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Material elaborado por Priscila Cysneiros DIREITO CIVIL Aula 7 Professora Roberta Queiroz AULA 7 Parte 1/4 - Pessoa Jurídica Veremos, na aula de hoje, os arts. 40 a 69 do Código Civil. Você vai perceber que alguns desses dispositivos sofreram alteração, recentemente, pela Lei de Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/2019). Portanto, fique atento(a)! Na nossa primeira aula sobre pessoa natural, fizemos algumas considerações sobre sujeitos de direito. Mais especificamente, gostaria que você se lembrasse que, dentre os sujeitos sem personalidade jurídica, temos a denominada sociedade irregular ou de fato. Lembre-se que o condomínio não é considerado pessoa jurídica no ordenamento jurídico brasileiro. Ter CNPJ não significa que é pessoa jurídica. Basta lembrar dos órgãos @profrobertaqueiroz Material elaborado por Priscila Cysneiros públicos (decorrentes da desconcentração administrativa), por exemplo, que, embora não possuam personalidade jurídica, têm CNPJ. Também é bom lembrar que a pessoa natural passa a existir a partir do seu nascimento com vida, enquanto, a pessoa jurídica, a partir do seu registro. A pessoa jurídica tem o intuito de facilitar as relações humanas. Necessidade ou conveniência de os indivíduos unirem esforços e utilizarem recursos coletivos para a realização de objetivos comuns, que transcendem as possibilidades individuais. “... personalidade ao grupo, distinta da de cada um de seus membros, passando este a atuar na vida jurídica com personalidade própria.” Arnoldo Wald O Código Civil adota a expressão “pessoa jurídica”, mas também temos outras denominações: Pessoas civis, morais, coletivas, abstratas, místicas, fictícias, ENTE DE EXISTÊNCIA IDEAL (Teixeira de Freitas) É muito comum encontrarmos na doutrina clássica o termo “ente de existência ideal”. Enquanto a pessoa natural tem uma existência efetiva, a pessoa jurídica é totalmente virtual, abstrata. A pessoa jurídica é, portanto, proveniente desse fenômeno histórico e social. Consiste num conjunto de pessoas ou de bens dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei para a consecução de fins comuns. Pode-se afirmar, pois, que pessoas jurídicas são entidades a que a lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações. Carlos Roberto Gonçalves Material elaborado por Priscila Cysneiros Art. 49-A, CC/02. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores. Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos. ➢ Relevância prática Quando falamos em sociedade irregular ou de fato, imagine a seguinte situação: eu convido o Samer Agi para abrir um curso jurídico comigo, mas ele diz que não quer criar uma pessoa jurídica. Assim, apenas abrimos o curso, sem qualquer registro. Quando você olha para nós, vê apenas Roberta e Samer. Agora, imagine que nós decidimos registrar essa pessoa jurídica. Como vimos, essa pessoa jurídica passará a existir a partir do seu registro. Assim, teremos uma pessoa jurídica que NÃO se confundirá com seus sócios (art. 49-A, CC). Agora, quando você olhar para nós, não verá Samer e Roberta, mas, sim, uma pessoa bem maior, que é a pessoa jurídica. Por isso é que existe a denominação de “sociedade irregular” ou “sociedade de fato”: ela só existe no mundo dos fatos. Imagine, agora, que, no nosso primeiro exemplo, da sociedade irregular, eu e o Samer decidimos contratar a Lorena para ensinar no nosso curso. Ela ministra as aulas e nós não pagamos. E agora? A demanda ajuizada por ela terá no seu polo passivo Roberta e Samer. Isto porque, em uma sociedade irregular, temos a característica da responsabilidade ilimitada dos sócios, não havendo o “manto protetor” da personalidade jurídica. No caso do segundo exemplo, onde temos uma pessoa jurídica, imagine que ela se chama “CP Iuris”. A Lorena é contratada para ministrar as aulas e não recebe pelo seu trabalho. Nesse cenário, ela deverá ajuizar a sua demanda em desfavor do “CP Iuris”. Assim, o “CP Iuris” é sujeito de direito com personalidade jurídica. Material elaborado por Priscila Cysneiros Se o “CP Iuris” não tiver dinheiro para pagar essa dívida, o juiz abrirá uma “fenda” nesse “manto protetor” (pessoa jurídica) e atingirá o patrimônio individual das pessoas naturais que integram essa pessoa jurídica (Roberta e Samer). Ele, então, sai, fecha esse “manto protetor”, e finge que nada aconteceu. Isso é o que chamamos de “desconsideração da personalidade jurídica”. A desconsideração da personalidade jurídica, portanto, não extingue a personalidade jurídica. Veja que, no nosso exemplo lúdico, eu falei que o juiz apenas abre uma fenda e depois fecha. Ele não retira completamente o manto da personalidade jurídica. Sendo assim, sempre que a prova afirmar que a desconsideração da personalidade jurídica gera a despersonificação, está ERRADO! Despersonificar seria o ato de extinguir a pessoa jurídica, e não é isso que acontece. A desconsideração é TEMPORÁRIA. Depois, tudo volta a ser como era antes. Material elaborado por Priscila Cysneiros Parte 2/4 ➢ Teorias explicativas da pessoa jurídica (natureza jurídica) Corrente negativista Corrente afirmativista Expoentes: Brinz, Bekker, Planiol e Duguit. Negava a figura da pessoa jurídica. Tratava- se no máximo de um condomínio ou patrimônio coletivo, reunião de pessoas físicas, sem autonomia. NÃO é adotada no Brasil! Corrente que prevaleceu. Aceitava e reconhecia a pessoa jurídica como sujeito de direito. Dentro dessa corrente, há três teorias básicas: a Teoria da Ficção (Savigny); a Teoria da Realidade Objetiva ou Organicista-sociológica (Clóvis Beviláqua); e a Teoria da Realidade Técnica (Francesco Ferrara e Hans Kelsen) • Teoria da ficção: Windscheid e Savigny. Para esta teoria, a pessoa jurídica, mero produto da técnica jurídica, teria uma existência apenas abstrata ou ideal. Reconhecia pessoa jurídica como um ente abstrato, fruto da técnica jurídica pura, sem existência social. Carece de realidade. Sua existência só encontra explicação como ficção da lei. (fruto do direito) • Teoria da realidade objetiva ou organicista: Lacerda de Almeida, Beviláqua. É o contraponto da primeira, negando a pessoa jurídica como fruto da técnica do direito, afirmando-a sociologicamente como um organismo social vivo e de interação na sociedade. Baseada no organicismo-sociológico, a pessoa jurídica não seria uma mera criação do direito, mas sim um organismo vivo com atuação social, fruto da sociologia pura. As pessoas jurídicas são, assim, corpos sociais que o direito não cria, mas limita- se a declarar existentes. (aspecto social) Material elaborado por Priscila Cysneiros • Teoria da realidade técnica: Ferrara. É a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Para esta teoria, mais moderada, a pessoa jurídica, posto personificada pela técnica do direito, integraria relações sociais, de forma autônoma, como as pessoas físicas. reconhece que a pessoa jurídica é personificada pela técnica do direito, mas não nega a sua atuação social. Logo, a personalidade jurídica não é uma ficção, mas um atributo que a lei defere a certos entes, donde se conclui que a pessoa jurídica é uma realidade jurídica, sem prejuízo da sua existência no mundo fático. (direito + social) Perceba que a primeira e a segunda teorias são extremistas, enquanto a terceira é uma mistura de ambas. Exemplo da terceira teoria: quandovocê comprou o curso do CP Iuris, você teve um contrato de prestação de serviços educacionais, assinado pelo curso. Assim, não há como dizer que a pessoa jurídica não existe. Não só existe, como tem atuação social: assina contratos, tem conta no banco, atua, faz empréstimo... faz tudo! Ela tem realidade social, mas é fruto do direito. É possível concluir que a terceira é a teoria adotada pelo Brasil com a leitura do artigo 45 do Código Civil de 2002: Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. Isso pode ser cobrado em provas fazendo-se referência à teoria adotada pelo CC/02 no que concerne à pessoa jurídica. Pode, ainda, ser cobrado, em prova subjetiva, que Material elaborado por Priscila Cysneiros você descreva as questões relacionadas às teorias afirmativistas. O assunto também é passível de cobrança em prova oral. Você se lembra que a pessoa natural passa a existir a partir do nascimento com vida. A certidão de nascimento da pessoa natural tem natureza DECLARATÓRIA. Essa natureza se aplica às demais certidões relacionadas à pessoa natural: de óbito, de natimorto... Se a natureza é declaratória, o efeito é ex tunc. Você não faz aniversário na data do registro e sim na data em que você nasceu. Por outro lado, a pessoa jurídica só passa a existir a partir da inscrição do ato constitutivo no respectivo registro. Portanto, a natureza é CONSTITUTIVA. Efeito ex nunc. Requisitos para a criação de uma pessoa jurídica: • VONTADE HUMANA