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Autores: Prof. Edson Conceição Júnior Prof. Manuel Meirelles Colaboradores: Prof. Flávio Martin Profa. Divane Alves da Silva Profa. Viviane Paes Custos e Preços Professores conteudistas: Edson Conceição Júnior / Manuel Meirelles Edson Conceição Júnior Possui especialização Lato Sensu em Administração Financeira (1995), graduação em Ciências Contábeis (1994) e em Administração (1988), todos pela Universidade de Sorocaba – Uniso. Tem experiência na área de Administração e Consultoria, com ênfase em Avaliações Periciais Judiciais e Extrajudiciais, atua como perito judicial em diversas Comarcas das Justiças Estadual, Federal e do Trabalho, e perito assistente de inúmeros escritórios de advogados e empresas diversas. Exerce a função de professor universitário e gerente contábil administrativo da Cooperativa de Eletrificação e Desenvolvimento da Região de Itu e Mairinque – Cerim, empresa permissionária do setor de energia elétrica. Manuel Meirelles É doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (2006) e pós-doutorado pelo Centro de Estudos Avançados (CEA) da Universidade de Córdoba (Argentina), doutorado em Ciências, na área de Gestão em Saúde pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (2005), tem mestrado em Administração de Empresas pela Universidade Paulista (2000) e graduação em Administração. Atua como administrador e consultor de empresas nos campos: competitividade, estratégia competitiva, instrumentos de gestão e indicadores. É coordenador, pesquisador e professor de programa de doutorado e de mestrado profissional em Administração. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C744c Conceição Júnior, Edson. Custos e Preços / Edson Conceição Júnior, Manuel Meirelles. - São Paulo: Editora Sol, 2020. 176 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Custeio. 2. Precificação. 3. Preço de venda. I. Meirelles, Manuel. II. Título. CDU 657.47 U505.30 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Nascimento de Souza Vitor Andrade Sumário Custos e Preços APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 TERMINOLOGIA, CLASSIFICAÇÃO E ELEMENTOS FORMADORES DE CUSTOS .......................... 11 1.1 Contabilidade de custos .................................................................................................................... 15 1.2 Contabilidade gerencial ..................................................................................................................... 15 1.3 Bases para o conhecimento de custos ........................................................................................ 16 1.4 Termos utilizados na contabilidade de custos – distinção entre gasto, investimento, custo, despesa, perda e desembolso ....................................................................... 16 1.5 Considerações sobre os gastos........................................................................................................ 18 1.6 Classificação dos custos em relação ao volume de produção ........................................... 19 1.6.1 Custos fixos ............................................................................................................................................... 19 1.6.2 Custos variáveis ....................................................................................................................................... 19 1.7 Classificação dos custos em relação aos produtos fabricados .......................................... 21 1.7.1 Custos diretos ........................................................................................................................................... 21 1.7.2 Custos indiretos ....................................................................................................................................... 21 2 ELEMENTOS FORMADORES DE CUSTOS ................................................................................................. 23 2.1 Materiais .................................................................................................................................................. 23 2.2 Mão de obra ........................................................................................................................................... 24 2.2.1 Gastos gerais de fabricação ou CIF (Custos Indiretos de Fabricação) ............................... 24 2.3 Impostos recuperáveis ........................................................................................................................ 24 2.4 Sistema de inventário periódico ou sistema de inventário permanente? .................... 26 2.5 Métodos de avaliação de estoques ............................................................................................... 26 2.5.1 Peps/Fifo – Primeiro a entrar, primeiro a sair (first in, first out) .......................................... 26 2.5.2 Ueps/Lifo (last in, first out) ................................................................................................................. 28 2.6 Média ponderada móvel ou custo médio................................................................................... 29 2.7 Métodos de custeio ............................................................................................................................. 31 2.8 Custeio por absorção e custeio variável ..................................................................................... 32 2.9 Análise dos critérios de rateio ......................................................................................................... 33 2.10 Aplicação do custeio por absorção ............................................................................................. 36 2.11 Custeio por absorção com departamentalização .................................................................. 39 2.12 Aplicação dos custos indiretos de fabricação (CIF) .............................................................. 39 2.13 Conceitos de departamento e sua classificação ................................................................... 40 2.14 Centros de custos .............................................................................................................................. 41 2.15 Custeio por absorção com departamentalização ................................................................. 42 2.16 Outros aspectos da contabilidade de custos – custos de materiais diretos .............. 48 2.17 Apuração de custos em produção por ordem ........................................................................49 2.18 Apuração de custos em produção contínua ........................................................................... 51 2.19 Apuração de custos em produção conjunta ........................................................................... 51 3 CUSTEIO VARIÁVEL ......................................................................................................................................... 52 3.1 Objetivos de sua aprendizagem ...................................................................................................... 52 3.1.1 Introdução ................................................................................................................................................. 52 3.2 Conceito de margem de contribuição ......................................................................................... 53 3.3 Custeio variável ..................................................................................................................................... 55 3.4 Distinção entre custeio por absorção e custeio variável...................................................... 58 4 CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES (ABC) E CUSTO PADRÃO ...................................................... 66 4.1 Introdução ............................................................................................................................................... 67 4.1.1 Apuração dos custos das atividades ............................................................................................... 67 4.1.2 Alocação dos custos das atividades aos produtos .................................................................... 70 4.2 Utilização do ABC para avaliação de desempenho ................................................................ 75 4.3 ABC e o custeio variável .................................................................................................................... 76 4.4 Vantagens e desvantagens do custeio baseado em atividades ......................................... 77 4.5 Custos para controle ........................................................................................................................... 81 4.5.1 Introdução ................................................................................................................................................. 81 4.6 Custo padrão .......................................................................................................................................... 83 4.6.1 Custo padrão estimado ........................................................................................................................ 83 4.6.2 Custo padrão ideal ................................................................................................................................. 84 4.6.3 Custo padrão básico ou corrente ..................................................................................................... 84 4.7 Análise das variações de materiais diretos e mão de obra .................................................. 