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D O R P É L V I C A FISIOPATOLOGIA DA DOR LAYANE SILVA A dor localizada no abdome e na pelve é uma das queixas mais comuns de pacientes, sendo subjetiva e frequentemente ambígua e difícil de diagnosticar e tratar, assim, é necessário buscar fontes orgânicas para a dor, mas evitar sobretratar doenças ou lesões menores ou de curta duração. A dor é um mecanismo de proteção que alerta sobre uma ameaça imediata e determina o afastamento de algum estímulo nocivo, sendo seguida por resposta emocional e efeitos comportamentais inevitáveis, assim, pode ser classificada como: somática ou visceral, a depender do tipo de fibras nervosas aferentes envolvidas - além disso, pode ser definida como inflamatória ou neuropática segundo as fases fisiológicas que as produzem. DOR INFLAMATÓRIA Na dor aguda, o estímulo nocivo ativa os receptores sensoriais da dor (nociceptores), cujos potenciais de ação cursam da periferia para os neurônios do corno dorsal na medula espinal, nesse momento, os arcos reflexos podem levar à contração muscular imediata, que afasta e protege o corpo do dano, além disso, dentro da medula espinal, a informação sensorial é amplificada ou atenuada, podendo então ser transmitida para o cérebro, e após a eliminação do estímulo agudo, a atividade do nociceptor reduz-se rapidamente. Se houver lesão tecidual, ocorre inflamação, na qual líquidos corporais, proteínas e células inflamatórias são levados ao local da lesão para reduzir dano tecidual, e sua passagem pelo endotélio depende de vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e mediadores químicos (prostaglandinas, liberadas pelo tecido atingido, e citocinas, produzidas por leucócitos e células endoteliais, são interleucinas, fatores de necrose de tecido e interferonas). Esse processo de sensibilização periférica, de forma semelhante, os neurônios dentro da medula espinal apresentam aumento da excitabilidade (sensibilização central), assim, nos tecidos inflamados, a percepção da dor é aumentada em relação à intensidade do estímulo externo, e à medida que a inflamação cede, o aumento da sensibilidade aos estímulos e maior percepção de dor cedem. EXAME FÍSICO: inicia com observação da paciente, inclui expressão facial, presença de diaforese, cor da pele (palidez) e grau de agitação. Sinais vitais: temperatura elevada, taquicardia e hipotensão indicam maior risco de patologia intra-abdominal; febre baixa constante é comum nos quadros inflamatórios (diverticulite e apendicite); temperaturas mais altas ocorrem na DIP, peritonite avançada ou pielonefrite. DOR SOMÁTICA Origina-se de nervos aferentes do SNS que inerva peritônio parietal, pele, músculos e tecidos subcutâneos, é aguda e localizada, encontrada em ambos lados do dermátomo. DIAGRAMA DOS DERMÁTOMOS DOR VISCERAL Origina-se em fibras aferentes do SNA que transmite informações das vísceras e do peritônio visceral, os estímulos nocivos são estiramento, distensão, isquemia, necrose ou espasmos dos órgãos abdominais, transmitidos por fibras aferentes viscerais esparsas causando uma dor generalizada e obtusa. Em geral, localiza-se na linha mediana pois a inervação visceral é bilateral, e suas fibras tem distribuição segmentar, e a dor visceral é localizada pelo córtex sensorial à nível da medula espinal segundo a origem embriológica do órgão. As fibras viscerais aferentes são pouco mielinizadas, e os potenciais de ação se disseminam com facilidade para estimular nervos somáticos adjacentes, assim, a dor é referida aos dermátomos que correspondem a essas fibras nervosas somáticas adjacentes, além disso, os nervos periféricos somáticos e viscerais fazem sinapse com medula espinal nos mesmos neurônios do corno dorsal, que transmitem a informação sensorial para o cérebro, cujo córtex reconhece o sinal como vindo do mesmo dermátomo independente de sua origem visceral ou somática (convergência viscerossomática). CONVERGÊNCIA VISCEROSSOMÁTICA Impulsos de dor com origem visceral chegam a neurônios que fazem sinapse com nervos somáticos periféricos, dificultando a distinção entre dor de órgão interno e dor de parede abdominal ou de assoalho