Prévia do material em texto
FACULDADE DO DISTRITO FEDERAL – FACDF SARAH NEVES DA SILVA TURMA - PÓS GRADUAÇÃO E 2ª GRADUAÇÃO DE PEDAGOGIA RESENHA SLIDES 1, 2 E 3 SLIDE 1 Toda dificuldade para aprender configura um distúrbio de aprendizagem? Como tem sido pontuado, os problemas relativos à aprendizagem manifestam-se fundamentalmente em situações mais formais de ensino, principalmente no ambiente escolar e se refletem, em geral, na diminuição do desempenho acadêmico, principalmente na área da linguagem escrita e do cálculo, podendo levar até mesmo ao completo fracasso escolar. Embora a resultante possa ser a mesma, ou seja, a criança não está aprendendo de acordo com o que se espera, muitas podem ser as razões que podem provocar esta situação. Podemos ter problemas de natureza emocional, metodológica, motivacional, social/econômica, a presença de transtornos mais globais, dificuldades ou dúvidas pontuais de natureza meramente acadêmica, entre outros que poderíamos nos lembrar. De forma generalizada têm-se aplicado o termo distúrbio de aprendizagem, de modo indiscriminado, para uma grande variedade de casos, sempre com a conotação de que o problema está centrado em quem aprende quando, muitas vezes, ele pode ser de ordem pedagógica/metodológica. Algumas considerações fundamentais devem ser feitas para que possamos compreender melhor o universo confuso dos chamados “distúrbios de aprendizagem”: 1. Em primeiro lugar podemos começar falando das questões de ordem motivacional que dizem respeito ao envolvimento cognitivo/afetivo com a aprendizagem, principalmente de natureza escolar. Muitas crianças com um potencial de aprendizagem favorável podem apresentar baixo desempenho acadêmico pelo fato de não verem razão para investir naquilo que a escola e/ou a família apresentam como importante. São crianças cuja motivação não está orientada para o sucesso acadêmico. Não se pode esperar as mesmas habilidades em leitura e escrita em uma criança para a qual estes atos podem estar até mesmo carregados de prazer quando comparada com outra que encara tais atividades como obrigação escolar desprovida de qualquer sentido ou função pessoal. Aqui não há um distúrbio de aprendizagem propriamente dito. 2. Muitas vezes podemos estar frente a dificuldades pontuais que revelam dúvidas específicas e não um transtorno de aprendizagem. Por exemplo, pode não estar muito claro para uma criança que um mesmo som pode ser escrito por muitas letras ou que uma mesma letra pode representar vários sons, dependendo da vogal que a acompanha. Esta falta de informação pode levar a erros ortográficos específicos os quais podem ser superados assim que o conhecimento necessário seja a ela oferecido. Outras crianças podem ter problemas, ou dúvidas, acerca de alguma operação aritmética, não por uma dificuldade intrínseca em lidar com números, mas como resultado até mesmo de explicações insuficientes ou insatisfatórias por parte da escola. 3. Transtornos emocionais primários, como a ansiedade, a depressão, as fobias e psicoses, podem trazer desequilíbrios tanto no plano relacional quanto acadêmico. Nestes casos, as dificuldades para aprender podem ser consideradas secundárias a um problema de base, de natureza afetiva, e não um distúrbio de aprendizagem como tal. 4. Transtornos mais globais do desenvolvimento que podem afetar aspectos cognitivos, sociais/relacionais, comunicativos e motores, como é o caso das deficiências mentais, do autismo, de alterações de natureza sindrômica e de déficits neurológicos variados tendem, freqüentemente, a comprometer a aprendizagem. Dificuldades na alfabetização, no domínio do cálculo e desempenho inferior em várias matérias escolares são comuns. Também nestes casos, os problemas de aprendizagem, embora presentes e podendo ser acentuados, são secundários a transtornos mais gerais e não caracterizam os distúrbios de aprendizagem propriamente ditos. O mesmo se aplica às dificuldades decorrentes de transtornos sensoriais, como no caso das deficiências auditivas e visuais. Os problemas de aprendizagem aqui encontrados também são considerados secundários ou derivados. 5. Enquanto podemos ter crianças que não aprendem por apresentarem dificuldades ou mesmo falta de interesse, também nos deparamos com outras cujo problema reside, fundamentalmente, na falta de oportunidades para aprender e não em suas capacidades para tanto. Como pudemos anteriormente salientar encontramos, em nosso meio, um número muito grande de crianças que não tem tido oportunidades suficientes ou sistemáticas para poderem desenvolver determinados tipos de conhecimentos que terão alta demanda na situação escolar, principalmente em termos de experiências extra-acadêmicas relativas à leitura e à escrita. 6. Há de se considerar, ainda, a forte influência que a própria escola exerce sobre a aprendizagem na medida em que pode criar situações favoráveis ou desfavoráveis para tanto. As propostas pedagógicas podem ser atraentes ou não para os alunos, podem ser motivadoras ou até mesmo afastarem o interesse da criança. Elas podem ser eficientes e adequadas do ponto de vista de facilitarem o processo de aprendizagem ou podem carecer de qualquer princípio neste sentido, resultando em baixo índice de retorno. Nestes casos, embora o não aprender manifeste- se no aluno, não podemos falar em dificuldades ou distúrbios de aprendizagem e sim numa insuficiência do ensino. Caracterizando os distúrbios de aprendizagem propriamente ditos Definir, de fato, o que corresponde a tal classe de problemas não é uma tarefa fácil conforme podemos verificar pela definição do próprio National Joint Comittee of Learning Disabilities (1980) segundo o qual o Distúrbio de Aprendizagem corresponde a “um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifesta por dificuldades significativas na aquisição e uso de habilidades para ouvir, falar, ler, escrever e realizar cálculos matemáticos. Embora o distúrbio de aprendizagem possa ocorrer concomitantemente com outras condições deficitárias (como distúrbios sensoriais, deficiência mental, distúrbios sociais e emocionais), ou influências ambientais (diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada), não é resultado direto de tais condições ou influências.” Presume-se que tais transtornos são devidos a uma disfunção do sistema nervoso central resultando de fatores como diferenças anatômicas, genéticas, atraso neuromaturacional, desequilíbrio neuroquímico ou metabólico e severa deficiência nutricional (HARRIS e HODGES, 1995) Neste sentido, de acordo com Gonçalves (2003), a aplicação do modelo neuropsicológico aos distúrbios de aprendizagem considera que eles constituem a expressão de uma disfunção cerebral específica, causada por fatores genéticos ou ambientais que alteram o neurodesenvolvimento. Relata, ainda, cinco sistemas funcionais relacionados com funções cognitivas, conforme descreve Pennington (1991, apud GONÇALVES, 2003): 1. Região perisilviana esquerda: responsável por funções ligadas ao processamento fonológico, sendo que sua disfunção ocasionará transtornos disléxicos. 2. Area do hipocampo e amígdalas de ambos os hemisférios: mantem relação com a memória de longo prazo levando a transtornos mnésicos no caso de alterações. 3. Região posterior do hemisfério cerebral direito: desempenha uma função cognitiva espacial. Alterações desta área levam à síndrome de disfunção hemisférica direita, com sintomas de déficit visuo-espacial, discalculia e disgrafia. 4. Região anterior do hemisfério cerebral direito: a região do sistema límbico e a região órbito- frontal do hemisfério direito têm função cognitiva social. Disfunções nesta área produzem alterações comportamentais degravidade variada e com expressão mais grave nos quadros autísticos. 5. Lobo pré-frontal: desempenha função de planejamento e execução motora. As alterações desta área produzem a síndrome disexecutiva com prejuízo da atenção e da iniciativa, déficits nos processos de planejamento e antecipação, assim como dificuldades nas abstrações . Por outro lado, deve ser apontado que, conforme Ciasca (2003), as dificuldades relativas ao aprendizado escolar podem atingir de 5 a 20% da população escolar, em países desenvolvidos. Entretanto, somente 7% teriam algum tipo de disfunção neurológica, sendo 5% com sinais neurológicos leves e 2% com disfunções graves. Considerando-se o DSM-IV, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 1994), vemos que os transtornos de aprendizagem são definidos como “Transtornos das Habilidades Escolares” e incluem os Transtornos de Leitura, Transtornos da Matemática, Transtornos da Expressão Escrita e Transtornos da Aprendizagem sem outra Especificação. Ainda, segundo o DSM-IV (APA, 1994), os “Transtornos de Aprendizagem sem outra Especificação” dizem respeito aos “Transtornos de Aprendizagem que não satisfazem os critérios para qualquer Transtorno da Aprendizagem Específico, podendo incluir problemas em todas as três áreas (leitura, matemática, expressão escrita) que, juntos, interferem significativamente no rendimento escolar, embora o desempenho nos testes que medem cada habilidade isoladamente não esteja acentuadamente abaixo do nível esperado, considerando a idade cronológica, a inteligência medida e a escolaridade apropriada à idade do indivíduo.” De acordo com o CID-10 (1999), os distúrbios de aprendizagem são definidos com “Transtornos Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares”, sendo que correspondem a “Transtornos nos quais as modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as primeiras etapas do desenvolvimento. O comprometimento não é somente a conseqüência da falta de oportunidade de aprendizagem ou de um retardo mental, e ele não é devido a um traumatismo ou doença cerebrais.” Aponta os seguintes problemas nesta categoria: Transtorno Específico de Leitura (Dislexia); Transtorno Específico de Soletração; Transtorno Específico da Habilidade em Aritmética; Transtorno Misto de Habilidades Escolares; Outros Transtornos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares e o Transtorno não Especificado do Desenvolvimento das Habilidades Escolares. Consultando o site www.schwablearning.org mantido por Charles and Helen Schwab Foundation (http://www.schwablearning.org/articles.asp?r=25&g=1), organização voltada para a orientação e ajuda de pessoas que apresentam distúrbios de aprendizagem, encontramos os seguintes dados que, no geral, vão de encontro às definições anteriores: O que é um Distúrbio de Aprendizagem? (Learning Disability) O Distúrbio de Aprendizagem afeta o modo pelo qual crianças com inteligência média, ou acima da média, recebem, processam ou expressam informações e que se mantém por toda a vida. Isto prejudica a habilidade para aprender habilidades básicas em leitura, escrita ou matemática. A Coordinated Campaign for Learning Disabilities (CCLD), uma coalizão de organizações nacionais ligadas aos distúrbios de aprendizagem, define-os como “uma desordem neurobiológica na qual o cérebro da pessoa trabalha ou é estruturado de uma maneira diferente.” O que o Distúrbio de Aprendizagem não é Déficit de atenção, tal como o Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Distúrbios de aprendizagem e TDAH freqüentemente ocorrem ao mesmo tempo, mas não são a mesma coisa. • Distúrbio de aprendizagem não é a mesma coisa que deficiência ou retardo mental, autismo, deficiência auditiva ou visual, deficiência física, distúrbio emocional ou o processo normal de aquisição de uma segunda língua. • Distúrbios de aprendizagem não são causados por falta de oportunidade educacional como trocas freqüentes de escolas, por faltas constantes às aulas ou falhas no ensino das habilidades básicas. Quais as manifestações? Muitas vezes os transtornos de aprendizagem estão acompanhados de falta de motivação, imaturidade e problemas comportamentais. Porém, caso a criança apresente dificuldades significativas e mais duráveis em termos das habilidades básicas de leitura, escrita e aritmética, o problema deve ser um distúrbio de aprendizagem. Algumas características: Fase pré-escolar • Começa a falar mais tarde do que a maioria das crianças • Tem dificuldades para encontrar as palavras apropriadas em situação de conversação • Tem dificuldades para nomear rapidamente palavras de uma determinada categoria • Apresenta dificuldades com rimas • Tem problemas para aprender o alfabeto, dias da semana, cores, forma e números • É extremamente agitada e facilmente se distrai • Dificuldades para seguir ordens e rotinas Fase escolar inicial • Demora para aprender as relações entre letras e sons • Dificuldades para sintetizar os sons e formar palavras • Faz erros consistentes de leitura e de ortografia • Dificuldades para relembrar seqüências e para dizer as horas • Lentidão para aprender novas habilidades • Dificuldades em termos de planejamento. Fase escolar – séries mais avançadas • Lentidão para aprender prefixos, sufixos, rota lexical e outras estratégias de leitura • Evita leitura em voz alta • Dificuldades com os enunciados de problemas em matemática • Soletra a mesma palavra de modos diferentes • Evita tarefas envolvendo leitura e escrita • Dificuldades para lembrar ou compreender o que foi lido • Trabalha lentamente • Dificuldades para compreender e/ou generalizar conceitos • Confusões em termos de endereços e informações. Distúrbios de aprendizagem e distúrbios específicos da linguagem escrita (dislexias) Vale a pena chamar a atenção para o fato de que tanto o DSM-IV quanto o CID-10 apontam, em suas definições, para a situação (local) na qual os distúrbios de aprendizagem, via de regra, se manifestam com maior clareza, que é a escola: “Transtornos das Habilidades Escolares” e “Transtornos Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares”, respectivamente, sinalizam para o ambiente escolar como o palco predileto para sua exibição. A sintomatologia acima apresentada, assim como o fato de habilidades orais estarem envolvidas mostra, por outro lado, que tais problemas podem começar a se manifestar antes mesmo da escolarização formal. De fato, embora os transtornos de aprendizagem se tornem mais visíveis na situação de ensino, isto não significa que tenham se iniciado neste período. Como reafirma Giacheti (2002), os problemas de aprendizagem estão relacionados com o desenvolvimento da linguagem, principalmente de certos aspectos que são fundamentais para o desenvolvimento da expressão e da compreensão da linguagem falada e do processamento de informações. Assim sendo, problemas na aquisição da linguagem oral podem ser a primeira manifestação de distúrbios de aprendizagem e que poderão, mais tarde, vir a comprometer o aprendizado da leitura, da escrita e do raciocínio lógicomatemático. Os distúrbios da aprendizagem, portanto, independem da idade cronológica e do fato de a criança freqüentar ou não uma escola. Também fica evidenciado que, nestas categorias amplas e heterogêneas de transtornos, estão incluídas as dislexias como distúrbios específicos da linguagem escrita: “...dificuldades significativas na aquisição e uso de habilidades para ... ler, escrever...” (Joint Comittee of Learning Disabilities); “Transtornos de Leitura” e “Transtornos da Expressão Escrita” (DSM- IV); “Transtorno Específico de Leitura” e “Transtorno Específico de Soletração” (CID-10). Nestes casos, a Dislexia tende a ser considerada como Transtornos de Leitura ou Transtornos Específicosde Leitura, fazendo parte de tais quadros de distúrbios de aprendizagem. Por outro lado, apesar das dificuldades neste sentido, existem tentativas de diferenciar os distúrbios de aprendizagem dos distúrbios específicos da leitura e da escrita, ou dislexias. Uma das formas que podem ser empregadas para tanto diz respeito ao histórico de desenvolvimento da criança, no qual pode ser identificado quando os problemas surgiram e de que tipo eram, assim como a dimensão ou extensão dos transtornos encontrados: já presentes, desde cedo, na aquisição da linguagem oral e antecedendo qualquer escolarização ou manifestando-se somente na área da leitura e da escrita, a partir da alfabetização. Para tal distinção, os seguintes critérios podem ser considerados (GIACHETI, 2002; CAPPELLINI e SALGADO, 2003): 1. O Distúrbio de aprendizagem é tido como uma problemática mais específica, associada à presença de uma disfunção neurológica, apresentando características como: • Distúrbio fonológico; • Falhas em habilidades sintáticas, semânticas e pragmáticas; • Histórico revelando quadro de distúrbio de linguagem anterior à escolarização; • Habilidade para realizar narrativas comprometida para contagem e recontagem de histórias; • Falhas nas funções receptivas e ou expressivas; • Alteração no processamento de informações auditivas e visuais; • O processo de desenvolvimento da aprendizagem está comprometido desde os primeiros anos de vida, manifestando-se principalmente na linguagem; • Tais transtornos, que antecedem a alfabetização, irão afetar diretamente o aprendizado da leitura, da escrita e da aritmética, podendo comprometer o desempenho acadêmico como um todo. • Dificuldades nas relações espaço temporais • Problemas na aquisição de estratégias para aprender: falta de organização e utilização de funções metacognitivas. 2. Nos casos de Distúrbios Específicos de Leitura e Escrita (ou Dislexias), o processo de desenvolvimento inicial da criança não revela alterações. Dificuldades significativas começarão a surgir no aprendizado da leituraescrita, desde o início do processo de alfabetização. Algumas características descritas: • Dificuldades na correspondência som-letra, gerando prejuízos para a escrita e para a leitura; • Nível de leitura encontra-se abaixo do esperado para a escolaridade • Ausência de problemas neurológicos, cognitivos, sensoriais, emocionais e educacionais primários que possam justificar as dificuldades; • Habilidades sintáticas, semânticas e pragmáticas da linguagem oral estão preservadas, sendo que problema está centrado na linguagem escrita; • Por outro lado, habilidades fonológicas, a elaboração de narrativas (recontagem), a função expressiva e o processamento de informações podem apresentar comprometimentos como os observados nos distúrbios de aprendizagem. Para Catts e Kahmi (1999) a dislexia corresponde a um distúrbio de desenvolvimento da linguagem, marcado por um déficit no processamento fonológico, o qual seria o responsável pelas dificuldades na decodificação e correspondência entre letras e sons. Dificuldades de compreensão de textos, nestes casos, derivariam das limitações na decodificação. Por outro lado, esses mesmos textos, caso apresentados oralmente, poderiam ser bem compreendidos, revelando que os aspectos semânticos estão preservados. Procurando diferenciar diversas alterações que podem ser encontradas, Catts, Fey e Tomblin (apud SANTOS e NAVAS, 2002) afirmam que pode haver distúrbios de leitura e escrita que vão além do processamento fonológico, comprometendo o vocabulário, a morfossintaxe e a própria