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PORTUGUÊS E ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA 
PETIÇÃO – A Narração dos Fatos
Rodriguez, Victor Gabriel. Argumentação jurídica: Técnicas de persuasão e lógica informal. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
MATIAS, Naíra Germana Cordeiro. A linguagem e a argumentação em petições iniciais vistas por juízes de Direito. Monografia de conclusão do Curso de Letras, UFCG, 2007.
· Na petição inicial, peça primordial de um processo judicial, a narração é uma parte fundamental do texto jurídico e, nela, o advogado deve, em primeiro lugar, qualificar as partes, narrar os fatos importantes do caso concreto, tendo em vista que o reconhecimento de um direito passa pela análise do fato gerador do conflito.
· O texto narrativo é figurativo, isso significa dizer que ele se desenvolve por meio de figuras, personagens que agem de certa maneira, transformando a realidade.
· A construção da narrativa do texto jurídico deve seguir os seguintes elementos:
a) O que aconteceu;
b) Quem são as pessoas envolvidas no acontecimento;
c) Como ocorreu o fato;
d) Quando ocorreu o fato;
e) Onde ocorreu o fato;
f) Por que ocorreu o fato 
· A clareza da narração é uma decorrência da correção gramatical, da coerência, isto é, da relação lógica e encadeada das ideias e das palavras e da precisão vocabular, pois, o texto jurídico é um texto técnico e direcionado a um grupo específico de pessoas.
· Nenhum tipo de produção textual é inteiramente puro, ou seja, havemos de encontrar narração com aspectos descritivos ou dissertações com aspectos narrativos e até mesmo descritivos. 
· Podemos encontrar, então, um texto com diversos aspectos, o que vai depender da finalidade a ser alcançada com o texto. Com a parte narrativa dos textos jurídicos não é diferente e, geralmente, percebemos nas narrativas jurídicas uma certa função argumentativa. 
· A questão se resolve com a seleção do vocabulário, pois a partir da escolha do vocabulário, o narrador pode narrar os fatos de uma determinada perspectiva que leve o juiz, ao examinar o caso concreto, a se convencer da veracidade do fato alegado.
· Não é só pela seleção do vocabulário que o advogado pode desde logo persuadir o juiz da verdade do que narra na petição inicial, mas também, pela seleção dos fatos que vai narrar.
· A função argumentativa da narração pode decorrer, também, do emprego da descrição. O tipo de texto que se quer singularizar, isto é, indicar os aspectos e características mais relevantes de um objeto, de uma pessoa, de um lugar ou de um sentimento, tornando-os distintos de qualquer outro. 
· A narração assume aspectos de descrição quando o advogado do autor na petição inicial agrega adjetivos para se referir aos fatos ou aos personagens da cena judiciária, valorando a narrativa.
Exemplo de argumentação na narração
(...) É somente no instante fatal e funesto da ação fulminatória que a ideia preordenada do suicídio evoca também de improviso a ideia da morte de outro, e o desesperado amante chega à ideia de suicídio, mas turbada pelo homicídio, já que os freios de sua vontade já não funcionam. Então, ele em um ímpeto que obscurece os sentimentos e a vontade, com a pistola à queima-roupa, com a luz acesa, dispara três tiros contra a mulher, que se encontra nua sobre o leito. (Ferri, in: Defesas Penais).
· Nas narrações jurídicas, embora seja o objetivo principal da narração dos fatos a informação do leitor, o advogado mais atento aproveita-se da narrativa para, sem se desviar da verdade, iniciar a exposição do seu ponto de vista, no intuito de a respeito dele persuadir o leitor.
Ex.: 
a) O réu ameaçava a vítima que, aos gritos, clamava por não ser morta. Ele pediu as joias e, ao ouvir a negativa da vítima, que dizia não possuir nenhuma, não teve dúvida: com frieza desumana, puxou o gatilho do revólver encostado à cabeça da vitimada, prostrando-a no chão, sem vida, de forma cruel, por motivo absolutamente fútil.
b) O réu, no intento de roubar, pediu à vítima joias e dinheiro. Assustado, temeroso e alterado, pois não é um bandido profissional, mas incidentalmente cometendo aquele equívoco, ouviu a ríspida negação da vítima e, supondo tendo ela chance de reação, que por certo poria sua vida em risco, em um ímpeto de emoção e medo apertou o gatilho, temendo por sua sobrevivência.
A narração dos fatos é um dos requisitos essenciais da petição inicial, conforme prescreve o CPC. Trata-se da parte da petição inicial em que as informações a respeito do fato são expostas de forma ordenada, pois é com base nessas informações que o advogado faz seu pedido.
