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AULA 09_As décadas de 1910 e 1920_Novos agentes políticos

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AULA 09: As décadas de 1910 e de 1920: novos agentes políticos (parte 1)
Profa. Taís Araújo – centro universitário sumaré
Referências bibliográficas
MATOS, Hebe. Vida política in: História do Brasil Nação vol 3
CARONE, Edgar. Movimento operário no Brasil (1877-1944).
1914-1918: governo de Venceslau Brás
Primeira Guerra Mundial
 Navios mercantes brasileiros que comercializavam com os Aliados (França, Inglaterra) foram atacados por alemães em 1917 – foi o motivo da declaração de guerra do Brasil ao Império Alemão.
Participação: uma equipe médica e uma força-tarefa naval para patrulhar a costa africana entre Dacar e Gibraltar – pouco relevante, porém teve como resultado a chegada da Gripe espanhola ao Brasil [matou 300 mil pessoas no mundo e 30 mil brasileiros].
Crescimento do parque industrial – novas indústrias de bens de consumo não duráveis – têxtil, alimentos: “substituição das importações” [indústrias europeias e norte-americanas paralisadas por causa da guerra]; 
 - em relação à indústria de base [de máquinas e equipamentos com o uso de ferro e metal], não houve novos empreendimentos, pois o setor sentiu os efeitos negativos da guerra, tendo sua produção diminuída. De qualquer modo, houve um aumento de produção em indústrias do ramo que já existiam antes da guerra, tendo em vista a alta demanda entre as indústrias que surgiam e necessitavam de maquinário.
- Ao todo, das indústrias que funcionavam entre 1914-1918, 50% tinham sido criadas no próprio período. O lucro crescente das exportações de café geraram investimentos para a criação das indústrias nesse período.
Desde 1870, algumas indústrias [têxtil e alimentícia] instalavam-se nas cidades que cresciam como Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro cujos proprietários eram brasileiros, como exemplo: Major Diogo, dono de fábrica de tecido de algodão na rua Florêncio de Abreu. A partir de 1890, a quantidade de indústrias têxteis, de chapéus, de sapatos, de fósforos , de fundições, de cerveja e serraria aumenta. Já as indústrias relacionadas a serviços como iluminação e transporte, bancos e exportação eram estrangeiras, como o exemplo da São Paulo Railway, Light and Power Company Limited, de 1899
Benedito Calixto, 1892, Fábrica de tecidos na Florêncio de Abreu e inundação na várzea do Carmo
Major Diogo era filho do Barão de Piracicaba, Antônio Pais de Barros, proprietário de terras e produtor de café do interior paulista 
Edgar Carone, “A República Velha: instituições e classes sociais”
Condições de trabalho nas grandes cidades: 
Instabilidade no emprego 
Alto custo de vida 
Moradias precárias 
Inexistência de leis trabalhistas e de previdência social
Longas jornadas de trabalho: dez a catorze horas, podendo chegar a dezessete. 
Multas e castigos físicos: mau desempenho, atitude considerada inconveniente, faltas
Instalações fabris precárias: ventilação e iluminação insuficientes , excesso de pó e de poluição causavam graves doenças; acidentes graves e até fatais eram comuns; operárias estavam vulneráveis a assédio sexual dos colegas e dos patrões;
Trabalho infantil – em 1901, fábricas empregavam crianças de 5 anos; em 1911 uma lei proibida o trabalho dos menores de 10 anos
Mulheres e crianças: salários mais baixos – 30 a 50% da mão de obra
Situação dos operários
Criança opera máquina na marcenaria Filippo Celli em Petrópolis, RJ.
