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Indaial – 2020 História da arte, design e indumentária Profª. Edna Regina Steinhauser Profª. Mariana Girardi Barbosa Silva 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Profª. Edna Regina Steinhauser Profª. Mariana Girardi Barbosa Silva Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: T693s Steinhauser, Edna Regina História da arte, do design e da indumentária. / Edna Regina Steinhauser; Mariana Girardi Barbosa Silva. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 276 p.; il. ISBN 978-65-5663-296-4 ISBN Digital 978-65-5663-298-8 1. História da arte. - Brasil. 2. História do design. – Brasil. 3. Indumentária. – Brasil. I. Silva, Mariana Girardi Barbosa. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 900 apresentação A disciplina de História da Arte, Design e Indumentária objetiva trazer reflexões sobre a composição teórica da Arte, do Design e da Indumentária ao longo da história, trabalhando a consonância entre elas. A disciplina também propõe uma discussão histórica acerca das dinâmicas sociais, territoriais e culturais que permeiam estas disciplinas. De posse de algumas informações, este livro propõe um levantamento de dados históricos que visam introduzir o aluno ao estudo da Arte, do Design e da Indumentária, bem como ambientá-lo para entender a proximidade dos temas. Ademais, o livro está estruturado em três unidades, que pretendem discutir os temas apresentados. A Unidade 1 trata da História da Arte, na qual, por meio de informações variadas sobre uma linha do tempo histórica, apresenta informações gerais sobre a arte, a estética, os artistas e as suas obras. Os estilos, as cores e as texturas utilizadas mesclam-se às obras arquitetônicas e as mais variadas obras de arte criadas ao longo da história. A unidade está organizada a partir de seis tópicos, sendo que o primeiro tópico pretende abordar a arte na Idade Antiga. Com a leitura dele, esperamos que você compreenda em que circunstâncias a arte teve início e como ela se desenvolveu em meio a tantas mudanças na sociedade. O segundo tópico objetiva estudar a Arte na Idade Média e seus movimentos sociais que contribuíram com uma arte voltada para a religiosidade. O terceiro tópico que abrange a Idade Moderna, compreendendo o período do Século XV ao Século XVIII. Muitos foram os acontecimentos que marcaram esta época, como o nascimento da imprensa, as viagens para as américas, a Revolução Francesa e a Industrial e, com isso, a arte também se manifesta e evolui. O quarto, quinto e sexto tópico trazem aspectos da Idade Contemporânea, da Arte do século XX, bem como da arte Pós-moderna, buscando compreender elementos das obras realizadas por artistas contemporâneos e que buscam maneiras e materiais diferenciados para executar suas obras. Esperamos que, com todas essas informações, seja possível compreender um pouco mais sobre como a sociedade e as questões culturais influenciam no desenvolvimento das artes, bem como a arte influencia os setores diversos da sociedade. A Unidade 2 apresenta uma introdução à História do Design, a fim de promover ao acadêmico conhecimentos das origens, desenvolvimento e disseminação dos conceitos que determinaram o surgimento do Design no mundo moderno e contemporâneo, identificando as diferentes áreas de abrangência e atuação profissional, bem como sua influência na moda, na arte, na comunicação e na sociedade atual. Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA A Unidade 3 introduzirá você, acadêmico, no universo da indumentária da sociedade ocidental, através da diversidade cultural e dos sujeitos no espaço social, utilizando-se das formas, texturas, cores, padrões, estruturas de divisão de classes, de poder e hierarquia, de conceitos utilitários, de beleza e apropriação artístico-culturais, trazendo, ainda, os grandes criadores e peças icônicas. Profª. Edna Regina Steinhauser Profª. Mariana Girardi Barbosa Silva Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 —HISTÓRIA DA ARTE ................................................................................................ 1 TÓPICO 1 — ARTE NA IDADE ANTIGA ........................................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 ARTE RUPESTRE ................................................................................................................................ 3 3 ARTE EGÍPCIA .................................................................................................................................... 5 4 ARTE GRECO-ROMANA .................................................................................................................. 9 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 14 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 15 TÓPICO 2 — ARTE NA IDADE MÉDIA ......................................................................................... 17 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 17 2 ARTE BIZANTINA ............................................................................................................................ 17 3 ARTE ROMÂNICA ........................................................................................................................... 18 4 ARTE GÓTICA ................................................................................................................................... 22 RESUMO DO TÓPICO 2.....................................................................................................................25 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 26 TÓPICO 3 — ARTE NA IDADE MODERNA ................................................................................. 27 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 27 2 ARTE RENASCENTISTA ................................................................................................................. 27 3 ARTE BARROCA ............................................................................................................................... 32 4 ARTE ROCOCÓ ................................................................................................................................. 33 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 35 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 36 TÓPICO 4 — ARTE NA IDADE CONTEMPORÂNEA ................................................................ 37 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 37 2 ARTE NEOCLÁSSICA ...................................................................................................................... 37 3 ARTE ROMÂNTICA ......................................................................................................................... 40 4 ARTE NO REALISMO ...................................................................................................................... 41 5 ARTE IMPRESSIONISTA ................................................................................................................ 43 6 ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA ...................................................................................................... 43 7 ARTE NATURALISTA ...................................................................................................................... 44 RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 45 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 46 TÓPICO 5 — ARTE NO SÉCULO XX ............................................................................................... 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 SEMANA DE ARTE MODERNA ................................................................................................... 47 3 EXPRESSIONISMO .......................................................................................................................... 48 4 FAUVISMO ......................................................................................................................................... 49 5 CUBISMO ............................................................................................................................................ 50 6 ABSTRACIONISMO ........................................................................................................................ 52 7 CONSTRUTIVISMO ....................................................................................................................... 53 8 SUPREMATISMO ............................................................................................................................. 54 9 DADAÍSMO ...................................................................................................................................... 54 10 SURREALISMO ............................................................................................................................... 55 RESUMO DO TÓPICO 5..................................................................................................................... 57 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 58 TÓPICO 6 — ARTE CONTEMPORÂNEA OU PÓS-MODERNA .............................................. 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 POP ART .............................................................................................................................................. 61 3 OP ART ................................................................................................................................................ 62 4 MINIMALISMO ................................................................................................................................ 63 5 TACHISMO ........................................................................................................................................ 63 6 ARTE CONCEITUAL ........................................................................................................................ 64 7 FOTORREALISMO E INTERNET ART ........................................................................................ 66 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 69 RESUMO DO TÓPICO 6..................................................................................................................... 73 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 75 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 77 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN ....................................................................................... 79 TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DESIGN ................................................................................... 81 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 81 2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE DESIGN ................................................................................. 81 3 ÁREAS DE ABRANGÊNCIA DO DESIGN ................................................................................. 86 4 ARTESANATO, DESENHO INDUSTRIAL E O CONCEITO DE STANDARD .................. 88 5 FUNÇÕES DOS PRODUTOS INDUSTRIAIS: PRÁTICA, ESTÉTICA E SIMBÓLICA ..... 91 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 93 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 95 TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX .................................. 97 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 97 2 PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .................................................................................... 97 3 SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................................. 104 4 TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .................................................................................. 111 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 114 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 115 TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN ..................................117 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 117 2 GOTHIC REVIVAL ........................................................................................................................ 117 3 ARTS AND CRAFTS (1850-1914) .................................................................................................. 118 4 ESTETICISMO – MOVIMENTO ESTÉTICO (1870-1900) ....................................................... 122 5 ART NOUVEAU E JUGENDSTIL (1890-1910) ........................................................................... 124 6 DEUTSCHER WERKBUND (1907-1935) ..................................................................................... 132 7 DE STIJL, NEOPLASTICISMO, ABSTRACIONISMO (1917-1931) ...................................... 134 8 CONSTRUTIVISMO RUSSO (1930-1950) .................................................................................. 136 9 BAUHAUS (1919-1933) .................................................................................................................... 137 9.1 FASE DA FUNDAÇÃO (1919-1923) ......................................................................................... 139 9.2 FASE DA CONSOLIDAÇÃO (1923-1928) ............................................................................... 141 9.3 FASE DA DESINTEGRAÇÃO (1928-1933) ............................................................................. 143 10 ORGANIC DESIGN (1930-1960) ................................................................................................. 144 11 STREAMILINING (1930-1950) .................................................................................................... 147 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 150 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 152 TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX ................................... 155 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 155 2 ESCOLA DE ULM – HOCHSCHULE FÜR GESTALTUNG (1952-1968)............................... 156 3 ANTIDESIGN, DESIGN RADICAL, DESIGN CONCEITUAL E CONTRADESIGN .......................................................................................................................... 160 4 HIGT-TECH ...................................................................................................................................... 162 5 MEMPHIS ......................................................................................................................................... 163 6 KITSCH .............................................................................................................................................. 164 7 DESIGN NO BRASIL ..................................................................................................................... 165 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 169 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 174 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 175 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 177 UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA .................................................................... 181 TÓPICO 1 — A INDUMENTÁRIA NA IDADE ANTIGA ......................................................... 183 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 183 2 PRÉ-HISTÓRIA – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA .............................................. 183 3 EGITO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ............................................................... 185 4 MESOPOTÂMIA – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ............................................ 187 5 GRÉCIA – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ............................................................ 189 6 ROMA – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ............................................................... 191 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 194 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 195 TÓPICO 2 — INDUMENTÁRIA NA IDADE MÉDIA ............................................................... 197 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 197 2 BIZÂNCIO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ....................................................... 198 3 PERÍODO GÓTICO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ...................................... 199 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 202 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 203 TÓPICO 3 — INDUMENTÁRIA NA IDADE MODERNA ....................................................... 205 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 205 2 RENASCIMENTO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA .......................................... 205 3 BARROCO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ....................................................... 209 4 ROCOCÓ – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA .......................................................... 211 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 214 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 216 TÓPICO 4 — INDUMENTÁRIA NA IDADE CONTEMPORÂNEA: SÉCULO XIX ................ 219 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 219 2 DANDISMO E IMPÉRIO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ............................. 220 3 ROMANTISMO E VITORIANO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA ..................... 222 4 BELLE ÉPOQUE .............................................................................................................................. 230 RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 233 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 234 TÓPICO 5 — INDUMENTÁRIA NO SÉCULO XX E XXI .......................................................... 237 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 237 2 DÉCADA DE 1910 ............................................................................................................................ 237 3 DÉCADA DE 1920 ............................................................................................................................ 239 4 DÉCADA DE 1930 ............................................................................................................................ 243 5 DÉCADA DE 1940 ............................................................................................................................247 6 DÉCADA DE 1950 ............................................................................................................................ 252 7 DÉCADA DE 1960 ............................................................................................................................ 257 8 DÉCADA DE 1990 ............................................................................................................................ 260 9 A MODA NO SÉCULO XXI ........................................................................................................... 262 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 265 RESUMO DO TÓPICO 5................................................................................................................... 271 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 273 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 275 1 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender os sentidos crítico, estético, histórico, técnico e cultural das manifestações artísticas e as premissas fundantes da criação; • compreender a moda como arte e objeto estético; • relacionar questões históricas e filosóficas da História da Arte e da Estética, interagindo com moda e suas dinâmicas específicas; • compreender as mudanças ocorridas na Arte e na Estética desde a sociedade greco-romana até o período neoclássico; • entender as mudanças ocorridas a partir do Realismo, Impressionismo e Pós-impressionismo na História da Arte e Estética; • compreender os processos das vanguardas históricas na História da Arte e Estética; • conhecer aspectos específicos sobre a arte contemporânea e sua ligação com a Moda. Esta unidade está dividida em seis tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ARTE NA IDADE ANTIGA TÓPICO 2 – ARTE NA IDADE MÉDIA TÓPICO 3 – ARTE NA IDADE MODERNA TÓPICO 4 – ARTE NA IDADE CONTEMPORÂNEA TÓPICO 5 – ARTE NO SÉCULO XX TÓPICO 6 – ARTE CONTEMPORÂNEA OU PÓS-MODERNA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 ARTE NA IDADE ANTIGA 1 INTRODUÇÃO A arte na antiguidade tem como base todas as manifestações artísticas e culturais desenvolvidas pelas antigas civilizações. Ela estende-se desde os grupos primitivos até a queda do Império Romano, em 478 d.C. As manifestações deste período são bastante diversificadas e demonstram que a arte está intimamente ligada às questões sociais e religiosas de cada época. É neste período que surgem discussões acerca dos conceitos teóricos e de estudo sobre as artes. A arte e a moda evoluem ao longo das civilizações de forma constante e migrando por caminhos distintos, mas que um dia se tornariam próximas. Povos foram caracterizando-se, formando-se e, com isso, tanto a arte quanto a moda foram se aprimorando. Segundo Treptow (2013, p. 20), “até o final da Idade Média, podemos constatar que existia indumentária, roupa, mas não moda”. Arte e moda se complementariam ao longo dos anos, sendo que a moda sempre necessita de inspiração e de elementos visuais diversos, e a arte consegue proporcionar isso com excelência. Segundo Buckley e McAssey (2013, p. 61), “elementos como composição, tema, cor e textura dessas pinturas, gravuras, esculturas e desenhos são fontes de inspiração”. Sendo assim, a arte e a moda se cruzarão diversas vezes ao longo de todos os tópicos abordados. 2 ARTE RUPESTRE O estudo do desenvolvimento das expressões artísticas e culturais e a organização das formas, estilos e conceitos, por meio de obras de arte, constituem a disciplina de História da Arte. Compreender a história da arte da Idade Antiga é reviver uma nova forma de linguagem entre os povos por meio de sinais, desenhos e cores diversas. As mais variadas técnicas, a confecção de materiais tendo como base a natureza são elementos que devemos considerar nessa fase da história da arte. Nas sociedades ágrafas, podemos citar a arte rupestre como principal realização cultural da época. A arte rupestre é considerada a forma de arte mais antiga do ser humano. A mais antiga já conhecida e registrada é datada do Período Paleolítico (aproximadamente 40.000 a.C.), sendo encontradas, em sua maioria, em paredes e tetos de cavernas, bem como em ambientes ao ar livre, realizadas por povos primitivos que habitavam várias regiões do mundo. A palavra rupestre, vem do Francês rupestre, que significa traçar, desenhar ou pintar sobre superfície rochosa. UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 4 O continente africano é o local mais expressivo em termos de quantidade de sítios arqueológicos com pinturas rupestres. Já foram catalogados mais de 100 mil sítios encontrados. FIGURA 1 – PINTURA RUPESTRE EM SERRA DA CAPIVARA FONTE: <https://cutt.ly/pgAn80l>. Acesso em: 6 out. 2020. Para que consideremos os povos primitivos, é necessária a sua relação com o modo primitivo de procura por alimentação. A caça e a colheita de vegetais representam a forma mais simples e inicial de produção. São os povos primitivos que demonstram as mais antigas formas de arte. Segundo Gombrich (1999, p. 15): Chamamos a esses povos "primitivos" não porque sejam mais simples do que nós – os seus processos de pensamento são, com frequência, mais complicados do que os nossos – mas por estarem mais próximos do estado donde, em dado momento, emergiu toda a humanidade. Entre esses primitivos não há diferença entre edificar e fazer imagens, no que se refere à utilidade. Suas cabanas existem para abrigá-los da chuva, sol e vento, e para os espíritos que geram tais eventos; as imagens são feitas para protegê-los contra outros poderes que, para eles, são tão reais quanto as forças da natureza. Pinturas e estátuas, por outras palavras, são usadas para realizar trabalhos de magia. As imagens representadas nas pinturas nas cavernas tinham conotação de imagens do dia a dia, representação de animais, seres humanos, armamentos, objetos celestes e representações de cenas de caçadas. Sendo que é fundamental compreender que as manifestações sobrenaturais, por muitas vezes, eram utilizadas para entender e representar o mundo real daqueles que viviam nesta época. Estudiosos do tema apontam que a representação das caçadas tinha também uma dimensão que transcendia a representação, já que possivelmente as pessoas da época, ao pintar um animal na parede, estavam colocando naquele espaço os próprios animais. Ao atacar os animais nas cenas de caçadas, as pessoas enfraqueceriam os animais antes da prática real de busca de alimentos, situação que os favoreceria posteriormente (PINTO, c2020, s.p.). Por conta da simplicidade que viviam, como também pelas condições sociais proporcionadas para a época, os traços eram geralmente realizados com o auxílio dos dedos, bem como de objetos pontiagudos. Além disso, as tintas das mais diversas cores eram extraídas de materiais da natureza. TÓPICO 1 — ARTE NA IDADE ANTIGA 5 [...] as cores, obtidas do carvão (preta), do óxido de ferro (vermelha e amarela) e, às vezes, com cera de abelha. Substâncias líquidas: água, clara de ovo, sangue etc., são empregadas nas pinturas. As diferentes técnicas e cores (muitas vezes superpostas) são atribuídos sentidos variados. No sul da Califórnia, por exemplo, o vermelho é considerado apropriado às cerimônias femininas (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2017, s.p.). FIGURA 2 – PINTURA RUPESTRE EM CAVERNA NA INDONÉSIA FONTE: <https://cutt.ly/SgAmkGE>. Acesso em: 6 out. 2020.Portanto, a arte rupestre parte dos princípios da natureza, bem como do modo de viver e hábitos dos povos primitivos, trazendo, ainda hoje, muitas indagações aos especialistas da História da Arte, dividindo opiniões sobre as questões estéticas referentes a esta arte. 3 ARTE EGÍPCIA Para explicar a arte egípcia, alguns pontos devem ser considerados, além de trazer seus elementos principais: a arte egípcia tem grande obsessão pela imortalidade, ou seja, os desenhos criados ao longo dos anos pelos egípcios tinham a intenção de capturar momentos e deixar registrado tudo o que se fazia em vida, para que na morte pudessem se lembrar de tudo o que haviam feito. Além disso, cenas dos rituais referentes à morte dos egípcios também eram descritas por grandiosos e detalhados desenhos. UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 6 FIGURA 3 – ARTE EGÍPCIA FONTE: <https://artout.com.br/wp-content/uploads/2018/12/Arte-Eg%C3%ADpcia-1.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. Pode-se destacar que a Arte Egípcia não sofreu mudanças por três mil anos, consequentemente os mesmos elementos, cores, formas e técnicas foram usados durante todos os períodos em que os povos egípcios viveram na antiguidade. Com as enormes construções criadas para os egípcios mais importantes, a arte e a arquitetura traziam a garantia de uma vida após a morte confortável. A arquitetura colossal e todas as obras de arte realizadas na época foram criadas para cercar e proteger o espírito dos faraós. Artistas eram contratados pelos faraós para pintarem seus túmulos com temáticas pré-estabelecidas e baseadas na vida de cada faraó. Como a arte era padronizada, não dava espaço para a criatividade dos artistas. “A dimensão das pessoas e objetos não caracterizava uma relação de proporção e distância, mas sim os níveis hierárquicos daquela sociedade. Assim, o faraó era sempre o maior dentre as figuras representadas numa pintura” (AIDAR, c2020, s.p.). Com essas informações já podemos perceber que a Arte Egípcia está intimamente conectada com as questões do espiritual e do sobrenatural. TÓPICO 1 — ARTE NA IDADE ANTIGA 7 A falta de tridimensionalidade é um aspecto que marca a Arte Egípcia. Na pintura egípcia imperava a Lei da Frontalidade, cuja regra estabelecia que o tronco das pessoas deveria ser representado de frente, enquanto a cabeça, pernas e pés estariam de perfil. Os hieróglifos eram presentes na grande maioria das pinturas. Os desenhos em sua grande maioria não se baseavam no tamanho real dos seres representados, e sim em questões hierárquicas, em que os faraós – as figuras mais imponentes da época – eram retratados maiores do que quaisquer outros elementos da cena. FIGURA 4 – ARTE EGÍPCIA: CENA SARCÓFAGO FONTE: <https://artout.com.br/wp-content/uploads/2018/12/Arte-Eg%C3%ADpcia-3.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. Cores e tintas na Arte do Egito Antigo As tintas utilizadas nas pinturas do Egito Antigo eram extraídas da natureza: Preto (kem): associado à noite e à morte, a cor preta era obtida do carvão de madeira ou de pirolusite (óxido de manganésio do deserto do Sinai). Branco (hedj): extraído da cal ou gesso, o branco simbolizava a pureza e a verdade. Vermelho (decher): representava a energia, o poder e a sexualidade, e era encontrado em substâncias ocres. Amarelo (ketj): estava associado à eternidade e era extraído do óxido de ferro hidratado (limonite). Verde (uadj): simbolizava a regeneração e a vida, e era obtido da malaquite do Sinai. Azul (khesebedj): extraído do carbonato de cobre; o azul estava associado ao rio Nilo e ao céu. FONTE: <https://www.todamateria.com.br/arte-egipcia/#:~:text=Pintura%20Eg%C3%ADpcia, parte%20da%20hist%C3%B3ria%20do%20Egito>. Acesso em: 6 out. 2020. INTERESSA NTE UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 8 O uso de sombras e a ausência de relevo nas pinturas era recorrente e as cores usadas eram sempre as convencionais. Já nas esculturas, podemos destacar a produção de obras que retratassem única e exclusivamente os deuses e faraós, trazendo elementos decorativos e artísticos para a arquitetura. Todas elas eram produzidas na perspectiva frontal e não possuíam nenhuma expressão facial. Em Curitiba, no Paraná, existe um museu egípcio O Museu Egípcio e Rosacruz foi inaugurado em 17 de outubro de 1990, durante a XIV Convenção Nacional Rosacruz. Ele possui um rico acervo de peças que contam a história dos faraós, da religião egípcia e do cotidiano daquela civilização, constituindo um excelente espaço de divulgação da antiga história egípcia. É um espaço aberto a todos aqueles que desejam conhecer o Antigo Egito, pois em suas exposições procura demonstrar como viviam e em que acreditavam os antigos habitantes da terra dos faraós. Seu acervo é formado por réplicas idênticas às originais, as quais estão expostas em diversos museus do mundo. Esses objetos foram elaborados pelos artistas plásticos Eduardo D’Ávila Vilela, Moacir Elias Santos, Luiz César Vieira Branco, Tathy Zimmermann, Christopher Zoellner e Aylton Tomás. O Museu Egípcio possui cerca de 700 peças relacionadas ao Antigo Egito. Entre as peças mais importantes, podemos citar as duas múmias autênticas do acervo: Tothmea, que possivelmente foi uma cantora ou musicista de um templo egípcio dedicado à deusa Ísis; e também a múmia de uma menina de cerca de dois anos apelidada de Wanra. Esta é uma múmia andina e, diferentemente de Tothmea, seu corpo foi preservado naturalmente através das características do ambiente onde foi enterrada. FONTE: <http://museuegipcioerosacruz.org.br/>. Acesso em: 6 out. 2020. INTERESSA NTE Os adornos e joias usados por homens e mulheres egípcias traziam toda a perspectiva artística da escultura. Colares, brincos, braceletes e tornozeleiras eram cuidadosamente esculpidos em pedras preciosas e, segundo os historiadores, serviam não apenas como adornos, mas também como itens de proteção espiritual. TÓPICO 1 — ARTE NA IDADE ANTIGA 9 FIGURA 5 – COLAR DE NEFERUPTAH –12ª DINASTIA, REINADO DE AMENEMHET III (1844-1797 a.C.) FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/_wK7VRzurvm0/SqZthaT-idI/AAAAAAAAIio/b3XGbFAGg3Y/ s320/colar2.jpg>. Acesso em 10 out. 2020. O maior destaque da arte egípcia, devido à complexidade; ao aspecto monumental das obras e de sua suntuosidade, foi a arquitetura. As obras realizadas tinham como objetivo expressar o poder dos faraós e garantir durabilidade e segurança para as tumbas, que, como já foi citado, eram de fundamental importância para um povo que acreditava na imortalidade da alma e na vida após a morte. As construções, cada um com suas funções e público específico, levavam com elas elementos culturais e religiosos das pessoas que as ocupavam. As Pirâmides eram os túmulos reais destinado ao faraó, a Mastaba era o túmulo destinado para a nobreza e o Hipogeu era o túmulo destinado ao povo. E, assim, a arte e a cultura vão se misturando aos aspectos sociais. 4 ARTE GRECO-ROMANA É comum ouvirmos falar em arte greco-romana e, isso se dá ao fato de a arte grega ter influenciado a arte romana. Quando a Grécia foi dominada, os Romanos ficaram impressionados com toda a suntuosidade que a arte grega transmitia. Todavia, a arte grega também teve influências romanas. Isso se prova com o uso dos arcos em vez das colunas na construção de templos e palácios. Questões referentes à história, à filosofia praticada por esta civilização e aos conceitos estéticos são representados pela arte grega. O povo grego foi quem mais deu visibilidade as manifestações culturais e os que tinham maior liberdade de se expressar sem depender da ordem de reis e sacerdotes. Isso se dava pelo fato de que o povo grego acreditava que o ser humano era a criação mais incrível que o universo poderia ter algum dia realizado. A arte grega teve períodos artísticos bem marcados como, o Clássico e o Helenístico, cada um com suas características e personagens, influenciando na criação de diversas obras de arte. UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 10 O Período Clássico (século V a.C. e IV a.C.)foi marcado pelo surgimento de sociedades mais democráticas e de conceitos como sociedade privada. Na arte e na cultura ocorre o apogeu das grandes construções, da pintura e da escultura em cerâmica. Na filosofia, descarta-se a visão de mito para utilizar-se da razão no intuito de explicar determinados assuntos. No Período Helenístico (século IV a.C. ao I a.C.) a civilização grega passa a ser fortalecida e se torna mais uma vez uma referência na região. Com essa expansão, a cultura grega passa a ser conhecida e difundida, realizando uma fusão das culturas. Neste período, ocorre uma mudança nas concepções artísticas, principalmente as que se referenciam à figura humana, trazendo mais movimento e sensibilidade às obras. Aqui se constrói a habilidade da civilização grega em representar as figuras humanas. Em todas as obras de arte realizadas na época, os gregos buscavam representar, por meio das pinturas, as cenas do cotidiano, assuntos sobre mitologia e esportes, bem como acontecimentos históricos. Outro ponto importante da arte grega foi a arquitetura, que teve grande destaque na época, por conta de sua grandiosidade e riqueza de detalhes, desde as características construtivas até os pequenos detalhes inscrustrados em enormes pilares que sustentavam as construções. Muitas destas obras de arte da arquitetura grega ainda podem ser conhecidos e vistos em locais históricos e turísticos da Grécia. As esculturas também foram elementos de grande relevância na arte grega. Os escultores entalhavam lindas peças em pedras com muita delicadeza. O ideal realista era primordial, visto que os escultores desejavam chegar o mais perto do realismo possível. Um exemplo de escultura feita em mármore, sendo esta a obra expoente da arte grega, é a Vênus de Milo. FIGURA 6 – VÊNUS DE MILO FONTE: <https://cutt.ly/ZgAWn6Q>. Acesso em: 6 out. 2020. TÓPICO 1 — ARTE NA IDADE ANTIGA 11 A arte grega, diferente da arte egípcia, era voltada para o proveito da vida terrena, da vida presente. Como os gregos ainda não tinham conhecimento científico de suas origens, da história da humanidade, eles utilizavam a criatividade para demonstrar por meio da arte seus crédulos mitológicos e explicações sobre os mais diversos assuntos da vida cotidiana. Contemplando a natureza, o artista se empolga pela vida e tenta, através da arte, exprimir suas manifestações. Na sua constante busca da perfeição, o artista grego cria uma arte de elaboração intelectual em que predominam o ritmo, o equilíbrio e a harmonia ideal. Tudo isso provoca consequências fundamentais na história da arte, que determinam a sobrevivência de muitos conceitos e formas desde então até hoje (IMBROISI; MARTINS, c2020a). Nas pinturas e os primeiros vestígios se encontram em vasos de cerâmica pintados com motivos geométricos, sendo que dos períodos clássico e arcaico não se encontram mais referências destas obras. Para estudá-las, faz-se necessário consultar fontes indiretas, de outros povos, que adquiriram este tipo de obra de arte, como os atenienses e os coríntios. Espalharam-se esses vasos pelo antigo mundo, em parte pela sua utilidade, como recipientes de vinho, azeite, mel e perfumes, assim como por sua beleza decorativa. As decorações dos vasos, reproduziam ou inspiravam-se nas obras de pintores famosos (FILHO, 1989, p. 75). Os vasos, portanto, além de serem obras de arte da época, eram também utilitários e importantes itens para a predominância da história do povo grego. FIGURA 7 – CRATERA PARA MISTURAR VINHO E ÁGUA FONTE: <https://cutt.ly/jgAW40v>. Acesso em: 25 jul. 2020. A arquitetura é outro ponto importante para ser comentado dentro do tema arte grega. Os templos – ou casa dos deuses, como eram chamados – foram os principais tipos de edifícios da época, mesmo que as cidades tivesses suas necessidades específicas de casas, muralhas, praças e ruas. UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 12 FIGURA 8 – COLUNAS GREGAS FONTE: <https://cutt.ly/dgAEdJt>. Acesso em: 25 jul. 2020. Um dos itens primordiais da arquitetura dos templos gregos é a simetria perfeita entre o pórtico de entrada e o pórtico dos fundos. Era construído sob uma base de três degraus, sendo sustentado por colunas. Essas colunas, portanto, eram construídas a partidas características de cada ordem arquitetônica grega: dórica, jônica ou coríntia. O Teatro Grego também foi outra manifestação cultural de suma importância na Grécia, e não é por menos que o significado do termo “Teatro” é “local onde se vê”; “local para olhar”. Teve seu início em Atenas, por volta de 550 a.C., e o deus Dionísio foi uma das suas principais inspirações. Sendo que no início era considerado uma celebração mitológica relacionado à festas, fertilidade e vinho. Com o passar do tempo e com uma organização dos grupos, essas celebrações passaram a ter enredo, atores, plateia e as devidas encenações, chegando ao formato de teatro que conhecemos hoje. Figurinos variados, elementos teatrais, cenários, danças e mímicas eram encontrados com facilidade nos teatros da época. Era considerado um grande acontecimento e tomou conta da vida social dos gregos. TÓPICO 1 — ARTE NA IDADE ANTIGA 13 FIGURA 9 – MÁSCARAS GREGAS FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/2e/f6/a2/2ef6a2dba6b0df3f731ce449522efc39.jpg>. Acesso em: 25 jul. 2020. Mulheres não podiam participar das apresentações teatrais, pois elas não eram consideradas cidadãs. Portanto, as máscaras gregas tinham o papel de auxiliar na representação de personagens tanto masculinos quanto femininos. Podemos citar dois gêneros do teatro grego: a tragédia e a comédia. Na tragédia, encontramos peças baseadas nas histórias trágicas e mitológicas, como o medo, a morte, o terror; e na comédia encontramos peças baseadas em sátiras, que abordavam diversos aspectos da sociedade grega de maneira cômica. A Grécia sempre serviu de inspiração para diversos setores da sociedade. Na moda não foi diferente. Os deuses gregos e os ideais de beleza da figura humana grega serviram de base para diversas coleções de moda desenvolvida ao longo dos anos. Um exemplo disso foi a Prada com a estilista francesa Madame Grès (1903-1993), que, em suas coleções, buscava inspiração nas deusas gregas, mostrando que mesmo as mulheres da época não tendo voz nas questões políticas (e da sociedade em geral), elas possuíam grande força nas questões religiosas, culturais e na vida privada. Diante disso, vemos mais uma prova de que a arte e a cultura trazem diferentes visões aos mais variados segmentos. 14 Neste tópico, você aprendeu que: • O estudo do desenvolvimento das expressões artísticas e culturais e a organização das formas, estilos e conceitos constituem a disciplina de História da Arte. • Nas sociedades ágrafas, podemos citar a arte rupestre como principal realização cultural da época. A arte rupestre é considerada a forma de arte mais antiga do ser humano. A mais antiga já conhecida e registrada é datada do Período Paleolítico (aproximadamente 40.000 a.C.). • Por conta da simplicidade que viviam, como também pelas condições sociais proporcionadas para a época, os traços na arte rupestre eram geralmente realizados com o auxílio dos dedos, bem como de objetos pontiagudos. • A arte egípcia tem grande obsessão pela imortalidade, ou seja, os desenhos criados ao longo dos anos pelos egípcios tinham a intenção de capturar momentos e deixar registrado tudo o que se fazia em vida, para que na morte pudessem se lembrar de tudo o que haviam feito. • A arte grega teve períodos artísticos bem marcados, como o Clássico e o Helenístico, cada um com suas características e personagens, influenciando na criação de diversas obras de arte. RESUMO DO TÓPICO 1 15 1 Arte Rupestre é o termo que denomina as representações artísticas pré-históricas realizadas em paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos rochosos (ou mesmo sobre superfícies rochosas ao ar livre). A arte rupestre possui a característica de expressar elementosda cultura do homem pré-histórico. Com base no exposto, assinale a alternativa CORRETA que apresenta os elementos da cultura do homem pré-histórico nas pinturas rupestres: a) ( ) O retrato das famílias feito de forma realista com o uso de carvão. b) ( ) A descrição de cenas relacionadas com a vida política da pólis. c) ( ) A descrição das trocas comercias intercontinentais. d) ( ) A descrição de cenas de caça, rituais e símbolos cosmológicos. e) ( ) O retrato das personalidades da tribo. 2 A arte egípcia está intimamente conectada com as questões espirituais e sobrenaturais. Sobre a Arte Egípcia, é INCORRETO afirmar: a) ( ) As grandes manifestações da arquitetura egípcia foram os magníficos templos religiosos, as pirâmides, os hipogeus e as mastabas. b) ( ) Na pintura as figuras eram representadas com os olhos e os ombros em perfil, embora com o restante do corpo de frente. c) ( ) A escultura egípcia obedecia a uma orientação predominantemente religiosa. Eram numerosas as estátuas esculpidas com a finalidade de ficar dentro de túmulos. A escultura egípcia atingiu seu desenvolvimento máximo com os sarcófagos, esculpidos em pedra ou madeira. d) ( ) A cultura egípcia foi profundamente marcada pela religião e pela supremacia política do faraó. Esses dois elementos exerceram grande influência nas artes (arquitetura, escultura, pintura, literatura) e na atividade científica. e) ( ) A gradação (a mistura de tonalidades) e o claro-escuro não eram utilizados. 3 Observe e compare as seguintes figuras: AUTOATIVIDADE 16 Cite uma diferença na forma de representação do corpo humano em uma e em outra escultura em comparação às duas fases históricas. 4 Os gregos antigos se destacaram muito no mundo das artes. As grandes obras de arquitetura, como os templos, por exemplo, eram erguidas em homenagem aos deuses gregos. A arte grega construiu um espaço significativo na história do mundo ocidental. Sobre esta arte, é INCORRETO afirmar que: a) ( ) Privilegiou a pintura e a música inspirando os artistas do tempo medieval e do renascimento. b) ( ) A arquitetura teve obras de destaque, em que um dos princípios básicos era a harmonia das formas. c) ( ) Destacou-se com originalidade na música da antiguidade, influenciando depois os grandes artistas modernistas. d) ( ) Preocupou-se em seguir os ensinamentos realistas de Platão, o maior filósofo da cultura grega que se dedicou ao estudo da estética. e) ( ) Não teve penetração na vida cotidiana das grandes cidades gregas, sendo apenas admirada pelas escolas elitizadas. 5 O Teatro Grego foi muito importante no desenvolvimento da cultura grega e, além disso, serviu de influência e inspiração para outros povos da antiguidade, sobretudo, os romanos. Vale lembrar que o termo teatro (theatron), do grego, significa “local onde se vê” ou “lugar para olhar”. O teatro grego era formado por diversos elementos, cenários e figurinos. Além da presença de júris, eles apresentavam músicas, danças e mímicas. O teatro trouxe expressões artísticas importantes para a formação do povo grego, as quais repercutiram historicamente no mundo ocidental. As tragédias gregas tinham, assim, notável força dramática e: a) ( ) Possuíam grande conteúdo ético, embora fossem distantes das manifestações religiosas. b) ( ) Tiveram repercussões na construção da filosofia e na cultura. c) ( ) Restringiam-se às grandes ações dos mitos ligados às elites. d) ( ) Não expressavam momentos de conflito dos homens com a sua existência. e) ( ) São iguais às tragédias modernas, explorando a ironia e o humor. 17 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ARTE NA IDADE MÉDIA 1 INTRODUÇÃO Também chamada de Idade das Trevas, por seus acontecimentos controversos, a Idade Média ocorreu entre os séculos V e XV d.C., a partir da queda do Império Romano, em 476 d.C. e, teve seu fim em 1453 d.C. com a tomada de Constantinopla pelos turcos. Para os estudiosos, a Idade Média foi um período de grande retrocesso artístico, cultural e intelectual para a humanidade, devido a todo o percurso sinuoso em que viveu a sociedade da época. Com o desenvolvimento das sociedades, a arte também seguiu um rumo de aprimoramento e contextualização. A arte absorve todo o cenário social e político da época trazendo para ao âmbito artístico o grande poder da igreja e toda a dificuldade encontrada dentro da sociedade. A Igreja passou a exercer sua influência sobre toda a sociedade e até mesmo sobre o Estado, sendo ela também quem continuou a contratar artistas, vitralistas, decoradores, escultores e pintores, pois os únicos edifícios públicos que ainda continuavam a construir neste período eram as igrejas. 2 ARTE BIZANTINA Extremamente ligada à Igreja, a Arte Bizantina traz consigo características vindas de regiões orientais, como a Ásia Menor e a Síria. Ela chega em um momento em que o Cristianismo passa a ser considerado como religião. A religião passa a ter um importante papel de caracterizar o imperador como a ligação fundamental entre Deus e a terra, sendo este mantenedor de do sagrado e que governava seu povo em nome de Deus. Sendo assim, todas as obras de arte da época eram voltadas para as questões religiosas. Artistas não tinham liberdade para se expressar e tinham que seguir exatamente o que lhes era solicitado. 