Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 PATOLOGIA ESPECIAL | ALICE COSTA INTRODUÇÃO O néfron é a unidade funcional do rim, composto por glomérulo, túbulo proximal, alça de Henle, túbulo distal e ducto coletor. As funções do sistema urinário são: filtração de todo o sangue (regulagem do volume de líquido corporal), produção de renina e eritropoietina, produção de urina, remoção de metabólitos e substancias tóxicas (metabolismo de ureia e creatinina), manutenção do equilíbrio do ph sanguíneo, armazenamento de líquidos orgânicos e auxilia na manutenção do equilíbrio osmótico (concentração de sódio 0,9%) orgânico. 1. TRATO URINÁRIO SUPERIOR: rins e ureteres. 2. TRATO URINÁRIO INFERIOR: bexiga (vesícula urinária) e uretra. REGULAÇÃO HORMONAL DA FUNÇÃO RENAL 1. SECREÇÃO DE ERITROPOIETINA 2. SISTEMA RENINA ANGIOTENSINA ALDOSTERONA – ANGIOTENSINOGÊNIO Esse sistema regula funções essenciais do organismo, como a manutenção da pressão arterial, balanço hídrico e de sódio. A lógica fundamental que preside o funcionamento do sistema é responder a uma instabilidade hemodinâmica e evitar a redução na perfusão tecidual sistêmica. Atua de modo a reverter a tendência à hipotensão arterial através da indução de vasoconstricção arteriolar periférica e aumento na volemia por meio de retenção renal de sódio (através da aldosterona) e água (através da liberação de ADH-vasopressina). A renina é liberada pelos rins, enquanto que a enzima conversora de angiotensina (ECA) é encontrada no endotélio vascular em vários órgãos. Uma vez ativada a cascata, surgem a angiotensina I (AI) e a angiotensina II (AII), que circulam pelo sangue e se ligam em receptores específicos ATI e ATII, regulando funções em órgãos-alvos. ALTERAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO RENAL APLASIA Ausência de formação do órgão na vida embrionária. O animal que nasce sem resquício de rim, pode viver com apenas um rim, porém causará hipertrofia. A aplasia pode ser uni ou bilateral. → ESPÉCIES: Cão e suíno Large White. HIPOPLASIA Ausência do desenvolvimento do rim no crescimento animal. O animal nasce com resquícios dos rins. → ESPÉCIES: Equinos, caninos e felinos. DISPLASIA Má desorganização do tecido, caracteriza-se por uma alteração da estrutura organizacional do rim. → ETIOLOGIA: Resultado de diferenciação anormal uni ou bilateral. CISTOS RENAIS São lesões geralmente redondas, com conteúdo interno líquido, originárias nos rins. Podem, eventualmente, estar associados a doenças graves, que inclusive comprometem a função renal. Entretanto, na maioria das vezes, 2 PATOLOGIA ESPECIAL | ALICE COSTA são do tipo simples, ou seja, cistos benignos. Podem ser CISTOS SOLITÁRIOS (suínos e bovinos) ou POLICÍSTICOS (grandes e poucos). → ETIOLOGIA: Autossômico dominante, sendo hereditário. → ESPÉCIES: gatos Persa, cães West Highland White Terrier e Bull Terrier. INFLAMAÇÕES RENAIS GLOMERULONEFRITES É a inflamação dos glomérulos, alterando a filtragem do sangue e a formação da urina. NEFRITE TÚBULO-INSTERSTICIAL É uma inflamação que afeta os túbulos renais e os tecidos que circundam os rins (tecido túbulo- intersticial). Este distúrbio pode ser causado por várias doenças, medicamentos ou certas toxinas que lesionam os rins. PIELONEFRITE Acúmulo de pus na pelve, que em