“A estatística do ano passado registra o caso de um operário que, passando com um saco às costas ao pé de certa máquina, foi apanhado por uma peça da mesma, que lhe fraturou o crânio, determinando-lhe a morte. Esse operário tinha 13 anos, executava um serviço leve: conduzia um saco cheio de carretéis”
Boletim do Departamento Estadual do Trabalho
“Assistimos ontem à entrada de cerca de 60 menores às 19 horas, na sua fábrica da Mooca. Essas crianças, entrando àquela hora, saem às 6 horas. Trabalham, pois, 11 horas a fio, em serviço noturno, apenas com um descanso de 20 minutos, à meia-noite! O pior é que elas se queixam de que são espancadas pelo mestre de fiação. Uma há com as orelhas feridas por continuados e violentos puxões. Trata-se de crianças de 12, 13 e 14 anos”
O combate, São Paulo, 4/9/1917.
Formado principalmente por italianos, portugueses e espanhóis, que traziam as ideias do socialismo e anarquismo para as cidades brasileiras.
Divulgação em comícios, palestras, panfletos e jornais próprios: 
Movimento operário
As ideias socialistas já estavam presentes no Brasil desde o século XIX. Mas é com o início da República, entre 1890-1902, que surgiram os primeiros partidos e organizações operárias, que, porém, logo foram desfeitos com o avanço da política dos governadores e da perseguição policial.
	Ano de fundação	Nome do jornal/lugar
	1890	Echo popular (RJ)
	1895	A questão social (Santos)
	1896	O Socialista (SP)
	1900	Avanti! (SP)
	1901 	A Lanterna (SP)
	1902	O amigo do povo (SP)
	1903	O livre pensador (SP)
	Ano de fundação	Nome do jornal/lugar
	1904	La Battaglia (SP)
	1905	A Terra Livre (SP)
	1907	A Terra Livre (RJ)
	1908	A Voz do Trabalhador (RJ)
	1911	A Guerra Social (RJ)
	1916	A Razão (RJ)
	1917	A Plebe (SP)
	1919	Spartacus (RJ)
	1920	A Voz do Povo (RJ)
Derradeiras machadadas. A Plebe, 11/8/1917
Presença dos imigrantes no brasil
	1860-1869	108.187 imigrantes;
	1870-1879	193.431 imigrantes;
	1881-1930	3. 964.300 imigrantes;
	Período	Quantidade
Primeiros partidos: Partido Operário Brasileiro - 1890, RJ e Partido Democrata Socialista – 1896, SP.
Até a década de 1920, o anarcosindicalismo exercia forte influência nas organizações operárias brasileiras: realizavam críticas ao Estado, à Igreja, à burguesia e ao capitalismo; o sindicato seria a principal arma dos trabalhadores e por meio de uma ampla greve seria possível destruir o capitalismo e acabar com a exploração de classe.
1906: Criação da Confederação Operária Brasileira – COB: reunia sindicatos de vários estados do país em prol da campanha pela jornada de 8 horas de trabalho, organizando greves, boicotes, sabotagens, comícios e passeatas.
Socialistas, defendiam reformas e colaboração entre as classes – pouca adesão no meio operário
Principais greves: 1903,1906,1907,1917,1918 e 1919. 
Edgar Rodrigues. “Trabalho e conflito”.
Para os anarquistas, o ensino da leitura e da escrita era fundamental
Escola Moderna em Porto Alegre – inspiração na Escola Moderna de Ferrer na Catalunha (Espanha).
Anticlerical, exilou-se na França após fracassada tentativa de revolução republicana na Catalunha; na França tornou-se anarquista e descobriu o interesse pela pedagogia, fundando uma escola libertária. Ao voltar à Espanha, abriu mais escolas laicas e anti-academicistas, o que levou ao seu fuzilamento em 1909.
1907, Rio de Janeiro – Comemoração do Primeiro de Maio após decisão do COB
1º de Maio na Praça da Sé - 1919
Piqueniques e apresentações musicais em 1º de Maio de 1922
“O Primeiro de Maio lembra-nos uma das reivindicações proletárias que no Rio de Janeiro ainda não tivemos a coragem de conquistar.
O Primeiro de Maio lembra-nos também um dos mais horrendos crimes praticados pela burguesia contra a classe operária (...)