18 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 10 – IMPERADORA TEODORA RETRATADA EM MOSAICO FONTE: <https://cutt.ly/2gAYTLW>. Acesso em: 6 out. 2020. O Mosaico foi uma das principais expressões artísticas da Arte Bizantina. Era geralmente aplicado no interior das igrejas, feito com materiais nobres e cores muito intensas, que refletiam as luzes, fazendo com que os templos se mostrassem suntuosos. Era instalado com pequenos pedaços de pedras, que eram colocados em cima de cimento, formavam enormes desenhos coloridos, significativos e religiosos. A pintura foi um movimento que não fugiu das questões referentes à religiosidade. Com o movimento iconoclastas, artistas e sociedade não poderiam adorar figuras humanas, pois a adoração poderia ser apenas para Deus. Sendo assim, outras temáticas não eram abordadas e muito menos pensadas pelos artistas. 3 ARTE ROMÂNICA A Arte Românica foi um estilo que ocorreu entre os séculos XI e XIII na Eu- ropa. O termo Românico faz menção à influência do Império Romano neste estilo e destacou-se na arquitetura, pintura e escultura, tendo maior relevância nas constru- ções de templos religiosos, construídos após a expansão do Cristianismo pela Euro- pa. Para diversos estudiosos esse foi um estilo que se perdeu ao longo dos séculos, pois ficou escondido por baixo de reformas e restauros realizados nos prédios. Com o crescimento religioso, a Arte Românica foi surgindo, trazendo características bem específicas, sendo um estilo essencialmente clerical, vista como uma extensão do serviço divino e uma oferenda à divindade. Na arquitetura, por exemplo, as igrejas foram chamadas de fortalezas de Deus, sendo as maiores já construídas neste período. Para que isso acontecesse, ocorreu uma evolução nas técnicas e materiais empregados. A utilização de pedras foi inserida na construção e o telhado de madeira, antes fáceis de serem incendiados, TÓPICO 2 — ARTE NA IDADE MÉDIA 19 foi substituído pelas abóbadas, garantindo às igrejas uma maior suntuosidade. Outras características a serem consideradas: pilares maciços e paredes espessas; fachadas simples; aberturas raras e estreitas usadas como janelas; torres que aparecem no cruzamento das naves ou na fachada; arcos em 180 graus. FIGURA 11 – ARQUITETURA ROMÂNICA FONTE: <https://cutt.ly/9gAYKxZ>. Acesso em: 3 set. 2020. É neste período que o artista aprende a representar, na escultura e na pintura, o que ele sente e não apenas o que ele vê. Contudo, ainda assim, temos nesta fase uma arte voltada para a religiosidade e sua ligação com a sociedade. A escultura renasce no período românico em grande escala e, condicionada à arquitetura,procura sempre preencher os espaços que possivelmente ficariam sem uso. As esculturas não tinham a preocupação com a representação fiel de seres e objetos, tudo era bastante simbólico e confuso, no qual representavam a imaginação dos artistas em cores fortes e vibrantes. FIGURA 12 – ESCULTURA ROMÂNICA NO TÍMPANO DA CATEDRAL DE SÃO LÁZARO EM AUTUN, FRANÇA FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/es/cu/esculturaromanica-0-cke.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. 20 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE A pintura não foi tão expoente quanto a arquitetura e a escultura, mas teve sua significância e permanece ainda sendo muito analisada ao longo dos anos pelos estudiosos. As iluminuras e as pinturas de murais foram as técnicas mais difundidas. A pintura teve como sua principal contribuição instruir a sociedade dos preceitos do cristianismo aos que não sabiam ler, que eram a grande maioria da população da época, ainda apresentou um forte caráter moral, pois trazia características relacionadas à fragilidade moral e ao pecado. As iluminuras, comumente encontradas nas letras capitulares dos livros, são ornamentos com símbolos religiosos, executados geralmente pelos monges da época. Apesar de o termo iluminura ser geralmente empregue para designar todo o conjunto pictórico de caráter decorativo ou ilustrativo que acompanhava os textos dos códices e dos livros manuscritos do período medieval, a sua aplicação tem vindo a ser gradualmente alargada, cronológica e geograficamente, de forma a englobar manifestações artísticas muito mais variadas. Temos como exemplo as iluminuras originárias do Egito e do mundo muçulmano e hindu (MURALHA, 2018, s.p.). As iluminuras passaram a integrar as peças literárias, trazendo significados para cada início de frase. Além de representar questões referentes aos textos escritos, também tinham intuito de ornamentar. Filme: O nome da Rosa (1986) | Jean-Jacques Annaud Em 1327, William de Baskerville (Sean Connery), um monge franciscano, e Adso von Melk (Christian Slater), um noviço, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. William de Baskerville pretende participar de um conclave para decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas a atenção é desviada por vários assassinatos que acontecem no mosteiro. No filme, aparecem a arte românica da arquitetura, bem como a transcrição de livros com as iluminuras feitas pelos monges. INTERESSA NTE TÓPICO 2 — ARTE NA IDADE MÉDIA 21 FIGURA 13 – MANUSCRITO DE GIOVANNI BOCCACCIO (1313-1375) FONTE: <https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b84521932/f22.highres>. Acesso em: 13 set. 2020. Nas pinturas, geralmente em murais em grandes espaços, utilizando a técnica de afresco, que originalmente era uma técnica de pintar sobre as paredes ainda úmidas, ou com a técnica de mosaicos, isto é, pequeninas pedras, de vários formatos e cores, que colocadas lado a lado vão formando o desenho. Independente da técnica, os contornos se mostravam fortemente delineados com efeitos de volume obtido por meio de linhas. O humano era a figura com maior representatividade, mas isso não significava que animais e plantas, fossem eles reais ou simbólicos, não pudessem ser representados, sendo que estes não precisavam ser fidedignos a figura que se queria apresentar. A importância do personagem que se queria representar também podia ser observada, já que pessoa da nobreza eram maiores em detrimento aos que eram de classes mais baixas. FIGURA 14 – L’OFFERTADIABELE E CAINO, MOSAICO DEL XII SECOLO, CAPPELLA PALATINA, PALERMO FONTE: <http://www.30giorni.it/upload/articoli_immagini_interne/32-12-012.jpg>. Acesso em: 13 ago. 2020. 22 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE Desenhos de paisagens eram poucos explorados, sendo que os cenários que eram pintados com os personagens geralmente eram abstratos ou semiabstratos. 4 ARTE GÓTICA Com características bem específicas, a Arte Gótica chega como uma resposta de contraposto à rigidez da Arte Românica, totalmente baseada na harmonia. O período gótico acontece no Renascimento do século XII até o Renascimento Italiano, quando a inspiração clássica chega para modificar tudo o que já tinha sido realizado em termos de arte. A palavra Gótico vem do termo Godos – povo bárbaro que, em 410 d.C., invadiu Roma no período de sua decadência. Foi originalmente usado para se referir a coisas obscuras e aos bárbaros. FIGURA 15 – CATEDRAL DE NOTRE-DAME, FRANÇA, UM DOS PRINCIPAIS ÍCONES DA ARQUITETURA GÓTICA FONTE: <https://cutt.ly/3gAIR8V>. Acesso em: 3 jul. 2020. Novamente, é na arquitetura, junto à religião, que a Arte Gótica passa a ter maior representatividade no Período Gótico. A principal característica da arquitetura gótica é a altura de todas as construções, que se tornam mais imponentes e pontiagudas, criando ainda a impressão da pequenez do homem frente à suntuosidade das edificações. As estruturas das construções, como paredes e colunas são mais finas e leves, apresentando nervuras que as reforçavam, além do uso do arco ogival ou agudo. A entrada das catedrais possui três portais, ao contrário de um único portal presente nas construções românicas. Com a altura das edificações e as diversas inovações arquitetônicas, a iluminação no interior dos projetos passa a ser mais privilegiada, as janelas são revestidas por vitrais e existe a presença de rosáceas. A decoração, tanto interna quanto externa dos edifícios, também passa a ser apreciada. TÓPICO 2 — ARTE NA IDADE MÉDIA 23 A arquitetura gótica passou por três fases, o Gótico Primitivo, cujas primeiras ideias de estética da época foram incorporadas e estudadas para posteriormente serem executadas. O Gótico Pleno (ou clássico), em que já com o domínio das técnicas e a estética consolidada foram erguidos muitos edifícios. Essa é a fase onde várias catedrais conhecidas pelo estilo gótico foram erguidas. E, por fim, o Gótico Tardio, no qual, depois da passagem da peste negra, por volta do século XIV, a crise econômica e a escassez de recursos obrigaram a sociedade a realizar construções mais modestas. FIGURA 16 – CATEDRAL DE CHARTRES NA FRANÇA, CONSIDERADA COMO A BÍBLIA FEITA DE PEDRA FONTE: <https://cutt.ly/ogAIMEP>. Acesso em: 6 out. 2020. Com a grande presença das janelas nos espaços, um tipo de arte que surge com maior ênfase são os vitrais, mosaicos coloridos que representavam temas referentes à religiosidade e a vida em sociedade, visto que diversos outros edifícios além de igrejas foram construídos, como casas de burgueses, hospitais e espaços públicos. A pintura gótica surge praticamente meio século, depois do surgimento da arquitetura gótica, aproximadamente no ano de 1200, alcançando seu ápice entre 1300 e 1350, tornando-se independente da arquitetura. Inicialmente, ela era usada no interior das catedrais. Em seguida, ela passa a ocupar diversos outros locais, como castelos e palácios ao redor das cidades. 24 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 17 – “O CASAL ARNOLFINI” DE JAN VAN EYCK FONTE: <https://farm5.staticflickr.com/4838/45273996964_201414e4bc_o.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. O foco principal das pinturas era religioso, mas ainda assim eram consideradas sombrias e emotivas. Exemplos de artistas desta época, Giotto (1267-1337) e o belga Jan Van Eyck (1390-1441), foram expoentes com suas obras de arte, ainda hoje cobiçadas pelos maiores museus do mundo. A escultura gótica existente toma forma e espaço dentro das igrejas. Todavia, antes de se tornar um amontoado de esculturas em um lugar apenas, as esculturas passam a ter uma representatividade dentro do local em que estão instaladas, trazendo uma independência em relação a arquitetura. Artistas passam a utilizar uma infinidade de materiais para suas obras, buscando sempre apresentar formas que proporcionam movimento, tornando-se um trabalho moderno e inovador para a época. 25 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Extremamente ligada à Igreja, a arte bizantina traz consigo característicasvindas de regiões orientais, como a Ásia Menor e a Síria. Ela chega em um momento em que o Cristianismo passa a ser considerado como religião. • O mosaico foi uma das principais expressões artísticas da arte bizantina. Era geralmente aplicado no interior das igrejas, feito com materiais nobres e cores muito intensas, que refletiam as luzes, fazendo com que os templos se mostrassem suntuosos. • A arte românica foi um estilo que ocorreu entre os séculos XI e XIII, na Europa. • O termo românico faz menção à influência do Império Romano neste estilo e, destacou-se na arquitetura, pintura e escultura, tendo maior relevância nas construções de templos religiosos, construídos após a expansão do Cristianismo pela Europa. • Com características bem específicas, a arte gótica chega como uma resposta à rigidez da arte românica, sendo totalmente baseada na harmonia. 26 1 Os historiadores da arte sugerem que o termo “gótico” tenha sido cunhado pelo humanista Giorgio Vasari (1511-1574), no século XVI, em referência a um tipo de arte nascido na Baixa Idade Média, com grande expressão na arquitetura e na pintura e, que se diferenciava da arte românica, produzida antes dela. Entre os primeiros pintores do estilo gótico que podemos mencionar, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Pablo Picasso. b) ( ) Giotto di Bondone. c) ( ) Leonardo da Vinci. d) ( ) El Greco. e) ( ) Francis Bacon. 2 Leia o texto a seguir. AUTOATIVIDADE Em 1127, São Bernardo (1090-1153) reconciliou-se com Suger (c. 1085-1151). Em uma carta (n. 78), Bernardo congratulou-se efusivamente com ele por ter reformado sua abadia, mas, sobretudo, por passar a viver uma vida verdadeiramente cristã, modesta, mesmo em meio ao fausto do poder. Essa importante reforma e redecoração levada a cabo por Suger em Saint-Denis, a mais régia das igrejas (originalmente um mosteiro), deu origem a uma nova arte, o gótico, que, em Saint-Denis, foi a mais perfeita expressão concreta da filosofia da metafísica da luz do Pseudo-Dionísio Areopagita (séc. V). No espetáculo poético da esfuziante irradiação da luz, em Saint-Denis, a transcendência repousou na matéria, a luz na cor, a contemplação na ação. FONTE: COSTA, R. da. A luz deriva do bem e é imagem da bondade: a metafísica da luz do Pseudo Dionísio Areopagita na concepção artística do abade Suger de Saint-Danis. In: Revista de Filosofia e Mística Medieval. Curitiba, v. 6, n. 2, p. 39-52, jul./dez. 2009. A beleza, apontada pelo texto de Ricardo da Costa, referente à primeira construção tipicamente gótica da Idade Média, estava associada à claridade, à luz e à cor. Esses elementos, trabalhados inicialmente na Catedral de Saint- Denis, tornaram-se comuns nas outras construções góticas espalhadas por toda a Europa. Sobre como a luz e a cor preenchiam o interior das catedrais góticas, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Por meio das grandes lucarnas construídas no centro das catedrais. b) ( ) Por meio das pinturas dos artistas do Renascimento. c) ( ) Por meio da arte da escotilha. d) ( ) Por meio da arte dos vitrais. e) ( ) Por meio das iluminuras. 27 TÓPICO 3 — UNIDADE 1 ARTE NA IDADE MODERNA 1 INTRODUÇÃO A Idade Moderna compreende o período do século XV ao século XVIII. Muitos foram os acontecimentos que marcaram esta época, como o nascimento da imprensa, as viagens para as américas, a Revolução Francesa e a Industrial. A arte na Idade Moderna, especialmente voltada para o século XV e XVI, alcançava o objetivo de tornar o homem universal, versado em muitas disciplinas. Identificada com as fases do renascimento Trecento (século XIV), Quatroccento (século XV), Cinquecento (século XVI). No Trecento, Giotto di Bondoni destaca-se nas artes plásticas, procurando romper com o que já havia se concebido na Idade Medieval, buscando maior profundidade em seus quadros, sendo que as personagens que aparecem nas pinturas, mesmo ainda sendo de origem religiosa, passam a caracterizar mais os sentimentos e as emoções, o que até então não era explorado. No Quatrocento, diversos artistas passaram a ser contratados para realizar projetos arquitetônicos de igrejas, bem como pintar quadros e realizar esculturas. Apoiar as artes naquela época era considerado uma alavanca para a posição social. Aqui, Sandro Botticelli e Leonardo da Vinci ganham expressiva notoriedade. Já no Cinquecento, o Renascimento passa a ocupar uma posição de destaque na Idade Moderna, expandindo-se para fora da Itália. Com a expansão marítima e o avanço das grandes cidades, artistas passam a ser mais valorizados, possibilitando o surgimento de novos nomes na literatura, na pintura e nas artes em geral. Todos esses marcos históricos trouxeram para a arte diversas características que conheceremos a seguir. 2 ARTE RENASCENTISTA A arte Renascentista pode ser inserida em dois grandes marcos da história, pois ela inicia quando a Idade Média está finalizando e a Idade Moderna iniciando. Portanto, ainda podemos dizer que ela faz parte também da Idade Média, pois incluía em seu repertório temas religiosos que eram o foco da arte medieval, mas introduziu também novos temas relacionados ao homem e sua posição com o mundo ao seu redor, caracterizando-se como pertencente a Idade Moderna. 28 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE Já no final da Idade Média, o Teocentrismo (ideia de que Deus era o Centro de tudo) foi dando espaço ao Antropocentrismo (ideia de que o homem deve estar no centro de tudo), isso acontecendo de forma natural e gradual. Com essas mudanças de pensamento, a sociedade começa a pensar diferente sobre a atuação do homem em diversos campos. O Renascimento foi um movimento que revolucionou os movimentos artísticos, culturais e filosóficos da época e, por isso, a denominação renascimento veio para finalizar uma era em que a sociedade vive no mais profundo obscuro. Foi o poeta Petrarca (1304-1374) que trouxe a luz do Renascimento para a arte e para os novos pensamentos, discutindo a Antiguidade Clássica e suas influências na sociedade. O poeta quis trazer toda a luz e os pensamentos importantes, que foram discutidos na era romana e que poderiam trazer prosperidade para uma sociedade que estava vivendo uma era de trevas. Lembrando sempre dos três momentos fundamentais que compõem a Arte Renascentista: o Trecento, que corresponde à fase inicial do movimento renascentista, no século XIV; o Quatrocento, em que temos vários trabalhos na cidade de Florença, os quais correspondem aos séculos XV; e o Cinquecento, última fase – transcorrida no século XVI – em que a cidade de Roma assume posição de destaque. O Renascimento surge para suceder o estilo gótico, fazendo com que os artistas fossem considerados intelectuais e que não tinham como objetivo copiar o que foi feito na antiguidade clássica, mas sim se igualar com as criações que foram feitas neste período. FIGURA 18 – ESCULTURA RENASCENTISTA (SAN MARCOS, DONATELLO/FLORENÇA) FONTE: <https://cdn.culturagenial.com/imagens/2787-original-cke.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. TÓPICO 3 — ARTE NA IDADE MODERNA 29 O artista deixa de ser um artesão e passa a ser um importante profissional dentro da sociedade, estimulando o colecionismo e fazendo com que as obras de arte criadas tivessem um grande valor intelectual e financeiro. Além disso, a criação de oficinas artísticas, permitiu que mais artistas se profissionalizassem e especializassem, tornando-os mestres da arte. No período gótico, as esculturas relacionadas à arquitetura quase desapareceram, mas no Renascimento elas retornam, sendo mais independentes da arquitetura. É o caso do artista Donatello (1386-1466), com a obra San Marcos, toda feita em mármore. Ela foi pensada e projetada para estar em um dos nichos de uma catedral gótica, contudo, por estar nesta fase mais independente, destaca- se sem precisar de projetos arquitetônicos. Outro ponto importante da escultura renascentista e do artista Donatello é a atenção dada à sensualidade docorpo nu, que foi uma das principais características da época clássica. O primeiro exemplo disso foi a escultura de Davi, de tamanho natural e totalmente nua desde a Idade Antiga. Realismo e volume são as principais características da escultura renascentista. O busto-retrato ganha novamente destaque e acaba viram também objeto do colecionismo e uma grande oportunidade de negócio para os artistas. FIGURA 19 – DAVI DE DONATELLO EM DIFERENTES VISÕES FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/89/63/eb/8963eb4229d6c8273949b1d3caf69dd3.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. Quase uma década depois da escultura, a pintura renascentista aparece com força total. Diferente do estilo gótico, que representava nas pinturas figuras imaginárias, a pintura renascentista retrata uma representação exata do real. Os primeiros passos da pintura no Renascimento foram dados por Masaccio (1401- 1428), que faleceu prematuramente com 27 anos. A sua obra de arte muito se assemelhava à obra de Donatello, onde se percebe os detalhes, como as roupas que se parecem com verdadeiros tecidos, assim como os cenários arquitetônicos desenhados com tamanha perfeição. 30 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 20 – O NASCIMENTO DE VÊNUS DE SANDRO BOTTICELLI FONTE: <https://cdn.culturagenial.com/imagens/venuss-cke.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. Sandro Botticelli (1445-1510) foi o artista que despertou na pintura renascentista graciosidade e movimento, trazendo corpos voluptuosos e sensuais. Sua obra, O Nascimento de Vênus, como as demais obras do Renascimento, traz elementos da pintura de óleo sob tela, oferecendo às imagens, características mais móveis e fluidas. Você sabia que o desenho animado das Tartarugas Ninjas possui uma interessante relação com a História da Arte? Os episódios narram as aventuras de quatro tartarugas que caíram no esgoto de Nova York e sofreram mutações, adquirindo características humanas. Seus nomes homenageiam os artistas renascentistas: Leonardo (Da Vinci), Michelangelo (Buonarrotti), Donatello (di Niccoló di Betto Bardi) e Rafael (Sanzio). Os autores do desenho também homenagearam a Itália, berço do Renascimento, uma vez que a comida predileta das personagens é a pizza! Após caírem no esgoto, as tartaruguinhas aprenderam artes marciais com um rato chamado Mestre Splinter. Detalhe: ele não tem a orelha direita! Pelo menos neste universo, Van Gogh foi o mestre dos renascentistas! O nome original nos Estados Unidos é Teenage Mutant Ninja Turtles. Foram criadas inicialmente como histórias em quadrinhos, em 1984, pela Mirage Comics. Depois, devido ao sucesso, passaram para a televisão e cinema. FONTE: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/pedagogia/a-arte-na-idade/ 35853>. Acesso em: 7 jul. 2020. INTERESSA NTE TÓPICO 3 — ARTE NA IDADE MODERNA 31 A fase final do Renascimento Italiano, também chamada de Renascimento Pleno, faz com que os artistas busquem cada vez mais a perfeição em suas obras. Obras de arte feitas para despertar sentimentos e para serem consideradas inigualáveis e sem imperfeições. Leonardo Da Vinci (1452-1519) foi um dos artistas expoentes da época, chegando perto do ideal “homem da Renascença”, que significa um indivíduo de talentos múltiplos, que irradiava saber. Figuras andróginas e enigmáticas estão sempre presentes em suas obras, bem como a expressão destes personagens por meio de gestos. Utilizando-se da luz como principal ferramenta desenvolvendo ainda mais a técnica de claro-escuro. FIGURA 21 – A ÚLTIMA CEIA DE LEONARDO DA VINCI FONTE: <https://cdn.culturagenial.com/imagens/a-ultima-ceia-2-cke.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. Outros artistas como Michelangelo Buonarotti (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-1520) foram também representantes na pintura renascentista. Michelangelo, além de pintor, também foi escultor, poeta e arquiteto. Considerado um artista solitário, foi quem inseriu a ideia de que os artistas eram gênios sob o comando de uma inspiração divina. O corpo humano era para Michelangelo uma expressão do divino e representá-lo sem roupagens era a única forma de absorver toda sua divindade. Daí a sua obra estar recheada de corpos nus e possantes, pois ao contrário de Leonardo, cujas figuras parecem imbuídas de uma feminilidade latente, em Michelangelo o pendor é para o masculino (CUNHA, c2020, s.p.). Já Rafael Sanzio (1483-1520) comumente conhecido apenas pelo seu primeiro nome, também chamado de “príncipe dos pintores”, é considerado um dos maiores pintores renascentistas e, mesmo sendo contemporâneo, a Michelangelo não teve a importância merecida pela sociedade. Junto à Michelangelo e Leonardo da Vince, Rafael compõe a tríade de artistas renascentistas que marcaram os séculos XIV a XVI. 32 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 3 ARTE BARROCA A Arte Barroca desenvolveu-se inicialmente na Itália, no século XVII. Logo, espalhou-se para outros países. Mais tarde, com a ascensão das colonizações, ela também se desenvolveu no Brasil e em outros países do continente americano. Visto isso, foi um movimento que dependeu de todo o contexto histórico que estava inserido. Grandiosos pintores como Tintoretto (1515-1549), Andrea Pozzo (1642- 1709), Annibale Carraci (1560-1609) e Michelangelo Caravaggio (1571-1610), que retratava em suas obras cenas do cotidiano com personagens músicos e trabalhadores em geral, fizeram a história do estilo barroco no mundo. As imagens que predominam neste período, dizem muito com o que se passava na sociedade, sendo a predominância das imagens religiosas e da riqueza dos colonizadores em terras já colonizadas. Como características principais da arte barroca podemos citar: predominância de temas religiosos, uso de contrastes para marcar que o humano poderia ter proximidade com o divino, utilização de iluminação para consolidar as nuances claras e escuras, imagens ricas em detalhes e formas, expressões dramáticas e pessimistas nos personagens, exagero decorativo e utilização de curvas e contornos. No Brasil, a Arte Barroca teve seu início no século XVIII e perdurou até o século XIX. Chegou no país com os Jesuítas, no momento da colonização, como uma ferramenta de catequização dos indígenas e posteriormente, dos escravos. Para alguns estudiosos foi pelo estilo Barroco que começaram a aparecer obras de arte verdadeiramente brasileiras. O maior exemplo de artista barroco brasileiro foi o escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814). FIGURA 22 – NOSSA SENHORA DAS DORES (ALEIJADINHO) FONTE: <https://cutt.ly/PgAAIX2>. Acesso em: 6 out. 2020. TÓPICO 3 — ARTE NA IDADE MODERNA 33 Na arquitetura barroca brasileira também se percebe traços bastante significativos. Igrejas com trabalhos primorosos em madeira e cobertos de ouro em cidades mais abastadas. Nas cidades em que o ouro e a cana de açúcar não eram a principal fonte de renda, os detalhes na arquitetura eram mais simplificados e o ouro era raramente encontrado, dando a chance de alguns artistas iniciantes realizarem seu trabalho. Ouro Preto (em Minas Gerais) e Salvador (na Bahia) possuem diversas construções em estilo barroco ainda preservadas. O Barroco é a arte do contraste. Em algumas obras, podemos perceber como os opostos se misturam nas figuras, o divino e o humano, o bem e o mal, a alegria e a tristeza, estimulando a dramaticidade em suas obras com o intuito de comover e impressionar seus espectadores. Uma arte considerada como um movimento, com vínculo político, pois iniciou com grande proximidade da igreja católica a fim de não perder a sua hegemonia em meio ao movimento do protestantismo contra alguns dos preceitos católicos. 4 ARTE ROCOCÓ Entre os anos de 1700 e 1780, o estilo Rococó tomou força na Europa. Inicialmente ganhou força na França e depois disso foi trazido para o continente americano pelos colonizadores. O Termo Rococó deriva da palavra francesa rocaille que traduzido para o português significa concha. Isso por diversas vezes podemos perceber as nuances das linhas de umaconcha nas obras deste período. Dando espaço aos padrões sociais da época, o estilo rococó ia ao encontro da vida fútil que grande parte da sociedade vivia na época. Sociedade esta que encontrava na arte os momentos de prazer e satisfação, buscando assim esquecer seus problemas da vida real. Cenas eróticas, da vida cortesã, pastorais, mitológicas e motivos religiosos eram temas recorrentes. A natureza era muito representada em detalhes primorosos em molduras e esculturas. FIGURA 23 – PRAZER PASTORAL, 1714-16, JEAN-ANTOINE WATTEAU, MUSÉE CONDÉ, LA TRIBUNE, CHANTILLY, FRANÇA FONTE: <https://cutt.ly/zgAA4AD>. Acesso em: 11 out. 2020. 34 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE A arquitetura do estilo rococó trazia suntuosidade aos espaços, sendo o salão principal o lugar mais especial de qualquer construção. Além disso, detalhes de decoração e móveis minuciosamente desenhados e confeccionados eram dispostos em diversos ambientes. E a escultura passa a ser uma peça fundamental dentro da arquitetura. Abandonam-se os temas sérios e nobres e dá-se preferência aos temas menores, irônicos, alegres, jocosos, sensuais e galantes, na estuaria de pequenas dimensões, já na estatuária monumental, os temas são comemorativos e honoríficos. Nos temas mitológicos preferem-se os deuses menores e nos temas profanos dá-se mais valor aos aspectos mais íntimos do cotidiano, em gestos galantes, graciosos e requintados. O tema religioso (usado sobretudo na Alemanha) mantém-se, mas é tornado menos sério, utilizando-se roupagens mais luxuosas e poses galantes (IMBROISI; MARTINS, c2020b, s.p.). Sobre a pintura neste período podemos destacar que o rococó possuía duas vertentes, sendo uma ligada à pintura de cenas cotidianas intimistas e despreocupadas que as famílias da corte levavam até então no século XVIII e uma pintura decorativa que abrangia grande parte do interior dos palácios e igrejas. Pintores como Jean-Antoine Watteau (1684-1721), Jean-Baptiste Siméon Chardin (1699-1779) e François Boucher (1703-1770), foram expoentes na época. Com os ideais iluministas, esse tipo de pintura foi fadado ao fracasso, já que trazia apenas os valores que não eram mais pregados na sociedade. 35 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A Idade Moderna compreende o período do século XV ao século XVIII. Muitos foram os acontecimentos que marcaram esta época, como o nascimento da imprensa, as viagens para as Américas, a Revolução Francesa e a Industrial. • O Renascimento foi um movimento que revolucionou os movimentos artísticos, culturais e filosóficos da época, e por isso a denominação renascimento veio para finalizar uma era em que a sociedade vivem no mais profundo obscuro. • A Arte Barroca desenvolveu-se inicialmente na Itália no século XVII. Logo, espalhou-se para outros países. Mais tarde, com a ascensão das colonizações, ela também se desenvolveu no Brasil e em outros países do continente americano. • Na arquitetura barroca brasileira também se percebe traços bastante significativos. Igrejas com trabalhos primorosos em madeira e cobertos de ouro em cidades mais abastadas. • Entre os anos de 1700 e 1780, o estilo Rococó tomou força na Europa. Inicialmente ganhou força na França e depois disso foi trazido para o continente americano pelos colonizadores. • O Termo Rococó deriva da palavra francesa rocaille, que traduzido para o português significa concha. Isso por diversas vezes podemos perceber as nuances das linhas de uma concha nas obras deste período. 36 1 O barroco representou um novo padrão estético para a produção artística do ocidente no século XVII, fortemente influenciado pela religiosidade. Entretanto, o barroco tinha também um conteúdo de interesse político, que o inseria em um conflito característico da Idade Moderna. Explique sucintamente qual era este conflito e como o barroco era utilizado neste contexto. 2 Como é nomeado o estilo artístico que surgiu na França como desdobramento do barroco, mais leve e intimista, usado inicialmente em decoração de interiores? Assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) Arcadismo. b) ( ) Maneirismo. c) ( ) Neoclassicismo. d) ( ) Decadentismo. e) ( ) Rococó. 3 (ENEM, 2012) Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil tem forte influência do rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra- sabão por Aleijadinho. Profundamente religiosa, o que a sua obra revela? FONTE: <http://educacao.globo.com/provas/enem-2012/questoes/131.html>. Acesso em: 7 out. 2020. a) ( ) Liberdade, representando a vida de mineiros à procura da salvação. b) ( ) Credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas Gerais. c) ( ) Simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação do divino. d) ( ) Personalidade, modelando uma imagem sacra com feições populares. e) ( ) Singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras divinas. AUTOATIVIDADE 37 TÓPICO 4 — UNIDADE 1 ARTE NA IDADE CONTEMPORÂNEA 1 INTRODUÇÃO Na segunda metade do século XX, após a Segunda Guerra Mundial, surge a Arte Contemporânea ou Arte Pós-Moderna, prolongando-se até os dias de hoje com uma arte inovadora, curiosa e original. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), um novo panorama é caracterizado pelo avanço da globalização, cultura de massa e o desenvolvimento das novas tecnologias e mídias, com isto a arte passa a ser produzida ao mesmo tempo em que ela é discutida e pensada. Algumas características demonstram uma ruptura com a Arte Moderna como a Efemeridade da Arte produzida, utilização de diferentes materiais e técnicas, mescla de estilos artísticos, discussão sobre o que a arte representa e a interação do espectador com a obra. 2 ARTE NEOCLÁSSICA O Neoclassicismo chega no final do século XVIII, trazendo a ideia de “novo” e mostrando valores de uma classe que estava em ascendência e buscava expressar-se diante da sociedade após a Revolução Francesa: a burguesia. O intuito da Arte Neoclássica foi o de reviver as benfeitorias da Antiguidade Clássica. O precursor foi o pintor e democrata, Jacques-Louis David, que imitava a arte grega e romana para servir de inspiração para um novo momento que a sociedade francesa estava vivendo. Era uma arte considerada séria, que tratava de temas como a história antiga e a mitologia. Como principais características da Arte Neoclássica, podemos citar: • Retorno ao passado, pela imitação dos modelos antigos greco-latinos. • Academicismo nos temas e nas técnicas, isto é, sujeição aos modelos e às regras ensinadas nas escolas ou academias de belas-artes. • Arte entendida como imitação da natureza, num verdadeiro culto à teoria de Aristóteles. • Estilo sóbrio, antidecorativo, linear, antissensual, volta-se ao desenho, simplicidade da natureza, nobre, sereno, histórico (IMBROISI; MARTINS, c2020c, s.p.). 38 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 24 – O AMOR DE PARIS E HELENA, 1788 (JACQUES-LOUIS DAVID, MUSEU DO LOUVRE, PARIS) FONTE: <https://cutt.ly/6gAJFyW>. Acesso em: 10 ago. 2020. Na arquitetura não seria diferente, os edifícios passaram a ter características da antiguidade clássica, entradas grandiosas com enormes pórticos e detalhes em guirlandas ou frisos, utilização de materiais nobres como mármores e granitos, sendo que as cidades tiveram que se adaptar a estas construções, alargando suas avenidas. Um exemplo da arquitetura neoclássica é o Portão de Brandemburgo, em Berlim, foi construído entre 1788 a 1791 e planejado por Carl GotthardLanghans, é inspirado no Propylaeum, a entrada da Acrópole em Atenas. Foi idealizado por Friedrich Wilhelm II, para que representasse a paz. FIGURA 25 – PORTÃO DE BRANDEMBURGO, BERLIM FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/00/3e/80/003e80c4eca4588359179057e82787b5.jpg>. Acesso em: 6 out. 2020. TÓPICO 4 — ARTE NA IDADE CONTEMPORÂNEA 39 Jáa escultura Neoclássica era rigorosa, com elementos baseados na escultura clássica, utilizando o mármore como matéria-prima, considerada por muitos estudiosos como fria. Heróis uniformizados, mulheres com mantos de Afrodite e crianças em postura de aprendizado eram os principais temas utilizados. Eram respeitadas as posições e os movimentos, as formas do corpo eram estudadas profundamente. FIGURA 26 – ANTONIO CANOVA (PAULINABORGHESE BONAPARTE AS VENUSVICTRIX, 1805- 1808, MÁRMORE BRANCO 160 X 192 CM, GALLERIABORGHESE, ROMA, ITÁLIA) FONTE: <https://bit.ly/2J8BJIL>. Acesso em: 10 out. 2020. Maria Paola Buonaparte, mais conhecida como Paulina Bonaparte (Ajaccio, 20 de outubro de 1780 – Roma, 9 de junho de 1825) foi a primeira princesa reinante de Guastalla, uma princesa da França, e princesa consorte de Sulmona e Rossano. Era irmã de Napoleão Bonaparte. Essa escultura foi encomendada pelo segundo marido de Paulina, o príncipe italiano, Camillo Borghese, logo após seu casamento, em 1804, uma união destinada a ajudar Napoleão a realizar seus sonhos de estabelecer uma dinastia pan- europeia e legitimar suas reivindicações ao Reino da Itália. FONTE: <https://www.arteeblog.com/2017/05/analise-da-escultura-de-antonio-canova.html>. Acesso em: 6 out. 2020. INTERESSA NTE 40 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 3 ARTE ROMÂNTICA Se o Neoclassicismo tinha aspectos rígidos em torno da arte, o Romantismo chega para romper com essa visão. A natureza, os sentimentos e as emoções passaram a ser profundamente valorizadas. As mudanças sociais que ocorreram no final do século XVIII e início do século XIX, com a Revolução Francesa e Industrial, trouxeram mudanças também no pensamento da sociedade. Com todas essas questões sociais acontecendo, a Arte Romântica vem para levar os espectadores a um mundo dos sonhos, com a exaltação da natureza, com a preocupação do sentimento individualizado, defesa do nacionalismo e o subjetivismo nas obras. O artista neste período tem total liberdade de usar sua criatividade e inspiração e criar obras de arte baseadas em seus preceitos e conceitos. O espectador quando observa uma obra de arte romântica, acaba fazendo parte da paisagem, contemplando todos os elementos que têm diante de si. É o espectador que dá sentido à obra de arte que está a sua frente. FIGURA 27 – GRAVURA Nº 39 DA SÉRIE DESASTRES DA GUERRA, FRANCISCO DE GOYA (1810-1815) FONTE: <https://cutt.ly/jgALq3M>. Acesso em: 6 out. 2020. Podemos destacar alguns representantes da pintura Romântica como: Francisco José de Goya y Luciente (1746-1828), que retratava em sua obra personalidades da corte espanhola, mas também cenas mitológicas, de Guerra, deuses e demônios. Ferdinand Victor Eugène Delacroix (1799-1863), considerado como o mais importante pintor romântico francês, representando em suas obras, cenas de paixão, sensualidade e violência. Joseph Mallord William Turner (1775- 1851) foi considerado o mais rápido pintor, representando em suas obras cenas de paixão e energia. TÓPICO 4 — ARTE NA IDADE CONTEMPORÂNEA 41 A literatura também teve destaque no período do romantismo. A sensibilidade da escrita, a valorização da mulher e da natureza foram temas de destaque nos textos da época. Temas obscuros, místicos e com conteúdo sobrenaturais também tiveram espaço nesta época. Dentre os principais escritores da época, podemos citar: Johann Wolfgang von Goethe, Edgar Allan Poe, Lord Byron, William Blake, João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, NathanielHawthorne e William Wordsworth. 4 ARTE NO REALISMO O Realismo foi uma tendência que surgiu na metade do século XIX na Europa. A Arte Realista teve vertentes nas artes plásticas, na escultura, na arquitetura e também na literatura. Em uma época inserida na Revolução Industrial e com a natureza “dominada” pela sociedade, fica definido que a arte deveria ser mais realista possível, rejeitando tudo o que poderia ser subjetivo e ilusório. Na pintura romântica, os temas eram divididos em três grupos: No primeiro, os temas não são novos, mas são tratados com uma visão romântica e usando os novos conceitos artísticos. No segundo, os temas tendem a representar a visão romântica, apaixonada, idealista e simples das coisas, por exemplo: • São inspirados pelo mundo dos sonhos e do fantástico. • São inspirados pelos costumes populares. • São inspirados também pelos hábitos e pelas tradições das civilizações não europeias, como as asiáticas e as árabes. • Visão romântica da atualidade político-social da época. • Retratam a vida animal e paisagens, onde estas são representadas com uma simplicidade e nostalgia sem igual. O terceiro grupo, relata a paisagem, tornando-se o gênero preferido desta época. Aqui as paisagens são imagens solitárias, com um olhar nostálgico sobre o horizonte com árvores mortas e ruínas com vegetação, mostrando assim a passagem do tempo e a própria evolução. FONTE: <https://www.vestmapamental.com.br/artes/arte-romantica-2/>. Acesso em: 8 jul. 2020. INTERESSA NTE 42 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 28 – ANGELUS DE JEAN-FRANÇOIS MILLET (1814-1875) FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/je/an/jeanfrancoismilletangelus-cke.jpg>. Acesso em: 9 jul. 2020. Os temas do cotidiano e as denúncias de desigualdade social são amplamente exploradas na Arte Realista. Os trabalhadores passam a ter um destaque, pois por conta da industrialização da época, a desigualdade e a pobreza são frequentes. Gustave Courbet (1819-1877) e Jean-François Millet (1814-1875) são representantes da pintura realista, bem como René-François-Auguste Rodin (1840- 1917) representante da escultura realista, foram expoentes deste período. Coubert representou em suas pinturas a vida camponesa, enquanto Millet apresentou os trabalhadores rurais. Já Rodin foi um dos maiores escultores em bronze de todos os tempos, tendo grande parte de suas obras expostas em seu próprio museu em Paris. No Brasil, também podemos encontrar representantes da Arte Realista com artistas como Almeida Junior (1850-1899) e Cândido Portinari (1903-1962), representando em suas obras de arte os trabalhadores rurais e as pessoas mais humildes. Com a industrialização, os arquitetos procuraram adaptar-se às novas necessidades que surgiram. Templos e palácios suntuosos não eram mais necessários e dão espaços a novos empreendimentos e construção como as fábricas, estações ferroviárias, lojas de todos os tipos, escolas e moradias para as classes emergentes. Em 1889, um ícone que ainda hoje é venerado em Paris, a Torre Eiffel, desenvolvida por Gustavo Eiffel, traz um modelo inovador de construção, sem fazer alusão a itens arquitetônicos do passado. TÓPICO 4 — ARTE NA IDADE CONTEMPORÂNEA 43 5 ARTE IMPRESSIONISTA A produção industrial de tinta a óleo do século XIX propulsou a arte impressionista revelando pintura de paisagens ao ar livre. Camadas de tinta grossa, aplicadas com pinceladas vigorosas e rápidas e obras finalizadas no calor da hora ao ar livre, sendo considerado o primeiro movimento artístico de revolução total desde o Renascimento. Renoir e Monet iniciaram o Impressionismo pintando juntos ao ar livre, paisagens cotidianas e da natureza, deixando de lado as cenas da nobreza e o retrato fiel das cenas. Sendo assim, o quadro passa a ser a obra em si mesma. O nome do movimento artístico Impressionismo é derivado da obra Impressão, nascer do sol (1872) de Claude Monet. Segundo Gombrich (1999, p. 372): Foi somente com o impressionismo, de fato, que a conquista da natureza se tornou completa, que tudo o que se apresentava aos olhos do pintor pôde converter-se em motivo de um quadro e que o mundo real, em todos os seus aspectos, passou a ser um objeto digno do estudo do artista. Talvez tenha sido esse triunfo completo dos seus métodos que fez alguns artistas hesitarem em aceitá-los. Podemos citar alguns nomes de artistas que representaram o período, como o próprio Claude Monet, Edouard Manet, Edgar Degas, AugusteRenoir, Alfred Sisley e Camille Pissarro, em que se destaca Claude Monet, um dos maiores artistas da pintura impressionista da época. 6 ARTE PÓS-IMPRESSIONISTA No pós-impressionismo, os artistas não seguiram nenhum tipo de regra ou padrões estéticos pré-estabelecidos. Roger Eliot Fry foi quem definiu pela primeira vez o termo pós-impressionismo. Ele usou essa expressão para definir as obras de alguns artistas que estavam expostas em uma famosa galeria de Londres, em 1910. Nessa exposição foram reunidos trabalhos de ícones da arte pós-impressionista, como os artistas Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Paul Cézanne. FIGURA 29 – A NOITE ESTRELADA (1889) DE VINCENT VAN GOGH FONTE: <https://laart.art.br/wp-content/uploads/2020/03/posimpressionismo2.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2020. 44 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE O pós-impressionismo surgiu como oposição ao Impressionismo. Enquanto o impressionismo se utilizava da luz natural e das pinturas ao ar livre, o pós-impressionismo buscava a emoção e a expressividade nos momentos de criação. A liberdade no uso de cores, o pontilhismo e a valorização de cenas sociais e políticas foram algumas características do movimento artístico. 7 ARTE NATURALISTA O Naturalismo chega na metade do século XIX, com uma arte inspirada e até mesmo copiada diretamente da natureza, buscando na sensibilidade do artista a inspiração. Se manifestou na literatura, no teatro e nas artes plásticas. Considerado uma continuação do Realismo, possui características bem particulares. FIGURA 30 – FALLENMONARCHS DE WILLIAN BLISS BAKER FONTE: <https://cutt.ly/qgAZJQ3>. Acesso em: 10 ago. 2020. O pensamento científico de Darwin influenciou profundamente o Naturalismo, em que a arte representava e estudava o indivíduo enquanto resultado de sua herança genética, bem como do meio onde ele vive. Como é o exemplo na literatura, em que é utilizada como instrumento de crítica social a favor dos grupos sociais mais estigmatizados. 45 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • O neoclassicismo chega no final do século XVIII, trazendo a ideia de “novo”, mostrando valores de uma classe que estava em ascendência e que buscava expressar-se diante da sociedade após a Revolução Francesa: a burguesia. • Se o neoclassicismo tinha aspectos rígidos em torno da arte, o Romantismo chega para romper com essa visão. A natureza, os sentimentos e as emoções passaram a ser profundamente valorizadas. • O realismo foi uma tendência que surgiu na metade do século XIX na Europa. Em uma época inserida na Revolução Industrial e com a natureza “dominada” pela sociedade, fica definido que a arte deveria ser mais realista possível, rejeitando tudo o que poderia ser subjetivo e ilusório. • A produção industrial de tinta a óleo do século XIX propulsou a arte impressionista, revelando a pintura de paisagens ao ar livre. • No pós-impressionismo, os artistas não seguiram nenhum tipo de regra ou padrões estéticos pré-estabelecidos. • O naturalismo chega na metade do século XIX, com uma arte inspirada e até mesmo copiada diretamente da natureza, buscando na sensibilidade do artista a inspiração. 46 1 Foi um movimento artístico que surgiu na pintura europeia do século XIX, o nome do movimento é derivado da obra Impressão, nascer do sol (1872). O texto faz uma clara referência ao: a) ( ) Expressionismo, que tem como seu principal expoente Vicent van Gogh. b) ( ) Naturalismo, que tem como seu principal expoente Degas. c) ( ) Impressionismo, que tem como seu principal expoente Edgar Degas. d) ( ) Impressionismo, inaugurado com Claude Monet. e) ( ) Impressionismo, inaugurado com Édouard Manet. 2 (PUC-PR 2007) Sobre o Realismo, assinale a alternativa INCORRETA. FONTE: <https://exercicios.brasilescola.uol.com.br/exercicios-literatura/exercicios-sobre-re- alismo.htm>. Acesso em: 7 out. 2020. a) ( ) O Realismo surgiu na Europa, como reação ao Naturalismo. b) ( ) O Realismo e o Naturalismo têm as mesmas bases, embora sejam movimentos diferentes. c) ( ) O Realismo surgiu como consequência do cientificismo do século XIX. d) ( ) Gustave Flaubert foi um dos precursores do Realismo. Escreveu Madame Bovary. e) ( ) Emile Zola escreveu romances de tese e influenciou escritores brasileiros. AUTOATIVIDADE 47 TÓPICO 5 — UNIDADE 1 ARTE NO SÉCULO XX 1 INTRODUÇÃO O século XX foi um século de grandes transformações na sociedade. Essas mudanças afetaram diretamente o comportamento político e também social. Em um momento de grandes crises, as diferenças entre a burguesia e o proletariado se mostram cada vez maiores, dando ainda mais força ao capitalismo. A partir disso, surgem os movimentos sindicais e diversos outros movimentos que agitaram a sociedade em geral. Todo esse agito social e político não teve apenas más consequências, mas trouxe novas possibilidades e discussões para o campo das artes e geral. Novos artistas, novos pensamentos e novas formas de transformar o pensamento da sociedade com a arte. Gombrich (1999, p. 409) já dizia que “pode-se perfeitamente simpatizar com o gosto de artistas do século XX por tudo o que é direto e genuíno e, no entanto, sentir que seus esforços para se tornarem deliberadamente ingênuos e primitivos estão fadados a cair em contradição”. Sendo assim, os movimentos que passaram a vigorar nesta época como o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubismo, o Abstracionismo, o Construtivismo, o Suprematismo, o Dadaísmo e o Surrealismo, mostram nada mais, nada menos do que a perplexidade do homem contemporâneo ao que estava acontecendo historicamente e buscando a arte como forma de expressar todos os sentimentos. 