seguida vai para o néfron. IMPORTANTE! Pode ocorrer nos casos de Peste Suína Clássica, juntamente a febre hemorrágica, com múltiplas petéquias nos rins. E também, nos casos de Herpes Vírus Canino, juntamente a hemorragias pulmonar, gástrica e RENAL, causando aborto e nefrite hemorrágica, sendo hereditário para a ninhada inteira. REAÇÕES À AGRESSÕES BLOQUEIO DA FUNÇÃO RENAL Azotemia (aumento de concentrações séricas de ureia e compostos nitrogenados) e uremia (manifestação clínica severa da azotemia) Perda de proteínas plasmáticas (proteinúria) Perda de água Desequilíbrio ácido-básico Hiperparatireoidismo Osteodistrofia renal Retenção de drogas medicamentosas MECANISMOS DE LESÃO GLOMERULAR PRIMÁRIA Deposição de complexos imunes Trombose e embolia Necrose isquêmica Proliferação de células ou membranas Diminuição da perfusão vascular Aumento do filtrado glomerular (proteínas) Atrofia e fibrose do tufo glomerular (fase crônica) Atrofia secundária dos túbulos renais DOENÇAS GLOMERULARES GLOMERULONEFRITE SUPURADA (NEFRITE EMBÓLICA) Glomerulite supurativa (nefrite embólica aguda) é o resultado de bacteremia, ocorrendo o alojamento das bactérias nos glomérulos de forma aleatória e em menor grau, nos capilares intersticiais. Ocorre a formação de microabscessos distribuídos pelo córtex renal. → ETIOLOGIA E ESPÉCIES: Actinobacillus equi em potros, Eysipelothrix rhusiopathiae (suínos) e Corynebacterium pseudotuberculosis (ovinos e caprinos). GLOMERULITE VIRAL Essa inflamação ocorre devido insulto viral direto, principalmente, em doenças virais sistêmicas agudas. O animal apresenta proteinúria transiente. → ETIOLOGIA: hepatite infecciosa canina, peste suína clássica, Newcastle, citomegalovírus em leitões. → MACROSCOPIA: Pontos milimétricos avermelhados (petéquias) no córtex. GLOMERULONEFRITE QUÍMICA É causada por medicamentos ou toxinas, ocorrendo injúria direta (dano ao epitélio glomerular), levando a alteração do fluxo sanguíneo renal. → ETIOLOGIA: Puromicina (antibiótico), adriamicina/doxorrubicina (quimioterápico), antagonistas de receptores da histamina e ciclosporina (alteração da perfusão glomerular) 3 PATOLOGIA ESPECIAL | ALICE COSTA GLOMERULONEFRITE IMUNOMEDIADA (GIM) As glomerulonefrites por imunocomplexos (imunomediadas) ocorrem em associação com infecções persistentes ou outras doenças que apresentem uma antigenemia prolongada, como infecções virais e bacterianas crônicas, parasitismo, doenças autoimunes e neoplasias. ✓ Caninos: hepatite infecciosa, piometra, dirofilariose, lúpus, erlichiose, leishmaniose. ✓ Felinos: leucemia, PIF. ✓ Equinos: anemia infecciosa equina (AIE), bovinos (BVD). ✓ Suínos: peste suína clássica. → SINAIS CLÍNICOS: Inespecíficos (hematúria, oligúria e azotemia). A PROTEINÚRIA é o sinal mais indicativo de lesão glomerular. TIPOS DE GLOMERULONEFRITE A) MEMBRANOSA: espessamento da membrana basal do glomérulo. B) PROLIFERATIVA: proliferação celular C) MEMBRANOPROPLIFERATIVA: ambas alterações anteriores D) ESCLEROSE GLOMERULAR (ESCLEROSANTE): hialinização progressiva e atrofia glomerular NEFRITE INSTERSTICIAL Geralmente causada por agentes infecciosos, por via HEMATÓGENA (doença sistêmica). Podendo ter o curso aguda, subaguda e crônica. 1. NEFRITE INTERSTICIAL NÃO SUPURATIVA (sem pus): aguda ou crônica (leptospirose). 