85 4.7.1 Variações de materiais diretos ........................................................................................................... 85 4.7.2 Variações de mão de obra direta ...................................................................................................... 86 4.8 Análise das variações dos custos indiretos ................................................................................ 87 4.9 Aplicação dos custos para controle .............................................................................................. 88 Unidade II 5 ANÁLISE CUSTO-VOLUME-LUCRO ............................................................................................................ 92 5.1 Introdução ............................................................................................................................................... 93 5.2 Comportamento dos custos fixos, variáveis e receita de venda ....................................... 93 5.3 Conceito de ponto de equilíbrio .................................................................................................... 95 5.3.1 Ponto de equilíbrio contábil, econômico e financeiro ............................................................. 98 5.3.2 Margem de contribuição e aplicação do ponto de equilíbrio contábil para N produtos ..........................................................................................................................................................103 5.3.3 Ponto de equilíbrio: síntese ..............................................................................................................108 6 PREÇOS E CUSTOS – FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDAS COM BASE NO CUSTO DO PRODUTO .......................................................................................................................................112 6.1 Premissas da análise e maximização dos lucros ....................................................................113 6.2 A precificação e as receitas da empresa ...................................................................................119 6.3 Break-even point, ou ponto de equilíbrio ou, ainda, ponto de nivelamento ............121 6.4 Calculando a quantidade de equilíbrio Q* ...............................................................................123 6.5 A maximização do lucro ..................................................................................................................124 6.6 O mark-up .............................................................................................................................................126 6.7 O mark-up divisor ..............................................................................................................................129 Unidade III 7 FORMAÇÃO DO PREÇO DE VENDA .........................................................................................................134 7.1 Modelo de precificação ou de formação do preço de venda ...........................................137 7.1.1 Custos, preços e lucros na fase de nascimento ....................................................................... 138 7.1.2 Custos, preços e lucros na fase de crescimento ...................................................................... 139 7.1.3 Custos, preços e lucros na fase de maturidade ....................................................................... 139 7.1.4 Custos, preços e lucros na fase de estabilidade ...................................................................... 140 7.1.5 Custos, preços e lucros na fase de envelhecimento ...............................................................141 8 PRECIFICAÇÃO PELO MARK-UP E PRECIFICAÇÃO MAXIMIZANTE.............................................142 8.1 Precificação pelo mark-up ..............................................................................................................142 8.2 Função demanda ................................................................................................................................143 8.2.1 Função de demanda por meio de softwares estatísticos .................................................... 144 8.2.2 Função demanda calculada manualmente pelo método dos mínimos quadrados .. 146 8.2.3 Função demanda usando a calculadora financeira HP-12C .............................................. 150 8.3 Noções de função derivada ............................................................................................................152 8.4 Equação da demanda por meio da reta de regressão usando o Excel .........................153 8.5 Algumas regras fundamentais de derivação ...........................................................................154 8.6 Cálculo de preços maximizantes da receita ............................................................................155 8.7 Preço de venda que maximiza o lucro .......................................................................................1569 APRESENTAÇÃO Esta disciplina trata da determinação dos custos de produtos ou serviços e dos correspondentes preços. Ela está dividida em três unidades que se complementam: a primeira e a segunda referem-se à análise de custos, em que você aprenderá os conceitos associados a diversos tipos de custos, a analisar custos e lucros por meio do custeio por absorção e custeio variável; será capaz de calcular e interpretar os efeitos das variações provocadas pelo uso de cada um destes tipos de custeio. Compreenderá, ainda, as finalidades e utilidades do custo padrão e da utilização do custeio baseado em atividades (ABC) para determinar os custos dos produtos. Na terceira unidade, referente à formação do preço de venda, saberá como pode estabelecer os preços de venda de um produto ou serviço produzido, considerando quatro aspectos fundamentais: custo do produto ou do serviço, composto de marketing, concorrentes e clientes. Para isso, aprenderá a estabelecer o preço tendo em conta a estrutura de mercado, as implicações quanto à natureza do produto ou serviço, os diferentes tratamentos da concorrência e a vantagem competitiva da empresa, além do tipo de cliente e sua percepção de valor. Observe que para estabelecer o preço de venda, além de levar em conta o custo do produto, deve considerar, entre outras coisas, a estrutura de mercado e o composto de marketing. A estrutura de mercado refere-se principalmente à quantidade de concorrentes; o composto de marketing é, em geral, conhecido pelos “quatro pês” (4 Ps) do marketing, também chamados de mix de marketing e representam os pontos fundamentais de uma estratégia de marketing: produto, preço, praça e promoção. INTRODUÇÃO A disciplina Custos e Preços pretende provocar uma reflexão sobre o registro e a gestão de custos e preços, sempre enfatizando os aspectos relativos à tomada de decisão nas empresas. Com tal reflexão, espera-se que observem quão vasto é o campo e quão ampla é a importância da contabilidade para os ramos financeiro, custos e gerencial. Acredita-se que, com isso, sejam capazes de reconhecer as informações originadas pela Contabilidade Financeira e aplicá-las na formação da estrutura de custos dos produtos e serviços prestados. Veremos que conhecer os custos dos produtos e dos serviços é condição essencial para bem gerir uma empresa, independentemente do tipo e porte, seja comercial, seja industrial. Nesta disciplina será estudada também a formação do preço de venda e quais elementos devem ser considerados para especificar o preço de um produto, pois saberemos que o preço de venda assume um papel significativo no processo de geração de caixa e rentabilidade do empreendimento. Vamos estudar na parte da formação do preço de venda (ou precificação ou, ainda, apreçamento), outros aspectos essenciais. São eles: • Preços e custos. 10 • Preços e composto de marketing. • Preços e concorrência. • Preços e clientes. Com esse conteúdo, será possível gerir um negócio, precificar um serviço, analisar os custos envolvidos em cada produto ou serviço, além de identificar outros aspectos que certamente influenciam no preço. 11 CUSTOS E PREÇOS Unidade I 1 TERMINOLOGIA, CLASSIFICAÇÃO E ELEMENTOS FORMADORES DE CUSTOS Nesta primeira unidade vamos conhecer os principais conceitos relacionados a custos e, desta forma, seremos capazes de identificar os métodos de custeio empregados na apuração dos custos, bem como compreender melhor os objetivos da contabilidade de custos e o significado de custos e despesas. Tomaremos contato com a terminologia aplicada e a classificação dos custos, os elementos formadores do custo, assim como sua classificação em relação ao produto, e ao momento de ocorrência. Serão apresentados tipos de custeios, suas variações e características, vantagens e desvantagens da utilização de cada método: • Custeio por absorção com rateio simples e por meio de departamentalização. • Custeio baseado em atividades, conhecido também como ABC. • Custeio variável, conhecido também como custeio direto. • Custos para controle, conceito e diferenças de custo padrão. No fim desta unidade, teremos o entendimento do que trata a contabilidade de custos, sua utilização e aplicação nos diferentes ramos de atividades, sejam eles industriais, comerciais e de serviços, bem como a nomenclatura usada para a definição dos termos que compõem o custo de produção de um produto industrial. Conheceremos os principais aspectos de apuração de custos, distinguindo custos diretos e custos indiretos, custos variáveis e custos fixos, além de compreender os passos para aplicação dos custos e as implicações do uso de critérios de rateio distintos e utilização de centro de custos. Entendendo a sistemática do método de custeio baseado em atividades (ABC), aprenderemos como podem ser apropriados os custos das atividades aos produtos, e como o ABC pode ser utilizado para avaliar desempenho. Reconheceremos a problemática da alocação arbitrária dos custos indiretos fixos, e o conceito de margem de contribuição e sua utilidade como ferramenta gerencial. Com o conceito de custos para controle, seremos capazes de calcular e analisar as variações de quantidade, variações de preço e variações mistas, que é um tópico bastante importante para análise, controle e acompanhamento da empresa, possibilitando-nos distinguir o que é custo padrão, corrente e estimado. Para isso, é preciso conhecer a origem da contabilidade de custos. 