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DESCRIÇÃO A aplicação da anatomia palpatória da cintura escapular no desenvolvimento da habilidade de reconhecimento e investigação de acidentes e estruturas anatômicas relevantes para a área da saúde. PROPÓSITO Compreender a anatomia topográfica da cintura escapular na identificação de pontos anatômicos e sua localização por meio das técnicas palpatórias, aplicadas no exame clínico do paciente e na realização de diversas técnicas terapêuticas, relevantes para uma adequada formação acadêmica na área da saúde. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo, tenha à mão um dicionário de terminologia anatômica para entender termos específicos da área. OBJETIVOS MÓDULO 1 Aplicar a investigação palpatória da estrutura óssea da cintura escapular MÓDULO 2 Localizar as estruturas das articulações da cintura escapular por meio da investigação palpatória MÓDULO 3 Reconhecer a biomecânica e a amplitude de movimentos das articulações da cintura escapular INTRODUÇÃO A cintura escapular é o segmento do corpo humano que une o membro superior ao esqueleto axial. É composta por três ossos que se articulam de forma complexa, permitindo o posicionamento do membro superior no espaço em um amplo arco de movimentos. Justamente por ser tão móvel, a cintura escapular é, frequentemente, acometida por uma série de doenças traumáticas e degenerativas que provocam instabilidade. Nesse contexto, torna-se de inestimável valor um conhecimento sólido sobre anatomia palpatória, construindo-se uma base para posterior aprofundamento na prevenção e no tratamento desses problemas. A palpação osteoarticular constitui uma forma de exame físico, tornando-se necessária a realização de procedimentos preliminares na prática clínica. É interessante que, após ler cada módulo do conteúdo, você tente realizar a técnica descrita em alguém próximo, para fixar melhor o conhecimento ao associar a teoria à prática. Está pronto? Vamos começar! MÓDULO 1 Aplicar a investigação palpatória da estrutura óssea da cintura escapular Imagem: Shutterstock.com ANÁLISE PALPATÓRIA DA CLAVÍCULA A clavícula é um osso longo de aproximadamente 15 centímetros com formato aproximado de “S”. Tem as superfícies articulares lateral e medial, respectivamente com o acrômio da escápula e o manúbrio do esterno. O nome clavícula, que significa “pequena chave” em latim, deve-se ao característico movimento de rotação em torno do seu próprio eixo durante a abdução do membro superior, que se assemelha ao movimento de uma chave. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Clavícula. Visão anterior. Trata-se do único elo de articulação sinovial entre o membro superior e o esqueleto axial. Em uma visão frontal (plano coronal), a clavícula é aproximadamente reta. Sob uma visão superior (plano axial), ela tem uma concavidade anterior em sua porção lateral e uma convexidade anterior em sua porção medial. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Clavícula. Visão anterossuperior. A extremidade lateral da clavícula é larga anteroposteriormente e achatada superoinferiormente. Sua porção medial é aproximadamente cilíndrica e se torna progressivamente mais larga medialmente. Por ter escassa cobertura de partes moles, trata-se de um osso facilmente identificável sob a pele, especialmente em indivíduos magros. Para palpar as extremidades e o corpo da clavícula, o examinador pode se posicionar de frente para o paciente, que deve estar em posição ortostática ou em decúbito dorsal, com o ombro exposto, obtendo-se uma boa visão superior. Deve-se dedilhar ao longo do osso, de medial para lateral. Suas extremidades frequentemente são fáceis de identificar (TIXA, 2009). Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da diáfise da clavícula. Os acidentes anatômicos da clavícula palpáveis são apresentados a seguir: Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da concavidade anterolateral da clavícula. A concavidade anterolateral da clavícula recebe a inserção proximal do ventre anterior do músculo deltoide e pode ser palpada com o segundo e o terceiro dedos: Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da convexidade posterolateral da clavícula. A convexidade posterolateral da clavícula pode ser palpada anteriormente ao músculo trapézio. É uma margem que converge com a espinha da escápula até o acrômio. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da convexidade anteromedial da clavícula. A convexidade anteromedial da clavícula recebe a inserção do ventre clavicular do músculo peitoral maior. Ela pode ser facilmente palpada sob a pele. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da concavidade posteromedial da clavícula. A concavidade posteromedial da clavícula pode ser palpada lateralmente à inserção do músculo esternocleidomastóideo. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da extremidade acromial da clavícula. A extremidade acromial da clavícula pode ser palpada em pinça digital. Em alguns indivíduos, ela pode ser bastante proeminente e se articula com o acrômio da escápula lateralmente. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da extremidade esternal da clavícula. A extremidade esternal da clavícula também pode ser palpada em pinça. Articula-se medialmente com o manúbrio do esterno, formando a margem lateral da incisura jugular. VOCÊ SABIA As fraturas da clavícula representam 2,6% de todas as fraturas e 44% das fraturas da cintura escapular. Acomete, com maior frequência, homens jovens vítimas de queda sobre o ombro. As fraturas do terço médio são as mais comuns e, quando apresentam desvio ou encurtamento importante, são tratadas preferencialmente com redução aberta e fixação interna com placa específica e parafusos. Imagem: Shutterstock.com Fratura do terço médio da clavícula. ANÁLISE PALPATÓRIA DA ESCÁPULA A escápula é um osso predominantemente plano e de formato irregular e pouco intuitivo. Está localizada no dorso, geralmente, entre a primeira e a sétima costelas, em um plano oblíquo em relação ao plano coronal. Seu corpo é aproximadamente triangular, com ápice voltado inferiormente. Tem como característica uma espinha horizontal posterior que se localiza no nível do processo espinhoso da terceira vértebra torácica. Em sua extremidade lateral, a espinha dá origem ao processo acromial, ao se curvar anteriormente, processo no qual se articula com a extremidade lateral da clavícula. A espinha divide o corpo da escápula, posteriormente, em duas