CRIADORA • OBJETO LÍCITO • ATO CONSTITUTIVO Quando você estuda Direito Empresarial, recebe uma informação diferente, de que, em já existindo sociedade irregular, o registro teria natureza declaratória. Porém, aqui, estamos vendo o que prevê o nosso Código Civil. Para provas de Direito Civil, este deve ser o posicionamento adotado. Nas provas de Direito Empresarial, você vai seguir as orientações do professor da matéria. REGISTRO Material elaborado por Priscila Cysneiros O registro deve conter os seguintes elementos: • a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social (quando houver); • o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores e dos diretores; • forma de administração e representação ativa e passiva, judicial e extrajudicial; • possibilidade e modo de reforma do estatuto social; • previsão da responsabilidade subsidiária dos sócios pelas obrigações sociais; • condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio. Via de regra, o registro do ato constitutivo é feito da maneira abaixo (o Direito Empresarial aborda as exceções): REGISTRO DO ATO CONSTITUTIVO CARTÓRIO DE REGISTRO DE PESSOA JURIDICA JUNTA COMERCIAL REGISTRO ESPECIAL ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES ESTATUTOS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS CONTRATO SOCIAL PARTIDOS POLÍTICOS TSE SOCIEDADES SIMPLES CONTRATO SOCIAL COOPERATIVAS E SOCIEDADES ANÔNIMAS ESTATUTOS SINDICATOS MINISTÉRIO DA JUSTIÇA Parte 3/4 - Espécies de pessoa jurídica O Código Civil aborda a classificação das pessoas jurídicas a partir do art. 40. Ele divide em duas categorias: pessoas jurídicas de direito público e de direito privado. Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado. Quanto às pessoas jurídicas de direito público externo, temos: estados estrangeiros e organismos internacionais. Já no que tange as de direito público interno, temos a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal e as autarquias. Material elaborado por Priscila Cysneiros No caso das fundações públicas, você poderá estudá-las com mais profundidade nas aulas de direito administrativo. Lá, elas poderão ser de direito público ou privado. Quando for de direito público, será uma verdadeira autarquia, denominada autarquia fundacional ou fundação autárquica. A fundação pública de direito privado é a que estudaremos no Direito Civil. O art. 37 da Constituição Federal estabelece que a lei CRIA a autarquia, por ser ela pessoa jurídica de direito público, e AUTORIZA A CRIAÇÃO da fundação pública de direito privado, da sociedade de economia mista e da empresa pública, porque essas três são pessoas jurídicas de direito privado. Isto porque, como vimos, para que uma pessoa jurídica de direito privado possa existir, é necessário o registro do seu ato constitutivo. A empresa pública e a sociedade de economia mista podem prestar serviço público ou explorar atividade econômica. Elas possuem formação empresarial, mas, de acordo com o princípio da especialidade, do Direito Administrativo, essas pessoas jurídicas, mesmo sendo de direito privado, se subordinam à finalidade específica para a qual elas foram criadas, e devem servir ao interesse público. Quando falamos em União, Estados, DF e Municípios, estamos falando em entes políticos, que decorrem do estado federado. A autarquia, por sua vez, é uma entidade administrativa, caso em que será pessoa jurídica de direito público. Vale lembrar que nem toda entidade administrativa é pessoa jurídica de direito público, a exemplo das fundações públicas de direito privado, das sociedades de economia mista e das empresas públicas, que são regidas por regras predominantemente de direito privado (nunca exclusivamente de direito privado! Sempre deve haver o interesse público). Art. 44, CC. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações; Material elaborado por Priscila Cysneiros II - as sociedades; III - as fundações. IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos. VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. § 1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. § 2º As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. § 3º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. Trata-se de um rol meramente exemplificativo. Quando falamos em “organizações religiosas” e “partidos políticos”, estamos falando de “associações”. Da mesma forma, os sindicatos, que não estão nesse rol, são associações. Sendo assim, podemos dividir esse rol em dois grupos: o das associações e fundações e o das EIRELI e sociedades. Associações e fundações EIRELI e sociedades Se NÃO quiser ganhar dinheiro Se quiser ganhar dinheiro E qual a diferença entre elas? ASSOCIAÇÃO FUNDAÇÃO Conjunto de pessoas e, portanto, precisa-se de, no mínimo duas. Conjunto de bens móveis ou imóveis. AMBAS NÃO TÊM FINALIDADE LUCRATIVA! Isso não quer dizer que o lucro não possa existir. É até bom que ele exista, porque a pessoa jurídica possui despesas com funcionários, contas de água, luz, etc. Porém, em havendo lucro, ele deve ser revertido em favor da própria pessoa jurídica. Ambas possuem um ESTATUTO, que deve ser registrado no cartório de pessoas jurídicas. No caso das EIRELI e sociedades, será feito um CONTRATO SOCIAL, que será registrado na Junta Comercial. Material elaborado por Priscila Cysneiros Art. 37, XIX, CF. somente por lei específica poderá ser criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar,neste último caso, definir as áreas de sua atuação; Como essa lei complementar acima referida ainda não existe, aplica-se a ideia de que as finalidades da fundação pública de direito privado segue a mesma ideia do art. 62 do Código Civil, que passou por uma alteração no ano de 2015. ENUNCIADOS DA JORNADA DE DIREITO CIVIL 142 – Art. 44: Os partidos políticos, os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza associativa, aplicando-lhes o Código Civil. 143 – Art. 44: A liberdade de funcionamento das organizações religiosas não afasta o controle de legalidade e legitimidade constitucional de seu registro, nem a possibilidade de reexame pelo Judiciário da compatibilidade de seus atos com a lei e com seus estatutos. 144 – Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de Direito Privado, constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil, não é exaustiva. Partidos políticos devem ter registro específico, no TSE, e, os sindicatos, no Ministério da Justiça. A pessoa jurídica pode ter conta no Banco do Brasil? PODE. E quem a presentará junto ao banco serão seus sócios, administradores, gerentes… CÓDIGO CIVIL Art. 46. O registro declarará: I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social, quando houver; II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores; Material elaborado por Priscila Cysneiros III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente; IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo; V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais; VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso. Art. 47. Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo. Embora o Código Civil fale em “representação”, existe uma atecnia, uma vez que o termo se refere a incapazes. A pessoa jurídica NÃO é incapaz, para ser representada. Sendo assim, a pessoa jurídica será PRESENTADA. ATENÇÃO: um item de prova NÃO estaria errado se falasse em representação, até porque esse é o termo utilizado no Código Civil, mas é importante que você saiba que o termo correto é PRESENTAÇÃO. PRESENTAÇÃO Por não poder atuar por si própria, a pessoa jurídica, como ente da criação da lei, deve ser presentada por uma pessoa natural, exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. O art. 47, CC, todos os atos negociais exercidos pelo presentante, dentro dos limites de seus poderes estabelecidos no estatuto social, obrigam a pessoa jurídica, que deverá cumpri-los. Contudo, se o presentante extrapolar estes poderes, responderá pessoalmente por este excesso. Em regra essa pessoa é a indicada no ato constitutivo da Pessoa Jurídica. Na sua omissão, a presentação será exercida por seus diretores. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões serão tomadas pela maioria dos votos, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso (art. 48, CC). Dispositivos relevantes: arts. 46, inciso V e 47 do CC e art. 12, incisos I e II (para as Pessoas Jurídicas de Direito Público) e inciso VI (para as Pessoas Jurídicas de Direito Privado) do CPC. Quando você assinou o contrato com o CP Iuris, quem assinou o contrato foi aquele que presenta a instituição. No ato constitutivo da pessoa jurídica, há o rol de presentantes e a enumeração de seus poderes e deveres. Digamos que lá conste que João está autorizado a praticar o ato X. Sempre que ele praticar esse ato, estará presentando a pessoa jurídica. Será a própria pessoa jurídica quem