compreensão do texto. Embora fiquem mais visíveis na época da alfabetização, tais transtornos podem já estar presentes desde muito cedo na vida da criança, com limitações até mesmo na compreensão oral. Nestes casos, o que está sendo descrito como distúrbios de leitura e escrita parece corresponder à categoria dos transtornos ou distúrbios de aprendizagem uma vez que configuram problemas que vão além do domínio específico de aprender a ler e a escrever, com prejuízos em vários aspectos da linguagem, tanto oral quanto escrita. De acordo com Stanovich (2000), é como se houvesse um contínuo que parte da dislexia para o distúrbio de leitura e escrita, mais precisamente, saindo de uma dificuldade localizada no processamento fonológico e caminhando na direção de alterações mais gerais no desenvolvimento da linguagem. Há de se considerar, neste sentido, que diferenciações precisas podem representar, na prática, um grande desafio, ou até mesmo uma impossibilidade. Kaplan et al. (2001), analisando a questão da sobreposição de problemas de desenvolvimento e aprendizagem, encontram uma alta comorbidade em vários dos transtornos: dificuldades em leitura ou dislexia; déficits de atenção e hiperatividade / impulsividade; transtornos do desenvolvimento da coordenação; transtornos de conduta; depressão e ansiedade. Em relação aos déficits de atenção e hiperatividade, por exemplo, somente 20% dos casos são puros, com cerca de 80% de sobreposição de dois, três ou mais dos distúrbios relatados. Quanto às dificuldades de leitura (dislexia), somente 48,4% seriam puros, com uma sobreposição de 51,6% de casos com dois, três ou mais transtornos manifestando-se ao mesmo tempo. Frente a esta situação de co- ocorrência (comorbidades), os autores propõem, para estes casos, o conceito de “desenvolvimento cerebral atípico” para dar conta de uma realidade muito mais complexa do que os casos de diagnósticos considerados “puros”. REFERÊNCIAS APA. (Associação Americana de Psiquiatria). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV). Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. CAPPELLINI, S.A, SALGADO, C.A. Avaliação fonoaudiológica do distúrbio específico de leitura e distúrbio de aprendizagem: critérios diagnósticos, diagnóstico diferencial e manifestações clínicas. Em Ciasca, S.M. (Org.) Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2003, p. 141-164 CATTS, H.W., KAHMI, A.G. Language and reading disabilities. Boston: Allyn Bacon, 1999. CHARLES AND HELEN SCHWAB FOUNDATION http://www.schwablearning.org/articles.asp?r=25&g=1 CIASCA, S.M. Distúrbios e dificuldades de aprendizagem: questão de nomenclatura. Em Ciasca, S.M. (Org.) Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2003, p. 19-32. CID-10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. São Paulo:Edusp, 1999, 10ª Revisão. GARCIA, J.N. Las dificultades de aprendizage y otros trastornos del desarrollo. In Futuro Eventos (org.) Livro do 6º Simpósio Nacional sobre Distúrbios de Aprendizagem. São Paulo, 2003, 157-176 GIACHETI, C.M. Diagnóstico e intervenção multiprofissional das crianças com dificuldades de aprendizagem. Livro do 6º Simpósio Nacional sobre Distúrbios da aprendizagem. São Paulo, 2002, 37-44. GONÇALVES, VMG. Neurologia dos distúrbios de aprendizagem. Em Ciasca, S.M. (Org.) Distúrbios de aprendizagem: proposta de avaliação interdisciplinar. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2003, p. 33-54. HARRIS, T.L., HODGES, R.E. The Literacy Dictionary: the vocabulary of reading and writing. Newark, Delaware: IRA, 1995. INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - www.inep.gov.br, 2002. KAPLAN, B.J.; DEWEY, D.M.; CRAWFORD, S.G.; WILSON, B.N. The term comorbidity is of questionable value in reference to developmental disorders: Data and Theory. Journal of Learning Disabilities. 34, 6, 555-565. LYON, G.R. Reading development, reading disorders, and reading instruction: research-based findings. Language, learning and education, vol 6, 1, 8-16, 1999. NAVAS, AL, SANTOS, MTM. Distúrbios de leitura e escrita.São Paulo: Manole, 2002 STANOVICH, K.E. Progress in understanding reading: Scientific Foundation an New Frontiers. Nova York: The Guilford Press, 2000. ZORZI, J. L. Consciência fonológica, fases de construção da escrita de seqüência de apropriação da ortografia do português. Em MARCHESAN, I. e ZORZI, J.L. (org.) Anuário CEFAC de Fonoaudiologia. Rio de Janeiro. Editora Revinter, 91 – 118, 2000. ZORZI, J.L. – Aprender a escrever – a apropriação do sistema de escrita. Artes Médicas, 1998. ZORZI, J.L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: questões clínicas e educacionais. Porto Alegre, ArtMed, 2003b. ZORZI, J.L. O que devemos saber a respeito da linguagem escrita e seus distúrbios: indo além da clínica. Em ANDRADE, C.R.F. e MARCONDES, E. (org.) Fonoaudiologia em Pediatria. São Paulo: Sarvier, 2003, 120-134. ZORZI, J.L.; SERAPOMPA, M.T.; FARIA, A.F e OLIVEIRA, P.S. A influência do perfil de leitor nas habilidades ortográficas. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, n.65, 2004. SLIDE 2 A Digrafia Etimologicamente, disgrafia deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “grafia” (escrita), ou seja, é “uma perturbação de tipo funcional que afeta a qualidade da escrita do sujeito, no que se refere ao seu traçado ou à grafia.” (Torres & Fernández, 2001, p. 127); prende-se com a “codificação escrita (…), com problemas de execução gráfica e de escrita das palavras” (Cruz, 2009, p. 180). A criança com disgrafia apresenta uma escrita desviante em relação à norma/padrão, isto é, uma “caligrafia deficiente, com letras pouco diferenciadas, mal elaboradas e mal proporcionadas” (A.P.P.D.A.E., 2011b); a chamada “letra feia”. Obviamente que uma criança em processo de aprendizagem da escrita apresenta, naturalmente, dificuldades no traçado das letras. Assim, durante este período, o professor deverá revelar especial atenção e fornecer as orientações necessárias para que os alunos realizem adequadamente a escrita, evitando, deste modo, na ausência de outras problemáticas associadas, a permanência de traçados incorretos que, consequentemente, poderão evoluir para um quadro de disgrafia. O estudo das causas da disgrafia é complexo, pois são muitos os fatores que podem levar a uma escrita alterada. Torres & Fernández (2001) agrupam em três tipos as causas da disgrafia: maturativas, carateriais e pedagógicas. As primeiras estão relacionadas com perturbações de lateralidade e de eficiência psicomotora (motricidade, equilíbrio). Estas crianças são desajeitadas do ponto de vista motor (geralmente possuem idade motora inferior à idade cronológica) e apresentam uma escrita irregular ao nível da pressão, velocidade e traçado, bem como perturbações de organização percetivo-motora, estruturação/orientação espacial e interiorização do esquema corporal. As causas carateriais, por seu lado, estão associadas a fatores de personalidade, que podem, consequentemente, determinar o aspeto do grafismo (estável/instável, lento/rápido), e também a fatores psicoafetivos, pois o sujeito reflete na escrita o seu estado e tensão emocionais. As últimas – causas pedagógicas – poderão estar relacionadas, por exemplo, com uma instrução/ensino rígido e inflexível, com uma mudança inadequada de letra de imprensa para letra manuscrita e/ou uma ênfase excessiva na qualidade ou rapidez da escrita. Um outro autor, Cinel (2003), apresenta-nos cinco grupos de causas promotoras da disgrafia: - Distúrbios na motricidade ampla e fina, relacionados com a falta de coordenação entre o que a criança se propõe fazer (intenção) e o que realiza (perturbações no domínio do corpo); - Distúrbios na coordenação visomotora, associada à dificuldade no acompanhamento (visual) do movimento dos membros superiores e/ou inferiores; - Deficiência na organização temporoespacial (direita/esquerda, frente/atrás/lado e antes/depois); - Problemas na lateralidade e direccionalidade (dominância manual); - Erros pedagógicos, relacionados com falhas no processo de ensino, estratégias inadequadamente escolhidas pelos docentes ou mesmo desconhecimento deste problema. Caraterização Vários autores têm sugerido caraterísticas comuns às crianças com disgrafia. Contudo, é importante saber que a apresentação de apenas um/dois dos comportamentos que se seguem não é suficiente para confirmar esta problemática; a criança deverá revelar o conjunto (ou a quase totalidade) das seguintes condições: - letra excessivamente grande (macrografia) ou pequena (micrografia); - forma das letras irreconhecível (por vezes distorcem, inclinam ou simplificam tanto as letras que a escrita é praticamente indecifrável); - traçado exagerado e grosso (que vinca o papel) ou demasiado suave e impercetível; - grafismo trémulo ou com uma marcada irregularidade, originando variações no tamanhos dos grafemas; - escrita demasiado rápida ou lenta; - espaçamento irregular das letras ou das palavras, que podem aparecer desligadas, sobrepostas ou ilegíveis ou, pelo contrário, demasiado juntas; - erros e borrões que quase não deixam possibilidade para a leitura da escrita (embora as crianças sejam capazes de ler o que escrevem); - desorganização geral na folha/texto; - utilização incorreta do instrumento com que escrevem (Ajuriaguerra et al., 1973 e Casas, 1988, cits. por Cruz, 2009; Torres & Fernández, 2001). Poderão ainda observar-se uma série de outros comportamentos, muitas vezes associados a outras dificuldades específicas de aprendizagem (Disortografia, Dislexia