÁLISE CRIMINAL: A PREVENÇÃO DO CRIME E CONTRAVENÇÃO. JOSÉ ANTONIO GOMES CHAVES – CAP PM Cuiabá, Novembro/2002 ESTADO DE MATO GROSSO POLÍCIA MILITAR DIRETORIA DE ENSINO ADESG / MT CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS ANÁLISE CRIMINAL: A PREVENÇÃO DO CRIME E CONTRAVENÇÃO. JOSÉ ANTONIO GOMES CHAVES – CAP PM Monografia, apresentada a banca examinadora formada pela DE/PMMT e ADESG/MT, como requisito básico para a conclusão do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais - turma 2002, que tem como orientadora o Sra Terezinha Fátima Jordão da Silva. Cuiabá, Novembro/2002 ESTADO DE MATO GROSSO POLÍCIA MILITAR DIRETORIA DE ENSINO ADESG / MT CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS TERMO DE APROVAÇÃ0 Esta monografia foi julgada adequada e aprovada em sua forma final pelo Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais da Polícia Militar. Cuiabá,MT, _____ de novembro de 2002. Banca da comissão Examinadora: _______________________________________ Carlos Estevão de Souza Figueiredo – Cel PM Diretor de Ensino da PMMT Presidente da Comissão da Banca Examinadora de Monografia ______________________________________ Terezinha Fátima Jordão da Silva Orientadora – Examinadora ___________________________________ Francisco Valdés Valdés – Prof. Dr. Examinador – ADESG/MT ____________________________________________ Manoel do Nascimento dos Santos Rosa – Ten Cel PM Convidado - Examinador DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente a Deus que me deu esta oportunidade A minha Mãe que ajudou a construir minha educação A minha esposa e meu filho, que tiveram compreensão e me deram conforto e paz de espírito nos momentos difíceis em que desenvolvi este trabalho AGRADECIMENTOS Agradeço, Ao Sr. Comandante Geral da PMMT Cel. PM Orestes Teodoro de Oliveira que me influenciou no decorrer da minha carreira e nos conhecimentos que hoje possuo. Ao Sr. Diretor de Ensino da PMMT Cel PM Carlos de Estevão Souza de Figueiredo, que não mediu esforço para que este trabalho tivesse importância e qualidade. Ao Sr. Ten Cel. PMMT Manoel do Nascimento dos Santos Rosa, que me deu coragem e me compreendeu nos momentos que necessitei me ausentar de minhas missões. E dos meus Amigos do Curso CAO/2002 da PMMT, que me ajudaram na qualidade deste trabalho. RESUMO Este trabalho de pesquisa, teve como objetivo, ressaltar e discutir os fatores que influenciam na criminalidade, para um levantamento de ações que venham a prevenir os atos delituosos. Assim este assunto, que é um grande obstáculo para o bem estar social de todas as nações é discutido em todos os setores da sociedade, pois os problemas gerados pela criminalidade atinge qualquer cidadão, que quer viver de bem consigo e com a comunidade que vive. Por isso os problemas apresentados e tomados como objetos de estudo, foram tudo o que se relacionava com o crime e a violência, para conhecer a fundo este mal que asola a humanidade, desde que homem começou a pensar. Apresentamos no primeiro capítulo, a introdução, as idéias que deram rumo ao caminho lógico a ser seguido, os objetivos a serem alcançados, o conhecimento dos fatores que levam o homem ao cometimento de infrações, e como foi realizado a construção do conhecimento desses fatores, para sustentar idéias e pensamentos a respeito da violência, e assim desencadear sugestões para uma ação eficaz contra a criminalidade. No segundo capítulo buscou-se o conhecimento jurídico do crime, foi apresentado as origens do crime e como ele nasce, como surgiu os conceitos das infrações penais, os conceitos de crimes estudo sobre o fato típico, os elementos e a teorias sobre a conduta delitiva. O aspécto jurídico do crime é abordado, para que conheçamos o crime como aversão da norma legal, e que possa se fazer uma abordagem técnica jurídica, quando nos referimos as questões da criminalidade. No terceiro capítulo procuramos apresentar um estudo do criminosos, que é um elemento importante para o entendimento da conduta infracional, abordamos os aspéctos mentais, as doenças piscopatológicas que podem levar o homem ao delito, tabém foram abordadas o mundo do criminosos, de como o meio em que ele vive influencia seus atos. Ainda neste capítulo, estudou-se as várias teorias formuladas por estudiosos de criminologia, que tentam explicar o crime sobre vários aspectos e fatores. No quarto capítulo, estudou-se o crime e o ato criminal com um enfoque criminológico, elencando e analisando os crimes mais cometidos, como o homicídio, o roubo e furto, o crime organizado, delitos cometidos por criaça e adolescente, fora feita uma contextualização do crime como fenômeno de massa, e abordado os pensamento e doutrinas de várias escolas incluídas no estudo da criminologia, foram apresentados os mais influentes fatores que influenciam na conduta criminosa, como fatores sociais, culturais , a instrução, a mídia através da literatura, cinema, o sexo e outros. Tudo para dar uma visão bem mais nítida dos fatores que atuam no contexto da violência e criminalidade. No quinto capítulo, se fez uma contextualização da criminalidade primeiramente no âmbito nacional, onde foi mostrado um trabalho de pesquisa realizado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública no ano de 2000, cujos resultados foram analisados e concluídos pelo sociólogo Túlio Kahn, mostrando a situação da criminalidade no país, elecando os Estados com os maiores índices de criminalidade. Foi abordado também, a situação em que se encontra criminalidade em Cuiabá, tomando-se como fonte, um estudo realizado pela equipe do deputado estadual Gilney Viana, realizado em 2000, que faz uma referência aos dados estatísticos das ocorrências registradas em Cuiabá e na região metropolitana. No sexto capítulo foram mostrados os resultados obtidos pelas pesquisas de dados referentes aos fatores que potencializam a criminalidade em Cuiabá, onde foram verificados os índices socioeconômicos e os índices neuropatológicos da região que compreende a capital mato- grossense, tudo para fornecer subsídio para uma análise da situação da criminalidade e os fatores de influência, isto é, achar um denominador comum entre os índices de criminalidade e as causas que alimentaram o fenômeno na área metropolitana. O sétimo capítulo, baseou-se em todo o referencial teórico apresentado nos capítulos anteriores, as informações da situação da criminalidade no país no Estado e na região metropolitana. Foram observados os dados apresentados e analisado os programas e ações que existem hoje. Por fim concluiu-se, que falta muito trabalho e ações por parte de todos, isto é, dos órgãos do governo, da sociedade em geral e do próprio cidadão, não haverá um combate eficaz se não houver o comprometimento de todos. Num segundo momento foram feitas alguma sugestões, para que fossem tomadas como projetos oficiais no governo e implementadas com ações corretivas e preventivas por parte do órgão responsável pela articulação de trabalhos voltados para o combate a violência SUMÁRIO CAPÍTULO I 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12 CAPÍTULO II 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO CRIME 2.1 Contexto do Crime ............................................................................................. 15 2.2 Surgimento do Conceito de Infrações Penais .................................................... 16 2.3 Conceito de InfraçõesPenais ............................................................................. 16 2.3.1 Conceitos Formais ...................................................................................... 18 2.3.2 Conceitos Materiais .................................................................................... 18 2.3.3 Conceitos Analíticos ................................................................................... 19 2.3.4 Ilícito Penal e Ilícito Civil ........................................................................... 19 2.4 Fato Típico ......................................................................................................... 20 2.4.1 Elementos do Fato Típico ........................................................................... 20 2.4.2 Teorias Sobre a Conduta ............................................................................ 20 2.4.3 Conceito, Característica e Elementos da Conduta .................................... 20 CAPÍTULO III 3. ESTUDO DO CRIME 3.1 Transtorno Mental do Criminosos ......................................................................... 23 3.1.1 Transtorno Mental ........................................................................................ 23 3.1.2 Classificação .................................................................................................. 23 3.1.3 Psicose e Neurose .......................................................................................... 23 3.1.4 Psicose ........................................................................................................... 24 3.1.5 Esquisofrenia ................................................................................................ 25 3.1.6 Ciclofrenia ..................................................................................................... 27 3.1.7 Eplepsia ......................................................................................................... 27 3.1.8 Psicose Alcoólica ........................................................................................... 