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2018 Habilidades em língua espanHola i Prof.ª Iara de Oliveira Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Prof.ª Iara de Oliveira Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: OL48h Oliveira, Iara de Habilidades em língua espanhola I. / Iara de Oliveira. – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 232 p.; il. ISBN 978-85-515-0225-9 1.Língua Espanhola. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 460 III apresentação Vivemos na era da informação. Essa afirmação já é de nosso conhecimento e a lemos ou ouvimos com frequência. Somos diariamente bombardeados com milhares de informações e o desafio é saber como lidar com elas. Diante de tanto conteúdo, é preciso saber ler. A leitura permite que façamos interpretações e que compreendamos a nós mesmos e ao mundo que nos cerca. Desse modo, todos os dias lemos infinidades de textos e tratamos de compreender, interpretar, analisar e avaliar o que guardaremos como informação útil e o que descartaremos. Será nesse processo que formaremos conhecimentos, definiremos posicionamentos, construiremos ações e reações. É evidente, portanto, que ler não se trata apenas de decodificar, de decifrar o código da mensagem. É preciso mobilizar saberes que nos levam para dentro e para além dos textos. Tal perspectiva se torna de suma importância porque direciona nosso olhar e, na condição de professores, nossas práticas pedagógicas, e nos torna professores-mediadores. Ou seja, direciona as ações para que promovamos estratégias práticas de leitura que levem os alunos ao patamar de leitores letrados, crítico-reflexivos e cidadãos atuantes socialmente. Esse processo não é diferente na construção de conhecimentos em uma língua estrangeira. Cabe aos profissionais que atuam com tal língua, em nosso caso, o espanhol, possibilitar que o letramento também ocorra nesse processo de aquisição do idioma, por isso a importância de relembrar ou mesmo conhecer os aspectos que envolvem a leitura e o desenvolvimento pleno desta competência. O livro que desenvolvemos e que chega agora as suas mãos é direcionado para as questões que minimamente abordamos aqui. Ele enfatizará a competência leitora na língua estrangeira (nossa língua espanhola) e as habilidades necessárias para construí-la adequadamente. Na primeira unidade discutiremos questões relacionadas ao ato de ler como parte do processo de comunicação. Relembraremos como se dá a comunicação humana e quais as funções da linguagem, o que é de fato o letramento, os textos verbais e não verbais, bem como quais são os níveis de leitura e com que finalidade lemos. A Unidade 2 será voltada para a análise de como ocorrem os processos de pré-leitura, leitura e pós-leitura. Veremos a importância dos elementos paratextuais, de localizar, analisar e interpretar. Também trabalharemos com a leitura e interpretação de questões, já que elas são consideradas sempre um problema por nossos alunos (que sentem dificuldades quando prestam IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! algum tipo de prova em processos seletivos, concursos, exames nacionais de avaliação etc.) e colegas de trabalho (que afirmam sempre que nossos alunos não sabem interpretar enunciados e questões de provas). Já a última unidade estará voltada para a leitura de textos específicos. Trabalharemos com alguns gêneros textuais considerados acadêmicos, que circulam em escolas e universidades, como os resumos, resenhas e artigos. Deter-nos-emos em como realizar um processo de leitura adequado a esses gêneros textuais, os quais sempre geram desconforto para os seus leitores. Igualmente apresentaremos alguns caminhos para se pensar o trabalho com a leitura (e a leitura destes gêneros) nas aulas de língua espanhola dos diferentes níveis de ensino. Como você percebeu, nossa jornada é longa, no entanto, frutífera e prazerosa. Aproveite os conteúdos, as indicações de leitura e atividades e construa o máximo de conhecimentos sobre este assunto. Um abraço, Prof.a Iara NOTA V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII UNIDADE 1 – LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ........................................................ 1 TÓPICO 1 – ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA DO MUNDO ......................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O PROCESSO COMUNICATIVO .................................................................................................... 3 3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM E INTERAÇÃO COMUNICATIVA ........................................... 12 3.1 FUNÇÕES DA LINGUAGEM ....................................................................................................... 12 3.2 INTERAÇÃO COMUNICATIVA .................................................................................................. 16 3.2.1 Atos de fala .............................................................................................................................. 17 4 O LETRAMENTO ................................................................................................................................. 18 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 24 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 25 TÓPICO 2 – LEITURA E ATO DE LER ................................................................................................ 27 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27 2 LEITURA, SOCIEDADE E ERA DIGITAL ...................................................................................... 27 2.1 LEITURA DIGITAL .........................................................................................................................30 3 O TEXTO VERBAL E O TEXTO NÃO VERBAL ............................................................................ 