12 Unidade I Objetivos da aprendizagem • Conhecer como surgiu a contabilidade de custos. • Assimilar o que são custos empresariais. • Entender a contabilidade de custos como ferramenta de gestão. • Identificar a classificação dos custos e despesas. • Conhecer os critérios de rateio e mecanismos de custeio. Qual a origem e os conceitos da contabilidade de custos? A contabilidade de custos teve seu princípio na Revolução Industrial a partir do momento em que as organizações, até aí mercantilistas, passaram a comprar matéria-prima para transformar em novos produtos. Segundo Martins (2009), a contabilidade de custos nasceu da Contabilidade Financeira quando havia a necessidade de avaliar os estoques na indústria especificamente. Anteriormente os produtos eram fabricados por artesãos, sendo que estes eram constituídos por pessoas físicas, que pouco se preocupavam com os custos de seus produtos. Todavia, naquela época, o processo de produção era muito semelhante ao processo artesanal, que entendia por custo basicamente a matéria-prima e a mão de obra, que eram sem dúvida os mais relevantes. Com o desenvolvimento e o emprego cada vez mais intensivo das máquinas no processo de produção, os novos custos apareceram, tornando bem mais complexos os métodos para medi- los. A complexidade destes métodos contábeis conseguiram solucionar progressivamente com mais rapidez os custos de fabricação, dando origem à contabilidade de custos, concebida como um instrumento para resolução dos problemas da mensuração monetária dos estoques e do resultado das organizações, não sendo, num primeiro momento, utilizada como ferramenta gerencial de administração (SCHIER, 2006). A forte expansão da globalização dos mercados nos últimos tempos aumenta os desafios dos gestores na incessante caminhada rumo à rentabilidade dos negócios e na busca do aperfeiçoamento dos processos administrativos. Para atingir este objetivo, a presença de profissionais capacitados se faz cada vez mais necessária em todos os empreendimentos e atividades nos mais diversos níveis. Há algum tempo se administrava intuitivamente e se atingia o sucesso, porém na atualidade, dada a acirrada competitividade e as imposições do mercado, a qualidade e a necessidade da informação gerencial se estendem pelos ramos da administração empresarial. Neste cenário, surgem os conceitos de contabilidade de custos. Conforme Leone (2000, p. 16), a contabilidade de custos é o ramo da Contabilidade que se destina a produzir informações para os diversosníveis gerenciais de uma entidade, 13 CUSTOS E PREÇOS como auxílio às funções de determinação de desempenho, de planejamento e controle das operações e de tomada de decisão. Com a concorrência cada vez mais acirrada entre as empresas, fruto da globalização e das recentes crises mundiais, torna-se imprescindível que as companhias se voltem mais ainda para a gestão de custos como ferramenta fundamental de gestão estratégica de custos e, em alguns casos, até mesmo para tentar garantir a continuidade da instituição. Apesar de parecer óbvio, muitas empresas não se dão conta de que em um mercado competitivo, de concorrência livre, aumentar o preço repercute normalmente de forma negativa no volume de vendas. Assim, para tentar aumentar os lucros, elas precisam buscar de forma continuada a redução dos custos, logo, não podem se descuidar de outras informações relativas aos produtos e serviços, tais como, avaliação mais precisa e permanente dos estoques, controle e mensuração de desempenhos individualizados por linha de produtos e serviços, entre outros. Nesse sentido, a utilização de um adequado sistema de custos é vital em quaisquer tipos de atividades, notadamente naquelas com fins lucrativos que demandam o estabelecimento de preços de produtos ou serviços. É importante ressaltar ainda que os preços dos produtos e serviços não são determinados de forma integral pelos custos, mas principalmente pelo mercado. Entretanto, um correto sistema de apuração de custos é fundamental tanto no processo de apuração de custos para fins de publicação das demonstrações contábeis (contabilidade financeira), quanto no processo de tomada de decisão pela empresa (contabilidade gerencial). Embora a contabilidade de custos atenda tanto à contabilidade financeira quanto à contabilidade gerencial, é possível depreender que esteja mais ligada à gerencial pelo suporte que fornece ao progresso decisório (SILVA; LINS, 2017). Atualmente um número significativo de empresas de serviços se utiliza dos conceitos de custos no custeamento de seus serviços, em especial nas entidades em que se trabalha por projeto (instituições de engenharia, escritórios de auditoria, planejamento etc.), e mesmo sociedades comerciais e financeiras utilizam-se da expressão contabilidade de custos quando, à primeira vista, só existem despesas. A generalização dessa terminologia se deve não só ao uso das técnicas daquela disciplina, mas à ideia de que tais entidades são produtoras de utilidades e, por isso, possuem custos. Estes se transformam imediatamente em despesas, sem que haja uma fase de estocagem, como no caso da indústria de bens, entretanto a aplicação da terminologia não deixa de ser apropriada (SILVA; LINS, 2017). Ainda que a contabilidade de custos seja uma técnica utilizada para identificar, mensurar e informar os custos dos produtos e serviços, portanto, mais próxima das atividades de fabricação, seus fundamentos podem ser aplicados com razoável facilidade aos diversos ramos de atividade, bastando para isso determinar os objetivos e as finalidades do custeio. Nesta linha, Bomfim e Passarelli (2008) definem a contabilidade de custos como sendo aquela que se destina à geração de informações contábeis de interesse dos usuários internos à empresa, servindo de apoio indispensável a decisões gerenciais das mais diversas naturezas, coletando, 14 Unidade I classificando e registrando os dados operacionais das diversas atividades da entidade, denominados dados internos, bem como, algumas vezes, coleta e organiza dados externos. As informações captadas podem ser tanto monetárias como físicas. É neste ponto que reside uma das grandes potencialidades da contabilidade de custos: a combinação de dados monetários e físicos resulta em indicadores gerenciais de grande poder informativo. Podemos afirmar então que a contabilidade de custos atende aos gestores das mais diversas empresas dos mais variados ramos de atividade, vez que acumula, organiza, analisa e interpreta os dados operacionais, monetários e físicos, e tais indicadores são combinados no sentido de produzir, para os muitos níveis de administração e de operação, relatórios com as informações de custos solicitados. A contabilidade de custos, através da coleta detalhada dos dados operacionais de vários tipos, que podem ser históricos, estimados (futuros), padronizados e produzidos, gera informações de custos diferentes, atendendo assim as diferentes necessidades gerenciais. Dentre os seus principais objetivos estão: avaliação dos estoques, atendimento às exigências fiscais, determinação dos resultados, planejamento, formação do preço de venda, controle gerencial, avaliação de desempenho, controle operacional, análise de alternativas, estabelecimento de parâmetros, obtenção de dados orçamentários e tomada de decisão. Torna-se evidente portanto a importância da contabilidade de custos para o bom desempenho dos administradores e gestores de negócios. Se analisarmos bem, o conhecimento da estrutura de custos de uma empresa está ligado a fatores determinantes: • Determinação do lucro: em que são empregados os dados extraídos da contabilidade e processados de maneira que gerem informações mais úteis à gestão. • Tomada de decisão: que está muito ligada à produção e a responder a questões como: o que produzir? Quanto produzir? Como e quando fabricar? Além de influenciar na formação de preços e na escolha de produção própria ou terceirizada. • Controle das operações: controle de todos os recursos produtivos como os estoques, manutenção de padrões de operação e orçamento, e a comparação entre o previsto e o realizado. Através da contabilidade de custos é possível atender as necessidades gerenciais de três tipos: • Informações sobre a rentabilidade e o desempenho de diversas atividades da entidade. • Auxílio no planejamento, controle e desenvolvimento das operações. • Informações para a tomada de decisão. Assim, vamos precisar entender alguns conceitos envolvidos na contabilidade de custos, pensamentos esses que comumente causam alguma “confusão” entre os leigos, mas que são de extrema importância para os gestores desempenharem suas funções plenamente. 