pélvico DOR NEUROPÁTICA Ocorre quando o estímulo nocivo mantido leva à sensibilização central persistente e à perda permanente da inibição neuronal, assim, há redução no limiar para o estímulo da dor apesar de ter havido resolução do estímulo desencadeante, sendo base para síndromes de dores crônicas, visto que na sensibilização central, os neurônios nos segmentos da medula espinal acima ou abaixo daqueles inicialmente afetados finalmente podem ser envolvidos, resultando em dor crônica que pode ser referida ao longo de vários segmentos da medula espinal. DOR PÉLVICA AGUDA As dores agudas no abdome inferior e na pelve são queixas comuns, cuja definição varia de acordo com a duração, em geral, o desconforto está presente há < 7 dias. ETIOLOGIA DE DOR AGUDA NO ABDOME INFERIOR E PELVE DIAGNÓSTICO dor somática aguda, localizada, unilateral e concentrada: patologia pélvica subjacente que se estende a partir da víscera ao peritônio parietal adjacente ou patologia de músculos específicos ou em áreas isoladas da pele ou de tecidos subcutâneos. dor em cólica: obstrução intestinal por aderência, neoplasia, fezes ou hérnia; maior peristalse em pacientes com síndrome do intestino irritável (SII), doença intestinal inflamatória ou gastrenterite infecciosa; após contrações uterinas intensas para expulsão dos produtos da concepção, prolapso de leiomiomas submucosos ou pólipos endometriais; cálculos nas vias urinárias inferiores. Obter a história clínica enquanto se realiza a inspeção do aspecto geral e características físicas e emocionais. ANAMNESE: história clínica e cirúrgica completa, descrição oral e natureza da dor e fatores associados LAYANE SILVA Na avaliação de FC e PA, quando houver suspeita de hipovolemia intravascular, deve-se testar se há alterações ortostáticas, pode haver necessidade de instalar acesso venoso e iniciar reidratação. Exame do abdome: detecção de cicatrizes cirúrgicas, que aumentam a possibilidade de obstrução intestinal provocada por aderências ou hérnia incisional; observar distensão abdominal nos casos com obstrução ou perfuração intestinal, ou ascite; ausculta do abdome pode-se identificar sons intestinais hiperativos ou muito altos característicos de obstrução intestinal; irritação peritoneal é sugerida por aumento da sensibilidade ou rigidez abdominal que ocorre por espasmo ou defesa reflexa involuntários dos músculos abdominais. Exame da pelve: descarga vaginal purulenta ou cervicite indicam DIP; sangramento vaginal pode originar de complicações de gravidez, neoplasia benigna ou maligna do trato reprodutivo ou trauma vaginal agudo; aumento e amolecimento uterino podem ocorrer por gravidez, leiomiomas e adenomiose; dor à mobilização do colo uterino indica irritação peritoneal, pode ocorrer na DIP, apendicite, diverticulite e sangramento intra-abdominal; massa anexial sensível à palpação pode indicar gravidez ectópica, abscesso tubo-ovariano ou cisto ovariano com torção, hemorragia ou ruptura; EXAMES LABORATORIAIS: dosagem urinária ou sérica da gonadotrofina coriônica humana b (b-hCG), hemograma completo (hemorragia uterina ou intra-abdominal, infecção), exame de urina (urolitíase ou cistite), avaliação microscópica e cultura de descarga vaginal (DIP). DOR PÉLVICA CRÔNICA A dor persistente (crônica) tem origem visceral, somática ou mista, assim, se apresenta de várias formas, incluindo dismenorreia, dispareunia, vulvodínia, dor pélvica crônica (DPC), dor musculoesquelética, cólica intestinal ou disúria, tem-se que a relação das patologias subjacentes a essas formas de dor crônica é extensa, incluindo distúrbios psicológicos e orgânicos, além disso, a patologia em um órgão leva à disfunção em sistemas adjacentes. A dor pélvica crônica é um quadro clínico que pode ser desencadeado por diferentesafecções e em geral está associado a outros problemas (disfunção sexual, ansiedade e depressão), sendo definida como “sintomas dolorosos percebidos como originários de órgãos/estruturas pélvicas, tipicamente com duração > 6 meses, associado com consequências negativas do ponto de vista cognitivo, comportamental, sexual e emocional, e com sintomas sugestivos de disfunção do trato