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Karen Mendes Guimarães Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) CONCEITO • É um transtorno inflamatório crônico e difuso das vias aéreas inferiores; • Irreversível; • Caráter progressivo; • Caracterizado por sintomas respiratórios e obstrução ao fluxo aéreo; • Doença comum, prevenível e controlável; • Relacionada à exposição a partículas e/ou gases nocivos, em especial associados ao tabagismo. EPIDEMIOLOGIA • Quarta maior causa de morte no mundo, e sexta na Brasil; • Mais comum em homens (tabagismo e exposição ocupacional); • Número de mulheres acometidas vem crescendo nos últimos anos; • Risco de desenvolvimento aumenta com a idade; • Maior prevalência em indivíduos acima de 60 anos; • É um importante problema de saúde pública; • Fator independente de risco cardiovascular; • Uma das principais causas de morbidade e mortalidade no mundo. FATORES DE RISCO TABAGISMO: • Principal fator de risco; • Aproximadamente 20% dos tabagistas desenvolvem DPOC – componente genético associado, e o risco não tem correlação linear com a carga tabágica; • Para o cálculo da carga tabágica, utiliza-se o número de cigarros consumidos por dia, dividido por 20 (1 maço = 20 cigarros) e multiplicado pelo número de anos em que o paciente fumou (ex: O paciente fumou 30 cigarros por dia durante 15 anos - 30/20 x 15 = 22,5 anos-maço). • Substâncias do tabaco causam alterações nas vias aéreas: • Estimulam a produção de muco e hipertrofia das glândulas submucosas; • Diminuem ou bloqueiam o movimento ciliar das células epiteliais; • Ativam macrófagos alveolares – secreção de fatores quimiotáticos (IL8) -> recrutamento alveolar de neutrófilos; • Ativam neutrófilos –> maior produção de enzimas proteolíticas (elastase), que além de lesão tecidual, induz hipersecreção de muco nas vias respiratórias (bronquite crônica); • Inibem atividade da alfa1-antitripsina (enzima inibidora fisiológica da enzima proteolítica elastase). ASMA • Inflamação da bronquite obstrutiva crônica, observada na DPOC, difere da observada na asma: • Na asma: inflamação depende de LTCD4, eosinófilos, basófilos e mastócitos. Com pouca ou nenhuma fibrose; • Na bronquite: inflamação mediada por LTCD8 citotóxicos, macrófagos e neutrófilos, estimulando fibrose das vias aéreas; • Em alguns casos de asma podem evoluir com remodelamento das vias aéreas, levando à obstrução crônica progressiva por mecanismo fibrinogênico -> quadro semelhante ao da DPOC. DEFICIÊNCIA DE ALFA1-ANTITRIPSINA • Histórico familiar de deficiência de alfa1-antitripsina; • Doença genética autossômica recessiva que cursa com enfisema pulmonar isolado em crianças ou adolescente; Karen Mendes Guimarães • Alfa1-antritripsina: glicoproteína do grupo dos inibidores de proteases; principal função é inibir uma série de enzimas (tripsina e elastase neutrofilica); • Diminuição da alfa1-antitripsina -> diminuição na proteção dos pulmões da ação elastolítica da elastase neutrofílica e, consequentemente, aumento dos efeitos dos fatores agressores (tabagismo, infecções, fatores ocupacionais) e desvio do equilíbrio em favor da ocorrência de lesão pulmonar progressiva; • Tratamento: infusão semanal de alfa1-antitripsina; • Pesquisar deficiência: enfisema em jovens, não tabagistas, em bases pulmonares, história familiar. EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL: • Mineradores de carvão -> exposição ao pó de minas de carvão é um fator de risco significativo para enfisema, tanto em fumantes quanto em não fumantes; • Magnitude das exposições no risco de DPOC é significativamente menor que o efeito do tabagismo. SEXO FEMININO: • Mulheres são afetadas pela exposição de partículas nocivas com doses menores do que os homens. BAIXO PESO AO NASCER E PREMATURIDADE: • Devido ao aumento de infecções respiratórias e alterações no desenvolvimento pulmonar. Fisiopatologia • Ocorrem duas alterações concomitantes: 1. Bronquite obstrutiva crônica: é uma doença inflamatória de pequenas vias