fossas que servem de inserção proximal para os músculos homônimos: SUPRAESPINHAL INFRAESPINHAL Em sua extremidade lateral, a escápula tem uma superfície articular côncava e rasa para a cabeça do úmero: a cavidade glenoide. Anteriormente, face voltada para as costelas, a escápula tem uma fossa subescapular única que serve de origem para o músculo homônimo. Foto: Shutterstock.com Escápula. Visão posterior. O processo coracoide é identificável nessa região, originando-se da margem superior e projetando-se lateralmente. Foto: Shutterstock.com Escápula. Visão anterior. Ele serve de inserção para diversos músculos e dá à escápula o característico aspecto em “Y”, quando vista em perfil. Também na margem superior, lateralmente ao processo coracoide, a incisura escapular permite a passagem do importante nervo supraescapular. A escápula deve ser palpada com o examinador de frente para o dorso do paciente em posição ortostática. Deve-se observar o formato triangular, com ângulo inferior, borda medial vertical e borda lateral obliquada lateralmente, além da espinha que atravessa horizontalmente a escápula, dividindo-a em quinto superior e quatro quintos inferiores. Por uma vista superior, pode-se observar o contorno do acrômio, principalmente, sua margem posterolateral. O sulco, entre a espinha da escápula e a clavícula, também é digno de nota. Uma análise dinâmica, pedindo ao paciente que realize flexão anterior e extensão alternadamente podeajudar a compreender a forma do osso e os movimentos da articulação escapulocostal. ATENÇÃO Anteriormente, em pacientes magros, pode-se observar a saliência na pele provocada pelo ápice do processo coracoide, na região mais superior do sulco deltopeitoral, intervalo entre os músculos deltoide e peitoral maior. A espinha pode ser palpada dedilhando com o segundo, terceiro e quarto dedos. Ela se localiza no nível do processo espinhoso de T3. As bordas medial e lateral do corpo podem ser delimitadas utilizando-se a borda ulnar das mãos do examinador. O ângulo inferior, geralmente localizado no nível da apófise espinhosa da vértebra T7, pode ser palpado em pinça, assim como o ângulo posterolateral do acrômio. Anteriormente, o processo coracoide pode ser identificado palpando profundamente com o segundo dedo, dois centímetros inferiormente à concavidade anterolateral da clavícula. Os acidentes anatômicos da escápula palpáveis são apresentados a seguir: FACE ANTERIOR A face anterior da escápula pode ser abordada de duas maneiras: Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da face anterior da escápula. Abordagem medial. ABORDAGEM MEDIAL Aprofundam-se os dedos a partir da margem medial da escápula, palpando-se a superfície anterior por meio dos músculos trapézio e romboides. ABORDAGEM LATERAL Aprofundam-se os dedos a partir da margem lateral da escápula, palpando-se a superfície anterior por meio dos ventres musculares do latíssimo do dorso e redondo maior. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da escápula. Abordagem lateral. ESPINHA DA ESCÁPULA Conforme já descrito, a espinha deve ser palpada posteriormente, dedilhando-se de medial para a lateral no nível da terceira vértebra torácica. A espinha recebe superiormente a inserção da porção descendente do músculo trapézio. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da espinha da escápula. ACRÔMIO Dando continuidade à palpação da espinha da escápula, chega-se lateralmente ao acrômio, importante acidente ósseo que serve de origem para o músculo deltoide, além de ter algumas áreas de interesse: Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da margem posterior do acrômio. MARGEM POSTERIOR A margem posterior do acrômio é a primeira palpada em continuidade à espinha da escápula. O ventre posterior do músculo deltoide insere-se nessa porção. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da margem lateral do acrômio. MARGEM LATERAL A margem lateral do acrômio serve de inserção para o ventre lateral do músculo deltoide. A abdução passiva do ombro relaxa esse músculo e pode facilitar a palpação dessa região. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da margem anterior do acrômio. MARGEM ANTERIOR (ÁPICE) Serve de inserção para o ventre anterior do músculo deltoide. A flexão passiva do ombro pode relaxar esse músculo e facilitar a abordagem desse acidente anatômico. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do ângulo do acrômio. ÂNGULO DO ACRÔMIO Situado em posição posterolateral, o ângulo do acrômio se situa entre as margens posterior e lateral. Pode ser facilmente palpado em pinça digital. FOSSA SUPRAESPINHAL Local de inserção proximal do músculo supraespinhal, essa região pode ser palpada superiormente à espinha da escápula, por meio do músculo trapézio. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da fossa supraespinhal. FOSSA INFRAESPINHAL Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da fossa infraespinhal. Dedilhando-se inferiormente à espinha, encontra-se a fossa infraespinhal, onde se insere aproximadamente o músculo homônimo, rotador lateral do braço. MARGEM MEDIAL DA ESCÁPULA Pode ser delimitada medialmente com a borda ulnar da mão do examinador. Tem situação mais vertical que a margem lateral. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Delimitação da margem medial da escápula. MARGEM LATERAL DA ESCÁPULA Posicionada de maneira mais oblíqua que a margem medial, a margem lateral pode ser delimitada com a borda ulnar da mão do examinador. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Delimitação da margem lateral da escápula. PROCESSO CORACOIDE Pode ser palpado dois centímetros inferiormente à concavidade anterolateral da clavícula. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do processo coracoide. MARGEM SUPERIOR DA ESCÁPULA Pode ser delimitada utilizando-se a borda ulnar da mão do examinador, em posição horizontal, superiormente à espinha da escápula. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Delimitação da margem superior da escápula. ÂNGULO INFERIOR DA ESCÁPULA Pode ser encontrado no ponto de união entre as margens medial e lateral. É facilmente palpável em pinça digital. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do ângulo inferior da escápula. ÂNGULO SUPERIOR DA ESCÁPULA Pode ser encontrado no ponto de união entre as margens medial e superior. Tem palpação mais discreta que o ângulo inferior. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do ângulo superior da escápula. ATENÇÃO A elevação anterior do ombro é o resultado da combinação dos movimentos da rotação superior da escápula e flexão e abdução da articulação glenoumeral. O desequilíbrio da musculatura periescapular pode provocar alterações denominadas discinesia escapular. ANÁLISE PALPATÓRIA DA EXTREMIDADE PROXIMAL DO ÚMERO O úmero é o maior osso longo do membro superior. Em sua extremidade proximal, tem uma cabeça aproximadamente hemisférica voltada posteromedialmente, que se articula com a cavidade glenoide da escápula. O colo anatômico circunda a superfície articular proximal do úmero, separando-a dos tubérculos maior e menor. O tubérculo maior delimita o contorno superior lateral e posterior da metáfise umeral, servindo de importante ponto de inserção para os músculos rotadores externos. O tubérculo menor, anterior, serve de inserção para o músculo subescapular, importante rotador interno do ombro. Entre os tubérculos, um sulco intertubercular permite a passagem do tendão da cabeça longa do bíceps, em seu trajeto que contorna a extremidade superior do úmero, penetrando na cavidade articular e se inserindo junto ao lábio na porção superior da cavidade glenoide da escápula. Durante a palpação, o examinador pode se posicionar posteriormente ao paciente e pinçar a cabeça do úmero entre o polegar e o segundo e terceiro dedos. Ao rodar o braço do paciente com a mão contralateral abraçando o terço proximal do antebraço do paciente com o cotovelo fletido em 90 graus, pode-se sentir o tubérculo menor, sulco intertubercular e tubérculo maior passando sob os dedos. No interior do sulco intertubercular, o tendão da cabeça longa do bíceps braquial pode ser palpado. Os acidentes anatômicos da extremidade proximal do úmero palpáveis são apresentados a seguir: Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do tubérculo maior do úmero. O tubérculo maior pode ser palpado com o segundo e o terceiro dedos da mão do examinador, imediatamente distal à margem anterior do acrômio. É importante segurar o antebraço do paciente com a outra mão para realizar rotação medial, anteriorizando assim o tubérculo maior. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do tubérculo menor do úmero. Assim como no tubérculo maior, o tubérculo menor também pode ser palpado com o segundo e o terceiro dedos da mão do examinador, imediatamente distal à margem anterior do acrômio. Nesse caso, deve-se realizar ligeira rotação lateral, o que faz o tubérculo menor passar sob o dedo do examinador. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do sulco intertubercular do úmero. O sulco intertubercular pode ser palpado da mesma forma que os tubérculos descritos anteriormente. Basta procurar o espaço entre eles. ATENÇÃO A extremidade proximal do úmero é formada a partir de quatro núcleos de ossificação: A cabeça umeral, os tubérculos maior e menor e a diáfise.É relativamente comum a fratura desse seguimento em pacientes portadores de osteoporose vítimas de queda e, muitas vezes, os traços da fratura dividem a extremidade proximal do úmero em quatro partes, as mesmas dos núcleos de ossificação. ESTRUTURAS ÓSSEAS E SEUS ACIDENTES NA CINTURA ESCAPULAR O especialista Gláucio Sales de Lima Siqueira mostrará em caráter teórico-prático a palpação das estruturas da cintura escapular apontadas nesse módulo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CITA APENAS ACIDENTES ÓSSEOS DA ESCÁPULA PALPÁVEIS POSTERIORMENTE NO OMBRO: A) Espinha / processo coracoide / tubérculo maior B) Ângulo inferior / espinha / processo coracoide C) Incisura da escápula / ângulo inferior / borda medial D) Espinha / borda medial / ângulo inferior E) Borda medial / tubérculo maior / incisura da escápula 2. TRATA-SE DE CARACTERÍSTICA VERDADEIRA DA CLAVÍCULA: A) Ampla cobertura muscular que protege de trauma. B) A extremidade lateral da clavícula é larga anteroposteriormente e achatada superoinferiormente. C) Extremidade medial impalpável. D) Formato em “S” com concavidade anterior medial e convexidade anterior lateral. E) Reta no plano axial e curva no plano coronal. GABARITO 1. Assinale a alternativa que cita apenas acidentes ósseos da escápula palpáveis posteriormente no ombro: A alternativa "D " está correta. Espinha da escápula, borda medial e ângulo inferior são acidentes ósseos palpáveis posteriormente no ombro. O processo coracoide é palpável anteriormente, o tubérculo maior é um acidente ósseo do úmero e a incisura da escápula é impalpável. 2. Trata-se de característica verdadeira da clavícula: A alternativa "B " está correta. A clavícula é um osso longo de aproximadamente 15 centímetros com formato aproximado de “S”. Tem superfícies articulares lateral e medial e escassa cobertura de partes moles. Tem extremidades lateral e medial palpáveis, A extremidade lateral da clavícula é larga anteroposteriormente e achatada superoinferiormente. MÓDULO 2 Localizar as estruturas das articulações da cintura escapular por meio da investigação palpatória ANÁLISE PALPATÓRIA DA ARTICULAÇÃO ESTERNOCLAVICULAR A articulação esternoclavicular é uma articulação sinovial bicôncava e com disco intra-articular localizada entre a extremidade medial da clavícula e a incisura clavicular do manúbrio esternal. Trata-se do único elo de articulação sinovial entre o membro superior e o esqueleto axial. Ela tem ligamentos esternoclaviculares anteriores e posteriores, que reforçam a cápsula articular, o ligamento interclavicular e os ligamentos costoclaviculares, que são os principais estabilizadores. Os principais movimentos dessa articulação ocorrem no plano coronal e axial, apesar de também haver movimentos de rotação (imagem dos movimentos da esternoclavicular). A articulação esternoclavicular deve ser palpada utilizando-se como referência a incisura jugular do manúbrio esternal. Deslizando o segundo dedo para os lados, pode-se palpar a extremidade medial da clavícula e suas respectivas articulações com o esterno. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da articulação esternoclavicular. A articulação realiza aproximadamente 40 graus de elevação e depressão, 35 graus de retração e protração e 20 a 40 graus de rotação axial. ATENÇÃO As luxações esternoclaviculares são relativamente raras e, geralmente, ocorrem com a extremidade medial da clavícula projetando-se anteriormente em relação ao manúbrio esternal, na maioria das vezes decorrente de quedas. É difícil obter uma redução estável, e a articulação pode permanecer luxada, levando-se a uma proeminência medial característica na clavícula, evidentemente assimétrica. Quando a luxação ocorre em sentido posterior, a clavícula pode comprimir estruturas cervicais importantes como a artéria carótida, a veia jugular e o nervo vago, o que representa risco de graves complicações. ANÁLISE PALPATÓRIA DA ARTICULAÇÃO ACROMIOCLAVICULAR A articulação acromioclavicular localiza-se entre a extremidade lateral da clavícula e o acrômio da escápula. Ela é estabilizada por ligamentos acromioclaviculares superior, inferior, anterior e posterior, além dos ligamentos coracoclaviculares, conoide e trapezoide. A palpação da articulação acromioclavicular pode ser realizada com o segundo e o terceiro dedos da mão imediatamente lateral à extremidade distal da clavícula, que costuma ser facilmente identificável, especialmente em indivíduos magros. Sua estabilidade pode ser testada de maneira horizontal, estabilizando-se a escápula com o polegar na espinha e realizando-se tração em sentido posterior com os dedos na margem anterior da clavícula. Essa manobra é conhecida como teste de Paxinos. A estabilidade vertical pode ser testada realizando-se tração longitudinal dirigida inferiormente ao cotovelo, segurando-o pelos epicôndilos. Em caso de instabilidade, a extremidade acromial da clavícula tornar-se-á mais saliente durante a manobra. Para verificar se a articulação já se apresenta luxada, pode-se pressionar inferiormente a extremidade distal da clavícula na tentativa de realizar redução. O teste pode ser sensibilizado realizando-se compressão em sentido superior ao antebraço, com o cotovelo fletido em 90 graus. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da articulação acromioclavicular. SAIBA MAIS A luxação acromioclavicular é bastante comum, diferentemente da esternoclavicular. Acontece geralmente em indivíduos jovens que caem sobre o ombro, forçando a articulação inferiormente. Ao apoiar-se na primeira costela, a clavícula não consegue acompanhar a inferiorização forçada do úmero e escápula, levando à rotura dos ligamentos acromioclaviculares inicialmente, podendo também acometer os coracoclaviculares dependendo da intensidade do trauma e progressão da lesão. Ao desassociar-se da clavícula, o restante do membro inferior desloca-se inferiormente, deixando a extremidade distal da clavícula saliente. A redução, que não é estável, pode ser realizada pressionando-se inferiormente a clavícula, o que leva à sensação tátil de apertar uma tecla de piano. ANÁLISE PALPATÓRIA DA ARTICULAÇÃO GLENOUMERAL A articulação glenoumeral localiza-se entre a cavidade glenoide da escápula e a cabeça do úmero. Trata-se de uma articulação sinovial esférica, rasa, com amplo arco de movimento. A cápsula articular, que se insere em um lábio em torno da cavidade glenoide, tem espessamentos que formam os ligamentos glenoumerais superior, médio e inferior. O tendão da cabeça longa do bíceps atravessa internamente a articulação após deixar o sulco intertubercular, inserindo-se junto ao lábio superior. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da articulação glenoumeral. A análise palpatória da articulação glenoumeral deve ser realizada inicialmente por trás do paciente. A interlinha articular pode ser palpada com o segundo e terceiro dedos, entre o ápice do processo coracoide e o tubérculo menor do úmero, descritos no módulo 1 deste conteúdo. A amplitude de movimento articular pode ser testada por mobilização ativa e passiva. A flexão anterior e a abdução normalmente chegam a 180 graus. A rotação externa pode ser testada com o braço aduzido ou em diferentes graus de abdução. Há grande variedade no que pode ser considerado normal, então, recomenda-se a comparação com o lado contralateral. A rotação medial pode ser medida ao posicionar-se a mão do paciente no seu próprio dorso, e observando-se até qual apófise espinhosa consegue alcançar superiormente. Geralmente, a apófise de T7 é alcançada, porém, também há grande variabilidade na população. Visando testar instabilidade e hiperfrouxidão ligamentar, ao se realizar uma leve tração inferior pelo cotovelo, pode-se evidenciar o aparecimento de um sulco sob o acrômio ao ampliar o espaço subacromial. Ao palpar a cabeça do úmero entre o polegar e o segundo dedo, conforme descrito no módulo1, a mesma pode ser transladada anterior e posteriormente, estabilizando a escápula com a mão contralateral, região palmar apoiada na espinha da escápula e terceiro dedo apoiado no processo coracoide. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da cabeça do úmero. É importante que o paciente esteja relaxado. O exame deve ser comparativo ao lado contralateral e, em alguns casos, é possível subluxar o ombro posteriormente e palpar a cavidade glenoide. Existem dois tipos principais de instabilidade ou luxação recidivante glenoumeral: Instabilidade traumática Normalmente, é unilateral, tem história de acidente, apresenta difícil redução (retorno à posição original) e necessita de tratamento cirúrgico. & Instabilidade atraumática Normalmente, está associada à hiperelasticidade, costuma ser bilateral e com fácil redução, podendo ser tratada com fisioterapia. ANÁLISE PALPATÓRIA DA ARTICULAÇÃO ESCAPULOCOSTAL A articulação escapulocostal, também descrita como escapulotorácica, não é uma articulação óssea tradicional. O corpo da escápula, envolto em músculos, fica suspenso em situação posterior ao gradil costal, sendo capaz de grande liberdade de movimentos, incluindo elevação, depressão, protração, retração e rotação superior e inferior, ações fundamentais para o bom funcionamento da cintura escapular. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Articulação escapulocostal, vista posterior. A articulação escapulocostal pode ser palpada aprofundando-se os dedos após a palpação das bordas medial e lateral do corpo da escápula. É importante observar, de maneira dinâmica, a simetria e os movimentos dessa articulação por uma vista posterior com o paciente despido, enquanto realiza movimentos repetidos de flexão anterior com os ombros e retorno à posição anatômica. Ao pedir para o paciente empurrar a parede, pode-se observar, em alguns casos, a proeminência medial da escápula, caracterizando a escápula alada. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação da articulação escapulocostal. IDENTIFICAÇÃO DOS TIPOS, LOCALIZAÇÃO E INVESTIGAÇÃO PALPATÓRIA DAS ARTICULAÇÕES DA CINTURA ESCAPULAR O especialista Gláucio Sales de Lima Siqueira mostrará de forma teórico-prática a palpação das estruturas das articulações da cintura escapular. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OS LIGAMENTOS CORACOCLAVICULARES ESTABILIZAM QUAL ARTICULAÇÃO DA CINTURA ESCAPULAR? A) Acromioclavicular B) Esternoclavicular C) Escapulocostal D) Glenoumeral E) Claviculocostal 2. OS PONTOS DE REFERÊNCIA PARA A PALPAÇÃO DA INTERLINHA ARTICULAR GLENOUMERAL SÃO: A) Tubérculo maior do úmero e acrômio B) Tubérculo menor do úmero e acrômio C) Processo coracoide e acrômio D) Processo coracoide e tubérculo maior do úmero E) Processo coracoide e tubérculo menor do úmero GABARITO 1. Os ligamentos coracoclaviculares estabilizam qual articulação da cintura escapular? A alternativa "A " está correta. Os principais estabilizadores verticais da articulação acromioclavicular são os ligamentos coracoclaviculares: conoide e trapezoide. 2. Os pontos de referência para a palpação da interlinha articular glenoumeral são: A alternativa "E " está correta. Os pontos topográficos de referência para a palpação da interlinha articular do úmero são o processo coracoide e o tubérculo menor do úmero. MÓDULO 3 Reconhecer a biomecânica e a amplitude de movimentos das articulações da cintura escapular ANÁLISE PALPATÓRIA DOS MÚSCULOS DA CINTURA ESCAPULAR A cintura escapular possui muitos músculos que contribuem para a estabilidade das articulações e para o complexo sincronismo de movimento entre elas. Sem a musculatura, a escápula ficaria pendente e inferiorizada, assim como a cabeça do úmero não permaneceria no interior da cavidade glenoide. A seguir, enumeramos os músculos e seus respectivos métodos de palpação (HOPPENFELD, 2016). TRAPÉZIO O trapézio é um importante músculo do dorso com inserções significativas na escápula. Inervado pelo nervo acessório, o 11º par craniano com contribuição de raízes cervicais, sua contração contribui para a elevação e retração das escápulas. Esse músculo pode ser observado dando contorno à região posterossuperior do tórax e pescoço. Ele tem porções descendente, transversa e ascendente. O trapézio pode ser palpado dedilhando-se, posteriormente, a clavícula, desde a região occipital até a porção mais lateral da espinha da escápula. Ele ocupa todo o espaço interescapulovertebral, e sua porção ascendente estende-se até as apófises espinhosas torácicas mais inferiores. Sua função pode ser avaliada pela elevação dos ombros contra resistência e observação do ritmo escapular pelo dorso durante a elevação anterior repetida com o paciente com o tórax despido. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira Palpação do músculo trapézio. MÚSCULO ELEVADOR DA ESCÁPULA O músculo elevador da escápula situa-se profundamente à porção descendente do músculo trapézio. Ele se origina nos processos transversos de C1 até C4 e se insere na borda medial da escápula, acima da espinha. Sua contração contribui para a elevação escapular e lateralização cervical. ATENÇÃO Não pode ser diretamente palpado devido a sua posição. Sua função pode ser testada pela elevação da escápula contra resistência. MÚSCULOS ROMBOIDES MAIOR E MENOR Os músculos romboides são estruturas profundas ao músculo trapézio que ligam a borda medial da escápula, inferiormente à espinha, aos processos espinhosos de C7 a T5. Sua palpação é realizada no espaço interescapulovertebral, pela porção transversa do trapézio, que o recobre mais superficialmente. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação dos músculos romboides. O romboide maior é mais largo e está situado inferiormente ao romboide menor, que tem a mesma orientação de fibras e função: retração escapular e rotação inferior da escápula. Sua inervação é pelo nervo escapular dorsal, e sua função pode ser testada com a retração escapular, aproximando-se uma escápula à outra dorsalmente. MÚSCULO SERRÁTIL ANTERIOR O músculo serrátil anterior se origina na borda medial da escápula e se insere anteriormente nos primeiros nove arcos costais. Ele é inervado pelo nervo torácico longo e atua na protração escapular, mantendo a borda medial da escápula próxima ao tórax. Também atua na rotação superior da escápula. Sua ação pode ser observada pedindo-se ao paciente para empurrar a parede e observando se ocorre escápula alada, ou seja, a proeminência medial da escápula posteriormente. Devido a sua situação profunda, é dificilmente identificável por palpação em sua inserção proximal. Sua inserção nos arcos costais pode ser observada e palpada anterolateralmente em indivíduos magros e com musculatura hipertrofiada. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Músculo serrátil anterior. Visão anterolateral. MÚSCULO PEITORAL MENOR O músculo peitoral menor situa-se profundamente ao músculo peitoral maior. Ele se origina da terceira à quinta costela e se insere no processo coracoide. Inervado pelo nervo peitoral medial, ele realiza protração e rotação inferior da escápula. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do músculo peitoral menor. Ao atuar em conjunto com o músculo serrátil anterior, realiza protração pura. Por sua posição profunda, essa estrutura pode ser palpada pela região axilar, entre as costelas e o músculo peitoral maior, que deverá estar relaxado, apoiando-se o cotovelo do paciente sobre o antebraço do examinador e realizando-se ligeira flexão anterior e adução. Sua função como musculatura acessória da respiração pode ser avaliada, pedindo-se ao paciente que realize inspirações curtas e repetidas. Dessa forma, ele pode ser palpado como um cordão muscular na região referida. De maneira semelhante à função do músculo serrátil anterior, pode-se testar a protração escapular, pedindo ao paciente que empurre a parede e observe o ritmo escapular. MÚSCULO CORACOBRAQUIAL O músculo coracobraquialsó pode ser palpado a partir de sua origem no ápice do processo coracoide. Ele segue trajeto inferior, inserindo-se na diáfise do úmero, de maneira semelhante ao ventre anterior do músculo deltoide, mais superficial, com quem compartilha a função de flexão anterior do braço. Esse músculo é inervado pelo nervo musculocutâneo, ramo do fascículo lateral, nervo que muitas vezes atravessa o ventre muscular em seu trajeto da axila para a loja anterior do braço. MÚSCULO DELTOIDE O músculo deltoide localiza-se entre as margens posterior, lateral e anterior do acrômio, e o terço médio do úmero. Seu nome é proveniente da letra grega delta, que tem formato de triângulo. Sua inserção proximal, larga, dá-se na espinha da escápula posteriormente, acrômio lateral e anteriormente, e na extremidade