34 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 41 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 – COMPETÊNCIA LEITORA ............................................................................................ 47 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 47 2 OBJETIVOS DE LEITURA .................................................................................................................. 47 3 NÍVEIS DE LEITURA .......................................................................................................................... 49 3.1 NÍVEL DE LEITURA LITERAL OU DESCRITIVA ..................................................................... 49 3.2 NÍVEL DE LEITURA INFERENCIAL OU INTERPRETATIVA ................................................ 52 3.3 NÍVEL DE LEITURA CRÍTICA OU VALORATIVA ................................................................... 55 4 HABILIDADES PARA A LEITURA .................................................................................................. 56 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 64 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 67 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 68 UNIDADE 2 – ESTRATÉGIAS DE LEITURA .................................................................................... 73 TÓPICO 1 – PRÉ-LEITURA ................................................................................................................... 75 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75 2 O CONHECIMENTO PRÉVIO .......................................................................................................... 75 3 OS ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS .................................................................................................... 83 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 94 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 95 sumário VIII TÓPICO 2 – LEITURA .........................................................................................................................97 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................97 2 LOCALIZAÇÃO E COMPREENSÃO .............................................................................................97 3 INTERPRETAÇÃO .............................................................................................................................106 4 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE QUESTÕES ........................................................................111 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................121 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................122 TÓPICO 3 – PÓS-LEITURA .................................................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 COMPLETANDO O CICLO TEÓRICO: PRÉ-LEITURA, LEITURA, PÓS-LEITURA ..........129 3 ANÁLISE, REFLEXÃO E AVALIAÇÃO: A LEITURA CRÍTICA ...............................................132 4 UM EXEMPLO DO PROCESSO LEITOR ......................................................................................136 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................144 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................147 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................148 UNIDADE 3 – GÊNEROS DISCURSIVOS ......................................................................................151 TÓPICO 1 – GÊNEROS E TIPOS DISCURSIVOS .........................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 RELEMBRANDO NOÇÕES IMPORTANTES SOBRE TEXTO ................................................153 3 TEXTO E DISCURSO ........................................................................................................................156 4 TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS ......................................................................................................160 4.1 TIPOS TEXTUAIS ..........................................................................................................................163 4.2 GÊNEROS TEXTUAIS OU DISCURSIVOS ................................................................................172 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................176 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................177 TÓPICO 2 – O GÊNERO DISCURSIVO ACADÊMICO ...............................................................181 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181 2 CARACTERÍSTICAS DO GÊNERO DISCURSIVO ACADÊMICO ........................................181 3 GÊNEROS MAIS USUAIS E SUAS ESPECIFICIDADES ..........................................................183 3.1 RESUMO .........................................................................................................................................183 3.2 RESENHA .......................................................................................................................................189 3.3 ARTIGO CIENTÍFICO ..................................................................................................................197 3.4 ENSAIO ...........................................................................................................................................200 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................207 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................208 TÓPICO 3 – ESTRATÉGIAS PARA A LEITURA DE GÊNEROS DISCURSIVOS ACADÊMICOS..................................................................................211 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................211 2 ATIVIDADES PARA LEITURA ......................................................................................................211 2.1 O RESUMO EM SALA DE AULA ...............................................................................................2122.2 A RESENHA EM SALA DE AULA .............................................................................................215 2.3 O ENSAIO E O ARTIGO CIENTÍFICO NA SALA DE AULA: UM BREVE COMENTÁRIO ........................................................................................................218 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................221 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................224 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................225 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................229 1 UNIDADE 1 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • reconhecer o processo comunicativo; • identificar os aspectos que compõem o letramento; • comparar o processo leitor de textos verbais e textos não verbais; • identificar os níveis de leitura e suas especificidades; • analisar os objetivos de leitura e as habilidades utilizadas para atingi-los. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA DO MUNDO TÓPICO 2 – LEITURA E ATO DE LER TÓPICO 3 – COMPETÊNCIA LEITORA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA DO MUNDO 1 INTRODUÇÃO As interações sociais só ocorrem por causa da comunicação. Sem estabelecer comunicação não seria possível entender uns aos outros e, desse modo, ter uma sociedade. Assim, é importante que relembremos como ocorre o processo de comunicação, como se promovem as interações e quais as funções que nossa linguagem desempenha para atingir os objetivos comunicacionais. Tais conceitos nos permitem entender como executamos a leitura dos diversos textos (verbais e não verbais) e nos apropriamos das informações neles contidas. Também nos oportunizam a construção de novos conhecimentos e nos integram na sociedade da qual fazemos parte. Dessa forma, o processo de comunicação e suas funções serão explorados ao longo deste tópico, bem como o que é o letramento e suas características. Lembre-se de que todos estes aspectos estarão voltados para a língua espanhola, foco deste livro. Sigamos em frente! 2 O PROCESSO COMUNICATIVO Observe a seguinte charge: UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 4 FIGURA 1 – A COMUNICAÇÃO HUMANA FONTE: <https://tuvidaproblemaexistencialista.files.wordpress.com/2014/05/semantica.jpg>. Acesso em: 28 maio 2018. Analisando o que temos de informação na charge, notamos que um menino conversa com outro sobre o fato de o avô deste último não ter entendido o que realmente significava “navegar por la web”. É evidente que a comunicação se estabeleceu entre os dois meninos, mas entre o que disseram e o que o avô entendeu houve algum problema, algum ruído que impediu a ocorrência satisfatória do processo interativo comunicacional. Para que entendamos como se dá a interação entre os falantes de uma língua, as compreensões e incompreensões que acontecem durante esse processo, como apontamos na charge, é importante que relembremos alguns conceitos básicos. Vamos a eles! As interações humanas ocorrem por meio da linguagem. Dentre as possibilidades de uso de linguagem está a língua, e esta pode ser falada ou escrita. Então: o que é linguagem? O que é língua? Nenhum estudioso consegue precisar quando surgiu a linguagem. O que se sabe é que com o surgimento das primeiras comunidades, dos primeiros grupos sociais, houve a necessidade de expressão e, portanto, de estabelecer comunicação. Sem isso, não haveria sociedade. Assim, a linguagem pode ser entendida, superficialmente, como um sistema de símbolos que são utilizados para a transmissão de mensagens. Representa a capacidade de comunicar ideias, pensamentos, sentimentos, sensações etc. TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 5 FIGURA 2 – A LINGUAGEM FONTE: <http://oficina-de-filosofia.blogspot.com/2013/08/introducao-filosofia-da-linguagem. html>. Acesso em: 28 maio 2018. Avançando um pouco neste assunto, é importante ressaltar que o ser humano se distingue das demais espécies por apresentar uma refinada faculdade de linguagem. Isso significa que temos a capacidade de criar sistemas simbólicos, nos quais determinado símbolo significa uma determinada “coisa”. Se a linguagem é essa capacidade de criar códigos que permitem a atribuição de significados às coisas, podemos afirmar que a linguagem verbal é um desses códigos. Assim, a linguagem verbal, também conhecida como língua, é um sistema de signos abstrato que se configura como um patrimônio social, já que é partilhado por indivíduos de uma mesma sociedade. A língua apresenta sons aos quais se atribuem significados (langue e parole, como já falava Ferdinand Saussure na primeira metade do século XX). A manifestação concreta da língua, nos textos, é o que chamamos de fala. Note que aqui o termo fala toma um caráter abrangente, representando fala e escrita. Ao longo dos anos, surgiram várias definições e correntes teóricas que apresentaram conceitos sobre linguagem e língua. Aqui nos interessa a visão que se desenvolveu a partir dos estudos linguísticos (século XX) de que a língua é um instrumento de comunicação, ela permite que ocorram as interações comunicativas e sociais. A língua, portanto, não é apenas um conjunto de signos, há alguns fatores que também se incorporam ao conceito de língua. Observe a seguinte situação: UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 6 Maria vê Antônio do outro lado do corredor e diz: - A janela está aberta. O que você acha que Antônio responderia? Perceba que nós lhe demos apenas um fragmento de situação, então, você fará algumas suposições. Se Antônio for ainda um menino, a frase tomará a dimensão de “Cuidado, não se aproxime ou pode cair”. Então, ele poderá dizer: “- Eu sei, não chegarei perto”. Ou, se Antônio for um adulto, poderá responder: “- Já vou fechar!” Nesse caso, a frase de Maria foi entendida como um pedido para que a janela fosse