Para Campestrini & Florence (2002, p. 77), toda petição inicial de sucesso começa com o fato bem exposto. Mais: é imperativo que se dê toda a atenção possível ao fato, porque não há tese jurídica, por mais brilhante que seja, que desfaça um fato bem exposto, bem provado. Aliás, o provérbio é antigo: contra fatos não há argumentos.
Com relação à técnica de narração, aconselha-se que sejam estudados detalhadamente todos os seus componentes (principalmente as circunstâncias), separando os necessários dos desnecessários, os que podem ser provados dos que não podem, acrescentando que os fatos devem ser narrados com concisão, objetividade e lógica. Podemos acrescentar que, numa petição inicial, um fato bem narrado pode dispensar a fundamentação legal, pois da narração do fato o juiz deduz em que legislação o advogado está se fundamentando para defender sua tese.
Miranda (2004: p.45) entende que “a narrativa dos fatos na Petição Inicial tem função argumentativa, por isso é importante pensarmos em tais estratégias tendo em vista os efeitos de sentido esperados”. 
Rodríguez (2002), também considerando a questão da argumentação, afirma que, apesar de reconhecer, dentro de uma visão simplista, que a narrativa dos fatos tem o conteúdo meramente informativo, porque assume a função de esclarecer uma situação sobre a qual ainda se vai tirar o processo argumentativo “é claro que esse conteúdo informativo não é puro, porque contaminado pela constante vontade do argumentador de persuadir, ainda quando é hora de apenas informar”. 
Nesta perspectiva, Miranda (op. cit. p. 48), dialogando com Rodríguez, argumenta que o texto narração dos fatos, mesmo sendo de cunho informativo, “está submetido à ‘intenção’ do enunciador, e posteriormente proporá explicitamente uma tese”, citando também Fiorin  que trata de procedimentos argumentativos para exercer a persuasão, os quais são esclarecidos pela autora, com relação à narração dos fatos, como o distanciamento do enunciador do enunciado (a utilização da terceira pessoa, a objetividade, o transcurso de tempo e a preferência pela ordem cronológica). Todos esses elementos são estratégias de persuasão, porque produzem no enunciatário os efeitos de realidade, de verdade e, portanto, de confiança. E são esses elementos que levam o enunciatário a crer no discurso enunciado. E num segundo momento a fazer o que o discurso propõe (MIRANDA, 2004, p. 48).
Dois outros fatores são determinantes para que o enunciador acredite no discurso do enunciado: a figuratividade, representada nas personagens e coisas que atuam sobre a realidade de determinada forma modificando-a, sendo a narrativa desenvolvida por meio de figuras que se relacionam com o fato narrado e o transcurso do tempo que é considerado como a ordem com que os fatos e as figuras vão sendo apresentadas na narrativa, sendo a progressão desta temporal, “pois o tempo entre o eixo narrativo e o eixo argumentativo é que fundamenta a separação existente na construção do discurso jurídico escrito, denominada os fatos – a narrativa – e o direito – a argumentatividade” (MIRANDA, 2004, p. 50).
Assim, Rodríguez (op.cit.) propõe a seguinte ordem na seleção dos fatos: 
a) Os fatos juridicamente relevantes são aqueles sobre os quais recai consequência jurídica direta, geralmente representando o cerne da argumentação.
b) Os fatos que contribuem para a compreensão dos juridicamente relevantes são aqueles responsáveis pela criação do contexto para os primeiros, para que o ouvinte possa compreender o processoe as circunstâncias em que ocorrem os juridicamente relevantes. Tais fatos representam condições mínimas para essa compreensão e, diz-se, para que uma narrativa possa ser minimamente entendida esta deve responder às seguintes questões: o quê, quem, como, quando, onde, por que, por isso.
c) Os fatos que contribuem para a ênfase dos mais importantes são aqueles que estabelecem circunstâncias com finalidade persuasória, com vistas à argumentação.
d) Os fatores que satisfazem à curiosidade do leitor ou lhe despertam interesse são aqueles que contribuem para o progresso do conflito no discurso narrativo que faz com que o ouvinte anseie pelo seu desfecho, aumentando sua atenção.
 A narração dos fatos é também um procedimento argumentativo na petição inicial, pois o advogado não se preocupa apenas em fornecer informações a respeito desses fatos: além de seguir uma ordem cronológica na narração, respondendo às questões acima citadas (o quê, quem, como, quando, onde por que, por isso), seleciona os fatos começando pelos mais relevantes, com atenção aos que podem ser comprovados. No momento da narração dos fatos, também é necessário que o advogado dirija sua atenção à provável resposta da outra parte, a seu auditório. Por último, o pedido dirigido ao magistrado, na petição inicial, deve ter perfeita conexão com a narração dos fatos, condição essencial à aceitação desta petição pelo juiz. Ocorre que nem sempre o advogado consegue expressar com clareza e objetividade o seu pedido, de modo a se fazer compreender, conforme verificamos durante nossa pesquisa.

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