urinário, intestinal, assoalho pélvico, miofascial ou ginecológica”. CAUSAS DE DOR PÉLVICA CRÔNICA ETIOLOGIA as causas mais comuns são endometriose, leiomiomas sintomáticos e síndrome do intestino irritável. nas pacientes em que não é possível compreender a fisiopatologia da DPC, é possível que haja uma associação com o quadro de dor neuropática. Em geral, tem natureza multifatorial e, em decorrência da complexa inervação da pelve, o acometimento de diferentes órgãos e sistemas pode levar a uma mesma manifestação clínica, entre as etiologias primárias estão causas ginecológicas (endometriose, adenomiose, aderências e miomas uterinos) e não ginecológicas (intestinais, como SII e constipação crônica, urológicas, como cistite intersticial crônica, osteomusculares e distúrbios emocionais). Nesse quadro, NÃO pode haver doença orgânica justificando o quadro de algia crônica, apesar da coexistência de diversas afecções e a associação de enfermidades acentua o quadro clínico da DPC. Alterações osteomusculares: perpetua ou piora a dor, provoca adoção da postura antálgica como adaptação e proteção ao estímulo doloroso persistente, que leva à alterações posturais que contribuem para a dor. Distúrbios emocionais: podem ser originados pelo longo tempo sem diagnóstico, incerteza quanto a etiologia, anseio sobre a possibilidade de doença maligna e a redução na qualidade de vida. Sensibilização central: sob constante estímulo doloroso, há aumento da sensibilidade de membrana e eficiência sináptica culminando em diminuição do limiar nociceptivo (hiperalgesia primária), na resposta mais intensa e mais prolongada ao estímulo nociceptivo e na extensão espacial do zona dolorosa (hiperalgesia secundária). DPC DE ORIGEM GINECOLÓGICA Fisiopatologia: nas mulheres com DPC, as aderências intraperitoneais são consideradas causa da dor quando distorcem a anatomia normal ou quando o movimento produz estiramento do peritônio ou da serosa do órgão, tem- se que as aderências finas, que permitem movimento entre 2 estruturas, e as que mantinham relação com o peritônio tem maior associação com dor. Fatores de risco: cirurgia prévia, infecção intra-abdominal anterior e endometriose, mais raramente, pode ser causada por irradiação, irritação química ou reação a corpo estranho - em geral, a dor é agravada por movimentos súbitos, relação sexual ou outras atividades específicas. Diagnóstico: feito através de laparoscopia. Tratamento: lise cirúrgica para tratar sintomas dolorosos. ENDOMETRIOSE: diagnóstico mais comum nas laparoscopias em mulheres portadoras de DPC (1/3 a 70%), estas se queixam de dor pélvica crônica que tem expressiva piora no período menstrual (dismenorréia), associada a dispareunia profunda. DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA: causa comum de DPC em populações com elevada prevalência de DSTs, cerca de 30% das mulheres com DIP terão DPC em função do desenvolvimento de aderências em decorrência do intenso processo inflamatório e ocorrência de lesão tubária levando a hidrossalpinge. ADERÊNCIAS PÉLVICAS: formações fibrosas regenerativas entre superfícies opostas de órgãos ou entre um órgão e a parede abdominal, em locais onde não deveria haver ligação, em geral, decorrentes de traumas mecânicos, infecções, inflamações ou sangramentos, e quando ocorrem na pelve remetem à infertilidade, DPC, dispareunia e, em casos mais graves, obstrução intestinal - especula-se que menor mobilidade das estruturas, limitação do peristaltismo intestinal, tração entre órgãos e estímulos das fibras aferentes C desencadeiam desconforto e dor de origem visceral. Suspeita-se quando há queixa de desconforto pélvico pouco específico e de difícil caracterização do tipo da dor, início, periodicidade, fatores de melhora ou piora e irradiação - pode haver recrudescimento do sintoma álgico no período pré menstrual. CONGESTÃO OU VARIZES PÉLVICAS: ou Síndrome da Congestão Pélvica, é uma condição marcada por dilatação e tortuosidade do plexo venoso pélvico associado à diminuição do retorno venoso, podem ser desencadeadas por desembocadura da V. ovariana esquerda na V. renal esquerda a 90o, favorecendo refluxo venoso, transmissão da pulsação da