estará praticando aquele ato específico. Se ele praticar um ato Y, diferente do que está previsto no ato constitutivo, a sua atuação não vinculará a pessoa jurídica, uma vez que extrapolou os limites dos poderes a ele concedidos. Ele responderá pessoalmente pelo Material elaborado por Priscila Cysneiros excesso. O ato X, do nosso exemplo, é denominado intra vires societatis, porque está dentro do permitido pelo ato constitutivo. O ato Y, fora do permitido pelo ato constitutivo, é chamado de ultra vires societatis. Embora isso seja um tema do Direito Empresarial, é importante que você entenda isso para quando formos estudar desconsideração da personalidade jurídica. Parte 4/4 ➢ A pessoa jurídica pode sofrer dano moral? A posição que deve prevalecer no ordenamento jurídico brasileiro está consolidada em diversos julgados (Resp 752.672/RS; AgRG no Resp 865.658/RJ), bem como na súmula 227 do STJ e nos termos do artigo 52 do CC. Art. 52, CC. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a PROTEÇÃO dos direitos da personalidade. Aqui, vale lembrar a distinção entre honra objetiva e honra subjetiva: • Honra subjetiva: é o sentimento que eu tenho a meu respeito. • Honra objetiva: é o sentimento que a coletividade pode ter sobre mim. Sendo assim, a conduta de alguém pode ofender tanto a honra subjetiva, quanto a objetiva, de uma pessoa. Porém, no que tange a pessoa jurídica, não é possível que ela tenha a sua honra subjetiva violada. Apenas é possível violar a sua honra objetiva. Por isso, o STJ consolidou o entendimento de que é possível que ela sofra danos morais. Súmula 227, STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral. Enunciado 286 da IV JDC: Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos. Então, veja que, embora não tenham direitos da personalidade, as pessoas jurídicas podem ter a PROTEÇÃO que a eles é dada, conforme prega o art. 52, CC. ➢ A pessoa jurídica de direito público também pode sofrer dano moral? Entendimento do STJ: A pessoa jurídica de direito público NÃO tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da honra ou imagem. (Resp 1.258.389/PB) Material elaborado por Priscila Cysneiros ➢ Associações X Fundações Você deve se lembrar que na aula de hoje dissemos que as associações são um conjunto de pessoas (“associadas”), sem fins lucrativos. Uma associação pode ter finalidades internas, dirigidas aos seus próprios membros. Imagine, por exemplo, uma associação de alunos do CP Iuris, ou uma associação dos moradores de determinada comunidade. É uma finalidade voltada para dentro, para a própria associação. Além disso, pode haver associações com finalidades externas, dirigidas para fora delas. Exemplo: associação dos estudantes do CP Iuris para a promoção de ensino jurídico a comunidades carentes locais. Nesse caso, ela é denominada de “entidade de interesse social”. Já as fundações são instituídas a partir de bens móveis ou imóveis. Como não há como a finalidade dela ser interna, sua finalidade sempre será externa e sempre ligada ao art. 62 do Código Civil. Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la. Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins de: I – assistência social; II – cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – educação; IV – saúde; V – segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – pesquisa científica, desenvolvimento de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos; VIII – promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos direitos humanos; IX – atividades religiosas; e X – (VETADO). Materialelaborado por Priscila Cysneiros No Direito Administrativo, quando falamos em primeiro setor, nos referimos ao Estado. O segundo setor se refere ao mercado, o particular que quer ganhar dinheiro. Já o terceiro setor é o particular que promove atividades beneficentes, sem visar ao lucro. Sendo assim, o terceiro setor é composto por associações e fundações. Todavia, vale lembrar que nem toda associação ou fundação terá vínculos com o Estado. Os bens que integram a fundação vêm do que chamamos de “instituidor”, que pode ser uma pessoa física ou jurídica (de direito público ou privado). Quando falamos em “fundação pública de direito privado”, é o poder público destinando parte de seu patrimônio para instituir uma fundação. Se for uma fundação de direito público, segue as normas de direito público: a lei autoriza a criação de uma fundação pública