fechada. Ainda, Antônio poderia apenas responder: “- Sim”, demonstrando que entendeu a frase apenas como uma constatação para a qual só resta confirmar. Com base neste pequeno exercício e associando à ideia de que língua não é apenas um “sistema de signos”, a que conclusões você chega? Muito bem! O contexto também faz parte da comunicação, uma vez que em cada situação a língua adquire contornos diferentes. Justamente porque vista como um ato social, a língua leva em consideração o tempo, o lugar e as relações entre os falantes, já que disto depende o estabelecimento ou não da comunicação e da interação social. Desse modo, para que entendamos como estimular e desenvolver as habilidades leitoras de nossos alunos, tema deste livro de estudos, é importante que consideremos a língua dentro de uma perspectiva que a vê como formada por três componentes: o gramatical, o semântico-cognitivo e o discursivo. No componente gramatical observam-se as estruturas e recursos expressivos da língua, aparecendo os níveis fonológico, morfológico, sintático. Esse componente permite que o falante possa dizer: “A janela está aberta”, ao invés de dizer, por exemplo: “A aberta está janela”, ou ainda “A está janela aberta”. No componente semântico-cognitivo estão os diferentes significados que podem ser atribuídos às estruturas linguísticas, de acordo com seu contexto de uso. Nesse sentido, entenderemos que na oração: “A manga estava suculenta e deliciosa” referimo- nos ao fruto e não à parte de uma camisa. E o componente discursivo se refere às condições de uso da língua. Nele se leva emconsideração quem são os locutores e interlocutores e as relações existentes entre eles, as intenções contidas no discurso, as expectativas dos interlocutores, o gênero utilizado e seus lugares de circulação, o lugar físico da comunicação etc. Ao entendermos que a língua apresenta esses três componentes e que ela está em constante adaptação e mudança, conseguimos compreender porque, mais do que apenas codificar ou decodificar textos, precisamos desenvolver outras habilidades que nos permitam realmente ler diferentes e diversificados textos, estabelecendo relações e, assim, gerando, de fato, comunicação. TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 7 E por falar em comunicação, você certamente já viu (e estudou) em algum momento de sua trajetória acadêmica o seguinte esquema relacionado à comunicação: FIGURA 3 – PROCESSO DE COMUNICAÇÃO FONTE: <http://www.losrecursoshumanos.com/proceso-de-comunicacion-humana/>. Acesso em: 28 maio 2018. O esquema menciona o emissor, o receptor, a mensagem, o canal, o código e o ruído. Nele também é possível identificar como o processo ocorre. Este esquema de interlocução foi desenvolvido pelo linguista russo Roman Jakobson (JAKOBSON, 2010). Ele formulou uma teoria da comunicação que identificou seis elementos, os quais, organizados, constituem o processo de comunicação. Os seis elementos, de maneira bem sucinta, são: • Emissor: também conhecido como locutor, enunciador, remetente ou fonte da informação, é aquele que deseja transmitir uma informação, uma ideia. É o responsável por iniciar o processo de comunicação. • Receptor: também chamado de locutário, enunciatário ou destinatário, é aquele que recebe a informação ou é para quem a informação se destina. • Canal: é o meio físico por onde circula a mensagem (ondas sonoras, papel, bytes etc.). • Mensagem: é a informação a ser transmitida. “A mensagem é o conjunto de enunciados produzidos pela seleção e combinação de signos realizada por um determinado indivíduo” (ABAURRE; ABAURRE; PONTARA, 2010, p. 234). UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 8 • Código: é o sistema utilizado para transmitir a informação (palavras de uma língua, gesto, símbolo, imagem etc.). • Ruído: todo e qualquer elemento que dificulte a recepção plena da informação. Há ainda a questão do contexto, que aparece em alguns esquemas, mas não estava na proposta de Jakobson. Essa questão veremos adiante. IMPORTANT E Ainda se pode destacar que há o ato de codificar a mensagem, ou seja, transformar a ideia em uma informação capaz de ser compreendida pelo interlocutor, e o ato de decodificar, que é interpretar a informação, entender o que foi transmitido. Refletindo um pouco sobre este esquema bastante utilizado ainda em nossos dias para explicar como ocorre a comunicação, observe a seguinte cena: O filho chega na cozinha em que a mãe está preparando a comida. Ele se aproxima e diz: “Estou com muita fome”. E a mãe responde: “Eu também estou com fome”. Note que há um emissor (o filho), ele tem uma ideia que quer transmitir (sentir fome). Para isso, busca em seus conhecimentos linguísticos as palavras que significam o que está sentindo. A mãe, por sua vez, ao receber a informação (que utilizou o falar como canal e a língua materna como código) dá o retorno daquilo que entendeu. Está estabelecido o processo comunicativo, certo? Enganou-se quem afirmou sim. A comunicação não ocorreu de forma plena. Alguns aspectos importantes foram deixados de lado no exemplo que apresentamos. No entanto, ele ilustra com bastante exatidão o esquema desenvolvido por Jakobson. Por que não funcionou? Em qualquer situação “real” de comunicação não é apenas o que as palavras significam que vale, mas também em que contexto são usadas, como e com que finalidade (nível pragmático). Desse modo, ao ouvir que seu filho está com fome, a mãe talvez dissesse: “A comida já está saindo”, “Lave a mão e venha sentar-se, já está tudo pronto”, ou, ainda, “Quer comer algo enquanto termino o almoço?”, “Espere, o almoço ainda não está pronto”. Então, não é apenas o que se pode dizer, mas o que se pode fazer com o que se diz. TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 9 A Semântica é o campo da linguística que estuda os significados, os sentidos. A Pragmática é a área que estuda os usos das estruturas linguísticas. IMPORTANT