15 CUSTOS E PREÇOS 1.1 Contabilidade de custos Na indústria, custos aplica-se ao departamento de produção das empresas, tendo como objetivo controlar os diversos gastos envolvidos na fabricação dos produtos, tais como, mão de obra direta e indireta, materiais diretos (matérias-primas, embalagens e insumos) e gastos gerais de fabricação, também chamados de custos indiretos de fabricação (energia elétrica, depreciação e aluguéis da fábrica etc.). A contabilidade de custos surgiu da necessidade de adaptação às empresas industriais dos critérios da contabilidade geral ou financeira utilizados com sucesso no controle do patrimônio das sociedades comerciais. Enquanto na contabilidade geral ou financeira busca-se o controle do patrimônio da sociedade como um todo, na contabilidade de custos o fim imediato é a avaliação de estoques e do resultado. Com o crescimento das empresas e o consequente distanciamento dos administradores, a contabilidade de custos passou a ser vista como um importante instrumento de auxílio da função gerencial. Surgiu, assim, a denominada Contabilidade gerencial. 1.2 Contabilidade gerencial Esse novo ramo da contabilidade, que tem como finalidade o fornecimento de informações necessárias ao controle e tomada de decisão pelos administradores, por ser relativamente novo, ainda carece de aperfeiçoamentos, cabendo reforçar a importância de adaptações dos critérios da contabilidade de custos para o bom desempenho dessa nova função gerencial. Os custos de uma empresa resultam da combinação de diversos fatores, como a capacitação tecnológica, produtiva e de processos, gestão, estrutura organizacional, qualificação da mão de obra, entre outros. Nos custos está refletida uma série de variáveis, tanto internas como externas, que justificam a utilizaçãoda contabilidade de custos para: o auxílio ao controle e a ajuda na tomada de decisões. Partindo dessa premissa, as organizações se utilizam da contabilidade de custos para tornarem-se cada vez mais atraentes, respondendo de forma positiva às várias mudanças ocorridas tanto no âmbito interno quanto externo de sua organização. Concorrentes, clientes, governo, avanços tecnológicos etc. são fatores que de modo direto influenciam no crescimento e, consequentemente, na existência de uma organização. Assim sendo, elas devem exercer um constante controle de seus gastos a fim de continuarem consolidadas ou se consolidarem no mercado. Como no mundo globalizado a facilidade de encontrar o produto desejado é cada vez maior, a empresa necessita de fatores que a tornem mais atraente em detrimento às demais. E respondendo à essa necessidade de sobrevivência, o conhecimento dos elementos de formação do preço de venda dos produtos e serviços constitui-se em uma vantagem competitiva relevante para as organizações. 16 Unidade I 1.3 Bases para o conhecimento de custos Quanto mais estruturada for a empresa, melhores serão os resultados obtidos por meio de um sistema de custos. Essa estrutura mistura metas simples e um tratamento complexo de dados, o que nos obriga a definir seus objetivos. Uma instituição apura seus custos com vistas: • Ao entendimento de exigências legais quanto à apuração de resultados de suas atividades e avaliação de estoques. • Ao conhecimento dos custos para a tomada de decisões corretas e o exercício de controles (MEGLIORINI, 2007). Custos atendem tanto à contabilidade financeira quanto à contabilidade gerencial; na primeira, no que se refere às exigências legais, que dependem da adequação dos seus métodos de apuração de custos aos princípios contábeis e conformidade com as normas e a legislação vigente. Já na contabilidade gerencial, quando utilizada para a tomada de decisão, podem-se empregar quaisquer métodos de custeio capazes de fornecer as informações necessárias à gestão da empresa. 1.4 Termos utilizados na contabilidade de custos – distinção entre gasto, investimento, custo, despesa, perda e desembolso • Gastos: sacrifícios necessários à obtenção de um bem ou serviço. Representam desembolsos imediatos ou a promessa de desembolsos futuros. Eles têm um sentido amplo, abrangendo investimentos, custos ou despesas. • Investimentos: gastos que têm como contrapartida um ativo. • Custos: gastos relativos a bens ou serviços utilizados na produção de outros bens ou serviços. • Despesas: representam os bens ou serviços consumidos direta ou indiretamente para a obtenção de receitas. Gastos relativos aos demais departamentos, como venda e administrativo. • Desembolso: representa o pagamento resultante da aquisição de um bem ou serviço. Não se confunde com o gasto, uma vez que pode acontecer em momentos distintos. Exemplo: em uma compra a prazo, o gasto se dá quando da transferência da propriedade do bem, ocorrendo o desembolso no momento do pagamento. • Perda: representa um bem ou serviço consumido de forma anormal e involuntária. Exemplo: obsoletismo de estoque, perdas com incêndio. Assim como as despesas, as perdas vão diretamente à conta de resultado. Adiante estabeleceremos a diferença entre perdas normais e anormais. Em uma empresa comercial, que compra mercadoria para revender, os custos estão alocados basicamente no estoque. Já em uma companhia que produz e vende qualquer que seja o tipo de produto, apresenta um desenho geral, e os gastos podem ocorrer nas diversas maneiras, conforme os conceitos 17 CUSTOS E PREÇOS apresentados. À esquerda dos esquemas estão os principais departamentos da empresa e, à direita, os tipos de gastos direcionados para cada departamento conforme sua ocorrência. Almoxarifado Escritório central Fábrica Filiais e lojas de fábrica Custos Despesas Figura 1 – Ocorrência dos custos e despesas A figura anterior nos mostra que os custos ocorrem na área produtiva da empresa, ou seja, na fábrica ou fora dela quando a produção é terceirizada. Já as despesas só acontecem na área que compreende a administração e o comercial, uma vez que estes setores contribuem para a obtenção das receitas e apresentam gastos para sua própria manutenção. Almoxarifado Escritório central Fábrica Filiais e lojas de fábrica Investimentos e perdas Figura 2 – Ocorrência dos investimentos e das perdas Na figura anterior é possível observar que tanto os investimentos quanto as perdas podem ocorrer em qualquer área da empresa. Quanto aos desperdícios, advêm toda vez que não se atinge o que poderia ser obtido normalmente. Assim, gasta-se mais do que o necessário e ocorre de maneira oculta, insidiosa, sem que se perceba imediatamente a sua ocorrência (DUBOIS; KULPA; SOUZA, 2006). 18 Unidade I 1.5 Considerações sobre os gastos Alguns cuidados devem ser tomados quando da separação entre os gastos que representam custos e as despesas, respeitando-se certos princípios contábeis: • valores irrelevantes devem ser considerados como despesas (princípios do conservadorismo e materialidade); • valores relevantes, que têm sua maior parte considerada como despesa, com a característica de se repetirem a cada período, devem ser considerados na sua íntegra (princípio do conservadorismo); • valores com rateio extremamente arbitrário também devem ser considerados como despesa do período; • gastos com pesquisa e desenvolvimento de novos produtos podem ter dois tratamentos: como despesas do período em que incorrem, ou como investimento para amortização na forma de custo dos produtos a serem elaborados futuramente. Lembrete Os conceitos básicos da contabilidade de custos são: gasto (que é o sacrifício financeiro); desembolso (pagamento); investimento (que são gastos ativados em virtude da sua vida útil); perda (consumo de modo involuntário); custo (que são gastos para uso na produção); e despesa (que é um gasto para obtenção de receita). De posse do conhecimento e da habilidade de diferenciar e classificar cada item de gastos em uma empresa, com base na compreensão das terminologias e classificações, haverá suporte suficiente para o bom entendimento do que é o custeio por absorção, sua finalidade e sua metodologia. Saiba mais Para ter uma ideia clara do que é a Demonstração de Resultados, acesse o link da companhia Vale. VALE. Demonstrações financeiras. [on-line]. Disponível em: <http://www. vale.com/brasil/PT/investors/information-market/financial-statements/ Paginas/default.aspx>. Acesso em: 14 jun. 2018. A fim de encontrar o referido valor, utilize o sistema de custeio por absorção. Em todas as empresas de capital aberto, há exigência legal de que estas quantias sejam calculadas. 19 CUSTOS E PREÇOS 1.6 Classificação dos custos em relação ao volume de produção A classificação dos custos em relação ao volume de produção dará ênfase às quantidades produzidas, sendo subdivididos os custos em fixos e variáveis. Nosso objetivo é apresentar os principais aspectos da forma de apuração de custos, pois se entende como função de acumulação de custos qualquer segmento da entidade em que se deseje apurá-los. Para isso, vamos conhecer outras classificações de custos. 1.6.1 Custos fixos Os custos fixos independem do volume de produção, dentro de um período relevante, ou seja, não apresentam qualquer variação em razão do nível de produção. Eles, em termos gráficos, se comportarão paralelamente ao eixo das quantidades, tendo em conta não sofrerem variação, independentemente da quantia produzida. Ou seja, se uma indústria cerâmica que produz aparelhos de jantar fizer um milhão de peças ou uma única peça, seus custos fixos permanecerão iguais. Graficamente tem-se o comportamento dos custos fixos conforme a figura a seguir. Custo $ Custo fixo Volume de atividade Figura 3 – Comportamento dos custos fixos no curto ou médio prazo Então, se o aluguel da área de produção for, por exemplo, de R$ 500, esse valor nãovaria com a unidade produzida, nem tende a mudar no curto prazo, como dois, três ou mais meses. Se a empresa produzir 100 unidades, terá que pagar o valor integral do aluguel, em caso de 1 unidade também. Observação Perceba outra coisa, o custo fixo não se inicia no zero. Isso porque, independentemente de qualquer volume produzido, ele vai existir (como falamos, fabricando ou não terá que pagar o aluguel; vendendo ou não o produto, teremos que pagar o aluguel no fim do mês). 