aéreas com hipertrofia e hiperplasia de glândulas submucosas e redução do lúmen brônquico + 2. Enfisema pulmonar: ocorre perda de tecido elástico pulmonar, com alargamento dos espaços alveolares e obstrução crônica por perda de tecido de sustentação da parede brônquica, reduzindo o lúmen principalmente na expiração. • Ambas as alterações levam à obstrução de vias aéreas distais e hiperinsuflação pulmonar, visto que essa pequenas vias distais se retraem na expiração, dificultando o fluxo nessa fase e, assim, o esvaziamento adequado dos pulmões. • Com isso ocorre aumento do volume residual. As consequências ventilatórias são: • Prejuízo gradual da capacidade inspiratória devido ao volume residual crescente; • Retificação do diafragma, demandando mais da musculatura acessória (a expiração passa a precisar de um trabalho ativo para proceder). • Essas alterações estruturais resultam ainda em distúrbio de troca gasosa. A obstrução é heterogênea, com os alvéolos comprometidos se tornando mal ventilados. Também com o avançar da doença há perda de leito vascular pulmonar pela destruição dos septos alveolares. Assim institui-se um distúrbio da relação V/Q que resulta, respectivamente, em hipercapnia e hipoxemia. Em longo prazo, esse processo leva ao aumento do espaço morto e à hipossensibilidade bulbar ao CO2 (a piora transitória da hipoxemia entre as ventilações passa a ser o gatilho do “drive” no centro respiratório) e assim o indivíduo convive com acidose respiratória crônica. • O distúrbio pulmonar pode resultar ainda em disfunção de ventrículo direito (VD), caracterizando o quadro de cor pulmonale (do qual a DPOC é a principal Karen Mendes Guimarães causa). A hipóxia das áreas mal ventiladas leva à vasoconstrição local das arteríolas pulmonares, a fim de desviar a circulação para as áreas melhor ventiladas. No entanto, com o tempo essa adaptação leva a remodelamento e hipertrofia microvascular, gerando hipertensão pulmonar (HP). A HP leva ao aumento da pós-carga para o VD, podendo desencadear ao longo prazo a insuficiência do coração direito. Manifestações clínicas TOSSE CRÔNICA: • Sintoma de extrema frequência; • Seca ou produtiva (principalmente matinal); • Muitas vezes precedendo o quadro dispneico; • Bronquite Crônica é definida como a entidade clínica na qual o paciente apresenta tosse produtiva (geralmente matinal) por mais de três meses consecutivos de um ano e há mais de dois anos; • Principal causa de bronquite crônica é o tabagismo -> hipertrofia das glândulas submucosas, levando ao aumento da secreção de muco (excessivo) -> muco se acumula nas vias aéreas (principalmente durante noite de sono), pois o tabaco inibe a atividade ciliar do epitélio brônquico. • OBS: Quando a bronquite crônica não está relacionada à obstrução crônica de vias aéreas, denomina-se Bronquite Crônica Simples. Esta entidade não é uma DPOC!! DISPNEIA: • Queixa mais marcante -> dispneia aos esforços; • Evolução insidiosa, progressiva, marcada por pioras agudas desencadeadas por fatores descompensatórios (ex: infecção respiratória); • Evoluindo para dispneia a esforços cada vez menores, podendo evoluir para dispneia em repouso ou aos mínimos esforços; • Pode haver ortopneia e dispneia paroxística noturna (mais sugestivos de IC), mecanismo pode ser atribuído a dois fatores: piora da mecânica diafragmática no decúbito dorsal; aumento da secreção brônquica pela hiperatividade vagal noturna. EXAME FÍSICO: • Achados variam de acordo com a forma predominante da doença (enfisematoso ou bronquítico); • Na bronquite obstrutiva crônica: • Ausculta pulmonar: ruídos adventícios, tais como sibilos, roncos, estertores crepitantes e subcrepitantes, associados à diminuição do murmúrio vesicular. • Enfisematoso: • Ausculta pulmonar: diminuição do murmúrio vesicular, sem ruídos adventícios; elasticidadee expansibilidade pulmonar estão reduzidos, enquanto percussão mostra aumento do timpanismo. • Respiração do paciente pode chamar atenção: fase expiratória está desproporcionalmente