29 3.1.9 Toxicomania .................................................................................................. 30 3.1.10 Neurose ........................................................................................................ 32 3.1.11 Oligofrenia .................................................................................................. 34 3.1.12 Psicopatia .................................................................................................... 37 3.2 Ambiente Criminógeno 3.2.1 Ambiente Favorável ...................................................................................... 38 3.2.2 Ambiente Físico e Social ............................................................................... 38 3.2.3 Teoria do Meio Social ................................................................................... 39 3.2.4 Formação da Personalidade Criminal .......................................................... 40 3.2.5 Traços da Personalidade Criminal ............................................................... 40 3.3 Teoria Sociológicas e Psicológicas da Delinquencia 3.3.1 Sistemas Contemporâneos da Criminologia ................................................ 41 3.3.2 Teoria da Associação Diferencial ................................................................. 41 3.3.3 Teoria Ecológica ou da Transmissão Diferencial ......................................... 42 3.3.4 Teoria do Conflito Cultural .......................................................................... 43 3.3.5 Teoria da Anomia ......................................................................................... 44 3.3.6 Teoria da Subcultura da Delinquência ........................................................ 45 3.3.7 Teoria Bioantropológica ............................................................................... 46 3.3.8 Teoria de Lombroso ...................................................................................... 47 3.3.9 Teoria de Hooton .......................................................................................... 48 3.3.10 Teorias psicodinâmicas ............................................................................... 48 3.3.11 Teoria Psicanalítica ..................................................................................... 49 3.3.12 Tipologia de Jenkins ................................................................................... 50 3.3.13 Teoria da Frustração-Agressão .................................................................. 51 3.3.14 Teoria de Greef ........................................................................................... 51 CAPÍTULO IV 4. ESTUDO DO CRIME E DO ATO CRIMINAL COM ENFOQUE CRIMINOLÓGICO. 4.1 Estudo do Crime ..................................................................................................... 53 4.2 Situação e Ato Criminal ......................................................................................... 54 4.3 Tipos de Crime ....................................................................................................... 55 4.3.1 Crimes Primitivos ......................................................................................... 55 4.3.2 Crimes Utilitários .......................................................................................... 55 4.3.3 Crimes Pseudojusticeiros .............................................................................. 57 4.3.4 Crime organizado ......................................................................................... 57 4.3.5 Crime do Colarinho Branco ......................................................................... 58 4.3.6 Crime do Bando Juvenil ............................................................................... 58 4.3.7 Crime Contra o Patrimônio .......................................................................... 59 4.3.8 Furto Praticado por Adulto .......................................................................... 60 4.3.9 Delito Sexual do Menor ................................................................................ 61 4.3.10 Delito Sexual do Adulto .............................................................................. 61 4.3.11 Homicídio .................................................................................................... 62 4.3.12 Personalidade do Homicida ........................................................................ 63 4.3.13 Homicídio praticado pelo Menor ............................................................... 64 4.4 O Crime Como Fenômeno de Massa ..................................................................... 65 4.5 Escola Cartográfica ................................................................................................ 65 4.6 Escola Socialista ...................................................................................................... 65 4.7 Escola Sociológica ................................................................................................... 66 4.8 Escola do Meio Social ............................................................................................. 66 4.9 Escola Interpsicológica ........................................................................................... 66 4.10 Escola de Durkheim .............................................................................................. 67 4.11 Escola Sociológica Propriamente Dita ................................................................. 67 4.12 Fatores Físicos ou Geográficos ............................................................................. 68 4.13 Fatores Econômicos .............................................................................................. 694.14 Fatores Culturais .................................................................................................. 70 4.15 A Instrução ........................................................................................................... 71 4.16 A Literatura .......................................................................................................... 72 4.17 A Imprensa ........................................................................................................... 73 4.18 O Cinema .............................................................................................................. 74 4.19 Fatores Pessoais .................................................................................................... 75 4.20 Idade ..................................................................................................................... 76 4.21 Delinquência Juvenil ............................................................................................ 76 4.22 Sexo ....................................................................................................................... 77 CAPÍTULO V 5. SEGURANÇA PÚBLICA 5.1 Conceitos ................................................................................................................. 78 5.2 A criminalidade no Brasil ...................................................................................... 80 5.3 A Criminalidade em Cuiabá ................ ................................................................. 84 5.4 A Informação e Dados sobre a Criminalidade de Cuiabá...................................... 88 CAPÍTULO VI 6. RESULTADOS E ANALISES 6.1 Dados sobre fatores socioeconômicos do Estado de Mato Grosso e de Cuiabá que potencializam a criminalidade ............................................................................... 92 6.1.1. Índices de Emprego .................................................................................. 92 6.1.2. Índices de Renda Percapita ...................................................................... 96 6.1.3. Índices de Moradia ................................................................................... 97 6.1.4. Índices da Área de Educação ................................................................... 99 6.1.5. Índices da Área de Saúde ....................................................................... 101 6.1.6. Índices de Desenvolvimento Humano .................................................... 102 6.2 Dados sobre os fatores neuropatológicos que potencializam a criminalidade em Cuiabá-MT ................................................................................................................. 104 CAPÍTULO VII 7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES 7.1 Conclusões ............................................................................................................. 109 7.1.1. Conclusão sobre os Fatores Socioeconômicos ......................................... 109 7.1.2. Conclusão sobre Aspectos Neuropatológicos .......................................... 110 7.2 Sugestões ............................................................................................................... 113 8. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 115 9. ANEXOS ..................................................................................................................... 