e Discalculia), abordadas nos restantes subcapítulos deste artigo. Intervenção A experiência diz- nos que, para ajudar um aluno com disgrafia – assim como com qualquer outro distúrbio –, o educador deve, primeiramente, estabelecer uma boa relação com a criança e fazê-la perceber que a sua presença é importante para a apoiar quando mais precisa. É fundamental saber/sentir quando e qual a ajuda que deve providenciar a cada momento, não deixando de elogiar a criança pelo seu esforço, mesmo que os resultados nem sempre estejam de acordo com o expectável; no entanto, deve também ter a capacidade de perceber quando o aluno revela desmotivação e desinteresse e, se necessário, alterar a intervenção, adequando procedimentos visando estimular a criança, pois, na maior parte das ocasiões, a má prestação é sobretudo nossa, consequência da utilização de estratégias/métodos insuficientemente atrativos e interessantes. Por este motivo, deve evitar-se aplicar métodos “chapa 5”, generalizados e inflexíveis. Outro aspeto bastante importante é o reforço positivo da caligrafia da criança. Lembre-se que ela se esforça bastante por escrever corretamente e, mesmo que não observe grandes progressos, vá elogiando os (escassos) resultados. Afirmações como “Esse «p» ficou mesmo perfeito!”; “Tiveste o cuidado de não ultrapassar a margem, muito bem!”; ou “Hoje a tua letra está mesmo bonita! Andas a esforçar-te muito!”, poderão surtir efeitos extraordinários! O processo de aprendizagem da escrita é lento e longo e a criança é a primeira a achar a sua letra horrível. Deve evitar-se, por isso mesmo, forçá-la a modificar abruptamente a sua caligrafia. Devem, também, contemplar-se os aspetos psicomotores, que determinam a capacidade gráfica do indivíduo. Para Camargo (2008) a reeducação do grafismo está relacionada com três fatores fundamentais: desenvolvimento psicomotor, desenvolvimento do grafismo em si e especificidade do grafismo da criança. Para o desenvolvimento psicomotor, deverão treinarse aspetos relacionados com a postura, controle corporal, dissociação de movimentos, representação mental do gesto necessário para o traço, perceção espácio-temporal, lateralização e coordenação visomotora. Quanto aos aspetos relacionados com o grafismo, o educador devepreocupar-se com o aperfeiçoamento das habilidades relacionadas com a escrita, distinguindo atividades pictográficas (pintura, desenho, modelagem) e escriptográficas (utilização do lápis e papel – melhorar os movimentos e posição gráfica). Deverá, também, corrigir erros específicos do grafismo, como a forma/tamanho/inclinação das letras, o aspeto do texto, a inclinação da folha e a manutenção das margens/linhas. Torres & Fernández (2001) acrescentam ainda a necessidade de se contemplarem técnicas de relaxamento global e segmentar, que podem ajudar a criança a reduzir os índices de ansiedade, stresse, frustração e também baixa autoestima. Como sabemos, estas crianças são, na sua generalidade, alunos tímidos, sossegados (mas inquietos internamente), com motivação/interesse pela escola reduzidos e com baixos níveis de autoestima e autoconceito. A Discalculia Etimologicamente, discalculia deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “calculare” (calcular, contar), ou seja, é “um distúrbio de aprendizagem que interfere negativamente com as competências de matemática de alunos que, noutros aspetos, são normais.” (Rebelo, 1998a, p. 230). Assim, trata-se de “uma desordem neurológica específica que afeta a habilidade de uma pessoa compreender e manipular números.” (Filho, 2007). Indicadores estatísticos dizem-nos que a maior parte dos alunos revela problemas na aprendizagem desta disciplina. Muitos deles não compreendem os enunciados dos problemas, outros demoram muito tempo a perceber se precisam de somar/dividir/multiplicar e alguns não conseguem concluir uma operação aparentemente simples. É importante referir, no entanto, que estas dificuldades podem não estar associadas a fatores como a preguiça/desmotivação/desinteresse (como alguns pais/professores julgam), mas relacionadas com a discalculia. Causas Não existe uma causa única e simples que possa justificar o aparecimento da discalculia. Os estudos efetuados nesta área são recentes e as conclusões não podem, ainda, ser generalizadas. No entanto, têm sido feitas investigações em vários domínios, como a neurologia, a linguística, a psicologia, a genética e a pedagogia (Silva, 2008b). O desenvolvimento neurológico é caracterizado pelas diferentes funções do sistema nervoso que se vão estabelecendo ordenada, progressiva e cronologicamente, ou seja, cada nível etário de maturação corresponde ao desenvolvimento de novas funções (perceção, espacio- temporal, lateralidade, ritmo) resultantes de experiências que produzam estímulos adequados. Nesta linha, distinguem-se três graus de imaturidade neurológica que permitem a definição de graus de discalculia correspondentes (Romagnoli, 2008): 1) grau leve, quando a criança discalcúlica reage favoravelmente à intervenção terapêutica; 2) grau médio, que coexiste com o quadro da maioria dos que apresentam dificuldades específicas em matemática; 3) grau limite, quando se verifica a existência de uma lesão neurológica gerada por traumatismos que provocam um défice intelectual. No domínio da linguística, Cazenave (1972, cit. por Silva, 2008b) afirma que a compreensão matemática só é possível com a assimilação da linguagem, que tem um papel fundamental na evolução do intelecto de cada ser humano. Neste caso, um discalcúlico apresenta deficiente elaboração do pensamento devido às dificuldades no processo de interiorização da linguagem. Estas crianças revelam défices na compreensão de relações e também na sua reversibilidade e/ou generalização; apresentam, ainda, dificuldades na resolução de problemas, mais especificamente no simbolismo numérico (correspondência número-quantidade), bem como na sua representação gráfica. Na área da psicologia, as conclusões apontam para o facto dos indivíduos portadores de alterações psíquicas se tornarem mais propensos a apresentar problemas de aprendizagem, pois o aspeto emocional interfere no controlo de determinadas funções, caso da memória, da atenção e da perceção, por exemplo. Existem também explicações de base genética apontando para a determinação de um gene responsável pela transmissão dos transtornos ao nível dos cálculos. Embora existam registos significativos de antecedentes familiares de crianças com discalculia que também apresentam dificuldades na matemática, os estudos de hereditariedade/genética carecem ainda de aprofundamento e comprovação. Por último, as conclusões na área da pedagogia vêm apontar a discalculia como uma dificuldade diretamente relacionada com os fenómenos que sucedem no processo de aprendizagem, como métodos de ensino desadequados, inadaptação à escola, entre outros. As crianças com discalculia apresentam, em testes de inteligência, desempenhos superiores nas funções verbais comparativamente às funções não verbais, isto é, um QI verbal superior ao QI não verbal/realização. São crianças que revelam um ritmo de trabalho muito lento usando, muitas vezes, os dedos para contar. São ansiosas, desmotivadas e têm receio de fracassar, consequência do menosprezo ou repressão por parte dos colegas de turma, professores e/ou pais/familiares. Uma criança discalcúlica apresenta dificuldades a vários níveis (Rebelo, 1998a; Vieira, 2004 cit. por Silva, 2008a; Filho, 2007; Sacramento, 2008; Cruz, 2009; A.P.P.D.A.E., 2011a e Geary, 2011): - na compreensão e memorização de conceitos matemáticos, regras e/ou fórmulas; - na sequenciação de números (antecessor e sucessor) ou em dizer qual de dois é o maior; - na diferenciação de esquerda/direita e de direções (norte, sul, este, oeste); - na compreensão de unidades de medida; - em tarefas que impliquem a passagem de tempo (ver as horas em relógios analógicos); - em tarefas que implicam lidar com dinheiro; - na resolução de operações matemáticas através de um problema proposto (podem compreender “3+2=5”, mas incapazes de resolver “A Maria tem três bolas e o João tem duas; quantas bolas têm no total?”); - na correspondência um a um/correspondência recíproca; - na conservação de quantidades; - na utilização do compasso ou até mesmo da calculadora (reconhecimento dos dígitos e símbolos matemáticos). Estas dificuldades podem conduzir, em casos extremos, a uma fobia à matemática. Intervenção A matemática é uma disciplina extremamente importante para o dia-a-dia, uma vez que se lida com números e realizam-se cálculos em inúmeras situações do quotidiano. Deste modo, o primeiro aspeto a ter em conta na intervenção com uma criança com discalculia é, precisamente, fazê-la perceber o quão importante é dominar esse pretenso “bicho-de- setecabeças” fornecendo-lhe exemplos das vantagens obtidas no seu dia-a-dia: a ver televisão (reconhecimento dos canais televisivos); a jogar computador (número de níveis concluídos/alvos abatidos); a jogar à bola (contar o número de golos/analisar distâncias para a marcação dos penaltis); a brincar às casas das bonecas (dimensões dos quartos/cozinha). O educador deve, sempre que possível, planear atividades que facilitem o sucesso do aluno e que o ajudem a melhorar o seu autoconceito e a sua autoestima. Pode, por exemplo, recorrer à utilização de jogos e outros materiais concretos que promovam a manipulação por parte da criança: é importante que a criança possa observar, tocar, mexer num cubo