1.6.2 Custos variáveis Os custos variáveis se alteram por conta do volume da produção, ou seja, sempre apresentarão algum grau de variação em razão das quantidades produzidas. Graficamente os custos variáveis se apresentam conforme mostra a figura a seguir. 20 Unidade I Custo $ Custo variável Volume de atividade Figura 4 – Comportamento dos custos variáveis Perceba que com o aumento da atividade ou do volume produzido, maiores serão os custos. Caso o volume de uma atividade fosse, por exemplo, de 50 unidades, o custo variável total seria de $ 100; se a produção aumentasse para 70 unidades, o custo variável total seria de $ 140; caso a produção fosse de 25 unidades, ele seria de $ 50, e assim sucessivamente. Portanto, ele muda com a variação do volume de produção. Diferentemente do custo variável, que pode começar do zero, por exemplo, se não produzir, não tem consumo de matéria-prima. Todavia em médio ou longo prazo, o dono do imóvel pode resolver aumentar o valor do aluguel; ou então, vamos supor que para supervisionar uma produção de 200 itens a empresa precise de um supervisor (que será sua mão de obra direta); contudo, se a produção se elevar para 500 unidades, ela vai precisar de dois supervisores, então seu custo fixo com mão de obra se eleva, mas ele se mantém para mais um intervalo de produção. Nesse caso, o comportamento do custo fixo seria como exibido na sequência. Custo $ Custo fixo Volume de atividade Figura 5 – Comportamento dos custos no médio e longo prazo Lembrete Custos variáveis são aqueles que, quanto maior a quantidade fabricada, maior seu consumo. Portanto, variam de acordo com o volume de produção; logo, materiais diretos são custos diretos. Exemplo: matéria- prima. Já os custos fixos, são aqueles que independentemente de aumentos ou diminuições do volume produzido permanecerão constantes por um período de tempo. Exemplo: aluguel da fábrica. 21 CUSTOS E PREÇOS 1.7 Classificação dos custos em relação aos produtos fabricados Quanto aos produtos fabricados, os custos podem ser classificados e alocados de acordo com certas medidas relativas ao consumo ou até mesmo ter seus valores arbitrados, seja através de critérios de rateio ou por meio de estimativas. Em relação aos produtos ou serviços prestados, o tipo de classificação mais utilizado é aquele que os divide em custos diretos e indiretos. 1.7.1 Custos diretos Segundo Dutra (2003), os custos diretos e indiretos são classificados de acordo com a possibilidade de alocação de cada custo diretamente a qualquer tipo diferente de produto ou de função de custo e a impossibilidade de sua alocação no momento da ocorrência do custo. Para Martins (2009), a aplicação dos custos aos produtos feitos ou serviços prestados, e não à produção em geral ou dos departamentos dentro da empresa, pode ser direta ou indireta. Constam a seguir as definições desses custos. Os custos diretos são apropriados aos produtos ou serviços de forma objetiva, porque há uma forma de medição clara de seu consumo durante a produção. Um exemplo são as matérias-primas, pois normalmente a empresa conhece a quantidade exata consumida em cada produto, bem como sabe o preço de aquisição, e, assim, tem condições de apropriar diretamente o valor consumido de matéria-prima em qualquer produto fabricado. Exemplificando: uma determinada mercadoria utiliza em sua composição 1,5 kg de certa matéria-prima que custa $ 7,00/kg. Sendo assim, o consumo de matéria-prima desse produto indicado será $ 7,0 x 1,5= $ 10,50. 1.7.2 Custos indiretos Diferentemente dos custos diretos, no caso dos custos indiretos não é possível alocar os produtos sem que sejam realizados alguns cálculos e distribuí-los aos diferentes produtos fabricados, uma vez que são de difícil mensuração e apropriação a cada produto elaborado ou serviço prestado. Tal impossibilidade ou dificuldade pode se dar em função de se virar antieconômico realizar tais procedimentos. Torna-se de extrema serventia a classificação dos custos em direto e indireto no caso da utilização do método de custeio por absorção, que será apresentado a seguir. • Custos diretos: podem ser diretamente apropriados aos produtos, havendo uma medida de consumo. Exemplos: quilogramas, materiais consumidos, horas de mão de obra utilizada etc. • Custos indiretos: não oferecem condições de medida objetiva e qualquer tentativa de alocação tem que ser feita de maneira estimada e muitas vezes arbitrária. Exemplos: aluguel, salário da supervisão e das chefias. Em caráter especial, o material de consumo com valor irrelevante, a depreciação que tem o seu valor estimado e arbitrado, e a energia elétrica pela não existência de um sistema de mensuração do quanto é consumido por cada produto são exemplos de custos diretos, porém são considerados como custos indiretos. 22 Unidade I Sendo assim, podemos concluir que, dentro dos custos indiretos estão os custos indiretos propriamente ditos e também os custos diretos tratados como indiretos em razão de sua irrelevância ou da dificuldade de mensuração. A mão de obra é outro custo que pode ser direto e indireto. Mão de obra direta (MOD) engloba os gastos com o pessoal que trabalha e atua diretamente sobre o produto que está sendo elaborado ou o serviço que está sendo prestado (pessoal do chão de fábrica) e mão de obra indireta (MOI) ocorre quando não há aplicação direta sobre a fabricação do produto ou o serviço que está sendo prestado (pessoal da chefia, supervisão, manutenção, controle, contabilidade), porém, não é possível determinar com precisão quanto cabe a cada produto ou serviço. A classificação de direto e indireto é usada apenas para custo. E quanto às despesas? A mesma classificação pode ser aplicada, assim teremos os custos e despesas diretos e indiretos, e também custos e despesas fixos ou variáveis. Por exemplo: • Custos e despesas fixos: são aqueles que permanecem constantes, independentemente das quantidades produzidas ou vendidas. Exemplos: salário do gestor; aluguéis; seguros etc. • Custos e despesas variáveis: comissão dos vendedores com base nas vendas; impostos sobre faturamento, fretes etc. Observação Todos os custos podem ser classificados em fixos ou variáveis e diretos e indiretos ao mesmo tempo. Os custos variáveis são sempre diretos por natureza, embora possam às vezes ser tratados como indiretos por razões de irrelevância e economia. Afinal, qual a característica que diferencia o custo direto do indireto e o variável do fixo? O que distingue os custos diretos e indiretos é a capacidade de alocação aos produtos. Os custos diretos nos permitem uma alocação direta, clara e objetiva; com os custos indiretos não é tão fácil assim, pois não temos essa medida direta, mas devemos utilizar formas subjetivas de critérios de rateios. Quanto aos custos variáveis e fixos, essas duas classificações estão relacionadas com o volume produzido. Os custos variáveis mudam conforme a produção, enquanto os custos fixos independem do volume produzido. Agora sabemos como classificar os gastos, que o gasto incorrido na produção da mercadoria ou execução de um serviço (área produtiva) é classificado como custo, e, ainda, que o gasto incorrido na gestão e comercialização do produto ou serviço (área administrativa, financeira e comercial) é categorizado como despesa. Aprendemos ainda que, podem ser identificados em direto e indireto, isso por conta do produto ou serviço, e fixo e variável devido ao volume de produção. Esses gastossão os que compõem o custo empresarial. 23 CUSTOS E PREÇOS 2 ELEMENTOS FORMADORES DE CUSTOS Relembrando alguns conceitos já estudados, vimos que toda vez que uma empresa pretende obter bens, seja para uso, troca, transformação ou consumo, ou mesmo utilizar algum tipo de serviço será necessário que ela efetue um gasto, que, conforme sua aplicação, será classificado como custo, investimento, despesas e até mesmo perdas. Custo empresarial compreende a soma dos gastos com bens e serviços aplicados ou consumidos na produção de outros bens. Os gastos que se destinam à obtenção de bens de uso da instituição (computadores, móveis, máquinas, ferramentas, veículos etc.) ou aplicações de caráter permanente (compra de ações de outras empresas, de imóveis, de ouro etc.) são considerados investimentos, bem como os gastos com a obtenção dos bens destinados à troca (mercadorias), transformação (matéria-prima, material secundário e material de embalagem) ou consumo (material de expediente e limpeza) enquanto eles ainda não foram trocados, transformados ou consumidos. Quando os gastos são efetuados para obtenção de bens e serviços que são aplicados na produção de outros bens, eles correspondem a custos. Quando a matéria-prima, o material secundário e o material de embalagem deixam de ser estoques, passando para o processo de fabricação, os valores gastos em sua obtenção passam da fase de investimentos para a fase de custos. Quando os gastos são efetuados para obtenção de bens ou serviços aplicados na área administrativa, comercial ou financeira, visando direta ou indiretamente a obtenção de receitas, eles correspondem a despesas. Vamos nos concentrar nos custos e despesas e entender quais são os elementos que formam os custos. 