E Sem tirarmos o mérito de Jakobson, hoje já se sabe que este esquema não funciona exatamente como o expresso inicialmente. Isso porque no desenho inicial, quando alguém emite uma “fala”, se está pensando apenas no campo semântico. Ou seja, que ao formular uma ideia, bastaria identificar a(s) palavra(s) que a representaria e estaria tudo certo. É preciso levar em consideração que “coisas” se pode fazer com as palavras, entrando, como já dito, no campo pragmático. Sob essa visão, há uma confusão entre comunicação e informação, o receptor tem uma função passiva de apenas receptar a informação, e a mensagem fica limitada à questão de significado (campo semântico, conforme mencionamos antes). DICAS Se quiser saber um pouco mais sobre Semântica e Pragmática, leia os artigos disponíveis nos endereços a seguir: • <www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/download/2321/2270> • <http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_8_a_semantica_a_pragmatica_e_os_seus_ misterios.pdf>. O modelo de Jakobson é um modelo linear da comunicação e teve um papel muito importante para o desenvolvimento desta área de estudos. No entanto, outros foram desenvolvidos a partir dele e conseguem representar melhor o “real” processo comunicativo. Jakobson mostrou um caminho e ele foi ampliado. Surge um modelo interpessoal de comunicação, idealizado por Schramm (1954), influenciado por uma perspectiva psicolinguística. Nele, é reconhecido que os sujeitos do processo e que trocam informações são iguais e, desse modo, realizam as mesmas funções de codificação, decodificação e interpretação. Esse modelo transforma o receptor de paciente para agente e inclui um elemento que é denominado de retroalimentação (feedback). Por isso, a ideia de “interpessoal” para este modelo. Observe o esquema a seguir: UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 10 FIGURA 4 – ESQUEMA INTERPESSOAL DE COMUNICAÇÃO Fonte CAMPO DE EXPERIÊNCIACAMPO DE EXPERIÊNCIA DestinoDecodificadorSinalCodificador FONTE: <http://pmartins-simplesmentecomunicar.blogspot.com.br/2010/02/modelos-da- comunicacao.html>. Acesso em: 28 maio 2018. Note que, neste modelo, o processo é contínuo. Ao dar a “resposta” (feedback), o enunciatário torna-se enunciador, reiniciando o processo ou dando continuidade a ele. Além dos modelos linear e interpessoal, a teoria da comunicação também desenvolveu um modelo chamado de espiral, cujo representante foi Dance (1967). Nele, o destaque está na natureza do processo, não tanto nos elementos que interferem nele. Para esta perspectiva, a comunicação é um processo que gera efeitos em seus interlocutores, permitindo um maior entendimento entre eles. Além dessas teorias, outras surgiram, mas, para nós, atuantes na área da Educação, a que mais trouxe impacto foi a apresentada por Austin (1962), um filósofo da linguagem, quando estabeleceu aquilo que conhecemos como ato de fala. Essa perspectiva nos mostra que a comunicação não é apenas transformar um pensamento em palavras, mas associar ações às palavras em um contexto específico. Quando dizemos “Bom dia!”, não estamos apenas traduzindo em palavras a ideia de que o dia está bom. Nós associamos a estas palavras o desejo de que nosso interlocutor tenha um dia que lhe seja agradável e bom, há um desejo contido nesse ato. Assim, torna-se claro que o esquema inicial não é suficiente para mostrar como de fato se dá a comunicação humana, porque não contempla as várias faces da situação em que a comunicação se dá. Para que ela de fato ocorra também é necessário levar em consideração os conhecimentos que são compartilhados entre os falantes. Essesconhecimentos vão desde a língua em comum, passando pelos conhecimentos de mundo e socioculturais, até os contextos concretos partilhados pelos envolvidos no processo. Reflitamos com base em um novo exemplo: TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 11 Você está em casa e, ao ouvir o telefone, o atende: - Alô? - Oi, eu sou Maria, o João está? Nesse momento, o que você diria? Certamente algo como: “Está sim, só um momento” ou “Ele não está, quer deixar recado ou que ele te ligue?”. No modelo de Jakobson, se você respondesse “Sim”, a comunicação já estaria estabelecida. No entanto, teria sentido “real”? Não. Todo o contexto e os atos de fala fazem com que façamos uma leitura da situação e sigamos pelo caminho esperado. Então, para encerrarmos esta breve reflexão, é importante que lembremos: ao esquema tradicional de comunicação precisamos acrescentar os conhecimentos compartilhados (prévios e comuns), as expectativas, as intenções, as convenções sociais e manter viva a ideia de que a comunicação é dinâmica, complexa e está em constante construção, não sendo, dessa forma, somente uma tradução de pensamentos, mas um processo também de leitura de mundo. Em virtude de tudo o que vimos até aqui, o esquema de comunicação mais adequado para nossa prática comunicativa é assim: FIGURA 5 – PROCESSO DE COMUNICAÇÃO COM BASE EM ATOS DE FALA REFERENTE TEXTO O DISCURSO SITUACIÓN COMUNICATIVA conocimiento del mundo posición social y cultural tipo de discurso elegido características psicilógicas del recptor y de la situación uso de gestos, silencios, etc. conocimientos lingüísticos instancia receptora mido vs. redundancia Canal o suporte físico interpretaciónproducción Código conocimiento del mundo posición social y cultural tipo de discurso elegido características psicológicas del emisor y de la situación uso de gestos silencios, etc. instancia emisora Conocimientos lingüísticos FONTE: <https://es.slideshare.net/danieliglesiaswolter/comunicacion-rea>. Acesso em: 28 maio 2018. UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 12 Como se pode notar, seguem existindo os elementos que compunham o processo na visão de Jakobson: emissor, receptor, código, canal etc., no entanto, outros aspectos são incorporados, mostrando que a comunicação é um processo de interação e não apenas codificação e decodificação. Mas o que, então, significa interação comunicativa? Discutiremos esse tema e as funções desempenhadas pela linguagem em nosso próximo tópico. DICAS Quer saber mais sobre os modelos de comunicação? Leia os artigos disponíveis em: • <http://www.scielo.br/pdf/delta/v32n3/1678-460X-delta-32-03-00005.pdf>. • <http://www.portalcomunicacion.com/uploads/pdf/20_por.pdf>. • <http://www.scielo.br/pdf/icse/v1n1/02.pdf>. 