lateral da clavícula, anteriormente. Sua inserção na tuberosidade deltoidea do úmero representa o ápice do delta ou triângulo. Ele tem três ventres musculares: POSTERIOR MÉDIO ANTERIOR Esses ventres podem ser palpados em pinça enquanto o paciente realiza abdução, com o cotovelo em 90 graus de flexão, aplicando resistência lateralmente com a palma das mãos apoiadas sobre a face lateral dos cotovelos. A porção posterior pode ser testada individualmente aplicando-se resistência posterior ao cotovelo e pedindo para o paciente realizar extensão do ombro na mesma posição. A porção anterior pode ser testada pedindo ao paciente que empurre anteriormente aplicando resistência à região palmar. A sua ativação global leva à abdução do úmero em relação à cintura escapular. Sua inervação é feita pelo nervo axilar, terminação importante do fascículo posterior do plexo braquial. O músculo deltoide dá o contorno arredondado do ombro e sua atrofia expõe a borda lateral do acrômio, dando-se a impressão de um ombro “quadrado”. Ele também pode ser palpado a partir de uma posição lateral do paciente. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Músculo deltoide. Visão lateral (esquerda) e Músculo deltoide. Visão anterior (direita). MANGUITO ROTADOR O manguito rotador é o grupo de quatro músculos cujos ventres musculares são palpáveis nas fossas escapulares onde se originam. Eles se inserem nos tubérculos maior e menor do úmero. Seus tendões são palpáveis nas inserções; porém são confluentes, não sendo possível distingui-los com precisão em suas porções mais distais. Além da rotação do úmero, esse grupo tem a função de estabilizar o fulcro de movimento da cabeça umeral, esférica, na cavidade glenoide da escápula, permitindo, assim, a ação de outros grandes grupos musculares, com inserção mais distal na diáfise do úmero, como o músculo deltoide, peitoral maior e latíssimo do dorso. MÚSCULO SUPRAESPINHAL O ventre do músculo supraespinhal pode ser palpado em sua origem, na fossa supraespinhal da escápula, e seu tendão pode ser palpado em sua inserção, na porção superior da tuberosidade maior do úmero, imediatamente lateral à margem lateral do acrômio. ATENÇÃO Uma ligeira adução e extensão do braço facilita sua exposição anterolateral. Importante notar que, mais superficialmente nessa região, também se encontra a origem do músculo deltoide, pelo qual o tendão supraespinhal é palpado. Caso o paciente tenha grande volume muscular ou espesso tecido adiposo subcutâneo, essa palpação estará prejudicada. O músculo supraespinhal é inervado pelo nervo supraescapular, após sua passagem pela incisura da escápula, sob o ligamento transverso superior. Quando atrofiado, pode-se observar, por uma inspeção do dorso do paciente, a presença de uma escavação superior à espinha da escápula. O músculo pode ser testado no teste de Jobe, pedindo ao paciente que faça elevação no plano da escápula contra resistência com o cotovelo em extensão e úmero em rotação interna, apontando os polegares do paciente para o solo. O exame bilateral simultâneo permite uma comparação com o músculo contralateral. Clinicamente, esse é o músculo mais comumente lesado na doença degenerativa do manguito rotador. TESTE DE JOBE LATERAL (LACERAÇÃO DO MANGUITO ROTADOR) Foto: Testes Ortopédicos em Fisioterapia. COZINHEIRO; HEGEDUS, 2015, p. 192. O paciente está em pé ou sentado com os braços abduzidos a 90°. O paciente roda medialmente o ombro até o extremo de movimento do úmero. O examinador aplica uma força inferior aos cotovelos do paciente enquanto o paciente resiste ao movimento. Um teste positivo é indicado pela reprodução de dor ou fraqueza ou incapacidade de realizar o teste. MÚSCULO INFRAESPINHAL O ventre do músculo infraespinhal, também inervado pelo nervo supraescapular após sua passagem pela incisura espinoglenoidal, pode ser palpado na fossa infraespinhal. Sua inserção pode ser palpada na região posterossuperior do tubérculo maior do úmero. Esse músculo é importante rotador lateral do úmero, assim como o músculo redondo menor de localização mais inferior, tanto em inserção proximal quanto distal. Esse último diferencia-se do primeiro por compartilhar com o músculo deltoide a inervação pelo nervo axilar. Foto: Intra-and interexaminer realibility do douro manual shoulder maneuvers uses to identify subacromi pain, JOHANSSON, K.; IVARSON, S, 2009, p. 238. Teste de Patte. A atrofia desses músculos gera uma escavação evidente na fossa infraespinhal à inspeção, e eles podem ser testados por rotação externa contra resistência tanto em adução quanto em abdução (Teste de Patte). Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação do ventre muscular subescapular. O ventre do músculo subescapular, único no manguito rotador devido à localização e função, pode ser palpado na fossa subescapular, localizada entre a face anterior da escápula e a parede torácica. Sua inserção tendinosa é percebida sobre e imediatamente medial ao tubérculo menor. Ele recebe inervação pelos nervos homônimos: subescapular superior e inferior e realiza a rotação medial do braço. O músculo subescapular pode ser testado através do Teste de Gerber, onde o paciente é orientado a afastar o dorso da mão posteriormente a partir da região lombar. TESTE DE GERBER Foto: Testes Ortopédicos em Fisioterapia. COZINHEIRO; HEGEDUS, 2015, p. 192. O paciente permanece sentado com o braço afetado atrás das costas. O paciente é solicitado a elevar o braço sem tocar nas costas. Um teste positivo para laceração do subescapular é indicado pela incapacidade do paciente de elevar o braço sem tocar as costas. MÚSCULO PEITORAL MAIOR O músculo peitoral maior é composto por dois ventres: CLAVICULAR ESTERNAL Sua inserção está localizada na crista lateral do sulco intertubercular do úmero. Ele forma a parede anterior da axila. Inervado pelos nervos peitorais lateral e medial, ele realiza a adução do ombro, também participando da flexão e rotação interna. O ventre muscular do peitoral maior pode ser palpado dedilhando-se sob a clavícula medialmente a partir do sulco deltopeitoral, que marca a transição entre músculo deltoide e peitoral maior. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Músculo peitoral maior. Visão anterior. O ventre esternal pode ser palpado lateralmente até a região paraesternal. Sua inserção distal pode ser palpada na axila, entre o polegar e os outros dedos durante o exame da axila. MÚSCULO LATÍSSIMO DO DORSO Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Músculo latíssimo do dorso. Visão lateral. O músculo latíssimo do dorso, também conhecido como grande dorsal, origina-se na fáscia toracolombar e na crista ilíaca, inserindo-se na crista medial do sulco intertubercular, entre os tendões peitoral maior e redondo maior. Inervado pelo nervo toracodorsal, ele realiza extensão, adução e rotação interna do úmero. Ele dá contorno à região dorsal, sendo facilmente visível e palpável naquela região. MÚSCULO REDONDO MAIOR O músculo redondo maior origina-se no ângulo inferior e borda lateral da escápula, inserindo- se na crista medial do sulco intertuberculardo úmero. Ele é inervado pelo nervo subescapular inferior. Por ter inserção mais distal, não é considerado parte do manguito rotador, apesar de participar da extensão e da rotação interna. ATENÇÃO A lesão do manguito rotador é uma doença frequente e relevante na prática clínica. Ela pode estar presente em mais da metade dos indivíduos com idade acima de 80 anos, inclusive assintomáticos. O tendão mais frequentemente acometido é o supraespinhal, e o tratamento depende de fatores como idade, sintomas, causa e demanda funcional, podendo ou não ser cirúrgico. ANÁLISE PALPATÓRIA DOS LIGAMENTOS DA CINTURA ESCAPULAR LIGAMENTO INTERCLAVICULAR, COSTOCLAVICULAR E ESTERNOCLAVICULAR O ligamento interclavicular pode ser localizado durante a palpação da incisura jugular. Ele se insere à extremidade medial de ambas as clavículas. Os ligamentos esternoclaviculares são espessamentos anterior e posterior da cápsula articular esternoclavicular. O anterior pode ser localizado e palpado entre a extremidade medial da clavícula e a incisura clavicular do manúbrio do esterno. O posterior não é palpável. Os ligamentos costoclaviculares se inserem na tuberosidade costal no aspecto inferior da extremidade medial da clavícula até a cartilagem costal da primeira costela. Têm função fundamental na estabilização das articulações esternoclaviculares. Localizam-se entre a margem inferior da clavícula e a primeira cartilagem costal, não sendo individualmente palpáveis. LIGAMENTOS CORACOCLAVICULARES E ACROMIOCLAVICULARES Os ligamentos acromioclaviculares são espessamentos superior, inferior, anterior e posterior da cápsula articular acromioclavicular. Sua porção superior e anterior pode ser palpada na interlinha articular acromioclavicular. Os ligamentos coracoclaviculares se inserem na base do processo coracoide e na superfície inferior da clavícula, não sendo palpáveis devido a sua situação profunda. O mais lateral, ligamento trapezoide, tem um trajeto mais vertical e estabiliza os movimentos acromioclaviculares no plano coronal. O mais medial, ligamento conoide, tem um trajeto mais oblíquo, originando-se mais posteriormente na superfície inferior da clavícula no tubérculo homônimo. Apesar de não serem palpáveis, os ligamentos podem ser testados clinicamente. Em caso de rompimento, a extremidade lateral da clavícula fica saliente em relação ao restante do membro superior e pode ser reduzida com digitopressão inferior, com a sensação tátil de uma tecla de piano. ATENÇÃO Na ruptura dos ligamentos acromioclaviculares, a extremidade acromial da clavícula pode ser mobilizada anteroposteriormente em relação ao acrômio. LIGAMENTO CORACOACROMIAL E TRANSVERSO SUPERIOR DA ESCÁPULA O ligamento coracoacromial liga o processo coracoide ao acrômio, fechando o chamado arco coracoacromial, estrutura que recobre os tendões do manguito rotador e sob a qual a cabeça do úmero realiza seus movimentos sem articular-se diretamente em condições fisiológicas. Ele pode ser palpado nessa região; porém é dificilmente individualizável, devido a seu formato achatado e acompanhando a curvatura da extremidade proximal do úmero. Na insuficiência do manguito rotador, a cabeça umeral migra superiormente, podendo, até mesmo, articular-se com esse arco osteoligamentar. LIGAMENTOS GLENOUMERAIS E CORACOUMERAL Os ligamentos glenoumerais são espessamentos da cápsula articular do ombro. São três no total: SUPERIOR MÉDIO INFERIOR Cada um deles permanece tenso em um ponto diferente no arco de movimento do ombro, permanecendo relaxado e redundante em outros. O superior, por exemplo, encontra-se tensionado com o ombro aduzido. Nessa mesma posição, o ligamento glenoumeral inferior permanece relaxado, formando uma grande “rede” inferior na articulação, conhecida como recesso axilar. Do ponto de vista clínico, o mais importante deles é a porção anterior do ligamento glenoumeral anterior, que se encontra tenso durante movimentos envolvendo abdução e rotação interna, posição de maior vulnerabilidade do ombro para luxação anterior. Apesar de não ser possível sua palpação direta, esses ligamentos podem ser testados com manobras específicas. O teste da apreensão é realizado com o paciente de costas para o examinador e com o braço abduzido em diferentes angulações, e rodado externo em 90 graus. O examinador segura o punho com a mão ipsilateral e estabiliza a espinha com a outra mão, apoiando a palma sobre a espinha da escápula e o terceiro dedo na ponta do processo coracoide anteriormente. Com o polegar, tenta projetar a cabeça do úmero anteriormente. Em caso de lesão do ligamento glenoumeral inferior, o paciente demonstrará apreensão com a sensação de luxação iminente do ombro. Quanto mais abduzido o ombro durante o teste, mais importante será a contribuição do ligamento glenoumeral inferior. Quanto mais aduzido, mais importante será o ligamento glenoumeral superior. TESTE DA APREENSÃO Foto: Testes Ortopédicos em Fisioterapia. COZINHEIRO; HEGEDUS, 2015, p. 159. O paciente está sentado ou em pé. O examinador está em pé atrás do paciente e segura a região supraescapular e/ou supraclavicular com uma mão e a parte proximal do antebraço do paciente com a outra mão. Com o cotovelo flexionado a 90°, o examinador abduz o ombro a 45° ou menos e roda lateralmente o ombro a 45° ou menos. Um teste positivo para instabilidade anterior decorrente de lesão óssea é indicado pelo registro de apreensão do paciente com o teste. VOCÊ SABIA A lesão da porção anterior do ligamento glenoumeral inferior é a lesão anatômica mais frequentemente associada à instabilidade anterior traumática do ombro. Ela normalmente ocorre como uma avulsão do labrum anteroinferior da cavidade glenoide; porém, também pode ocorrer como avulsão na inserção umeral ou como rotura de suas fibras intermediárias. ANÁLISE PALPATÓRIA DOS LINFONODOS DA CINTURA ESCAPULAR Os linfonodos da região axilar drenam vasos linfáticos dos