aorta no cruzamento desta artéria com V. renal esquerda, e dano valvular em Vv. ovarianas. Fisiopatologia: fluxo sanguíneo retrógrado por incompetência valvar produz Vv. ovarianas ou pélvicas tortuosas ou congestas, pela dilatação mecânica e/ou disfunção hormonal ovariana, sugere-se que há aumento no diâmetro da V. pélvica na fase final da gravidez, o que leva à incompetência valvar das Vv. ovarianas e varicosidades pélvicas. O estrogênio atua como dilatador venoso, assim, a síndrome resolve-se após a menopausa e com terapia clínica antiestrogênica, assim, a dor é causada pela dilatação venosa, estase concomitante e liberação local de mediadores nociceptivos. Varizes pélvicas tratadas por esclerose e espirais de embolização na V. ovariana esquerda e cateter-guia foi inserido na V. ovariana direita para realizar venografia e embolização ovariana. LAYANE SILVA DPC DE ORIGEM UROLÓGICA CISTITE INTERSTICIAL: condição inflamatória crônica da bexiga que causa dor pélvica e disfunção irritável da bexiga, com vontade exagerada de urinar e aumento da frequência urinária, pode causar incontinência urinária, e ser referida como síndrome da bexiga dolorosa. NEOPLASIA DE BEXIGA: carcinoma in situ e carcinoma invasivo de bexiga podem ter sintomas semelhantes aos da cistite intersticial, pode ocorrer em mulheres com hematúria, história de tabagismo, ou com > 60 anos. CÂNCER DE CÓLON: a maioria das pacientes com câncer colorretal tem hematoquezia ou melena, dor abdominal e/ou mudança nos hábitos intestinais. DOENÇA CELÍACA: doença causada por reação imune ao glúten que causa prejuízos na absorção e digestão de nutrientes pelo intestino delgado, resultando em diarreia de repetição e perda de peso, além disso, as pacientes podem apresentar dor pélvica como queixa inicial. Quadro clínico e diagnóstico: pode haver massa pélvica palpável no exame bimanual, à USG, os ovários podem ser identificados como uma borda fina de córtex ovariano ao redor de cisto ovariano coexistente, pode haver necessidade de TC, RM ou, em suspeita de compressão uretral, pielografia intravenosa - exames laboratoriais (dosagem de FSH) pode ser úteis. Tratamento: manipulação hormonal para suprimir o tecido funcional, excisão cirúrgica em casos sintomáticos ou laparotomia pelo envolvimento do ureter com as aderências que revestem o tecido residual. ADENOMIOSE: tecido endometrial ectópico entre as fibras do miométrio habitualmente cursa com dor pélvica cíclica, manifestando-se com dismenorreia intensa e SUA, a dor é causada pelo sangramento ou pela descamação das ilhas de endométrio presentes no interior do miométrio no período menstrual. SÍNDROME DO OVÁRIO REMANESCENTE: condição rara observada em mulheres submetidas a ooforectomia com remoção incompleta do ovário, assim, seus fragmentos remanescentes levam a persistência da função ovariana, e podem se apresentar como massas pélvicas e cursar com dor pélvica - tem-se que a endometriose pode aumentar o risco de carcinoma de ovário em pacientes com Síndrome do Ovário Remanescente, em função disso, a excisão cirúrgica do tecido remanescente permanece tratamento de escolha. SÍNDROME DO OVÁRIO RESIDUAL: o ovário é preservado e desenvolve, após a cirurgia, alguma afecção que cause dor, como cistos ou aderências. LEIOMIOMA UTERINO: podem causar sintomas de pressão e induzir dor pela compressão, podem causar dor aguda peladegeneração, torção ou expulsão dos leiomiomas pelo colo do útero. Quadro clínico: pode haver queixa de dor ou sensação de peso na pelve, que podem se agravar no período pré-menstrual, após permanecer muito tempo sentadas, de pé ou após relação sexual, assim, ao exame bimanual, há sensibilidade à palpação na junção dos terços externo e médio de uma linha traçada entre sínfise pubiana e espinha ilíaca anterossuperior ou diretamente do ovário - podem haver varicosidades em coxas, nádegas, períneo ou vagina associadas. Diagnóstico: venografia pélvica e embolização - alternativamente, pode-se utilizar TC, RM, ultrassonografia e laparoscopia - já que o plexo venoso ovariano esquerdo é tributário da V. ovariana esquerda, que desemboca na V. renal esquerda, assim, a V. ovariana direita é