3 FUNÇÕES DA LINGUAGEM E INTERAÇÃO COMUNICATIVA O processo de comunicação revela que a troca de informações ocorre não apenas porque é um ato social, mas porque há objetivos a serem alcançados com ele. Tais objetivos podem ser: estabelecer contato, pedir informação, informar sobre algo, falar de si, divulgar uma ideia ou produto, entre outras possibilidades. [...] quando alguém fala ou escreve, pode não só expressar seu pensamento, mas também realizar ações (jurar, prometer, xingar etc.) ou produzir certo efeito sobre o outro. Nesse sentido, pode-se dizer que, ao falar ou escrever, temos sempre uma intenção ou objetivo, sempre pretendemos algo (SARMENTO; TUFANO, 2010, p. 238, grifo do original). Ao fazermos parte de uma interação comunicativa, temos objetivos que queremos atingir, como já mencionamos, e, para isso, nossa linguagem assume funções que revelam qual é a intenção predominante em uma fala ou escrita. 3.1 FUNÇÕES DA LINGUAGEM As funções da linguagem também foram apresentadas inicialmente por Jakobson, de acordo com seu modelo linear de comunicação. No entanto, elas funcionam em todos os modelos, pois as situações comunicativas se estabelecem para que algo seja alcançado. Ou seja, seguimos produzindo comunicação, fazendo uso da linguagem com intenções, com objetivos. Veja os textos que seguem: TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 13 FIGURA 6 – TEXTO 1: ANÚNCIO FONTE: <http://aritoalexa001.blogspot.com/2014/09/anuncios-publicitarios-busca-otros.html>. Acesso em: 28 maio 2018. FIGURA 7 – TEXTO 2: POEMA FONTE: <https://www.pinterest.es/pin/43910165091160768/>. Acesso em: 28 maio 2018. UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 14 FIGURA 8 – TEXTO 3: VERBETE FONTE: <https://www.blinklearning.com/coursePlayer/clases2 php?idclase=13737081&idcurso=347381>. Acesso em: 28 maio 2018. Analisando os três textos apresentados, você notará que cada um deles tem uma intenção, um objetivo diferente. Que tal preencher o quadro a seguir com o objetivo de cada texto? AUTOATIVIDADE Objetivo do texto (o que ele quer?) Texto 1 Texto 2 Texto 3 Se você leu cada um dos textos com atenção, identificou que o Texto 1 faz a propaganda de um produto, tentando “vendê-lo” ao seu público-alvo; o Texto 2 mostra os sentimentos de um “eu”, o que sente em relação a uma pessoa a quem ama, preocupando-se com o jogo de palavras; já o Texto 3 explica o significado da palavra “ente”. Associando esses textos aos elementos que fazem parte do processo comunicativo, ficará evidente que o Texto 1 destaca a figura do receptor (enunciatário), já que quer convencer seu leitor/ouvinte/público-alvo a adquirir o produto oferecido. Desse modo, a escolha do código, o canal de circulação, o contexto de enunciação, foram escolhidos em função do receptor. No Texto 2, o destaque está na mensagem, pois todos os elementos foram escolhidos para gerar um efeito com esta informação. Por fim, o Texto 3 se volta para o próprio código, uma vez que utiliza a língua espanhola para explicar o significado de uma palavra desta mesma língua. Note que teremos os demais elementos comunicacionais, no entanto, de acordo com as intenções que regem a comunicação, um deles estará em destaque. TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 15 O exercício que fizemos mostra que a linguagem, de acordo com a situação de comunicação, a intenção dos envolvidos, apresentará funções. Tais funções podem ser resumidas da seguinte forma: 1. Função Referencial ou Denotativa (ênfase no contexto): é aquela que traduz a realidade exterior ao emissor. O destaque é para a situação em si, o contexto que gerou o processo comunicativo. Ex.: Os jornais sempre utilizam esse tipo de linguagem, pois relatam fatos, os livros didáticos, de história, geografia etc., também usam essa mesma linguagem. 2. Função Emotiva ou Expressiva (ênfase no emissor): é aquela que traduz opiniões ou emoções do emissor. Essa linguagem se caracteriza quando alguém expressa sua opinião sobre determinado assunto. Ex.: "Eu acho que aquele rapaz não está passando bem, parece que está com febre". 3. Função Fática (ênfase no canal): é aquela que tem por objetivo prolongar o contato com o receptor ou iniciar uma conversa, caracteriza-se pela repetição de termos. Ex.: "O que você acha dos políticos? – Olha, no meu ponto de vista, sabe, eu acho que,... bem... como eu estava dizendo, os políticos, sabe como é, né? É isso aí". Expressões como “né”, “entendeu”, “alô”, “escuta” servem para testar se a comunicação continua ocorrendo. 4. Função Conativa ou Apelativa (ênfase no receptor): é aquela que tem por objetivo influir no comportamento do receptor por meio de um apelo ou ordem. O destaque está no receptor. As propagandas, os anúncios são um bom exemplo desse tipo de linguagem. Ex.: "Compre o sabão espumante, que borbulha melhor do que qualquer outro!". São características dessa função: verbos no imperativo, presença de vocativos, pronomes de segunda pessoa. 