116 Capítulo I 1. INTRODUÇÃO A criminalidade é um assunto de caráter mundial, de acordo com o Sociólogo Emile Durkheim (1858 -1917) o crime é um fenômeno social normal, pois é um traço generalizado de todas as sociedades e está ligado às condições gerais da vida coletiva, apesar de que isso não significa que este fenômeno não esteja livre de limites, pois conforme sua intensidade, traz grandes prejuízos para sociedade. Não poderíamos chamar de anormal um fenômeno que está presente em todas as sociedades e faz parte de sua própria constituição, pois uma sociedade sem crimes, seria impossível porque o crime é um ato que ofende sentimentos coletivos muito importantes para a sociedade, e para que não fossem mais praticados, seria necessário que todas as pessoas rejeitassem a violência e o crime de forma definitiva, seria pensar de que um dia todos os seres humanos acordassem e dissessem para si mesmo, que “a partir de agora, jamais cometerei um ato de violência contra meu próximo ou qualquer ação que vá de encontro as normas estabelecidas por Deus e pela sociedade”. A implementação de políticas de redução da criminalidade e da violência e a garantia da segurança dos cidadãos é hoje um grande desafio para o governo federal, os governos estaduais , os governos municipais e a toda sociedade brasileira. Em algumas regiões do país os índices são alarmantes, principalmente nas periferias das regiões metropolitanas. O crime organizado tem atuado de maneira bem expressiva, e tem se instalado em várias regiões do país, a ponto de corromper e enfraquecer as organizações públicas e privadas, chamando para si, pessoas dos mais diversos setores da sociedade, inclusive aqueles que são responsáveis pelo controle da criminalidade. A sociedade, de maneira geral, postula providências das autoridades, que por sua vez demonstram não dominar o conhecimento sobre as causas da criminalidade e da violência, o que gera tristemente em ações imediatistas, em sua maioria sob pressão da mídia, cujos resultados pouco interferem no contexto, pois visam os efeitos da violência e não as causas, e conhecendo melhor as origens do problema, é que se pode realizar ações mais eficazes, e que alcançam resultados mais expressivos. Por isso tivemos como objeto de estudo A prevenção do Crime e contravenção sob a análise criminal, que para obter um conhecimento necessário, pesquisamos sobre o significado do crime e suas origens, a pessoa do criminoso e sua conduta, os processos socioeconômicos que influenciam a conduta delinqüente, assim como achar medidas de prevenir as infrações. A criminalidade nos tempos de hoje, tem trazido sérios problemas que influenciam em vários fatores da vida do ser humano e da sociedade como um todo, por isso tem preocupado vários estudiosos na busca de apontarem uma solução para minimizarem o crescimento da violência e reduzir os índices de criminalidade. Decerto que não é uma questão muito fácil, pois o entendimento do comportamento humano é complexo, ainda mais quando se trata de comportamentos desviados da normalidade humana e de regras sociais, assim ao pesquisarmos o Tema: Análise Criminal com a prevenção do crime e contravenção, procura desenvolver os capítulos e conteúdo tendo como foco de pesquisa o seguinte problema: Como prevenir as infrações penais subsidiando-se da analise dos fatores que potencializam a criminalidade ? Para chegarmos a um resultado dividimos o problema em duas perguntas, sendo: Quais os fatores socioeconômicos que potencializam a criminalidade em Cuiabá? E quais os fatores psicopatológicos que potencializam o comportamento humano, direcionando-o para o cometimento de infrações ? Com estes focos fizemos uma contextualização do crime, com suas origens, características e conceitos da infração penal, da conduta delituosa, várias teorias da causa do delito, todos estes aspectos na área das ciências jurídicas. Estudamos e pesquisamos vários autores que estudam o crime de maneira multifatorial, ou seja, abrangendo os vários fatores que influenciam no comportamento do delinqüente, a violência na sociedade e os caminhos da criminogênese, abordamos neste trabalho teorias que sustentam o estudo do crime, pois ressaltamos de maneira geral a Criminologia e junto com ela todo o aparatode teorias e estudos no campo social, ontogenético e neurobiofisiopatológico. Tivemos como objetivo principal achar a possibilidade de fazer a prevenção das infrações penais, sob a análise dos fatores que potencializam a criminalidade. Analisar os fatores socioeconômicos que interferem na criminalidade e os fatores psicopatológicos que influenciam o comportamento humano, direcionando-o para o cometimento de infrações penais. Buscamos primeiramente nas ciências jurídicas os conceitos de crime, em seguida fomos verificar as teorias que abrangem os fatores da criminogênese, para que em seguida, fizéssemos uma abordagem na criminalidade no Brasil, no Estado de Mato Grosso, e na cidade de Cuiabá. Por fim fizemos o levantamento dos fatores socioeconômicos e dos fatores psicopatológicos que potencializam a violência e a criminalidade para no final acharmos soluções e caminhos que propiciem um eficiente combate eficaz a estes fenômenos. Capítulo II 2. CONTEXTUALIZAÇÃO DO CRIME 2.1 CONTEXTO DO CRIME Para contextualizar o crime primeiramente vamos transcrever parte de um diálogo produzido pelo Professor Edmilsom José da Silva Junior, encontrado no site www.conjunturacriminal.com.br.htl, que faz uma abordagem de fácil entendimento sobre o conceito de crime: “O crime não existe?”. - Calma! Não tire conclusões apressadas. Pense comigo: o que é crime? - Fácil. Crime é todo fato que a lei proíbe sob ameaça de uma pena... qual o problema? - Problema!? Nenhum. Se crime é a transgressão da lei penal, a questão está resolvida. Quem cria os crimes é o legislador. Basta que ele defina menos fatos como crimes e teremos diminuído a onda de criminalidade. Melhor ainda, se ele não definir nenhum... - Êpa! não é assim, não. O legislador define como crime os comportamentos que ofendem ou ameaçam um valor fundamental para a coexistência social. - Ah! então uma conduta que põe em risco a vida na Terra deve ser o pior dos crimes. Penso na fabricação de bombas atômicas, por exemplo. - Não, aí não. Isso é atividade do Estado. Crime é ação humana, coisa de indivíduo, pessoa humana.” Como podemos verificar o crime é criado primeiramente com relação a um ato conceituado como ofensa a algum valor. Depois temos um processo de significação desses atos. Assim, para que existam novos crimes, basta que o legislador faça novas leis. Essa inflação de leis penais não ocorre por acaso. Os dados da realidade indicam que ela está relacionada com o mito da punição, os meios de comunicação de massa e a clientela eleitora dizem o Professor Edmilsom. Parte da sociedade imagina que a pena é um fator determinante para inibição dos infratores, veremos nos capítulos a seguir, a multiplicidade de fatores que influenciam a conduta delitiva. 2.2 SURGIMENTO DO CONCEITO DE INFRAÇÕES PENAIS; Encontramos na Obra de Damásio E. de Jesus: Direito Penal, 1º Volume, Parte Geral, capítulo XI, que no antigo Direito Romano, as infrações eram conhecidas como Noxa, segundo Mommsen, era o termo designativo da conduta delitiva, mais tarde passou a se chamar Noxia, que significava dano, o qual estava ligado aos conceitos de reparação e retribuição ao mal causado, dando mais importância aos efeitos do ato delitivo do que o significado da infração. Na Idade Média, começaram a empregar os termos crimen, que indicava infração leve e delictum que indicava infração grave. Hoje nos países de língua castelhana empregam-se os termos “delitos”, “crime” e “contravenção”, sendo que “infração” designa as três condutas delituosas. 2.3 CONCEITO DE INFRAÇÕES PENAIS Primeiramente antes de conceituar, se faz necessário comentar sobre o significado da expressão “infração”, que para colaborar, vamos mencionar o renomado jurista Damásio E. de Jesus que na obra: Direito Penal, 1º Volume, Parte Geral, capítulo XI, fala que entre nós, doutrinariamente, o termo “infração” é genérico, abrangendo os “crimes” ou “delitos” e as “contravenções”. Pode ser empregado o termo delito ou crime. O Código Penal usa as expressões “infração”, “crime” e contravenção”, aquela abrangendo estes. O Código de processo penal emprega o termo “infração”, em sentido genérico, abrangendo os crimes (ou delitos) e as contravenções (ex: arts. 4º, 70, 72, 74, 76, 77, 92 etc.). Outra vezes usa a expressão “delitos” como sinônimo de “infração” (ex: arts. 301 e 302). Agora, conceituando as infrações, vamos dar desenvolvimento ao estudo do crime sob o aspecto jurídico-penal em que há quatro sistemas de conceituação do crime: a) Formal: Formalmente, conceitua-se crime sob o aspecto da técnica jurídica, do ponto de vista da lei: Crime é um fato típico e antijurídico. b) Material: Materialmente tem-se o crime sob o ângulo ontológico, visando à razão que levou o legislador a determinar como criminosa uma conduta humana, a sua natureza danosa e sua consequência: Crime é a violação de um bem penalmente protegido. c) Formal e material: Carrara (Ob. E loc. Cits., pg48, par. 21), adota o critério substancial e dogmático, definindo o delito como” a infração da lei do Estado, promulgada para proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo do homem, positivo ou negativo, moralmente inputável e politicamente danoso”. d) Formal, Material e Sintomático: Ranieri (Diritto penale; parte generale, Milano,1945. Pg 79) define o delito como “fato humano tipicamente previsto por norma jurídicasancionada mediante pena em sentido estrito (pena criminal), lesivo ou perigoso para bens ou interesses