2.1 Materiais Os materiais utilizados na fabricação ou prestação de um serviço podem ser classificados em: • Matérias-primas: são os materiais principais que entram em maior quantidade na fabricação do produto. Para uma indústria de móveis de madeira, é a madeira; para uma indústria de confecções, é o tecido; para uma indústria de massas alimentícias, é a farinha. • Materiais secundários: aqueles que entram em menor quantidade na fabricação do produto. Eles são aplicados com a matéria-prima, complementando-a ou até mesmo dando o acabamento necessário ao produto. Para uma indústria de móveis de madeira: pregos, cola, verniz, dobradiças, fechos etc.; para uma indústria de confecções: botões, zíperes, linha etc.; para uma indústria de massas alimentícias: ovos, manteiga, fermento, açúcar etc. • Materiais de embalagem: destinados a acondicionar ou embalar os produtos, antes que eles saiam da área de produção. Eles, em uma indústria de móveis de madeira, podem 24 Unidade I ser as caixas de papelão, que embalam os móveis desmontados; em uma indústria de confecções, caixas ou sacos plásticos; em uma indústria de massas alimentícias, caixas ou sacos plásticos etc. 2.2 Mão de obra Compreende os gastos com pessoal envolvido na produção da empresa industrial, englobando salários, encargos sociais, refeições e estadias, seguros etc. Estão subdivididos em: • Mão de obra direta: gasto com pessoal diretamente envolvido na produção ou prestação do serviço e que é alocado de forma objetiva ao produto ou serviço, sem necessidade de rateio. • Mão de obra indireta: gasto com pessoal envolvido na produção ou prestação do serviço, porém, de forma indireta, ou seja, atuam parcialmente, desenvolvendo suas atividades em vários produtos e serviços, e, para serem alocados aos produtos ou serviços, é necessário adotar um critério de rateio. 2.2.1 Gastos gerais de fabricação ou CIF (Custos Indiretos de Fabricação) Compreendem os demais gastos necessários para a fabricação dos produtos, como: aluguéis, energia elétrica, serviços de terceiros, manutenção da fábrica, depreciação, seguros diversos, material de limpeza, óleos e lubrificantes para as máquinas, pequenas peças para reposição, telefones e comunicações etc. 2.3 Impostos recuperáveis Na compra de qualquer material/matéria-prima, identificamos nas notas fiscais impostos, sendo alguns recuperáveis e outros não. Os impostos recuperáveis são aqueles que não geram custos para a empresa, uma vez que são compensáveis com os impostos incidentes sobre a venda, e mesmo que não haja venda suficiente para compensar, o montante gerado na compra permanece no ativo da empresa. Para efeito desse estudo, os impostos recuperáveis abordados serão o ICMS e o IPI, sendo os demais aplicados de forma semelhante a este processo. Exemplo: A empresa ABC S/A adquiriu 500 peças de matéria-prima, ao preço de $ 2 cada. Sobre o valor incidiu ICMS, com uma alíquota de 18% e IPI com alíquota de 12%. A base de cálculo para o ICMS e o IPI será $ 1.000, resultado de 500 x $ 2, sendo o valor do ICM embutido no preço e o IPI acrescido ao total dos produtos. Qual é o custo efetivo do produto adquirido? 25 CUSTOS E PREÇOS Resolução: Tabela 1 Quantidade Valor unitário Total 500 $ 2 $ 1.000 IPI 12% $ 120 Total da nota $ 1.120 ICMS destacado 18% $ 180 Valor bruto na compra de material $ 1.120,00: (-) ICMS 18% $ 180,00 (-) IPI 12% $ 120,00 Custo líquido $ 820,00 Sendo a contabilização da seguinte forma. D – Estoque de material $ 820,00 D – ICMS a recuperar $ 180,00 D – IPI a recuperar $ 120,00 C – Fornecedores $ 1.120,00 Na ficha de controle de estoque: Tabela 2 Estoque inicial Compras Estoque final Quant. Valor unitário Valor total Quant. Valor unitário Valor total Quant. Valor unitário Valor total - - - 500 pç $ 1,64 $ 820,00 500 pç $ 1,64 $ 820,00 Será que o estoque interfere no custo de um produto ou serviço? A gestão dos estoques é fundamental para o gerenciamento das sociedades, uma vez que o resultado obtido (lucro ou prejuízo) está diretamente relacionado a ele. Para controlar os estoques, para a área de custos, são dois os sistemas utilizados, o sistema de inventário periódico e o sistema de inventário permanente. 26 Unidade I 2.4 Sistema de inventário periódico ou sistema de inventário permanente? No sistema de inventário periódico, todas as compras e vendas do período são registradas para, no fim do exercício, realizar-se a contagem física dos estoques, o chamado inventário físico. É o famoso “fechado para balanço”, no qual o valor do custo das mercadorias vendidas pode ser definido pela equação: Custo das mercadoria vendidas = estoque inicial + compras - estoque final ou CMV = EI + C - EF No sistema de inventário permanente, o custo da mercadoria ou produto vendido é determinado no momento em que é efetuada a venda, e para isso a empresa deve manter um controle contínuo sobre as entradas e saídas dos materiais e mercadorias (compras e vendas em quantidades e valores), de forma a dispor a qualquer instante da situação atualizada dos estoques e do custo dos produtos e das mercadorias vendidas. Assim, nesse sistema de administração de estoques, será possível possuir informações básicas para o planejamento das compras, evitando-se a falta de mercadorias e insumos ou compras em excesso, além de proporcionar o acompanhamento da evolução do resultado contábil no decorrer do exercício. 2.5 Métodos de avaliação de estoques Existem diversos métodos para determinar o valor dos estoques. Os principais e mais frequentemente utilizados são: Peps (primeiro a entrar, primeiro a sair) ou Fifo (first in, first out); Ueps (último a entrar, primeiro a sair) ou Lifo (last in, first out); média ponderada móvel ou custo médio. Veja em detalhes cada método: 2.5.1 Peps/Fifo – Primeiro a entrar, primeiro a sair (first in, first out) No Peps, o custo das compras efetuadas primeiro é utilizado para valorizar as quantidades vendidas, e, dessa forma, obter o valor do CMV (custos das mercadorias vendidas). Assim, à medida que ocorrem as vendas, dá-se a baixa das primeiras compras. Veja o exemplo a seguir. Partindo de um saldo inicial deestoques igual a zero, determinada empresa comercial efetuou as seguintes operações: Tabela 3 Operação/Data Quantidades (unidades) Preço unitário Preço total Compra – 8/2 5 20,00 100,00 Compra – 9/2 6 21,00 126,00 Venda – 10/2 4 38,00 152,00 Compra – 11/2 7 21,50 150,50 Venda – 12/2 8 40,00 320,00 27 CUSTOS E PREÇOS Tabela 4 Empresa: _________________________________________________________________________________ Produto:_______________________________Modelo: ______________________________________________ Fornecedor: ________________________________________________________________________________ Quantidade mínima de estoque: ___________________________________________________________________ Datas Entradas Saídas Saldos Quant. Valores Quant. Valores Quant. Valores Unit. Total Unit. Total Unit. Total 8/2 5 20,00 100,00 5 20,00 100,00 9/2 6 21,00 126,00 56 20,00 21,00 100,00 126,00 10/2 4 20,00 80,00 16 20,00 21,00 20,00 126,00 11/2 7 21,50 150,50 1 6 7 20,00 21,00 21,50 20,00 126,00 150,50 12/2 1 6 1 20,00 21,00 21,50 20,00 126,00 21,50 6 21,50 129,00 O valor final dos estoques corresponde a R$ 129,00 (R$ 21,50 x 6 unidades). Os custos das mercadorias vendidas equivalem à soma da coluna dos valores totais das saídas, ou seja: R$ 80,00 + R$ 20,00 + R$ 126,00 + R$ 21,50 = R$ 247,50. Ou: CMV = EI + C - EF CMV= 0,00 + 376,50 - 129,00= R$ 247,50. O total das vendas foi de: 4 unidades x 38,00 = R$ 152,00 8 unidades x 40,00 = R$ 320,00 R$ 472,00 Sendo assim, o lucro bruto foi de: Vendas R$ 472,00 (-) CMV R$ 247,50 R$ 224,50 28 Unidade I 2.5.2 Ueps/Lifo (last in, first out) O método Ueps tem funcionamento inverso ao Peps, visto que nele avalia-se o estoque através do processo no qual o último produto que entra é o primeiro a sair. Assim, ele consiste em utilizar o custo das compras efetuadas por último para valorizar as quantidades vendidas, e, dessa forma, obter o valor do CMV, ou seja, à medida em que ocorrem as vendas, dá-se a baixa das últimas mercadorias compradas. Se considerarmos o exemplo anterior, teremos: Tabela 5 Operação/Data Quantidades (unidades) Preço unitário Preço total Compra – 8/2 5 20,00 100,00 Compra – 9/2 6 21,00 126,00 Venda – 10/2 4 38,00 152,00 Compra – 11/2 7 21,50 150,50 Venda – 12/2 8 40,00 320,00 E a ficha controle de estoques seria: Tabela 6 Empresa: _________________________________________________________________________________ Produto:_______________________________Modelo: ______________________________________________ Fornecedor: ________________________________________________________________________________ Quantidade mínima de estoque: ___________________________________________________________________ Datas Entradas Saídas Saldos Quant. Valores Quant. Valores Quant. Valores Unit. Total Unit. Total Unit. Total 8/2 5 20,00 100,00 5 20,00 100,00 9/2 6 21,00 126,00 56 20,00 21,00 100,00 126,00 10/2 4 21,00 84,00 52 20,00 21,00 100,00 42,00 11/2 7 21,50 150,50 5 2 7 20,00 21,00 21,50 100,00 42,00 150,50 12/2 17 21,00 21,50 21,00 150,50 5 1 20,00 21,50 100,00 21,00 Veja que o valor final dos estoques, no Ueps, ficou em R$ 121,00, correspondente às 5 unidades adquiridas ao preço unitário de R$ 20, totalizando R$ 100 e 1 unidade adquirida ao valor de R$ 21,50. Observe que no método Peps a mesma quantidade de peças equivale a um estoque no valor de R$ 129,00. Já o CMV, que é a soma da coluna saídas de mercadorias, tem como valor no Ueps o total de R$ 255,50, ou seja: 29 CUSTOS E PREÇOS R$ 84,00 + R$ 21,00 + R$ 150,50= R$ 255,50. Ou: CMV= EI + C - EF CMV= 0,00 + 376,50 - 121,00= R$ 255,50. Veja que o valor do CMV no Peps totalizou R$ 247,50, uma diferença de R$ 8,00. Sendo assim, o lucro bruto foi de: Vendas R$ 472,00 (-) CMV R$ 255,50 R$ 216,50 Fica claro que a diferença apresentada entre os valores de estoque e CMV, no valor de R$ 8,00, entre o Peps e o Ueps, reflete no lucro informado nos dois sistemas. Observação Para efeitos fiscais, este método não é aceito no Brasil devido à diminuição provisória do lucro da empresa, entretanto podemos utilizá-lo para efeito gerencial. 