prolongada em relação a fase inspiratória; • Em pacientes dispneicos o esforço é maior na expiração, havendo contração da musculatura abdominal. Alguns expiram como se estivessem soprando. • Casos mais avançados: • Paciente pode apresentar pletórico (pele avermelhada) -> por causa da policitemia reativa à hipoxemia crônica, mediada pelo aumento da eritropoietina renal. • A dessaturação da hemoglobina associada à eritrocitose leva à cianose; • Mistura do tom avermelhado com o tom azulado da cianose dá aspecto de eritrocianose. • Aspecto do tórax: tórax em tonel – hiperinsuflação pulmonar, com aumento do diâmetro anteroposterior; • Pacientes com Cor pulmonale: edema MMII e turgência jugular patológica – podem chamar atenção; Karen Mendes Guimarães • Baqueteamento digital não é um sinal de DPOC – aparecimento deve investigar outras doenças (neoplasia de pulmão uma das causas mais importantes); • Pode revelar dois tipos de estereotipados de pacientes: pink puffers e os blue bloaters • Pink Puffers – “sopradores róseos”: estereótipo enfisematoso. ➢ Geralmente são magros(consumidos pela doença) 50-70 anos; ➢ Na inspeção: pletora (aumento do volume sanguíneo – tom rosa)- Nos casos mais avançados, o paciente pode se mostrar pletórico, ou seja, com um tom de pele avermelhando em função de uma policetemia ativa (aumento da quantidade de hemácias circulantes) devido à hipóxia crônica, mediada pelo aumento da eritropoetina renal; ➢ Tórax em tonel; ➢ Dispneia do tipo expiratória (“sopradores”), lábios semicerrados, aumenta a pressão intratorácica, impedindo que os alvéolos se colabem muito, facilitando a expiração; mas sem sinal de cor pulmonale e hipoxemia significativa; ➢ Utiliza musculatura acessória; ➢ Ausculta pulmonar: diminuição acentuada do murmúrio vesicular, sem ruídos adventícios; ➢ Expansibilidade e elasticidade pulmonar reduzida; ➢ Percussão: timpanismo; ➢ Raio-x: área cardíaca alongada, hiperinsuflação (hipertransparência), aumento do espaço retroesternal no perfil, inversão do padrão vascular. • Blue Bloaters – “inchados azuis”: estereótipo do bronquítico grave. ➢ Distúrbio mais grave na troca gasosa do que o enfisematoso puro, apresentando-se com hipoxemia significativa, manifesta com cianose; ➢ ➢ Dessaturação da hemoglobina associada à eritrocitose leva à cianose; a mistura do tom avermelhado com o azulado da cianose da o aspecto de ertrocianose (roxo); ➢ Hipoxemia leva a cor pulmonale e, portanto, quadro de insuficiência ventricular direita e congestão sistêmica. Daí o corpo inchado (bloater); ➢ Pacientes são frequentemente obesos e com síndrome de apneia do sono; ➢ Ausculta pulmonar: rica em ruídos adventícios (sibilos, roncos, estertores). ➢ Aspecto do tórax: pode revelar hiperinsuflação pulmonar com aumento do diâmetro antero-posterior (tórax em tonel) ➢ Os pacientes mais graves podem apresentar o edema de MMII,a hiperfonese da 2ª bulha do foco pulmonar e a turgência jugular podem chamar atenção. OBS: grande maioria dos pacientes com DPOC apresenta graus variados de bronquite obstrutiva crônica e enfisema, apresentando quadros mistos entre os dois estereótipos. DIAGNÓSTICO EXAMES COMPLEMENTARES INESPECÍFICOS • Hemograma: • Eritrocitose (Ht >55%) devido a hipoxemia: fator estimulante da produção de eritropoietina nos rins, levando a um aumento da produção de hemácias na MO; Karen Mendes Guimarães • Dosagem de alfa1-antitripsina: recomendado em casos de enfisema pulmonar em <45 anos, quando não houver fator de risco para DPOC, quando o enfisema predominar em região basal, associado ou não a bronquiectasias, ou se houver história familiar da doença; • Gasometria arterial: Hipoxemia leve, moderada ou grave (PaO2 < 55 mmHg ou SaO2 <88%). A hipercapneia + acidose respiratória crônica, marcada pelo aumento do bicarbonato ocorre em 30% dos pacientes com DPOC (casos graves). • Suspeita de hipoxemia/hipercapneia aguda (DPOC com exacerbação grave); • Presença de VEF1 < 40% do previsto, mesmo fora de um contexto de descompensação; • Sinais