quando está, por exemplo, a aprender os sólidos geométricos, caso contrário será difícil compreender as noções de lado, vértice e aresta. O uso da calculadora deve ser permitido, bem como a consulta da tabuada, pois estas crianças têm, tal como já foi referido, dificuldades ao nível da memória; assim, podem ser capazes de resolver um exercício (raciocínio correto), mas incapazes de realizar as operações matemáticas necessárias para a sua conclusão. Para finalizar, e recorrendo às palavras de Sacramento (2008), resta acrescentar o facto deque o diagnóstico de discalculia é sempre (e apenas) uma descrição do atual período de desenvolvimento, aplicável por um período máximo de um ano. Como a criança está em constante desenvolvimento, as dificuldades que existem no ano anterior podem ser minimizadas no ano seguinte. Se o aluno receber a intervenção adequada, a possibilidade de desenvolvimento das capacidades matemáticas é grande. No entanto, muitas vezes, algumas destas dificuldades permanecem de uma forma suave (recordar dados numéricos, por exemplo) por toda a sua vida. A dislalia Ao se produzir o som da fala, existe todo um processo que vai desde a respiração, sinapses neurais até a articulação da boca (língua e dentes) e, na escrita, é produzido da maneira que falamos. Dessa forma, se existe algum distúrbio no processo da fala, por conseguinte, a produção da escrita poderá ser afetada. Um dos distúrbios da fala é a dislalia que, de acordo com Menezes, Souza e Silva (2013, p. 67) consiste em “(...) um distúrbio que acomete a fala, caracterizado pela dificuldade em articular as palavras, provocando fala errônea das palavras, acontecendo a omissão ou troca de letras.”. Souza e Fontanari (2015) explicam que esse distúrbio é bastante comum na sociedade e que pode interferir no aprendizado da escrita. Eberhart e Cauduro (2013, p.10) esclarecem que: Na dislalia surge uma alteração na fala, onde há imprecisão articulatória afetando padrões de produção de sons da língua, relacionados às fases de programação e ou execução neuromotora. Esta ocorre quando a criança está começando a falar. Nota-se que as definições dos autores são convergentes, pois concebem a dislalia como uma disfunção de linguagem perceptível na pronúncia inadequada das palavras em decorrência de alterações do aparelho fonador. A etimologia da palavra dislalia vem do grego, o termo “dys” que significa dificuldade e “lalien”, do verbo falar (LIMA, 2008). Em conformidade com o processo histórico explicado por Cabrera (1999), os transtornos da fala antigamente eram diagnosticados como “dislabia”. Entretanto, nos anos 30 do século XIX, o suíço Schulter utilizou o termo “dislalia” para distinguilo do termo “alalia” que se refere à ausência de linguagem. Posteriormente, outros estudiosos como Kussmaul (1879), Berkan (1892), Gutzman (1927), Liebmann (1924), Froschels (1928) mantiveram o termo dislalia com o significado que temos até hoje. A dislalia pode caracterizar-se de quatro formas diferentes, tais como: evolutiva, que desaparece durante o desenvolvimento; funcional, se desenvolve devido as distorções dos sons com as letras; audiógena, acarreta erros nas pronúncias por deficiência auditiva ou até por lesões no encéfalo e orgânica, provoca uma estrutura de comunicação incorretas (SOUZA, & FONTANARI, 2015). Estudos conduzidos por fonoaudiólogos demonstram que na dislalia ocorre, normalmente, a substituição do som /R/ por /L/”, pois ocorre “(...) alteração de padrões articulatórios que conduzem a realizações sonoras do sistema linguístico.” (LIMA, 2008, apud SOUSA, 2016, p. 7). Esse distúrbio manifesta-se na pronúncia de palavras de formas diferentes, seja ela, por omissão, substituição, acréscimo e/ou por deformação dos fonemas, como por exemplo, /Aela aanha/ (Aquela aranha), /Atelântico/ (Atlântico), /Tota-Tola/ (Coca-cola), /balata/ (barata), /pobrema/ (problema), /Framengo/ (Flamengo) /socollo/ (socorro). (NASCIMENTO, CARVALHO, COSTA, & BASTOS, 2007) Compreende-se, então, que os erros mais comuns na dislalia são fonéticos e fonológicos, acontecendo, respectivamente, por distorções ou anomalias no processo auditivo ou neuromuscular, assim como por problemas na habilidade de planejar ou executar o sistema articulatório seletivo, com sistema próprio e sistemático (JAKUBOVICZ, 1997). Para explicar o fenômeno das dislalias, Winitz (1969 apudJAKUBOVICZ, 1997) levantou algumas hipóteses em relação à família, ao desenvolvimento físico,às anormalidades orgânicas e às dificuldades perceptuais que podem ocorrer nessas crianças. De fato, a criança repete sons incorretamente emitidos pelos pais, que podem ser ocasionados pela idade, conflitos, defeitos de fala ou físicos. Porém, o adulto (à princípio) não percebe os erros nas articulações da criança. Essa incorreção na fala pode ocasionar doenças cerebrais ou atraso no desenvolvimento físico / mental / linguístico ou ausência de treino completo da articulação de modo suficiente. Até mesmo, podem ocorrer perdas, dificuldades e memórias auditivas, discriminação fonética e de análise dos sons (WINITZ, 1969apudJAKUBOVICZ, 1997). Ripper (1963 apudJAKUBOVICZ, 1997), após um estudo sobre os erros constantes nas dislalias, percebeu erros no contato, velocidade, estrutura, duração ou direção, força e sonorização do contato da língua. Isso devido a criança dislálica apresentar respiração e pressão intra-oral dos movimentos de forma incorreta, bem como os mecanismos velofaríngeos não funcionando ou funcionando de forma deficitária. Compreende-se, então, que a dislalia é avaliada como um procedimento que envolve o organismo humano e que acarreta distúrbios na fala, bem como a possibilidade de distúrbios na escrita. A troca de sons aponta essa má articulação nas palavras, que pode prejudicar o desenvolvimento da criança. Sendo assim, é muito importante que a articulação da criança seja avaliada para realizar as intervenções necessárias, evitando maiores prejuízos futuros. O aluno dislálico e o processo de aprendizagem Durante a primeira infância é normal que a criança produza erros articulatórios, pois essa articulação defeituosa é necessária para o alcance dos sons da língua. Tal fato ocorre em função de acriança focar sua atenção no som isolado dentro da palavra (JAKUBOVICZ, 1997). Nesse mesmo período do desenvolvimento humano, um número considerável de crianças apresenta dificuldades de aprendizagem e precisa de ser submetidas à avaliação e intervenção profissional, pois essas variam em forma e nível de gravidade (DOCKERELL, 2000 apud EBERHART, & CAUDURO, 2013). Essas dificuldades podem afetar diretamente a criança, deixando-as desestimuladas e constrangidas por pressões dos pais, colegas e da própria escola. Sendo assim, identificar o problema por meio da ação técnica empreendida por um profissional adequado é crucial para o treino e evolução do aluno. Segundo Souza e Fontanari (2015, p. 3): Ao longo do desenvolvimento infantil, observamos alguns distúrbios da fala, que inicialmente são considerados pelos pais ‘bonitinhos’ e ‘engraçadinhos’, mas que merecem atenção e correção, podendo tornar-se erro persistente. Os erros linguísticos podem afetar drasticamente a vida familiar e social dos acometidos por tais distúrbios, caso não sejam tratados. O auxílio dos pais, professores e demais profissionais especializados são essenciais para que o tratamento seja realizado com sucesso. É comum, aos 8 anos de idade, a criança conseguir emitir todos os sons necessários para a fala, e isso é algo que deve ser bem observado (SOUZA, & FONTANARI, 2015). Normalmente, a dislalia é identificada no período escolar, sendo observada em discentes ativos como distúrbios articulatórios e, na falta dessa observaçãoe de tratamento, a criança permanece com dificuldade até a sua fase adulta (SOUZA, & FONTANARI, 2015). Quando acompanhada, a criança dislálica pode desenvolver uma linguagem normal ou permanecer com leves retardos, visto que ela possui habilidades para imitar sons. Como ressaltado, essa dificuldade de articular as palavras pode ter origem orgânica ou funcional. E, em sendo funcional, pode ocorrer devido a imitações errôneas, alterações emocionais ou fatores hereditários (NASCIMENTO, CARVALHO, COSTA, & BASTOS, 2007). Para Teixeira (1988), as desordens infantis da linguagem e da fala, em crianças que apresentem problemas linguísticos, parecem ter um desenvolvimento intelectual, auditivo, psicomotor e social normal. No que tange à escrita, observa-se que há alterações nas suas produções, ocorrendo trocas das letras, pois escreve expressando as incorreções que manifesta na fala. Em se tratando da dificuldade de um discente dislálico, visto por vezes como engraçado, o professor tem que se manter como um agente transformadorpara a apropriação do texto, da escrita, da fala e, principalmente, para a participação social desse aluno (SOUSA, 2016). Os estudos apresentados até o momento evidenciam que a dislalia, apesar de ser considerada como um distúrbio na linguagem, pode ocasionar episódios de bullying, principalmente provocados por outras crianças, levando à timidez e introspecção nas produções orais desses alunos. Percebe-se que o déficit do desenvolvimento de alunos com distúrbios articulares ocorre por alguns pontos, como: a lotação de alunos nas salas de aula, assim como pela falta de recursos tanto material, financeiro, quanto de especialistas e auxiliares. Até mesmo o não envolvimento eficaz da família, pois o trabalho com dislálicos, deve ser conduzido por uma