tributária direta da V. cava inferior, ambas tem numerosos troncos. Tratamento: administração crônica de progestogênios ou agonista do GnRH, embolização ou ligadura da V. ovariana e histerectomia com salpingo-ooforectomia bilateral (SOB). DPC DE ORIGEM GASTRINTESTINAL SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL: ou hiperalgesia visceral, ocorre em 35% das mulheres com DPC, é uma síndrome caracterizada por dor gastrointestinal crônica ou intermitente, dor abdominal, que está associada à função intestinal, na ausência de causa orgânica, e causa disfunção intestinal. DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA: a doença de Crohn é caracterizada por fadiga, diarreia, cólica abdominal, perda de peso e febre e/ou sangramento grave, em função da natureza transmural do processo inflamatório, pode ter fibrose que evolui com quadros obstrutivos do intestino delgado e do cólon. DIVERTICULITE: podem desenvolver colite segmentar, mais comumente no cólon sigmoide, tem-se que as características endoscópicas e histológicas variam de leves alterações inflamatórias com hemorragias submucosas (manchas vermelhas peridiverticulares na colonoscopia) até quadro mais grave, com inflamação crônica ativa, assemelhando-se à doença inflamatória intestinal, a causa pode ser multifatorial, relacionada com o prolapso da mucosa, a estase fecal ou isquemia localizada. DPC DE ORIGEM OSTEOMUSCULAR dor nos 4 quadrantes do corpo; dor em pelo menos 11 áreas distintas do corpo, entre elas joelhos, ombros, cotovelos, pescoço, região pélvica e assoalho pélvico, que devem ser sensíveis ao estímulo de pressão física aplicada pelo médico. FIBROMIALGIA: é de difícil caracterização, em geral, se sobrepõe a afecções como síndrome da fadiga crônica, depressão, somatização e SII, tem-se 2 critérios para diagnóstico, são eles: DOR MIOFASCIAL PÉLVICA: coccidínia, mialgia por tensão do assoalho pélvico ou dor miofascial pélvica é causada por espasmos involuntários da musculatura do assoalho pélvico - o levantador do ânus pode sofrer processos como hipertonia, mialgia e fadiga. A etiologia inclui distúrbio inflamatório doloroso, parto, cirurgia pélvica e trauma, além de dispareunia, pode haver dor pélvica, que é agravada pela posição sentada por períodos prolongados, e aliviada com calor e ao deitar-se com quadris flexionados. DOR DE ORIGEM POSTURAL: má postura pode causar desequilíbrio muscular envolvendo musculatura abdominal, fáscia toracolombar, lombar, extensores ou flexores do quadril e abdutores, causando dor local ou referida e alterações posturais, caracteriza-se por hiperlordose, anteversão pélvica e hiperextensão de joelhos - ocorrem alterações como espasmo de assoalho pélvico, pontos-gatilho em musculatura abdominal ou lombar. DOR CRÔNICA DA PAREDE ABDOMINAL: a síndrome miofascial é a dor que se origina após contato com pontos-gatilho miofasciais na musculatura esquelética, assim, a compressão destes locais hipersensíveis provoca dor local e referida, acompanhada de fenômenos autonômicos (piloereção, vasodilatação hiperidrose ou vasoconstrição) e sintomas viscerais (diarréia, vômito). Em geral, pode estar relacionada com lesão muscular (lesão muscular direta ou tensão excessiva), escoliose postural, anormalidades articulares ou lesão nervosa (Nn. iliohipogástrico, ilioinguinal, genitofemoral, cutâneo femoral lateral, pudendo). OSTEÍTE PÚBICA: ou pubalgia, trata-se de síndrome inflamatória dolorosa da sínfise púbica, de variada etiologia, que se manifesta como complicação de cirurgia (Ex.: procedimentos uroginecológicos) ou relacionadas à gravidez / parto, atividades esportivas, trauma ou doenças reumatológicas. Em geral, a dor é agravada ao andar, subir escadas e tosse, além disso, nas pubalgias de origem infecciosas pode haver: febre, leucocitose e aumento dos níveis de hemossedimentação - quando desencadeada por esforço físico, essa dor pode tornar-se progressiva e intensa, incapacitando para atividades esportivas. Mulheres com DPC tem diminuição do limiar de dor nos Mm. do assoalho pélvico, sugerindo que mialgia por tensão do assoalho pélvico é sequela da DPC em consequência de outras doenças. DPC ASSOCIADA À