de insuficiência de VD. • Radiografia de tórax: • O raio-X só se encontra alterado nos casos mais avançados de DPOC, possuindo sensibilidade de 50%; • Os sinais clássicos da DPOC na radiografia são: ➢ Retificação das hemicúpulas diafragmáticas; ➢ Hiperinsuflação pulmonar (aumento do numero de costelas visíveis na incidência PA – mais de 9-10 arcos costais); ➢ Hipertransparência; ➢ Aumento dos espações intercostais; ➢ Diminuição do diâmetro cardíaco (coração em gota); ➢ Aumento do espaço aéreo retroesternal no perfil; ➢ Espessamento brônquico. • O raio-X também serve para constatar complicações como pneumonia, pneumotórax e tumores. • ECG: deve-se procurar alterações de cor pulmonale – sinais de sobrecarga direita; • TC: usada para avaliação em pacientes candidatos à cirurgia de diminuição do volume pulmonar, orientando a porção do parênquima que deve ser preferencialmente ressecada, ou seja, onde a presença de enfisema é mais importante. EXAME COMPLEMENTAR ESPECÍFICO: • Prova de função pulmonar (espirometria) • É indispensável para diagnóstico da DPOC; • Assim como na asma, dará informações mais importantes acerca do grau de obstrução das vias aéreas; • Principais medidas a serem avaliadas: VEF1 e a relação VEF1/CFV (índice de Tiffenau); • Obstrução do fluxo aéreo é caracterizada pela relação entre o volume expiratório forçado no 1ª segundo (VEF1) pela capacidade vital forçada (CVF), VEF1/CVF <0,7 ou abaixo do valor teórico normal. • O grau de obstrução é diretamente quantificado pelo VEFI, que deve ser acompanhado de forma seriada no portador de DPOC, pelo menos anualmente, para demonstrar a evolução da doença. • A espirometria é indispensável para classificação da DPOC, pela intensidade da obstrução, que tem implicações terapêuticas e prognósticas. ESTADIAMENTO • Todo paciente deve classificado de acordo com a iniciativa global para doença pulmonar obstrutiva (GOLD); • Objetivo: avaliar a gravidade do quadro, o que impacta no prognóstico e no tratamento; Karen Mendes Guimarães • Na primeira etapa desse processo utiliza-se o VEF 1 obtido na espirometria, classificando a obstrução ao fluxo aéreo em Gold 1, 2, 3 ou 4. • Posteriormente, devem ser avaliadas a presença e a intensidade da dispneia e para tanto utiliza-se a escala do Modified Medical Research Council (mMRC); • Valores > ou = 2 indicam os pacientes mais sintomáticos; • Uma outra escala utilizada é a CATTM (COPD Assesment Trial), de 8 perguntas que abrangem outros sintomas além da dispneia, porém é uma escala mais complexa e, por isso, um pouco menos usada na prática. • Para finalizar o estadiamento deve-se avaliar o número de exacerbações no último ano e se houve ou não necessidade de internação. Karen Mendes Guimarães • Para determinar a classificação final, considerando as escalas sintomáticas e as exacerbações, os pacientes são alocados nos grupos A, B, C, D; e acompanhando a letra da classificação sempre há o número da classificação GOLD da obstrução ao fluxo aéreo. Este estadiamento é determinante para a conduta terapêutica. Tratamento • Objetivo: reduzir sintomas, com melhora funcional e da qualidade de vida, e reduzir os risco de exacerbações; NÃO FARMACOLÓGICOS: • Atividade física regular (mínimo de 30 min 4x/semana); • Reabilitação pulmonar: • Indicado 3-5x/semana por cerca de 3 meses – pacientes cujo comprometimento funcional é muito importante e não consegue realizar atividade física domiciliar; • Inclui pacientes hipoxêmicos, com comorbidades e os pacientes graves; • Cessartabagismo: • Principal medida para melhora da sobrevida; • Modificador da evolução; • Deve ser indicada e motivada em todas as consultas, avaliando a necessidade de tratamento farmacológico. • Vacinação: • Reduz comprovadamente o risco de exacerbação; • Devem receber anti-influenza anualmente (para todos DPOC) + antipneumocócica (vacina combinada 13-valente e vacina polissacarídica 23- valente, para todos com mais de 65 anos, ou mais jovens dependendo de comorbidade e gravidade). • Oxigenoterapia