considerados merecedores da mais enérgica tutela” constituindo “expressão reprovável da personalidade do agente, tal como se revela no momento de sua realização”. Segundo Bettiol, Direito penal, traduzido por Paulo José da Costa Junior e Alberto Silva Franco, Revista dos Tribunais, 1996, v. 1, pg 209, diz que dos quatro sistemas , dois predominam: O formal e o material. O primeiro apreende o elemento dogmático da conduta qualificada como crime por uma norma penal. O segundo vai além, lançando olhar às profundezas das quais o legislador extrai os elementos que dão conteúdo e razão de ser ao esquema legal. Finalizando, na Lei de Introdução ao Código Penal Brasileiro, Decreto -Lei nº 3.914 de 09/12/1941, encontramos no 1º artigo a definição de crime, como se vê abaixo: “Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.” Como podemos observar, devido o caráter dogmático do Direito Penal, o conceito de crime é essencialmente jurídico. Porém o nosso Código Penal vigente não contém uma definição de crime, que fica conceituado através das doutrinas dos diversos juristas que definem o ilícito penal sob vários aspectos , porém para contextualizar nosso trabalho de definições, mostraremos outra linha de pensamento apresentada por Mirabett que diz que a definição do ilícito penal tem sido observado sob três aspectos diversos. Atendendo-se ao aspecto externo, puramente nominal do fato, obtém-se uma definição formal; observando-se o conteúdo do fato punível, consegue-se uma definição material ou substancial; e examinado-se as características ou aspectos do crime, chega-se a um conceito, também formal, mas analítico da infração penal. Estas definições são melhores apresentadas nos próximos itens a seguir. 2.3.1 CONCEITOS FORMAIS O conceito formal cita: “Crime é o fato humano contrário à lei” (Carmignani). “Crime é qualquer ação legalmente punível.”1 “Crime é toda a ação ou omissão proibida por lei sob ameaça de pena”2 “Crime é uma conduta (açãoou omissão) contrária ao Direito, a que a lei atribui uma pena.”3 Essas definições atendem alguns aspectos do fenômeno criminal. 2.3.2 CONCEITOS MATERIAIS Segundo Mirabeti a melhor orientação para obtenção de um conceito material de crime, como afirma Noronha, é aquela que tem em vista o bem protegido pela lei penal.1 Tem o estado a finalidade de obter o bem coletivo, mantendo a ordem, a harmonia e o equilíbrio social, qualquer 1 MAGGIORE, Giuseppe. Diritto Penale. 5. ed . Bolonha, Nocola Zanuchelli Editore, 1951. v. 1. p. 189. 2 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal; parte geral. 4. ed. Rio de Janeiro, Forense, 1980. p. 148. 3 PIMENTEL, Manoel Pedro. O crime e a pena na atualidade. Saião Paulo, revista dos Tribunais, 1983. p. 2. 1 Cf. Noronha, E. Magalhães. Direito penal. 15. Ed. São Paulo. Saraiva. 1978. v. 1 . p. 105 que seja a finalidade do Estado (bem comum, bem proletariado etc.) ou seu regime político (democracia, autoritarismo, socialismo etc.). tem o Estado que velar pela paz interna, pela segurança e estabilidade coletivas diante dos conflitos inevitáveis entre interesses dos indivíduos e entre os destes e os do poder constituído. Assim, obtemos alguns conceitos dos crimes materiais ou substanciais como: “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal.”2 “Crime é a ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena, ou que se considere afastável somente através da sanção penal.”3 “Crime é qualquer fato do homem, lesivo de um interesse, que possa comprometer as condições de existência, de conservação e de desenvolvimento da sociedade.”4 2.3.3 CONCEITOS ANALÍTICOS Neste caso conceitua-se o crime como ação típica, antijurídica e culpável. Esses conceitos são definidos pelos autores que seguem a teoria causalista (naturalista, clássica, tradicional) e pelos autores da teoria finalista da ação (ou da ação finalista). Explorando o tema da Culpabilidade, verificamos uma subjetividade que liga a ação ao resultado, ou seja, no dolo quando se pretende o resultado ou assumi-se o risco de produzi-lo ou na culpa em sentido estrito, quando se dá causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Refere-se também quanto à existência de fato típico que é composto de uma ação, resultado, nexo causal e tipicidade e antijurídico, quando se examinar o elemento subjetivo, ou seja, dolo ou culpa em sentido estrito e, assim, a culpabilidade. 2.3.4 ILÍCITO PENAL E ILÍCITO CIVIL Não há diferença ontológica entre os dois crimes, pois ambos ferem o ordenamento jurídico. A única diferença entre ilícito penal e ilícito civil é meramente formal, pois o ilícito penal é 2 NORONHA, E. Magalhães. ob. cit. p. 102; 3 FRAGOSO, Heleno Cláudio. ob. cit. p. 149. 4 BETTIOL, Giuseppe. Direito penal; parte geral. Coimbra, Coimbra Editora, 1970. v. 2. n. 9. estabelecido pela lei penal. Estabelece o legislador, através das figuras penais, quais os ilícitos que devem ser reprimidos através de sanções penais, prevendo-os como ilícitos penais, enquanto os demais estarão sujeitos apenas ás sanções civis (indenização, restituição, multa civil etc.), administrativas (suspensão e demissão de funcionário, etc.), tributárias (multa tributária, acréscimos, etc.) etc. estes serão então ilícitos civis, administrativos, tributários, etc. 2.4 FATO TÍPICO 2.4.1 ELEMENTOS DO FATO TÍPICO Sabendo-se que o crime é um fato típico e antijurídico. Para que se possa afirmar que o fato concreto tem tipicidade, é necessário que ele se contenha perfeitamente na descrição legal, ou seja, que haja perfeita adequação do fato concreto ao tipo penal. Deve-se, por isso, verificar de que se compõe o fato típico. São elementos do fato típico: a) conduta (ação ou omissão); b) o resultado; c) a relação de causalidade; d) a tipicidade. Caso o fato concreto não apresente um desses elementos, não é fato típico e, portanto, não é crime. Excetua-se, no caso, a tentativa, em que não ocorre o resultado. 2.4.2 TEORIAS SOBRE A CONDUTA Não há crime sem ação (nullum crimem sine conducta). É sobre o conceito de ação (que se pode denominar conduta, já que a palavra ação tem sido amplo, que abrange a ação em sentido estrito, que é o fazer, e a omissão, que é o não fazer o devido) que repousa a divergência que repousa a divergência mais expressiva entre os penalistas. Conforme o sentido que se dê à palavra ação, modifica-se o conceito estrutural do crime. Para examinar melhor ainda se segue, as teorias mais divulgadas como: a teoria causalistas, a teoria finalista e a teoria social da ação. 2.4.3 CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E ELEMENTOS DA CONDUTA Em pesquisa sobre conduta, verificamos uma boa explanação didática sobre conduta em Damásio E. de Jesus que na obra: Direito Penal, 1º Volume, Parte Geral, capítulo XXI, em que encontramos os conceitos de conduta, suas características e seus elementos, que passamos a escrever: “Conduta é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada finalidade” Este conceito tradicional: conduta (ou ação), em sentindo amplo, é um comportamento humano voluntário consciente num movimento ou abstenção de movimento corpóreo (antiga posição de José Frederico Marques, Tratado de Direito Penal, Saraiva,1956, v.2, p.50) (conduta e ação). Neste contexto o autor apresenta as seguintes características: a) A conduta se refere ao comportamento do homem, não dos animais irracionais. O ato do homem, por sua vez, só constitui conduta como expressão individual de sua personalidade. Como vimos, sujeito ativo do delito nas infrações penais comuns só pode ser uma pessoa física. A pessoa jurídica não é capaz de delinqüir no tocante a crimes comuns, como furto, homicídio etc. Na lei nº 9.605, de 12/02/1998, em seus artigos 3º e 21 a 24, admite a responsabilidade penal da pessoa jurídica em relação a delitos ambientais. b) Só as condutas corporais externas constituem ações. O Direito Penal não se ocupa da atividade puramente psíquica. c) A conduta humana só tem importância para o Direito Penal quando voluntária. d) O comportamento consiste num movimento ou abstenção de movimento corporal. Daí os elementos da conduta, que são: a) Um ato de vontade dirigido a uma finalidade; b) Atuação positiva ou negativa dessa vontade no mundo exterior (manifestação da vontade por meio de um fazer ou não fazer). O primeiro elemento é um ato de vontade dirigido a um fim. De acordo com Welzel, a vontade abrange: a) O objetivo pretendido pelo sujeito; b) Os meios usados na execução; c) As conseqüências secundárias da prática O segundo elemento da conduta é a manifestação da vontade, que Soler chamava de atuação. É o movimento ou abstenção do movimento corpóreo. Podemos falar, então, tendo em vista os dois elementos, em ato (em sentido amplo) voluntário, que se distingue das demais formas pela sua natureza intelectual ou racional. É, por assim dizer, a fase final de um processo ativo que começa no campo intelectual e termina na esfera muscular. Neste contexto o autor considera os seguintes aspectos: a) O aspecto psíquico, de caráter eminentemente funcional; b) O aspecto mecânico ou neuromuscular, que consiste no conjunto de impulsos de ordem psíquicas que atuando sobre os centros nervosos, determinam ou não os movimentos dos músculos estriados. Por fim, a conduta não pode ser confundida com o ato. Este é um momento daquela, por exemplo: se um indivíduo mata outro com diversas perfurações de faca, cada facada corresponde a um ato, mas haveráuma só conduta. Capítulo III 3. ESTUDO DO CRIME 3.1 TRANSTORNO MENTAL DO CRIMINOSO 3.1.1 TRANSTORNO MENTAL Esta é matéria da psicopatologia criminal e da psiquiatria forense. O estudo específico do doente mental estaria afeto à psiquiatria forense, mas o estudo do anormal psíquico tem grande interesse em Criminologia. A Criminologia da maior ênfase ao estudo do anormal, do psicopata, em seu sentido estrito. Sem embargo da menor incidência da criminalidade do doente mental, é necessário o seu estudo criminológico para tratamento penitenciário e a prevenção criminal. 