prática de superação das dificuldades na aprendizagem e socialização dos mesmos. A cultura dentro do ambiente familiar, no entendimento da comunicação e das práticas de convivência, deve ser melhor avaliada, pois o erro dessa comunicação pode agravar de forma permanente a estrutura linguística do indivíduo. Dessa forma, é importante reconhecer que aos 8 anos de idade, a criança consegue emitir todos os sons necessários para a fala (SOUZA, & FONTANARI, 2015). Quando se percebe a falta de apoio dentro de casa e na escola, a criança, que um dia se posicionará como adulto, convivendo com pessoas, existindo uma não eficácia no tratamento da dislalia, o problema exposto nas ações de discórdia nos atos familiares, profissionais e sociais limitarão esse indivíduo. Portanto, tanto os pais, quanto a escola precisam estar muito atentos aos erros cometidos pelas crianças e não acharem apenas “engraçadinho” e/ou “bonitinho” essas produções erroneamente cometidas (EBERHART, & CAUDURO, 2013) A Dislexia Definição Etimologicamente, dislexia deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “lexia” (leitura, reconhecimento das palavras). “É caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam tipicamente de um défice na componente fonológica da linguagem que é frequentemente imprevisto em relação a outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que podem impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais.” (Associação Internacional de Dislexia, 2003, cit. por Teles, 2009). Fonseca (1999, cit. por Moura, 2011) acrescenta tratar-se de uma “dificuldade duradoura” que surge em "crianças inteligentes, escolarizadas, sem qualquer perturbação sensorial e psíquica já existente.” De origem neurobiológica, a dislexia afeta, portanto, a aprendizagem e utilização instrumental da leitura, resultando de problemas ao nível da consciência fonológica3 , independentemente do quociente de inteligência (QI) dos indivíduos. De facto, contrariamente ao que alguns julgam, a dislexia não está associada a um baixo nível intelectual; pelo contrário, um disléxico pode revelar padrões acima da média, para a sua faixa etária, noutras áreas que não a leitura. Causas Não há acordo quanto à identificação de uma causa exclusiva para a dislexia. Alguns autores afirmam mesmo que se trata de uma perturbação de causas múltiplas. A Disortografia Definição Etimologicamente, disortografia deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “orto” (correto) + “grafia” (escrita), ou seja, é uma dificuldade manifestada por “um conjunto de erros da escrita que afetam a palavra, mas não o seu traçado ou grafia” (Vidal, 1989, cit. por Torres & Fernández, 2001, p. 76), pois uma criança disortográfica não é, forçosamente, disgráfica. “Perturbação que afeta as aptidões da escrita e que se traduz por dificuldades persistentes e recorrentes na capacidade da criança em compor textos escritos. As dificuldades centram-se na organização, estruturação e composição de textos escritos; a construção frásica é pobre e geralmente curta, observa-se a presença de múltiplos erros ortográficos e [por vezes] má qualidade gráfica.” (Pereira, 2009, p. 9). Causas Citoler (1996, cit. por Cruz, 2009) apresenta como fatores potencialmente justificativos das dificuldades disortográficas: - Problemas na automatização dos procedimentos da escrita, que se traduzem na produção deficiente de textos; - Estratégias de ensino imaturas ou ineficazes, com a consequente ignorância das regras de composição escrita; - Desconhecimento ou dificuldade em recordar os processos e subprocessos implicados na escrita (carência nas capacidades metacognitivas de regulação e controlo desta atividade). Para Torres & Fernández (2001), por outro lado, as causas da disortografia estão relacionadas com aspetos percetivos, intelectuais, linguísticos, afetivo-emocionais e pedagógicos. As causas de tipo percetivo estão associadas a deficiências na perceção, na memória visual e auditiva e/ou a nível espácio-temporal, o que traz consequências na correta orientação das letras e na discriminação de grafemas com traços semelhantes, por exemplo. Quanto às causas de tipo intelectual, estão associadas a um défice ou imaturidade intelectual; um baixo nível de inteligência geral pode levar a uma escrita incorreta porque a criança não domina as operações de caráter lógico-intelectual necessárias ao conhecimento e distinção dos diversos elementos sonoros. Problemas de linguagem (pronúncia/articulação) e/ou deficiente conhecimento e utilização do vocabulário (código restrito) são apontados como causas de tipo linguístico. Relativamente às de tipo afetivo-emocional, as autoras apontam, entre outras, baixos níveis de motivação e atenção, que poderão fazer com que a criança cometa erros ortográficos (mesmo que conheça a ortografia das palavras). Por último, as causas de tipo pedagógico remetem para métodos de ensino desadequados: por exemplo, quando o professor se limite à utilização frequente do ditado, que não se ajusta às necessidades individuais dos alunos e não respeita os seus ritmos de aprendizagem. Assim, embora fornecendo nomenclaturas diferentes, os dois autores completam-se, sendo indispensável considerar os seus respetivos contributos para que possam encontrarse, de uma forma abrangente, todas as possíveis origens desta problemática. Uma criança com disortografia demonstra, geralmente, falta de vontade para escrever e os seus textos são reduzidos, com uma organização pobre e pontuação inadequada. A sua escrita evidencianumerosos erros ortográficos de natureza muito diversa (Torres & Fernández, 2001): Erros de caráter linguístico-percetivo - omissões, adições e inversões de letras, de sílabas ou de palavras; - troca de símbolos linguísticos que se parecem sonoramente (“faca”/“vaca”). Erros de caráter visoespacial - substitui letras que se diferenciam pela sua posição no espaço (“b”/“d”); - confunde-se com fonemas que apresentam dupla grafia (“ch”/“x”); - omite a letra “h”, por não ter correspondência fonémica. Erros de caráter visoanalítico - não faz sínteses e/ou associações entre fonemas e grafemas, trocando letras sem qualquer sentido. Erros relativos ao conteúdo - não separa sequências gráficas pertencentes a uma dada sucessão fónica, ou seja, une palavras (“ocarro” em vez de “o carro”), junta sílabas pertencentes a duas palavras (“no diaseguinte”) ou separa palavras incorretamente. Erros referentes às regras de ortografia - não coloca “m” antes de “b” ou “p”; - ignora as regras de pontuação; - esquece-se de iniciar as frases com letra maiúscula; - desconhece a forma correta de separação das palavras na mudança de linha, a sua divisão silábica, a utilização do hífen. De uma forma geral, a caraterística mais comum nas crianças com disortografia é, sem dúvida, a ocorrência de erros ortográficos, sejam estes de caráter linguístico-percetivo, visoespacial, visoanalítico, de conteúdo ou referentes às regras de ortografia. No entanto, quando intervimos junto destes indivíduos, devemos ter a noção de que outros aspetos estão envolvidos no ato da escrita e, consequentemente, importa trabalhá-los. Intervenção A intervenção junto de alunos com disortografia não deve obedecer a um único modelo em concreto, mas sim a uma variedade de técnicas que tenham em conta não apenas a correção dos erros ortográficos, mas também a perceção auditiva, visual e espáciotemporal, bem como a memória auditiva e visual. Torres & Fernández (2001) salientam duas áreas importantes na reeducação da disortografia: a intervenção sobre os fatores associados ao fracasso ortográfico e a correção dos erros ortográficos específicos. No que diz respeito à primeira, são importantes os aspetos relacionados com a perceção, discriminação e memória auditiva (exercícios de discriminação de ruídos, reconhecimento e memorização de ritmos, tons e melodias) ou visual (exercícios de reconhecimento de formas gráficas, identificação de erros, perceção figura-fundo); as características de organização e estruturação espacial (exercícios de distinção de noções espaciais básicas, como direita/esquerda, cima/baixo, frente/trás); a perceção linguístico-auditiva (exercícios de consciencialização do fonema isolado, sílaba, soletração, formação de famílias de palavras, análise de frases); e também exercícios que enriqueçam o léxico e vocabulário da criança. Quanto à intervenção específica sobre os erros ortográficos, atente-se particularmente nos de ortografia natural (exercícios de substituição de um fonema por outro, letras semelhantes, omissões/adições, inversões/rotações, uniões/separações); de ortografia visual (exercícios de fonemas com dupla grafia, diferenciação de sílabas, reforço da aprendizagem); e de omissão/adição do “h” e das regras de ortografia (letras maiúsculas/minúsculas, “m” antes de “b”/“p”, “r”/“rr”). Por outro lado, é importante, também, que se diferenciem os erros de ortografia das falhas na compreensão e, consequentemente, da possibilidade de elaboração de respostas. No momento da avaliação, é importante dar-lhe mais tempo para responder às questões e/ou certificar-se de que os enunciados/questões foram compreendidos; privilegiar a expressão oral também poderá ser uma boa estratégia. Para finalizar, importa acrescentar que qualquer que seja o procedimento a adotar, é importante que o educador (seja ele o professor, o psicólogo, o pai, o tio ou o irmão) tenha em conta as reais habilidades e dificuldades da criança e seja capaz de planear um conjunto de atividades