2. NEFRITE INTERSITICIAL SUPURATIVA: ocorre por infecções bacterianas por via hematógena ou ascendente. Óbito por septicemia. NEFROSE TUBULAR Consiste na NECROSE TUBULAR. → SINAIS CLÍNICOS: oligúria ou anúria, morte em poucos dias ou recuperação. TIPOS DE NEFROSE 1. NECROSE TUBULAR AGUDA ISQUÊMICA A) Hipotensão: choque B) Hemólise massiva: nefrose hemoglobinúrica (escurecido). Ex. intoxicação por cobre. 2. NECROSE TUBULAR AGUDA TÓXICA (nefrose) A) Metais pesados: arsênio, bismuto, cádmio, chumbo, mercúrio, tálio. B) Micotoxinas: fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium que contaminam grãos. C) Agentes antimicrobianos usados excessivamente: antibióticos aminoglicosídeos (neomicina, kanamicina, gentamicina*, estreptomicina), cefalosporinas, tetraciclinas e sulfonamidas. Obs.: Necrose isquêmica por AINEs. D) Etilenoglicol: anticongelante. E) Venenos ofídicos INSUFICIÊNCIA RENAL É quando 75% ou mais da função renal é diminuída (aguda ou crônica) – doença bilateral generalizada ou unilateral com outro rim ausenteou afuncional. O rim perde a capacidade de filtrar o sangue e liberar a urina adequadamente. Mais frequente em animais idosos, caso ocorra nos animais jovens é oriundo de uma patologia não tratada. 1. AZOTEMIA: aumento de compostos nitrogenados não proteicos no sangue (ureia e creatinina). 2. UREMIA: Síndrome (azotemia prolongada), sinais clínicos e lesões extra-renais. SINAIS CLÍNICOS DE UREMIA Vômito, anorexia, diarreia, apatia, emagrecimento, úlceras na cavidade oral e na língua, desidratação, anemia, hálito urêmico. 4 PATOLOGIA ESPECIAL | ALICE COSTA → PATOLOGIA CLÍNICA: elevação dos níveis séricos de ureia e creatinina, acidose, hipercalcemia e hiperfosfatemia. LESÕES EXTRA-RENAIS DE UREMIA A) SISTEMA DIGESTIVO: vômitos, gastropatia e enteropatia urêmica, glossite e estomatite ulcerativa. Estômago (cães, gatos e suínos) e cólon (equinos e bovinos) com conteúdo muco sanguinolento e odor de amônia. B) SISTEMA RESPIRATÓRIO: pneumopatia urêmica, edema pulmonar, mineralização subpleural nos espaços intercostais. C) SISTEMA CARDIOVASCULAR: endocardite mural atrial, arteriopatia degenerativa associada a mineralização de vasos do miocárdio nos troncos pulmonar e aórtico. D) SISTEMA ENDÓCRINO: hiperplasia das paratireoides. E) SISTEMA ÓSSEO: Osteodistrofia fibrosa (com ou sem oestomalácia). A osteodistrofia fibrosa é uma doença caracterizada por deficiência nutricionais, hormonais e renais, promovendo uma deficiência de cálcio no organismo, levando a substituição por material fibroso F) SISTEMA LINFOIDE: depleção linfoide. MECANISMO DA INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA O animal com IR sofre a perda dos íons de cálcio e acumula fósforo. DISTÚRBIOS DO CRESCIMENTO CISTOS Os cistos podem ser: 1. PRIMÁRIOS: podem ser solitários ou múltiplos (rins policísticos), são comuns em suínos e bezerros. Os congênitos ocorrem em muitas espécies e é hereditário em suínos e cordeiros. 2. SECUNDÁRIOS: em geral decorrem de displasia renal congênita. 2.1 ADQUIRIDOS: são chamados cistos de retenção. Ocorrem no córtex, pela fibrose intersticial renal ou por doenças que causam obstrução intratubular. HIDRONEFROSE Caracteriza-se pelo aumento da quantidade de líquido no interior da pelve renal, que irá gerar compressão e atrofia do parênquima renal. Obs.: Acomete mais machos. 