3.1.2 CLASSIFICAÇÃO Quanto ao transtorno mental, que divide em dois grupos: a) enfermidade mental (psicose e neurose); b) estado normal (oligofrenia e psicopatia). Aproxima-se dessa classificação a de Beca Soto, referido por Nelson Hungria: a anormalidade psíquica compreende três grupos: psicoses, psicopatias e oligofrenia. Essa classificação não contemplou o grupo das neuroses. Segundo Hesnard, o neurótico é incapaz de assumir um ato agressivo grave, exceto no seu mundo fantástico e simbólico. Todavia a delinqüência seria compatível com as tendências neuróticas. 3.1.3 PSICOSE E NEUROSE Há vários critérios para a definição da desordem mental, antes da classificação das psicoses para o estudo das principais espécies, conviria assinalar a s diferenças entre psicose e neurose. A neurose é uma doença de sintoma psíquico, tal como uma obsessão, uma angústia, uma fobia, com a caracteriza Lopes-Ibor1. Os sintomas somáticos são projeções dos sintomas psíquicos, expressão simbólica de um conflito psíquico. A asma da mulher no leito conjugal exprime sua repulsa pelo marido e o desejo pelo outro. A paralisia do soldado, o desejo de não ir ao front. Os vômitos da jovem, o medo da gravidez. Com esta noção de neurose, pode-se distinguir neurose e psicose. Na neurose o indivíduo reconhece que está enfermo e quer melhorar. Na psicose, ao contrário, o indivíduo não percebe a sua doença. 3.1.4 PSICOSE O nosso autor, Jason Albergaria aborda a psicose dizendo que é classificada em dois tipos: a psicose orgânica e a psicose funcional. Segundo Clinard,2 as psicoses de base orgânica 1 LOPES-IBOR. (Structure et liberté Études carmelitaines), Paris: Desclée de Brouwer, 1958 2 CLINARD, M. B. Anomia y conduta desviada. Buenos Aires: Paidos, 1967 estão ligadas a algum germe, lesão no cérebro ou desordem fisiológica. As psicoses orgânicas mais importantes são a psicose senil, paralisia geral e psicoses alcoólicas, que não seriam hereditárias. A psicose funcional é uma desordem mental sem base orgânica. A desordem mental funcionaria para ajustar o indivíduo às suas dificuldades particulares; daí o termo “funcional”. Citado autor ressalta que a desordem a desordem mental deve ser considerada como desvio de normas, e pode ser entendida em termo de reação social para certo comportamento. As psicoses funcionais são as que mais interessam ao sociólogo e ao criminólogo. São tipos de psicose funcional: a esquizofrenia, a ciclofrenia e a epilepsia genuína. Será conveniente breve notícia sobre cada tipo dessa psicose, sem intromissão nos domínios da psiquiatria. Sutherland dá uma rápida visão sobre os tipos de transtorno mental. Clinard vai mais longe, descendo a pormenores sob o enfoque sociológico. Hurwitz3 estende-se sobre a matéria tocando a área da psiquiatria forense. 3.1.5 ESQUIZOFRENIA A esquizofrenia é considerada com maior interesse pelo criminólogo. A esquizofrenia é o transtorno mental mais comum, mas a sua natureza é a que provavelmente menos se entendeu. 3 HURWIRZ, S. Criminologia. Madri: Ariel, 1956 Alguns autores, em razão desse grupo de enfermidades, distinguem a “esquizofrenia autêntica” das “síndromas esquizofrênicas”. A esquizofrenia autêntica evoluiria para a demência; no caso de remissão, seriam síndromas esquizofrênicas. As características mais comuns do grupo são a evolução da enfermidade para mudança da personalidade, e um dos sintomas mais importantes é isolamento do indivíduo do meio circundante, isto é, o autismo. Os psiquiatras indicam os sintomas principais da esquizofrenia; cisão da mente; transitivismo; ambivalência afetiva; desdobramento da personalidade; autismo. Considera-se que 60% da população dos hospitais psiquiátricos compõem-se de esquizofrênicos. De outra parte, observa-se que a esquizofrenia ocorre em todos os níveis socioeconômicos, mas há predominância da enfermidade nos níveis socioeconômicos mais baixos. Quanto à etiologia da esquizofrenia, há duas correntes que explicam a sua origem: a organicista e psicodinâmica. Para a concepção organicista, a esquizofrenia é hereditária, com base orgânica desconhecida. A esquizofrenia tem lugar só no indivíduo predisposto, como resultado de uma interação de fatores constitucionais e fatores ambientais posteriores. Para a teoria psicodinâmica, a esquizofrenia deriva dos conflitos emocionais nos primeiros meses de vida: a mãe esquizofrênica cria os complexos emocionais no ambiente da criança. Fala-se em mãe “esquizofrenogênica”. Segundo essa teoria, os primeiros períodos de relação entrem a mãe e as lactentes foram deficientes, uma vez que a patologia do enferno adulto sugere um isolamento regressivo para a conduta emocional infantil. Em razão da depressão efetiva da mãe “esquizofrenogênica”, são anormais os cuidados maternos, pois ela não brinca com filho como as mães normais. São tipos de esquizofrenia: esquizofrenia simples, esquizofrenia hebefrênia, esquizofrenia catônica, esquizofrenia parnóide. Langeluddeke dá idade como critério desses tipos de esquizofrenia. No tipo simples, o transtorno afeta a emoção e a atividade. Não há alucinação e delírio. Há indiferença pela atividade escolar ou profissional. Os marginais se constituem em sua maioria de esquizóides do tipo simples. O tipo hebefrênico ocorre na puberdade. Há alucinação e delírio. Há traços regressivos. É freqüente a desintegração final da personalidade. A esquizofrenia catatônica ocorre na terceira década da vida. Seus sintomas são: estupor, excitação, negativismo e automatismo. O automatismo também é comum na catatonia. O enfermo catatônico é o que com mais freqüência mostra uma conduta impulsiva e imprevisível. A esquizofrenia, paranóide verifica-se normalmente na quarta década. Os traços mais evidentes do tipo paranóide são as idéias delirantes, as alucinações, o negativismo. O prepsicótico se caracteriza por sua defeituosa relação interpessoal. Foi retraído, frio e desconfiado. As idéias de perseguição são as mais freqüentes. A delinqüência do esquizofrênico afina- se com o tipo de esquizofrenia. Na esquizofrenia simples, as infrações mais freqüentes são a vadiagem, delitos por omissão, abandono da família. No tipo hebefrênico, delitos contra os costumes, exibicionismo, fuga. Na esquizofrenia catatônica, homicídio e lesões corporais. O tipo paranóide é o mais perigoso: delitos contra pessoa, injúria e calúnia. O esquizofrênico é inimputável na fase aguda da psicose; na remissão, semi-imputável ou imputável, conforme o caso. O interesse criminológico de estudo da esquizofrenia reside nas medidas de prevenção e tratamento do prepsicótico ou psicótico, principalmente, quando à adoção de medidas de higiene mental na escola primária ou secundária. Deve-se promover desde cedo a socialização sadia e a adaptação da personalidade do menor tímido, retraído, isolado e pouco sociável a seu ambiente. 3.1.6 CICLOFRENIA A ciclofrenia ou psicose maníaco- depressiva compreende váriasformas que antes formam estudadas como entidades independentes (mania, melancolia, loucura intermitente). o Traço fundamental desse grupo de enfermidades é a mudança mórbida da afetividade, inclinada para o pólo melancólico ou para o pólo maníaco. A fase maníaca defina-se pela euforia idéia de grandeza e atividade. Na fase melancólica, há perda de autoconfiança, inibição e diminuição de atividade. A mania pode levar ao delito. A melancolia, ao suicídio. A ciclofrenia é mais freqüência nas mulheres, sobretudo na mulher agressiva. É mais comum na classe social alta e entre profissionais. A admissão nos hospitais é de 15% dos que ingressam. A delinqüência na ciclofrenia varia segundo suas fases. Na fase da exaltação, os crimes são relativos a excessos de bebida e do sexo: pequenas fraudes e crimes sexuais. Na fase da depressão: o crime por omissão e o crime de família (Mitnahmemord). 