que vão ao encontro dessas (in)capacidades específicas. Tal como afirma Micaelo (2005, p. 59) “o trabalho a desenvolver (…) passa, acima de tudo, por conhecer as características individuais de cada aluno e o seu modo de funcionamento, de forma a encontrar as respostas pedagógicas adequadas”. TDAH O TDAH é um transtorno no desenvolvimento do autocontrole, marcado por déficits referentes aos períodos de atenção, ao manejo dos impulsos e ao nível de atividade (Barkley, 2002). A patologia é essencialmente caracterizada pela dificuldade de manter atenção, pela agitação e inquietude, o que muitas vezes pode configurar em hiperatividade e impulsividade. Esses sintomas seguem um padrão persistente e são mais freqüentes e severos do que manifestações similares presentes em crianças da mesma idade e nível desenvolvimental (Benczik, 2000), tendo em vista ser bastante comum as crianças apresentarem um comportamento mais ativo, desatento e impulsivo que os adultos (Barkley, 2002). As crianças com TDAH são comumente descritas como desligadas, aborrecidas e desmotivadas frente às tarefas, sem força de vontade, bagunceiras e desorganizadas. São crianças agitadas, como se estivessem a “mil por hora” ou “com bicho carpinteiro”, são barulhentas e tendem a fazer coisas fora de hora (Barbosa, 2001). Além dessas características, é comum que crianças com TDAH apresentem outros sintomas, como baixa tolerância à frustração, troca contínua de atividades, dificuldade de organização e presença de sonhos diurnos. A essa patologia podem estar relacionados os fracassos escolares, as dificuldades emocionais e dificuldades de relacionamento em crianças e adolescentes (Wilens, Biedermann, & Spencer, 2002). Nos dias de hoje, uma grande parte dos profissionais clínicos acredita que o TDAH está calcado sobre 3 problemas primários: a dificuldade em manter a atenção, o controle ou inibição de impulsos e a atividade excessiva. É possível identificar sintomas adicionais, como dificuldade para seguir regras e instruções e variabilidade em suas reações frente às mais variadas situações (Barkley, 2002). A patologia foi caracterizada no DSM-IV TR (2002) por sintomas agrupados em 3 clusters: Desatenção, Hiperatividade e Impulsividade. A história do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade remete a um período que ultrapassa 1 século. O primeiro trabalho sobre o tema, escrito pelo médico escocês Alexander Crichton, descreveu, em 1798, aspectos de desatenção encontrados em jovens que são muito semelhantes aos critérios propostos pelo DSM-IV para o tipo desatento do TDAH (Palmer & Finger, 2001). Sua inclusão na Segunda edição do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Distúrbios Mentais – DSM-II (American Psychiatric Associacion, 1968), como Distúrbio de Reação Hipercinética da Criança, 344 Avaliação e Diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) Rodrigo L. Graeff e Cícero E. Vaz foi, sem dúvida, um dos mais significativos dentre os marcos da história (Barbosa & Stein, 1999). Na época da publicação, os pesquisadores davam maior ênfase aos sintomas de hiperatividade; porém, estudos da década de 70, como os de Vírgínia Douglas e seus alunos da Universidade McGill (Canadá), foram, e muito, responsáveis pela nomenclatura de “Distúrbio de Déficit de Atenção”, em 1980, no DSM – III (APA, 1980). No manual de 1980, os sintomas poderiam, ou não, ser acompanhados pela hiperatividade; logo, ocorreu um desvio no foco da patologia, pois o prejuízo maior era causado pelo sintoma de desatenção e não pela hiperatividade (Rohde & Ketzer, 1997). Os sintomas da desatenção podem ser identificados pelas seguintes manifestações: dificuldade de atentar a detalhes, tendência a cometer equívocos por pequenos descuidos em atividades escolares e de trabalho, dificuldade de manter a atençãoem atividades lúdicas ou tarefas em geral, não seguir instruções dadas e não terminar tarefas escolares, ser facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa, apresentar dificuldade em organizar tarefas e atividades em geral, apresentar esquecimento em atividades diárias e evitar, ou mostrar relutância quanto à realização de tarefas que exijam esforço mental (Rohde et al., 1998). A desatenção e a distratibilidade geram uma espécie de “sonhar acordado” e a dificuldade de permanecer focado em uma única tarefa por um período de tempo mais prolongado. Como a atenção oscila de um estímulo para outro, impossibilitando o foco concentrado em apenas uma tarefa, essas crianças e adolescentes costumam gerar em pais e professores a impressão de que não estão ouvindo (Rohde & Ketzer, 1997). A desatenção pode se manifestar nas relações humanas por freqüentes mudanças de assunto, por falta de atenção àquilo que é dito e a detalhes ou regras quando participam de jogos ou outras atividades (Calegaro, 2002). Ainda que esses sintomas sejam intensos e bastante presentes nessas crianças, eles podem confundir o observador leigo, assim como os profissionais de saúde. O que mais confunde a avaliação desses sintomas é o fato de que muitas crianças com essa patologia são capazes de se manter atentas por um certo período de tempo. Situações em que existe alguma novidade para a criança, algo de alto valor de interesse, intimidação na qual ela esteja a sós com um adulto podem passar a sensação de que essas crianças não possuem dificuldades quanto à atenção e, assim, gerar muitos diagnósticos equivocados (Phelan, 2005). Hiperatividade pode ser entendida como inquietação motora e agressiva, não apenas leves espasmos, passando a sensação de que as crianças estão “ligadas na tomada”, por estarem quase que constantemente Avaliação e Diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) Rodrigo L. Graeff e Cícero E. Vaz Psicologia UsP, São Paulo, julho/setembro, 2008, 19(3), 341-361 345 em atividade (Phelan, 2005). Ela é caracterizada por inquietação ou dificuldade de manter-se quieto na carteira escolar, por não permanecer sentado quando era esperada tal conduta, por correr, escalar ou mostrar conduta motora inadequada em situações inapropriadas, por apresentar dificuldade em brincar ou realizar atividades de lazer em silêncio ou por falar excessivamente (APA, 2002). A hiperatividade não é constante nas crianças portadoras do TDAH, pois, algumas vezes, elas podem ficar quietas em situações novas, fascinantes, um pouco assustadoras ou quando estão a sós com alguém (Phelan, 2005). Essa quietude pode dificultar a identificação dos sintomas numa avaliação clínica, pois existe uma tendência de a criança não manifestar a hiperatividade no consultório clínico. Sendo assim, a avaliação desses sintomas deve abarcar situações em que as manifestações dos sintomas são mais prováveis: a escola, o trabalho e em situações sociais de grupo (Calegaro, 2002). Além disso, deve ser levado em conta o aspecto desenvolvimental da hiperatividade, o qual prevê uma diminuição natural da mesma na mediada em que a idade avança. A impulsividade é um fator importante no panorama do TDAH, pois pode causar desde um prejuízo significativo na interação social da criança a ações que promovam um risco físico real. Phelan (2005) postula que a impulsividade na criança com TDAH é caracterizada pela ação sem o controle racional, ou seja, a criança faz o que quer, o que lhe vem à cabeça, sem medir ou se preocupar com as conseqüências. Dessa forma, elas podem se envolver em brincadeiras perigosas, se ferirem, ou agredirem outras crianças quando frustradas, para atingirem aquele desejo que lhes veio à mente. Os portadores do TDAH apresentam dificuldades consideráveis em conter suas respostas frente a uma situação e pensarem antes de agir, pois realizam atos que dificilmente fariam se refletissem antes. Acabam, dessa forma, verbalizando coisas de forma impulsiva, muitas vezes carregadas de uma carga emocional muito forte, apresentando um comportamento rude e insensível. Tendem a agir com rapidez quando uma idéia lhes vem à mente, sem levar em conta se estão no meio de uma outra tarefa ou em um ambiente inadequado (Barkley, 2002). Essas características repercutem negativamente tanto no meio social como no da aprendizagem. Na sala de aula, as crianças com TDAH costumam interromper a aula, fazer comentários sem pensar e sem autorização, responder a perguntas antes que sejam terminadas, iniciar tarefas ou testes sem ler as instruções por completo ou com cuidado e mostrar dificuldade em aguardar a sua vez (Barkley, 2002). Essas crianças podem se envolver em alguma espécie de roubo, mobilizadas apenas pelo impulso, sem crítica 346 Avaliação e Diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) Rodrigo L. Graeff e Cícero E. Vaz quanto ao que pode acontecer, por exemplo, alguém dar falta do objeto que ela roubou, a quem está causando um dano (Phelan, 2005). Dificuldade em administrar o dinheiro é outra característica dessas crianças; elas compram o que vêem e desejam, sendo levadas pelo impulso, sem avaliar se realmente possuem condição de adquirir. Frente à importância da impulsividade no TDAH, abordagens científicas atuais sugerem que as dificuldades referentes a parar, pensar, planejar e depois agir, estratégias que são usadas para autocontrole, estão ligadas a um déficit importante no mecanismo de inibição do comportamento. Essa dificuldade pode prejudicar significativamente o gerenciamento de ações, ou seja, a criança com TDAH possui uma falha no autocontrole, a qual impossibilita que ela gerencie seus comportamentos de forma tão eficaz como outras pessoas. Hipoatividade É o oposto da Hiperatividade. A criança parece sempre estar alheia ao que se passa ao seu redor. Ela é dispersa e fica como se estivesse no * mundo da lua*; como que sonhando acordada. Ela não se liga a nada, mesmo estando num ambiente movimentado. Sua memória é pobre, ela não se intera com o ambiente e quase ou nunca tem amigos. Vive em *seu* mundo. Possui baixo nível motor e ela deve ser acompanhada por profissionais especializados ou que tenham conhecimento da síndrome. Seus pais podem perceber desde muito cedo e se orientarem através de pesquisas e orientação pedagógicas. Têm como características bases, serem quietinhas, muito calmas, não dar trabalho, tímidas, se isolam etc… O importante é que se tenha uma avaliação específica, pois são problemas fisiológicos que acarretam a hipoatividade e só especialistas podem determiná-los. A criança com esta síndrome pode permanecer horas a fio sem fazer absolutamente nada.Muitos não ouvem música e nem folheiam revistas, só ficam parados olhando o horizonte ou uma parede branca.