O dia de hoje é, por certo, dedicado à confraternização do operariado universal. Todos que trabalham devem considerar esta data a maior que o ano possui, porque ela não só lembra o sangue das vítimas de Chicago, como prova que a burguesia rústica e ignóbil tem praticado todas as misérias na sociedade atual”.
Jornal A Voz do Trabalhador, Rio de Janeiro, 1º de maio de 1909
Repressão policial: dissolução de manifestações operárias a tiros por tropas armadas; o governo realizava deportações para o Acre, enforcamento de líderes, expulsão de “agitadores estrangeiros” e fechamento de jornais. 
Caricatura de 19055, revista Arara: “Zé Povo” tem as pernas presas por correntes, onde se lê “impostos” e fixadas numa espada denominada “governo”. O personagem que tapa a boca ameaça: “Olha o Acre”.
Greve de 1917 [onda grevista – 1917 a 1919]
Contexto:
Primeira Guerra Mundial: desabastecimento – aumentodos preços e desaparecimento de produtos dos mercados. 
Aumento do contingente operário devido ao aumento de indústrias nacionais. 
Aumento da imigração decorrente da Primeira Guerra.
1917: Revolução Russa e intensificação de conflitos ideológicos que opunham operários e patrões em diversas regiões do mundo.
Desemprego e alto custo de vida
Desenvolvimento: 
10 de junho: inicia-se numa fábrica têxtil de São Paulo (Cotonifício Crespi) e alastra-se pela cidade: causa: os patrões decidem estender o horário noturno e os operários exigem aumento de salário;
São feitas manifestações públicas com presença de mulheres e crianças;
9 de julho: assassinato pela polícia de um sapateiro anarquista, José Martinez;
Como protesto, há uma greve geral de três dias (12 a 15 de julho): 50 mil trabalhadores e paralisação do serviço de bonde, iluminação pública, ferrovias (13 cidades paulistas aderem à paralisação).
Cidade em guerra: saques, depredações e barricadas.
Os patrões e o governo cedem a algumas exigências.
Fim da greve: 17 de julho.
Irrompem greves em: RJ, PR, BA, MG, MT, RS e SC até 1919
Deputados apresentam projetos de lei com direitos 
trabalhistas, mas não são aprovados. Em 1919, aprova-se
indenização por acidente de trabalho e em 1926, 15 dias de 
férias anuais.
Programa do Comitê de Defesa Proletária: 
35% de aumento salarial 
Proibição do trabalho aos menores de 14 anos; 
Fim do trabalho noturno para mulheres e menores de 18 anos;
Jornada de 8 horas;
Fim do trabalho aos sábados à tarde; 
Garantia de emprego; 
Respeito ao direito de associação 
Greve geral de 1917 em São Paulo: protagonismo feminino; muitas crianças participam
Grevistas no Largo do Palácio, SP, 1917
“São Paulo é uma cidade morta: sua população está alarmada, os rostos denotam apreensão e pânico, porque tudo está fechado, sem o menor movimento. Pelas ruas, afora alguns transeuntes apressados, só circulavam veículos militares, requisitados pela Cia. Antártica e demais indústrias, com tropas armadas de fuzis e metralhadoras. Há ordem de atirar sobre quem fique parado na rua. Nos bairros fabris do Brás, Mooca, Barra Funda, Lapa, sucedem-se tiroteios com grupos populares. Em certas ruas já começaram a fazer barricadas com pedras, madeiras velhas, carroças viradas e a polícia não se atreve a passar por lá, porque dos telhados e cantos partem tiros certeiros”. 
Testemunho descreve a greve de 1917. in Everardo Dias, História das lutas sociais no Brasil.
indicação
Filme “Libertários”, de Lauro Escorel, 1976: 
https://www.youtube.com/watch?v=PTg8wGKdiqo
Livro (Literatura): Zélia Gattai, Anarquistas, graças a Deus. 
Livro (Acadêmico): Cláudio Batalha, O movimento operário na Primeira República. 
Para a próxima aula 
Marcos Napolitano, A roda da História quer girar mais rápido: a crise dos anos 1920. In: Brasil República (pasta compartilhada).

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