3.1.7 EPILEPSIA Entende-se hoje que não é uma entidade patológica, mas um complexo de sintomas que se caracteriza por episódios periódicos e transitórios do estado de consciência que podem associar- se a movimentos convulsivos ou transtornos de conduta. Fisiologicamente, a epilepsia pode considera-se como um transtorno da atividade eletrofísico-química das células do cérebro que produzem descargas. A epilepsia genuína ou idiopática teria origem endógena. Nos pais epilépticos. Descrevem-se três tipos de epilepsia: o grande mal, o pequeno mal e a crise psicomotora ou equivalente psíquico. A crise do grande mal é a forma mais espetacular da epilepsia. O grande mal compreende as seguintes fases: aura, fase tônica (contração muscular), fase crônica (agitação e convulsão) e coma. A aura é o aviso da iminência da crise: formigamento, sensação desagradável no epigástrio, alucinação. A aura é a primeira manifestação da descarga dos neurônios. A fase tônica caracteriza-se pela perda completa da consciência e a queda do indivíduo. As contrações duram de 10 a 20 segundos. Na fase crônica, há contrações musculares intermitentes. Segue-se o coma, caindo o indivíduo em sono profundo. As convulsões podem ocorrer também durante o sono. No pequeno mal, há uma transitória interrupção da corrente da consciência. A perda da consciência é de 5 a 30 segundos. Na crise, não há aura que a preceda. O paciente não cai. Permanece imóvel, o olho fixo. Solta qualquer objeto que tenha nas mãos. Há ligeiras contrações nas pálpebras e sobrancelhas. O pequeno mal é mais freqüente na infância e tende a desaparecer depois de 18 anos. O menor com o pequeno mal é inadaptado social e emocionalmente. A epilepsia psicomotora assemelha-se ao pequeno mal, mas é mais comum no adulto. A amnésia persiste de meio há vários minutos. Há movimentos dos músculos e mastigação, deglutição e fala. O estado de obnubilação sugere um delírio com liberação de impulso agressivo e, às vezes, autodestrutivo. Durante estes automatismos podem ser cometidos atos de violência. Estes furores se caracterizam pelo repentino de sua aparição, por falta de premeditação e precaução. A importância criminológica da epilepsia foi exagerada por Lombroso. Não há fase cientifica para aferi-se a tendência criminal do epiléptico. A epilepsia pode dar causa à irresponsabilidade, e o delinqüente ficaria sujeito a medida de segurança. O crime do epiléptico é violento e brutal. Os delitos que pratica são contra a pessoa e contra os costumes. O incendiário é, via de regra, epiléptico. Hoje o prognóstico do epiléptico é favorável, com o emprego do eletroencefalograma e de drogas que suprimem os fenômenos epilépticos. A educação popular também diminui o estigma social da doença. O prognóstico é pior no pequeno mal. 3.1.8 PSICOSE ALCOÓLICA Mezger4 considera no alcoolismo três grupos de fenômenos: a embriaguez patológica, o alcoolismo crônico e a embriaguez alcoólica aguda. O estudo do alcoolismo em Criminologia é considerado o ponto de vista causal, acentuando que o alcoolismo crônico influi na etiologia da delinqüência, como as outras toxicomanias. Sempre se afirmou que o alcoolismo é o maior responsável pela criminalidade. Todavia, há uma corrente que entende que o alcoolismo e a delinqüência são provocados por fatores sociais e psicológicos semelhantes. 4 MEZGER, E. Criminologia, Revista da Derecho Privado. Madrid, 1942 O alcoolismo deve considerar-se uma enfermidade psíquica que tem sua raiz no transtorno ou imaturidade de personalidade. A embriaguez patológica consiste numa reação mórbida provocada por pequena dose de álcool, por motivo de especial intolerância alcoólica. É uma psicose tóxica, mais do campo da psiquiatria. A embriaguez habitual do alcoolista crônico é uma psicose adquirida. Manifesta-se por defeitos éticos e enfraquecimento da vontade. A embriaguez aguda é uma perturbação do espirito artificialmente produzida. É uma genuína psicose da intoxicação . Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde, “alcoolistas são bebedores excessivos ou compulsivos, em quem a dependência do álcool é tal, que apresentam, tanto uma perturbação mental, ou perturbação que lhes acometem a saúde física e mental, suas relações interpessoais ou sua conduta social e econômica, como os prôdomos de alterações desse gênero. São doentes e devem, portanto, ser tratados”. E divide os alcoolista em quatro grupos: a) alcoolismo recente, sem etiologia neurótica grave; b) alcoolismo em estágio médio, com sintomas neuróticos; c) toxicomania alcoólica e alcoolismo com manifestações psicóticas; d) alcoolismo com degeneração aparentemente irreversível. Há influxos sociais evidentes, como costumes regionais, o uso atual de coquetéis. Se o indivíduo é emocionalmente dependente pode recorrer ao álcool pode satisfazer necessidades psicológicas de raiz profunda: alívio de tensões produzidas por conflitos, ressentimentos, frustrações e outras fontes de angústias. Não se sabe por que o indivíduo usa álcool em lugar de outros métodos de defesa ou escape: psicossomáticos ou psicóticos. O alcoólico pode buscar no episódio da embriaguez o escape a um “superego” demasiado estrito. Angústias, frustrações, fixações no desenvolvimento psicossexual e tensões prolongadas de situações difíceis constituem fontes de motivações inconscientes para o alcoolismo. A criminalidade alcoólica é uma criminalidade específica. Manifesta-se nos delitos de homicídio, lesões, delitos sexuais, maus-tratos a menores e delitos por imprudência. Segundo dados de Kinberg,5 85% de homicídios e 75% de lesões são cometidos sob influência alcoólica. Nos casos de maus tratos de criança, sua quase totalidade, os pais são alcoólatras. Segundo recente pesquisa de Badonel e Marchais na França, 65% de estupros e 45% de incêndios tiveram influência do alcoolismo. Nos delitos por imprudência, avulta a delinqüência do automóvel. Segundo Heuyer, em 70% de acidentes de automóvel os autores estão sob impregnação alcoólica, salientando que também as microdoses de álcool são nocivas, pela leve excitação, gosto do risco e diminuição da capacidade de controle da máquina. A Organização Mundial da Saúde, diz que os alcoolistas são doentes, e como doentes devem ser tratados. O alcoolismo, considerado como problema moral, obstou ao tratamento de alcoólatra como enfermo mental. O alcoólico é uma personalidade dependente e, por isso, necessita de apoio contínuo durante um longo período, com freqüência durante anos. 3.1.9 TOXICOMANIA A Organização Mundial da Saúde define a adição a drogas como um estudo de intoxicação periódica ou crônica, prejudicial ao indivíduo e à sociedade, produzido pelo consumo repetido de uma droga. Suas características são: um desejo invencível ou necessidadede continuar tomando droga. A droga é natural ou sintética. São drogas naturais: ópio, cocaína, maconha. São drogas sintéticas os barbitúricos, as anfetaminas e os alucinógenos (LSD, mescalina). Com, o desenvolvimento da psicofarmacologia, aumentou o número de drogas sintéticas. As drogas se classificam 5 KINBERG, O. Actes du II Congrés International de Criminologie, v. 5. em cinco grupos: depressivas (ópio, morfina e heroína); excitantes (cocaína); tranqüilizantes(barbitúricos); estimulantes(anfetaminas); alucinógenos (LSD). O uso da droga, que era comum nos países subdesenvolvidos, estende-se à sociedade industrial. Nos países da América Latina, o uso do estupefaciente constitui fato cultural enraizado na prática religiosa, na medicina tradicional e no sistema econômico. A toxicomania limitava-se aos meios médico e artístico, a cultura da pílula, exemplo da pílula para dormir, permanecer desperto, emagrecer, engordar, acalmar ou excitar, e até para a infecundidade. Uma publicação da ONU registra, no Irã e Tailândia, a heroinomania cresce em progressão geométrica e afetará a um terço da população de uma geração. Quatro milhões da população da Índia mastigam a folha da coca. Vinte milhões de seres humanos abusam da Cannabis. È considerável o abuso do LSD na Suécia, Estados Unidos e Inglaterra. Fala-se até em explosão da toxicomania. Os toxicômanos são pessoas emocionalmente imaturas, hostis e agressivas, que usam a droga como alívio de uma tensão interior, interessa à Criminologia o estudo de seus efeitos no comportamento social do indivíduo. O morfinômano pode chegar à ruína moral, ao abandono da família, chegando ao crime. O efeito do hábito é a alteração do sentido ético mais elevado. Entre os sintomas da abstinência está o pânico, que pode elevar o crime, o que daria causa à inimputabilidade. O cocainômano é quase sempre psicopata grave e está na classe mais baixa; rufião e prostituta. Também há degradação moral e abandono da profissão e da família. A cocaína, ao contrário da morfina, leva à deterioração das faculdades mentais. A toxicomania barbitúrica ocorre com indivíduos com dificuldade na personalidade. Os barbitúricos produzem síndromas cerebrais agudas e reações delirantes crônica. O barbitúrico é procurado pelo suicida. Cerda de 25% das mortes por intoxicação aguda nos hospitais provêm de barbitúricos. As anfetaminas não provocam a toxicomania. O indivíduo só trabalha sob a ação da anfetamina. Produz. A abstenção sucede a apatia e o pensamento lento. Produzem uma sensação de bem-estar e alegria, o que dá origem a um desejo insaciável pela droga. O abuso dessa droga se apresenta com consumidores de álcool e barbitúricos. Viciados de maconha. Não produz degradação física, mental ou moral. Todavia, a maconha pode precipitar uma reação psicótica em indivíduos de personalidade mal organizada. Inicia o seu usuário no consumo de outras drogas. Diante da impotência de nossa sociedade para reduzir o desejo da droga, não seria mais oportuno e menos hipócrita dar liberdade ao mercado dos produtos menos perigosos para controlá-los melhor a clientela aos traficantes? Proclama-se a necessidade de se intensificarem as investigações científicas sobre esse fenômeno, sobretudo em nível interdisciplinar, aliando-se os aspectos médicos, psicológicos, psiquiátricos, sociológicos e criminológicos. 