(olhar perdido)Diferenciam dos autistas porquê eles têm habilidades sociais esporadicamente. Nada os incomodam, como, barulho movimentação …Não adianta repreender ou castigar pois só ouvem o que querem e como querem e os castigos se transformam em devaneios; não sabem o porquê e nem sabem que estão de castigo..É muito difícil e complicado lidar com portador de hipoatividade, pois não é claro o resultado a se obter. Estudos são realizados sobre o assunto e é importante que responsáveis se interem sobre os mesmos.Mas quando temos um filho ou um aluno com os sintomas de hipoatividade, devemos ficar atentos, cientes do assunto e tentar ajudá-los da melhor maneira possível. Os professores e pais têm por obrigação perceber estas características, para que eles não sejam rotulados como: lerdos, preguiçosos, omissos, surdos etc… E sem contar que pode prejudicar a classe com estes rótulos, pois os colegas podem usá-los e rejeitar os colegas com a síndrome. O nosso cérebro é muito complexo e nós dá surpresasuma atrás da outra e como professor não é um especialista em cérebros, ele deve saber sobre as síndromes mais frequentes e faladas e orientar os pais a procurar especialistas na área e saber orientar os seus alunos com sabedoria e com eficácia. Como podemos ver, tanto a hiperatividade como a hipoatividade acarretam cuidados especiais e saberes especiais. O equilíbrio tem que existir em tudo, só assim podermos transformar sonhos, em realidade. Devemos tentar ajudar, mas um tentar convicto, baseado na realidade da síndrome. SLIDE 3 Psicomotricidade A psicomotricidade, em sua ação educativa, pretende atingir a organização psicomotora da noção do corpo como marco espaço temporal do “eu” (entendido como unidade psicossomática). Esse marco é fundamental ao processo de conduta ou de aprendizagem, pois, busca conhecer o corpo nas suas múltiplas relações: perceptiva, simbólica e conceitual, que constituem um esquema representacional e uma vivência indispensável à integração, à elaboração e à expressão de qualquer ato ou gesto intencional. Para Galvão a psicomotricidade pode ser vista como a ciência que estabelece a relação do homem com o meio interno e externo: Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas. È sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento, o intelecto e o cognitivo. (GALVÂO, 1995, p. 10). Observamos que a psicomotricidade, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. A psicomotricidade permitir ao homem sentir-se bem com sua realidade corporal, possibilitando-lhe a livre expressão de seus sentimentos, pensamentos, conceitos, ideologias. Mesmo que a psicomotricidade assuma grande importância na resolução de problemas encontrados em sala de aula. Ela necessariamente não é única solução para as dificuldades de aprendizagem, mas sim o meio de auxiliar a criança a superar os obstáculos e prevenir possíveis inadaptações. Assim, essa procura proporcionar ao aluno algumas condições mínimas a um bom desempenho escolar. Pretende aumentar seu potencial motor dando-lhe recursos para que o aluno obtenha progresso no âmbito escolar “O termo psicomotricidade se divide em duas partes: a motriz e o psiquismo, que constituem o processo de desenvolvimento integral da pessoa”. (Fonseca, 2004, p.16). A palavra motriz se refere ao movimento, já psico determina a atividade psíquica em duas fases, a sócio- afetiva e cognitiva. Em outras palavras, o que se quer dizer é que na ação da criança se articula toda sua afetividade, todos seus desejos, mas também todas suas possibilidades de comunicação e articulação de conceitos. A teoria de Piaget afirma que a inteligência se constrói a partir da atividade motriz das crianças. Nos primeiros anos de vida, até os sete anos, aproximadamente, a educação da criança é psicomotriz. Tudo, o conhecimento e a aprendizagem, centram-se na ação da criança sobre o meio, os demais e as experiências através de sua ação e movimento. Através da psicomotricidade pode-se estimular e reeducar os movimentos da criança. A estimulação psicomotriz educacional se dirige a indivíduos sãos, através de um trabalho orientado à atividade motriz e as brincadeiras. Na reeducação psicomotriz se trabalha com indivíduos que apresentam alguma deficiência, transtornos ou atrasos no desenvolvimento. Tratam-se corporalmente mediante uma intervenção clínica realizada por um pessoal especializado. Através da psicomotricidade pode-se estimular e reeducar os movimentos da criança. A estimulação psicomotriz educacional se dirige a indivíduos sãos, através de um trabalho orientado à atividade motriz e as brincadeiras. Na reeducação psicomotriz se trabalha com indivíduos que apresentam alguma deficiência, transtornos ou atrasos no desenvolvimento. Tratam-se corporalmente mediante uma intervenção clínica realizada por um pessoal especializado. Sendo assim, instituições de ensino buscam oportunizar, às crianças, condições de desenvolverem capacidades básicas, aumentar seu potencial motor, utilizando o movimento para atingir aquisições mais elaboradas, como as intelectuais, como também sanar as dificuldades apresentadas pelos alunos Para que esses objetivos sejam alcançados, as escolas estão adotando metodologias que visem o desenvolvimento motor através de uma série de exercícios psicomotores, jogos e brincadeiras. Essas atividades além de desenvolverem as estruturas físicas, também auxiliam na maturação mental, afetiva e social. No entanto, Negrine faz algumas observações sobre a adoção das metodologias pelos professores: Seja qual for à experiência proposta e o método adotado, o educador deverá levar em consideração as funções psicomotoras (esquemacorporal, lateralidade, equilíbrio, etc.) que pretende reforçar nas crianças com as quais está trabalhando. Mesmo levando em conta que, em qualquer exercício ou atividade proposta, uma função psicomotora sempre se encontra associada a outras, o professor deverá estar consciente do que exatamente está almejando e onde pretende chegar. (NEGRINE, 1995, p. 25). Contudo, em se tratando de educação psicomotora é importante ressaltar, nesse aspecto, que o professor primeiramente precisa conhecer sobre o desenvolvimento infantil e as funções psicomotoras, para posteriormente organizar o seu planejamento de aulas. REFERÊNCIAS Moura Pedrosa,G https://conexaoitajuba.com.br/hipoatividade/ acesso em 17/11/2021. AFONSO, M. L. P. (2010). Disortografia: compreender para intervir. Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação - Especialização em Educação Especial, apresentada à Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, Porto, 111 pp. ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE PESSOAS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS (2011a). Discalculia. Acedido a 9 de março de 2011 em http://www.appdae.net/discalculia.html. ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE PESSOAS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ESPECÍFICAS (2011b). Disgrafia. Acedido a 27 de Fevereiro de 2011 em http://www.appdae.net/disgrafia.html. CAMARGO, M. J. G. (2008). Disgrafia Motriz. Acedido a 9 de Fevereiro de 2011 em http://www.neuropediatria.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=93:disgrafi a-motriz&catid=59: transtorno-deaprendizagem-escolar&Itemid=147. CAMPANUDO, M. J. O. (2009). Representações dos Professores sobre Dificuldades de Aprendizagem Específicas – Leitura, Escrita e Cálculo. Tese de Mestrado em Psicologia da Educação e Intervenção Comunitária. Universidade Fernando Pessoa, Porto, 103 pp. CINEL, N. C. B. (2003). Disgrafia – Prováveis causas dos distúrbios e estratégias para a correção da escrita. Porto Alegre: Revista do Professor, 19 (74), 19-25. CORREIA, L. M. (1999). Alunos com Necessidades Educativas Especiais nas Classes Regulares. Coleção Educação Especial. Porto: Porto Editora. CORREIA, L. M. (2004). Problematização das dificuldades de aprendizagem nas necessidades educativas especiais. Análise Psicológica, 2, 369-376. CORREIA, L. M. (2008). Dificuldades de Aprendizagem Específicas – Contributos para uma definição portuguesa. Coleção Impacto Educacional. Porto: Porto Editora. CRUZ, V. (1999). Dificuldades de Aprendizagem: Fundamentos. Coleção Educação Especial. Porto: Porto Editora. https://conexaoitajuba.com.br/author/gilzamoura/ https://conexaoitajuba.com.br/hipoatividade/ http://www.appdae.net/discalculia.html http://www.appdae.net/disgrafia.html CRUZ, V. (2009). Dificuldades