SAÚDE MENTAL Transtornos mentais, como transtorno de somatização, uso de drogas, dependência de opiáceos, experiências de abuso sexual ou outros tipos de abuso físico e a depressão são comuns em mulheres com DPC. TRANSTORNO DE SOMATIZAÇÃO: deve haver 4 locais de dor, 2 sintomas gastrointestinais, 1 sintoma neurológico e 1 problema sexual e reprodutiva. DEPENDÊNCIA DE OPIÁCEOS: pacientes tratados com opióides para dor crônica têm risco de 3-7% de manifestar desordem de dependência, assim, pacientes com dor crônica têm resposta diminuída aos analgésicos opióides, sendo necessárias doses maiores para analgesia adequada. ABUSO SEXUAL E FÍSICO: há maior incidência de abuso físico ou sexual prévia em mulheres com DPC (47%), visto que o passado de experiências traumáticas pode alterar o processamento neuropsicológico dos sinais de dor, bem como as respostas hipófise-adrenal e autonômicas ao estresse. DEPRESSÃO: acredita-se que alguns casos de DPC são uma variante da depressão, ou que experiências estressantes, tais como abuso sexual na infância, pode causar DPC e depressão. DISTÚRBIOS DO SONO: podem ser resultado de dor crônica, bem como podem contribuir para a sua piora e agravamento de doenças psíquicas. LAYANE SILVA palpação do abdome com rastreamento de pontos dolorosos (superficiais ou profundos) e palpação da região lombar, articulação sacro ilíaca e sínfise púbica, notando cicatrizes e alterações como fibroses, nódulos ou pontos de gatilho. exame ginecológico com inspeção da genitália, buscando anormalidades anatômicas e lesões visíveis, analisar colo uterino, vagina, conteúdo vaginal e presença de secreção endocervical. palpação de linfonodos inguinais, avaliando linfonodomegalia inguinal ou tumorações endurecidas. palpação da bexiga, paredes vaginais e músculo elevador do ânus, utilizando-se 1 ou 2 dedos, avaliando-se presença de dor a esta manobra. toque vaginal bi-digital permite palpação mais profunda, notando nodulações e/ou espessamento em região retrocervical e ligamentos cardinais e/ou uterossacrais. toque bimanual informa sobre o tamanho e contorno uterino, mobilidade e ocorrência de dor à mobilização. palpação dos anexos, detectando cistos ou tumorações anexiais, atentando para tamanho, mobilidade, consistência e dor à manipulação. inspeção do orifício anal em busca de alterações, como doenças orificiais e prolapso retal e toque retal quando se suspeita de doenças intestinais, endometriose e malignidades. propedêutica clássica para avaliar ocorrência de alterações uterinas, ovarianas ou no fórnice posterior da vagina, e abranger identificação de alterações da musculatura de assoalho pélvico, piriforme e obturadores. a ocorrência de desnível anormal dos ossos pélvicos pode ser avaliada pela colocação simultânea da mão espalmada, de ambos os lados, entre as espinhas ilíacas ântero e posterossuperiores (EIAS e EIPS). a parede abdominal anterior e regiões inguinais também deve ser inspecionadas buscando por hérnias. inspeção do peritônio eda vulva com a paciente de pé pode permitir a identificação de varicosidades. marcha pode ser avaliada solicitando-se à paciente que caminhe pela sala. Assim, o exame físico visa confirmar ou excluir hipóteses aventadas na anamnese, por isso, deve incluir: POSTURA E MARCHA: inicialmente, a mulher é examinada de pé, e a postura deve ser avaliada nas visões anterior (simetria das EIASs, cicatriz umbilical e pontos de apoio do peso), posterior (escoliose e estabilidade horizontal de ombros, dobras glúteas e dobras dos joelhos) e lateral (lordose e cifose - postura típica da dor pélvica). Teste de Tredelenburg: paciente é solicitada a equilibrar-se sobre um dos pés, pode indicar disfunção dos músculos abdutores do quadril ou da articulação do quadril, no este positivo, quando a mulher eleva uma perna flexionando o quadril, a crista ilíaca ipsilateral sofre inclinação para baixo. Algumas mulheres com DPC tem histórias de comorbidades psiquiátricas primárias, sendo importante distingui-las das pacientes que estão desenvolvendo problemas psicológicos secundários, ou seja, pacientes que estão desenvolvendo sintomas de ansiedade, depressão ou outras expressões