de direito privado (ato constitutivo realizado por meio de decreto). No Direito Civil, é o particular que destina uma parte de seus bens para a criação de uma fundação. Isso pode ser feito mediante escritura pública ou testamento. Se for por testamento (seja ele público, particular, cerrado ou uma das formas especiais), o particular vai dispor de seus bens para que, após a sua morte, seja instituída a fundação. Já foi objeto de prova uma questão envolvendo direito sucessório e fundação, com um caso mais ou menos assim: Maria é casada com João no regime da comunhão universal. O casal possui dois filhos e o seu patrimônio total é de 1 milhão de reais. Maria fez um testamento, deixando a parte disponível da sua herança para a criação de uma fundação de apoio às mulheres com câncer de colo de útero. Metade de todo o patrimônio do casal seria dela, por meação (R$ 500.000,00). Dessa quantia, metade seria a parte disponível de sua herança (R$ 250.000,00) e a outra metade (“legítima”) deve, obrigatoriamente, ser destinada aos seus herdeiros necessários. Vale lembrar que, por ser meeiro, João NÃO é herdeiro. Se os R$ 250.000,00 disponibilizados para a criação da fundação não forem suficientes, eles devem ser destinados a outra fundação já existente, de finalidade igual ou semelhante à pretendida por Maria. Material elaborado por Priscila Cysneiros É fundamental que você saiba que o Ministério Público fiscaliza as fundações! ASSOCIAÇÕES FUNDAÇÕES PJDPRIVADO – artigo 53 CC Conjunto de pessoas Fins não econômicos (termo impróprio – fins não lucrativos) Pode ter ou não fim social/ assistencial – entidade de interesse social CF garante a liberdade de associação para fins lícitos (direito positivo) CF garante que ninguém é obrigado a manter-se associado (direito negativo) Artigo 54 CC: Estatuto deve ter, sob pena de nulidade, os requisitos de admissão, demissão e exclusão de associado. Associados tem direitos iguais QUADRO: DIREITORIA E ASSEMBLEIA GERAL Para dissolução, os bens remanescentes serão destinados à outra instituição similar prevista no estatuto ou, se omisso, para instituição pública. Alteração do estatuto é livre e a aquisição de bens é livre RE 201.819 (expulsão do associado – artigo 57 – eficácia horizontal dos direitos fundamentais – não se pode expulsar um sócio sem contraditório ou ampla defesa, ainda que em um processo administrativo) PJDPRIVADO – artigo 62 CC Conjunto de bens Fins não econômicos (termo impróprio – fins não lucrativos) - altruísticos, científicos, artísticos, beneficentes, religiosos, educativos, culturais, políticos, esportivos ou recreativos Deve ter fim social (art. 62, CC) Podem ser privadas ou públicas Elementos formadores: patrimônio (bens livres e suficientes) + fim Ato de dotação dos bens por escritura pública ou disposição de última vontade (pode ser o próprio instituidor ou alguém por ele) Elaboração do Estatuto: direta ou fiduciária (tem prazo e se omisso 180 dias se não MP faz). Fiduciária é quando eu designo um terceiro para elaborar o estatuto. MP aprova o estatuto – indefere requerimentos de fundação com finalidade fútil ou voltada para interesse particular de pessoas Extinção da fundação se o fim se tornar ilícito ou vencimento de prazo de sua existência QUADRO: CONSELHO DE CURADOR chamado CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO OU CONSELHO SUPERIOR / DIRETORIA EXECUTIVA/ CONSELHO FISCAL (facultativo) Alteração do Estatuto após oitiva do MP Material elaborado por Priscila Cysneiros LEITURA DO CÓDIGO CIVIL: Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado. Art. 49. Se a administração da pessoa jurídica vier a faltar, o juiz, a requerimento de qualquer interessado, nomear-lhe-á administrador provisório. Art. 49-A. A pessoa jurídica não se confunde com os seus sócios, associados, instituidores ou administradores. Parágrafo único. A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um instrumento lícito de alocação e segregação de riscos, estabelecido pela lei com a finalidade de estimular empreendimentos, para a geração de empregos, tributo, renda e inovação em benefício de todos. Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta se conclua. § 1º Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução. § 2º As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado. § 3º Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
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