2.6 Média ponderada móvel ou custo médio Este é o método mais usado pelas empresas no Brasil, não só por ser aceito pela legislação brasileira, mas por minimizar as possíveis distorções na utilização das outras formas. Consiste em avaliar os estoques pelo custo médio de aquisição apurado a cada entrada de produtos ou mercadorias, ponderado pelas quantidades adicionadas e aquelas já existentes. Portanto, neste método, o estoque é avaliado através da divisão entre o custo final e a quantidade final do estoque. Vamos analisar a aplicação desse método com os dados já apresentados nos exemplos anteriores. Tabela 7 Operação/Data Quantidades (unidades) Preço unitário Preço total Compra – 8/2 5 20,00 100,00 Compra – 9/2 6 21,00 126,00 Venda – 10/2 4 38,00 152,00 Compra – 11/2 7 21,50 150,50 Venda – 12/2 8 40,00 320,00 30 Unidade I Tabela 8 Datas Entradas Saídas Saldos Quant. Valores Quant. Valores Quant. Valores Unit. Total Unit. Total Unit. Total 8/2 5 20,00 100,00 5 20,00 100,00 9/2 6 21,00 126,00 11 20,55 226,00 10/2 4 20,55 82,20 7 20,55 143,80 11/2 7 21,50 150,50 14 21,02 294,30 12/2 8 21,02 168,16 6 21,02 126,14 Veja que o valor final dos estoques, no Ueps, ficou em R$ 121,00, correspondente às 5 unidades adquiridas ao preço unitário de R$ 20, totalizando R$ 100 e 1 unidade adquirida ao preço de R$ 21,50. Observe que no Peps a mesma quantidade de peças equivale a um estoque no valor de R$ 129,00. Já no custo médio, o valor final do estoque é de R$ 126,14, ajustado para efeitos contábeis, referente às 6 unidades cujo valor unitário é de R$ 21,02. O CMV, que é a soma da coluna saídas de mercadorias, tem como valor no custo médio o total de R$ 250,36, ou seja: R$ 82,20 + R$ 168,16= R$ 250,36. Ou CMV= EI + C - EF CMV= 0,00 + 376,50 - 126,14= R$ 250,36. Desta forma, o lucro apurado com esse valor de CMV foi de: Vendas R$ 472,00 (-) CMV R$ 250,36 R$ 221,64 Logo fica evidente que no método do custo médio temos estoques com valores mais próximos daqueles de mercado, sem desconsiderar eventuais compras com quantias menores que porventura estejam no estoque. Também o CMV está mais próximo da realidade, pois os valores alocados como custos são mais parecidos com a prática do mercado. 31 CUSTOS E PREÇOS Saiba mais Para informações adicionais, leia o capítulo V, lucro operacional, subsessão III, Custo dos bens e serviços, que trata sobre os custos e a avaliação dos estoques. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999. Regulamenta a tributação, fiscalização, arrecadação e administração do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza. Brasília: DF, 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3000.htm>. Acesso em: 22 maio 2018. 2.7 Métodos de custeio A contabilidade de custos gera informações para auxiliar a empresa nas tomadas de decisão. Um dos dados é encontrar quanto custou para a companhia a fabricação do produto ou a prestação de um serviço. Com essa informação a empresa pode calcular seu resultado ou mesmo o preço mínimo que deverá cobrar pelo seu produto. Para encontrar o valor de uma produção, devemos identificar quanto custou o produto, ou seja, mensurar o que ele consumiu de recursos. Uma ferramenta para isso é o uso dos métodos de custeios: custeio direto, custeio padrão, custeio por absorção, ABC, RKW etc., que permitem a apuração de custos aos bens ou serviços. Saiba mais Para se aprofundar nas características do custeio por absorção e no RKW, leia: BEUREN, I. M.; SCHLINDWEIN, N. F. Uso do Custeio por Absorção e do Sistema RKW para gerar informações gerenciais: um estudo de caso em hospital. ABCustos (Associação Brasileira de Custos), São Leopoldo, v. 3, n. 2, p. 27-53,2008. Disponível em: <https://abcustos.emnuvens.com.br/ abcustos/article/view/41/336>. Acesso em: 22 maio 2018. 32 Unidade I 2.8 Custeio por absorção e custeio variável Os métodos de custeio consistem em metodologias para alocar custos aos produtos. Cada um deles possui algo que os caracteriza. De acordo com Martins (2009), o custeio por absorção é o método derivado da aplicação dos princípios da contabilidade geralmente aceitos. Consiste na apropriação de todos os custos de produção aos bens elaborados, e não só nos de produção; todos os gastos relativos ao esforço de produção são distribuídos para todos os produtos ou serviços realizados. A regra no custeio por absorção é: Observação Apropriar todos os custos de produção (sejam fixos, variáveis, diretos ou indiretos), e somente eles aos produtos. Ou seja, tudo que for classificado como custo fará parte do custo da produção, portanto não inclui as despesas (ou os gastos relativos para obtenção de receitas). Apresentamos a seguir o custeio de absorção para empresas de manufatura e empresas prestadoras de serviços. Despesas Custos Demonstração de resultados Receita (-) CPV (=) Lucro bruto (-) Despesas (=) Lucro operacional Estoque de produtos Figura 6 – Custeio por absorção – empresa industrial Despesas Custos Demonstração de resultados Receita (-) Custo dos serviços prestados (=) Lucro bruto (-) Despesas (=) Lucro operacional Prestação de serviços Figura 7 – Custeio por absorção – empresas prestadoras de serviços O registro dos encargos financeiros é tratado na Contabilidade como despesas, e não como custo. Eles não são custos de produção, mesmo que facilmente identificados com financiamentos para aquisição 33 CUSTOS E PREÇOS de matérias-primas ou outros fatores de produção. Assim, são gastos de falta de capital próprio, e não de produção (custos). Segundo Martins (2009), a separação dos custos e despesas é fácil, pois os gastos relativos ao processo produtivo são custos, e os referentes à administração, às vendas e aos financiamentos são despesas. Contudo, na prática surgem problemas pelo fato de não ser possível a separação de forma clara e objetiva. Assim, será necessário ratear parte do gasto para a despesa e parte para o custo, rateio esse arbitrário pela dificuldade prática de uma divisão. Custos Resultado Diretos Produto A Produto B Produto C Estoque CPV Indiretos Vendas Despesas Nasce o problema do custeio Figura 8 – Sistema de custeio por absorção – rateio 2.9 Análise dos critérios de rateio A apropriação dos custos indiretos é feita de maneira indireta aos produtos, isto é, mediante estimativas, critérios de rateio, previsão de comportamento dos custos etc. Essas formas têm maior ou menor grau de subjetividade devido à arbitrariedade que existe nessas alocações. Os custos comuns a vários departamentos são rateados conforme sua natureza. Quanto aos custos indiretos, devem ser divididos segundo os critérios julgados mais adequados para relacioná-los aos produtos consoante os fatores mais relevantes que se conseguir, por exemplo, o aluguel, a depreciação dos edifícios, a energia consumida etc. Para uma devida alocação dos custos indiretos de produção, é necessário proceder a uma análise de seus componentes e verificação de quais critérios melhor relacionarem esses custos com os produtos. Parâmetros bons em uma empresa podem não ser em outras em virtude das características especiais do próprio processo de produção. É absolutamente necessário que as pessoas responsáveis pela escolha dos critérios de rateio conheçam bem a forma produtiva da companhia. Quando alteramos o critério de rateio adotado, podemos provocar mudanças no valor apontado como custo de um produto, sem que de fato nenhuma outra modificação tenha ocorrido no processo de produção. 34 Unidade I Seguindo o raciocínio de Ribeiro (2005), a empresa deve levar em consideração a relação custo- benefício no momento de decidir sobre a escolha da base de rateio a ser utilizada para evitar cálculos e detalhes desnecessários, uma vez que são inúmeras as formas de rateio que podem ser adotadas. Os critérios adotados têm de estar nas notas explicativas e, quando houver mudanças neles, deverão constatar também nas notas explicativas com a justificativa da alteração. A modificação é permitida, porém deve-se manter um padrão para não ferir o princípio contábil da consistência. A consistência é de extrema importância para avaliação homogênea dos estoques em períodos subsequentes, de forma a não artificializar resultados. Vamos utilizar um exemplo de rateio dos custos indiretos. A padaria Paladar produz dois tipos de produtos, pão francês e bolo de fubá, cujo volume de produção e de vendas e custos indiretos de fabricação (CIF) totalizam: Tabela 9 Pão francês Bolo de fubá Produção (un.) 4.000 1.000 Venda (un.) 4.000 1.000 CIF ($) 2.000 Em determinado período foram registrados os seguintes custos diretos por unidade (em $/un.): Tabela 10 Pão francês Bolo de fubá Mão de obra direta $ 0,75/un. $ 1,75/un. Matéria-prima $ 0,05/un. $ 1,50/un. Com base nos dados anteriores, pede-se calcular o valor dos CIF de cada produto, utilizando: • o custo da MOD como base de rateio; • o custo da matéria-prima como base de rateio. Resolução: O custo da MOD como base de rateio: 35 CUSTOS E PREÇOS Tabela 11 Produtos MOD Volume deprodução MOD total % CIF Pão francês 0,75 4.000 3.000 63% 1.263 Bolo de fubá 1,75 1.000 1.750 37% 737 4.750 100% 2.000 O custo da matéria-prima como base de rateio: Tabela 12 Produtos MP Volume deprodução MP Total % CIF Pão francês 0,05 4.000 200 12% 235 Bolo de fubá 1,5 1.000 1.500 88% 1.765 1.700 100% 2.000 Percebam que o uso da MOD como critério de rateio mostra que o pão francês é o produto de maior custo; mas quando utilizamos a matéria-prima como critério de rateio, o bolo de fubá torna- se o item de maior custo. Estes resultados evidenciam que o uso subjetivo do critério de rateio pode levar a empresa a gerar informações diferentes, as quais podem influenciar certas tomadas de decisão. Saiba mais Para entender um pouco mais a questão dos métodos de custeio e o rateio, leia: SLOMSKI, V.; BATISTA, I. V. C.; CARVALHO, E. M. Os métodos de custeio variável e por absorção e o inconsciente coletivo na contabilidade de custos. Revista de Contabilidade do Mestrado de Ciências Contábeis da UERJ, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, 2003. Disponível em: <http://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/rcmccuerj/article/view/5606/4090>. Acesso em: 22 maio 2018. 