da psicopatologia, em reação à sua dor - como as vias nociceptivas são modulados por processos psicológicos, mecanismo que tem papel na amplificação da sintomatologia. DIAGNÓSTICO Nas mulheres com DPC de origem multifatorial, muitas vezes o único diagnóstico possível é o sindrômico, ficando a causa real da dor mascarada pela associação de doenças, assim, anamnese minuciosa e exame físico detalhado são pontos fundamentais para elucidação diagnóstica, em função disso recomenda-se a aplicação de questionários a serem preenchidos pelas pacientes antes da consulta, para otimizar o atendimento. ANAMNESE história da dor completa e avaliar os possíveis sistemas envolvidos, em especial sistema genital, gastrointestinal, urinário e músculo-esquelético. investigação de tratamentos prévios (clínicos ou cirúrgicos) ou de qualquer forma de abuso (sexual, psicológico, profissional ou doméstico). Deve abranger características da dor, a arguição detalhada dos sintomas relacionados à queixa e especial ênfase no interrogatório sobre diversos aparelhos, destacando: QUESTIONÁRIO PARA INVESTIGAÇÃO DE DOR PÉLVICA CRÔNICA características da dor de forma detalhada, incluindo dados sobre a primeira ocorrência do quadro, início da dor (súbito, insidioso), tipo (cólica, pontada, queimação), localização, duração (constante ou intermitente), intensidade (através de escala visual analógica, utilizando um calendário que contenha as características de cada episódio, mapa da dor e outras), fatores de melhora e de piora, irradiação e sintomas associados (queixas urinárias, intestinais e dispareunia). lesões nos nervos ilioinguinal ou ílio-hipogástrico durante a incisão de Pfannenstiel no parto cesariano podem causar dor na parede abdominal inferior, mesmo anos após a lesão inicial. após o parto, dor recorrente cíclica e inchaço na região de incisão de cesariana ou de episiotomia sugere endometriose na cicatriz. em nulíparas com infertilidade, a dor pode ter origem em endometriose, aderências pélvicas ou DIP crônica. a existência de cirurgia abdominal anterior aumenta o risco de aderências pélvicas na mulher, especialmente se houver infecção, sangramento ou exposição de grandes áreas de superfícies peritoneais. abuso sexual se associa a maior taxa de diagnóstico de distúrbio intestinal funcional, fibromialgia, transtorno convulsivo psicogênico e DPC. HISTÓRIA OBSTÉTRICA: gravidez e parto podem ser traumáticos para estruturas neuromusculares e foram associados a prolapso de órgão pélvico, síndromes de dor miofascial da musculatura do soalho pélvico e dor na região sinfisial ou articulação sacroilíaca. HISTÓRIA CIRÚRGICA: determinados distúrbios persistem ou recorrem com frequência, por isso, devem ser obtidas informações sobre cirurgias anteriores para tratamento de endometriose, doença por aderências ou câncer. HISTÓRIA PSICOSSOCIAL: há associação significativa entre DPC e abuso físico, emocional e sexual, por isso, deve-se questionar sobre violência doméstica e satisfação com as relações familiares, além de pesquisar sintomas de depressão, que pode causar ou ser causada por DPC. EXAME FÍSICO A etiologia da dor crônica é variada e as informações obtidas com exame físico esclarecem sua origem e orientam a solicitação de exames complementares, no entanto, no paciente com DPC, o exame de rotina pode ser extremamente doloroso, assim, o exame deve ser realizado lentamente para permitir que haja relaxamento entre cada etapa, deve-se tranquilizar a paciente de que poderá solicitar que o exame seja interrompido. EXAME COMPLEMENTARES exame de urina pode confirmar ou excluir diagnóstico de infecção urinária, PCR para clamídia e gonococco auxiliam na avaliação de DIP e um teste de gravidez permite excluir gestação. ultrassom pélvico (transvaginal) auxilia na detecção e localização de miomas uterinos e massas pélvicas. ressonância nuclear magnética pode auxiliar no diagnóstico de endometriose, adenomiose e complementar informações não fornecidas pela ultrassonografia pélvica. colonoscopia é usada na suspeita de doenças inflamatórias intestinais. ultrassonografia com Doppler e venografia são usadas na suspeita de congestão pélvica. em caso de