2 SEMANA DE ARTE MODERNA Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, ocorreu a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo. O evento teve como principal objetivo reunir diversas atrações e manifestações artísticas em um só lugar. Buscando inspiração europeia, os artistas trouxeram referências atuais e modernas para o país, propondo uma nova visão sobre a arte, provocando na sociedade uma renovação artística e social. Com uma arte “brasileira”, cheia de contextos e simbologias, grande parte da população sentiu-se chocada com o que foi apresentado durante esta semana, causando um impacto da arte na sociedade. Mario e Oswald de Andrade e o pintor Di Cavalcanti foram as figuras artísticas que mais se destacaram na época, também por conta da organização do evento. 48 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 31 – CATÁLOGO E CARTAZ DA SEMANA DE ARTE MODERNA, PRODUZIDOS PELO ARTISTA DI CAVALCANTI FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ca/rt/cartazsemana22-0.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2020. Um dos principais objetivos dos artistas que participaram da Semana de Arte Moderna foi o de chocar o público, bem como fazer com que as pessoas sentissem certas sensações que até então não poderiam ser sentidas e nem expostas. A liberdade de expressão, a utilização de jargões vulgares, as experimentações estéticas e sentimentais e também a ausência de formalidade são algumas das características que poderiam ser encontradas nas manifestações realizadas na Semana de Arte Moderna. 3 EXPRESSIONISMO O Expressionismo surge no início do século XX na Europa e surgiu de maneira a valorizar toda e qualquer expressão emocional do ser humano. As experiências do expressionismo são, talvez, as mais fáceis de explicar em palavras. O próprio termo pode não ter sido uma escolha feliz, pois sabemos que nós estamos todos expressando em tudo o que fazemos ou deixamos de fazer, mas a palavra tornou-se um rótulo conveniente por causa de seu contraste facilmente recordado com impressionismo e, como rótulo, ser bastante útil (GOMBRICH, 1999, p. 388). Procurando explicar de maneira mais simplificada a diferença entre o Impressionismo e o Expressionismo é que o primeiro busca CAPTAR a realidade, enquanto o segundo procurar CRIAR a realidade que está ao seu redor, valorizando a expressãoemocional e o instinto. TÓPICO 5 — ARTE NO SÉCULO XX 49 FIGURA 32 – ERICH HECKEL, DOIS HOMENS FERIDOS, 1915 FONTE: <https://static.mundoeducacao.uol.com.br/mundoeducacao/2019/09/erick-heckel.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2020. Com todas as questões sociais que estavam acontecendo no período, os expressionistas procuraram mostrar temas relacionados a morte, as condições em que a sociedade estava vivendo, muitas vezes sendo representadas de maneira obscura e sombria. A Primeira Guerra Mundial influenciou os artistas, que passaram a trazer temas de sofrimento, fome e recessão. Nas artes plásticas, destacam-se como precursores da arte expressionista os pintores Edvard Munch e Vincent Van Gogh, bem como Emil Nolde, Erich Heckel, Ernst Barlach, Franz Marc, Otto Dix, Amadeo Modigliani. Também tivemos representantes brasileiros como Anita Malfatti e Oswaldo Goeldi, além de de Lasar Segall. 4 FAUVISMO Tendo início no começo do século XX, na França, o Fauvismo foi associado à pintura e teve como principais características a utilização de tintas puras, sem misturas, proporcionando figuras delimitadas, com aspectos de relevos, tornando-se volumosas. Os artistas que faziam parte do movimento reuniram-se para criar uma mostra pública no Salão de Outono na cidade de Paris e, no ano seguinte, organizaram-se para a montagem de mais uma mostra no Salão dos Independentes, sendo que, neste momento o grupo passou a ser intitulado como lesfauves, que em francês significa “as feras”, donde também deriva o nome do movimento artístico em questão. 50 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 33 – A DANÇA (1909) DE HENRI MATISSE FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ad/an/adancamatisse-cke.jpg>. Acesso em: 11 set. 2020. A busca por uma estética natural e primitiva leva os artistas a trazerem figuras que podem até mesmo se assemelhar a produções infantis, onde não se tinha preocupação com os aspectos técnicos, mas sim com a expressividade da interpretação pessoal do artista. Evitava os temas deprimentes e de cunho político, buscando trazer alegria e leveza aos quadros. Van Gogh (1853-1890) e Paul Gauguin (1848-1903) influenciaram o movimento, sendo que artistas como Henri Matisse (1869-1954), Paul Cézanne (1839-1906), Georges Braque (1882-1963) Albert Marquet (1875-1947), foram considerados os principais artistas que dominaram a cena artística. 5 CUBISMO As formas geométricas são o ponto principal da arte cubista, rompendo com os outros movimentos que somente valorizavam a perfeição das formas. Surgiu no início do século XX na França, trazendo as diretrizes do imaginário urbano e industrial. Quem marcou o início do Cubismo foi o pintor espanhol Pablo Picasso, com a tela Les Demoiselles d'Avignon (As damas d'Avignon), em 1907. No cubismo a natureza passa a ser representada de maneira mais simplificada sem contorno e de maneira mais abstrata. TÓPICO 5 — ARTE NO SÉCULO XX 51 O cubismo é dividido em três fases: Fase Cezannista ou Cezaniana (1907 a 1909) FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/cu/bi/cubismopicasso-cke.jpg>. Acesso em: 7 out. 2020. Autorretrato (1907) de Pablo Picasso. Também chamada de fase pré-analítica, o nome já indica que esse período foi caracterizado pela influência dos trabalhos do artista plástico francês Paul Cézanne. Nesta fase, os artistas começaram suas experiências com as simplificações das formas e mais tarde passaram a representar as figuras dispostas em um mesmo plano. Era como se estivessem abertas na tela, vistas de frente pelo público. Fase Analítica ou Hermética (1909 a 1912) FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/cu/bi/cubismoanalitico-0.jpg>. Acesso em: 7 out. 2020. À esquerda, O poeta (1911), de Picasso. À direita, Violino e Castiçal (1910), de Braque. INTERESSA NTE 52 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE Um ponto importante de ser comentado sobre o Cubismo é a ligação da arte com a ciência, auxiliando nos estudos geométricos, podendo até mesmo ter um início de entendimento sobre o que ainda hoje é estudado sobre a “quarta dimensão”. 6 ABSTRACIONISMO O Abstracionismo, também chamado de arte Abstrata, é a maneira de expressar-se pela arte, por uma forma abstrata de entendimento e não de maneira concreta, não sendo necessária uma imitação perfeita do mundo e das coisas ao seu redor. A fase analítica caracterizou-se pela cor moderada, acentuando-se tons de marrons, pretos, cinzas e ocres. Tal escolha das cores se deu, pois, o mais importante era a exibição do tema fragmentado, disposto em todos os ângulos possíveis. Esse esfacelamento das formas chegou a níveis tão elevados que, ao final, as figuras acabaram por se tornarem irreconhecíveis. Fase do Cubismo Sintético (1911) FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/cu/bi/cubismosintetico.jpg>. Acesso em: 7 out. 2020. À esquerda, Homem no Café (1914), de Juan Gris. À direita, Mulher com Violão (1908), de Braque O cubismo sintético caracterizou-se pelas cores mais fortes e um retorno ao figurativo, na medida em que buscou tornar as figuras reconhecíveis novamente, mas sem voltar a um tratamento realista. Nessa fase, passa-se a empreender o método de colagem, fixando objetos reais na tela, como pedaços de madeira, vidro e metal. Além disso, introduziram recortes de jornais com palavras e números. Esses recursos eram utilizados a fim de extrapolar os limites das sensações visuais que a pintura insinua, explorando os sentidos do tato também. FONTE: <https://www.todamateria.com.br/cubismo/>. Acesso em: 6 set. 2020. TÓPICO 5 — ARTE NO SÉCULO XX 53 Procura-se fugir da realidade, trazendo formas geométricas aliadas a bidimensionalidade e a tridimensionalidade, tornando-as muito mais interessantes do que a própria figura que o desenho quer representar. Ocorre então uma desfiguração do que já era conhecido como arte, pois o artista procura desenvolver um mundo à parte, que não é imediatamente reconhecido quando se observa a obra. FIGURA 34 – COMPOSIÇÃO VIII (1923), DE KANDINSKY FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ka/nd/kandinsky-cke.jpg>. Acesso em: 11 ago. 2020. Wassily Kandinsy (1866-1944) é considerado o pintor pioneiro do abstracionismo, lançando-se ao mundo em busca de inspiração e de novas técnicas. Além dele, outro expoente da pintura abstracionista é Piet Mondrian (1872-1944), que trouxe as formas geométricas a outro patamar artístico, também influenciando em diversas áreas. Na moda, inspirou diversos estilistas com suas cores e formas em coleções cheias de estilo. 7 CONSTRUTIVISMO Tendo forte influência da Arquitetura, o Construtivismo teve início na Rússia, pouco depois da Revolução Russa, em 1917. A negação de uma arte “pura” e o debate de que a criação artística era separada do cotidiano foram características deste movimento artístico. A elaboração de tipografias sem serifa, a utilização de formas geométricas e de cores primárias e as fotomontagens são elementos que podem ser encontrados facilmente nestas obras de arte. Utilizou-se da tecnologia que estava sendo criada pela Revolução Industrial para a criação de novas técnicas e elementos artísticos. Para expressarem os ideais do movimento, artistas se utilizaram da fotografia, do design, da tridimensionalidade. 54 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 8 SUPREMATISMO O uso de quadrados, círculos e cruzes foi a marca registrada do Suprematismo. Movimento artístico de arte abstrata que surgiu na Rússia, por volta de 1913 pelo pintor Kazimir Malevich. FIGURA 35 – QUADRADO NEGRO DE KAZIMIR MALEVICH FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Suprematismo#/media/Ficheiro:Malevich.black-square.jpg>. Acesso em: 12 ago. 2020. Para os artistas desse movimento a sensibilidade viria de qualquer objeto ou forma, sendo que o espaço, as cores e as formas eram escolhidas de maneira intuitiva. Podemos citar Kazimir Malevich (1878-1935), Vladimir Vladimirovich Maiakovski (1893-1930), El Lissitzky (1890-1941), Lyubov Popova (1889-1924),Jean Pougny (Ivan Puni) (1892-1956) e Aleksandr Ródtchenko (1891-1956) como os principais artistas expoentes da época. 9 DADAÍSMO Criado em Zurique, em 1916, o Dadaísmo surge com ideias que iniciariam posteriormente ao movimento Surrealista, sendo que seu lema era “a destruição também é criação”. Veio para ser contra tudo o que fosse Racional e também como um sinal de protesto. TÓPICO 5 — ARTE NO SÉCULO XX 55 FIGURA 36 – DUCHAMP FOI UM DOS EXPOENTES DO DADÁ. À ESQUERDA, POSA COM RODA DE BICICLETA, À DIREITA FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/du/ch/duchampdadaismo-cke.jpg>. Acesso em 12/08/2020. O uso da espontaneidade e da improvisação, bem como a utilização de um pensamento anarquista criticando o consumismo e o capitalismo eram marcas fortes do Dadaísmo, podendo até mesmo ser considerado um movimento antiartístico, pois questionava a arte em si e procurava causar furo e indignação nos espectadores. Marcel Duchamp (1887-1968) foi o artista que teve a maior repercussão no Dadaísmo, com um termo Ready-made criado por ele para utilizar objetos cotidianos na exposição e representação de obras de arte. 10 SURREALISMO Originado do Racionalismo e do Materialismo, o Surrealismo nasceu em Paris no início do século XX. Influenciou diversas manifestações culturais como o teatro, a literatura, a escultura e também o cinema. A expressividade, o pensamento livre, o inconsciente e a criação de cenas irreais são algumas características encontradas em obras surrealistas. Propõe uma valorização da fantasia e da loucura, deixando o artista levar-se pelos impulsos em suas criações, colocando em sua obra tudo o que estiver passando por sua cabeça. 56 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 37 – A TRAIÇÃO DAS IMAGENS (1929) DE RENÉMAGRITTE FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/re/ne/renemagritte-cke.jpg>. Acesso em: 10 jul. 2020. O surrealismo teve alguns nomes de destaque, mas deixaremos aqui a obra de René Magritte (1898-1967), que trabalhava em cima de figuras costumeiramente utilizadas e de fácil interpretação para inseri-las em contextos diferenciados. 57 RESUMO DO TÓPICO 5 Neste tópico, você aprendeu que: • Algumas características demonstram uma ruptura com a Arte Moderna, como a Efemeridade da Arte produzida, utilização de diferentes materiais e técnicas, mescla de estilos artísticos, discussão sobre o que a arte representa e a interação do espectador com a obra. • Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, ocorreu a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo. Evento este que teve como principal objetivo reunir diversas atrações e manifestações artísticas em um só lugar. • Tendo início no começo do século XX, na França, o Fauvismo, foi associado à pintura e teve como principais características a utilização de tintas puras, sem misturas, proporcionando figuras delimitadas, com aspectos de relevos, tornando-se volumosas. • As formas geométricas são o ponto principal da arte cubista, rompendo com os outros movimentos, que somente valorizavam a perfeição das formas. Surgiu no início do século XX na França, trazendo as diretrizes do imaginário urbano e industrial. • O abstracionismo, também chamado de arte abstrata, é a maneira de expressar-se pela arte, por uma forma abstrata de entendimento e não de maneira concreta, não sendo necessária uma imitação perfeita do mundo e das coisas ao seu redor. • Tendo forte influência da arquitetura, o construtivismo teve início na Rússia, pouco depois da Revolução Russa, em 1917. A negação de uma arte “pura” e o debate de que a criação artística era separada do cotidiano foram características deste movimento artístico. • O uso de quadrados, círculos e cruzes foi a marca registrada do Suprematismo. Movimento artístico de arte abstrata, que surgiu na Rússia, por volta de 1913, pelo pintor Kazimir Malevich. • O uso da espontaneidade e da improvisação, bem como a utilização de um pensamento anarquista criticando o consumismo e o capitalismo, eram marcas fortes do Dadaísmo. • A Expressividade, o pensamento livre, o inconsciente e a criação de cenas irreais são algumas características encontradas em obras surrealistas. 58 1 (PUC-SP) A Semana de Arte Moderna (1922), expressão de um movimento cultural que atingiu todas as nossas manifestações artísticas, surgiu de uma rejeição ao chamado colonialismo mental, pregava uma maior fidelidade à realidade brasileira e valorizava, sobretudo, o regionalismo. Diante do que se pode afirmar sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA: FONTE: Adaptada de <https://exercicios.mundoeducacao.uol.com.br/exercicios-literatura/ exercicios-sobre-semana-arte-moderna.htm>. Acesso em: 7 out. 2020. a) ( ) Romance regional assumiu características de exaltação, retratando os aspectos românticos da vida sertaneja. b) ( ) A escultura e a pintura tiveram seu apogeu com a valorização dos modelos clássicos. c) ( ) Movimento redescobriu o Brasil, revitalizando os temas nacionais e reinterpretando nossa realidade. d) ( ) Os modelos arquitetônicos do período buscaram sua inspiração na tradição do barroco português. e) ( ) A preocupação dominante dos autores foi com o retratar os males da colonização. 2 (FUVEST, 2019) Sobre a reprodução da figura a seguir, assinale a alternativa CORRETA: FONTE: Adaptada de <https://www.blogdovestibular.com/questoes/questao-pintura-navio- -emigrantes-fuvest-2019.html>. Acesso em: 7 out. 2020. a) ( ) Uma pintura impressionista, marcada por pinceladas soltas e pela temática da emigração americana para o continente europeu. b) ( ) Um mosaico cubista, caracterizado pelas formas geométricas, que procuram salientar a esperança daqueles que se dirigem para terras estrangeiras. AUTOATIVIDADE 59 c) ( ) Uma pintura expressionista, que reforça o sofrimento dos que se deslocavam em um contexto de perseguições e intolerâncias. d) ( ) Um painel surrealista, que procurava destacar o subconsciente atormentado daqueles que deixavam seus locais de origem. e) ( ) Uma pintura futurista, influenciada pelas referências de modernização tecnológica características da primeira metade do século XX. 3 (ESPM, 2015) O autor foi o criador do Ready-made, termo criado para designar um tipo de objeto, por ele inventado, que consiste em um ou mais artigos de uso cotidiano, produzidos em massa, selecionados sem critério estético e expostos como obras de arte em espaços especializados como museus e galerias. Ao transformar qualquer objeto em obra de arte, o artista realiza uma crítica radical ao sistema da arte. Assinale a alternativa CORRETA que mencione respectivamente o nome do artista responsável pelos trabalhos apresentados na questão e o movimento artístico que adotava os procedimentos expostos no enunciado, levando muitos a exclamarem “Isso não é arte!”: FONTE: Adaptada de <https://www.todamateria.com.br/exercicios-vanguardas-europeias/>. Acesso em: 7 out. 2020. a) ( ) Marcel Duchamp – Dadaísmo. b) ( ) Georges Braque – Expressionismo. c) ( ) Alberto Giacometti – Surrealismo. d) ( ) Henri Moore – Surrealismo. e) ( ) Franz Arp – Dadaísmo. 60 61 TÓPICO 6 — UNIDADE 1 ARTE CONTEMPORÂNEA OU PÓS-MODERNA 1 INTRODUÇÃO Na segunda metade do século XX, após a Segunda Guerra Mundial, surge a Arte Contemporânea ou Arte Pós-Moderna, prolongando-se até os dias de hoje com uma arte inovadora, curiosa e original. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), um novo panorama é caracterizado pelo avanço da globalização, cultura de massa e o desenvolvimento das novas tecnologias e mídias, com isto a arte passa a ser produzida ao mesmo tempo em que ela é discutida e pensada. Algumas características demonstram uma ruptura com a Arte Moderna como a Efemeridade da Arte produzida, utilização de diferentes materiais e técnicas, mescla de estilos artísticos, discussão sobre o que a arte representa e a interação do espectador com a obra. 2 POP ART Consumo, estilo de vida americanoe a publicidade em geral são temas comuns abordados pelo Pop Art. Traduzido para o português como Arte Popular, a expressão e o movimento foram criados em 1950 pelo crítico Lawrence Alloway. FIGURA 38 – MARILYN MONROE (1962), ANDY WARHOL FONTE: <https://cutt.ly/agA22Hq>. Acesso em: 10 set. 2020. 62 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE Mesmo recebendo este nome, a Pop Art não deve ser confundida com um movimento da cultura popular, mas sim uma interpretação feita pelos artistas da cultura das massas, influenciando o grafismo e os desenhos de moda da época. Além de Andy Warhol (1928-1987), os artistas Eduardo Luigi Paolozzi (1924- 2005), Richard Hamilton (1922-2011), Peter Blake (1932), Roy Lichtenstein (1923- 1997), Claes Oldenburg (1929), James Rosenquist (1933-2017), Tom Wesselmann (1931-2004), Wayne Thiebaud (1920) e Jasper Johns (1930) foram os expoentes neste movimento artístico no exterior. No Brasil, podemos citar Antonio Dias (1944), Rubens Gerchman (1942-2008) e Claudio Tozzi (1944). A utilização de cores vidas, ilustrações, imagens pictóricas e símbolos que foram maciçamente utilizados pelo setor publicitário e cinematográfico, desenvolvendo grande empatia pela moda e pelo design em geral. Este movimento recusava-se impor limites entre a arte e a vida e desta forma fez com que a conexão com o público ficasse a cargo do entendimento dos símbolos e figuras utilizados nas obras de arte. 3 OP ART Explorar a ilusão de ótica nas obras é uma característica do movimento Op Art. A palavra Op Art deriva de Optical Art, traduzido para o português Arte Óptica. Esse movimento artístico, que teve início em 1950, procura traduzir o mundo como um lugar precário e instável, que a cada instante pode ser modificado. Diferente da Pop Art, que tem um apelo na questão visual e publicitária, a Op Art é oposta a ela, com a representação de movimentos por meio da pintura, baseada em estudos psicológicos da mente humana. Defendiam a tese de que a arte deveria ser mais visualizada e ter menos expressão. FIGURA 39 – VICTOR VASSARELLI E SUA ILUSÃO DE ÓTICA FONTE: <https://laart.art.br/wp-content/uploads/2019/04/victorvasarely3.jpg>. Acesso em 12/08/2020. TÓPICO 6 — ARTE CONTEMPORÂNEA OU PÓS-MODERNA 63 As obras desse movimento parecem ter movimento, podendo deformar- se ou aumentar de acordo com o olhar de cada espectador. Como principais artistas podemos citar: Victor Vassarely (1908-1997), Alexander Calder (1898- 1976), Bridget Riley (1931), Jesús-Raphael Soto (1923-2005), Ad Reinhardt (1913- 1967) e Kenneth Noland (1924-2010) 4 MINIMALISMO Com recursos e elementos mínimos, o Minimalismo surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos. As obras de arte são feitas com um número mínimo de cores, dando preferência a formas geométricas delicadamente compostas. O minimalismo, por sua estrutura e teoria, influenciou e ainda influencia diversas áreas, como design, moda, arquitetura e até mesmo no desenho industrial. Artistas como Sol Le Witt, Frank Stella, Donald Judd e Robert Smithson trabalharam no estudo e concepção da base do movimento Minimalista. 5 TACHISMO Movimento artístico informal, na concepção de “sem forma”, sendo considerado também um movimento de Arte Abstrata. Pinceladas vigorosas, pingos escorridos e manchas, criando formas descaracterizadas e não representativas são aspectos característicos do Tachismo. FIGURA 40 – DER BLAUE REITER (1903) ARTISTA: WASSILY KANDINSKY ÓLEO SOBRE TELA FONTE: <https://cutt.ly/IgA9MrM>. Acesso em: 13 ago. 2020. Franz Marc (1880-1916) e Wassily Kandinsky (1866-1944) foram nomes que fizeram parte deste movimento artístico. 64 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE 6 ARTE CONCEITUAL Nos anos de 1960 e 1970, surgiu, nos EUA e na Europa, a Arte Conceitual, em que as obras de arte são pautadas em conceitos, reflexões e ideias, ou seja, a arte conceitual é uma arte ideia, fugindo apenas do visual. O objetivo é o de fazer o espectador refletir a ideia que está sendo passada na obra, propondo uma autonomia do artista e de sua obra. FIGURA 41 – MENSAGENS ESCRITAS EM GARRAFAS DE COCA-COLA, QUE VOLTAVAM PARA A CIRCULAÇÃO, PARA A DITADURA DO ARTISTA BRASILEIRO CILDO MEIRELES FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ci/ld/cildomeirelles-cke.jpg>. Acesso em: 10 set. 2020. O termo “arte conceitual” foi utilizado pela primeira vez em 1961, pelo artista americano Henry Flynt, buscando realizar uma crítica ao mercado de arte tradicional, popularizar a arte como veículo de comunicação e utilizar outros formatos como as fotografias, os vídeos e as instalações para a concepção geral de uma obra de arte. Happening No final de 1950, surge o Movimento Artístico intitulado Happening, ação da qual o artista de utiliza de elementos diversos, aproximando o espectador da obra, fazendo-o até mesmo a participar dela. Esses “eventos” propostos pelos artistas do Happening, não possuem nem começo e nem fim, não tendo, portanto, uma ordem de acontecimentos. John Cage (1912-1992) foi o artista que criou o Theater Piece # 1, ou também chamado "o evento", realizado em 1952 no Black Mountain College, na Carolina do Norte, Estados Unidos, sendo este considerado o primeiro happening da história da arte. TÓPICO 6 — ARTE CONTEMPORÂNEA OU PÓS-MODERNA 65 Performance Diferente do Happening, a Performance não depende da participação do espectador para acontecer. Mistura diferentes elementos artísticos como dança, música, teatro e artes plásticas e de forma subjetiva e conceitual procura representar o que o artista está se propondo a trazer para sua obra. Como a Performance ocorre geralmente com um público restrito, a utilização de imagens de vídeo e fotografia são de fundamental importância para o registro da obra para a posteridade e para o público em geral. Teve seu início no final da Primeira Guerra Mundial, mas ganhou força e ficou conhecida entre os anos de 1960 e 1970. Allan Kaprow foi um dos pioneiros nesse na Performance, promovendo a participação do público nas performances, por meio de instalações artísticas. Outro grupo que tomou forma na performance dói o então intitulado Grupo Fluxus, formado por artistas europeus, americanos e japoneses, promovendo uma discussão sobre a arte e seu aspecto comercial. Videoarte Com a difusão e o barateamento dos vídeos na década de 1960, a Videoarte toma força e promove seu uso não comercial para o mundo todo. Nessa época o vídeo passa a ter muita força no âmbito artístico e propulsiona os mais diversos tipos de arte. Cenas, cores e sons trazem movimento para dentro das galerias de arte. As realizações Fluxus justapõem não apenas objetos, mas também sons, movimentos e luzes num apelo simultâneo aos diversos sentidos: visão, olfato, audição, tato. Nelas, o espectador deve participar dos espetáculos experimentais, em geral, descontínuos, sem foco definido, não-verbais e sem sequência previamente estabelecida. Ampliando o recuo temporal, é possível localizar ecos dadaístas, sobretudo dos trabalhos tridimensionais de Marcel Duchamp (1887-1968) – The Large Glass, 1915/1923 e To Be Looked at (From the Other Side of the Glass) with one Eye, Close to, for almost na Hour, conhecido como Small Glass, 1918 – e de seus trabalhos óticos, Rotary Glass Plates (Precision Optics), 1924 e Anemic Cinema, 1926 (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2017, s.p). O espectador visualiza as obras de arte da galeria, mas expande seu olhar para as paredes e tetos que contam histórias por meios de imagens em movimento e sons que transmitem o que aquela exposição quer dizer. Body art Utilizar o corpo para se expressar de maneira artística já é considerado antigo. Todavia, é na década de 1960, nos Estados Unidos, que se realiza um estudo mais aprofundado de como o corpo pode expressar-se e representar o que quer que seja dito pelo artista. 66 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE A ideia do Body art é que o corpo seja uma forma de expressão livre de ideologias, preconceitosem relação a temas de gênero ou sexuais. Geralmente, por meio de performances, os artistas do Body Art buscavam em seu corpo meios de se expressar revelando diversas tendências. Violência, agressividade, automutilação do corpo tinham como objetivo chocar o espectador, provocando reações fortes e sensíveis. Viennois Gunter e Rudolf Schwarzkogler (que morreu em 1969, durante uma performance), Chris Burden e Gina Pane, são considerados expoentes na Body Art. 7 FOTORREALISMO E INTERNET ART O Fotorrealismo tem como principal ferramenta, as fotografias, que projetadas em telas são fielmente replicadas com exatidão, proporcionando o maior realismo possível da cena que é projetada. Já a Internet Art é um movimento artístico que foi criado pela e para a internet, tendo como uma de suas principais características a interatividade, reunindo diversas linguagens artísticas no meio digital. Street art Street Art ou Arte de Rua refere-se às manifestações artísticas desenvolvidas no espaço público, distinguindo-se das manifestações de caráter institucional ou empresarial, bem como do mero vandalismo. Vários estilos podem ser encontrados na Street Art como a instalação de Autocolantes ou Adesivos, as apresentações artístico-culturais diversas, a instalação de cartazes lambe-lambes, as apresentações de estátuas vivas, a aplicação de estênceis, as intervenções urbanas etc. Possuindo caráter dinâmico e efêmero, esse movimento artístico surgiu nos Estados Unidos, em 1970, e, em seguida, expandiu-se pelo mundo perdurando até hoje e dominando diversos ambientes, como até mesmo o design, a arquitetura e a moda. Grafite Utilizado principalmente como forma de crítica social e de intervenção artística na cidade, o Grafite é uma arte urbana, com produção de desenhos em locais públicos. O nome vem do Italiano “Graffito”, que significa “escrita feita com carvão”. Desde os primórdios existem as manifestações do Grafite como as inscrições nas cavernas e também intervenções feitas em locais públicos na Antiguidade Romana. Na contemporaneidade o Grafite está ligado ao movimento do Hip Hop, na década de 1970 nos EUA. TÓPICO 6 — ARTE CONTEMPORÂNEA OU PÓS-MODERNA 67 Série Get Down, disponível no Netflix, conta sobre a história do Hip Hop e do Grafite nos EUA. INTERESSA NTE No Brasil, o Grafite nasce também na década de 1970, em São Paulo, em uma época de censura e ditadura. Com o intuito de uma provocação social, mostrando a realidade da sociedade reprimida, os desenhos dos grafites vêm para trazer e acender essa discussão. FIGURA 42 – ALEX VALLAURI FEZ HISTÓRIA NOS ANOS 1980 COM ESSE DESENHO DE BOTA NAS PAREDES FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/bo/ta/botaalexvallauri-0.jpg>. Acesso em: 8 ago. 2020. Nesta época a arte passa a ser vista além dos muros dos museus e sim também nas ruas, nos prédios e nos muros. O Grafite torna-se um grandioso instrumento de protesto e transgressão. Podemos citar nomes como Jean Michel Basquiat, Bansky, e os Gêmeos para compor o quadro dos artistas expoentes neste movimento artístico. Land Art A natureza é considerada o principal material da Land Art. Artistas procuravam locais remotos para montar grandiosas intervenções. Linhas sobra terra, com pilhas de madeira e pedras e escavação de tumbas formando desenhos e formas em grande escala é o resultado obtido pela Land Art. Todo o processo é gravado e fotografado para que o processo seja registrado. 68 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE FIGURA 43 – DUPLO NEGATIVO DE MICHAEL HEIZER FONTE: <https://cutt.ly/kgStWRz>. Acesso em: 13 ago. 2020. Dessa forma, o espectador tem como principal objetivo, o de observar e contemplar a obra que se utiliza da beleza e da força da natureza. Michael Heizer, Robert Smithson e Walter de Maria são os artistas que propulsionam a Land Art. TÓPICO 6 — ARTE CONTEMPORÂNEA OU PÓS-MODERNA 69 ARTE: CONCEITO, ORIGEM E FUNÇÃO Irama Sonary de Oliveira Ferreira Lívia Freire de Oliveira Introdução Arte é conhecimento, e partindo deste princípio, pode-se dizer que é uma das primeiras manifestações da humanidade, pois serve como forma do ser humano marcar sua presença criando objetos e formas que representam sua vivência no mundo, o seu expressar de ideias, sensações e sentimentos e uma forma de comunicação (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). A arte surgiu com os primórdios da humanidade, revelou-se com suas primeiras ações, principalmente através de seu trabalho, condição necessária para sua sobrevivência, em que o homem utiliza a natureza transformando-a. As pinturas rupestres também caracterizavam essas primeiras formas de ação, demonstrando que o homem da caverna, naquele tempo, já interesse em se expressar de maneira diferente (FISCHER, 1983). Dentre seus possíveis conceitos a “arte é uma experiência humana de conhecimento estético que transmite e expressa ideias e emoções”, por isso, para a apreciação da arte é necessário aprender a observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e modos diferentes de fazer arte (AZEVEDO JÚNIOR, 2007, p. 7). Partindo deste princípio, a arte existe para decorar o mundo, para ajudar no dia-a-dia (utilitária), para explicar e descrever a história, para expressar ideias, desejos e sentimentos, a arte é uma manifestação singular. Quando o homem faz arte, ele cria um objeto artístico que não precisa ser uma representação fiel das coisas no mundo natural ou vivido e sim, como as coisas podem ser, de acordo com a sua visão, ou seu desejo. Baseado nisso, a função da arte e o seu valor estão na representação simbólica do mundo humano. Cada sociedade apresenta variados estilos para fazer arte, pois cada uma apresenta os seus próprios valores, sejam eles morais, religiosos e artísticos, cada região tem sua cultura, no entanto, a arte se manifesta de acordo com elas (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). Portanto, procura-se, a partir da discussão deste tema, saber qual o significado e importância da arte para a sociedade, através de um relato sobre sua origem, conceito e função. Origem da arte O mundo da arte pode ser observado, compreendido e apreciado por meio do conhecimento do ser humano, que desenvolve a sua imaginação e criação, adquirindo conhecimento, modificando sua realidade, aprendendo a conviver LEITURA COMPLEMENTAR 70 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE com seus semelhantes e respeitando as diferenças (AZEVEDO JUNIOR, 2007). A arte é quase tão antiga quanto o homem, pois a arte é uma forma de trabalho, e o trabalho é uma propriedade do homem, uma de suas características e ainda pode ser definido como um processo de atividades deliberadas para adaptar as substâncias naturais as vontades humanas, é a relação de conexão entre o homem e a natureza, comum em todas as formas sociais (FISCHER, 1983). O homem executa seu trabalho através da transformação da natureza. A arte, como um trabalho mágico do homem, é utilizada como uma tentativa de transformação da natureza, sonha em modificar os objetos, dar uma nova forma à sociedade, trata-se de externar uma imaginação do que significa a realidade, portanto o homem é considerado, por princípio, um mágico, pois é capaz de transformar a realidade através da arte (FISCHER, 1983). Para executar suas atividades, o homem através de artes, como por exemplo, as pinturas em paredes, foram gerando conhecimentos e criando ferramentas para atender seus interesses. O homem cria a arte como uma forma para sobreviver no meio, expressar o que pensa, divulgar suas crenças (ou a de outros), para estimular e distrair a si mesmo e aos outros, para explorar novas formas de olhar e interpretar objetos e cenas. Segundo Azevedo Júnior (2007), para que a arte exista é necessário a existência de três elementos: o artista, o observador e a obra de arte. O artista é aquele que tem o conhecimento concreto, abstrato e individual sobre determinado assunto, que se estressa e transmite esse conhecimento atravésde um objeto artístico (pintura, escultura, dentre outros), que represente suas ideias. O segundo, o observador, é aquele que faz parte do público, que observa a obra para chegar ao caminho de mundo que ela contém, ainda terá que ter algum conhecimento de história e história da arte para poder entender o contexto de tal arte. O terceiro, a obra de arte, é a criação do objeto artístico, que vai até o entendimento do observador, pois todas as artes têm um fim em si, ou seja, uma tradução. Conceito de arte A arte concebida como ideia de colocar o homem em equilíbrio com seu meio, se caracteriza como um reconhecimento parcial da sua natureza e da sua necessidade, tendo em vista que não é possível um permanente equilíbrio entre o homem e o mundo que o circunda, sugerindo que a arte é e sempre será necessária (FISCHER, 1983). Segundo Azevedo Júnior (2007), a arte é conhecimento, além de uma das primeiras manifestações da humanidade para marcar sua presença em determinado espaço (como já foi dito anteriormente, através da pintura nas cavernas, templos religiosos, quadros, filmes) que expressam suas ideias, sentimentos e emoções sobre determinado assunto para os outros, portanto, a arte tem a intenção de mostrar como as coisas podem ser de acordo com determinada visão e não uma visão de como as coisas são. No entanto, a arte é uma representação simbólica do mundo humano. Há vários conceitos que definem a arte, de modo mais sintético, TÓPICO 6 — ARTE CONTEMPORÂNEA OU PÓS-MODERNA 71 pode-se dizer que a arte é a transmissão de ideias, pensamentos e emoções, através de um objeto artístico, adquirida da experiência humana e que possui seu valor, no entanto, para entende-la é necessário aprender sobre ela, seu histórico, para assim pode observar, a analisar, a refletir, a criticar e a emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e modos diferentes de fazer arte (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). Cada sociedade apresenta um estilo diferente de fazer arte, pois possuem seus próprios valores morais, religiosos, artísticos entre outros. Baseado nisto, cada região tem sua cultura, no entanto, a arte se manifesta de acordo com elas (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). Para Tabosa (2005), o termo arte é derivado do latim ars que tem sentido de origem grega de arte manual, ofício, habilidade, obra, que significa, em um aspecto mais geral um conjunto de regras que conduzem a atividade humana. Complementando, o conceito de artes a PUC-Rio (2012) relata um pouco da produção de Joseph Beuys sobre o conceito de artes, no sentido em que este não era limitado apenas ao campo artístico, mas se estendia aos campos políticos e educacionais. Partindo deste princípio, o conceito de artes era visto como algo que fizesse parte da vida, sendo essencial na formação e organização social. Função da arte Em cada sociedade, existe um modo de se ver a arte, como em sociedades indígenas, em que se pode notar a arte presente no seu dia-a-dia através de suas vestimentas, pinturas, artefatos etc. A arte só foi reconhecida no séc. XX como um objeto que proporciona experiência de conhecimento (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). Segundo Fischer (1983), o homem só se tornou homem através do conhecimento que a arte proporciona, pois é da utilização deste conhecimento que ele faz suas ferramentas para poder atender suas necessidades, como o homem primitivo viu a utilidade de se proteger contra os inimigos e também caçar. No entanto, este criou uma ferramenta como uma vara, junto a uma pedra para atingir animais, ou outros seres que viessem o atacar. Para Azevedo Júnior (2007) arte, de uma forma mais artística, apresenta três funções principais: a pragmática ou utilitária, a naturalista e formalista. A arte como função pragmática serve como uma alternativa para alcançar um fim não artístico e sim uma finalidade, baseado nesta ideia, a arte pode estar a serviços para finalidades religiosas políticas ou sociais, neste caso não é interessante sua qualidade estética, mas a finalidade que se prestou alcançar. A arte como função naturalista tem como objetivo representar algo ao observador de forma mais natural possível, o que interessa aqui é a representação da realidade e da imaginação do conteúdo de tal arte para o observador, de uma maneira que este possa compreender. A arte como função formalista preocupa-se com significados e motivos estéticos, preocupa-se em transmitir e expressar ideias e emoções através de objetos artísticos (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). Segundo Fischer (1983, p. 1) cabe à arte: “papel de clarificação das relações sociais, ao papel de iluminação dos homens em sociedades que se tornavam opacas, ao papel de ajudar o homem 72 UNIDADE 1 — HISTÓRIA DA ARTE a reconhecer e transformar a realidade social. Uma sociedade altamente complexa, com suas relações e contradições sociais multiplicadas, já não pode ser representada à maneira dos mitos”. A arte é um meio pelo qual o homem transforma o mundo através do conhecimento, pois quando algum artista pratica a arte ele pretende passar algo novo, suas ideias e pensamentos. No entanto, isso pode ser observado nos primórdios com as pinturas, que deixavam para as outras pessoas, conhecimentos anteriores a eles que depois foram se desenvolvendo e se aprimorando com o decorrer do tempo. Na verdade, a função essencial é a de fazer esclarecer e incitar à ação; sendo necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e transformar o mundo em que vive (FISCHER, 1983). Considerações finais Diante de todos os relatos apresentados, percebe-se que a arte é uma forma de expressão humana, tendo em vista que ela transmite características e conceitos inerentes ao homem e sua cultura, no sentido que através dela ele consegue expressar suas ideias, sensações e sentimentos, servindo como uma forma de comunicação (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). Baseado nisso, a importância da arte está na sua capacidade de proporcionar uma forma diferenciada de comunicação ao homem e proliferação de sua cultura ao redor do mundo, fazendo com que este se torne um processo dinâmico e contínuo. Com a discussão deste tema, pôde-se fundamentar ainda mais o significado de arte, no sentido de desmistificar a ideia de que a arte é limitada apenas ao campo artístico, mas que também abrange outras áreas da vida humana, tanto o moral quanto o religioso. FONTE: <http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/241/texto%205.pdf>. Acesso em: 6 out. 2020. 73 RESUMO DO TÓPICO 6 Neste tópico, você aprendeu que: • Consumo, estilo de vida americano e a publicidade em geral são temas comuns abordados pelo Pop Art. Traduzido para o português como Arte Popular, a expressão e o movimento foram criados em 1950, pelo crítico Lawrence Alloway. • Explorar a ilusão de ótica nas obras é uma característica do movimento Op Art. A palavra Op Art deriva de Optical Art, traduzido para o português Arte Óptica. • Com recursos e elementos mínimos, o minimalismo surgiu nos anos 1960, nos Estados Unidos. As obras de arte são feitas com um número mínimo de cores, dando preferência a formas geométricas delicadamente compostas • Movimento artístico informal, na concepção de “sem forma”, sendo considerado também um movimento de Arte Abstrata. Pinceladas vigorosas, pingos escorridos e manchas, criando formas descaracterizadas e não representativas são aspectos característicos do Tachismo. • No final de 1950, surge o movimento artístico intitulado happening, ação da qual o artista de utiliza de elementos diversos, aproximando o espectador da obra, fazendo-o até mesmo a participar dela. Esses “eventos” propostos pelos artistas do Happening, não possuem nem começo e nem fim, não tendo, portanto, uma ordem de acontecimentos. • Diferente do happening, a performance não depende da participação do espectador para acontecer. Mistura diferentes elementos artísticos como dança, música, teatro e artes plásticas e de forma subjetiva e conceitual procura representar o queo artista esta se propondo a trazer para sua obra. • O fotorrealismo tem como principal ferramenta, as fotografias, que projetadas em telas são fielmente replicadas com exatidão, proporcionando o maior realismo possível da cena que é projetada. • Já a Internet Art é um movimento artístico, que foi criado pela e para a internet, tendo como uma de suas principais características a interatividade, reunindo diversas linguagens artísticas no meio digital. • Utilizado principalmente como forma de crítica social e de intervenção artística na cidade, o Grafite é uma arte urbana, com produção de desenhos em locais públicos. O nome vem do Italiano “Graffito”, que significa “escrita feita com carvão”. 74 Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA • Nos anos de 1960 e 1970, surgiu, nos EUA e na Europa, a Arte Conceitual, em que as obras de arte são pautadas em conceitos, reflexões e ideias, ou seja, a arte conceitual é uma arte ideia, fugindo do visual. • A natureza é considerada o principal material da Land Art. Artistas procuravam locais remotos para montar grandiosas intervenções. Linhas sobra terra, com pilhas de madeira e pedras e escavação de tumbas formando desenhos e formas em grande escala é o resultado obtido pela Land Art. 75 1 Sobre o que podemos afirmar da arte contemporânea, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Grafite não é arte. b) ( ) Fotografia e cinema não são artes. c) ( ) Apenas pintura e escultura são artes. d) ( ) O vídeo e a performance foram aceitos na arte contemporânea. e) ( ) Nenhuma das alternativas. 2 (MACAE-RJ) Leia o Texto a seguir: Apoderar-se de espaços públicos em nome do registro histórico, da arte livre e da contestação sempre atraiu as pessoas, desde o início dos tempos. Desenhos do cotidiano das comunidades já podiam ser vistos nas cavernas, em pinturas rupestres, datadas da Pré-História. Inscrições urbanas semelhantes também podem ser encontradas na cidade de Pompeia (na Itália), que mesmo tendo sido invadida por lavas vulcânicas, preservou as marcas de manifestos e propagandas políticas impressas nas construções. Esses registros fazem parte da história do graffiti – ou grafite, em português –, uma prática que hoje em dia é considerada uma arte, um movimento e a expressão de uma cultura de classe. O grafite moderno, feito com tinta e latas de spray, teve origem em Nova Iorque, nos Estados Unidos, ainda durante os anos 1970, quando o movimento hip- hop dava os seus primeiros passos. Os símbolos gravados nos muros serviam como forma de comunicação entre gangues. Essa prática ainda está vinculada à cultura de periferia, não só nos Estados Unidos, mas também no Brasil. A diferença é que hoje existe uma divisão mais nítida entre a pichação, usada como instrumento de protesto e de vandalismo, e o grafite, que, embora mantenha a característica marginal, é considerado uma expressão da arte de rua. [...] O grafite é uma das expressões mais populares da arte de rua, mas existem outras técnicas plásticas que integram as intervenções urbanas. Colagem, stencilart e pintura mural também são algumas das práticas desenvolvidas. Dança, música e encenações teatrais integram, da mesma forma, essas manifestações [...]. FONTE: Adaptado de KOPPE, J. Arte ao alcance de todos. 2005. Disponível em: https:// www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/arte-ao-alcance-de-todos-9oftog1ylvqtl4we1jcrrc- vv2/. Acesso em: 6 out. 2020. No que diz respeito ao grafite, assinale a alternativa CORRETA acerca do que o texto revela: a) ( ) É uma das expressões mais populares da arte de rua, mas existem outras poucas técnicas plásticas que integram as intervenções urbanas. b) ( ) O grafite moderno, feito com tinta e latas de spray, teve origem em Washington, nos Estados Unidos, ainda durante os anos 1970. AUTOATIVIDADE 76 c) ( ) Apesar de manter a característica marginal, é considerado uma expressão da arte de rua. d) ( ) Grafite, em francês, é uma prática que hoje em dia é considerada uma arte, um movimento e a expressão de uma cultura de classe. e) ( ) Por ser marginalizado, não é considerado uma expressão da arte de rua. 3 Segundo o texto da questão anterior (questão 1), o grafite é “[...] uma prática que hoje em dia é considerada uma arte, um movimento e a expressão de uma cultura de classe” (2º parágrafo). Para expressar a sua arte, os grafiteiros usam como suporte: a) ( ) Os muros como tela e as latas de tinta de spray para desenhar. b) ( ) As paredes das casas como telas e tintas a óleo para desenhar. c) ( ) As paredes de construções antigas e tintas plásticas para desenhar. d) ( ) As paredes de grandes prédios e tintas acrílicas para desenhar. e) ( ) Grandes painéis em galerias de arte e tintas PVA para desenhar 4 No que se refere ao estilo “Land Art”, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Trata-se de técnicas artísticas que visam iludir o expectador. b) ( ) Trata-se de uma variante do impressionismo italiano, que se caracteriza pela inserção de elementos atóxicos nas pinturas. c) ( ) Trata-se do espaço não utilizado pelo pintor na tela de trabalho. d) ( ) Trata-se da imagem utilizada para incentivar o apreço pela arte em crianças e adolescentes. e) ( ) Trata-se do tipo de arte em que o terreno natural, em vez de prover o ambiente para uma obra de arte, é ele próprio trabalhado de modo a se integrar com a obra. 77 REFERÊNCIAS AIDAR, L. Arte Egípcia. c2020. Disponível em: https://www.todamateria.com. br/arte-egipcia/#:~:text=Pintura%20Eg%C3%ADpcia,parte%20da%20hist%- C3%B3ria%20do%20Egito. Acesso em: 15 set. 2020. ARTE rupestre. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural. org.br/termo5354/arte-rupestre. Acesso em: 7 out. 2020. Verbete da Enciclopédia. PINTO, T. dos S. O que é arte rupestre. c2020. Disponível em: https://brasilescola. uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-e-arte-rupestre.htm. Acesso em: 29 jun. 2020. BÖGER, M. R. O encontro da moda com a arte: momentos da história da moda em que a arte foi inspiradora. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Co- nhecimento, n. 4, v. 5, p. 138-151, jun. 2019. ISSN: 2448-0959 BUCKLEY, C.; MCASSEY, J. Styling de moda: criação de um estilo, moda ou imagem. Porto Alegre: Bookman, 2013. MURALHA, F. O que são iluminuras? 2018. 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No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INTRODUÇÃO AO DESIGN TÓPICO 2 – INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX TÓPICO 3 – MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN TÓPICO 4 – O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 80 81 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste tópico, abordaremos alguns conceitos e definições que autores e profissionais da área do design descrevem, na tentativa de elucidar a complexidade do termo, já que o design é uma disciplina interdisciplinar, multifacetada, transversal e, para atingir os seus objetivos, insere em seu contexto e prática os conteúdos de cunho social, econômico, cultural, tecnológico, inovador, entre outros, que se juntam como um grande trabalho em equipe, sendo o designer também um gestor destas etapas. Vamos juntos conhecer algumas áreas de formação acadêmica do design, a fim de compreender a extensão de possibilidades que se abrem para esta profissão. Neste intuito, deixaremos claro que os campos se abrem quase que infinitamente quando analisamos o design para além da academia e sob a ótica do desenvolvimento de produtos e de serviços, sejam eles os mais variados possíveis, de maneira pensada e equilibrando forma, função e estética. Sendo assim, vamos expor as diferenças existentes entre um produto produzido desenvolvido de forma artesanal, pelo desenho industrial e no standart (padrão), pois muitas vezes estes termos se confundem, mas devem ser compreendidos de acordo com a configuração de cada um. Por fim, versaremos sobre as funções dos produtos industriais, que estão intrínsecas no fazer do design, pois são elementos indispensáveis a serem identificados nestes produtos. Bons estudos! 2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE DESIGN O que é design? Você já percebeu como esta palavra faz parte do seu dia a dia? Como ela está integrada em suas atividades, em suas escolhas por determinados produtos, seja no mercado, na livraria, nas lojas de roupas, de equipamentos para a sua casa, eletroeletrônicos, produtos decorativos, na estética apresentada nas novelas, filmes, propagandas, entre outros e até mesmo na sua estética pessoal? Sim, o design está contido em todos os produtos que consumimos! TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DESIGN UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN 82 Cada produto é pensado e projetado para atender uma demanda específica, de acordo com um perfil de consumidor, que é estudado e analisado exaustivamente com o objetivo de atender a uma necessidade criada, de forma a influenciar um determinado padrão de consumo. E tudo isso é muito bem estruturado por profissionais conhecedores de métodos projetivos presentes no design e que atuam em diversas áreas, como: gráfico e identidade visual, arquitetura e interiores, carros, produtos em geral, embalagens, têxteis, e muito mais! O design como vivenciamos hoje ganhou essa maturidade somente a partir da década de 1980 e, como disciplina ativa, ele é recente. O design possui uma vocação interdisciplinar, transversal, multifacetada e existe a partir da interação, interlocução e parceria de outras áreas técnicas, filosóficas, sociais e culturais. Ele se constrói e reconstrói em um processo permanente de ampliação de seus limites, sempre em consonância com as exigências da época atual e a partir de outras áreas de conhecimento (COUTO, 1999). O design sempre esteve vinculado aos processos industriais e, por isso, entendido como uma atividade geradora de projetos, no sentido objetivo de planos, esquemas, modelos, esboços, protótipos a fim de se produzir artefatos possíveis de serem reproduzidos em massa. Nesta lógica, o design no início de sua trajetória procurou se afastar das definições de outras atividades que também geram estes mesmos produtos, como a arte, a arte plástica, o artesanato e artes gráficas. Cardoso (2008) aponta que o design, arte e artesanato tem muito em comum e, atualmente, o design já atingiu uma maturidade institucional, fazendo com que muitos designers voltem a perceber o valor de resgatar o fazer manual. Podemos considerar que historicamente o marco inicial para a fundamentação do design foi “a passagem de um tipo de fabricação, em que o mesmo indivíduo concebe e executa o artefato, para outro, em que existe uma separação nítida entre projetar e fabricar” (CARDOSO, 2008, p. 18). Portanto, podemos voltar a um passado mais remoto e encontrar em Leonardo da Vinci um primeiro representante do design. Bürdek (2006) cita que, em paralelo com seus estudos científicos de anatomia, ótica e mecânica, Vinci é considerado como um precursor do conhecimento de máquinas, um autêntico designer, pelo seu papel criador, ao editar o Manual de Elementos de Máquinas. Ainda, em 1588, o Oxford Dictionary citou e definiu pela primeira vez a palavra design como um plano desenvolvido pelo homem ou esquema que possa ser realizado; o primeiro projeto gráfico de uma obra de arte; um objeto das artes aplicadas, ou seja, útil para a construção de outras obras (BÜRDEK, 2006). TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DESIGN 83 Cardoso (2008) traz em seu livro Introdução à História do Design, que a palavra design tem sua origem na língua inglesa, no qual como substantivo se refere tanto à ideia de plano, desígnio, intenção quanto de configuração, arranjo, estrutura. Já na sua origem em latim ‘designare’, é um verbo que abrange todos os sentidos, o designar e o desenhar. Tschimmel (2010) complementa descrevendo que como verbo design se refere ao processo que corresponde ao planejamento das ações do projeto e que como substantivo corresponde a uma perspectiva semântica orientada para o produto. Semântica: refere-se à semântica, ao significado das palavras, à interpretação das frases, das orações etc.: estudo semântico do texto. Refere-se à ciência que se dedica ao estudo da evolução do sentido das palavras ou de outras formas de comunicação humana (RIBEIRO, 2018). NOTA Outro autor, Luís Antônio Coelho (2008) acrescenta que a palavra design possui uma multiplicidade de significados, pois a palavra nutre-se de outras palavras para ganhar significado, assim, “design” pode contemplar definições como: designar, indicar, representar, marcar, ordenar, dispor, regular, abrangendo termos como: invento, planejamento, projeto, configuração. Da mesma maneira, o campo de atuação do designer é abrangente, relacionado à atividade projetual, que contempla uma série de requisitos indispensáveis, a fim de atender fatores sociais, culturais, econômicos, tecnológicos, ergonômicos etc., seja da vida social ou individual. Flusser (2013), no livro O Mundo Codificado, analisa a palavra design em seu contexto histórico filosófico, relacionando seus diferentes significados até chegar ao design contemporâneo, o qual unificou características da arte e da técnica, cujo elemento mais expressivo se encontra no campo do pensamento, das ideias, de onde o design retira argumentos convincentes com o propósito de manipular a percepção de valor de seus produtos por meio da sua forma além da sua função. Para Lobach (2001), no livro Design Industrial, o design deve ser analisado sob o ponto de vista de cinco protagonistas diferentes: o usuário, o fabricante, o crítico marxista, o designer e o advogado dos usuários, pois cada um trará uma concepção distinta a partir de suas próprias necessidades.No entendimento do usuário, o design pode ser visto de forma simplista ou reducionista, cujas escolhas dependerão de fatores socioeconômicos. Portanto, o design é considerado apenas design. Para o fabricante, o design pode representar a otimização dos processos produtivos e de matéria prima, a criação de produtos esteticamente agradáveis a fim de atrair a atenção dos possíveis compradores é UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN 84 capaz de diferenciar os produtos da concorrência. Na posição do crítico marxista, o design pode ser uma fonte para aumentar as vendas de produtos com bela aparência, mas que não necessariamente contenham a qualidade ou o valor real pré-estabelecido. Para o designer, o design é um processo de resolução de problemas e que deve atender às relações entre o homem e meio. E, por fim, para o advogado dos usuários, o design é o processo de adaptação do ambiente artificial às necessidades físicas e psíquicas dos homens na sociedade. Desta forma, Lobach (2001, p. 16) deduz que o “design é uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um problema determinado”, ou seja, o conceito de design compreende a concretização de uma ideia em forma de projetos ou modelos, mediante a construção e configuração, resultando em um produto passível de produção em série, que beneficie a interação do homem com seu ambiente técnico de forma a garantir o seu bem-estar físico e psíquico. A Industrial Designers Society of America (ISDA) apresenta o design como um serviço profissional de criação e desenvolvimento de conceitos e especificações que ampliam o valor, a função e a aparência de produtos e sistemas para o benefício do usuário e do fabricante, sucessivamente. Isto é o que corresponde à definição do International Council of Societies of Industrial Design (ICSID), que descreve o design como uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços e seus sistemas em ciclos de vida completos, tendo o mapeamento da cultura, dos contextos, das experiências pessoais e dos processos da vida dos indivíduos como campos de pesquisa, cujo principal objeto é o de identificar os problemas e, através da geração de alternativas, superá-los por completo (BONI; SILVA; DA SILVA, 2014). “O design engloba uma extraordinária variedade de funções, técnicas, atitudes, ideias e valores” (LANDIM, 2010, p. 24). No Brasil, o Projeto de Lei n° 1.391-B/2011, dispõe sobre a regulamentação do exercício profissional de Designer: Art. 2º Designer é todo aquele que desempenha atividade especializada de caráter técnico-científico, criativo e artístico para a elaboração de projetos de sistemas e/ou produtos e mensagens visuais passíveis de seriação ou industrialização que estabeleçam uma relação com o ser humano, tanto no aspecto de uso, quanto no aspecto de percepção, de modo a atender necessidades materiais e de informação visual (BRASIL, 2011). Para a CNI (Confederação Nacional da Industria), “o design tem características bem delimitadas, relacionadas à melhoria dos aspectos funcionais, ergonômicos e visuais dos produtos [e sistemas], como forma de beneficiar o usuário, através da garantia de conforto e segurança” (BONI; SILVA; DA SILVA, 2014, p. 5). Bonsiepe (2011), no livro Design, Cultura e Sociedade, diz que o termo design recebeu diversos significados. Sendo popularizado, afastou-se da sua origem e passou a ser percebido como algo efêmero, mais próximo da moda, ou seja, com obsolescência programada, caracterizado por objetos de alto valor agregado, caro e pouco funcional. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DESIGN 85 Mozota (2003) destaca que, por ser atribuído ao design, o ideal de cosmético (como artifício, maquiagem, disfarce) pode ficar dissimulando a relação existente com o processo criativo que antecede o resultado, deturpando o real significado do design, que corresponde, principalmente, a atender às necessidades da humanidade. Esta nova designação para o termo vem sendo empregada pela mídia, que populariza o design como expressão de estilo e status social e não como solução inteligente em termos ergonômicos, estéticos e relacionais, causando distorções do seu real significado, empregando-o, muitas vezes, como marca, por exemplo: Hair Design em vez de cabeleireiro, ou Flower Design em vez de Floricultura (LANDIM, 2010). Alexandre Wollner (2002, p. 91), o pioneiro do design no Brasil, no livro Textos Recentes e Escritos Históricos diz que o “design possui como preocupação básica a função, os materiais, a ergonomia visual com aplicações planas e não planas, tendo em consideração como o produto se comporta em todos os seus ângulos, como pode ser fragmentado e ao mesmo tempo ser compreendido por inteiro”, e ainda, para o autor “Design é projeto, não ilustração. Capa de disco não é design, caixa de sabão em pó não é design. Se eu projetar a caixa para fazer com que o pó caia facilmente, isso é design. Pegar uma caixa quadrada ou retangular e pintá-la de vermelho e branco não é”. Helena Katz (2007, p. 197), no capítulo Corpo, design e evolução, no livro Disegno. Desenho. Desígnio descreve que o “design é a organização das partes de um todo, de um modo que os componentes produzam o que foi planejado, existindo um incontável número de possibilidades em que estas partes podem ser combinadas”. Para o professor de história da cultura e do design, Beat Schneider (2010), em sua obra Design – uma Introdução: o design no contexto social, cultural e econômico, o design é a visualização criativa e sistemática dos processos de interação e das mensagens de diferentes atores sociais; é a visualização criativa e sistemática das diferentes funções de objetos de uso e sua adequação às necessidades dos usuários ou aos efeitos sobre os receptores. Obsolescência Programada, também chamada de obsolescência planejada, é quando um produto lançado no mercado se torna inutilizável ou obsoleto em um período relativamente curto de forma proposital, ou seja, quando empresas lançam mercadorias para que sejam rapidamente descartadas e estimulam o consumidor a comprar novamente. Está vinculado ao período da Grande Depressão (1929). FONTE: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/obsolescencia-programada.htm>. Acesso em: 13 out. 2020. NOTA UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN 86 Mônica Moura (2003), no livro Faces do design identifica que o design significa ter e desenvolver um plano, um projeto; é trabalhar com a intenção, com o cenário futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir; significa pesquisar e trabalhar com referências culturais e estéticas, com o conceito da proposta; é lidar com a forma, com o feitio, com a configuração, a elaboração, o desenvolvimento e o acompanhamento do projeto. Como podemos perceber, os mais diversos autores que estudam, descrevem e analisam o design como disciplina ou mesmo como profissão, consideram como atribuição mais óbvia para a sua definição, a transformação de ideias em soluções tangíveis, capaz de identificar e solucionar problemas, considerando aspectos emocionais, cognitivos e estéticos dos produtos e/ou serviços, a fim de beneficiar a sociedade nos mais diferentes aspectos do cotidiano, como trabalho, lazer e outros. Como abordamos no início deste tópico, o design trabalha de forma interdisciplinar, sendo uma atividade aplicada que necessita de pesquisa, planejamento, gestão e métodos sistemáticos de desenvolvimento. O profissional designer é tanto um artista quanto um tecnólogo, e ainda um gestor, pois utiliza- se destas áreas distintas, por meio de elementos objetivos e subjetivos em seu processo criativo e produtivo e, tem a função de integrar os aportes de diferentes especialistas desde a especificação de matéria-prima, passando pela produção à utilização e ao destino final do produto. 3 ÁREAS DE ABRANGÊNCIA DO DESIGN Acadêmico, você viu que a palavra design possui uma amplitude de significados, mas que o cernede seu objetivo está em planejar ou projetar algo com um propósito específico, portanto, o designer como profissional deve pensar além dos aspectos estéticos, pautando também na criação de soluções inteligentes e inovadoras para diversos segmentos, tendo igualmente um mercado amplo de oportunidades, inclusive na modalidade de freelancer. Freelancer, também conhecido popularmente no Brasil pelas expressões ou gírias “freela” ou “frila”, é o termo inglês para denominar o profissional autônomo que se autoemprega em diferentes empresas ou, ainda, guia seus trabalhos por projetos, captando e atendendo seus clientes de forma independente. NOTA TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DESIGN 87 Então, o designer é quem faz design! Antes de visualizar algumas das áreas de atuação do designer, é importante perceber que este profissional carrega em sua profissão uma responsabilidade extrema: a de influenciar pessoas, estilo de vida, padrões e desejos de consumo. Que é necessário ter uma visão holística, global do projeto, desde a sua concepção como ideia até o seu descarte final. Que cada etapa do projeto é realizada pensando minimamente em todos os detalhes físicos e conceituais e que, muitas vezes, para o consumidor final, estas escolhas não são percebidas de forma consciente, mas para o designer é tudo estudado criteriosamente. Criar soluções para os problemas do cotidiano deve ser uma preocupação constante em cada novo projeto, não se tratando apenas da estética, mas facilitando fatores econômicos e culturais existentes, portanto, é uma atividade que também deve gerar lucros. Agora sim, vejamos a seguir algumas das áreas formais e acadêmicas do design: • Design de Games: cria e desenvolve jogos para aparelhos eletrônicos como celulares, tablets, computadores e videogames. • Design de Interiores: atua com a ambientação de espaços. Para isso, aspectos como a estética, conforto e funcionalidade são levados em consideração. • Design de Moda: desenvolve coleções de moda, por meio do desenho de roupas, calçados e acessórios a partir de estilos e tendências da moda. • Design Têxtil/Superfície: elabora projetos de estamparia, texturas e cores de teci- dos para moda e decoração, de acordo com as tendências de mercado e coleções. Seus recursos podem ser a estamparia, aplicações sobre o tecido, criar superfícies têxteis, através do entrelaçamento, tingimento e também aplicação de beneficia- mento. Este segmento muitas vezes encontra formação dentro da área de Moda. • Design Gráfico: cria projetos na área de comunicação visual, como: banners, embalagens, revistas, catálogos, cartazes, criação de identidades visuais. • Design de Produto: cria e desenvolve objetos do cotidiano como utensílios domésticos, veículos e equipamentos urbanos. Precisa conhecer profundamente técnicas de desenho, prototipação, materiais e tecnologias, além de metodologias de planejamento e criação de produtos. • UX/UI Design: uma das áreas mais recentes do design, responsável pela criação de aplicativos e web sites. UX significa User Experience, refere-se a uma experiência de uma pessoa a respeito de alguma coisa; UI significa User Interface, refere-se basicamente a uma interface que uma pessoa utiliza para atingir algum objetivo, como a interface do WhatsApp. Ainda, é possível encontrar uma diversidade de nomenclaturas para as mais diversas atuações do design, segue aqui uma lista de alguns resultados encontrados em uma breve pesquisa, desenvolvida em um site de busca na internet: design digital; design de embalagens; design de serviços; design de ambientes; design social; design de softwares; ecodesign; design automobilístico; design de joias; design de autor; design de interface e interação; design editorial; design de identidade; design da informação; design de tipos; design de mobiliário; design de animação; nails design; design de sobrancelhas... UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN 88 Muitas destas áreas do design se desdobram e vários outros campos de atuação, criando, assim, uma rede de infinitas possibilidades, pois, como visto anteriormente, o design é multidisciplinar e transversal, trabalha em parcerias com muitos outros setores e profissões. Vale destacar que, para o aprimoramento e valorização da profissão, o profissional designer precisa da formação acadêmica específica, além de estar sempre atualizado com relação às inovações tecnológicas, às tendências de mercado, comportamento de consumo, ter conhecimento de um segundo idioma auxilia bastante, pois muito conteúdo inovador é global. Bürdek (2006) sugeriu que, em vez de definir precisamente o segmento do design, se definissem os principais problemas, que deverão ser sempre atendidos pelo design: visualizar progressos tecnológicos; priorizar a utilização e o fácil manejo de produtos (não importa se “hardware” ou “software”); tornar transparente o contexto da produção, do consumo e da reutilização; promover serviços e a comunicação, mas, também, quando necessário, exercer com energia a tarefa de evitar produtos sem sentido. A fim de ficar mais clara a relação da profissão do designer com o mercado, vamos compreender algumas definições relacionadas ao produto de sua atuação. 4 ARTESANATO, DESENHO INDUSTRIAL E O CONCEITO DE STANDARD Adrian Forty (2007), no livro Objetos de Desejo, descreve que o design se refere à preparação de instruções para a produção de bens manufaturados, e que existe uma tendência a sugerir um afastamento dessa função por consequência da aparência do objeto do design. O autor frisa que esta visão do design foi estimulada quando produtos manufaturados foram expostos em museus que exibem pinturas e esculturas, como é o caso da obra de Marcel Duchamp, em A Fonte (1915), que trouxe para uma exposição de arte um mictório de um banheiro público da França, dando início ao movimento ready-made, ou seja, uma técnica em que se retira a função cotidiana de um objeto para transformá-lo em obra de arte. FIGURA 1 – A FONTE MARCEL DUCHAMP FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/VgScUIs>. Acesso em: 9 out. 2020. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DESIGN 89 Declarar que “o design industrial é a arte do século XX” confunde a distinção entre um segmento e o outro. Ao entender a arte, tem-se que a concepção e a fabricação de sua obra permitem aos artistas considerável autonomia, ou seja, que uma das principais funções da arte é dar livre expressão à criatividade e à imaginação. Já para a produção do design, na criação de artefatos, a liberdade criativa é limitada, pois o objetivo final é o de dar lucro ao seu fabricante. “Qualquer que seja o grau de imaginação artística esbanjado no design de objetos, ele não é feito para dar expressão à criatividade e à imaginação do designer, mas para tornar os produtos vendáveis e lucrativos” (FORTY, 2007, p. 13). Da mesma forma que existe uma distinção entre obras de arte e produtos de design, é importante distinguir os termos que diferenciam o artesanato do design industrial. O artesanato pode ser considerado um precursor do design industrial e, sendo objetos de uso foram produzidos manualmente até a metade do século XIX. Na produção manual, os produtos eram fabricados para um número reduzido de clientes, atendendo suas expectativas e desejos individuais. O artesão mantinha todo o controle do processo produtivo. A baixa produtividade e o preço elevado dos produtos eram compensados pela possibilidade de atender a objetivos e valores pessoais tanto do cliente quanto do artesão, que tinha a liberdade de introduzir variações e formas novas (LOBACH, 2001). Dorfles (1978) descreve que houve um tempo em que pertencia ao artesanato toda a vasta gama de produções parcialmente executáveis em série e que eram reputadas como valor estético inferior ao das “artes puras”, o trabalho aqui produzido indicava a cópia de vários produtos de uso comum: taças, ânforas, vasilhas de cerâmica ou de vidro, estatuetas de madeira de caráter folclórico, bordados, rendas, tapetes,entre outros. Acontece que com o advento da era industrial, esses setores decaíram muito, perdendo a qualidade original e não mais sugerindo a criatividade para a criação de novos produtos de acordo com o espírito da época, sendo uma atividade transferida a partir de uma tradição. Diante destes posicionamentos, a respeito da qualidade dos artefatos produzidos artesanalmente, surgiram novos movimentos estéticos com o objetivo de aprimorar a produção desses objetos, a fim de serem produzidos de forma seriada e com qualidade, os quais serão analisados a seguir. ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN 90 Já a base para o desenho industrial requer uma metodologia projetual e criativa, sendo um produto resultante da indústria não poderia existir antes da Revolução Industrial. Ainda, neste contexto, pode-se destacar que o designer é responsável por realizar um projeto que atende a requisitos de inovação, criatividade, percepção, exploração de materiais e domínio de processos industriais, a fim de criar um protótipo que poderá ser reproduzido de forma seriada, identificando, assim, uma grande diferença entre o designer e o artesão. De acordo com esse contraposto ao artesão, o designer seria um profissional ímpar, multi e interdisciplinar, muitas vezes, obrigado a atuar em grupo, nas interfaces entre arte, ciência, técnica e tecnologia, podendo, ainda, ser considerado como o “artista da indústria”, responsável por incrustar valores nos objetos, sobretudo, valores estéticos e culturais, que representam o espírito de sua época ou qualquer outro tipo de aspiração de seu tempo (EGUCHI; PINHEIRO, 2010). O processo para o desenvolvimento de novos produtos do design industrial se inicia com a pesquisa de necessidades e aspirações, a partir das quais se desenvolverão as ideias para sua satisfação, referindo-se à transformação destas ideias em produtos de uso (desenvolvimento de produtos) que o designer industrial participa ativamente (LOBACH, 2001). A expansão da produção industrial, no caso dos produtos de uso, depende da satisfação das necessidades dos usuários – assim, o fabricante tem a venda garantida. Ao se alcançar um determinado grau de desenvolvimento e com ele uma saturação do mercado, é preciso descobrir ou despertar novas necessidades para garantir a continuidade do crescimento econômico. Neste processo está integrado o designer industrial e em muitos casos ele tem a seu cargo a tarefa de tornar possível o aumento da produção, através do uso de novos materiais ou encontrando novas funções ou possibilidades de uso dos produtos (LOBACH, 2001, p. 30). Portanto, o design industrial é o processo de adaptação dos produtos de uso, fabricados industrialmente, às necessidades físicas e psíquicas dos usuários ou grupos de usuários (LOBACH, 2001). Ainda cabe analisar o conceito de Standard, que significa “norma ou protótipo”, que surge com o advento da máquina como instrumento capaz de multiplicar infinitamente um modelo determinado. Neste procedimento, o objeto produzido deve possuir um padrão a ser repetido e não poderá passar por nenhum outro tipo de manipulação, a fim de melhorar ou modificar o seu aspecto. Muitos dos trabalhos de serigrafia ou tipografia são considerados standard pois não incluem acabamento ou finalização além do que é produzido (DORFLES, 1978). Já outros produtos do design industrial podem ser considerados mistos, ou seja, uma parte produzida na indústria dentro de um rigoroso princípio de seriação (standard) e cujo acabamento intervém de finalização posterior que requer o trabalho manual ou até individual. TÓPICO 1 — INTRODUÇÃO AO DESIGN 91 5 FUNÇÕES DOS PRODUTOS INDUSTRIAIS: PRÁTICA, ESTÉTICA E SIMBÓLICA Acadêmico, como vimos até agora, o produto do design, além de estético, funcional, ergonômico, inovador, tecnológico, deve proporcionar – pela sua venda – um lucro. Além disso, a natureza do produto deve garantir que seu uso possa efetivamente satisfazer as necessidades do usuário, já que este é o único motivo que o induz a despender algum dinheiro na sua compra (LOBACH, 2001). Neste sentido podemos perceber as relações existentes entre produto e usuário, e que estas relações podem ser mensuradas diante da percepção e compreensão homem-objeto, o que significa que os produtos do design possuem funções básicas que são definidas desde o planejamento do produto, concepção e desenvolvimento e que diferenciam produtos de mesmo segmento, são elas: prática, estética e simbólica. • Função prática: “são todas as relações entre um produto e seus usuários que se situam no nível orgânico-corporal, isto é, fisiológicas (necessidades físicas) de uso e passam a sensação de facilidade do uso; prevenção ao cansaço; oferta de conforto; segurança” (LOBACH, 2001, s.p.). Para a criação desta percepção ao consumidor, o produto precisa ser criado pensando no seu uso, na sua ergonomia, sua forma de ser operacionalizado e como o material de fabricação pode deixá-lo extremamente funcional sem perder a criatividade. • Função estética: é o aspecto psicológico da percepção sensorial durante o uso. A função estética está relacionada a percepção do consumidor com a beleza, sensação de prazer e o bem-estar contemplativo para um determinado objeto. A função estética é a relação entre um produto e um usuário no nível de processos sensoriais (reação psicológica), adquirindo uma importância especial pois as funções práticas de produtos oferecidos por muitos concorrentes estão praticamente no mesmo nível, então é a função estética que se impõe à nossa percepção, superando as outras funções práticas e simbólicas (LOBACH, 2001). • Função simbólica: é uma das mais complexas, por um lado porque se liga com a espiritualidade, experiências e sensações anteriores do homem, por outro lado, também é determinada por todos os aspectos espirituais, psíquicos e sociais do uso do objeto. Envolve fatores sociais, culturais, políticos e econômicos e, também, associa-se a valores pessoais, sentimentais e emotivos. A função simbólica se relaciona com o seu consumidor por meio de toda a sua concepção vivida, fazendo-o associar com experiências passadas, reviver um momento, estilo ou uma época. Esta função está diretamente ligada a emoção que ela passa ao seu consumidor (LOBACH, 2001). UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN 92 FIGURA 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES DE UM PRODUTO (J. GROS) FONTE: Lobach (2001, p. 55) Para Lobach (2001), um bom design atende às três funções de forma simultânea. Sendo prática no seu uso, causando uma experiência estética e simbolizando algo que remeta ao usuário uma conexão com o objeto e suas memórias. 93 Neste tópico, você aprendeu que: • O design é interdisciplinar, multifacetado e transversal, e se desenvolve em parceria com outras áreas técnicas, filosóficas, sociais e culturais. • O design é uma disciplina projetiva. • Leonardo da Vinci é considerado o primeiro representante do profissional designer. • A palavra design pode ser compreendida como verbo e como substantivo: como verbo design se refere ao processo que corresponde ao planejamento das ações do projeto e como substantivo corresponde a uma perspectiva semântica orientada para o produto. • Para Lobach (2001), o design deve ser analisado sob o ponto de vista de cinco protagonistas diferentes: o usuário, o fabricante, o crítico marxista, o designer e o advogado dos usuários, pois cada um trará uma concepção distinta a partir de suas próprias necessidades. • Lobach (2001) também define o design como uma ideia, um projeto ou um plano para a solução de um problema determinado. • O design é definido como um serviço profissional de criação e desenvolvimento de conceitos e especificações que ampliam o valor, a função e a aparência de produtos e sistemas para o benefício do usuário e do fabricante sucessivamente para a Industrial Designers Society of America (ISDA). • A International Council of Societies of Industrial Designdescreve que o principal objetivo do design é identificar problemas e, através da geração de alternativas, superá-los por completo. • Em termos gerais, o design é a transformação de ideias em soluções tangíveis, capaz de identificar e solucionar problemas, considerando aspectos emocionais, cognitivos e estéticos dos produtos e/ou serviços, a fim de beneficiar a sociedade nos mais diferentes aspectos do cotidiano, como trabalho, lazer e outros. • O campo de abrangência do design é ilimitado, e tem como destaque a formação acadêmica em algumas áreas, como: design gráfico, design de moda, design de interiores, design de produtos, design têxtil, UX/UI design. • O artesanato é um artefato produzido pelo artesão, por meio de técnica manual, não industrializada, que escapa a produção seriada e pode ter finalidade tanto decorativa quanto utilitária. RESUMO DO TÓPICO 1 94 • O desenho industrial requer uma metodologia projetual e criativa, a fim de encontrar soluções para problemas específicos de produção e mercado com o objetivo final de gerar lucros. • O standard é um processo de produção padronizado. • Os produtos do design possuem funções básicas que são definidas desde o planejamento do produto, concepção e desenvolvimento e que diferenciam produtos de mesmo segmento, são elas: prática, estética e simbólica. 95 1 Bonsiepe (2011) diz que o termo design recebeu diversos significados, sendo popularizado, e, afastou-se da sua origem, passando a ser percebido como algo efêmero, mais próximo da moda, ou seja, com obsolescência programada, caracterizado por objetos de alto valor agregado, caro e pouco funcional. Com base no exposto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. I - Na elaboração de um produto, o designer deve considerar as questões relacionadas tanto à obsolescência do produto quanto aos fatores de produção. PORQUE II - Toda vez que um produto perde uma de suas funções, novos produtos costumam ser projetados para substituí-lo e ele é descartado pelos seus usuários. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 2 Podemos perceber as relações existentes entre produto e usuário, e que estas relações podem ser mensuradas diante da percepção e compreensão homem-objeto, o que significa que os produtos do design possuem funções básicas, que são definidas desde o planejamento do produto, concepção até desenvolvimento e que diferenciam produtos de mesmo segmento, são elas: prática, estética e simbólica. Com base nas funções básicas do design, associe os itens, utilizando o código a seguir: I - Função Prática. II - Função Estética. III - Função Simbólica. ( ) Relaciona-se com o consumidor por meio de todos os aspectos espirituais, psíquicos e sociais do uso do objeto. ( ) Aspecto psicológico da percepção sensorial durante o uso. ( ) Relação existente entre um produto e seus usuários, que situam-se no nível orgânico-corporal. AUTOATIVIDADE 96 Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) III – II – I. b) ( ) II – III – I. c) ( ) I – II – III. d) ( ) I – III – II. e) ( ) II – I – III. 3 Para Lobach (2001), o design deve ser analisado sob o ponto de vista de cinco protagonistas diferentes: o usuário, o fabricante, o crítico marxista, o designer e o advogado dos usuários, pois cada um trará uma concepção distinta a partir de suas próprias necessidades. De acordo com a visão do usuário, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O design pode ser visto de forma simplista ou reducionista, cujas escolhas dependerão de fatores socioeconômicos, portanto, o design é considerado apenas design. b) ( ) O design pode representar a otimização dos processos produtivos e de matéria prima, a criação de produtos esteticamente agradáveis a fim de atrair a atenção dos possíveis compradores e capaz de diferenciar os produtos da concorrência. c) ( ) O design pode ser uma fonte para aumentar as vendas de produtos com bela aparência, mas que não necessariamente contenham a qualidade ou o valor real pré-estabelecido. d) ( ) O design é um processo de resolução de problemas e que deve atender às relações entre o homem e meio. e) ( ) O design é o processo de adaptação do ambiente artificial às necessidades físicas e psíquicas dos homens na sociedade. 4 A produção artesanal se distingue da produção industrial em vários aspectos. De acordo com os estudos feitos, descreva o processo artesanal precursor dos processos industriais. 5 Durante o período da Grande Depressão de 1929, nos EUA, os produtos industrializados precisaram ser repensados, a fim de criar a necessidade de troca de produtos, de forma constante e por períodos cíclicos. Neste sentido, explique este fenômeno. 97 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O design é instintivo ao ser humano, percebemos isso quando, ainda na pré-história, o homem começou a criar artefatos que auxiliassem na sua sobrevivência. A isso chamamos de Design Vernacular, informal, improvisado, popular, e referente a uma forma não acadêmica de design, que encontra soluções materiais ou visuais para problemas cotidianos da vida social. Podemos encontrar, ainda, na Grécia Antiga, por volta de 80-10 a.C., uma série de registros sobre a arquitetura, escritas pelo engenheiro/construtor Marco Vitrúvio Polião, onde são destacadas as regras de projeto e configuração, sob a estreita ligação entre teoria e prática, indicando que o arquiteto deve ter interesse pela arte e pela ciência, ser hábil na linguagem, além de ter conhecimentos históricos e filosóficos. Vitrúvio também inseriu para a história do design que: "toda construção deve obedecer a três categorias: a solidez (firmitas), a utilidade (utilitas) e a beleza (venustas)", e, estas seriam as bases para o funcionalismo, somente retomadas no século XX (BÜRDEK, 2006, p. 20). Lobach (2001) descreve que somente é possível entender o modo de produção de uma época pela observação e compreensão dos estilos de vida dos homens e do desenvolvimento da sociedade neste espaço de tempo, ou seja, as funções dos produtos (práticas ou estéticas) e os modos de produção que foram determinados pelas necessidades humanas. A seguir, compreenderemos como aconteceram as evoluções industriais entre os séculos XVIII, XIX e XX. Bons estudos! 2 PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Primeira Revolução Industrial é um dos marcos mais importantes da humanidade. Trata-se de um processo que aconteceu ao longo de muitos anos. Podemos citar como início em meados dos séculos XVIII e término em meados do século XIX, a partir de uma série de transformações nos meios de fabricação e nas relações de trabalho. Iniciou de forma pioneira na Inglaterra, com o surgimento da máquina a vapor, em 1698, construída por Thomas Newcomen e aprimorada por James Watt, em 1765. TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 98 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN O termo Revolução Industrial se refere essencialmente à criação de um sistema de fabricação que produz em quantidades tão grandes e a um custo que vai diminuindo tão rapidamente que passa a não depender mais da demanda existente mas gera o seu próprio mercado (HOBSBAWN, 1964, p. 50 apud CARDOSO, 2008, p. 21). O combustível destas máquinas era o carvão e a matéria prima para fabricá-las era o ferro e a Inglaterra possuía uma grande reserva de carvão mineral e de ferro, facilitando o processo de construção destas máquinas, já que o ideal era que as indústrias estivessem onde a matéria prima estava. As primeiras máquinas que surgiram foram criadas para atender às necessidades do mercadotêxtil da Inglaterra, tendo como objetivo facilitar e aumentar o processo de produção de tecidos e roupas. Máquinas como a spinning frame e a water frame, teciam fios em uma velocidade muito maior que a do processo manual. FIGURA 3 – MODELO 1 SPNIING FRAME; MODELO 2 WATER FRAME FONTE: < https://cutt.ly/sgSvTcJ>; <https://cutt.ly/ZgSvYke>. Acesso em: 9 out. 2020. Cardoso (2008) comenta que o primeiro surto industrial teve um aumento de 5000% na fabricação de tecidos de algodão, entre as décadas de 1780 a 1850, considerando que esse aumento sugere um mercado e um retorno financeiro suficientemente grande para absorver todo esse volume de produção. Neste sentido, a Inglaterra possuía vantagens comerciais, ela já produzia e exportava tecidos porque a sua produção interna de lã já produzia um excedente considerável. Outro fator que contribuiu para que a Primeira Revolução Industrial ocorresse na Inglaterra foi o grande número de colônias sob o seu domínio, o que proporcionou a sua disponibilidade para a obtenção de mais recursos naturais e mais mercados consumidores para os seus produtos, favorecendo ao acúmulo de capital, que serviu como financiamento para as grandes descobertas tecnológicas do período e para o investimento em infraestrutura como ferrovias e portos. TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 99 A Inglaterra detinha a maior rota comercial e por meio do seu domínio naval e pelos bloqueios impostos a Europa Ocidental durante as guerras napoleônicas, os comerciantes ingleses passaram a intermediar a compra e venda de produtos de todos os lugares do planeta, comprando matéria prima e produtos prontos por preços menores e negociando a preços maiores. Muitos destes produtos eram trocados por escravos na África e levados para as colônias para plantar algodão barato, como foi no caso dos EUA e do Brasil, depois esse algodão era utilizado para a fabricação de tecidos na Inglaterra, exportados e vendidos de volta para estes mesmos países (CARDOSO, 2008). Dessa forma, a burguesia inglesa desponta, dominando o setor econômico e passando a investir no desenvolvimento tecnológico da produção. Durante o período entre os séculos XVI e XVII, grandes mudanças aconteceram no comércio europeu e os estados nacionais europeus passaram a defender seus interesses comerciais pelo domínio dos mercados estrangeiros, levando-os a investirem na produção de bens de consumo em grande escala (CARDOSO, 2008). Neste sentido, os países europeus fundaram manufaturas reais, ou da coroa, para a fabricação de produtos, considerados de luxo, como louças, têxteis e móveis. Ainda, antes destas, outras manufaturas já eram indústrias estratégicas como as fábricas de armas e de construção naval, pois garantiam a sobrevivência do estado nação. Na França, sob a regência de Luís XIV (o Rei-Sol) e seu superintendente ministro das finanças Jean-Baptiste Colbert, foi fundada a Fábrica de Gobelins, em 1667, produzindo vidros, tapeçarias e principalmente móveis para mobiliar os edifícios reais a fim de racionalizar esse tipo de produção e fortalecer a hegemonia francesa. FIGURA 4 – LA MANUFACTURE DES GOBELINS. GOBELINS MANUFACTORY, PARIS FONTE: <https://cutt.ly/8gSvODG>. Acesso em: 9 out. 2020. 100 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN O pintor Charles Le Brun, era o diretor da fábrica de Gobelins, e exercia o papel de inventeur, ou criador de formas, concebia o projeto e gerava o desenho que serviria de base para a produção de diversos materiais, dando ênfase a separação da atividade de projetar, criar e executar (CARDOSO, 2008). FIGURA 5 – DESENHO DE LE BRUN PARA TAPEÇARIA FONTE: <https://cutt.ly/MgC5hEL>. Na Alemanha, surgiu a manufatura real de cerâmicas Meissen, fundada em 1709, a primeira a produzir porcelana na Europa. Empregava artistas e artesãos, com tarefas distintas, para projetar as peças que produzia, dominou o mercado de porcelanas até 1758 e existe ainda hoje. FIGURA 6 – BULE, C. 1724-25, WALTERS ART MUSEUM FONTE: <https://cutt.ly/WgSvZwx>. Acesso em: 9 set. 2020. Na França surge a Real Fábrica de Porcelana, a cerâmica de Sèvres, e, em Portugal, no século XVIII, criou-se a Fábrica de Louças do Rato, anexa a Real Fábrica de Sedas e ainda o lanifício de Covilhã. A partir do século XVIII surgem indústrias de iniciativa privada, organizadas inicialmente em locais em que existiam forte tradição oficinal com algum tipo de matéria-prima, por exemplo: a cidade de Lyon, na França, tornou- se centro internacional de fabricação de sedas, a Catalunha, na Espanha, também TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 101 desenvolveu importante indústria têxtil e na região de Staffordshire, na Inglaterra, surgiu a fábrica de cerâmicas de Josiah Wedgwood. Vamos conhecer um pouco mais sobre essa importante personalidade! Josiah Wedgwood foi um visionário da sua época, contribuiu significativamente para a criação da infraestrutura nacional, ajudou a criar uma indústria regional e dinâmica, foi pioneiro em novos mercados de exportação e exerceu influência positiva sobre políticas governamentais. Ele percebeu o crescente mercado de classe média, desejoso de possuir louças de qualidade, mas sem condições de comprar as porcelanas chinesas, ou de Meissen ou as de Sèvres que eram muito caras. A fim de atender a esta demanda, Wedgwood conseguiu aperfeiçoar a cerâmica esmaltada – conhecida como creamware – adequada para moldagem em grande escala, tornando possível a produção de cerâmica branca de boa qualidade e a preço acessível, também inovou na técnica de decorações pintadas por meio da aplicação de decalques (GAN; DODGSON, 2014). FIGURA 7 – VASE, JOSIAH WEDGWOOD'S FACTORY, ABOUT 1765 FONTE: <https://cutt.ly/UgSvBt9>; <https://cutt.ly/HgSvBXW>. Acesso em: 9 out. 2020. Além disso, Wedgwood passou a vender suas louças por encomenda a partir de livros (catálogos) contendo uma seleção de padrões e formas, assim o comprador adquiria o modelo exato que queria e a fábrica produzia somente o que vendia, sem gerar estoques. Em Londres, montou vitrinas com amostras de seus produtos e também enviava lotes prontos de artigos para vendedores ou comerciantes. Neste sentido, após muitas pesquisas, ele conseguiu encontrar soluções de produção para uniformizar os lotes de cerâmicas produzidos (FORTY, 2009). Wedgwood iniciou sua fábrica, em 1750, em oficinas de cerâmica pequena que empregavam em média 20 artesãos. Em menos de 20 anos transformou sua fábrica em uma indústria de porte internacional. Em 1774, ele aplicou mais uma inovação técnica na sua linha de produção de cerâmicas, batizada de Jasper, uma cerâmica leve, delicada e passível de ser produzida em diversas cores. A partir daqui ele iniciou a colaboração das criações das peças como tinteiros, candelabros, carimbos, xícaras e bules com o desenhista/escultor/ilustrador do Neoclassicismo, John Flaxman. 