domiciliar contínua: • Deve ser feita por mais de 15h por dia, no mínimo, com 1-3L/min para Sat O2 maior ou igual a 90%. • Indicação pacientes com hipoxemia grave: PaO2 menor ou igual a 55mmHg ou Sat O2 menor que 88%; ou PaO2 entre 56-59 mmHg com evidências de cor pulmonale ou policitemia. OBS: Deve-se atentar para que a avaliação da indicação seja feita fora de uma exacerbação. OBS: Alguns pacientes podem se enquadrar nesses parâmetros apenas durante o sono ou exercício, o que indicaria a suplementação apenas nessas situações específicas, porém isso não define oxigenoterapia domiciliar contínua. Karen Mendes Guimarães CIRURGIA: • Cirurgia redutora do volume pulmonar (pneumorredutora) e procedimentos broncoscópicos de redução de volume (como implante de valva endobrônquica): • Indicada em casos selecionados de pacientes com enfisema heterogêneo ou homogêneo e hiperinsuflação refratários ao tratamento otimizado junto à reabilitação pulmonar; • Visa melhorar o distúrbio V/Q ao excluir área comprometida, mostrou melhora de sobrevida e qualidade de vida; • Bulectomia: • É a ressecção de grandes bolhas; • Deve ser indicada nos pacientes com bolhas grandes; • Auxiliando na reexpansão pulmonar e melhora sintomática. • Transplante pulmão: • Única terapia curativa; • Os pacientes com doença obstrutiva que devem ser incluídos na lista são aqueles com pelo menos um dos seguintes critérios: índice BODE (Body mass index, airflow Obstruction, Dyspnea, and Exercise capacity) ≥ 7; VEF1 < 15-20% do predito; três ou mais exacerbações graves no último ano; uma exacerbação grave com insuficiência respiratória aguda hipercápnica; e hipertensão pulmonar de moderada a grave. OBS: As únicas medidas terapêuticas que aumentam a sobrevida do paciente DPOC são A CESSAÇÃO DO TABAGISMO, A OXIGENOTERAPIA DOMICILIAR (nos hipoxêmicos) e A CIRURGIA DE REDUÇÃO DE VOLUME PULMONAR (nos indicados). Não há medicação até o momento que leve a comprovada redução de mortalidade. FARMACOLÓGICO: • Broncodilatadores: terapia de escolha do DPOC, sendo a via inalatória a preferencial; • Beta 2 agonistas de curta duração (SABA): ➢ Estimula os receptores beta 2 adrenérgicos, relaxando musculatura lisa das vias aéreas; ➢ Utilizado: pacientes com manifestações muito leves; ➢ Podendo ser usados apenas como SOS ou em uso regular, em associação com SAMA ou isolado; ➢ Principais exemplos: fenoterol ou salbutamol. • Beta 2 agonista de longa duração (LABA): ➢ A diferença é o tempo de duração, garantindo maior comodidade posológica; ➢ Principais exemplos: formoterol e salmeterol (administração de 12h/12h); ➢ Efeitos adversos: taquicardia, tremor de extremidades e hipocalemia. • Ultra LABA: administração a cada 24h; ex: indacaterol, olodaterol, vilanterol. • Anticolinérgicos de curta duração (SAMA): ➢ Atuam bloqueando os receptores muscarínicos M3 presentes na musculatura lisa das vias aéreas, assim promovendo o relaxamento; ➢ São opções terapêuticas associadas com SABA ou isolado em pacientes com poucos sintomas; ➢ Principal exemplo: brometo de ipratrópio. • Anticolinérgicos de longa duração (LAMA): ➢ Duração maior do que o SAMA; ➢ Pode ser usado isolado ou associado ao LABA; ➢ Administrados a cada 24h; ➢ Efeitos adversos: gosto metálico e sensação de xerostomia; ➢ Exemplos: tiotrópio, umeclidínio e glicopirrônio. OBS: *As últimas atualizações do GOLD citam as metilxantinas como broncodilatadores de administração sistêmica, porém não as indicam como parte do arsenal terapêutico, provavelmente pelo ganho modesto que promovem associado aos efeitos colaterais significativos. Karen Mendes Guimarães • Corticoides inalatórios: • Indicados para pacientes com exacerbações frequentes e/ou história de sobreposição com asma; • Considerados também se eosinófilo > 300 cel/microL no hemograma; • NUNCA deve ser utilizado de forma isolada, SEMPRE associado aos LABA; • Devem ser mantidos pelo menor tempo possível – aumenta risco de pneumonia nos pacientes DPOC, especialmente os graves; • Roflumilaste: • Inibidor da fosfodiesterase 4, atuando como anti-inflamatório; • Indicado naqueles que continuam tendo exacerbações apesar do tratamento com pelo menos LABA e LAMAassociados (especialmente se VEF 1< 50%); • Deve ser utilizado 500mcg 1x/dia; • Efeitos adversos: epigastralgia, náuseas, diarreia, etc. • Azitromicina: • É um macrolídeo que além de ser um antibiótico, tem efeito imunomodulador; • Este que é o buscado ao se indicar para pacientes com múltiplas exacerbações e refratariedade terapêutica; • Deve ser utilizado 250-500mg 3x/semana; • Efeitos colaterais: arritmias cardíacas, perda auditiva e aumento da resistência bacteriana. ESCOLHA DO TRATAMENTO: OBS: Vale ressaltar que, no grupo C, a monoterapia incial com LAMA é preferida, pois essa medicação foi mais efetiva em prevenir exacerbações em estudos com pacientes pouco sintomáticos. Sobre esse grupo também vale ressaltar que, se a terapia com LAMA+LABA ou LABA+CI falhar em prevenir exacerbações, o tratamento pode ser otimizado para terapia inalatória tripla (principalmente se houver mais de 100 eosinófilos no hemograma) ou para a associação de roflumilaste ou azitromicina ao LAMA+LABA. Karen Mendes Guimarães EXACERBAÇÃO • Piora aguda dos sintomas do DPOC que perdura por mais de um dia (foge do espectro da oscilação diária), necessitando de incremento na medicação de uso habitual. É um indicador de progressão de doença (as exacerbações aceleram a queda do VEF 1) e risco aumentado para novas exacerbações. • Tríade: Piora da dispneia + Piora da tosse + Piora da secreção; • Os sintomas costumam durar cerca de 7-10 dias, mas estima-se que cerca de 20% não retorna ao padrão prévio após 8 semanas da exacerbação; • Os pacientes com DPOC possuem uma diminuição da reserva pulmonar e qualquer insulto sobre o aparelho respiratório pode piorar o quadro clínico, levando à exacerbação da dispneia e eventualmente à insuficiência respiratória; • Assim, uma exacerbação da DPOC é definida como piora aguda dos sintomas respiratórios e o diagnóstico é essencialmente clínico, feito pelo reconhecimento da piora da dispneia, da tosse e/ou da expectoração (em particular quando um escarro previamente claro se torna purulento e em maior quantidade); • Na maioria das vezes as exacerbações são desencadeadas por infecções respiratórias bacterianas ou virais. • E, na maioria das vezes, a infecção não apresenta febre, leucocitose e alterações radiológicas, que, dessa forma, não são exames imprescindíveis para o inicio da antibioticoterapia, por exemplo. • Outros desencadeadores importantes são: a hiper-reatividade brônquica (broncoespasmo), exposição a elevados níveis de poluentes, drogas depressoras do centro respiratório, insuficiência cardíaca, TEP, etc. EXAMES COMPLEMENTARES: • Para pacientes que procuram pronto-atendimento por quadro de exacerbação, é necessária avaliação de: • Oximetria de pulso; • Hemograma, PCR, eletrólitos, glicose e função renal; • Gasometria arterial – deve ser solicitada se houver dessaturação no oxímetro, com objetivo de avaliar o grau da hipoxemia e da hipercapnia; • Raio-X e TC de tórax – indicado para avaliar possíveis diagnósticos diferenciais; DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: • Podem ser tantoa causa da exacerbação, quanto causa de piora respiratória sem enquadrar-se nos critérios: descompensação de insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, pneumotórax, infarto do miocárdio etc. MANEJO: • Exacerbação leve: controle ambulatorial (maioria das exacerbações); • Exacerbação moderada - necessidade de internação hospitalar em enfermaria: • Piora da dispneia ou dessaturação; • Insuficiência respiratória aguda; • Presença de cor pulmonale; • Ausência de resposta ao tratamento ambulatorial; Karen Mendes Guimarães • Ausência de suporte social o Presença de comorbidades graves associadas o Idade > 65 anos. • Exacerbação grave - necessidade de internação em unidade fechada (CTI): • Dispneia intensa sem melhora na emergência; • Alteração do estado de consciência (letargia, confusão, coma); • Hipoxemia grave (Pao2 < 40 mmHg) e/ ou acidose respiratória grave (pH < 7,25), mesmo após oxigenoterapia ou ventilação não invasiva; • Instabilidade hemodinâmica; • Necessidade de ventilação mecânica. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: • Oxigenoterapia: Medida que está indicada para pacientes com Sat O2 < 88% e com muita cautela. Os pacientes DPOC são retentores crônicos de CO2, o que leva àquela dessensibilização do centro respiratório bulbar ao gás carbônico. Assim, ao instituir oxigenoterapia podemos levar à depressão respiratória (por redução da hipoxemia transitória que deflagra o drive), com retenção ainda maior de CO2 e carbonarcose, e assim risco de rebaixamento do nível de consciência. A oferta de O2 a esses pacientes deve ser feita a um fluxo de 1-3 L/min inicialmente, de preferência com a máscara de Venturi ou similar (que promove um maior controle da oferta) e visando uma oximetria periférica entre 88-92%. • Ventilação não invasiva (VNI): medida que visa melhorar a oxigenação e a acidose respiratória, reduzindo o trabalho respiratório. A VNI reduz a necessidade de intubação, o tempo de internação e melhora a sobrevida. • Indicações: ➢ Acidose respiratória pH ≤ 7,35 e PaCO2 ≥ 45 mmHg; o Dispneia com sinais de esforço respiratório e/ou fadiga respiratória; ➢ Hipoxemia refratária ao O2, apesar de oxigenoterapia suplementar. • Contraindicações: ➢ Indicação de intubação e ventilação mecânica (absoluta) o Parada respiratória ou cardiorrespiratória (absoluta) ➢ Incapacidade de cooperar - agitação psicomotora, intolerância à VNI; ➢ Incapacidade de proteger via aérea - tosse ineficaz, vômitos, secreção abundante; ➢ Outras gerais do uso da VNI, como anastomose alta do TGI recente, trauma de face, obesidade mórbida etc. OBS: O rebaixamento do nível de consciência por acidose hipercápnica em portadores de DPOC não é uma contraindicação à VNI, desde que não haja coma. • Ventilação mecânica (VM): Objetiva-se o repouso da musculatura respiratória, a correção dos distúrbios da troca gasosa e a redução da hiperinsuflação pulmonar. Os pacientes que necessitam de VM geralmente têm maior tempo de internação, mais risco de pneumonia associada à ventilação mecânica, barotrauma e volutrauma. • Indicações: são as contraindicações da VNI. • Princípios da ventilação mecânica no DPOC: ➢ Manter uma frequência respiratória baixa - FR entre 8 e 12 irpm (evita autopeep) ➢ FiO2 suficiente para um alvo de saturação entre 92-95% (PaO2 entre 65- 80 mmHg) o Volume corrente baixo – cerca de 6 ml/kg predito ➢ Manter um fluxo inspiratório alto ➢ Manter relação inspiração: expiração de pelo menos 1:3 (a fim de reduzir a hiperinsuflação). TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: • Broncodilatadores: utilizar os SABA e/ou SAMA por inalador dosimetrado (1-2 puffs a cada hora por 2-3x consecutivas, até melhora clínica e depois manter a cada 2-4h) ou por nebulização. A medicação de uso regular do paciente (broncodilatadores de longa duração) deve ser mantida. • Corticoterapia sistêmica para todos os pacientes com exacerbação. Pode ser oral ou endovenoso, a depender do ambiente da assistência - 40 mg/dia por 6 Karen Mendes Guimarães dias de prednisona ou prednisolona ou 0,5-1 mg/kg/dia por 5 dias de metilprednisolona, respectivamente. • Antibioticoterapia: deve ser instituído nos casos graves, nos que necessitam de ventilação mecânica (invasiva ou não) e nos casos em que houver escarro purulento. O espectro antimicrobiano segue as indicações de tratamento da pneumonia adquirida na comunidade, porém deve-se atentar especialmente a fatores de risco para germes resistentes (como P. aeruginosas), perfil microbiológico local, uso crônico de glicocorticóides, uso recente de antibiótico de amplo espectro recente etc. A antibioticoterapia geralmente é feita por 5 a 7 dias, e a obtenção de cultura de secreção e outros exames para determinar o germe implicado está indicado em pacientes hospitalizados.