3.1.10 NEUROSE A neurose é uma doença de sintomas psíquicos: obsessão, fobia, uma crise de angústia.. Os fenômenos somáticos são seqüelas de experiências psíquicas ou expressão de uma crise pessoal na história do indivíduo. Um acontecimento é traumatizante na idade adulta, provoca evoca análogo na infância. A personalidade seria anormal não por anomalia constitucional ou genética, mas por uma série de impactos traumatizantes recebidos ao longo da vida do indivíduo. A neurose seria intermediária entre os mecanismos de defesa e os métodos desorganizados da psicose. Há um alinha de continuidade ininterrupta que se inicia no normal, passa pela neurose e termina na psicose. Os transtornos neuróticos se classificam em: a) reação de angústia; b) reação dissociativa; c) reação de conversão; d) reação fóbica; e) reação obsessivo-compulsiva; f) reação depressiva. A reação de angústia é a forma mais simples de neurose. A angústia se descreve como uma intranqüilidade penosa da mente, uma sensação de expectação apreensiva. Pode surgir com as frustrações ante problemas, como adaptação vocacional, sexual ou matrimonial. O indivíduo sob angústia se mostra tímido, apreensivo e sensível à opinião alheia. A reação dissociativa, quando se desagregam alguns aspectos da personalidade. Os mecanismos de defesa governam a consciência, a memória e todo o indivíduo, com pouca ou nenhuma participação da personalidade consciente. Pode- se classificar como um tipo de histeria de conversão. Uma das mais freqüentes reações é a amnésia, que representa um papel protetor e de escape. Em alguns casos, há perda de identidade pessoal. Reação de conversão é sinônimo de histeria de conversão. A angústia se converte em sintomas funcionais, que afetam órgãos ou partes do corpo. Os sintomas simbolizam um conflito mental, produzindo pela angústia. Exemplo: a paralisia do braço expressa o desejo de executar um ato proibido e impede, de forma ambivalente, a realização desse ato. Outro exemplo: a neurose ocupacional, como a cãibra do escrivão, torção do pescoço, tiques, espasmos da face, pálpebras etc. A reação obsessivo-compulsiva pode expressar em três formas clínicas: a) reaparição persiste de um pensamento desagradável; b) necessidade mórbida e irresistível de executar determinado ato repetitivo e estereotipado; c) pensamento obsessivo para realizar um ato repetitivo. Ás vezes o enfermo tem de lutar contra pensamento repugnantes à sua moral: pensamentos de blasfêmia ou que implicam matar uma pessoa querida. Quanto à etiologia, os autores observam que os fatores emocionais têm papel preponderante ou papel exclusivo. O neurótico mostra, desde a infância traços de personalidade em raiz profunda em seu modo de ser, os quais seriam traços constitucionais, segundo alguns psiquiatras. É provável, porém, que esses traços não sejam herdados, mas que seriam adquiridos no começo da vida. Acredita-se que os padrões neuróticos graves dependem de conflitos e atitudes afetivas que surgiram na infância. A meninice do neurótico pode caracterizar-se por sonambulismo, pesadelo, enurese, transtorno da fala, hábito de roer as unhas, etc. Os fatores ambientais imediatos são causas precipitantes. As neuroses são mais freqüentes nas mulheres que nos homens, porque se exige das mulheres repressão mais rígida das necessidades e instintos, biológicos básicos. A maioria das neuroses dos adultos se desenvolve entre os últimos anos da adolescência e os 35 anos de idade, que é a fase em que o indivíduo enfrenta os problemas das adaptações e responsabilidades do adulto. As frustrações nesta fase podem levar à neurose. São alguns dos fatores etiológicos da neurose: fatores constitucionais, uma série de experiências vitais que o indivíduo não pode enfrentar; impulsos reprimidos, que encontram sua satisfação no sintoma neurótico; atividade substitutiva, quando as atividades são ineficazes ou estão bloqueadas; uma reatualização das experiências perturbadoras no complexo sintomático patológico. 3.1.11 OLIGOFRENIA Por muito tempo sustentou-se que a deficiência mental constituía o principal fator na gênese do delito. Há íntima correlação entre oligofrenia e crime. Recentemente, porém, comprovou-se que é insustentável essa afirmação. A deficiência mental é um estado anormal, como espéciede transtorno mental. Sob o nome oligofrenia agrupam-se os casos de detenção das faculdades psíquicas, isto é, que não alcançavam o nível normal. O demente é um rico que se tornou pobre. O termo oligofrenia apresenta como denominador comum a deficiência mental: designa um grupo heterogêneo de diminuição das faculdades psíquicas que conduzem á deficiência mental e à incapacidade de adaptação social. Os oligofrênicos se dividiam em idiotas, imbecis e débeis mentais. Para a determinação do grau de deficiência mental, emprega-se o quociente intelectual, que resulta da divisão da idade mental do sujeito por sua idade cronológica. As cifras inferiores a 1(um), indicam que o indivíduo tem uma idade mental inferior à normal. Buscou-se no quociente intelectual a chave da definição da oligofrenia. São as seguintes as cifras dos respectivos graus de oligofrenia. a) oligofrenia profunda – Q.I. inferior a 0,40 (idiotia); b) oligofrenia média – Q.I. de 0,40 a 0,60 (imbecilidade); c) oligofrenia leve – Q.I. de 0,60 a 0,80. A oligofrenia profunda se deve a alterações embriológicas ou lesões graves do cérebro, com transtorno morfológico e neurológico. O oligofrênico não seria capaz de andar e levaria vida vegetativa. A oligofrenia de mediana intensidade apresenta malformações e sintomas neurológicos sem relação com a profundidade da idiotia. Esse tipo de oligofrênico apreende a ler e chega assinar o nome. Educados em centros especializados se diferenciam dos que não tiveram educação especial. Podem realizar algum trabalho manual. A indústria moderna poderia aproveitá-lo sob controle. A oligofrenia leve é transição para normalidade. Suas características são: habilidades da atenção, dificuldade para o pensamento abstrato, tendência à repetição, instabilidade afetiva, inquietude psicomotora, sugestionabilidade. Podem ter boa memória e dar impressão de falso brilhantismo intelectual, ocupando postos importantes. As oligofrenias são congênitas e precocemente adquiridas; modernamente, concede-se mais importância aos estudos pré-natais, natais e pós-natais. • Causas durante o nascimento – traumatismo: lesão no cérebro ou asfixia • Causas pós-natais: encefalite e meningite por vírus e bactérias são os fatores mais freqüentes que atuam na produção oligofrenia. A oligofrenia pode associar-se a outros transtornos mentais: psicose, neurose ou psicopatia. O interesse criminológico pelos oligofrênicos centra-se na oligofrenia leve. O oligofrênico com defeito de caráter tende a cometer furtos, incêndios, delitos sexuais e incestos. Os oligofrênicos comentem delitos primitivos, pois são incapazes de praticar os crimes da chamada delinqüência por astúcia ou inteligência. Como medida de prevenção, Noyes e Kolb6 observam, o Estado deve tomar como obrigação descobrir, classificar e proporcionar educação adequada a todas as crianças retardadas, começando na menor idade possível . nos Estados Unidos, procura-se cumprir esta obrigação ao exigir um exame de todos os meninos das escolas públicas que se encontrem atrasadas de três anos em suas classes, e ao instituir especiais para esses meninos. O Instituto dos Advogados de Minas enviou ao Ministério da Justiça um AnteProjeto do Código de Menores do qual são destacados os seguintes artigos: “Art. 28. A Obrigação escolar do menor excepcional estender-se-á até os 18 anos”. 6 NOYES e KOLB. Psiquiatria clínica. México: La P. México, 1970 Art. 29. Serão ministrados ensino especial e iniciação vocacional ao menor física ou mentalmente diminuído em estabelecimento oficiais de ensino profissional e nas escolas primárias oficiais. Art. 30. Uma prioridade de emprego na população de 2% de seu efetivo será reservada ao deficitário pelas empresas vinculadas à Previdência Social, bem como pelas autarquias e empresa públicas. Art. 31. O serviço público reservará para o deficitário físico ou mental reabilitado cargos adequados à sua dimensão profissional, e indicados por uma comissão de técnicos especializados em reabilitação e reeducação. Art. 32. Será admitido ás oficinas de trabalho protegido o menor deficitário, profissionalmente reabilitado, que não puder ocupar nas condições normas, emprego correspondente à sua capacidade profissional. Art. 33. Será organizada a tutela social do menor deficitário reabilitado, para assegurar-lhe a colocação, as prestações da Previdência Social e os subsídios dos órgãos públicos. Art. 121. Em toda escola primária ou profissional, será obrigatório o serviço de saúde escolar, para exame médico de alunos e professores, podendo inspecionar o serviço o Juiz de Menores.”. 3.1.12 PSICOPATIA O termo “psicopata” teria feito má fama, alguns autores preferem substituí- los por “personalidade anormal”. Que seria a variação ou desvio de um campo médio imaginário da personalidade, entendida como um conjunto de sentimentos e valorações, tendências e volições. Da personalidade se exclui a inteligência. Igualmente, se excluem os sentimentos ou tendências corporais. Seria uma anormalidade permanente do caráter e não uma enfermidade, como psicose, nem um defeito intelectual, como a oligofrenia. A American Psychiatric Association classifica em três tipos os transtornos da personalidade: a) as personalidades ciclotímicas, hipomaníaca, melancólica e esquizóide; b) a personalidade compulsiva e a personalidade histérica; c) o grupo sociopático. . Schneider7 estabelece dez tipos de psicopatas: hipertímico, deprimido, inseguro de si mesmo, fanático, supervalorizado do eu, instável emocional, explosivo, atímico ou insensível, hipobúlico e astênico. Desses tipos, os que mais interessam à Criminologia são os seis tipos fundamentais: hipertímicos, fanáticos, supervalorizadores do eu, explosivos, atímicos e hiperbúlicos. O hipertímicos tendem à difamação, à indolência e à fraude; os fanáticos praticam o delito político; os explosivos, delito contra a pessoa; atímicos, assassinato, latrocínio, terrorismo; supervalorizadores do eu, injúria, calúnia e fraudes; hipobúlicos, furtos, fraudes e apropriações indébitas. Embora a matéria da imputabilidade ou não-imputabilidade seja domínio do Direito penal, o assunto pode ser considerado como Política Criminal, no sentido da reforma da legislação penal a tendência favorável a exculpação ou atenuação do crime do psicopata. Assim, o Projeto alemão de 1958 e o grupo de Strasburgo na Unesco, que aprovou a seguinte conclusão: “Entende-se por delinqüentes anormais não só alienados, como, em geral todos os delinqüentes que, por razão de seu estado mental, não podem ser submetidos a métodos penais ordinários. Entre estes anormais psíquicos, que chamados alienados e psicopatas, figuram as categorias médicas seguintes: psicóticos, deficientes mentais, psicopatas e neuróticos.” 