1. CONGÊNITA: ocorre devido a uma aplasia segmentar ou completa dos ureteres 2. ADQUIRIDA: se devem a obstruções dos ureteres, devido a cálculos ou inflamações (ureterites/cistites), parasitas e neoplasias. DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS INFARTOS RENAIS Caracterizam-se por áreas de necrose de coagulação do tecido renal pela oclusão vascular e isquemia, determinados por trombose ou embolia. Geralmente, uma nefrose isquêmica. CÁLCULOS URINÁRIOS (UROLITÍASE) Urolitíase é a presença de cálculos (urólitos) nas vias urinárias. Os urólitos são agregados de solutos urinários precipitados compostos principalmente de minerais misturados com proteínas urinárias e debris proteináceos, geralmente, devido a acidificação da urina. 5 PATOLOGIA ESPECIAL | ALICE COSTA Podem se desenvolver em qualquer parte do sistema urinário, desde a pelve renal até a uretra. → ESPÉCIES: bovinos, ovinos, cães e gatos. Composição química mais frequente. → ETIOLOGIA: ph alcalino (estruvita), infecções bacterianas (colônias bacterianas, epitélio exfoliativo e leucócitos). → CONSEQUÊNCIAS: uretrite, cistite, ureterite, hidroureter, hidronefrose, pioureter, pionefrose, septicemia e óbito. A composição química dos urólitos é variada, sendo mais frequente caninos com cálculos formados por estruvite, cistina, uratos, oxalatos. Já felinos, formados por estruvita. IMPORTANTE! Machos caninos apresentam com mais frequência cálculos urinários, devido a presença do osso peniano e compressão da próstata. DTUIF – DOENÇA DO TRATO URINÁRIO INFERIOR FELINO A DTUIF pode ser consequência de infecções bacterianas, fúngicas ou parasitárias, de anormalidades anatômicas das vias urinárias, de cálculos urinários e tampões uretrais, de neoplasias, traumas e causas idiopáticas. A DTUIF acompanhada de obstrução uretral deve ser tratada como uma situação de emergência, pois esta pode levar a distúrbios renais, hidroeletrolíticos e ácido-base, e se o animal não for desobstruído, pode levá-lo à morte. PARASITÁRIOS Os parasitos geralmente causam atorfia e compressão do parênquima renal, levando a ruptura e hemorragia. O parasito na cavidade abdominal encontra-se encapsulado e pode causar peritonite. DIOCTOFIMOSE (DIOCTOPHYMA RENALE) A dioctofimose é uma doença ocasionada pelo verme denominado Dioctophyma renale. → ESPÉCIES: Cães (principalmente), mamíferos domésticos e selvagens. → SINAIS CLÍNICOS: reduzidos ou inespecíficos. A gravidade varia dependendo do número de parasitas, duração da infecção, se ambos os rins estão envolvidos, se outros órgãos foram acometidos e da existência ou não de doença renal concomitante. → DIAGNÓSTICO: Urinálise, pode ocorrer a detecção de ovos no sedimento urinário. ESTEFANUROSE (STEPHANURUS DENTATUS) É o verme renal migratório de suínos, responsável por danos principalmente no fígado, rins e pulmões. NEOPLASIAS CARCINOMA RENAL E NEOPLASIA RENAL PRIMÁRIA São neoplasias malignas originárias do epitélio tubular renal. Este tipo de neoplasia é raro e já foi descrita em cães, gatos, cavalos e primatas. CARCINOMA DE CÉLULAS TRANSICIONAIS Neoplasias da bexiga, onde os ão compostos de epitélio transicional anaplásico a pleomórfico, o qual torna este tipo de neoplasia agressiva.
Compartilhar