36 Unidade I 2.10 Aplicação do custeio por absorção Para facilitar a aplicação do custeio por absorção, podemos seguir alguns passos, conforme sugestão de Martins (2009): • 1º passo: separar custos/despesas; • 2º passo: lançar despesas diretamente para o resultado; • 3º passo: separar custos diretos/indiretos; • 4º passo: alocar os custos diretos aos produtos; e • 5º passo: atribuir os custos indiretos aos produtos via rateio. Exemplo: Vamos seguir os passos anteriores e resolver o exemplo da Padaria Paladar 2: A Cia. Paladar abriu uma filial no início deste ano, com foco na venda de doce de abóbora e doce de leite. No fim do ano, apresentou as seguintes informações: Tabela 13 Gastos do período Matéria-prima – açúcar $ 2.000 Comissão dos vendedores $ 500 Mão de obra direta $ 600 Energia da fábrica $ 80 Honorário da diretoria $ 3.000 Manutenção da fábrica $ 300 A porcentagem de matéria-prima e mão de obra consumida por produto e o preço de venda de cada lote de doces são: Tabela 14 Doce de abóbora Doce de leite Matéria-prima 40% 60% MOD 55% 45% Preço de venda $ 1.500 $ 2.000 37 CUSTOS E PREÇOS Com base nas informações prévias, vamos aplicar o sistema de custeio por absorção, encontrar o custo dos produtos vendidos e montar a demonstração de resultados da Padaria Paladar 2. Para isso, os custos indiretos de fabricação devem ser rateados aos produtos seguindo a proporção de mãode obra consumida. 1º passo: separar custos/despesas: Tabela 15 Custos Matéria-prima – açúcar $ 2.000 Energia da fábrica $ 80 MOD $ 600 Manutenção da fábrica $ 300 Despesas Comissão dos vendedores $ 500 Honorário da diretoria $ 3.000 2º passo: lançar despesas diretamente para o resultado: Tabela 16 Doce de abóbora Doce de leite Resultado total Receita de venda (-) CPV Custos diretos MP MOD Custos indiretos Energia da fábrica Manutenção da fábrica Despesas Vendas -500 Administrativas -3.000 (=) Resultado -3.500 3º passo: separar custos diretos/indiretos: Tabela 17 Custos Matéria-prima – açúcar $ 2.000 Custo direto Mão de obra direta $ 600 Energia da fábrica $ 80 Custo indireto Manutenção da fábrica $ 300 38 Unidade I 4º passo: alocar os custos diretos aos produtos: Tabela 18 Doce de abóbora Doce de leite Resultado total Receita de venda (-) CPV Custos diretos -1.130 -1.470 -2.600 MP -800 -1.200 -2.000 MOD -330 -270 -600 Custos indiretos Energia da fábrica Manutenção da fábrica Despesas Vendas -500 Administrativas -3.000 (=) Resultado -6.100 5º passo: atribuir os custos indiretos aos produtos via rateio: Lembrando que os custos indiretos foram atribuídos aos produtos utilizando a porcentagem de consumo de mão de obra. Tabela 19 Doce de abóbora Doce de leite Resultado Receita de venda 1.500 2.000 3.500 (-) CPV -1.339 -1.641 -2.980 Custos diretos -1.130 -1.470 -2.600 MP -800 -1.200 -2.000 MOD -330 -270 -600 Custos indiretos -209 -171 -380 Energia da fábrica -44 -36 -80 Manutenção da fábrica -165 -135 -300 Despesas -3.500 Vendas -500 Administrativas -3.000 (=) Resultado -2.980 39 CUSTOS E PREÇOS 2.11 Custeio por absorção com departamentalização Avançando no conhecimento sobre os sistemas de custeio, vamos entender uma das críticas quanto ao uso do custeio por absorção, que é a necessidade de rateio, critério subjetivo que pode influenciar na informação gerada pela contabilidade de custos. Nesse sentido, com a finalidade de tornar a referida informação mais confiável para a tomada de decisão, os sistemas de custeio foram sendo adaptados, entre eles o custeio por absorção com departamentalização, sendo que os demais conheceremos ao longo do livro-texto. 2.12 Aplicação dos custos indiretos de fabricação (CIF) De acordo com Martins (2009), o custeio por absorção é um sistema cuja metodologia foca na alocação de todos os custos aos produtos ou serviços produzidos, e apenas eles, não fazendo parte as despesas. Contudo, a regra do custeio por absorção, pelo fato de todos os custos serem alocados aos produtos, não pode ser interpretada como se todos os custos da empresa pudessem ser controlados ou eliminados com a mudança ou a exclusão de um produto ou uma linha de produto, pelo fato de estarem a ele alocados. Vimos que a alocação dos CIF no custo total dos produtos acaba sendo feita com subjetividade, em razão do critério de rateio arbitrariamente estipulado, visto que temos aqui o ponto que merece cuidado nos sistemas de custeio. Uma determinada empresa pode se deparar com alguns problemas quando da necessidade de apurar e contabilizar os custos dos produtos. Torna-se necessário conhecer os Custos Indiretos de Produção alocados às mercadorias por meio de: • estimativa do volume de produção; • estimativa do valor dos custos indiretos; e • fixação do critério de apropriação dos custos indiretos aos departamentos e aos produtos. Sobre a estimativa ou previsão do volume de produção, no geral, as empresas têm dificuldade de chegar a um consenso sobre qual é o volume de atividade da produção normal. Os critérios que podem ser adotados talvez consistam no volume máximo de produção, na média de produção dos três últimos anos ou até na expectativa dos empresários quando da dimensão da capacidade produtiva. Contudo, para efeitos contábeis, a melhor alternativa é a previsão do volume de produção que se espera realmente para o período. A respeito da estimativa do valor dos custos indiretos, o problema é desenvolver um critério de alocação (ou rateio) dos custos indiretos, por exemplo, horas de mão de obra direta (HMOD) ou horas- máquina (HM) – utilizadas para apropriar os custos indiretos aos produtos e serviços (ratear manutenção por horas trabalhadas ou energia elétrica por m²). 40 Unidade I Em relação à fixação do critério ou base de rateio de apropriação dos custos indiretos aos departamentos e aos produtos, o grande problema é respeitar os fundamentos adotados e utilizá-los de maneira consistente. 2.13 Conceitos de departamento e sua classificação De acordo com Martins (2009), departamento é a unidade mínima administrativa para a contabilidade de custos, representada por pessoas e máquinas, em que se desenvolvem atividades homogêneas. Deve sempre haver um responsável para cada departamento, os quais podem ser constituídos por pessoas e máquinas ou apenas por pessoas e, teoricamente, apenas por máquinas. Vejam alguns exemplos de departamentos a seguir, de acordo com Martins (2009, p. 66): • Contabilidade. • Manutenção. • Almoxarifado. • Forjaria. • Montagem. • Refinaria. • Administração geral. • Pintura. Entretanto percebam que os departamentos podem ser divididos em dois grandes grupos, descritos a seguir: • Departamentos de produção (produtivos): os quais promovem qualquer tipo de modificação sobre o produto, direta ou indiretamente, e têm seus custos apropriados aos produtos. • Departamentos de serviços (não produtivos ou auxiliares): não recebem o produto, vivem basicamente para a execução de serviços auxiliares, e não para atuação direta sobre as mercadorias. Eles têm seus custos apropriados para os que deles se beneficiam. Separando os departamentos por tipo, teríamos o seguinte, de acordo com Martins (2009, p. 66): • Departamento de Produção: — Refinaria. — Montagem. 41 CUSTOS E PREÇOS — Pintura. — Forjaria. • Departamento de Serviços: — Manutenção. — Administração geral. — Contabilidade. — Almoxarifado. A departamentalização é obrigatória em custos para uma racional distribuição dos custos indiretos. Saiba mais Para informações extras sobre o assunto tratado, indica-se a leitura dos capítulos 9 e 10 da obra a seguir, que discorrem sobre os CIF e o custeio departamental. RIBEIRO, O. M. Contabilidade de custos fácil. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 2.14 Centros de custos Segundo Martins (2009), na maioria das vezes, um departamento é um centro de custos, ou seja, nele são acumulados os custos indiretos para posterior alocação aos produtos (departamentos de produção) ou a outros departamentos (departamentos de serviços). Centro de custos é a unidade mínima de acumulação de custos indiretos. Contudo não é necessariamente uma unidade administrativa, só ocorrendo quando coincide com o próprio departamento. Adotaremos como critério simplificador que cada setor corresponde a um único centro de custos, porém tendo a consciência de que esta simplificação pode não ocorrer para todas as empresas na prática. Para que se possa ser caracterizado como tal, ele deveria: • ter uma estrutura de custos homogênea; • estar concentrado em um único local; e • oferecer condições de coleta de dados de custos. 42 Unidade I Afinal, por que departamentalizar? Conforme o autor, a alocação dos custos indiretos aos produtos por meio do uso do custeio por absorção com departamentalização é uma maneira de se cometer menos injustiças e diminuir as chances de erros no uso dos critérios de rateio. 2.15 Custeio por absorção com departamentalização Todavia, por que estamos falando em departamentos ou departamentalização? Porque temos custos diretos e indiretos. Os custos que são diretos não têm problemas para serem alocados aos produtos, afinal são perfeitamente identificáveis. Contudo isso não ocorre com os indiretos. Assim, nesse caso, uma forma de reduzir o impacto do rateio é distribuir racionalmente os custos indiretos aos departamentos
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