3.2 AMBIENTE CRIMINÓGENO 3.2.1 AMBIENTE FAVORÁVEL A disposição e meio, como fatores do delito, são na realidade incindíveis. As circunstâncias do ambiente são filtradas pela vida psíquica do indivíduo. O crime se consuma antes na personalidade que o idealiza e o prepara, para depois realizá-lo sob estímulo do ambiente. Na realização do delito, a personalidade do criminoso não seria independente do mundo circundante, nem o mundo circundante independente da personalidade. Como já foi dito, não se pode dizer onde começa o biológico e onde 7 SCHNEIDER. K. Las personalidade psicopáticas, Madri: Morata, 1968. termina o social, e vice-versa. Mezger diz que , é complicado produto de partes exógenas e endógenas: a dinâmica do meio está inseparavelmente entrelaçada com a personalidade. 3.2.2 AMBIENTE FÍSICOE MUNDO SOCIAL Segundo Exner8, o mundo circundante desenvolve-se em círculos concêntricos, como o meio doméstico, escolar profissional, local, nacional e internacional. Segundo Pinatel9 mencionado por Jason Albergaria, distingue-se o meio circundante em dois grandes grupos: meio físico (geográfico); meio social (ecológico, cultural e econômico). E faz ainda uma subdivisão: meio social geral e meio social pessoal (meio inelutável, meio ocasional, meio escolhido ou aceito, e meio sofrido ou suportado). O meio inelutável compreende a família de origem e sua vizinhança (bairro, rua, etc.) O meio ocasional abrange a escola primária, a escola profissional, o serviço militar. O meio aceito ou escolhido a família própria, a profissão, (a recreação); o meio suportado ou coercitivo (meio policial, ambiente judiciário, subcultura carcerária). No meio inelutável, é a família de origem que se forma a personalidade do indivíduo, através da interação da disposição adquirida e o ambiente. Na socialização da criança ou no processo de identificação, estaria a origem próxima da delinqüência juvenil ou a raiz remota da criminalidade do adulto. No meio ocasional a escola pode ocorrer os primeiros contatos criminógenos. Inadaptação escolar, fuga e ausência, repugnância ou aversão pela aprendizagem profissional e indisciplina ou deserção no serviço militar são freqüentes na vida do menor delinqüente. No meio escolhido, certas condições negativas no ambiente profissional podem provocar a periculosidade do ansioso. o barulho do trabalho, a sua monotonia ou o trabalho em cadeia pode alterar o psiquismo do operário. 8 EXNER, F. Biologia criminal. Barcelona: Bosch, 1946. 9 PINATEL, J. Traité de droit penal et de criminoligie. No meio suportado ou coercitivo, pode- se rastrear a influência criminógena na fase policial, no curso do processo e no mundo carcerário. A prisão preventiva pode ocasionar um choque emotivo ou apariação precoce de uma psicose, ou ainda, ser o começo de uma carreira criminosa. Acentuam-se os efeitos psicológicos causados pela arbitrariedade policial ou pelo temor de uma condenação e destruição de uma reputação. Na saída da prisão, o preconceito, a rejeição social, o abandono da família e a perda da colocação conduzem à reincidência. 3.2.3 TEORIA DO MEIO SOCIAL No passado a teoria do meio social era considerada como fator preponderante do crime: Jason Albergaria ressalta a teoria social do crime de Lacassagene. As condições representariam grande papel na determinação do crime: “É o mal da miséria que produzirá o maior número de criminosos. O meio social é o saldo de cultura da criminalidade; o micróbio é criminoso, elemento que tem importância no dia em que encontrara o caldo o fará fermentar. A sociedade é culpada de todos os delitos. A sociedades têm os criminosos que merecem. O indivíduo é parte integrante do organismo social. O delinqüente é o homem desencaminhado pelo meio social: Tout le monde est coupable, excepté le criminel.” 3.2.4 FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE CRIMINAL Mezger aponta como responsável pelas modificações da personalidade momentos decisivos em sua curva vital, momentos endógenos: as fases críticas da puberdade, da evolução e do senium; e momentos exógenos: golpes do destino, situações aflitivas de pressão, destruição de um apoio firme, morte do cônjuge, perda de uma briga, desemprego, desastre econômico. A mesma evolução é vista sob as perspectivas sociológicas e psicológicas, através do processo da socialização ou identificação. Há em Criminologia, especial interesse no estudo da socialização, pois por meio dela se explicam a delinqüência o melhor sentido da ressocialização do criminoso. Jason Albergaria, diz que segundo Lagache, a gênese da personalidade criminal é concebida como transtorno da socialização e da identificação. A aparência de uma criminalidade constitucional parece realizada por conflitos precoces, fixando o indivíduo numa fase de sua socialização, em que os conflitos interpessoais são vividos e regulados por um modo sadomasoquista. Nos conflitos mais tardios, quanto a exigências morais do grupo são parcialmente interiorizadas, o conflito criminógeno torna-se mais aparente. A personalidade do criminoso resultaria do malogro das identificações do indivíduo. Desde a infância o indivíduo se defronta com conflitos sucessivos entre suas exigências e as exigências do grupo em que vive. O indivíduo tende a incorporar-se no grupo e a aderir-se aos seus valores e crenças e a identificar-se com os membros que lhe são mais significativos. A personalidade do criminoso se caracterizaria como subversão axiológica, a negação do valor do próximo e dos valores comuns, isto é, como insucesso na socialização das atitudes para outro. A não-integração social levaria à marginalidade social. O processo de dissocialização ou não-socialização tem por efeito privar o eu de sua dimensão social. O eu separado da sociedade tende a criar um universo dissocial ou a integrar-se em uma subcultura criminógena. 3.2.5 TRAÇOS DA PERSONALIDADE CRIMINAL Para Lagache, mencionado por Jason, A personalidade criminal se caracteriza por uma subversão de valores, a negação do valor “outrem”. A maior parte dos traços da personalidade do criminoso liga-se ao egocentrismo: a incapacidade de julgar um problema moral, colocando-se num ponto de vista diferente do pessoal; falta de consideração pelo próximo; atitudes críticas e acusadoras; falta de sentimento de responsabilidade e de culpabilidade. Outros traços ilustram especificamente a imaturidade pessoal: inaptidão de renunciar à satisfação imediata, à custa da segurança e apesar da perspectiva de uma punição, insuficiência de controle emocional, insuficiência de julgamento, autocrítica e utilização de experiências passadas.. 3.3 TEORIA SOCIOLÓGICA E PSICOLÓGICA DA DELINQUÊNCIA 3.3.1 SISTEMAS CONTEMPORÂNEOS DA CRIMINOLOGIA J. Pinatel 5 distingue os principais sistemas contemporâneos de Criminologia em sistemas de ordem psicossocial, psicofisiológica e psicomoral. No sistema de ordem psicossocial inclui várias teorias. No sistema desordem psicofiológica, as teorias de Lombroso, Hooton, e outros. Além das concepções de De Greef,as teorias pscicanalíticas, tipologia de Jenkins, teorias de frustação-agressão, a conduta divergente e os mecanismos de defesa, teorias da anomia. Jason aborda as principais teorias, partindo-se sociológicas. . 3.3.2 TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL Para a teoria da “associação diferencial” de Sutherland , o comportamento criminal é apreendido, não é hereditário. A conduta delinqüente é aprendida por um processo de comunicação, em grupos íntimos, ao contacto a outras pessoas. Um indivíduo torna-se criminoso, quando a interpretação favorável à violação da lei prevalece sobre a interpretação desfavorável: nisto está o princípio da associação diferencial. Sutherland não fala de associação entre criminosos e não-criminosos, mas entre interpretações favoráveis ao crime, sua teoria por meio de várias preposições: 1º) o comportamento criminoso é aprendido, não é hereditário; 2º) o comportamento criminoso é aprendido através de um processo de interação (comunicação); 3º) é aprendido no grupo; 4º) o comportamento criminoso compreende a aprendizagem de técnicas e orientações de tendências de móveis e atitudes; 5º) essa orientação é função da interpretação favorável ou desfavorável das normas legais, o que dá o conflito de cultura; 6º) um indivíduo torna-se criminoso quando a interpretação desfavorável prevalece sobre a interpretação favorável. O indivíduo se encontra em contacto com modelos criminais,
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