5. Função Metalinguística (ênfase no código): é aquela que utiliza o código para explicar o próprio código. Um bom exemplo dessa função, no caso do código língua, são os dicionários e as gramáticas. Mas também podemosdestacar como metalinguagem um vídeo que explica como fazer um vídeo, um poema que mostra o que é um poema, um desenho que mostra como se desenha etc. 6. Função Poética (ênfase na mensagem): é aquela que enfatiza a elaboração da mensagem de modo a ressaltar o seu significado. Ao utilizar essa função, o autor se preocupa com rimas e comparações bem escolhidas, dando importância fundamental à maneira de estruturar a mensagem. Embora seja mais comum em poesia, essa função pode aparecer em qualquer tipo de mensagem linguística. Ex.: "sua alma sua palma" (provérbio). Se voltarmos a qualquer um dos modelos de comunicação, que vimos anteriormente, conseguiremos encaixar as funções exercidas pela linguagem durante o ato comunicativo, como mostra a ilustração a seguir: UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 16 FIGURA 9 – FUNÇÕES DA LINGUAGEM FONTE: <http://humanidadesaplicadas.es/las-funciones-del-lenguaje-aplicacion-la- comunicacion-verbal>. Acesso em: 28 maio 2018. As funções da linguagem só existem porque se estabelece comunicação, porque há a interação entre os seres humanos. Por isso, também chamamos essa perspectiva de interação comunicativa, tema que apresentaremos com mais ênfase no próximo item. 3.2 INTERAÇÃO COMUNICATIVA A interação comunicativa pode ser definida em virtude de várias perspectivas. Uma primeira vertente pauta-se na interação a partir do conceito de intersubjetividade desenvolvido por Bernal (2003), e é entendida como uma negociação de significados relacionados ao conhecimento de mundo compartilhado pelos interlocutores. Tal processo pode ocorrer de forma verbal ou não verbal. É definida como “[...] todos los acontecimientos de la comunicación humana que transcienden las palabras dichas o escritas” (KNAPP, 1982, p. 27). TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 17 Partindo de uma perspectiva social, a interação comunicativa é entendida como uma trama discursiva que permite a socialização do sujeito através de atos dinâmicos, possibilitando sua participação em redes de ação comunicativa, fazendo com que se apreenda, compreenda e incorpore o mundo que o cerca. Essa visão permite a codificação e decodificação da linguagem e serve também para compartilhar a cultura e os valores que a sustentam, porque por ela se pode refletir sobre as experiências próprias e coletivas e expressá-las aos demais. “Para que la interacción comunicativa se efectúe, los individuos deben actuar bajo normas y las condiciones del contexto conversacional en que dicho intercambio tiene lugar, además de utilizar el código específico que demanda la situación” (CARRILLO VARGAS et al., 2017, p. 111). Desse modo, parece evidente que a interação comunicativa se caracteriza por incluir tanto habilidades pragmáticas quanto habilidades sociais, podendo materializar-se nos atos de fala. 3.2.1 Atos de fala Os atos de fala, entendidos como unidades para a análise da função interpessoal da comunicação, possuem proposição (conteúdo conceitual, o que se quer informar, dizer) e ilocução (intenção da proposição, o que se quer obter com esse conteúdo). Os atos também são entendidos como unidades de comunicação linguística que se adaptam às regras da língua e às representações mentais e intenções do falante. Os atos de fala podem ser classificados em: • Ato de fala direto: ordem direta de realização de uma ação comunicativa. • Ato de fala indireto: adota uma forma sintática que não reflete as intenções subjacentes ou conhecidas como de cortesia. • Ato de fala literal: falante diz exatamente o que quer. • Ato de fala não literal: falante não diz com precisão o que quer dizer. Serle (1967 apud CARRILLO VARGAS et al., 2017, p. 112-113) também apresenta uma classificação dos atos de fala: Las categorias propuestas son: las representativas, las cuales hacen referencia a declaraciones que trasmiten una proposición; las directivas, que son expresiones que intentan influir sobre el oyente para que realice alguna acción; las obligaciones, pues son compromisos frente a una acción futura, las expresivas, es decir expresiones de un estado psicológico y las declarativas, que buscan exponer hechos que pueden alterar la situación. Outro elemento relacionado à caracterização dos atos de fala é o aspecto paralinguístico, também chamado de suprassegmental, que envolve todos os elementos, como entonação, ritmo de fala, pausas etc., os quais permitem UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 18 uma melhor compreensão das intenções comunicativas. Além deste, é preciso considerar o aspecto extralinguístico, como gestos, expressões faciais e corporais, postura corporal, movimento de olhos e cabeça, distância, que aplicado à modalidade verbal amplia o processo de apreensão e compreensão. Tudo o que estudamos até o momento reforça a ideia de que a comunicação, e nela incorporamos as ideias de linguagem, língua, interação e atos de fala, exige que tenhamos habilidades para além do mero ato de codificar e decodificar. Os conhecimentos prévios, as diversificadas visões de mundo, as diferentes situações comunicativas requerem que não apenas sejam identificadas, mas que também sejam utilizadas em novas interações comunicativas, em um processo contínuo de leitura. Esse processo é o que se chama de letramento. Tema que relembraremos no próximo item. 4 O LETRAMENTO Em espanhol é raro o uso da palavra letramento. Todos os textos sobre leitura e processo de alfabetização se referem ao processo que denominamos de letramento como “lectura competente”. NOTA Observe a seguinte charge: FIGURA 10 – CHARGE SOBRE LEITURA FONTE: <https://redacaonline.com.br/blog/764-2/>. Acesso em: 28 maio 2018. TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 19 A ironia da situação representada se encontra no fato de que o jovem de touca faz parte dos 93% de escolarizados no Brasil, mas não consegue “entender” o conteúdo daquilo que leu. Faz a decodificação típica de algumas linhas alfabetizadoras, mas não consegue estabelecer as relações necessárias para o efetivo entendimento da informação. O que foi explorado na fala passa a estar presente também na escola. É bastante comum escutarmos comentários como estes nas