102 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN FIGURA 8 – WEDGWOOD VASE, C.1780 FONTE: <https://cutt.ly/1gSbsb6>. Acesso em: 9 out. 2020. FIGURA 9 – THE APOTHEOSIS OF VIRGIL, WEDGWOOD, C.1776 FONTE: <https://cutt.ly/qgSbzM2>. Acesso em: 9 out. 2020. Neste período, o estilo Neoclássico dominava a Europa entre as classes mais abastadas e, por isso, passou a produzir vasos inspirados na Antiguidade. Wedgwood abriu, em 1779, a fábrica Etrúria, e aplicou os princípios da divisão do trabalho, adotados primeiramente por Adam Smith em 1776, substituindo a técnica anterior de produção artesanal, em que um produtor fabricava produtos inteiros, especialistas passaram a se concentrar em um elemento específico do processo de produção para aprimorar a eficiência. Ele também pagava salários mais altos do que a média local e investia em treinamento e desenvolvimento de habilidades, valorizando financeiramente a criação do designer e os trabalhadores que eram considerados essenciais para a produção (GAN; DODGSON, 2014). O pensamento de Adam Smith evoluiu com Andrew Ure, Charles Babbagee Karl Marx, cuja grande meta da industrialização estava na total mecanização do trabalho e exclusão do erro humano. Desta forma, a produção se tornava cada vez mais seriada, mecanizada, através do uso de recursos técnicos como tornos e moldes. Além disso, as funções passaram a ficar mais especializadas, inclusive separando as fases de planejamento, criação e execução. TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 103 Para Adam Smith seria mais vantajoso contratar muitos artesãos habilitados, um bom designer para gerar um projeto, um bom gerente para supervisionar a produção e um grande número de operários para executar as etapas, de preferência como meros operadores de máquinas. Isso representaria ao fabricante, economia de tempo e de dinheiro (CARDOSO, 2008). Entre tantas outras inovações que poderiam ser citadas a partir de Wedgwood, ressalta-se as mudanças na organização do trabalho, da produção e da distribuição, que foram consideradas invocações de ordem social, e obtiveram maior importância do que as inovações tecnológicas (FORTY, 2009). À medida que a mecanização alcançava vários setores produtivos, quem, por fim, passou a lucrar não foi a categoria iniciante de designers, pois o valor financeiro dos projetos, como de padrões decorativos para tecidos, impressos por meio da impressão mecânica, poderia gerar lucros imensos para o fabricante, sem nenhum investimento adicional de mão de obra. E nem tudo era só criação e produção! A facilidade para a repetição mecânica gerou os primeiros casos de pirataria e, a fim de combatê-las, foram reformuladas as leis de patentes e de Copyrights, na Grã-Bretanha, entre 1830 e 1860. Neste sentido, para o fabricante manter um designer contratado dentro da empresa, com o objetivo de exercer essa função criativa, passou a ser um diferencial e um instrumento de vantagem competitiva (CARDOSO, 2008). Daremos uma pausa, para entender um pouco mais sobre a importância da originalidade e da cópia para os produtos industriais! Miranda et al. (2007, p. 35) descreve que o “[...] estatuto do direito autoral [...] ‘configurou-se’ [...] como reconhecimento máximo legal e social do indivíduo autor como detentor da propriedade intelectual de valor econômico e de caráter hereditário”, e acrescenta que, mesmo com diversos benefícios econômicos, os maiores lucros foram recebidos pelos investidores e não pelos autores dos projetos. Shenkar (2005) fala sobre o termo pirataria, que é relativo à cópia e se caracteriza pela produção, distribuição ou uso não licenciado de um bem, projeto ou tecnologia por meio de fontes não autorizadas, sem a devida permissão ou pagamento de direitos aos titulares desse projeto. Forty (2009) defende que a imitação de produtos encontrados nos mercados concorrentes é também uma estratégia competitiva, que não garante sucesso à empresa que copia, mas é uma forma de regulamentação do sistema competitivo do mercado capitalista. Com relação à área do design de moda, Emídio e Sabioni (2010) explicam que, no sistema de produção Private Label, estimula-se o fomento da cópia ao oferecer produtos integrados à competitividade e velocidade de produção. Isso ocorre porque a empresa contratante investe em pesquisa de tendências, 104 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN modelagem e desenvolvimento conceitual, fornecendo este material pronto para as empresas produzirem e estas, como são terceirizadas, poderão de alguma forma reproduzir estas informações. Para a área têxtil, este sistema de cópias passa a ser benéfico, pois ele contribui para a democratização da moda, estabelecendo as tendências no mercado e estimulando a inovação e criatividade para novos produtos, funciona como uma obsolescência programada! Ainda sobre as mudanças ocorridas com a Primeira Revolução Industrial, podemos citar a alteração dos espaços urbanos, criação de quarteirões de habitacionais e distritos industriais. Londres foi a primeira cidade moderna a atingir um milhão de habitantes. O crescimento vegetativo se referente à diferença entre a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade, em resultado, da melhora das condições de vida e aumento da expectativa de vida. Lembrando que ainda não existiam leis trabalhistas, portanto, mulheres, homens, crianças, todos eram considerados mão de obra. Sobre as mudanças relacionadas ao meio ambiente, que passa a ser visto como fonte inesgotável de recursos, fonte inesgotável de lucros, abrindo o caminho para a exploração da natureza, a partir deste ponto começam a surgir problemas ambientais globais, como a poluição atmosférica, poluição das águas, poluição dos solos, acúmulo de lixos. Agora, estudaremos como aconteceu a segunda fase da Revolução Industrial! 3 SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Segunda Revolução Industrial corresponde a um processo evolutivo da industrialização, que iniciou na Inglaterra e foi expandido para vários países, como a Alemanha, França, Rússia, EUA e Japão. Segundo historiadores, ela durou 100 anos, começando em meados do século XIX e terminando em meados do século XX. Private label é um tipo de terceirização da produção, em que uma empresa contrata outra para o desenvolvimento de um serviço ou produto com o seu nome. Saiba mais em: https://blog.ucoffee.com.br/private-label/. NOTA TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 105 Novas fontes de energia são criadas, como o uso do petróleo, da eletricidade, da invenção do motor a combustão interna, máquinas automáticas e o uso de novos materiais como alumínio, magnésio e aço. Desta forma, as máquinas evoluíram, ficaram mais rápidas, aumentando a produtividade e a eletricidade, permitiram que as industriais ficassem trabalhando por mais tempo durante o dia. O sistema de transporte também foi fundamental, navios movidos a vapor, maiores e mais rápidos, as ferrovias ampliaram a ligação entre cidades e países e surge o avião, facilitando a movimentação de cargas e pessoas. Acadêmico, conforme comentado anteriormente, o processo de evolução industrial aconteceu de forma gradativa, e os EUA, no final do século XVIII, já mostrava a sua importância neste setor, sendo estimulado pelo governo principalmente para a fabricação de armas. Dessa forma, o inventor Eli Whitney propôs a fabricação de mosquetes com peças uniformes e trocáveis, facilitando o conserto de armas usando peças de outras, sem a necessidade de substituí-las por completo. Em meados do século XIX, o americano Samuel Colt aperfeiçoou essa técnica criando os revólveres Colt Walker, em 1847, que foram utilizados na guerra México-Americana. Vale ressaltar que este foi um período de muitos conflitos entre estados e nações e a indústria de armamentos evoluiu muito com a mecanização dos processos de produção, sendo também responsável pela mecanização de tarefas e individualização das etapas como princípio norteador da organização do trabalho (CARDOSO, 2008). FIGURA 10 – PARTE DOS DESENHOS ESQUEMÁTICOS DA PATENTE DE SAMUEL COLT Esta reprodução se refere à patente requerida em Paris, França, em 27 de abril de 1836, depois da obtenção da patente inglesa de 1835. Os originais estão hoje no Metropolitan Museum of Art, de Nova York. FONTE: <https://cutt.ly/dgSbHGE>. Acesso em: 9 out. 2020. 106 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Esta técnica de produzir equipamentos por meio peças padronizadas e trocáveis foi ganhando força e espalhou-se para outras indústrias. Os EUA, durante metade do novo século, dominaram a produção de equipamentos mecânicos, como cadeados, relógios, máquinas agrícolas e máquinas de escrever. Supõe-se que esta rápida industrialização americana se deu pela escassez e alto custo de mão de obra especializada, enquanto na Europa existia uma reserva considerável de trabalhadores qualificados disponíveis a baixo custo, o que poderia desestimular a mecanização da produção. Essa reserva de mão de obra na Europa se deu pela instauração da Lei de Cercamento, que permitia a retirada dospequenos proprietários da terra e passadas para os grandes proprietários, a fim de que fossem criados ovinos e fossem plantados algodão para as novas indústrias. Dessa forma, surgiu a classe de proletariados (trabalhadores). Vale ressaltar que isso fez com que os servos migrassem para os grandes centros urbanos e que também fossem encaminhados para as colônias inglesas na América. No Brasil imperial, foram poucas as evoluções industriais neste período, apesar de existirem organizações como a Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional e as indústrias de Visconde de Mauá, as classes dominantes continuaram a investir na vocação agraria do país. Um marco importante para esta nova etapa das indústrias foi a Grande Exposição, de 1851 em Londres, reconhecida como a primeira exposição internacional das indústrias, ou primeira Feira Mundial. Organizada por Henry Cole e pelo príncipe Albert, com o objetivo de mostrar a moderna tecnologia industrial e o design da época. Henry Cole era funcionário público, crítico de arte, designer, músico e editor de publicações. Ganhou influência pelo desenho de um serviço de chá (prêmio em competição da sociedade das artes). Assista ao filme: Mauá – O Imperador e o Rei. Direção de Sergio Rezende. Europa Filmes. 1999. 2h 15min. DICAS TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 107 FIGURA 11 – HENRY COLE TEA SERVICE FONTE: <https://cutt.ly/agDqFAU>; <https://cutt.ly/WgDqG3i>. Acesso em: 9 out. 2020. Henry Cole propôs a exposição de 1851 a fim de que as diferentes nações pudessem apresentar seus inúmeros produtos. “Aprender a ver, ver pela comparação” era o que ele apregoava, e que já no século XX seria um pensamento retomado pela escola de Deutsche Werkbund (BÜRDEK, 2006, p. 22). A Exposição Universal pode ser vista de diversas formas. Como símbolo do poderio da Inglaterra vitoriana, vitrine onde se projetou sua imagem como potência industrial moderna, civilizada e sofisticada. Como exposição das inovações tecnológicas relacionadas às inúmeras atividades humanas, que possibilitou o intercâmbio de informações e o estabelecimento de redes comerciais e laços econômicos entre as nações. Ou ainda como um mapa em que tais nações, em diferentes estágios de desenvolvimento industrial, tinham seu lugar marcado segundo a ordem capitalista e eurocêntrica (BIBLIOTECA NACIONAL, 2020, s.p.). Para a realização do evento foi construído no Hyde Park (Londres) um edifício projetado por Joseph Paxton, feito de ferro, vidro e madeira, que ficou conhecido como Palácio de Cristal, ou Arca de Vidro. Uma das mais importantes construções do século XIX, símbolo da arquitetura do ferro e do vidro, sinônimo de modernidade. Os primeiros esboços, conservados no Victoria and Albert Museum (Londres), datam de 1850. O emprego de elementos padronizados pré-fabricados, produzidos em série, possibilitou a construção do edifício em apenas alguns meses, após o término da exposição o edifício foi desmontado e reconstruído em Sydenham, em 1852. Em 30 de novembro de 1936, o edifício foi destruído por um incêndio (BIBLIOTECA NACIONAL, 2020). 108 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN FIGURA 12 – A EXPOSIÇÃO UNIVERSAL DE LONDRES DE 1851 E O PALÁCIO DE CRISTAL FONTE: <https://cutt.ly/sgDq6ct>; <https://cutt.ly/igDq7Oq>. Acesso em: 9 out. 2020. Uma da indústrias de grande potencial durante o período de evolução industrial foram indústrias de máquinas de costura que começaram a crescer nos EUA, após 1856, por meio de um acordo sobre patentes que possibilitou o uso de várias inovações independentes. Seus métodos de produção foram influenciados das indústrias de armas. A primeira empresa de destaque foi a Wheeler and Wilson, que investiu no potencial da máquina de costura caseira, mais leves e com aplicação de decorações pintadas que eram direcionadas ao público feminino (CARDOSO, 2008). FIGURA 13 – THE FIRST WHEELER AND WILSON SEWING MACHINE, 1866 FONTE: <https://coimages.sciencemuseumgroup.org.uk/images/29/790/medium_1950_0158.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. A Singer, também uma empresa norte americana, foi a maior concorrente da Wheeler and Wilson, fundada em 1851, mas, apenas despontou no mercado em 1867. Vale ressaltar que na produção de máquinas de costuras, algumas etapas do processo dependiam totalmente de acabamentos manuais. Os diretores da Singer, neste período, atribuíram o sucesso da empresa a dois fatores além da mecanização: primeiro a qualidade das máquinas e segundo a estratégia mercadológica aplicada que incluía um sistema de vendas a prestação, expansão internacional e muita publicidade (CARDOSO, 2008). TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 109 FIGURA 14 – CAPA DO CATÁLOGO DA SINGER, ANO 1912 FONTE: <https://cutt.ly/MgDwDPp>. Acesso em: 9 out. 2020. Em algumas indústrias como a de construção naval ou a fabricação de móveis, a mecanização total só assumiu seu posto em pleno século XX. Um caso citado para afirmar o contrário consta da indústria de mobiliário dos irmãos Thonet, em Viena. O processo de vergar madeira em vapor quente foi patenteado em Viena e foi a base para o sucesso deste novo design, ou seja, grande produção com estética reduzida. O modelo de cadeira Nº 14, até 1930, teve uma produção que 50 milhões de exemplares, continuando a ser produzida ainda hoje em dia. Ela foi apresentada na Grande Exposição de Londres, de 1851 (BÜRDEK, 2006). FIGURA 15 – A REVOLUÇÃO DA CADEIRA Nº 14 DE MICHEL THONET FONTE: <https://blogadvintage.files.wordpress.com/2013/10/3.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. Ao analisarmos a cadeira Thonet Nº 14, podemos perceber suas características técnicas em relação aos materiais e as formas simples e elegantes, mantendo a função e a ergonomia do produto, elementos fundamentais para um produto de design. 110 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Esta mesma tendência de design para os móveis pode ser percebida no Brasil por meio da Cama Patente, que além disso possui um caso curioso: ela foi projetada por Celso Martínez Carrera, e produzida em sua empresa até 1915, quando por falta de registro de patente ele perde o direito de produzi-la para Luigi Liscio, que registra a cama como se fosse um projeto seu. Assim, a Indústria Cama Patente L. Liscio foi fundada em Araraquara, em 1919, e, no mesmo ano, transferiu-se para o bairro do Bom Retiro, onde funcionou até 1968 (SÃO PAULO IN FOCO, 2020). FIGURA 16 – CAMA PATENTE FONTE: <http://www.saopauloinfoco.com.br/wp-content/uploads/2020/04/cama-patente- -655x445.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. Ainda, como características que devem ser lembradas desta segunda fase da Revolução Industrial, foi a luta das pessoas pelos seus direitos trabalhistas, surgindo os primeiros sindicatos e primeiras organizações de trabalhadores. Houve também um aumento considerável da população, devido à alta natalidade e aos avanços na medicina. O acúmulo de pessoas nas cidades ocasionou uma mudança nas relações entre elas, além das conexões ocasionadas pelo deslocamento de casa para o trabalho e o uso de transportes públicos como o ônibus e o bonde. O trabalho assalariado e a possibilidade de economias com as suas sobras, aumentava o número de pessoas capazes de consumir produtos além dos gêneros de primeira necessidade, ampliando as opções de consumo para as faixas médias e baixas da população (CARDOSO, 2008). Entre os produtos que aumentaram o número de consumo foram os impressos, de acordo com a difusão da alfabetização nos centros urbanos. Surgiu também a demanda para a cultura de lazer, composta por museus, teatros, locais de exposição, parques e jardins. Neste período, surgem novas formas de comunicação como o telefone, o rádio, o telegrafo, e sistemas de produção como o Taylorismo e o Fordismo são utilizados para o gerenciamento das produções nas indústrias. TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 111 Para Frederick W. Taylor, deveria existir a racionalização do trabalho, ou seja, os trabalhadoresdeveriam ser organizados de forma hierarquizada e sistematizada; ou seja, cada trabalhador desenvolveria uma atividade específica no sistema produtivo da indústria (especialização do trabalho), seria monitorado e premiado caso cumprisse o tempo cronometrado. Henry Ford (1863-1947) aprimorou as ideias de Taylor, criando o sistema Ford de produção automobilística, em sua fábrica, a “Ford Motor Company”. FIGURA 17 – LINHA DE PRODUÇÃO FORD FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/fo/rd/fordismobb.jpg>. Acesso em: 9 out. Neste sistema de produção foi inserida a linha de montagem, produzindo em massa. Os três princípios básicos eram: a intensificação: permite dinamizar o tempo de produção; a Economia: tem em vista manter a produção equilibrada com seus estoques; e a Produtividade: visa extrair o máximo da mão de obra de cada trabalhador. Acadêmico, agora vamos contextualizar um pouco sobre a terceira fase da Revolução Industrial! 4 TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A Terceira Revolução Industrial inicia em 1950, correspondendo ao período após a Segunda Guerra Mundial, sendo marcada pela revolução tecnocientífica, o desenvolvimento da microeletrônica (semicondutores), da genética, biotecnologia, robótica, informática, telecomunicações, todos os setores passaram por grandes avanços. 112 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN O marco principal é o avanço tecnológico com o objetivo de produzir mais em menos tempo, empregando tecnologias avançadas e qualificando a mão de obra que assumiu a liderança em todas as etapas de produção, comercialização e gestão das empresas envolvidas na fabricação e comércio dos bens produzidos. Além disso, as novas tecnologias possibilitaram o compartilhamento de informações e estimularam a interação entre pessoas de todo o mundo. O mundo passou a conhecer o termo globalizado, onde o tempo e a distância foram encurtados, com pessoas, empresas e governos estão conectadas instantaneamente, rompendo barreiras físicas e culturais. As fontes de energia foram ampliadas inclusive fontes de energia renovável. Existe a preocupação com as questões ambientais, com o esgotamento dos recursos, que como vimos anteriormente se achavam infinitos, e, agora, a produção tem um viés para o desenvolvimento sustentável. As empresas são transnacionais, espalham-se pelo mundo. Existe agora a divisão das etapas de produção não mais apenas por setores da própria empresa, mas em empresas distintas, descentralizando as tarefas e elas podem ocorrer em qualquer lugar do mundo. As grandes corporações influenciam governos, levam a produção para diferentes países, investem em inovação de produção, também no campo social e ambiental. Surge o sistema de produção do Toyotismo, alternativo ao Fordismo, criado na fábrica da Toyota a partir da década de 1960 e tem como principal característica a flexibilização da produção tendo como premissa básica a adequação da produção e estocagem dos produtos a partir da demanda de consumo. Características do Toyotismo: • Modelo industrial baseado no “just in time”, que consiste na regulação entre o fornecimento de matéria-prima, a produção e a venda. Ou seja, somente a matéria- prima necessária para produzir uma quantidade definida de mercadorias em um certo tempo estabelecido é requisitada e utilizada. O chamado “just in time” ajudou a economizar matéria-prima e, sendo assim, capital. Além disso, viabilizou a economia de espaço de estocagem e tornou mais ágil a produção e circulação das mercadorias. • A quantidade de mercadorias produzidas é diretamente definida pela demanda do mercado. Isso ajuda a evitar o acúmulo de estoque, excedentes de produção e desperdício de matéria-prima. • Diferente do sistema fordista, onde cada trabalhador se tornou especializado em uma função determinada da linha de produção, os trabalhadores no sistema toyotista precisam ser multifuncionais – ou seja, conhecer muito bem todo sistema de produção – além de altamente qualificados. NOTA TÓPICO 2 — INDUSTRIALIZAÇÃO NOS SÉCULOS XVIII, XIX E XX 113 Acadêmico, perceba que cada uma dessas revoluções mudou completamente os modos de produção e de criação de produtos, alterando da mesma forma a relações pessoais e da sociedade e cada vez mais diminuindo as distâncias entre países, governos, indústrias, culturas e entre outros. Já podemos dizer que estamos evoluindo para a Quarta Revolução Industrial identificada como Industria 4.0, e, segundo o Fórum Econômico Mundial, é a transição em direção a novos sistemas mediante a revolução digital. O Fórum aponta que essa fase da Revolução Industrial não é considerada uma extensão da terceira, visto a velocidade, o alcance e os impactos provocados nos sistemas. Uma das características dessa fase é a tendência a 100% da automatização das fábricas por meio de sistemas ciberfísicos. A Quarta Revolução Industrial é marcada pela nanotecnologia, neurotecnologia, robôs, inteligência artificial, biotecnologia, impressoras 3D, uso de drones, entre outros. Os países que já vivem essa realidade são, segundo o relatório de 2016 do FMI: Cingapura, Finlândia, Noruega, Suécia, Estados Unidos, Holanda e Israel (BRASIL ESCOLA, c2020). Muito bem, acadêmico, a seguir, compreenderemos como os diferentes estilos de design surgiram durante as fases da Revolução Industrial! • Implementação de sistemas de qualidade nas variadas etapas de produção e nos processos de distribuição, visando manter a alta qualidade dos produtos e controlar desperdícios. • Implementação de pesquisas de mercado para avaliar demandas, satisfação etc. • Acompanhamento e controle constante das etapas, onde a visibilidade, transparência e organização são fatores fundamentais. Esses valores deram origens a metodologias, como o chamado “Kanban”. • Aumento da diversificação dos produtos. FONTE: <https://querobolsa.com.br/enem/geografia/toyotismo>. Acesso em: 9 out. 2020. 114 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O Design Vernacular, informal, improvisado, popular, se referente a uma forma não acadêmica de design. • Só é possível entender o modo de produção de uma época pela observação e compreensão dos estilos de vida dos homens e do desenvolvimento da sociedade neste espaço de tempo, ou seja, as funções dos produtos (práticas ou estéticas) e os modos de produção que foram determinados pelas necessidades humanas. • No início da Primeira Revolução Industrial, no século XVIII, a escala da produção começou a aumentar de modo significativo, atendendo a mercados maiores e cada vez mais distantes dos centros fabris. • Aumentou o tamanho das oficinas e fábricas, as quais passaram a investir em maior número de trabalhadores, instalações e equipamentos. • A produção passou a ser seriada através de recursos técnicos como moldes, tornos e mecanização, além da divisão das tarefas com especialização cada vez maior das atividades, inclusive separando criação de execução. • A principal característica da Primeira Revolução Industrial é a substituição da manufatura pela maquinofatura. • Surgiram as indústrias, desenvolvendo-se especialmente a indústria têxtil, cuja produtividade aumentou devido à inserção das máquinas de fiar, o tear mecânico e a máquina a vapor. • Novas relações de trabalho estabeleceram-se. Surge o trabalho assalariado e a divisão do trabalho. • Josiah Wedgwood foi um visionário da sua época, valorizou o trabalho do designer e do artesão, aperfeiçoou diferentes processos de industrialização na área da cerâmica, criou a venda por catálogos e a produção por encomenda. • As leis de patentes e de Copyrights foram criadas para proteger a originalidade dos projetos. • A Segunda Revolução Industrial iniciou na segunda metade do século XIX, e terminou durante a Segunda Guerra Mundial, envolvendo uma série de desenvolvimentos dentro da indústria química, elétrica, de petróleo e de aço. • A Terceira Revolução Industrial refere-se aos processos associados à passagem da tecnologia eletrônicamecânica e analógica para a eletrônica digital, iniciada entre o final dos anos 1950 e o final dos anos 1970, com expansão do uso de computadores digitais e a constituição de arquivos digitais, processo que segue até os dias atuais. 115 1 Hobsbawn (1964, p. 50) disse que “o termo Revolução Industrial se refere essencialmente à criação de um sistema de fabricação que produz em quantidades tão grandes e a um custo que vai diminuindo tão rapidamente que passa a não depender mais da demanda existente mas gera o seu próprio mercado”. Com relação às fases da Revolução Industrial, associe os itens, utilizando o código a seguir: I - Primeira Revolução Industrial. II - Segunda Revolução Industrial. III - Terceira Revolução Industrial. ( ) A indústria química, elétrica, de petróleo e aço se desenvolveram. ( ) Os processos associados à passagem da tecnologia eletrônica mecânica e analógica passaram para a eletrônica digital. ( ) Substituiu a manufatura pela maquinofatura. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) II – III – I. b) ( ) III – II – I. c) ( ) I – II – III. d) ( ) I – III – II. e) ( ) III – I – II. 2 A Revolução Industrial trouxe muitas mudanças políticas, sociais e econômicas. Diante disso, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O desenvolvimento de uma camada social de trabalhadores, que destituídos dos meios de produção, passaram a sobreviver apenas da venda de sua força de trabalho. b) ( ) As condições de habitação para a classe operária melhoraram consideravelmente por meio por causa do desenvolvimento econômico. c) ( ) Os artesãos passaram a gerir empresas a fim de que a produção industrial melhorasse sua qualidade. d) ( ) Os salários eram iguais entre designers e artesãos. e) ( ) Os produtos das indústrias eram acessíveis a todas as classes sociais. AUTOATIVIDADE 116 3 Sobre como o processo de produção introduzido pela Primeira Revolução Industrial se caracterizou, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Importação de produtos fabricados na China. b) ( ) Realização da produção em grandes unidades fabris e intensa divisão do trabalho. c) ( ) Introdução da divisão das etapas do processo produtivo por meio de empresas diferentes. d) ( ) Financiamento do governo para a compra de maquinários. e) ( ) Criação de leis sobre cargos e salários. 4 Entre as características da Segunda Revolução Industrial, assinale a alternativa CORRETA acerca do que podemos afirmar: a) ( ) A ampliação da indústria do aço, automobilística e utilização da eletricidade em larga escala. b) ( ) A máquina a vapor foi criada possibilitando o desenvolvimento da indústria. c) ( ) A produção voltou a ser artesanal, pois os produtos industrializados possuíam baixa qualidade. d) ( ) A matéria prima para a geração de energia mais utilizada foi o carvão. 5 A facilidade para a repetição mecânica gerou os primeiros casos de pirataria e, a fim de combatê-las, foram reformuladas as leis de patentes e de Copyrights na Grã-Bretanha, entre 1830 e 1860. A originalidade dos produtos é um potencial de diferenciação para o mercado, mas, para um produto estar na moda, é necessário que exista demanda, ou seja, poder de compra e de desejo de consumo. Como a pirataria colabora para a movimentação do mercado? 117 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A industrialização trouxe mudanças radicais para a vida individual e social. Para alguns, essas mudanças representaram lucros e para outros (a maioria) não foi bem assim. Nesse sentido, alguns pensadores do Romantismo (movimento estético e literário que se opunha ao racionalismo, classicismo e ao iluminismo) como Willian Blake, Samuel Taylor Coleridge e Thomas Carlyle, denunciaram em seus escritos a brutalidade existente no industrialismo, por explorar o trabalhador, destruir a paisagem natural e reduzir a vida comum em uma troca econômica. Com este embate entre política, aristocracia e também religião, o design surge como um agente de transformação a fim de mudar o visual da cidade e o bem-estar social. Existia uma grande abundância de mercadorias baratas (em estilo neoclássico!) com o objetivo de atender à demanda crescente nas cidades. Esses artefatos primeiramente foram vistos como sinônimo de conforto, de luxo e progresso, mas, logo, passou a ser visto como decadência do gosto, abrindo oportunidade para o surgimento de novos movimentos artísticos, a fim de reformar o gosto alheio, dando os sinais dos primeiros estilos do design. Vamos seguir uma linha cronológica acompanhando os movimentos estéticos e a escolas de design que surgiram até os dias atuais. Bons estudos! 2 GOTHIC REVIVAL O Revivalismo Gótico ou Neogótico foi um movimento estético que ocorreu no século XVIII, na Inglaterra e influenciou a Europa e as Américas, tendo seu apogeu principalmente na arquitetura. Surgiu da oposição ao estilo Neoclássico vigente e encontrou apoio no Medievalismo cujas crenças e práticas estavam baseadas no estilo de vida da Idade Média. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 118 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN O maior representante foi Augustus Welby Northmore Pugin (1812-1852). Entre 1835 e 1841, ele escreveu sobre o retorno aos “princípios verdadeiros” (honest design) de pureza e honestidade na arquitetura e no design, cujas regras a serem seguidas eram: que a construção se limitasse aos elementos necessários para a comodidade e a estrutura; e que o ornamento se ativesse ao enriquecimento dos elementos decorativos. Produziu projetos arquitetônicos, design de móveis, cerâmica, livros, joias, prataria, vitrais, têxteis e outros objetos, muitos deles para a rainha Vitória. FIGURA 18 – SKETCH FOR WALLPAPER, PUGIN FONTE: <https://www.fulltable.com/vts/g/gothic/9.jpeg>. Acesso em: 9 out. 2020. As ideias nostálgicas de Pugin sobre as glórias do passado medieval diante da mediocridade das criações modernas têm impacto sobre alguns teóricos e artistas que vão iniciar um novo movimento estético denominado de Arts and Crafts. 3 ARTS AND CRAFTS (1850-1914) Arts and Crafts, ou “artes e ofícios”, é um movimento estético e social inglês, idealista, que buscou contrapor a produção em massa e aos danos ambientais de poluição de água e ar causados pela Revolução Industrial com um estilo mais artesanal. John Ruskin (1819-1900) e Willian Morris (1834-1896), influenciados pelos ideais de Pugin, sobre o declínio do artesanato causado pela industrialização, e, sobre a qualidade dos produtos produzidos por imitações baratas e sem o conceito de ornamentos que antes possuíam uma nobreza própria, iniciaram este novo movimento com o objetivo de criar uma arte feita pelo povo e para o povo, com objetos de arte para o uso cotidiano de todos, restabelecendo o valor do trabalho do manual e a harmonia entre o trabalho do arquiteto, designer e artesão (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2018b). TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 119 Quatros princípios regiam este movimento: unidade na composição artística, valorização do trabalho artesanal, individualismo e regionalismo. Deveriam ser considerados a nobreza do material, o uso (função), a construção (design), e a ferramenta (técnica). Na arquitetura o edifício deveria ser construído com materiais locais, desenhados para se moldar à paisagem e refletir uma construção tradicional e vernacular. A unidade da construção deveria ser alcançada por meio da união de desenhos e linguagens da estrutura até o mobiliário de maneira simples e honesta, ou seja, sem revestimentos que escondessem a beleza e coloração inerente ao material natural (TAGLIARI; GALLO, 2007). FIGURA 19 – A CASA VERMELHA (RED HOUSE) EM BEXLEY HEATH, KENT FONTE: <https://cutt.ly/6gDrzxE>. Acesso em: 9 out. 2020. A casa vermelha (Red House) tem esse nome pelo uso dos tijolos e telhas vermelhas, está localizada em Kent, Inglaterra. É o edifício chave na história do movimento das Arts andCrafts, assim como da arquitetura britânica do século XIX. Data no ano de 1859, foi projetada para William Morris, pelo arquiteto Philip Webb (1831-1915) que não desejava que a residência fosse enquadrada em nenhum estilo, mas sim nos princípios comuns do movimento, que eram funcionalismo (quando a forma decorre do desempenho da função), relação do edifício com a paisagem e seleção dos materiais (TAGLIARI; GALLO, 2007). Principais designers: Willian Pickering (1910-2004), Willian Morris, Walter Crane (1845-1915), Arthur Mackmurdo (1851-1942), Selwyn Image (1849-1930), Charles Ashbee (1863-1942), Lucien Pissaro (1863-1944) e Esther Bensusan (1870-1951). Em 1861, é fundada a Morris, Marshall, Faulkner and Co., especializada em mobiliário e decoração em geral: forrações, vidros, pratarias, tapeçarias etc. 120 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN FIGURA 20 – THE “SUSSEX RUSH CHAIR” FONTE: <https://cutt.ly/AgC7P05>. Acesso em: 9 out. 2020. Em 1871, Morris inaugura a Guilda de S. Jorge, a fim de mesclar o ensino de arte e a nova forma de organização do trabalho. Em 1884 surgiu a Guilda de Trabalhadores de Arte e, em 1888, a Guilda de Artesanato. Ainda em 1888, a Arts and Crafts Exhibition Society – exposição quadrienal de móveis, tapeçaria, estofados e mobiliário, realizada em Londres – reúne trabalhos de vários adeptos do movimento (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2018b). FIGURA 21 – PAPEIS DE PAREDE DE WILLIAN MORRIS FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/bgDrCwO>; <https://cutt.ly/0gDrV9K>; <https://cutt.ly/ tgDrMam>. Acesso em: 9 out. 2020. Em 1891, Morris fundou a Kelmscott Press, uma editora de livros, para produzir exemplos de design aprimorado de impressão e livros inspirados nos primeros livros impressos no século XV e suas ilustrações talhadas na madeira. Considerada um marco para na história da editoração moderna, publicou 53 títulos com uma tiragem total de 18 mil volumes. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 121 FIGURA 22 – WALTER CRANE. THE FAIRE QUEEN (1882) FONTE: <https://cutt.ly/0gDr6Kv>; <https://cutt.ly/XgDteVC>; <https://cutt.ly/RgDtt7K>. Acesso em: 9 out. 2020. Arthur Mackmurdo, depois de estudar na Escola de Belas Artes e Desenho de Ruskin, Oxford, fundou em 1882 a Century Guild of Artist baseado nos ensinamentos de Morris, projetando tecidos, tapeçarias, papel de parede, trabalho em metais e móveis, muitas vezes lembrando as formas de plantas em espiral, prenunciando as formas do Art Nouveau. FIGURA 23 – FOLHA DE ROSTO DO LIVRO WRENSCITY CHURCHES, 1883 / CADEIRA DE 1881 FONTE: <https://cutt.ly/DgDtsUr>; <https://cutt.ly/EgDtfxf>. Acesso em: 9 out. 2020. Nos EUA o arquiteto Frank Lloyd Wright (1867-1959) foi um dos principais responsáveis por implantar o design moderno na arquitetura e na editoração de livros. Um dos conceitos centrais em sua obra é o de que o projeto deve ser individual, de acordo com sua localização e finalidade. No início de sua carreira, trabalhou com Louis Sullivan (1856-1924) (autor da frase: “a forma segue a função”), um dos pioneiros em arranha-céus da Escola de Chicago. 122 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN A Casa da Cascata (Fallingwater House), ou casa Kauffmann, foi projetada em 1934 e construida em 1936. Ela foi construída sobre um pequena queda d`água servindo-se dos elementos naturais presentes no local (como pedras, vegetação e a própria água) como constituintes da composição arquitetónica, materiais experimentais para a época. Hoje é um museu. FIGURA 24 – FALLINGWATER, FRANK LLOYD WRIGHT, BEAR RUN, PA, 1936 FONTE: <https://cutt.ly/igDtlFH>. Acesso em: 9 out. 2020. A partir de 1890, o Movimento de Artes e Ofícios liga-se ao estilo internacional do Art Nouveau, espalhando-se por toda a Europa: Alemanha, Países Baixos, Áustria e Escandinávia. 4 ESTETICISMO – MOVIMENTO ESTÉTICO (1870-1900) O Esteticismo, ou Movimento Estético, foi um movimento artístico- intelectual que surgiu em paralelo ao movimento Arts and Crafts, e teve como objetivo elevar o status dos objetos de consumo a categoria de arte. Defendiam que a arte deveria privilegiar apenas valores estéticos, ou seja, girar em torno do Belo, deixando valores e temas político-sociais e ético-morais de lado. Virou um estilo de vida para a classe emergente tanto para a decoração das casas quanto para a moda. Uma parceria entre as fundações Frank Lloyd Wright e Unity Temple Restoration montou um tour virtual para conhecer 12 projetos do arquiteto. Acesse o link para fazer o Tour Virtual. https://savewright.org/news/public-wright-sites-swap-virtual-visits/. INTERESSA NTE TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 123 O filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762) inaugurou a estética como área de conhecimento da filosofia. Buscou compreender os modos de reprodução da beleza pela arte, proporcionando prazer estético sem função moral, política, pedagógica etc. A flor do girassol era símbolo do movimento e Thomas Jeckyll (1827- 1881), arquiteto inglês, destacou-se na criação de metais e móveis. FIGURA 25 – SUNFLOWER ANDIRONS FONTE: <http://www.victorianweb.org/art/design/jeckyll/1.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. As produções de móveis neste movimento foram limitadas e tinham como características: madeira ebonizada com reflexos dourados, influência do Extremo Oriente (japonismo), uso proeminente da natureza, especialmente flores, pássaros, folhas de ginkgo e penas de pavão, azul e branco na porcelana. FIGURA 26 – SIDEBOARD DESIGNED FOR THE OAK PARLOUR AT HEATH OLD HALL FONTE: <https://cutt.ly/VgDtKI2>. Acesso em: 9 out. 2020. 124 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Para reconhecer o esteticismo, tanto no design dos móveis, edifícios, comportamento social, arte e indumentária deste período, assista ao filme: O retrato de Dorian Gray (1890), baseado no livro de Oscar Wilde. Direção de Oliver Parker, ano 2001. DICAS 5 ART NOUVEAU E JUGENDSTIL (1890-1910) O Art Nouveau (Arte Nova) foi um movimento essencialmente decorativo, positivista, voltado para a arquitetura, artes decorativas, design, artes gráficas, mobiliário e influenciou a arte e a moda. Este movimento está estreitamente ligado às correntes artísticas de fim de século, que promoveram a imaginação, a expressão e o simbolismo na arte, mas também à produção industrial em série e ao uso de materiais modernos como o ferro, vidro e cimento. O Art Nouveau foi o primeiro fenômeno de moda em que as tendências da arte eram aplicadas aos objetos. A sociedade no geral tinha o desejo por um novo estilo que refletisse e acompanhasse as inovações da sociedade industrial. O termo tem origem na galeria parisiense L'Art Nouveau, aberta em 1895 pelo comerciante de arte e colecionador Siegfried Bing (1838-1905) e recebeu nomes diferentes nos diversos países onde se manifestou: Style Nouille (Estilo Macarrônico) na França; Style Coup De Fouet (Estilo Golpe de Chicote) na Bélgica; Modern Style (Estilo Moderno) na Inglaterra; Jugendstil (Estilo da Juventude) na Alemanha; Sezessionstil (Secessão Vienense) na Áustria; Style Liberty (Estilo Livre) ou Estilo Floreale na Itália; Modernismo na Espanha e Portugal. Alguns representantes deste movimento são: Charles Rennie Mackintosh (1868-1928) e Andrey Beardsley (1872-1898), na Inglaterra; Victor Horta (1861- 1947) e Henry van de Velde (1863-19570), na Bélgica; René Lalique (1860-1945), Emile Gallé (1846-1904), Paul Berthon (1872-1909) e Louis Majorelle (1859-1926), na França; Otto Wagner (1841-1918) e Gustav Klimt (1862-1918), na Áustria; Alphonse Murcha (1860-1039), na República Tcheca; Antoní Gaudí (1852-1926), na Espanha; Louis Comfort Tiffany (1848-1933) e William Bradley (1801-1857), nos EUA. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 125 FIGURA 27 – VASOS DE EMILE GALLÉ FONTE: <https://cutt.ly/FgDypFB>; <https://cutt.ly/YgDysKU>; <https://cutt.ly/ZgDyfCq>. Acesso em: 9 out. 2020. O francês Émile Gallé cresceu na fábrica de vidros do pai, e trabalhoucom vidros opacos e transparentes. Os temas que influenciaram suas criações eram flores, folhas, elementos da natureza que eram sobrepostos nas camadas de vidro. FIGURA 28 – VITRAL E LUMINÁRIAS TIFFANY FONTE: <https://cutt.ly/rgDyGzb>; <https://cutt.ly/3gDyH1v>; <https://cutt.ly/pgDyZxx>. Acesso em: 9 out. 2020. Louis Comfort Tiffany, norte-americano, criou vitrais, luminárias, mosaicos, cerâmicas e joias. Patenteou a técnica Favrile, que consistem em misturar cores diferentes ainda na fundição do vidro. Com os avanços tecnológicos na área gráfica, e a técnica da litografia colorida (gravura com matriz de pedra), os cartazes são destaque deste movimento. A vida noturna, boêmia, artística e consumista das metrópoles exigia grande quantidade de produção de publicidade e propaganda. 126 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN FIGURA 29 – CARTAZES DE ALPHONSE MUCHAS FONTE: <https://cutt.ly/ngDy8Ne>; <https://cutt.ly/7gDy5fa>; <https://cutt.ly/ugDy6LF> . Acesso em: 9 out. 2020. A caracteristica das linhas ondulantes e dinâmicas que transmitem a ideia de movimento, exuberância decorativa, formatos de folhagem, padrões florais, estilização figurativa, cores planas e pastel, originalidade, contornos sinuosos, uso de figuras femininas sensuais e alegres, exóticas, as vezes mórbidas, influenciadas pelas gravuras japonesas, pelo Barroco e Rococó, são visíveis em todos os produtos do Art Nouveau. FIGURA 30 – DIADEMA GALO; PEITORAL DE SERPENTES; BROCHE LIBELLULE. RENE LALIQUE FONTE: <https://cutt.ly/vgDuuQf>; <https://cutt.ly/0gDuoeb>; <https://cutt.ly/LgDupD7>. Acesso em: 9 out. 2020. Além do ferro forjado, o vidro colorido, os papéis aplicados em paredes e a madeira foram muito utilizados durante o período. Na arquitetura, os edifícios apresentam linhas curvas, delicadas, irregulares e assimétricas. Mosaicos e mistura de materiais caracterizam muitas obras arquitetônicas, como as de Antoni Gaudí, expoente do movimento na Espanha (ALENCAR, c2020). TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 127 FIGURA 31 – SALÃO DA CASA BATLÔ. ANTONÍ GAUDÍ FONTE: <https://s24938.pcdn.co/wp-content/uploads/2019/11/CasaDeValentina_HallsArtNou- veauEArtDeco_Oma-12.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. Outros objetos que foram muito explorados na Art Nouveau são as travessas, as bandejas, os cinzeiros, os talheres e principalmente as jóias e relógios. O japonismo, também chamado de Ukiyo-e (“retatros do mundo flutuante” – impressões em bloco de madeira, xilogravura japonesa), usavam cores fortes, perpectiva plana, a beleza feminina, o teatro Kabuki, os lutadores de sumô, cenas históricas e lendas populares, cenas de viagens e paisagens, fauna e flora e pornografia. James Jacques Joseph Tissot (1836-1902), pintor francês, representou o japonismos em suas telas. FIGURA 32 – LA JAPONAISE AU BAIN, 1864 / THE JAPANESE VASE, 1870. TISSOT FONTE: <https://cutt.ly/7gDuvwb>; <https://cutt.ly/vgDuxpo>. O período de vigência da Art Nouveau é paralelo a Belle Époque, o que representa um momento de otimismo e de grande desenvolvimento material, intelectual, artístico e científico para a humanidade. 128 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Um bom exemplo da Art Nouveau aplicada a produtos industriais foi a máquina de costura Singer, uma das peças mais vendidas na história do comércio, evidenciando o desejo de esconder a frieza do ferro e das máquinas com formas e ornamentos que lembravam a natureza (FORTY, 2009). FIGURA 33 – CARTAZ DE PUBLICIDADE E MÁQUINA SINGER FONTE: <https://cutt.ly/XgDuHHZ>; <https://cutt.ly/CgDuFSC>. Acesso em: 9 out. 2020. No Brasil, a Art Nouveau ou Modernistas ou, ainda, Arte Floreal, surge no início do século XX, com ênfase na arquitetura, nos objetos e nas artes gráficas. Um representante do estilo no Brasil é Eliseo Visconti (1866-1944). No Rio de Janeiro, tem destaque para a arquitetura da Confeitaria Colombo, a Casa Vilino Silveira e o Relógio da Glória. Em São Paulo, marcam a arquitetura do Castelinho da Brigadeiro, o Colégio Santa Inês e a Vila Penteado. A casa Vila Penteado desenhada por Carlos Eckman (1866-1940) foi construída em 1902, sendo duas casas em uma. Foi doada à USP, em 1949, e hoje abriga a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP, c2020). FIGURA 34 – CASA VILA PENTEADO. PATRIMÔNIO FAU-USP FONTE: Adaptada de <https://www.fau.usp.br/arquivos/disciplinas/au/aut0270/Aula_2_patrimo- nio_da_Fau.pdf>. Acesso em: 9 out. 2020. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 129 Muitos estudiosos defendem que a Art Nouveau teve um período de auge curto porque era um estilo caro para a época, por ser desenvolvido artesanalmente. Ela foi substituída pela Art Deco, aproximadamente em 1910. Vamos conhecer um pouco do movimento paralelo e similar que aconteceu na Alemanha, o Jugenstill. O Jugenstill é um movimento semelhante ao Art Nouveau, só que aconteceu na Alemanha. Da mesma maneira, o movimento surge com o objetivo de trazer motivos decorativos para o processo de produção industrial e deixá-lo mais acessível à grande massa. O seu nome derivou da revista de Munique "Jugend: Münchner illustrierte Wochenschrift für Kunst und Leben" (Juventude: revista semanal de Munique ilustrada de arte e vida) que era publicada, desde 1896, por Georg Hirth, traduz alguns dos princípios do movimento como o seu caráter inovador e jovem. FIGURA 35 – JUGEND, 1896; TITELBLATT VON OTTO ECKMANN, 1896; AUSGABE ZUM 50 FONTE: <https://cutt.ly/hgDu9g4>; <https://cutt.ly/MgDu4lb>; <https://cutt.ly/SgDu5eC>. Acesso em: 9 out. 2020. O movimento também influenciou a arquitetura, tanto no uso dos materiais: madeira, vidro, ferro e cimento, quanto no uso das formas. FIGURA 36 – ESTAÇÃO DE TREM KARLSPLATZ – VIENA / ÁUSTRIA, PROJETADA POR OTTO WAGNER FONTE: <https://cutt.ly/agDidml>. Acesso em: 9 out. 2020. 130 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Este projeto do arquiteto Otto Wagner representa o movimento na Áustria conhecido por Sezessionstil, e foi concebido durante a implantação da linha de trens metropolitanos de Viena e constou de dois edifícios idênticos. Consiste em um pavilhão racionalista, estruturado em ferro, e com revestimentos que incluem materiais nobres como o mármore de Carrara e o cobre. A fachada é ornamentada com projeto gráfico de Joseph Olbricht, tendo a flor do girassol como motivo. Ainda podemos citar a Escola de Artes de Glasgow, na Escócia, 1890, como uma vertente da Art Nouveau, mas com alguns elementos distintos e caracteristicas próprias e diferentes, cujas ornamentações e volumetrias não racionais da Art Nouveau eram rejeitadas, estava focada na criatividade e no design a fim de apoiar a indústria país. A revista The Studio, influenciou o movimento e um grupo de quatro artistas, reconhecidos como “Os quatro de Glasgow – The Four”, Charles Rennie Mackintosh (1868-1928), James Herbert MacNair(1868-1945) e as irmãs MacDonald, Margaret (1864-1933) e Frances (1873-1921). FIGURA 37 – CAPAS DA REVISTA THE STUDIO FONTE: <https://cutt.ly/IgDiRbm>; <https://cutt.ly/5gDiUvB>; <https://cutt.ly/9gDiPAJ>. Acesso em: 9 out. 2020. O estilo da Escola de Glasgow era original, geométrico, com elementos florais e curvilineos e verticalidade, possuindo forte simbolismo místico e religioso, planos chapados, interpretação abstrata da figura humana. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 131 FIGURA 38 – ALGUMAS PEÇAS DE CHARLES RENNIE MACKINTOSH FONTE: <https://cutt.ly/lgDiGPM>; <https://cutt.ly/DgDiJ5b>; <https://cutt.ly/CgDiZjw>; <https://cutt.ly/zgDiByD>. Acesso em: 9 out. 2020. Na House For Na Art Lover (Casa para um amante da arte) é uma casa construída entre 1889 a 1996, baseada em um projeto de Mackintosh, de 1901 para um concurso de arquitetura, sendo premiada pela qualidade original, forma nova e austera e configuração uniforme de seu interior e exterior. FIGURA 39 – PROJETO E PARTE DE ‘A CASA PARA UM AMANTE DA ARTE’, CHARLES RENNIE MACKINTOSH FONTE:<https://cutt.ly/UgDoepZ>; <https://cutt.ly/ZgDotsc>. Acesso em: 9 out. 2020. Assista ao vídeo: House For An Art Lover, Charles Rennie Mackintosh para um passeio no interior da casa. Confira em: https://www.youtube.com/watch?v=jG98-Cj5aig. DICAS 132 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Acadêmico, vale lembrar que o Art Nouveau nasceu com o conceito de produzir em escala industrial com arte, atendendo às demandas populares com qualidade e estilo, mas ele tornou-se caro para as massas. Neste período, já haviam rumores de guerra e percebia-se a necessidade da praticidade das coisas, das simplicidade das tarefas, da ligação dos processos produtivos com a industrialização começam a surgir novos movimentos que vão dar conta desta nova filosofia e novo design. 6 DEUTSCHER WERKBUND (1907-1935) Antes da Primeira Guerra Mundial, ocorreu um período de muitas lutas e conquistas de direitos para a sociedade na Europa, uma destas lutas foi pelo direito ao voto feminino (Sufragistas). Além disso, a indústria estava progredindo em todos os lugares, mas ainda precisava otimizar seus processos e melhorar seu sistema de produção, desta forma surgiram associações com este objetivo. Na Inglaterra surgiu a “Society for the Encouragement of Arts”; na França a “Union Centrale des Arts Decoratifs”; no Brasil a “Sociedade Auxiliadora da Indústria” e na Alemanha a “Deutscher Werkbund”. Deutscher Werkbund (Confederação Alemã do Trabalho) foi uma associação alemã fundada em 1907 por um conjunto de artistas, arquitetos e industriais, que tinha como objetivo criar um estilo nacional alemão baseado na produção industrial. A intenção era fazer uma reforma da vida (Lebensreform) por meio dos benefícios trazidos pela indústria, ou seja, a arte deveria fazer parte da industrialização e os artistas deveriam aprimorar as condições de trabalho, atuando não só como desenhistas, mas também com gestores (CARDOSO, 2008). Apesar de haver um pensamento comum entre os representantes da associação, alguns como Hermann Muthesius (fundador) defendiam que a produção em série deveria ser estandardizada e outros como Henry van de Velde (diretor da escola de Artes e Ofícios de Weimar – antecessora da Bauhaus) defendia a individualidade artística. Os representantes da Deutscher Werkbund eram: Peter Behrens (1868- 1940), Hermann Muthesius (1861-1927), Henry van de Velde (1863-1957), Ludwig Mies van der Rohe (1886-1969, autor da frase “menos é mais”), Walter Groupius (1883-1969). TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 133 FIGURA 40 – VENTILADOR ELÉTRICO / FÁBRICA DE TURBINAS DA AEG. PETER BEHRENS FONTE: <https://cutt.ly/tgDoxdl>; <https://cutt.ly/ygDobcy>. Acesso em: 9 out. 2020. O Deutscher Werkbund organizou uma exposição em 1927, sob a direção de Mies van der Rohe, no bairro Weissenhofsiedlung de Stuttgart, onde foram construídos vários prédios e núcleos habitacionais, para demonstrar ao mundo as virtudes da arquitetura do Modernismo – criando, assim, a realidade tangível do Neues Bauen (Nova Objetividade – relacionado ao modelo das novas habitações sociais). O arquiteto deveria estar apto a criar todo o projeto desde a casa, os utensílios, a decoração e tudo deveria ter a forma reduzida e simplificada, mas totalmente útil (BÜRDEK, 2006). FIGURA 41 – WEISSENHOFSIEDLUNG, MODELO, 1927 FONTE: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/10.117/4025>. Acesso em: 9 out. 2020. 134 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN 7 DE STIJL, NEOPLASTICISMO, ABSTRACIONISMO (1917-1931) O movimento De Stijl (O estilo) iniciou com a publicação da revista de mesmo nome em 1917, por Theo van Doesburg (1883-1931) na Holanda, com o objetivo de encontrar uma estética visual comum, mais geométrica e rigorosa. Outros nomes de destaque são os pintores Piet Mondrian (1883-1931), Bart Anthony van der Leck (1876-1958) e Vilmos Huszár (1884–1960), o arquiteto Gerrit Rietveld (1888-1964), entre outros. FIGURA 42 – REVISTA DE STIJL, LETTERKLANKBEELDEN, PROJETO GRÁFICO DE THEO VAN DOESBURG FONTE: <https://cutt.ly/kgDoK0A>. Acesso em: 9 out. 2020. As características do estilo são: o racionalismo das formas, ângulos retos, cores primárias aperfeiçoadas pelo preto, branco e cinza, nenhum plano decorativo, baseado em composições de caráter coletivo. FIGURA 43 – PROJETO DA MAISON D' ARTISTE, 1923. THEO VAN DOESBURG FONTE: Adaptada de <https://issuu.com/guilherme45/docs/revista_de_stijl>. Acesso em: 9 out. 2020. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 135 Mondrian é o artista mais conhecido, ele tinha como princípio em suas obras eliminar tudo o que poderia representar o expressionismo e por fim restavam apenas linhas horizontais, diagonais e verticais que formavam retângulos pintados em vermelho, azul e amarelo. FIGURA 44 – COMPOSIÇÃO COM GRANDE PLANO VERMELHO, AMARELO, PRETO, CINZA E AZUL. / O VOCABULÁRIO, MONDRIAN FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/tgDpdhi>; <https://cutt.ly/5gDpleq>. Acesso em: 9 out. 2020. Na obra de 1942-1943, Broadway Boogie Woogie de linhas, cores primárias e retângulos, foram inspirados na vitalidade da cidade de Nova Iorque, local onde o holandês residia. Os pontos vermelhos e amarelos lembram as ruas da cidade povoada pelos táxis que transitam entre as quadras da metrópole que, naquele período, tornava-se um dos centros de arte moderna no mundo, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Gerrit Rietveld foi um dos primeiros a trazer a forma tridimensional ao De Stijl, um bom exemplo da sua obra é a cadeira azul e vermelho. FIGURA 45 – CADEIRA VERMELHA E AZUL, PROJETADA POR GERRIT RIETVELD, 1917 FONTE: <https://cutt.ly/LgC72bM>. Acesso em: 9 out. 2020. 136 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN A racionalidade do movimento De Stijl influenciou outros movimentos modernistas entre eles a Bauhaus e sobreviveu até 1931, ano da morte de Theo van Doesburg. 8 CONSTRUTIVISMO RUSSO (1930-1950) O construtivismo iniciou em período de grandes mudanças para a Rússia: 1914, Primeira Guerra Mundial onde os exércitos russos são dizimados; 1917 manifestação feminista que culmina em manifestação contra a fome; 1918 início da guerra civil Russa, que durou até 1921. Portanto, o movimento construtivismo russo ganhou um papel político de cunho socialista e revolucionário de grande peso, apesar de seu objetivo estar na concepção de uma nova arte funcionalista e informativa. O grupo dos construtivistas era formado por El Lissitzky (1890-1941), Kasimir Malevitch (1879-1935) Wladimir Tatlin (1885-1953) e Alexander Mikhailovich Rodchenko (1891-1956), e tinham como pensamento que as necessidades básicas da população deveriam ser atendidas pela industrialização por meio da técnica e da tecnologia dos materiais e que a arte deveria ter uma função social. As principais características do design do construtivismo russo foram as formas geométricas, a fotomontagem, uso das cores primárias, tipografia sem serifa, contrastante entre corpos normais e pesados e de estilo diferentes. Os cartazes são as obras de maior referência e influência para o design gráfico. FIGURA 46 – TRABALHOS PUBLICITÁRIOS E COMERCIAIS DE RODCHENKO FONTE: <http://www.tipografos.net/posters/rodchenko1.jpg>; <http://www.tipografos.net/pos- ters/rodschenko-cookie_advert_lg.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 137 9 BAUHAUS (1919-1933) A Bauhaus (Casa da Construção) nasceu da junção e reorganização de duas escolas existentes em Weimar, Alemanha, em 1919, a Academia de Belas- Artes e a Escola De Artes e Ofícios, sendo uma escola estatal e, dessa forma, dependia financeiramente e politicamente do governo que estava no poder. A Bauhaus é referência incontestável para o design moderno, principal representante do modernismo e a primeira escola técnica de design, artes, artesanato e arquitetura. Seu fundador foi Walter Gropius (1883-1969) que, em 12 de abril de 1919, publicou um manifesto com o programa artístico da escola. Na capa afigura da catedral gótica representa a realização do desejo das pessoas por uma beleza espiritual, além da utilidade e da necessidade, simbolizava a união entre arquitetura, escultura, pintura e ofícios. FIGURA 47 – BAUHAUS MANIFESTO. WALTER GROPIUS, 1919 FONTE: <http://chrismullaney.com.au/wp-content/uploads/2012/03/bauhaus-manifesto.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. 138 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Leia sobre o Bauhaus Manifesto. “Arquitetos, escultores, pintores, todos devemos retornar ao artesanato!” É o que consta do Manifesto que se tornou o fundamento da lendária escola de arte. O objetivo final de toda atividade plástica é a construção! Ornamentá-la era, outrora, a tarefa mais nobre das artes plásticas, componentes inseparáveis da grande arquitetura. Hoje elas se encontram em singularidade autossuficiente, da qual só poderão ser libertadas um dia através da consciente atuação conjunta e coordenada de todos os profissionais. Arquitetos, pintores e escultores devem conhecer e compreender de novo a estrutura multiforme da construção em seu todo e em suas partes; então suas obras se preencherão outra vez do espírito arquitetônico que se perdeu na arte de salão. As antigas escolas de arte não eram capazes de criar essa unidade, e como poderiam, já que a arte não pode ser ensinada? É preciso que elas voltem a ser oficinas. Esse mundo de desenhistas e artistas deve, por fim, tornar a orientar-se para a construção. Se o jovem que sente amor pela atividade plástica começar, como outrora, pela aprendizagem de um ofício, o "artista" improdutivo não ficará condenado futuramente ao exercício incompleto da arte, pois sua habilidade será preservada para a atividade artesanal, onde poderá prestar excelentes serviços. Arquitetos, escultores, pintores, todos devemos retornar ao artesanato, pois não existe "arte por profissão"! Não existe nenhuma diferença essencial entre o artista e o artesão. O artista é uma elevação do artesão. A graça divina, em raros momentos de luz que estão além de sua vontade, inconscientemente faz florescer arte da obra de sua mão, entretanto, a base do "saber fazer" é indispensável para todo artista. Aí se encontra a fonte primordial da criação artística. Formemos, portanto, uma nova corporação de artesãos, sem a presunção elitista que pretendia criar um muro de orgulho entre artesãos e artistas! Desejemos, imaginemos, criemos juntos a nova construção do futuro, que juntará tudo numa única forma: arquitetura, escultura e pintura, que, feita por milhões de mãos de artesãos, se elevará um dia aos céus como símbolo cristalino de uma nova fé vindoura. FONTE: <https://www.goethe.de/ins/br/pt/kul/fok/bau/21394277.html>. Acesso em: 9 out. 2020. INTERESSA NTE “A ideia fundamental de Gropius era a de que, no Bauhaus, a arte e a técnica deveriam tornar-se um nova e moderna unidade”, e a frase que regia os fundamentos da escola era: “a técnica não necessita da arte, mas a arte necessita muito da técnica” (BÜRDEK, 2006, p. 31). TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 139 Para o corpo docente foram escolhidos apenas artistas abstratos ou pintores cubistas, entre eles: Wassily Kandinsky (1866-1944), Paul Klee (1879-1940), Lyonel Feininger (1871-1956), Oskar Schlemmer (1888-1943), Johannes Itten (1888-1967), Georg Muche (1895-1987), László Moholy-Nagy (1895-1946). A Bauhaus pode ser identificada por três fases distintas: 9.1 FASE DA FUNDAÇÃO (1919-1923) A primeira fase da Bauhaus aconteceu na cidade de Weimar, sob a direção de Walter Gropius. Tinha como objetivo consolidar a proposta pedagógica do curso básico, preliminar ou introdutório, o ‘Vorkurs’, ministrado por Johannes Itten, sendo obrigatório para todos os alunos. O objetivo era a autoexperimentação e autoaveriguação, bem como provar a capacidade dos alunos no sentido do aprendizado específico de cada matéria (BÜRDECK, 2006). FIGURA 48 – BAUHAUS DE WEIMAR FONTE: <https://fotoeins.files.wordpress.com/2015/08/hl_we_9595a.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. Acadêmico, é importante entender que o objetivo da Bauhaus era fazer com que o artesão aprendesse a usar a máquina a seu favor, que pudessem desenvolver produtos industriais a partir de uma orientação formal, pois Gropius acreditava que artesanato e indústria era formas diferentes de desenvolver a mesma atividade, desta forma, unia-se os meios modernos de produção e a criatividade dos artistas. Além disso, a boa arquitetura deveria ser adequada à vida social, sendo necessário o conhecimento entre questões sociais, técnicas e artísticas, a fim de melhorar a qualidade de vida de todos. ATENCAO 140 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Após serem aprovados no curso básico de um ano e meio, os alunos poderiam escolher entre oficinas/laboratórios especiais de gráfica, cerâmica, metal, pintura mural, pintura em vidro, marcenaria, oficina de palco, têxtil, encadernação, escultura em madeira. Todas as aulas eram assistidas por um mestre artesão e um mestre da forma. FIGURA 49 – CURRÍCULO DA BAUHAUS FONTE: Bürdek (2006, p. 33) Johannes Itten aplicava em suas aulas uma metodologia que se baseava em dois conceitos opostos ou complementares: intuição e método ou experiência subjetiva e recognificação objetiva, com o intuito de eliminar da mente do aluno qualquer preconceito existente, ou padrões herdados, e assim pudessem iniciar o aprendizado do zero. Seu legado está na Teoria da Cor e na Teoria da Forma (HEITLINGER, c2020). FIGURA 50 – ESTUDOS DE JOHANNES ITTEN FONTE: <http://tipografos.net/bauhaus/itten-farbkreis.jpg>; <http://tipografos.net/bauhaus/itten- -johannes-farbkugel-bandraeumlich-1919-20-3900123.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 141 9.2 FASE DA CONSOLIDAÇÃO (1923-1928) A segunda fase da Bauhaus aconteceu na cidade de Dessau, sob a direção de Walter Gropius e Hannes Mayer. FIGURA 51 – BAUHAUS DE DESSAU FONTE: <https://berlindividedcity.files.wordpress.com/2013/02/bauhaus.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. Nesta fase, as oficinas que se sobressaíram foram as de metal e de marcenaria. Pode-se perceber já no novo edifício da Bauhaus, alguns marcos que identificam a arquitetura modernista, como o uso do ferro e da fachada de vidro. Alguns alunos tornam-se professores no curso como: Herber Bayer (1900-1985); Josef Albers (1888-1976) e Marcel Breuer (1902-1981). Marcel Breuer tornou-se mestre da oficina de metal em 1925. Desenvolveu uma linha de mobiliário em tubo metálico, obtendo a resistência do aço unida ao material tensionado que poderia ser trançado, tecido ou couro (BÜRDEK, 2006). A cadeira Wassily, também conhecida como a cadeira Modelo B3, foi projetada por Marcel Breuer entre 1925 e 1926, enquanto ele era o chefe da oficina de fabricação de armários na Bauhaus, em Dessau, Alemanha (JORNAL DA USP, 2019). 142 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN FIGURA 52 – WASSILY CHAIR DI MARCEL BREUER, 1925 FONTE: <https://cutt.ly/8gDaLA0>. Acesso em: 9 out. 2020. Nesta segunda fase da Bauhaus, um fator importante era encontrar a funcionalidade dos produtos, ou seja, combinar as etapas da produção industrial e também atender às necessidades da produção. A revista Bauhaus começa a ser publicada. FIGURA 53 – CAPAS DA REVISTA BAUHAUS FONTE: <https://cutt.ly/KgDa8Cg>; <https://cutt.ly/KgDa6Zf>. A Bauhaus se transforma em “Hochschule für Gestalttung” (Escola Superior da Forma). Características como “tipificação, normatização, fabricação em série, produção em massa virarão padrão nos trabalhos da Bauhaus” (BÜRDEK, 2006, p. 36). TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 143 9.3 FASE DA DESINTEGRAÇÃO (1928-1933) A terceira fase da Bauhaus aconteceu entre 1928 a 1933, e a partir de 1930, por meio de pressão política, mudou-se de Dessau para Berlim, inicialmente sob a direção de Hannes Meyer (1889-1954) e depois de Mies van der Rohe. Neste período, novas disciplinas e oficinas foram introduzidas ao curso, como fotografia,plástica e psicologia (BÜRDEK, 2006). FIGURA 54 – PHOTO IS BY BAUHAUS-ARCHIV BERLIN/MARKUS HAWLIK FONTE: <https://cutt.ly/lgDsi3t>. Acesso em: 9 out. 2020. Sob a direção de Mies van der Rohe, a Bauhaus é transformada em entidade independente e privada. A cadeira Barcelona é um ícone da Bauhaus, foi criada para participar do Pavilhão Alemão da Feira Internacional de Barcelona, no ano de 1929. Ela é composta por duas peças: o encosto e os pés e faz parte de um projeto completo de design de interior, composta por mesas, bancos e outros mobiliários. FIGURA 55 – POLTRONA BARCELONA COM PUFF FONTE: <https://www.donacadeira.com/image/cache/catalog/donacadeira/produtos/site_con- junto_barcelona-800x800.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. 144 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN A instituição foi fechada em 1933, por um decreto do partido nazista, após sua produção ser classificada como “arte degenerada”. Dessa forma muitos professores e ex-alunos emigraram para outros países, multiplicando a filosofia e o conceito da Bauhaus mundialmente. Em 1937, Lászlo Moholy-Nagy (1895- 1946), Walter Gropius e sobretudo Ludwig Mies van der Rohe, abrem a New Bauhaus em Chicago. Acadêmico, perceba que outro termo atribuído ao design moderno é o Estilo Internacional ou International Style. Ele foi usado pelos curadores do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque Henry-Russell Hitchcock (1903-1987) e Philip Johnson (1906-2005) em 1932 e perdurou até 1960, para referir-se ao movimento moderno como um todo. Também a exposição de Weissenhof é reconhecida como um dos principais pontos de partida para o Estilo Internacional, cuja característica era de que “todo objeto podia ser reduzido e simplificado até atingir uma forma ideal e definitiva, a qual seria o reflexo estrutural e construtivo perfeito da sua função” (CARDOSO, 2006, p. 152). Este conceito definiria o Good Design (Bom Design). “De modo muito geral, a ideologia do Estilo Internacional se baseava na ideia de que a criação de formas universais reduziria as desigualdades e promoveria uma sociedade mais justa” (CARDOSO, 2008, p. 153). O Estilo Internacional na arquitetura foi adotado por muitas corporações multinacionais, edifícios de comércio exterior ou financeiro, pois foi reconhecido neste design funcionalista “atrativos irresistíveis como austeridade, precisão, neutralidade, disciplina, ordem, estabilidade e um senso inquestionável de modernidade, todas qualidades que uma empresa multinacional deseja transmitir para seus clientes e funcionários” (CARDOSO, 2008, p.154). 10 ORGANIC DESIGN (1930-1960) O Organic Design ou Escola Futurista é um estilo de design inspirado na natureza, caracterizado por curvas e formas orgânicas, cujos produtos se assemelhem a um objeto natural. Foi abordado inicialmente de maneira holística e humanizadora no final do século XIX por Charles Rennie Macintosh (1868-1928) e Frank Lloyd Wright (personalidades já comentadas nos tópicos anteriores e que como percebemos nos exemplos de seus trabalhos já possuíam formas orgânicas ou a ligação entre a obra e o meio!). Assista ao filme Bauhaus. Título original: Lotte am Bauhaus. Direção de Gregor Schnitzler. Duração: 105 minutos. Lançamento 2019. DICAS TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 145 Luigi Colani (1928-2019) foi um dos primeiros designers a utilizar o termo Biodesign, trabalhava com formas biodinâmicas e acreditava que a natureza possuía o melhor design, e a forma arredondada era perfeita. FIGURA 56 – PLANADOR LAMBORGHINI MIURA P400, COLANI, 1974 FONTE: Adaptada de <https://imgur.com/a/6slTN>. Acesso em: 9 out. 2020. Hugo Alvar Henrik Aalto (1898-1976) foi um arquiteto finlandês, cuja obra é considerada exemplar da vertente orgânica da arquitetura moderna da primeira metade do século XX, identificado nos seus projetos plywood, baseados na exploração das possibilidades de corte e tratamento industrial da madeira. Aalto acreditava que na natureza encontravam-se todos os melhores exemplos de padronização, mas eram nos menores elementos possíveis: nas células, portanto as possibilidades seriam infinitas (VIVA DECORA PRO, 2020). FIGURA 57 – CHAIRS IN PLYWOOD BY ALVAR AALTO, 1934 FONTE: <https://cutt.ly/OgDsS6S>; <https://cutt.ly/HgDsOzv>. Acesso em: 9 out. 2020. O Design Orgânico Moderno Industrial surge em 1940, por meio do concurso Organic Design In Home Furnishing realizado pelo MoMa, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, sob a responsabilidade de Eliot Noyes (1910-1977), que definiu o design orgânico como a organização harmoniosa das partes com o todo, ou seja, estrutura, material e propósito. O trabalho vencedor na categoria de “assentos para a sala de estar” foi idealizado por Eero Saarinen (1910-1961) e Charles Eames (1907-1978). 146 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN FIGURA 58 – LOUNGE CHAIR BY CHARLES EAMES AND EERO SAARINEN, 1940 FONTE: <https://cutt.ly/UgDs9z4>; <https://cutt.ly/ZgDs8N9>. Acesso em: 9 out. 2020. Outros termos são utilizados no design como Biomimética (imitação), biofilia (conexão dos seres humanos com a natureza), biomorfismo (baseado em curvas ou motivos que evocam seres vivos), ou seja, a utilização das formas encontradas na natureza vegetal e animal para soluções em produtos de design sustentáveis e inovadores, além destes fatores são considerados a reciclagem e uso de recursos renováveis, a economia de energia e a natureza como matéria criativa e inspiradora. Um bom exemplo deste design atualmente são os frascos do perfume F1, criados em colaboração entre a Fórmula 1, Designer Parfums e Ross Lovegrove Studio. Os frascos têm características do biodesign, com uma estrutura externa protegendo uma câmara de fragrância interna e são impressos em 3D em metal, projetados por Lovegrove. Quando os perfumes acabam, os frascos internos podem ser substituídos por novos. A ideia é preservar a forma externa da garrafa como se fosse um troféu, dando a ela a reverência que ela certamente merece (YD YANCO DESIGN, 2019). FIGURA 59 – ROSS LOVEGROVE PARA DESIGNER PARFUMS AND FORMULA 1. FONTE: <https://static.designboom.com/wp-content/uploads/2019/12/ross-lovegrove-perfume- -bottle-formula-1-designer-parfums-designboom-1800.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 147 11 STREAMILINING (1930-1950) Steamlining, Streamlined ou Streamline é um estilo de arquitetura e design industrial que surgiu logo após a Grande Depressão nos EUA, e utilizava a aparência dos produtos a fim de incentivar o consumo. O estilo era uma vertente do Art Deco, e suas principais características estão baseadas na aerodinâmica (relação das formas com a velocidade), arredondamento ou alongamento assimétrico das formas, as vezes com aplicação de nervuras estruturadas na horizontal, tinha o poder de evocar noções de velocidade, dinamismo, eficiência e modernidade (CARDOSO, 2008). Raymond Loewy (1893-1986) dizia que “entre dois produtos de igual qualidade e preço, o que tiver melhor aspecto venderá mais”, desta forma surge o design industrial com o objetivo de conquistar consumidores contribuindo para a recuperação econômica do período pós-depressão. A conceito da imagem não estava ligado a sua função, apenas a sua estética visual (MEDEIROS; VERÍSSIMO, 2016). FIGURA 60 – PENNSYLVANIA RAILROAD’S S1 LOCOMOTIVE. RAYMOND LOEWY FONTE: <https://cutt.ly/igDdkN5>. Acesso em: 9 out. 2020. Para saber mais, leia o artigo: Raymond Loewy – O gênio das aparências no link https://super.abril.com.br/historia/raymond-loewy-o-genio-das-aparencias/. DICAS O Streamline design foi aplicado em muitos objetos do dia a dia, como rádios, relógios, máquinas de costura, aspiradores de pó, a fim de que tivessem a aparência dos veículos aerodinamizados (streamlined). No processo de produção foram explorados novos materiais, como o baquelite e o alumínio. 148 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN A bicicleta para o futuro, Classic (e depois Spacelander) foi incluída na exibição “Britânicospodem fazer” em 1946, criada designer Benjamin Cowden, o projeto inicial incluía um motor. FIGURA 61 – BICICLETA PARA O FUTURO, 1946, BENJAMIN BOWDEN. 1946 FONTE: <https://saopaulosao.com.br/images/images/bowden_bike/bolden_bike_cor_ tres_640x370.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. Henry Dreyfuss (1904-1972) foi o primeiro designer a destacar fatores humanos e a ergonomia nos produtos da indústria. FIGURA 62 – HOOVER MODEL 150 VACUUM CLEANER (1936); IRON FOR GENERAL ELECTRIC (1948), HENRY DREYFUSS FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/--CHiZpNUQB0/Uh3PJ1CVp7I/AAAAAAAAGys/nHiWcFzjb2E/ s320/1936+henry+dreyfuss+Hoover+Model+150+vacuum+cleaner+(1936).png>; <https://cutt. ly/UgDd3TX>. Acesso em: 9 out. 2020. Acadêmico, a indústria passou por rápidas e importantes transformações entre os períodos de 1920 a 1940, a união das novas tecnologias com o uso de novos materiais foi generalizada. A popularização do automóvel, avião, cinema, rádio e eletrodomésticos trouxe para a população de massa, hábitos de consumo que antes eram apenas reservados à elite. Dessa forma, a comunicação, a música, o cinema, a moda, a disseminação de várias culturas por meio destes veículos, abriu uma nova área de atuação para o design, principalmente na área gráfica, imprensa, anúncios, editoração de revistas, quadrinhos e cartazes. TÓPICO 3 — MOVIMENTOS ESTÉTICOS E ESCOLAS DE DESIGN 149 Toda essa massificação dos produtos vai levar a novos posicionamentos do design após a Segunda Guerra Mundial. Conforme Cardoso (2008, p. 136), “[...] a sociedade moderna parece ser regida pelos ciclos da moda e pela busca de um estilo; e a preocupação com as aparências como expressão da identidade é inegavelmente um fator cultural de primeira importância nos dias de hoje”. 150 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • O Revivalismo Gótico ou Neogótico foi um movimento estético que procurava reavivar as formas góticas medievais, em contraste com os estilos clássicos dominantes na época. • Arts and Crafts ou “artes e ofícios” foi um movimento estético que buscou contrapor a produção em massa e aos danos ambientais de poluição de água e ar causados pela Revolução Industrial com um estilo mais artesanal. • Os quatros princípios que regiam o Arts and Crafts foram: unidade na composição artística, valorização do trabalho artesanal, individualismo e regionalismo. Deveriam ser considerados a nobreza do material, o uso (função), a construção (design), e a ferramenta (técnica). • Louis Sullivan (1856-1924) é o autor da frase: “a forma segue a função”. • O Esteticismo ou Movimento Estético foi caracterizado pelo culto ao Belo na arte, em detrimento da função ético-moral que ela pode ter. • O Art Nouveau (Arte Nova) foi um movimento essencialmente decorativo, positivista, voltado para a arquitetura, artes decorativas, design, artes gráficas, mobiliário e influenciou a arte e a moda. • O Jugenstill é um movimento semelhante ao Art Nouveau, só que aconteceu na Alemanha. • Escola de Artes de Glasgow, na Escócia, era uma vertente da Art Nouveau, mas estava focada na criatividade e no design a fim de apoiar a indústria no país. • Deutscher Werkbund (Confederação Alemã do Trabalho) foi uma associação alemã, fundada em 1907, por um conjunto de artistas, arquitetos e industriais, que tinha como objetivo criar um estilo nacional alemão baseado na produção industrial, a fim de fazer uma reforma da vida (Lebensreform) por meio dos benefícios trazidos pela indústria. • A Nova Objetividade estava relacionada ao modelo das novas habitações sociais. • De Stijl (“O Estilo”) era formado por artistas que elaboravam um tipo de “arte total”, racionalista, usando cores primárias para criar obras sem restrições, claras e limpas, como eles imaginavam que deveria ser o futuro da Arte. • O construtivismo russo teve papel político de cunho socialista e revolucionário com sua maior influência na concepção de uma nova arte funcionalista e informativa. 151 • A Bauhaus é referência incontestável para o design moderno, principal representante do modernismo e a primeira escola técnica de design, artes, artesanato e arquitetura. Surgiu em 1919 e fechou em 1933 deixando um legado que influenciou o design do mundo. • Estilo Internacional tem por característica que “todo objeto podia ser reduzido e simplificado até atingir uma forma ideal e definitiva, a qual seria o reflexo estrutural e construtivo perfeito da sua função”. • O Organic Design ou Escola Futurista, é um estilo de design inspirado na natureza, caracterizado por curvas e formas orgânicas, cujos produtos se assemelhem a um objeto natural. • Streamline é um estilo de arquitetura e design industrial, suas principais características estão baseadas na aerodinâmica (relação das formas com a velocidade), arredondamento ou alongamento assimétrico das formas, as vezes com aplicação de nervuras estruturadas na horizontal, tinha o poder de evocar noções de velocidade, dinamismo, eficiência e modernidade. 152 1 Observe a figura da cadeira exposta a seguir, ela representa um dos princípios adotados pela escola Bauhaus. Sobre o que se pode afirmar sobre a figura, assinale a alternativa CORRETA: CADEIRA WASSILY – MODELO B3 FONTE: <https://cutt.ly/tgDfRvG>. Acesso em: 9 out. 2020. a) ( ) Ela evidencia os processos de produção artesanais, que valorizam o produto e o trabalhador. b) ( ) Ela simboliza a personalidade do designer, contrapondo o funcionalismo à ideia da boa forma. c) ( ) Ela representa o gosto estético disseminado pela burguesia das primeiras décadas do século XX. d) ( ) Ela explicita a ideia de simplificação da forma do móvel para uma produção industrial de qualidade. e) ( ) Ela sintetiza a ideia de customização, na qual o consumidor pode determinar características estético-formais do produto. 2 O Arts and Crafts foi um movimento estético que surgiu na segunda metade do século XIX, a fim de suprir uma demanda para os novos processos indústrias. De acordo com esse movimento, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Defendia o artesanato criativo como alternativa à mecanização e à produção em massa e pregava o fim da distinção entre o artesão e o artista. b) ( ) Defendia que os produtos industriais deveriam ser produzidos de forma seriada. c) ( ) Possuía características funcionalistas e a flor do girassol era o símbolo do movimento. d) ( ) Foi um movimento essencialmente decorativo, positivista, voltado para a arquitetura, artes decorativas, design, artes gráficas, mobiliário e influenciou a arte e a moda. e) ( ) Possuía como características o racionalismo das formas, ângulos retos, cores primárias aperfeiçoadas pelo preto, branco e cinza, nenhum plano decorativo, baseado em composições de caráter coletivo. AUTOATIVIDADE 153 3 Considerando a figura apresentada a seguir, que ilustra a escrivaninha Art Nouveau, criada em 1898 pelo arquiteto belga Henri Van de Velde, e que faz parte do acervo do Musée d’Orsay, em Paris. Com base no exposto, analise as afirmativas a seguir: FANTASTICAL AND FUNCTIONAL – ART NOUVEAU FONTE: <https://cutt.ly/TgDfvZv>. Acesso em: 9 out. 2020. I - A peça é representativa de um estilo artístico que se inseriu na sociedade moderna no final do século XIX, reagindo ao historicismo acadêmico e ao lirismo romântico. II - O estilo da peça, bastante desenvolvido nas artes aplicadas, aproximou- se fortemente da produção industrial em série ao utilizar materiais do mundo moderno, como ferro, cimento e vidro. III - Na construção da peça, abriu-se mão dos acabamentos sofisticados e da beleza escultural, em favor do emprego de materiais rústicos. IV - A peça foi inspirada na natureza e nas linhas sinuosas e assimétricas da flora e fauna. a) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. b) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas. e) ( ) As afirmativas II, III eIV estão corretas. 3 Escola de Artes de Glasgow foi uma vertente do Art Nouveau, na Escócia, em 1890. Cite as características desta escola. 4 O movimento De Stijl (O estilo) iniciou com a publicação da revista de mesmo nome, em 1917, por Theo van Doesburg (1883-1931), na Holanda. Quais são os objetivos e as características que definem este movimento? 154 155 UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A Segunda Guerra Mundial tem papel fundamental no desenvolvimento do design, pela evolução tecnológica e aumento da produtividade que foram necessárias para a manutenção da guerra. Como exemplo, a criação do radar, da bomba de hidrogênio, a produção de motores, plásticos, equipamentos eletrônicos, carros, aviões, navios, armas, entre tantos outros que poderiam ser citados. Neste sentido, o país que estava mais preparado para aproveitar a oportunidade e lucrar com a economia da guerra foi os EUA, com suas fábricas de armas e equipamentos militares. Outros países também tiveram que mudar o seu modo de produção e, muitos produtos que antes eram importados, tiveram que ser fabricados dentro de seu próprio território, além de terem que colaborar com a exportação de insumos agrícolas para países em guerra, como foi o caso do Brasil e da Argentina. No Brasil, com o governo de Getúlio Vargas, foram expandidos os sistemas ferroviários, hidrelétrico e industrial. Em 1942 foi criada a Vale do Rio Doce para exploração de minérios e, em 1941, cria-se a Companhia Siderúrgica Nacional. Após cinco anos, a usina de Volta Redonda começou a produzir aço, e, em 1953, após a campanha “O petróleo é nosso”, nasce a Petrobrás (CARDOSO, 2008). Outros pontos são importantes levantar para compreender a grandiosidade dos acontecimentos que mudaram a forma de pensar e desenvolver produtos para o consumo, utilizando o design como ferramenta inseparável desta nova fase, como: • no pós-guerra, o retorno dos homens para o mercado de trabalho e das mulheres para o lar; • o redirecionamento da capacidade produtiva das indústrias que antes eram para a manutenção da guerra e agora precisava de um novo propósito; • criação de demanda para novos produtos, ou seja, o consumo não por necessidade mas por opção; • estímulo das indústrias (em todos os setores) pela troca de equipamentos em geral; • a ampliação do crédito pessoal; • a criação do cartão de crédito em 1950; • o início da obsolescência estilística, entre outros (CARDOSO, 2008). TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 156 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Dessa forma, criou-se uma sociedade consumista, força motriz para a geração de uma nova economia, baseada na produção, na abundância e no desperdício, indispensáveis para a manutenção da prosperidade, lançado como American way of life (modo americano de vida) que só mudaria em 1970, por novos motivos políticos e econômicos. O pensamento era de que quanto mais se joga fora, mais oportunidade se gera para produzir de novo o mesmo artigo, a meta era estimular o consumo de reposição. Para alguns sociólogos da época, este tipo de política foi positivo ao proporcionar a todos condições de possuírem produtos industrializados que facilitariam a vida, pois quando um produto era descartado, ele poderia (e seria) utilizado por outra pessoa, a exemplo de carros e eletrodomésticos, incluindo todos no projeto social coletivo (CARDOSO, 2008). Acadêmico, claro que toda essa produção ocasionou problemas sociais e ambientais sem precedentes até então e, hoje, a produção com design, além de pensar na função, na estética, de ser voltado para o consumidor, está também atrelada a questões ecológicas, sustentáveis, ambientais, sociais e econômicas. Não se pode produzir sem prever em novos projetos todas estas questões, criando um ciclo de vida fechado para o produto, que esteja incluído em uma economia circular, a fim de que todas as fases, desde a escolha de matérias primas, design, produção, distribuição, consumo (uso, reuso, reparo), coleta direcionada para a reciclagem ou mesmo para o descarte, seja consciente e acompanhada de forma responsável por cada personagem envolvido em cada fase de vida do artefato. 2 ESCOLA DE ULM – HOCHSCHULE FÜR GESTALTUNG (1952-1968) Após o fechamento da Bauhaus na Alemanha, muitos professores foram exilados em países da América, principalmente nos EUA, que acolheu a maior parte de cientistas, intelectuais, artistas e políticos e incentivou o ensino do design em seu território. O Instituto de Design do Illinois Institute of Technology – New Bauhaus, foi fundado em 1937 por László Moholy-Nagy, que foi professor da Bauhaus entre 1923 e1928, além disso, outros ‘ex-bauhausianos’ colaboraram no curso como: o escultor Alexander Archipenko (1887-1964) e o pintor e cenógrafo Gyorgy Kepes (1906-2001) (CARDOSO, 2008). TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 157 FIGURA 63 – ESCULTURAS DE ARCHIPENKO FONTE: <https://cutt.ly/mgDhLVa>. Acesso em: 9 out. 2020. Em 1944, a escola se tornou Institute of Design e, em 1949, foi absorvida pelo Illinois Institute of Tecnology. Da mesma forma, na Alemanha, em 1947, renascia os trabalhos da Bauhaus por meio da Escola de Ulm (HfG), que ensinava o design industrial com a teoria e prática da configuração da forma, dos preceitos funcionalistas. Os professores vinham de vários países da Europa, da América do Sul e do Norte, e o percentual de alunos estrangeiros era de 40% a 50% (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2018a). Conhecida como Escola Superior da Forma, a Escola de Ulm (HfG), foi fundada por Max Bill (1908-1994), Inge Aicher-Scholl (1917-1998), Otl Aicher (1922-1991) e Walter Zeischegg (1917-1983) em 1952 e existiu até 1968. Trata-se de um empreendimento privado de caráter interdisciplinar, que reúne arquitetos, designers, cineastas, pintores, músicos, cientistas e outros. A ideia da escola é formar profissionais com sólida base artística e técnica para atuarem na concepção de ampla gama de objetos produzidos em escala industrial, de uso cotidiano ou científico, relacionados à construção e aos suportes modernos de informação, às mídias e à publicidade (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS, 2018a, s.p.). Foram implantados na HfG os cursos de Design de Produto, Design de Comunicação Visual, Design de Construção, Design de Informação. Alguns estudiosos dividem a história da escola em seis fases: • 1ª fase (1947-1953): Inge Scholl fundou uma instituição em memória de seus irmãos (Sophie Scholl e Hans Scholl, executados pelos nazistas por causa do movimento Rosa Branca em 1943), com o objetivo de contribuir para uma nova educação democrática, baseada no trabalho prático e coletivo de pequenos grupos. • 2ª fase (1953-1956): período em que Max Bill dirige a escola, imprimindo amplo ideal universalista, recebe apoio financeiro dos EUA. A educação é baseada em seminários e realização de trabalhos práticos, com o uso de gesso, plástico, madeira, metal, tipografia e fotografia. A atuação intensa de 158 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN ex-alunos da Bauhaus nessa fase – além de Bill, Josef Albers, Johannes Itten (1888-1967) e Helene Nonné-Schmidt – define um projeto estético, social e político afinado com o modelo de Walter Gropius. • 3ª fase (1956-1958): por causa de conflitos ideológicos, Max Bill deixa a direção da escola para Tomáz Maldonado (1922-2018), que defendia a funcionalidade da forma e a produção industrial. Nessa fase, as novas concepções das relações entre design, ciência e tecnologia desenham um ‘modelo ulmiano’, que inclui uma definição renovada do designer: não mais um artista com proeminência sobre os demais (como queria Bill), mas sim um membro entre outros em um grupo de cientistas, pesquisadores, comerciantes e técnicos. O ensino fundamental integra teoria da percepção e semiótica. A seção de arquitetura, com influência de Konrad Wachsmann (1901-1980) e Herbert Ohl (1926), converte-se em seção de ‘construçãoindustrializada’. • 4ª fase (1958-1962): esta fase expressa a primazia da ciência sob o design, e as disciplinas que ganham mais relevância no currículo são ergonomia, técnicas matemáticas, economia, física, ciência política, psicologia, semiótica, sociologia e teoria da ciência. Além disso, os trabalhos de design de professores e alunos ganham maior visibilidade por meio de exposições e do lançamento da revista Ulm. • 5ª fase (1962-1966): a teoria e a prática ganham a mesma importância, e a escola passa a estudar a Metodologia de Projeto, Gerência de Projeto e os estudos da Ergonomia. A ideia de que o processo de design deveria ser um método analítico ganha espaço nas discussões. • 6ª fase (1967-1968): em dezembro de 1968, por motivos políticos e financeiros a escola é fechada (BÜRDEK, 2006). A revista Ulm foi publicada no total de 14 edições e 21 números e possibilitou que o resultado do ensino, desenvolvimento e pesquisa fossem apresentados para o mundo, além de permitir o diálogo sobre as questões centrais do design de forma crítica e reflexiva. FIGURA 64 – CAPAS DA REVISTA ULM FONTE: <https://cutt.ly/IgDji41>; <https://cutt.ly/MgDjaND>; <https://cutt.ly/xgDjf7O>. Acesso em: 9 out. 2020. TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 159 O design moderno na tradição do funcionalismo estabelecido pela Escola de Ulm pode ser visto nos produtos concebidos pela empresa Braun (eletrodomésticos); no metrô de Hamburgo; no mobiliário M 125; no primeiro sistema hi-fi para a Braun; no carrossel para slides da Kodak; no logotipo da Lufhtansa; em cartazes de cinema e shows (no de Stan Getz em Paris, em 1959 e 1960, por exemplo) e de outros eventos. FIGURA 65 – DESIGN DOS PRODUTOS DA EMPRESA BRAUN, POR DIETER RAMS. FONTE: <https://cutt.ly/VgDjFUc>; <https://cutt.ly/bgDjHXe>; <https://cutt.ly/OgDjL5q>. Acesso em:9 out. 2020. Dieter Rams é um dos designers de produto mais influentes do século XX, ele introduziu a ideia de desenvolvimento sustentável e de que a obsolescência seria um crime, ainda em 1970, desta forma ele propôs a si mesmo a pergunta: ‘meu design é um bom design?’, respondendo em 10 princípios: 1. Bom design é inovador, desenvolvido em conjunto à tecnologia inovadora e nunca pode ser um fim em si mesmo. 2. Bom design torna o produto útil, satisfazendo critérios, não apenas funcionais, mas também psicológicos e estéticos. 3. Bom design é estético, pois os produtos são usados todos os dias e a estética tem efeito nas pessoas e sob seu bem-estar. 4. Bom design torna o produto compreensível, fazendo uso da intuição do usuário, autoexplicativo. 5. Bom design é honesto, não tenta manipular o consumidor com promessas que não podem ser cumpridas. 6. Bom design é discreto, cumprir uma finalidade e permitir a autoexpressão do usuário. 7. Bom design é durável, evita estar na moda e nunca parece ser antiquado. 8. Bom design é minucioso até o último detalhe: nada deve ser arbitrário ou deixado ao acaso. 9. Bom design é amigo do meio ambiente, contribuindo de forma importante para a preservação do meio ambiente. 10. Bom design é o mínimo possível, deve concentrar-se nos aspectos essenciais, de volta a pureza e a simplicidade (MARTINEZ, 2013). 160 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Acadêmico, como visto até aqui, percebemos que os defensores do Estilo Internacional, por meio de muitos estudos e experimentos, formataram normas de como deveria ser um ‘bom design’, e, para isso, foram criadas escolas, movimentos estéticos, várias exposições e prêmios para divulgar este estilo de design para o mundo. Alguns destes concursos persistem ainda hoje, como o Good Design Award, criado em Chicago em 1950. O Prêmio Good Design é realizado anualmente peloThe Chicago Athenaeum: Museum of Architecture and Design, em conjunto com o The European Centre for Architecture Art Design and Urban Studies. Fundado em Chicago, em 1950, pelos arquitetos Eero Saarinen, Charles e Ray Eames, e Edgar Kaufmann Jr., o GOOD DESIGN confere reconhecimento internacional aos designers e fabricantes mais importantes do mundo em inovação, novos conceitos e originalidade em produtos (RIVA, 2010, s.p.). Todavia, para cada tendência existe uma contra tendência. Dessa forma, surgiu, em meados de 1960, um grupo interessado em mudar novamente o rumo do design. Conheceremos um pouco mais sobre este movimento a seguir. 3 ANTIDESIGN, DESIGN RADICAL, DESIGN CONCEITUAL E CONTRADESIGN Antidesign, design radical e contradesign são termos adotados para compreender as práticas alternativas, ou seja, práticas e padrões diferentes dos estabelecidos para o Estilo Internacional, que foram adotados por vários grupos distintos de designers e, que eram a favor de um design mais criativo, um design conceitual, ou seja, que pudesse transmitir uma mensagem puramente intelectual/ emocional e questionadora para o usuário. Vale lembrar que estas mudanças também foram provocadas pelo novo comportamento social, econômico e político da época. O design conceitual muitas vezes é anticomercial, pois os designers exploram nestes projetos as potencialidades reflexivas e dialéticas do processo de criação. Temas como a função das empresas e marcas, os processos de produção, uso de materiais e recursos naturais, o desenvolvimento sustentável, as relações das pessoas com os objetos, entre tantos outros são levantadas a fim de abrir espaço para o pensar e debater assuntos dos mais diversos (FRANZATTO, 2011). O talher “Din-Ink” foi desenvolvido para um concurso de design pelo grupo de designers ZO-loft. O objetivo do concurso era questionar sobre a alimentação no futuro, e os designers responderam com um produto irônico, que reflete a questão da confusão das atividades cotidianas no cenário contemporâneo. TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 161 FIGURA 66 – TALHER DIN-INK FONTE: <https://www.designboom.com/cms/images/--Z88/256.gif>. Acesso em: 9 out. 2020. Na Inglaterra, em 1961, o grupo Archigram surgiu a partir da reunião de alguns estudantes de arquitetura e urbanismo, com a intenção de publicar em uma revista ilustrada e de caráter provocativo, também chamada Archigram. Faziam parte deste grupo: Peter Cook, Ron Herron, Warren Chalk, Dennis Crompton, David Greene e Mike Webb. Eles acreditavam que, com tantas novas possibilidades dos avanços tecnológicos, a conquista espacial, o crescimento das redes de telecomunicações via satélite, a robótica, os computadores, a proliferação de eletrodomésticos e televisores, o design tradicional estava obsoleto, portanto, era necessário uma transformação. Archigram foi uma revista cujas publicações traziam as ideias inovadoras do grupo, orientadas contra as convenções formais e, em favor de associações livres e espontâneas, e de uma assimilação otimista dos progressos tecnológicos, com a crença de que estes poderiam ser facilmente disponibilizados para todos. O grupo Archigram aceitava como ideologia a sociedade de consumo, sua fragmentação e a consequente alienação do trabalho e das experiências, uma reflexão típica dos anos 1960. Sentiam a obsolescência do espaço urbano e a relativa inconsequência das propostas disponíveis até então; viam com desconfiança as propostas de Estado de Bem-estar, vigente nas políticas públicas da Inglaterra de então. Afinavam-se com estética da Pop Art e, sua crítica das formas estéticas tradicionais. Utilizava uma poética vibrante de superestimulação. Suas obras representam um coquetel de Pop Art, visão tecnológica da arquitetura, corrida espacial, Guerra Fria, acrescentando-lhes uma nova visão de temas como mobilidade urbana, sociedade em rede, descentralização (COISAS DA ARQUITETURA, 2011, s.p.). As ideias e os projetos do grupo Archigram tiveram repercussão mundial e influenciaram vários projetos arquitetônicos e experimentais. 