quadrantes laterais da mama, do membro superior e de estruturas da parede torácica e quadrantes superiores do abdome. São de 20 a 30 em número e, quando aumentados por diversos motivos, podem ser palpáveis. Estão organizados em seis grupos ou cadeias: anterior ou peitoral, posterior ou subescapular, lateral, central, apical ou subclavicular e infraclavicular ou deltopeitoral. GRUPO ANTERIOR GRUPO POSTERIOR GRUPO LATERAL GRUPO CENTRAL GRUPO APICAL GRUPO INFRACLAVICULAR GRUPO ANTERIOR Geralmente, é composto por quatro ou cinco linfonodos grandes na borda superior do músculo peitoral maior e na borda inferior do músculo peitoral menor. Estes drenam os quadrantes laterais da mama, superior ipsilateral do abdome. GRUPO POSTERIOR É composto por seis ou sete, que podem ser encontrados anteriormente ao músculo subescapular. Eles drenam estruturas do dorso e da região cervical posterior. GRUPO LATERAL Tem de quatro a seis linfonodos que acompanham a veia axilar. Eles drenam a região lateral do membro superior. GRUPO CENTRAL Importante. é composto por três a quatro unidades, localizadas no tecido adiposo central da axila. Os linfonodos drenam linfa dos grupos anterior, posterior e lateral. GRUPO APICAL Tem de quatro a cinco linfonodos localizados na borda lateral da primeira costela. Trata-se do grupo mais profundo da axila e recebe drenagem dos outros grupos. GRUPO INFRACLAVICULAR Não se localiza na axila propriamente dita, mas drena estruturas importantes do membro superior. São dois a três linfonodos que acompanham a veia cefálica e, quando aumentados, podem preencher o sulco deltopeitoral. Para o exame da região da axila, é necessário palpação profunda, o que, ocasionalmente, pode ser um procedimento doloroso para o paciente. É importante que as unhas do examinador estejam cortadas. O examinador deve se posicionar de frente para o paciente, que deverá estar despido da cintura para cima. Foto: Gláucio Sales de Lima Siqueira. Palpação de linfonodos axilares.Deve-se observar a presença de abaulamentos ou retrações nas regiões infraclaviculares e peitoral, além das mamas, se for o caso. A palpação da fossa infraclavicular, na região do sulco deltopeitoral, pode evidenciar a presença de linfadenomegalia no grupo infraclavicular. Posiciona-se o braço do paciente em ligeira abdução, com o antebraço apoiado sobre o antebraço do examinador, permitindo uma posição confortável e relaxada para o paciente. Com a outra mão, palpa-se a axila com o segundo e o quinto dedos, procurando massas nas paredes anterior, medial, posterior e lateral da axila. Em seguida, aprofunda-se a palpação, buscando linfonodos na região central e apical, grupos importantes que drenam os demais. Normalmente, quando um linfonodo é palpado, o paciente também percebe por meio do tato. IDENTIFICAÇÃO DOS MÚSCULOS, LIGAMENTOS E LINFONODOS DA CINTURA ESCAPULAR O especialista Gláucio Sales de Lima Siqueira apresentará de maneira teórico-prática a anatomia palpatória musculoligamentar e linfática da cintura escapular e alguns testes citados no conteúdo. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O PROCESSO CORACOIDE PODE SER PALPADO DOIS CENTÍMETROS INFERIORMENTE À CONCAVIDADE ANTEROLATERAL DA CLAVÍCULA. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APRESENTA ESTRUTURAS COM INSERÇÃO NESSE ACIDENTE ANATÔMICO. A) Músculo peitoral maior, ligamento coracoacromial B) Músculo peitoral menor, ligamento trapezoide C) Músculo romboide maior, ligamento conoide D) Músculo peitoral maior, ligamento coracoumeral E) Músculo peitoral menor, ligamento transverso superior da escápula 2. QUAL GRUPO DE LINFONODOS AUXILIARES PODE SER PALPÁVEL NA REGIÃO MAIS PROFUNDA DA AXILA? A) Anterior ou peitoral B) Posterior ou subescapular C) Medial D) Infraclavicular E) Apical ou subclavicular GABARITO 1. O processo coracoide pode ser palpado dois centímetros inferiormente à concavidade anterolateral da clavícula. Assinale a alternativa que apresenta estruturas com inserção nesse acidente anatômico. A alternativa "B " está correta. O músculo peitoral menor e o ligamento trapezoide se inserem no processo coracoide. O músculo peitoral maior, o romboide maior e o ligamento transverso superior da escápula, não. 2. Qual grupo de linfonodos auxiliares pode ser palpável na região mais profunda da axila? A alternativa "E " está correta. A região mais profunda da axila é a região apical. Esses linfonodos drenam o restante dos grupos e se localizam na borda lateral da primeira costela. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS A cintura escapular humana tem uma biomecânica fascinante, já evoluída para permitir um amplo arco de movimento ao membro superior e a manipulação e o arremesso de objetos — habilidades fundamentais para o progresso da nossa espécie. Por estarem superficiais em relação a muitas outras estruturas anatômicas, os ossos, as articulações e os músculos dessa região permitem uma análise palpatória muito rica e reveladora, que, associada a um conhecimento prévio de anatomia clássica, permite a formação de uma base sólida para o desenvolvimento de habilidades semiológicas osteoarticulares e uma compreensão do funcionamento da cintura escapular, que muito ajudará o profissional de saúde na identificação das estruturas e nas possíveis lesões. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS COZINHEIRO, C. E.; HEGEDUS, E. J. Testes Ortopédicos em Fisioterapia. Barueri: Manole, 2015, p. 159. HOPPENFELD, S. Exame Clínico Musculoesquelético. Barueri: Manole, 2016. JOHANSSON, K.; IVARSON, S. Intra-and interexaminer realibility do douro manual shoulder maneuvers uses to identify subacromi pain. Manual Therapy, v. 14, p. 238, 2009. TIXA, S. Atlas de anatomia palpatória, volume 1: pescoço, tronco, membro superior. Barueri: Manole, 2009. EXPLORE+ Eis aqui algumas sugestões de leitura complementar: LEWIS, J.; REICHARD, Z. et al . Scapular position: the validity of skin surface palpation, Manual Therapy, 2002. MCDEVITT, A. W. et al . Accuracy of long head of the biceps tendon palpation by physical therapists; an ultrasonographic study. J Phys Ther Sci, 2020. WOLF, EM.; AGRAWAL, V. Transdeltoid palpation (the rent test) in the diagnosis of rotator cuff tears. Journal of Shoulder and Elbow Surgery, 2001 VILLASEÑOR-OVIES, P. et al . Clinical anatomy of the elbow and shoulder. Reumatol Clin, 2012. CONTEUDISTA Gláucio Sales de Lima Siqueira CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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