varizes pélvicas, a laparoscopia dever ser utilizada para diagnóstico, através da realização de manobras de redução da pressão intra-abdominal e colocando a paciente em posição de proclive para identificar possíveis dilatações venosas. em caso de varicosidades isoladas, usa-se ultrassonografia endovaginal com doppler, RM, TC e flebografia ovariana retrógrada ou transuterina que demonstra aumento do diâmetro venoso ovariano e uterino e estase venosa com redução do retorno venoso. Em geral, são importantes na exclusão de outras afecções associadas e na definição da programação terapêutica, para isso solicita-se exames laboratoriais, de imagem ou cirurgias. LAPAROSCOPIA DIAGNÓSTICA E CIRURGIA LAPAROSCÓPICA: a laparoscopia diagnóstica se restringe a situações especiais nas quais outros métodos diagnósticos apresentem controvérsia, permitindo visão e biópsia das lesões, já a cirurgia laparoscópica é um tratamento potencialmente definitivo das lesões. TRATAMENTO LAYANE SILVA É comum observar uma discrepância entre sintomas e achados no exame físico em síndromes dolorosas, em função da neuroplasticidade e mecanismos de amplificação da sensibilidade a dor, assim, faz-se necessário um esforço maior para definir o tratamento tendo em mente todos os componentes do quadro. ABORDAGEM TERAPÊUTICA extensa avaliação diagnóstica seguida por tratamento da doença diagnosticada, que pode ser onerosa em função dos exames complementares. prescrição sequencial de medicações que tratam as principais causas de DPC, sem poder definir precisamente a etiologia da doença. tratamento não específico com analgésicos visando tratar a dor em vez do tratamento de doenças específicas. não se recomenda uso de opióides no tratamento de DPC, reservando seu uso para doença maligna em atividade ou para cuidados paliativos, visto que seu uso prolongado está associado a alto risco de efeitos colaterais e pode levar a dependência. alterações osteomusculares e psicoemocionais são frequentes nas pacientes com DPC, podendo ser a causa primária da síndrome ou consequência da mesma, por isso, exercícios, reabilitação, acupuntura, terapia cognitiva comportamental e cuidados integrativos promovem melhora discreta a moderada no quadro. se diagnosticada dor miofascial, considerar fisioterapia do assoalho pélvico, mobilização e liberação miofascial, interna ou externa, mobilização articular, estimulação elétrica, injeção de anestésicos em pontos gatilho e terapia sexual. em função da associação da DPC com efeitos psíquicos, como ansiedade e depressão, considerara terapia cognitiva comportamental (TCC), técnica orientada por metas utilizada em conjunto com tratamento da causa. A anamnese e o exame físico sugerem uma ou mais causas que parecem levar a DPC, assim, o plano terapêutico deve ser desenvolvido de forma multidisciplinar após discutir expectativas e pretensões da paciente quanto a tratamento clínico, cirurgias e planos de engravidar, podendo seguir 3 linhas: 1. 2. 3. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: recomenda-se uso de inibidores da recaptação de serotonina, gabapentina e pregabalina para tratamento de DPC com componente neuropático. LAPAROSCOPIA: procedimento através do qual pode-se observar a pelve de forma minimamente invasiva, que é usado na terapêutica de doenças específicas, no entanto, a lise de aderências não traz benefício para o tratamento de DPC, não sendo portanto recomendada a adesiólise como tratamento de DPC. CIRURGIA NEUROABLATIVAS: usa-se métodos como interrupção do plexo nervoso sensitivo de Lee-Frankenhauser pela ablação do ligamento útero- sacro (LUNA) por laparoscopia e eletrocauterização seguida de secção do LUS - complicações intra-operatórias, como sangramento, e pós -operatórias, como disfunções urinárias e/ou gastrintestinais são frequentes. INJEÇÃO EM PONTOS GATILHO: injeção com solução salina, anestésicos esteróides ou opióides levam a melhora da dor e da função em pacientes com dor miofascial. TOXINA BOTULÍNICA: seu uso deve ser reservado para situações em que há refratariedade aos tratamentos de primeira linha. TRATAMENTO COMPLEMENTAR:
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