162 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Em 1966, surgem em Florença o Archizoom e em Milão o Superstudio, que colocaram a Itália em foco. Estesgrupos sobreviveram até a década de 1970, e inspiraram novos estilos que também utilizaram o experimento de novos materiais e o uso da tecnologia como, o High-Tech, o Pós-modernismo e Menphis. 4 HIGT-TECH O movimento High-tech aconteceu primeiramente na arquitetura, em meados de 1970 e, desenvolveu-se com base no uso da tecnologia para a construção de grandes obras. Um edifício de grande importância para a representação do estilo é o Centro Georges Pompidou, na França, construído entre 1971 e 1977, projetado por Renzo Piano e Richard Rogers. Sua estrutura deixa aparente toda a parte funcional, como as tubulações da infraestrutura, os componentes da cobertura e dos equipamentos mecânicos para a circulação, a ideia é manter grandes vãos livres e instalações de alto desempenho e que pudessem ser industrializados. FIGURA 67 – CENTRE GEORGES POMPIDOU | RICHARD ROGERS + RENZO PIANO FONTE: < https://lopesdias.com.br/wp-content/uploads/2017/10/stringio.jpg>; <https://lopes- dias.com.br/wp-content/uploads/2017/10/stringio-2.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. A Walking City foi uma ideia proposta pelo arquiteto britânico Ron Herron, em 1964, cuja proposta era a construção de enormes estruturas robóticas móveis, com inteligência própria, que poderiam percorrer o mundo livremente, movendo-se para onde seus recursos ou capacidades de fabricação fossem necessários. Várias cidades poderiam se interligar para formar maior "metrópoles ambulantes" quando necessário e, em seguida, dispersarem-se quando seu poder concentrado não fosse mais necessário. Edifícios ou estruturas individuais também podem ser móveis, movendo-se sempre que seu dono quisesse ou fosse necessário. Assista ao vídeo para compreender melhor: https://www. youtube.com/watch?v=LYHG_t7SF8E. DICAS TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 163 Nos produtos de design industrial, este estilo também surge, utilizando materiais como borracha, aço, vinil, plástico, grades, telas, tubos e estampas de metal, além de possuir uma aparência futurista. FIGURA 68 – BICICLETA LEVITATION, MICHAEL STRAIN FONTE: <https://cdn2.ecycle.com.br/images/materias/Ecodesign/2013-07/bike-levit-750-1.jpg>. Acesso em: 9 out. 2020. A bicicleta Levitation foi projetada pelo arquiteto Michael Strain, é um protótipo construído para fornecer energia para um smartphone e funcionar como um “hot-spot” com acesso Wi-fi ilimitado, possuí um gerador integrado ao quadro e baterias de alta capacidade que podem armazenar a energia produzida. 5 MEMPHIS O Memphis foi um grupo formado por arquitetos e designers italianos que surgiu em meados de 1980 e produziu até meados de 1988, liderado por Ettore Sottsass. As características do estilo são influenciadas pela geometria da Art Déco, pelas cores da Pop Art e a estética incomum do Kitsch: design efêmero, uso de cores vibrantes contrastando com o preto, decoração colorida, laminados de plástico em móveis, quadriculados, listras, formas assimétricas e geométricas dispostas aleatoriamente e exibidas nos projetos de maneira exótica para a época, além de estampas como as que imitavam a pele de leopardo. FIGURA 69 – FLAMINGO (MESINHA DE CABECEIRA), 1984 / SOFÁ LIDO, MICHELE DE LUCCHI, 1982 FONTE: <https://cutt.ly/6gDk43h>; <https://cutt.ly/kgDlqbd>. Acesso em: 9 out. 2020. 164 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN O grupo Memphis tinha como objetivo criar uma ruptura com os desenhos rígidos do estilo internacional, a fim de que prevalecesse a criatividade e a personalidade, não tinham a intenção de que os objetos deveriam ser eternos ou mesmo apreciado por todos, mas sim de que se apropriassem de estímulos de diversos contextos culturais e os valorizassem esteticamente (BÜRDEK, 2006). 6 KITSCH O Kitsch é um termo de origem alemã Kitschen (fazer móveis novos com velhos) e Verkitschen (vender uma coisa no lugar do que havia sido combinado), usado para categorizar objetos de valor estético distorcido e/ou exagerados, que são considerados inferiores a sua cópia, e, conforme Moles (2012), sempre esteve presente acompanhando as artes e a produção industrial. No Brasil, o termo utilizado para definir o Kitsch é Brega. O produto kitsch surge para suprir a demanda de uma classe média em ascensão que não compreendia a arte de vanguarda, mas desejava produtos de ‘arte’ como meio de configuração de status. As características que podem ser destacadas para este design são: • Princípio de inadequação: da forma, do estilo, do contexto, da função, de uso. Desvio em relação ao tamanho (abridores de garrafa gigantes); falsificação de ma- teriais (flores de plástico); estilo e contexto (anjos barrocos de gesso para estantes). • Princípio de acumulação (ou empilhamento): preenchimento do vazio com o excesso, objetos sem sentido que possuem valor emocional de baixo custo, que vão sendo acumulados sem uma unidade de adequação (enfeites de geladeira, cerâmicas, bibelôs). Também pode ser aplicado a moda quando a pessoa exagera no uso de adornos como brincos, pulseiras, colares, echarpes etc. • Percepção Sinestésica: maior uso dos sentidos para impressionar o espectador, imagem, som, aromas, repetição exaustiva de signos com significados semelhantes. • Princípio de Mediocridade: o kitsch fica a meio caminho do novo, opondo-se à vanguarda, nem feiura e nem beleza extrema. • Princípio do Conforto: o que não cria problemas, agrada, produção de aceitação fácil, proporciona por meio do consumo pequenos prazeres, sensações e emoções (MOLES, 2012). Visite o link para ver um catálogo completo com produtos de design Memphis. https://cdn.shopify.com/s/files/1/1058/1166/files/memphis_milano.pdf?14149556525736315536. DICAS TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 165 Independente da classe social, objetos kitsch são consumidos. Estes objetos são: religiosos (terços e imagens de santos); sexual (canetas com mulheres nuas); exótico (paisagens de lugares exóticos: Índia, Egito); doce (anões de jardim, princesas, anjos); amargo (cobras, galinhas, esqueletos de plástico fluorescentes); político (insígnias em chaveiros) e tudo combinado entre si. “O fenômeno kitsch baseia-se em uma civilização consumidora que produz para consumir e cria para produzir, em um ciclo cultural onde a noção fundamental é de aceleração” (MOLES, 2007, p. 20). FIGURA 70 – OBJETOS DE DESIGN KITSCH FONTE: Adaptada de <https://www.chavesnamao.com.br/decoracao/objetos-de-decoracao/ estilo-kitsch/>. Acesso em: 9 out. 2020. 7 DESIGN NO BRASIL No Brasil, o design formal começa a ser instituído na década de 1960 com a fundação da Escola Superior de Design (ESDI) primeira escola de design no Brasil, hoje filiada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro, seguindo o mesmo currículo da Escola de Ulm, desenvolvido sob a responsabilidade de Karl Heinz Bergmiller, ex-aluno da HfG. Neste grupo de designers modernos no Brasil, estava Aloisio Magalhães, nome de grande importância para o design brasileiro. Fez parte das discussões sobre a educação de design bem como das questões que levantavam a nova atividade como profissão. Ajudou a criar a ESDI e foi professor na instituição. Entre 1960 e 1975, Aloisio Magalhães criou dezenas de símbolos para empresas privadas e estatais. As características de seus projetos eram: o espelhamento (redesenho da cédula de 1 mil cruzeiros, em 1977); a rotação em círculo tripartido e a sugestão de tridimensionalidade (LEITE, 2003). 166 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN FIGURA 71 – ANVERSO E REVERSO DA NOTA DE MIL CRUZEIROS, DE 1977, ALOISIO MAGALHÃES FONTE: Adaptada de <https://silo.tips/download/aloisio-magalhaes-e-o-cruzeiro-relaoes-entre-o>. Acesso em: 9 out. 2020. A atuação de Aloísio foi tão marcante ao longo dos anos que, em 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso decretou o dia do nascimento do designer (5 de novembro), como o Dia Nacional do Design. Também teve grande importância para a evolução do design no Brasil ao CNPq (Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientifico e Tecnológico) que contratou o designer Gui Bonsiepe, que também era membro da HfG, para orientar o design no Brasil. Bonsiepe (2011) defendia que as empresas locais deveriam aproveitar as possibilidades de criarem um design com identidade nacional ou regional. Pode-se perceber que o Brasil em alguns produtos industriais de design procurou inserir ícones da cultura brasileira, ou com o uso de materiais que estivessem mais disponíveis. Um bom exemplo é a poltrona Moles de Sergio Rodrigues, inicialmente com um modelo de forte identidade brasileira, mas restrito a elite, projetou também outros moveis com o mesmo sentido e atrativo, empregando materiais mais baratos como lona e madeira menos nobre a fim de atender a outras demandas (BÜRDEK, 2006). FIGURA 72 – MOLE POR SERGIO RODRIGUES FONTE: <https://cutt.ly/pgDzsuZ>; <https://cutt.ly/bgDzhfU>. Acesso em: 9 out. 2020. TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 167 A mais perfeita tradução do pensamento de Sergio Rodrigues, a poltrona Mole colaborou imensamente para a projeção do design brasileiro no cenário internacional. O caráter a um só tempo inovador e autenticamente brasileiro do projeto, de 1957, levou o jornalista Sergio Augusto a escrever nas páginas do jornal O Globo, em 1997: “... a poltrona Mole foi a resposta que tínhamos para dar à tirania de Bauhaus. Uma Garrincha de quatro pernas driblando o racionalismo teutônico”. O grande clássico do design brasileiro (RODRIGUES, c2020, s.p.). Outros designers que também se comprometeram em desenhar peças com identidade brasileira em termos de forma e semântica e que pudessem ser produzidos em escala industrial foram Geraldo de Barros (para a Unilabor) e Carlos Millan (para a Móveis Preto e Branco). A ideia da cultura pós-moderna surge no Brasil após um período de pouca valorização da criação do produto nacional. As industriais ainda estavam vivenciando a mimese dos produtos internacionais e esta nova fase assume um papel de protesto contra o design institucional que não conseguia impor sua autonomia, criatividade e liberdade de expressão. A partir de 1980 e, despontando em 1990, o design brasileiro ganha uma nova decodificação, representada pelo multiculturalismo étnico e estético, percebido pela presença de signos híbridos, composto pelo mix social existente no país. Com o aumento das exportações abre-se um campo vasto para a introdução do design e regulamentação da profissão. Em 1995, por iniciativa do então Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, foi criado o Programa Brasileiro do Design (PBD) com o objetivo de estabelecer um conjunto de ações indutoras da modernização industrial e tecnológica, por meio da inserção do design no processo produtivo das empresas e a partir do início do século XXI a cultura do design passa a ser disseminado na sociedade em geral (SEBRAE, 2014). Nesta nova fase do design, já inserido na globalização pelos aspectos da evolução das tecnologias de informação (internet) é necessário que os designers considerem em seus projetos o tríplice aspecto: design, cultura e território. Exigindo, de igual forma, que seja seriamente contemplada à questão ambiental no projeto, o excesso de produtos disponíveis no mercado e também o problema do consumo desenfreado e da produção – o design para a sustentabilidade. Alguns designers de referência para este novo período são: Adriana Adam, Carlos Lichtenfels Motta, Freddy van Camp, Fúlvio Nannu Jr., Oswaldo Mellone, Fernando e Humberto Campana (Irmãos Campana). 168 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN FIGURA 73 – POLTRONA VERMELHA /CADEIRA FAVELA / POLTRONA SUSHI, IRMÃOS CAMPANA FONTE: <https://cutt.ly/igDzLXP>; <https://cutt.ly/AgDzJeE>; <https://cutt.ly/8gDzIUq>. Acesso em: 9 out. 2020. Já o design de moda no Brasil como formação é recente. Somente em 1988 surge o primeiro curso de ensino superior de moda no Brasil. A ideia era formar um profissional com sólida instrumentalização teórico-prática, pronto a qualificar a produção brasileira de produtos de moda abrindo espaço para um campo profissional com novos conceitos de planejamento de produto (PIRES, 2002). Apesar de a moda ter um papel fundamental na construção da sociedade e interpretação de seu comportamento e acompanhar lado a lado todos os movimentos de artes e de design, no Brasil, ela demorou a ser percebida como uma área de ensino, “no Brasil, até meados da década de 1980, antes de serem criados os cursos superiores de moda pelas Instituições de Ensino Superior, o brasileiro que desejasse estudar o assunto, ou o autodidata que desejasse aperfeiçoamento, era obrigado a frequentar cursos no exterior” (PIRES, 2007, p. 2). Ao mesmo tempo, grandes mudanças aconteciam na economia, as quais sinalizavam a necessidade de medidas urgentes diante da crise. O setor têxtil e de confecção decidiu então criar os primeiros cursos técnicos no Brasil e, dez anos mais tarde, colaborou para o aparecimento dos primeiros cursos superiores. Os cursos surgiram porque as condições materiais das cidades e sua produção têxtil estavam consolidadas e sua população comprometida com esse processo, a exemplo de São Paulo, Belo Horizonte, Blumenau, Jaraguá do Sul, Londrina, Maringá e Fortaleza (PIRES, 2007, p 2). Acadêmico, você percebeu que o design passou por várias fases e se transformou de diversas formas, seguindo estilos distintos em cada período. Da mesma maneira, as tendências para do design são transformações cada vez mais relevantes, baseadas principalmente no uso de novas tecnologias, portanto, é importante que você esteja atento e preparado para os novos desafios: dominar os principais softwares de criação; participar das etapas da produção de projetos; trabalhar por meio de uma abordagem humanizada com relação ao usuário; focar no processo criativo em soluções úteis para os usuários; desenvolver habilidades de comunicação e trabalho em equipe; aprimorar a capacidade de lidar com a diversidade de profissionais envolvidos em um mesmo projeto; atuar tendo constantemente em vista os objetivos de negócio. TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 169 OS VALORES SIMBÓLICOS GERADOS ATRAVÉS DA MODA, DO DESIGN E DOS ACESSÓRIOS DE MODA Edna Regina Steinhauser Anna Luiza Morais De Sá Cavalcanti A contribuição do design na formatação da sociedade contemporânea Pode-se apontar o Século XX como um novo marco na história da moda e das sociedades contemporâneas. O salto evolutivo entre as décadas deste século apresentou ao final do mesmo uma sociedade desenvolvida, com transformações distintas em todas as áreas humanas, científicas, sociais, culturais, artísticas, políticas, econômicas, ambientais. Observando o princípio do século XX, destaca- se a consolidação da Segunda Revolução Industrial, em que a produção de artefatos, roupas, móveis e utensílios domésticos passam a ser industrializados. Neste sentido, as discussões iniciadas no século anterior, sobre a qualidade dos produtos feitos industrialmente comparados com os produtos feitos artesanalmente são substituídas por ações inovadoras que auxiliam na evolução das indústrias, dando início a Era do Design, um termo novo e abrangente. A Moda e o Design estão intimamente ligados quanto ao objetivo de exercer fascínio e encantamento ao consumidor final, independente do produto a que se propõe produzir. Lipovetsky (1989) descreve que após 1920-1930, depois da grande Depressão nos Estados Unidos, as indústrias descobriram que poderiam aumentar o número de vendas melhorando o aspecto externo dos bens de consumo produzido por elas. Da mesma forma que a aparência se ordenava na moda ela se ordena agora, também, nos objetos como forma de embelezar, harmonizar as formas, de seduzir os olhos e conquistar consumidores por meio, igualmente, do aspecto visual. Este é um período marcado por movimentos artísticos como Art Nouveau e Arts and Crafts, preocupados com a qualidade, os processos e os acabamentos na transiçãoda fabricação artesanal dos artefatos para a fabricação industrial. Entre estes movimentos destaca-se a escola alemã Bauhaus fundada em 1919 e fechada por motivos políticos, em 1933. A Bauhaus foi à percursora do Design como é conhecido hoje. Concebido a partir dos conceitos das artes e das técnicas, promoveu a transição da prática profissional artística/artesão para os fundamentos do Design Industrial. Os cursos promovidos pela escola Bauhaus integravam os conhecimentos teóricos e práticos de dois profissionais indispensáveis: o mestre criativo e o mestre artesão. A ideia fundamental de Walter Gropius, fundador da escola, era que a arte e a técnica deveriam tornar-se uma nova e moderna unidade de conhecimento. Era a frase-emblema da escola: “A técnica não necessita da arte, mas a arte necessita muito da técnica” (BÜRDEK, 2010, p. 28). Se fossem unidas, haveria uma noção de princípio social: consolidar a arte no povo. LEITURA COMPLEMENTAR 170 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN Os conceitos promovidos pela Bauhaus representavam o movimento de reforma da vida, assim como seus objetos que deveriam ser desenvolvidos a partir de formas geométricas puras, limpas, claras e simplistas, esperava-se também que a vida pudesse ser facilitada a partir do design, baseada na ideia da simplicidade das formas e na funcionalidade dos objetos. Uma verdadeira revolução para o período aqui descrito, pois o século anterior (XIX) era configurado principalmente pelo rebuscamento das formas, dos móveis, dos utensílios, da arquitetura, inclusive das vestimentas ricas em volumes e ornamentos. Conforme Droste (1992), a intenção de Gropius era desenvolver profissionais capazes de dominar tanto as técnicas artesanais quanto as linguagens formais da arte. Ele defendia o encontro das funções práticas dos objetos com as funções estético-psicológicas, inicialmente tendo como demanda uma classe social popular. Gropius descreveu em 1936 que “um objeto é determinado pela sua ‘essência’”, portanto “necessita cumprir corretamente sua finalidade, preencher suas funções práticas, ser durável, barato e bonito” (BÜRDEK, 2010, p. 37). Cardoso (2008) explica que este profissional, que mais adiante foi reconhecido como designer, teve como fontes de seu aprendizado metodologias específicas que comportavam a pesquisa do consumidor, a análise funcional dos objetos, bem como sua configuração técnica, possibilitando o desenvolvimento industrial (de massa) da sua criação. Assim, Lobach (2001) descreve a essência do Design como um conjunto de processos para a fabricação de produtos industriais, onde se aplica um método criativo e inovador de desenvolvimento de produtos como respostas para problemas nos campos sociais, culturais, tecnológicos, econômicos e ambientais. Nesta primeira fase da indústria, o design estava focado na otimização de artefatos, moradias e roupas com a proposta de atender rapidamente a demanda popular, que somente agora, por meio da industrialização, tinha condições de acesso aos mais variados tipos de artigos. O foco inicial era o produto, sua funcionalidade e durabilidade, mesmo existindo a estética, esta estava relegada à segundo plano. Dentro deste contexto Lipovetsky (1989) descreve que o design estrito se opõe ao espírito da moda e aos seus jogos gratuitos da estética e se instala essencialmente na melhoria funcional dos produtos. Todavia, a partir da segunda metade do Século XX, surge um novo cenário social, mudando esta realidade e conferindo ao Design uma nova fase industrial, agora sim, ligada ao ritmo da Moda focada no consumidor e no sistema de consumo deixando de se constituir em apenas mais um produto para ter um conjunto de sentidos imateriais. A década de 1950 é marcada como o período Pós-industrial e também como o período em que o design se desenvolve como estética industrial, voltado à criação de produtos para uma aparência sedutora, tendo o valor estético como parte inerente de sua função. “O design se torna para o objeto aquilo que a alta costura foi para a moda: ponto de referência para o luxo e para a gratuidade das formas” (LIPOVETSKY, 1989, p. 169). TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 171 Assim o Design surge no contexto industrial como um fator diferencial, considerando seu caráter estratégico de desenvolvimento como forma competitiva e visando o atendimento de todas as necessidades de mercado, porém continua a ter sua base na gestão dos processos e métodos industriais, contemplando a funcionalidade, mas apto conjuntamente a atender plenamente aos requisitos e necessidades subjetivas (tanto quanto ou mais) do consumidor. Portanto, o Design além da forma e da função, incorporou mais um terceiro elemento: o significado, onde a forma é a aparência geométrica do artefato, sob o ponto de vista estrutural, o qual deve ser reconhecido dentro de um arquétipo específico, considerando ainda, que em alguns detalhes, deve sugerir interpretações carregadas de significados; a função é o objetivo do artefato e devem ser consideradas as questões de usabilidade; e o significado é a interpretação comunicada, frequentemente inconsciente e completamente não relacionada às funções, capaz de levar consigo emoções (MAIOCCHI; PILLAR, 2013, p. 27). Em consequência, tem o poder de encantar por meio de estratégias estéticas e estruturais, as quais permitem interpretar e entender os significados subjetivos propostos sobre si mesmo. Estas interpretações estimulam no consumidor, o desejo de possuir novos produtos caracterizados como necessidades, não porque os antigos estariam obsoletos e impróprios para o uso, mas sim porque objetos com um novo visual tornam os anteriores indesejáveis. Este mesmo sistema também acontece dentro da Moda, com a efemeridade das tendências propostas a cada troca de estação, tornando o seu produto obsoleto antes mesmo de ser explorado seu uso ao máximo. Neste sentido, o design envolve o objeto em uma aura de mistério e sedução que compraz o consumidor por meio de atributos muitas vezes intangíveis, mas que atuam como símbolos da personalidade do indivíduo. Portanto, considera-se que os métodos de desenvolvimento de produto fundamentados nas metodologias do Design, têm tanto a capacidade de atender às demandas tecnológicas e produtivas quanto às demandas psicológicas, fundamentadas no desejo de possuir e pertencer do consumidor. Nesta lógica, faz-se necessário considerar as percepções cuidadosas das nuances que implicam nas interpretações de significados gerados por meio do desenvolvimento de produto, para ter assertividade na concepção, de acordo com o anseio do usuário ao qual será destinado. A moda e a formação do parecer A conceituação do termo moda é complexa, pois está ligada aos multicenários que constituem a sociedade humana, desde o econômico, social, cultural, artístico, histórico, literário, visual, ambiental, tecnológico etc. De acordo com Rigueiral e Rigueiral (2002) a moda é definida por um fenômeno social de caráter temporário e que registra a aceitação e a comunicação de um padrão de estilos a partir de um mercado consumidor. Ela chega a massificação e logo após, ao desuso, considerando assim um ciclo de vida que passa a se repetir e se renovar a cada estação. Já na definição de Dorfles (1988) ela 172 UNIDADE 2 — HISTÓRIA DO DESIGN não é tão somente um movimento efêmero e inconstante, superficial, mas também um espelho de hábitos que apresenta o comportamento psicológico do indivíduo, da profissão, da orientação política, do gosto. A moda para ele, é compreendida como uma extensão íntima do ser, representada materialmente através do corpo e que revela o estado de espírito, estilos de vida e ambições de seus usuários. Sendo assim, a moda pode ser compreendida como modo, maneira ou comportamento. Braga e Nunes (2005) descrevem que ela mesma tem por natureza ser autodestrutiva, pois uma proposta vigente é sempre anulada em privilégio de uma nova e que sem esteciclo não poderia existir. Lipovetsky (1989) complementa que não pode haver Sistema de Moda sem o gosto constante pela novidade, sendo sua concepção mais básica: criação-divulgação-massificação- desuso, um ciclo vicioso e sem fim. Entretanto, por trás destes conceitos, existem os motivos reais ou subjetivos que permitem que essa organização mantenha uma rotatividade estabilizada e programada por agentes criativos e produtivos. Lipovetsky (1989) já havia reconhecido a moda dentro deste padrão, antes mesmo dela ser instaurada, afirmando que o Sistema da Moda como conhecemos hoje, passou a existir a partir da Idade Média e exclusivamente no Ocidente Moderno. Só a partir da Idade Média é possível reconhecer a ordem própria da moda, a moda como sistema, com suas metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, suas extravagâncias. A renovação das formas se torna um valor mundano, a fantasia exibe seus artifícios e seus exageros na alta sociedade, a inconstância em matéria de formas e ornamentações já não é uma exceção, mas a regra permanente: a moda nasceu (LIPOVETSKY, 1989, p. 23). Observando outras civilizações (países do Oriente) desta mesma época percebe-se que os trajes são imutáveis em suas composições. De geração em geração, suas estruturas e adornos não mudam. A percepção da moda como um fenômeno temporal das civilizações do Ocidente Moderno se deu através das constantes mudanças das classes sociais superiores, que como condição de distinção mudavam seus estilos de vestimenta e de ornamentação tão logo eram copiados pelas classes menos favorecidas. Sempre que a primeira representação era estabelecida, uma nova surgia e assim repetidamente para que sempre houvesse o real afastamento da aparência, o qual gerava um novo ciclo de mudanças. Lipovetsky (1989) aponta que foi na esfera do parecer que a moda teve sua maior contribuição, manifestando-se durante séculos por meio de formas estranhas e extravagantes, sendo comparada a lógica da teatralidade, inseparável do excesso, da desmedida, do exagero. O autor complementa que “não há teoria da moda que não tome o parecer como ponto de partida e como ponto central de investigação” (LIPOVETSKY, 1898, p. 24). Neste contexto, Rainho (2011) traz a análise de Simmel, que define a moda através do binômio imitação-distinção, ou seja, enquanto alguns buscam imitar aque- les a quem admiram, outros buscam satisfazer a necessidade de se distinguir e de se individualizar. Portanto, neste paradigma sempre existirão pessoas mais criativas, capazes de lançar tendências, e outras que por característica natural serão seguidoras. TÓPICO 4 — O DESIGN NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX 173 Lipovetsky (1989) também concorda com Simmel ratificando que as classes menos abastadas tendem a imitar as classes superiores como forma de conquistarem respeitabilidade e posicionamento social. Portanto, o Sistema da Moda acontece sob o juízo do outro, sob um sistema de regulamentação social e pressão social. Existe uma lógica de ligação entre o prazer de ver e também o prazer de ser visto, de exibir-se ao olhar do outro. A moda cria sob as pessoas uma aura de individualização, de prazer narcisista que encoraja a busca pela sua representação social, sua apresentação pessoal, sua originalidade. Parece contraditório quando analisado sob o ponto de vista do produto moda vestuário especificamente, já que ele tende a formatar os estilos, impor composições que muitas vezes criam uma configuração uniformizada entre seus usuários, no entanto, conforme Mendes e De La Haye (2003) o que torna a moda algo tão desejável é justamente o acesso democrático possibilitado pelas escolhas do vestir e do adornar, onde mesmo com propostas muito semelhantes, cada um pode fazer suas próprias experimentações, e dentro destas criar novas composições, individualizando por meio de pormenores, chamados aqui de acessórios, modificar todo o contexto de sua apresentação figurativa. Neste contexto, Braga e Nunes (2005) delatam a moda como dissimuladora, um meio pelo qual se pode revelar ou esconder o que se quer ou não mostrar, revelando apenas o desejado, seja real (físico) ou imaginário (personalidade, subjetivo). Sendo assim, ela passa a ser um meio de comunicação e de expressão da liberdade dos sujeitos, desenvolvendo-se como um ato de escolhas. Lipovetsky (1989) identifica esta liberdade como relativa, pois considerando a prática da moda referindo-se ao prazer de ser visto, tem por si só o desejo de agradar, de surpreender, de ofuscar, onde o fundamento principal não é o ‘eu’ e sim o ‘outro’. Uma prática hedonista, mas que tem o outro como objeto central, pois parte do desejo de ser observado, apreciado e aceito. Isto se confere no argumento descrito por Jauss (1979 apud SANT’ANNA, 2007, p. 76) “o prazer estético realiza-se sempre na relação dialética do prazer de si no prazer do outro”. Neste sentido, a moda nasce com o intuito de proporcionar uma distinção de identidade, de caracterizar uma classe social, um grupo, um gênero sexual, de posicionar o indivíduo como pertencente de um lugar e espaço, e suas constantes mudanças revelam a evolução do pensamento humano, de suas tecnologias, de seu comportamento diante da sociedade. A representação de si mesmo sempre será pelo outro. Neste sistema as distinções de pessoas e de classes sociais criam ciclos de efemeridade, obsolescência e de curta duração, que são explicados pela necessidade de diferenciação dos líderes de opinião que determinam seus próprios estilos e passam a ser seguidos pelas massas, renovando os ciclos constantemente. FONTE: <http://revistas.utfpr.edu.br/ap/index.php/iconica/article/view/88/61>. Acesso em: 27 de set. 2020. 174 RESUMO DO TÓPICO 4 Neste tópico, você aprendeu que: • O pós-guerra foi caracterizado por uma sociedade consumista, força motriz para a geração de uma nova economia, baseada na produção, na abundância e no desperdício, indispensáveis para a manutenção da prosperidade. • A Escola de Ulm (HfG) ensinava o design industrial com a teoria e prática da configuração da forma, dos preceitos funcionalistas e foi referência para a criação das escolas de design no Brasil e muitas outras ao redor do mundo. • Foram implantados na HfG os cursos de Design de Produto, Design de Comunicação Visual, Design de Construção, Design de Informação. • Dieter Rams propôs os dez princípios para o bom design. • O design conceitual muitas vezes é anticomercial, pois os designers exploram nestes projetos as potencialidades reflexivas e dialéticas do processo de criação. Os grupos Archigram, Archizoom e Superstudio traziam ideias conceituais de vanguarda para o design e arquitetura. • O movimento High-tech se desenvolveu com base no uso da tecnologia para a construção de grandes obras e produtos de design. • O Memphis foi um movimento de design com características influenciadas pela geometria da Art Déco, pelas cores da Pop Art e a estética incomum do Kitsch. • O Kitsch é um termo de origem alemã (Kitschen), usado para categorizar objetos de valor estético distorcido e/ou exagerados, que são considerados inferiores a sua cópia. • A Escola Superior de Design (ESDI) foi a primeira escola de design no Brasil, hoje filiada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro. • Aloisio Magalhães, é um nome de grande importância para o design brasileiro. Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. CHAMADA 175 1 (ENADE, 2006) O ensino formal de nível superior em Design iniciou-se no Brasil na década de 60 do século passado, sob forte influência da Escola Superior de Forma (Hochschule für Gestaltung) de Ulm (1953-1968). Sobre a caracterização da atuação dessa escola alemã, analise as afirmativas a seguir: I - Iniciar o movimento funcionalista em design, tendo criado o lema “a forma segue a função”. II - Realizarestudos na área de estética, tendo influenciado o aparecimento do estilo aerodinâmico (streamline) nos Estados Unidos da América. III - Desenvolver um pensamento sistemático acerca de design, tendo fundamentado uma metodologia de projeto. FONTE: Adaptada de <http://download.inep.gov.br/download/enade/2006/Provas/PROVA_DE_ DESIGN.pdf>. Acesso em: 13 out. 2020. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a afirmativa III está correta. b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. e) ( ) Todos as afirmativas estão corretas. 2 (ENADE, 2006) O Art Nouveau, movimento estético que surgiu por volta de 1900, teve grande desenvolvimento em vários países, particularmente na Bélgica. Nasceu da corrente “Artes e Ofícios”, no entanto, seus expoentes estavam muito mais dispostos a aceitar a produção em massa. Embora se inspirassem no passado, compartilhavam um entusiasmo pelo futuro, fazendo com que se diferenciassem dos movimentos precedentes. Sobre quais são características dos produtos do Art Nouveau, assinale a alternativa CORRETA: FONTE: Adaptada de <http://download.inep.gov.br/download/enade/2006/Provas/PROVA_DE_ DESIGN.pdf>. Acesso em: 13 out. 2020. a) ( ) Geométricas, bem definidas, com uso de cores básicas. b) ( ) Curvas, com a presença de cornucópias e motivos marinhos. c) ( ) Funcionais, com base no Historicismo. d) ( ) Orgânicas, fluidas, associadas ao uso de novos materiais. e) ( ) Derivadas de culturas orientais, com a presença de ziguezagues. 3 (ENADE, 2006) Comprometida com a inovação, Design é uma profissão que pode ser compreendida como introdução, no mercado, de novidades em produtos, processos ou sistemas. A inovação refere-se à aplicação comercial pioneira de invenções, conhecimentos, técnicas e processos de produção. Acerca do que os atributos e atitudes considerados imprescindíveis a um designer em busca da inovação incluem, analise as afirmativas a seguir: AUTOATIVIDADE 176 I - A inventividade, para procurar apresentar sempre soluções inéditas de novos mecanismos e sistemas em seus projetos. II - O conhecimento e a análise das soluções já existentes em produtos semelhantes. III - A procura por oportunidades de mercado, a fim de introduzir características inovadoras em seus projetos. FONTE: Adaptada de <http://download.inep.gov.br/download/enade/2006/Provas/PROVA_DE_ DESIGN.pdf>. Acesso em: 13 out. 2020. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a afirmativa I está correta. b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas. d) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. e) ( ) Todas afirmativas estão corretas. 4 No Brasil, o design formal começa a ser instituído na década de 1960, com a fundação da Escola Superior de Design (ESDI) primeira escola de design no Brasil, hoje filiada à Universidade do Estado do Rio de Janeiro seguindo o mesmo currículo da Escola de Ulm. Apesar disso, os designers brasileiros procuravam criar uma identidade Brasil em seus produtos. Descreva de que forma essa identidade pode ser percebida nos produtos aqui desenvolvidos. 5 O produto kitsch surge para suprir a demanda de uma classe média em ascensão que não compreendia a arte de vanguarda, mas desejava produtos de “arte” como meio de configuração de status. Quais são as características que podem ser destacadas para este design? 177 REFERÊNCIAS ALENCAR, V. P. de. Art Nouveau – Estilo influenciou as artes gráficas e a ar- quitetura. c2020. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/ art-nouveau-estilo-influenciou-as-artes-graficas-e-a-arquitetura.htm?cmpid=co- piaecola. Acesso em: 13 out. 2020. ARTS AND CRAFTS. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Bra- sileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018a. Disponível em: http://enciclopedia.itau- cultural.org.br/termo4986/arts-and-crafts. Acesso em: 20 set. 2020. BIBLIOTECA NACIONAL. A Exposição Universal de Londres de 1851 e o Pa- lácio de Cristal. 2020. 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Acesso em: 23 set. 2020. 181 UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a indumentária na Idade Antiga, a partir o homem primitivo, os processos iniciais de tecelagem, curtimento de peles e adornos; • assimilar os diferentes trajes existentes nas primeiras civilizações: Egito, Mesopotâmia, Grécia e Roma; • aprender a indumentária na Idade Média, sua utilização como meio de distinção de classes sociais, poder político, econômico e religioso; • analisar a indumentária da Idade Moderna, e a evolução que ocorreu na moda a partir dos períodos da Renascença, Barroco e Rococó; • acompanhar a indumentária na Idade Contemporânea, no século XIX, percebendo a influência dos eventos políticos, econômicos, sociais e tecnológicos para a mudança nos códigos do vestir, destacando os períodos do Império, Romantismo, Era Vitoriana e Belle Époque; • reconhecer e interpretar a indumentária do século XX e XXI, através do estilo visual e do comportamento social de cada década. Esta unidade está dividida em cinco tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – INDUMENTÁRIA NA IDADE ANTIGA TÓPICO 2 – INDUMENTÁRIA NA IDADE MÉDIA TÓPICO 3 – INDUMENTÁRIA NA IDADE MODERNA TÓPICO 4 – INDUMENTÁRIA NA IDADE CONTEMPORÂNEA – SÉCULO XIX TÓPICO 5 – INDUMENTÁRIA NO SÉCULO XX E XXI Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 182 183 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, estudaremos a trajetória humana dentro da história da indumentária. Todavia, antes de mais nada, convém atentarmos ao sentido da palavra indumentária, que é o mesmo que roupa ou vestuário. Refere-se a qualquer objeto usado para cobrir todo o corpo ou partes dele. A indumentária é usada por diversas razões, como questões sociais, culturais ou por necessidade. Integram, ainda, o grupo de objetos que compõe a indumentária e os acessórios que são carregados, como bolsas, leques, sombrinhas, chapéus, mochilas entre outros. As roupas evoluíram para atender a requisitos práticos e de proteção. Segundo Jones (2005, p. 24), “o meio ambiente é cheio de perigos, e o corpo precisa ser mantido numa temperatura média para garantir o conforto e a circulação sanguínea. O homem do campo precisa se refrescar, e o pescador ficar seco, o bombeiro precisa de proteção contra as chamas, e o mineiro contra gases tóxicos”. TÓPICO 1 — A INDUMENTÁRIA NA IDADE ANTIGA 2 PRÉ-HISTÓRIA – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA Ao pensar os primórdios da humanidade e como os humanos nascem desprovidos de abrigos que os defendam do clima e das circunstâncias do meio, a nudez é a certeza inicial. Na teoria evolucionista o ser humano nasce coberto de pelos e desta forma segue nu tal como acontece com Adão e Eva em relato bíblico do livro de Gênesis. Quando o casal tem consciência de estar nu confecciona vestimenta que lhe esconda a nudez. Na medida que os tempos avançam e de acordo com os muitos climas os humanos passaram a produzir roupas com fibras vegetais ou então com peles de animais. Processos foram implementados para manter as peles maleáveis através de raspagem e mastigação bem como o uso de ervas e cascas de árvores como o tanino para curtir o couro. Adornar os corpos passou a exigir cada vez mais diferenciais na produção da indumentária. A Guerra do Fogo (La Guerre du Feu). Produção: França; Canadá; Estados Unidos, 1981, 100 min. Direção: Jean-Jacques Annaud. Para saber mais sobre o filme: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Guerra_do_Fogo. DICAS UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA 184 Braga (2004) afirma que ao exibir dentes ou garras, além da pele, tirados de um animal feroz fica evidente sua bravura, e tal como protege o corpo, adorna e ainda o alimenta com a carne. Coleta de raízes, tubérculos, frutos, sementes somam-se à alimentação junto à caça de pequenos ou grandes animais para a subsistência. Abrigado em cavernas, com o tempo, deixa de ser nômade e torna- se sedentário passando a desenvolver a cultura de alimentos e a domesticação de animais. Consequentemente investe também na produção de utilitários que o acompanham no traje diário. O olhar antropológico sobre tribos indígenas ou aborígenes reconhecidos na atualidade mostra que, além das roupase utilitários, há uma série de adornos que remetem esteticamente à cultura daquela tribo ou povo. Enfeites na cabeça, adornando orelhas, narizes, bocas, cabelos, com afixação de contas e objetos naturais ou objetos especialmente criados, além de tatuagens, pinturas ou marcas na pele se tornam fatores diferenciadores entre o menino e o homem apto a guerra e a caça, e também, entre a menina e a mulher apta ao casamento e a procriação. O espaço social se desenha considerando os rituais cotidianos, mágicos, levando em consideração a idade, sexo, clã, e status de poder hierarquizado, inclusive prevendo o espaço para o luxo através do supérfluo necessário. Com o passar do tempo, passou-se a produzir indumentária a partir da tecelagem com teares de cintura ou de estacas para mantas executadas a partir de fibras vegetais e de lã animal. Em 1991, o corpo de Ötzi, morto há mais de cinco mil anos, foi encontrado nos Alpes no norte da Itália fronteira com a Áustria. Nele foram encontrados ferimentos, tatuagens e tratamentos de saúde. Viana (2017) relata que o casaco de pele fora curtido usando gordura animal e fumaça, contendo muitas marcas de raspagem no couro que ficava em contato com o corpo. Os pelos ficavam na parte exterior do casaco que fora costurado com pontos cruzados unindo partes de peles alternadas entre claras e escuras. Seu traje ainda era composto de cinto, tanga feita com tiras de couro de cabra, um boné costurado com pedaços de pele de urso e que era amarrado com tiras no queixo, perneiras cobrindo cochas e panturrilhas feitas com tiras de pele de cabra ligadas ao cinto por meio de laços, tudo costurado com tendões de animais e em ponto cruz. O sapato foi confeccionado com pele de veado e com solado em pele de urso forrado internamente com uma rede feita de grama. Carregava ainda um alforge. A invenção da agulha foi algo tão importante como a invenção da roda e a descoberta do fogo. INTERESSA NTE TÓPICO 1 — A INDUMENTÁRIA NA IDADE ANTIGA 185 FIGURA 1 – ÖTZI, O HOMEM DO GELO FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/aa/71/64/aa7164552b7ca770ca51be7e4eac9540.jpg>. Acesso em: 27 out. 2020. 3 EGITO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA A civilização egípcia desenvolveu-se numa região predominantemente desértica no nordeste da África, no chamado vale fértil do rio Nilo, que se beneficiando do regime de cheias natural e periódico de transportar e depositar em suas margens uma série de nutrientes, conseguiu transformar a aridez do deserto em terras cultiváveis altamente produtivas. O historiador grego Heródoto afirmava: “O Egito é uma dádiva do Nilo”. Nas suas atividades agrícolas, os egípcios cultivavam o plantio de trigo, cevada, linho, algodão, papiro etc., bem como dedicavam-se à criação de animais. Além de praticarem a pesca, desenvolviam artesanato, produziam tecidos, vidros e embarcações. Possuíam vastos conhecimentos sobre medicina, matemática, astronomia, arquitetura, escultura e pintura entre tantos outros. Os egípcios eram politeístas e seus deuses antropozoomorfos. Acreditavam na vida após a morte e promoviam o culto aos mortos. Quando morriam, sacerdotes aplicavam técnicas de mumificação naqueles que deveriam prosseguir na vida pós morte. Possuíam conhecimento apurado para a arquitetura, construindo grandes templos e monumentos ricamente decorados. Tinham a escrita hieroglífica e escreviam sobre papéis desenvolvidos com papiros. Construíam móveis como camas e baús-armário, e utensílios muito decorados com pedrarias, metais Para saber mais a respeito de ÖTZ, acesse o link: https://pt.wikipedia.org/ wiki/%C3%96tzi#:~:text=%C3%96tzi%20ou%20M%C3%BAmia%20do%20Similaun,da%20 %C3%81ustria%20com%20a%20It%C3%A1lia. DICAS UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA 186 preciosos e aplicação de pigmentos. Cerâmicas decoradas e pequenos objetos esculpidos em pedra como o alabastro, e em madeira eram algumas das manifestações artísticas que nos chegam através das exposições dos museus. Construíram uma biblioteca com milhares de itens que maravilhavam o mundo antigo. Dominaram os povos vizinhos, mas desde 1525 a. C. foram dominados por outros em muitos momentos, como foi com os persas, gregos, macedônios, romanos, árabes, turcos e ingleses. Somente no século XX conseguiram recuperar sua autonomia política. Entre os egípcios, era generalizado o uso do linho branco, que era considerado mais puro empregando drapeados, transparências e plissados, mas nos primeiros tempos usavam algodão como matéria prima para as vestimentas. Aconteceram mudanças mínimas em um período de mais ou menos 3.000 anos mantendo as maneiras vestimentárias estáticas. O chanti é um traje característico masculino, formando uma espécie de tanga presa por um cinto. Para os faraós era pregueado e engomado e as vezes recebia bordados. A maioria das roupas era branca, mas também tingiam e bordavam os tecidos com cores vivas. Usavam túnicas com mangas que eram costuradas nas laterais. Kalasíris é uma túnica longa usada por homens e mulheres e eram semitransparentes deixando ver por baixo o chanti masculino. A túnica era confeccionada a partir de um pedaço de pano retangular, às vezes tecido numa só peça e que era presa aos ombros por alças. Quando usado por mulheres, produziam um efeito ajustado sob os seios. A haik real é uma túnica usada por cima e com efeito plissado, transparente. O peitoral é uma espécie de larga gola adornada de pedrarias e metais preciosos e integra o grupo da joalheria egípcia. Um pedaço de tecido amarrado sobre a cabeça com as laterais soltas é o claft. FIGURA 2 – TRAJE KALASIRIS (CERCA DE 2.000 A.C.) METROPOLITAN MUSEUM OF ART./ VESTI- DO FEITO COM CONTAS DA V DINASTIA FONTE: <https://cutt.ly/UgDOmWV>; <https://bit.ly/362oLF3>. Acesso em: 27 out. 2020. TÓPICO 1 — A INDUMENTÁRIA NA IDADE ANTIGA 187 Vale ressaltar algumas características próprias da sociedade egípcia: a fibra animal era considerada impura; os padrões de higiene, incluíam banhos, raspagem do corpo e da cabeça; uso de perucas que eram higienizadas por especialistas, barba de cerâmica, cones aromáticos sobre as perucas produzidos com cera e que derretiam na medida em que o calor afetava sua consistência, e ainda usavam diversas coroas. Segundo Cox, Jones e Stafford (2013, p. 202), os egípcios “foram os responsáveis pelo mais longo período de uso de peruca. [...] O costume permaneceu durante o Império Antigo, Médio e Novo, de 3.000 a. C. até 300 d. C.”. O corte das perucas era no estilo Chanel Egípcio assim chamado contemporaneamente. A maquiagem também era rica com o uso do kajal preto para os olhos e diversas sombras coloridas de azuis, verdes e encarnados. Os egípcios possuíam uma ampla joalheria: anéis, pulseiras, brincos, colares, entre outros, que incluíam representações de insetos. Homens e mulheres calçavam sandálias, mas também andavam descalços. A nudez em público demonstrava baixa condição social com exceção para as crianças. 4 MESOPOTÂMIA – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA A Mesopotâmia localiza-se no Oriente Médio, entre os rios Tigre e Eufrates, sendo considerada uma das mais antigas civilizações da história. Vários povos viveram nessa região: sumérios, assírios, caldeus, babilônicos etc. e sofreram muitas invasões, aproveitando esse fato para incorporarem sempre novos elementos a sua cultura. Esses povos eram agricultores e criavam gado. Eles também desenvolveram a escrita cuneiforme. A sociedade mesopotâmica era dividida em partes que formavam uma estrutura de pirâmide, tendo no topo os membros da família real, seguidos pelos nobres, sacerdotes e militares. Na parte inferior ficavam as camadas menos favorecidas, como os artesões, camponeses e escravos. As técnicas para se vestir foram sendo aprimoradas. Na Mesopotâmia, a base da vestimenta era a pele de animais, como o saiote de pele com pelo caracterizado pelos tufos e chamado de kaunakés, e o tecido artesanal feito de algodão, de lã ou de linho. Os tufos dos pelos foram agregadosnos tecidos na forma de franjas e funcionavam como enfeites e acabamento conforme podemos constatar em Braga (2004). Para saber mais sobre a vestimenta egípcia assista ao filme: Ágora (ou Alexandria). 2009, 141min., Produção: Espanha. Direção de Alejandro Amenábar. Para saber mais sobre o filme: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gora_(filme) DICAS UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA 188 A vestimenta mudava com base na classe social e o básico em seus trajes eram: túnicas, véus, cintos largos, gorros de ponta, xales etc. Tanto homens quanto mulheres usavam tais adornos. Quanto mais adornos nas roupas e acessórios, melhor a posição social de quem as usava. A roupa masculina kaunakés poderia ser curta e com o torso nu, e depois fora substituída por uma túnica longa com mangas justas presa por um cinto. As franjas das saias eram formadas por tufos de pelos e um xale denominado efoh, que era jogado por cima do ombro. Cabelos eram compridos e cacheados para homens e mulheres. Os homens cacheavam suas barbas compridas também. Ambos usavam brincos, pulseiras e colares. As coroas eram usadas pelas cabeças da realeza. Para os demais, usava- se um barrete denominado frígio, que era muito comum entre os homens. Uma espécie de bota de couro tinha seu bico ligeiramente levantado, como é comum entre orientais. As roupas eram extremamente enfeitadas e coloridas, chegando a usar belas sedas. FIGURA 3 – INDUMENTÁRIA MASCULINA E FEMININA DA MESOPOTÂMIA FONTE: Adaptada de <https://cutt.ly/WgDOMS6>. Acesso em: 27 out. 2020. Alexandre, o grande. 2004, 175 min. Produção: Alemanha; Estados Unidos; Reino Unido. Direção: Oliver Stone. Observação: por volta dos 65 minutos de exibição do filme, aparece a cidade da Babilônia, onde o acadêmico pode ter uma ideia da cultura e da indumentária mesopotâmica dessa fase da história, além da roupa grega ao longo do filme por se tratar da história do Imperador Alexandre, chamado de O Grande. FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Alexander_(filme)>. Acesso em: 27 out. 2020. DICAS TÓPICO 1 — A INDUMENTÁRIA NA IDADE ANTIGA 189 5 GRÉCIA – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA A região do mar Mediterrâneo é local de muitos povos com importância no processo civilizatório do Ocidente. Ali teremos a disseminação de cultura na forma das artes, das ciências, da filosofia, entre tantas, incluindo a indumentária. Usava-se tecidos em vez das peles de animais visto que o clima era temperado. A base eram grandes pedaços de tecidos “confeccionados em teares manuais e depois costurados, presos por alfinetes ou amarrados de forma a deixá-los drapeados” (LEVENTON, 2009, p. 13). Nos oito séculos que antecederam a era cristã, as vestimentas foram fortemente influenciadas pela interação com as populações vizinhas, principalmente as do Oriente Próximo. Creta é a segunda maior ilha no mar Mediterrâneo e teve o apogeu de sua cultura entre 1750 e 1400 a. C. A vestimenta das mulheres apresentava uma série de babados sobrepostos numa saia longa em formato de sino e cintura bem afunilada. Usavam um tipo de blusa costurada nos ombros, de magas curtas, deixando os seios à mostra, que eram associados à fartura e fertilidade. Na cabeça, usava um tipo de chapéu. A indumentária masculina era bem mais simples, uma tanga com um cinto marcando a cintura, o resto do corpo era desnudo. Usavam o cabelo e a barba compridos, fresados e cacheados. FIGURA 4 – AFRESCO DAS "TRÊS RAINHAS", PALÁCIO DE CNOSSOS, CRETA, GRÉCIA ANTIGA SÉC. XIV A.C. / PRÍNCIPE DOS LÍRIOS FONTE: <https://cutt.ly/FgDPuFK>; <https://cutt.ly/agDPovm>. Acesso em: 27 out. 2020. Lã, linho, algodão e seda eram os tecidos usados na Grécia e, destes, o linho era o mais comum devido ao clima quente. A túnica era uma peça de roupa simples e mais leve, geralmente plissada, que foi usada por ambos os sexos e em todas as idades, constituída de um tubo de largura, retangular, sendo presa nos ombros e braços por elementos de fixação. O quiton (chiton) normalmente tinha caimento até a altura dos tornozelos, porém havia uma variante mais curta que era utilizada por atletas, guerreiros ou escravos e que facilitavam os movimentos mais vigorosos. Nos homens, podia cobrir a perna até metade da coxa, de uso diário, ou descer até os pés, para os momentos cerimoniosos. Adornadas com desenhos geométricos, elas eram usadas para os momentos de festa. Poderia ser usada com pálio. As mulheres costumavam usá-la bem frouxa e mais tarde na forma de um vestido tubular chamado peplo que substitui o quiton feminino. UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA 190 O excesso de tecido é puxado por sobre um cinto, ou correia fixado em torno da cintura e chamado de kolpos. Himation era o nome de uma capa usada como sobretúnica. Dois tipos de quitons, dórico e jônico, assim denominados por suas semelhanças com as colunas de igual nome, foram muito comuns. O quiton dórico é em linho e com mangas, ligado com uma fíbula (um alfinete de segurança) aos ombros e um cinto na cintura. O quiton jônico era sem mangas e feito em lã, mas possuía um cinto também e era um retângulo imenso. Peplos são tecidos quadrados usados pelas mulheres sobre as túnicas que vestiam, antes de surgir o himation. Clâmide era para uso masculino na caça ou fins militares, composto de um retângulo transparente de material de lã. Era usado como capa presa ao ombro direito com broche ou botão, e era comum entre os séculos V a III a. C. como traje militar grego. Usava-se um cinto para amarrar a cintura. Seu uso seguiu até o período Bizantino, porém com um tamanho maior, quase tocando o chão na frente e atrás. FIGURA 5 – QUÍTON MASCULINO E FEMININO; HIMATION; PEPLOS; CLÂMIDE FONTE: <https://cutt.ly/CgDPS63>; <https://cutt.ly/JgDPGsf>; <https://cutt.ly/IgDPH3a>; <https://cutt.ly/TgDPK3q>; <https://cutt.ly/1gDPZKT>. Acesso em: 27 out. 2020. Muitas vezes as mulheres vestiam o strophium, uma espécie de sutiã, usado na altura do peito e por debaixo das roupas, produzido em lã e linho e amarrado entre as omoplatas. Homens e mulheres usavam uma tanga triangular como roupa íntima chamado de perizoma, e as mulheres usavam um xale chamado de epiblema. Como não havia o hábito da costura das roupas, usavam pequenos botões, pinos (chamados de peronai) e broches ou fíbulas para segurar o chiton ou peplo no lugar. Ambos os sexos andavam geralmente descalços dentro de casa, e, normalmente, usavam chinelos, sandálias, sapatos macios ou botas. TÓPICO 1 — A INDUMENTÁRIA NA IDADE ANTIGA 191 FIGURA 6 – DETALHE DE MOSAICO DA VILA ROMANA DEL CASALE NA SICÍLIA, MOSTRANDO USO DO STROPHIUM FONTE: <https://cutt.ly/mgDP3I7>. Acesso em: 27 out. 2020. Ornamentação com joias, penteados elaborados e maquiagem era comum para as mulheres. Pequenos ornamentos de ouro seriam costurados em suas roupas e dariam um efeito de glitter enquanto se moviam. Os gregos usavam coroas, diademas nas cabeças; anéis, pulseiras e braceletes para mãos e braços; brincos nas orelhas; pingentes e colares para os pescoços; e broches que eram presas às roupas. Ouro e prata eram comuns com o acréscimo de pérolas e pedras preciosas ou semipreciosas de maneira decorativa. Quanto mais status, mais elaborados e melhores eram os tecidos femininos. Não se cortavam os tecidos, mas se aplicavam dobras, enrugados e plissados aos pedaços de tecido, e as costuras eram raras. Os tecidos eram tingidos com cores vibrantes, e entre os aristocratas vigorava o roxo por ser o mais difícil de obter, enquanto o amarelo era o mais popular para os cidadãos médios. Já os guerreiros usavam vermelhos para disfarçar a presença do sangue quando estavam feridos. Camponeses usavam cores naturais baratas como verdes, marrons e cinzas. 6 ROMA – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA A sociedade romana era bastante estratificada e as hierarquias eram facilmente perceptíveis estabelecidas pela indumentária. Segundo Leventon (2009), o posicionamento dos indivíduos poderia ser identificado em funçãode uma variedade de fatores, como: qualidade dos materiais, tipo, tamanho, cores das roupas e a forma como eram vestidas. “Era comum, por exemplo, os soldados usarem túnicas mais compridas que as dos homens civis. Os escravos, por outro lado, podiam ser identificados pelos calçados, ou pela ausência deles, já que eram proibidos de vestir os calcci, sapatos romanos de cano alto” (LEVENTON, 2009, p. 31). UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA 192 Valores cívicos e morais, tais como dignidade para os homens e castidade para as mulheres transpareciam no estilo e forma como as peças do vestuário poderiam ser usadas. A vestimenta romana era uma apropriação dos povos vizinhos do Mar Mediterrâneo, e os seus usos foram disseminados ao longo do grande Império que se estendia da Grã-Bretanha e da Espanha até a Armênia, e do Danúbio até o Egito, porém sem nunca impor ou substituir as vestimentas dos povos subjugados. A vestimenta romana foi influenciada pela etrusca e adaptada a partir da grega, como muito desta cultura assim os influenciou. As roupas mais usuais entre os romanos eram as togas oriundas dos etruscos e que se assemelhavam ao himation, usado na Grécia Antiga, caracterizadas como uma evolução da tebena etrusca. Usava-se a túnica e por sobre ela a pesada e volumosa toga. O volume e a sua cor anunciavam o status social de quem a vestia. Costumava ser de lã e tinha o formato de um semicírculo auxiliando a formar um drapeado de maneira densa. Em Roma, vestia-se uma túnica por baixo e a toga por cima. Essa toga era muito volumosa e suas características possibilitavam a identificação do grupo social do portador através do tamanho, forma ou cor da roupa. Segundo Laver (1999, p. 38), “era um traje para as classes superiores, principalmente para os senadores, os quais sempre a usavam branca”. Os meninos a usavam com a borda roxa e era chamada de toga praetexta, que seria substituída em cerimônia ao atingirem a puberdade, pela toga virilis branca. Em momentos de luto, a toga era de cor escura. As meninas usavam a stola a partir do momento em que se casavam. Os homens usavam um saiote simples de linho na fase da Roma Imperial, sendo substituído depois pela túnica costurada, que equivalia ao quíton grego: duas partes de tecido costuradas e vestidas pela cabeça; presas por um cinto na cintura; atingia a altura dos joelhos. Era mais comprida em momentos cerimoniosos. Se nela houvesse mangas, era chamada de dalmática. Se fosse toda bordada seu nome, era túnica palmata. A lacerna era um manto fino, com capuz; ele era aberto na frente, sendo fechado com broche. Na época Império, a lacerna e o pallium, manto grego, foram substituídos quase completamente pela toga. O romano usava a synthesis nas refeições; era uma vestimenta leve que lembrava a túnica simples. Homens usavam barbas e cabelos curtos, alterando o hábito para o barbear-se a partir do século II a. C. No período do imperador Adriano, retorna o costume das barbas. Não havia o hábito de cobrir a cabeça, porém o faziam quando estavam em viagem com um chapéu de abas largas chamado pétaso ou então com o cuculo, que era um capuz. As mulheres cobriam-se com a pala ao saírem de casa, e no caso das viúvas, usavam o ricínio, uma espécie de xale. Mulheres usavam cabelos compridos, cacheados e muitas vezes enfeitados. Elas usavam túnica longa com a stola por cima (com mangas); e no lugar da toga masculina usavam a pella, que era um manto retangular. TÓPICO 1 — A INDUMENTÁRIA NA IDADE ANTIGA 193 FIGURA 7 – ROUPAS ROMANAS 1- Toga. 2- Túnica. 3- Lacerna. 4- Pella. 5- Stola. 6- Pétaso ou cuculo. FONTE: <https://i.pinimg.com/564x/86/3f/5f/863f5f287f44bb23506e40be8cb59f4a.jpg>. Acesso em: 27 out. 2020. Quanto à roupa íntima, as mulheres usavam uma faixa de tecido no peito, sobre os seios, chamada de fáscia peitoral, também conhecida como mamilia, estrófico (strophium), e usavam uma faixa enrolada na altura dos rins, denominada subligáculo, usada igualmente de início pelos homens que depois a abandonam. Joias de tipos variados como pulseiras, anéis, colares, brincos, eram comuns para as mulheres. Todos usavam sandálias. À medida que o Império crescia a influência de outras culturas acontecia com mais intensidade, principalmente a Oriental, que trazia consigo excessos marcantes (BRAGA, 2004). Escravos, plebeus e soldados costumavam usar apenas a túnica sobre o corpo. • Assista ao filme: O Gladiador (2000, 155 minutos). Direção: Ridley Scott Produção: Estados Unidos/Reino Unido. Para saber mais sobre o filme: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Gladiador_(filme). • Assista a série: Roma (Série/2 temporadas / 22 episódios). Produção HBO, RAI 2 e BBC Two. Diversos diretores. Para saber mais sobre a série: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Roma_(s%C3%A9rie). DICAS 194 Neste tópico, você aprendeu que: • As roupas evoluíram para atender a questões práticas no uso e de proteção. • As primeiras roupas foram confeccionadas com peles de animais que se tornavam maleáveis por raspagem e mastigação e foram utilizadas fibras vegetais ou lã para tecer as primeiras roupas em teares de cintura ou de estaca. • Enfeites na cabeça, adornos de orelhas, nariz, boca, cabelos feitos com contas e objetos naturais, tatuagens, pinturas ou marcas fazem parte da estética do corpo e caracterizam distinção entre sexos, faixas etárias e até mesmo classes hierarquizando o espaço social desde a pré-história. • Ötzi foi encontrado em 1991 nos Alpes e serve de estudo para saber como o homem se vestia a cinco mil anos atrás. • Os egípcios cultivavam e faziam tecidos retangulares de algodão e de linho branco, drapeado, transparente e plissado aplicado sobre os corpos femininos e masculinos. Usavam sandálias, perucas, joias feitas com minerais e pedras preciosas coloridas e maquiagens com diversas tonalidades. • Na Mesopotâmia, as vestimentas eram: de pele de animais, saiote de pele com pelo em tufos (também agregados em tecidos como franjas) e tecido artesanal feito de algodão, de lã ou de linho. Homens e mulheres usavam brincos, pulseiras e colares além de barrete frígio na cabeça, botas de bico levantado e roupas enfeitadas e coloridas, incluindo belas sedas. • Entre os gregos pedaços de tecidos de lã, linho, algodão, eram confeccionados em teares manuais e depois costurados, presos por alfinetes ou amarrados de forma a deixá-los drapeados puxados por sobre um cinto, no formato de túnicas (preferencialmente de linho) retangulares, para ambos os sexos. • Ornamentavam-se com joias, penteados elaborados e maquiagem para as mulheres e tingiam os tecidos com cores vibrantes. • A sociedade romana era bastante estratificada e as hierarquias eram perceptíveis pela indumentária influenciada pelos etruscos, e depois adaptada dos gregos, considerando a qualidade dos materiais, tipo, tamanho, cores das roupas e a forma como eram vestidas. Mulheres usavam cabelos compridos, cacheados e muitas vezes enfeitados, joias de tipos variados como pulseiras, anéis, colares, brincos. Sandálias, túnicas e togas eram usadas por ambos os sexos. RESUMO DO TÓPICO 1 195 1 Segundo Jones (2005, p. 24), “o meio ambiente é cheio de perigos, e o corpo precisa ser mantido numa temperatura média para garantir o conforto e a circulação sanguínea. O homem do campo precisa se refrescar, e o pescador ficar seco, o bombeiro precisa de proteção contra as chamas, e o mineiro contra gases tóxicos”. Considerando esse contexto, avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas. I - As roupas evoluíram para atender a requisitos práticos e de proteção. PORQUE II - Toda vez que uma roupa perde um de seus requisitos, novos produtos costumam ser projetados para substituí-la e ela é descartada. A respeito dessas asserções, assinale a opção CORRETA. a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é umajustificativa da I. c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 2 Braga (2004) afirma que um sujeito ao exibir dentes ou garras, além da pele, tirados de um animal feroz fica evidente sua bravura. Sobre a proposição que corresponde ao sentido correto da caça de um animal, associe os itens, utilizando o código a seguir: I - Protege o corpo das intempéries e também como amuleto de proteção. II - Adorna o corpo com a beleza da pele e desenvolvendo distinção. III - Alimenta o corpo com a carne do animal. ( ) Relação existente entre a caça e a comunhão social para manutenção do corpo. ( ) Aspecto psicológico distintivo no grupo e da percepção estética. ( ) Relaciona-se com a necessidade do sujeito em relação ao clima e também dentro da crença/mito. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) III – II – I. b) ( ) II – III – I. c) ( ) I – II – III. AUTOATIVIDADE 196 d) ( ) I – III – II. e) ( ) II – I – III. 3 Entre os egípcios da Antiguidade Clássica, era generalizado o uso do linho branco, considerado mais puro, empregado com drapeados, transparências e plissados. Aconteceram mudanças mínimas em um período de mais ou menos 3.000 anos, mantendo as maneiras vestimentárias estáticas. A respeito da moda deste período, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Kalasíris é uma túnica longa usada por homens e mulheres e era semitransparente deixando ver por baixo o chanti masculino. ( ) Chantili é um traje característico masculino, formando uma espécie de tanga, presa por um cinto, sendo pregueado e engomado para os faraós e as vezes recebia bordados. ( ) A túnica usada por cima da túnica kalasíris, que tinha um efeito plissado, era transparente e denominada haik real. ( ) Um pedaço de tecido amarrado sobre a cabeça com as laterais soltas é denominado claft. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) V – V - F – F. c) ( ) F – V – F – F. d) ( ) F – F – V – V. e) ( ) V – F – V – V. 4 Lã, linho, algodão e seda eram os tecidos usados na Grécia e, destes, o linho era o mais comum devido ao clima quente. A túnica era uma peça de roupa simples e mais leve, geralmente plissada, que foi usada por ambos os sexos e em todas as idades. Assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Quiton era uma peça de roupa usada por atletas, guerreiros ou escravos sendo uma variante mais curta, na altura das coxas, que facilitava os movimentos mais vigorosos, diferente da dos demais homens gregos. b) ( ) Himation era o nome de uma capa usada como sobretúnica. c) ( ) Quiton dórico era feito em linho e com mangas, ligado com uma fíbula aos ombros e um cinto na cintura. d) ( ) Quiton jônico era feito sem mangas e em lã, na forma de um retângulo imenso, com um cinto na cintura. e) ( ) Ciclâmide era para uso masculino na caça ou fins militares, composto de um retângulo transparente de material de lã. 5 Segundo Leventon (2009), na sociedade romana o posicionamento dos indivíduos poderia ser identificado em função de uma variedade de fatores evidentes nas roupas, como: qualidade dos materiais, tipo, tamanho, cores e a forma como eram vestidas. Com base no exposto, disserte acerca deste posicionamento. 197 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A Idade Média inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna (entre os séculos V e XV) e situa-se entre o período da Antiguidade e da Idade Moderna, sendo dividia em Alta e Baixa Idade Média. O Império Romano do Ocidente dá claros sinais de sua queda no século IV, perceptível em função das invasões bárbaras, principalmente pelos povos germânicos, que vinham invadindo as fronteiras para dentro do Império. Constantino transfere a capital para Bizâncio, que passa a se chamar Constantinopla. O cristianismo está em alta com a construção de belos templos executados com decorações internas esplendorosas em mosaico, apesar da simplicidade externa. Sofreram forte influência das culturas egípcias, persas, gregas e romanas. No período medieval europeu, denominado Românico, a roupa vem mais ajustada aos corpos. Os Cruzados permitiram um intercâmbio de tecidos com o Oriente dando espaço para a seda, o veludo, e o cetim, bem como trouxeram tecnologia mais avançada de teares. Mulheres das classes altas passaram a usar corpetes, modelados e justos até os quadris. Eles possuíam amarrações para fechamento nas costas. As saias eram amplas chegando até aos pés, com cintura ornada em ouro e joias. Sobreposições de vestidos possibilitavam usar um por baixo mais justo e comprido e com barra decorada ao contrário do de cima que era largo e curto. Homens passaram a usar meias feitas em lã ou linho, coloridas, e calções chamados de braies, que eram amarrados na cintura por cadarços. As túnicas eram curtas e se transformaram no gibão, e os calções diminuíram seu tamanho para mostrar as pernas cobertas por meias justas. A moda europeia sofre influência direta dos modos bizantinos. TÓPICO 2 — INDUMENTÁRIA NA IDADE MÉDIA • Assista ao filme: O Físico. (2013, 150 minutos). Direção: Philipp Stölzl. Produção: Alemanha. Para saber mais sobre o filme: https://pt.wikipedia.org/wiki/ O_F%C3%ADsico_(filme). • Assista ao filme: Irmão Sol, irmã Lua. (1972, 135 minutos). Direção: Franco Zeffirelli. Produção: Reino Unido/Itália. Para saber mais sobre o filme: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Brother_Sun,_Sister_Moon. DICAS 198 UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA 2 BIZÂNCIO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA Em 330 d.C. Bizâncio se torna a capital do Império Romano, estrategicamente localizada entre a Europa e a Ásia, na rota comercial de então. A indústria da seda produzia tecidos de alta qualidade e cobiçados apesar dos elevados preços. Intensamente estampados, com fios de ouro, eram exportados até a Itália. A influência romana sobre a indumentária bizantina permaneceu por séculos. Após a invasão dos bárbaros e a consequente queda do Império Romano do Ocidente, o Império Romano do Oriente ou o Império Bizantino desenvolve- se de maneira independente e passam a ditar as regras da moda vestimentária. Lã, algodão e linho, além das sedas eram os tecidos mais usados. A classe alta se vestia com túnicas bastante decoradas, feitas de seda e bordadas com fios de ouro e prata, que acompanhavam perolas e pedras preciosas que decoravam o visual. As cores mais empregadas eram o azul, vermelho e o dourado. Os bordados representavam cenas religiosas, motivos florais e animais. As mais belas sedas eram reservadas à família imperial. As túnicas simples estavam destinadas às pessoas das classes mais baixas junto a mantos retangulares. Tanto a corte quanto os imperadores usavam uma manta sobre as túnicas. O imperador e a imperatriz ainda usavam um longo tecido em volta do pescoço como um cachecol e os nobres passaram a usar meias calças. A moda Bizantina se espalha pela Europa e o hábito de fazer as roupas de maneira doméstica passa a ser delegado a pequenos artesãos que se especializam na fabricação das roupas e tornam-se cada vez mais hábeis na qualidade delas, aprimorando o cortar, ajustar e decorar. A vestimenta é executada sob medida. Logo, passam a importar a seda do Extremo Oriente e a produzir as roupas com esses tecidos finos, que só poderiam ser usados pelos altos funcionários da corte. As túnicas femininas foram adaptando-se a um vestido firmemente atado ao corpo na parte superior. As túnicas masculinas e femininas passaram a ter mangas até os punhos e os homens passaram a usar meias. Os sapatos eram confeccionados em seda e recebiam inúmeros bordados com aplicação de pérolas e pedrarias. Mantinham o corte de cabelo curto e franjado, barba e bigode eram bem aparados. Usavam apenas o barretefrígio sobre a cabeça, enquanto as mulheres usavam elaborados penteados ou então turbantes ao estilo Oriental. • Assista ao filme: O Moinho e a Cruz. (2011, 92 minutos). Direção: Lech Majewski. Produção: Polônia/Suécia. Para saber mais sobre o filme: https://pt.wikipedia.org/wiki/ The_Mill_and_the_Cross. TÓPICO 2 — INDUMENTÁRIA NA IDADE MÉDIA 199 FIGURA 8 – VESTIDOS FEMININOS; TRAJE DE CASAMENTO; PENTEADOS FEMININOS BIZANTINOS FONTE: <https://cutt.ly/vgDDUKU>; <https://cutt.ly/GgDDObU>; <https://cutt.ly/0gDDAQ4>. Acesso em: 27 out. 2020. • Assista ao filme: A Conquista de Constantinopla (Fetih 1453). (2012, 160 minutos) Direção: Faruk Aksoy. Produção: Turquia. • Para saber mais sobre o filme: https://es.wikipedia.org/wiki/Fetih_1453. DICAS 3 PERÍODO GÓTICO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA Cada vez mais a moda é um diferenciador, tanto no posicionamento social quanto na sazonalidade, valorizando a individualidade dos sujeitos e distinguindo sexos. A permanência do uso de determinada roupa variava em função do tempo em que as classes mais abaixo levavam para copiar ou adaptar essas roupas das classes mais altas. O estilo anterior, denominado Românico, com aspecto pesado, campesino e horizontalizado, cede lugar ao imponente, urbano e verticalizado estilo gótico. O período denominado de Gótico traz volumes muito grandes de tecidos, marcando uma opulência têxtil. Essa opulência é fruto do desenvolvimento urbano, com a criação das grandes praças centrais com comércio variado sendo implantado, igualmente às técnicas agrícolas, que permitem o intercâmbio comercial e o crescimento das cidades, onde novos poderes monárquicos são constituídos e as corporações de ofício (guildas), tomam forma e propiciam o progresso urbano. É o início da fase das construções de grandes catedrais, rivalizando com cidades e regiões vizinhas ambientado no crescimento do poder da Igreja e da autoridade Papal. No final do século XI o Papa Urbano II promove as Cruzadas em direção ao Oriente com a finalidade de salvar os lugares considerados sagrados para os Cristãos. 200 UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA FIGURA 9 – BRASÕES 1- São Sepulcro. 2- Malta. 3- Templo. 4- Santiago da Espada. 5- Teutônico; indumentária dos cruzados. FONTE: <https://mundoemanalise.files.wordpress.com/2016/07/cruzados.jpg>; <http://grupoevolucao.com.br/livro/Historia1/cruzadas1.png>. Acesso em: 27 out. 2020. O gótico é considerado o primeiro grande estilo ligado aos primórdios da moda. Refere-se à cultura medieval, que passa a receber uma atenção diferenciada, buscando uma estética elevada, de grandiosidade, teocentrista na arquitetura das catedrais, e orientalista no uso dos tecidos e influências orientais. As cortes europeias mesmo distintas buscaram aproximações vestimentárias. A silhueta feminina passa a ser valorizada com roupas mais marcantes, vestidos com abotoamento lateral e que acentuavam a verticalidade, que é tão evidente nas altas torres das catedrais. As mangas eram justas com pontas longas que poderiam chegar até ao chão, sendo impedidas com um nó. Vestidos com caudas que se arrastavam, saias amplas e sobreposição de saia larga e volumosa sobre outra justa e mais curta, chapéus altos com véus transparentes saindo de suas pontas. A silhueta era delicada com pele bem clara para as classes altas. Usavam a barbette, que era um tecido enrolado em volta da cabeça e arcos com cones para fazerem elaborados penteados córnicos ou corniformes. Para os homens houve mudanças bastante visíveis também, como o encurtamento das roupas, o uso de meias confeccionadas de lã ou de linho, com a possibilidade de serem coloridas com cores diferentes para cada perna, bem como o uso de calções longos chamados de braies, que eram presos na cintura por um cadarço, assim como as túnicas encurtaram e se transformaram no gibão. Assista ao filme: Cruzada. Direção: Ridley Scott. Lançamento: 2005. 3h 14m. Para saber mais sobre o enredo: https://pt.wikipedia.org/wiki/Kingdom_of_Heaven. DICAS TÓPICO 2 — INDUMENTÁRIA NA IDADE MÉDIA 201 Os sapatos eram confeccionados com bicos pontudos tanto para homens quanto para mulheres. Entre os nobres eram comuns nos séculos XIV e XV. Foi necessário criar leis suntuárias para regular o comprimento dos bicos nos sapatos masculinos. A figura do mestre alfaiate passa a ser cada vez mais popular e a aristocracia já não produz mais as vestimentas em casa. Busca-se cada vez mais os profissionais especializados nas guildas. FIGURA 10 – ORIENTALIZAÇÃO E VERTICALIZAÇÃO DAS ROUPAS; TRAJES MASCULINO E FEMI- NINO; BARBETTE FONTE: <https://cutt.ly/5gDFlHF>; <https://cutt.ly/XgDFxfw>; <https://cutt.ly/VgDFcTz>. Uma nova classe social financeiramente bem-sucedida surge com condições de copiar as roupas da aristocracia, na medida em que tinham acesso aos produtos que transitavam na linha Oriente/Ocidente. Os nobres, por não gostarem de ser copiados, começaram a diferenciar suas roupas, sempre com novas ideias, proporcionando um ciclo de criação e cópia, que passa a ser renovado e alterado e, com isso, novamente copiado. O ciclo doravante não mais se interromperá. O alicerce da ideia da moda está lançado. FIGURA 11 – DIFERENTES TRAJES DO PERÍODO GÓTICO FONTE: <https://cutt.ly/wgDFY4D>. Acesso em: 27 out. 2020. Desta forma, acadêmico, considera-se que a moda como conhecemos hoje em dia, surge a partir deste período. 202 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • O Império Romano do Ocidente tem sua queda no século IV, em função das invasões bárbaras e a capital é transferida para Bizâncio que tem influência das culturas egípcia, persa, grega e romana. • No período medieval, denominado de Românico, os Cruzados propiciaram o intercâmbio de tecidos com o Oriente: seda, veludo, cetim, e também trouxeram tecnologia avançada de teares. Mulheres usavam corpetes, modelados e justos até os quadris, com amarrações de fechamento nas costas, saias amplas até os pés e sobrepondo vestidos, amplo por cima de um justo. Homens passaram a vestir meias de lã ou linho, coloridas, calções amarrados na cintura por cadarços, túnicas curtas. • A classe alta de Bizâncio se vestia com túnicas (azuis, vermelhas ou douradas) bastante decoradas, de seda e bordadas com fios de ouro e prata representando cenas religiosas, motivos florais e animais, acompanhadas de pérolas e pedras preciosas, que também eram aplicados aos sapatos de seda. As túnicas femininas foram presas firmemente ao corpo na parte de cima, com mangas até os punhos e os cabelos enfeitados por turbantes ou penteados elaborados. • A permanência do uso de determinada roupa variava em função do tempo em que as classes mais abaixo levavam para copiar ou adaptar essas roupas das classes mais altas. Os nobres, por não gostarem de ser copiados, começaram a diferenciar suas roupas, sempre com novas ideias, proporcionando um ciclo de criação e cópia que passa a ser renovado e alterado e com isso novamente copiado, dando início ao que se chama moda. • O estilo anterior denominado de românico com aspecto pesado, campesino e horizontalizado cede lugar ao imponente, urbano e verticalizado estilo gótico que traz volumes muito grandes de tecidos, marcando uma opulência têxtil, fruto do desenvolvimento urbano e o estabelecimento do comércio variado através das guildas e corporações de ofício percebido na silhueta feminina com roupas acentuando e marcando na verticalidade os vestidos com abotoamento lateral, com mangas justas e pontas longas até ao chão, com caudas que se arrastam e chapéus altos com véus transparentes saindo de suas pontas. • O mestre alfaiate passa a ser procurado pela aristocracia, que já não produz mais as vestimentas em casa, assim como foram criadas leis suntuárias para regular as vestimentas, como no caso o comprimento dos bicos nos sapatos masculinos. 203 1 O Império Romano do Ocidente dá claros sinais de sua queda no século IV, em função das invasõesbárbaras, principalmente pelos povos germânicos, que vinham avançando nas fronteiras para dentro do Império. A Idade Média inicia-se com a queda do Império Romano do Ocidente e termina na transição para a Idade Moderna (entre os séculos V e XV), e situa-se entre o período da Antiguidade e da Idade Moderna, sendo dividida em Alta e Baixa Idade Média. De acordo com a afirmação, disserte sobre este momento de realocação do império e o advento do estilo bizantino. 2 A respeito da moda do período bizantino, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) As túnicas femininas bizantinas foram se adaptando para um vestido firmemente atado ao corpo na parte superior, deixando seios à mostra, mas com mangas até os punhos. ( ) Os sapatos bizantinos eram confeccionados em seda e recebiam inúmeros bordados com aplicação de pérolas e pedrarias. ( ) Os homens de Bizâncio passaram a usar meias, mantinham o corte de cabelo curto e franjado, barba e bigode eram bem aparados. ( ) Homens bizantinos usavam o barrete frígio sobre a cabeça, enquanto as mulheres usavam elaborados penteados ou então turbantes ao estilo Oriental. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F – V. b) ( ) V – V - F – F. c) ( ) F – V – F – F. d) ( ) F – V – V – V. e) ( ) V – F – V – V. 3 O período denominado de Gótico traz volumes muito grandes de tecidos, marcando uma opulência têxtil. Essa opulência é fruto do desenvolvimento urbano, com a criação das grandes praças centrais com comércio variado. Igualmente às técnicas agrícolas, permitem o intercâmbio comercial, o crescimento e o progresso das cidades. Com base no exposto, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) O gótico é considerado o primeiro grande estilo ligado aos primórdios da moda. b) ( ) Os homens usavam barbette, um tipo de barba longa e fresada. c) ( ) A silhueta feminina segue a verticalidade das catedrais. d) ( ) Os homens usavam calções longos chamados de braies que eram presos na cintura por cadarço. e) ( ) Os sapatos eram confeccionados com bicos pontudos para homens e mulheres. AUTOATIVIDADE 204 4 As cortes europeias mesmo distintas entre si buscaram aproximações vestimentárias durante o período Gótico. Descreva a moda indumentária feminina do período. 5 A figura do mestre alfaiate passa a ser cada vez mais popular e a aristocracia já não produz mais as vestimentas em casa. Analise as afirmativas a seguir, tendo por base a moda do período gótico. I - A transferência da produção das roupas para o alfaiate se estabiliza como prática em função do crescimento das corporações de ofício e as guildas ligadas a elas e a validação da qualidade do trabalho destas. II - Os nobres por não gostarem de ser copiados, começaram a diferenciar suas roupas, sempre com novas ideias, proporcionando um ciclo de criação e cópia. III - Foi necessário criar leis suntuárias para regular a altura dos saltos nos sapatos masculinos. IV - Os sapateiros produziam os calçados masculinos com um bico pontudo muito comuns entre os nobres dos séculos XVI e XVII. V - Meias confeccionadas de lã ou de linho, com a possibilidade de serem coloridas faziam parte da indumentária gótica feminina. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) As afirmativas I e IV estão corretas. c) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. d) ( ) As afirmativas IV e V estão corretas. e) ( ) As afirmativas II e IV estão corretas. 205 UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Com o crescimento da produção, o consumo também crescia, fazendo surgir novas indústrias de roupas e os produtos relacionados a elas. A moda pronta para tamanhos padronizados veio crescendo desde o século XVI para acessórios e também trajes completos. Os itens populares também tiveram um aumento de produção acelerando os ciclos da moda, principalmente com relação à moda feminina. A França dominava o mercado dos tecidos e materiais de luxo e ditava as regras no século XVII, exceto para a moda masculina que passa a ser regrada pela Inglaterra a partir do final do século XVIII. A Revolução Indústrial começa também neste século na Inglaterra impulsionado pela invenção da lançadeira volante, que era adaptada aos teares manuais e o surgimento da primeira máquina de fiar totalmente automática (LEVENTON, 2009). 2 RENASCIMENTO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA Renascimento foi o nome dado ao movimento cultural que se inicia na Itália, em Florença, e vai lentamente se espalhando pela Europa, reorganizando a estética vigente e introduzindo um novo estilo. Outras cidades logo se tornaram forte influência como Veneza, Milão, Genova e Luca que eram responsáveis por fabricação de tecidos de primeira qualidade como brocados, veludos, cetins e sedas. Diferente do olhar voltado para Deus e para as coisas relacionadas à Igreja tão enaltecidas durante a Idade Média, vemos uma nova postura com relação ao homem, um olhar para si mesmo, onde a beleza do corpo passa a ser explorada e a nudez ser um tema importante também. O espírito do período Clássico Antigo é retomado. A economia seguia se fortalecendo com uma sociedade que tinha acesso às coisas boas da vida. A classe comerciante e dos profissionais liberais enriquecia e assumia uma nova posição social. As novidades chegavam de lugares cada vez mais distantes através dos navios que cruzavam os oceanos promovendo o comércio mundial e as descobertas dos povos e suas culturas em novos continentes. Tudo isso ajudou a promover mais ainda a diferenciação social. As universidades promoviam e disseminavam o conhecimento. Literatura, pintura, escultura, mobiliário, arquitetura promoviam a nova configuração estilística que influenciaria a indumentária. TÓPICO 3 — INDUMENTÁRIA NA IDADE MODERNA 206 UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA Na indumentária masculina, o gibão, na maioria das vezes, era acolchoado e usado com ou sem mangas, abotoado na frente e com uma basque sobre o calção. A jacket ou uma túnica aberta na frente com grande panejamento era usada sobre o gibão. O codpiece era um suporte para o pênis e servia para adornar e exibir a virilidade masculina. Usavam meias coloridas com características diferentes para as pernas. Uma poderia ser lisa e a outra listrada. Uma de uma cor na frente e outra atrás. Os cortes e recortes nas meias e calções eram feitos para exibir os tecidos (forros) que havia por baixo, que eram puxados pelas aberturas que simbolizavam os cortes feitos pelas espadas nas batalhas. Esse tipo de vestimenta era chamada de landsknecht, vigorava principalmente entre a indumentária masculina, vindo da Alemanha e Suíça para a Inglaterra e de lá se espalhou para o resto da Europa. FIGURA 12 – LANDSKNECHT; OS CINCO LANSQUENETES. GRAVURA DE DANIEL HOPFER, C. 1530 FONTE: <https://cutt.ly/ogDHtXF>;<https://cutt.ly/AgDHuD5>. Acesso em: 27 out. 2020. Usavam uma gola volumosa em torno do pescoço chamada de rufo e que tinha a forma de uma roda. Era elaborada em tecido fino, engomado, branco na maioria das vezes inclusive rendado e amarrado ao pescoço. Poderia ser extremamente exagerado e significar prestígio social maior em razão disso, sendo usado por homens e mulheres. Lentamente, as mulheres abriram o rufo na parte da frente revelando o colo de maneira sedutora transformando-o em uma grande gola rendada e armada. O chapéu mais comum da época era o barrete. Camponeses e pessoas de classes intermediárias não poderiam exibir a extravagância da indumentária da corte. Algumas cores eram proibidas para as camadas baixas, assim como era vedado para as intermediárias o uso de fios de ouro e prata. As chamadas leis suntuárias vieram estabelecer os limites entre as diversas classes estabelecendo diversas regras. TÓPICO 3 — INDUMENTÁRIA NA IDADE MODERNA 207 Os cidadãos que prosperavam possuíam uma schaube, um sobretudo com formato de batina normalmente sem mangas e frequentemente forradocom peles. O reformador alemão Martin Luther usava este traje que se estabeleceu como um traje luterano por conta disso. As cortes europeias estabelecidas tinham sua própria identidade indumentária, com hábitos de cobrir e adornar os corpos, porém as influências italianas dão lugar a outras vindas da Alemanha, França, Espanha e Inglaterra. Os casamentos promoviam essas influências. FIGURA 13 – CASAL, MASCULINO GOLA CAÍDA E FEMININO COM GOLA DE RUFOS; TRAJE FEMINI- NO COM RUFO ENGOMADO AO PESCOÇO; TRAJE MASCULINO (REI CARLOS V DA ESPANHA) FONTE: <https://cutt.ly/wgDHdc5>; <https://cutt.ly/9gDHgAy>; <https://cutt.ly/VgDHjwb>. Acesso em: 28 out. 2020. A vestimenta das mulheres era uma túnica considerada a roupa de baixo e chamada de chemise, possuía mangas amplas e punhos apertados. Usavam, ainda, corpete afunilado feito de uma estrutura rígida, mas que não era muito apertado, mas evidenciava a silhueta feminina de maneira sensual, visto que mulheres mais gordas estavam na moda, mostrando o colo com os decotes amplos, na maioria das vezes quadrados, deixando levemente à mostra os ombros. Além disso, usavam a saia de formato cônico encaixada por sobre uma armação privando-as da liberdade de movimentos. As mangas podiam ser anexadas ao corpete com laços ou botões e possuíam cortes para evidenciar tecidos coloridos usados por debaixo, além de ombros bufantes, que eram apertadas dos pulsos até o cotovelo. Os adornos incluíam leques, luvas, joias como anéis, colares, brincos, tiaras, e enfeitavam os cabelos com flores, fitas e lenços, tranças e mesclavam os cabelos lisos com cacheados. Costumavam usar o preto no cotidiano. Os tecidos eram veludos, brocados e sedas que eram combinados com pérolas, rubis, diamantes e outras pedrarias de valor. Uma pequena bolsa retícule serve para carregar pequenos objetos considerados indispensáveis para as mulheres. Na França, são chamadas de ridicules. 208 UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA Segundo Cox, Jones e Stafford (2013, p. 18), “as verdugadas, ficaram famosas como a moda mais desajeitada e incômoda da História”. Apareceram na Espanha no século XV com as damas da corte, que começaram a armar as volumosas saias com cordas e varas verdes de junco ou salgueiro (chamadas de verdugos). Em pouco tempo, esse formato passou por avanços tecnológicos na estruturação, envolvendo aros feitos de arame, madeira ou barbatana de baleia para levantar e abrir as saias mantendo rigidez na postura, e ao mesmo tempo afastando os indesejados. Na Inglaterra foi chamado de farthingale, e na França surge uma variante menos opulenta, o roll farthingale (ou bum rolls) que era uma espécie de anquinha acolchoada em forma de salsichão amarrado à cintura com fitas que ficava ao redor do quadril por baixo das saias (COX, JONES; STAFFORD, 2013). FIGURA 14 – TRAJES FEMININO Retrato em óleo sobre tela, de 1557, de Bianca Ponzoni Anguissola por Sofonisba Anguissola, mostrando sua mãe, está na Gemäldegalerie, Berlim. Rainha Margarita da Áustria em óleo sobre tela de 1609 por Bartolomé Gonzáles, está no Museu do Prado, Madri. Mulher com véu. FONTE: <https://cutt.ly/RgDHRlU>; <https://cutt.ly/RgDHYxf>; <https://cutt.ly/EgDHI6Q>; <https://cutt.ly/egDHPW5>. Acesso em: 27 out. 2020. • Assista ao filme: Artemisia. (1997, 97 minutos) Produção: França, Alemanha e Itália. Observação: Biografia de Artemisia Gentileschi (1593-1653), uma das primeiras mulheres a serem reconhecidas no mundo das artes. Para saber mais sobre o filme: https://en.wikipedia.org/wiki/Artemisia_(film). • Assista ao filme: Os Bórgias (2011-2013 – Série/3 temporadas). Direção: Neil Jordam. Produção: Canadá/Hungria/Irlanda. Para saber mais sobre a série: https://pt.wikipedia. org/wiki/The_Borgias. • Assista ao filme: Os Tudors (2007-2010 – Série/4 temporadas – 38 episódios). Direção: Michael Hirst. Produção: Reino-Unido/Irlanda. Para saber mais sobre a série: https:// pt.wikipedia.org/wiki/The_Tudors. DICAS TÓPICO 3 — INDUMENTÁRIA NA IDADE MODERNA 209 3 BARROCO – ASPECTOS GERAIS E INDUMENTÁRIA No século XVII assistimos a ascensão da França no cenário europeu, como uma potência e em contrapartida na Inglaterra acontece a luta pelo poder político entre monarquia e parlamento. Esse cenário influencia o espaço social e a maneira como as pessoas se vestem e vivem. A classe média ascende com vigor, assim como se tornam extremamente visíveis às diferenças entre o luxo católico e a simplicidade protestante. Segundo Mackenzie (2010, p. 12), a moda barroca “era rígida, ornada e formal. Tecidos pesados exibiam desenhos curvilíneos, típicos das artes decorativas do período”. A maioria dos países adota cores escuras, que acentuam o contraste com o claro. Essa diferença na arte barroca enfatiza a dramaticidade, extravagância e considera, ainda, a Contra Reforma, que reforçava as diferenças religiosas. A arte das igrejas se torna extremamente luxuosa com muitos anjos e decoração, lembrando formas florais simétricas com muito dourado feito com ouro puro. As monarquias absolutistas e a Reforma Protestante dão o tom deste período mantendo a maneira da indumentária renascentista, porém com mais detalhes e algumas mudanças, preservando as formas bem marcadas e algum desconforto. O corpo passa a ficar encoberto e as transparências desaparecem do vestuário feminino. O rufo cede lugar à gola caída, bordados com fios de ouro e prata, babados e mangas bufantes. Veludos, linho e rendas eram os tecidos mais usados. Segundo Mackenzie (2010, p. 12), Luís XIV (1667-1715) “dominou o período e suas escolhas indumentárias ditavam moda. Com gostos por interiores e vestuário suntuosos, o soberano encorajava a corte a seguir suas extravagâncias – o que levou muitos a falência. Luís XIV ganhou, assim, a alcunha de ‘rei consumista’”. A indumentária popular feminina ficou menos extravagante. A cintura deixou de ser tão marcada, prevendo mais liberdade aos movimentos tanto para as donas de casa quanto para as camponesas. Os vestidos ficaram mais curtos e com tonalidades mais vibrantes. A vestimenta popular masculina segue a linha das mulheres buscando por mais conforto para as atividades cotidianas. Toucas eram comuns entre ambos os sexos e mantinham os cabelos presos. A França, sob o reinado de Luís XIV (1643-1715), estabelece-se como o mais poderoso monarca e consequentemente a nação mais poderosa também. Transformou a França em potência econômica quando decide não mais importar produtos, passando a fabricá-los e a exportar para o resto da Europa. Ele criou artigos de luxo exportando rendas, sedas, fitas e perucas. Passaram a ser referência e vender tendência para as demais regiões europeias. Saias moldadas por armações e mangas cheias e bufantes que cobriam os braços, deram lugar a mudanças por volta de 1620, encurtando mangas e deixando os braços visíveis depois de centenas de anos escondendo os mesmos. Usava-se uma camisa rendada de mangas longas por baixo. Sob as amplas saias usavam anáguas decoradas com rendas e babados que ficavam aparentes por conta da pouca altura da saia ou então de uma abertura frontal. 210 UNIDADE 3 — HISTÓRIA DA INDUMENTÁRIA Uma sobreveste simples em forma de T, chamada de mantua, era usada pelas mulheres no final do século XVII. Ela ia dos ombros ao chão, com a saia presa nas laterais dando o aspecto de uma cauda longa, de cor própria ou contrastante. Para completar, corpetes em silhueta V e decotes mais fechados, que cobriam os ombros, e o rufo, cobrindo o colo. O vestuário masculino sofreu transformação maior, partindo da ostentação de laços, fitas e panos cascateados do período inicial e mediano do Barroco, para um estilo mais rígido e estofado. A principal inovação ficou por conta da adoção do traje formado pelo conjunto de três peças: casaco, colete e calções, que era baseado no vestuário tradicional persa e que seria o precursor do terno moderno. Cabelos arrumados era essencial para homens e mulheres. Homens