salas de professores: “Os alunos não sabem ler e interpretar”; “Eles sabem fazer a conta, mas não conseguem interpretar o problema, falta leitura”; “Eles já não conseguem ler em português, quem dirá na língua estrangeira”. Resta-nos refletir sobre tais falas que acabam se petrificando na educação. Nossos alunos não sabem ler ou não têm uma habilidade de leitura “qualificada”? Os estudos na área vêm, nas últimas décadas, mostrando que se estabeleceu um abismo (que não deveria sequer existir) entre ser alfabetizado e ser letrado. Nossas escolas estão repletas de alfabetizados, mas são todos letrados? Essa é uma discussão importante, porque interfere nas relações que se estabelecem com a língua estrangeira e seu aprendizado. Quando ensinamos o espanhol, não estamos “alfabetizando” no sentido literal da palavra, porque partimos dos conhecimentos já construídos durante o processo de aprendizagem da língua materna. Mesmo quando ensinamos a língua aos que ainda não foram formalmente alfabetizados, estabelecemos comparações com a língua que nossas criancinhas falam. Assim, também os professores de língua estrangeira, como nós, precisamos entender, sobretudo e principalmente, o que é o letramento, porque ele é o responsável pela qualidade dos conhecimentos linguísticos e de mundo que construímos. Se fizermos uma síntese muito superficial e, claro, repleta de lacunas sobre o tema, poderemos afirmar que alfabetizar é o processo de aprendizagem no qual se desenvolvem as habilidades de leitura e de escrita. Já letramento diz respeito ao uso competente dessas duas habilidades nas práticas sociais. Ou seja, na alfabetização aprendemos o necessário para codificar e decodificar variadas formas de textos; no letramento desenvolvemos as habilidades para fazer usodo que aprendemos nos diferentes contextos comunicativos aos quais estamos diariamente expostos. Note que os dois conceitos são complementares e, por isso, quando surgiram as primeiras discussões sobre o letramento, se tenha enfatizado tanto a expressão “alfabetizar letrando”. No entanto, como frisamos, esse é um resumo que não dá conta da complexidade de tal processo. Se fosse realmente algo simples, não teríamos dados tão alarmantes sobre a leitura em nosso país. UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 20 Por isso, antes de iniciarmos realmente a discussão sobre o que é o letramento, é importante que levemos em consideração uma classificação estabelecida pelo INAF – Indicador de Alfabetismo Funcional –, mencionada por Goulart (2014, p. 36): O INAF define quatro níveis de alfabetismo que, em linhas gerais, se apresentam assim: analfabetismo – corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas simples que envolvem a leitura de palavras e frases; nível rudimentar – corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em textos curtos e familiares (por exemplo, um anúncio ou pequena carta); nível básico – as pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas funcionalmente alfabetizadas, pois leem e compreendem textos de média extensão, localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências; nível pleno – classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. INAF – Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional – é uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Paulo Montenegro e por Ação Educativa. Sua realização se dá por meio de um teste que avalia a capacidade de leitura e um questionário sobre as práticas de leitura e escrita da população. É feito por amostragem, ou seja, se escolhe uma amostra da população para realizar o procedimento e depois se analisam os resultados obtidos. IMPORTANT E Os estudos apresentados pelo INAF referentes aos anos de 2011-2012 mostram que apenas um de cada quatro brasileiros apresenta pleno domínio da leitura, encaixando-se na classificação de plenamente alfabetizado. Desse modo, fica evidente que ainda não se está avançando no que se refere a letramento durante o processo alfabetizador. Goulart (2014) rebate, inclusive, a forma como se trabalha a ideia de letramento nas escolas: como parte de um movimento de ações compensatórias, buscando estabelecer nivelamentos ao invés de trabalhar com a diversidade histórico-cultural-social. Segundo a autora, “na perspectiva de explicitar o sentido social da aprendizagem da língua escrita, a utilização da noção de letramento tem levado a dicotomizar forma e sentido, técnica e conhecimento, em que alfabetização encampa o primeiro elemento de cada dupla elencada, e letramento, o segundo”. (GOULART, 2014, p. 40). Nos aproximando de nossas realidades, como entendermos letramento e como aplicá-lo em nossas aulas de língua estrangeira? Mais do que responder a tais perguntas, apresentaremos reflexões (ou se preferir, provocações) que permitam que você faça escolhas e estabeleça caminhos que o(a) levem às respostas desejadas. TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 21 A formação de leitores plenamente competentes passa, valendo-nos de uma visão histórico-cultural, por duas dimensões, como mencionaram Cerutti- Rizzatti, Daga e Dias (2014): uma intersubjetiva e uma intrassubjetiva, como veremos a seguir. A intersubjetividade pauta-se na ideia de que ler é um ato do qual participam e interagem leitores e autores, sendo, desse modo, um processo social. Tomamos, então, intersubjetividade tal qual faz Geraldi (2010a, 2010b; Geraldi et al., 2006), concebendo o conceito à luz de fundamentos bakhtinianos, como a relação do ‘eu’ com o ‘outro’, mediada pela linguagem, em espaços social, histórica e culturalmente situados; ou, como quer Ponzio (2010), também sob fundamentação filosófica bakhtiniana, como o encontro entre a subjetividade e a alteridade (CERUTTI-RIZZATTI; DAGA; DIAS, 2014, p. 228). A partir das afirmações das autoras, podemos entender intersubjetivo como as interações entre indivíduos em um espaço social, realizadas através da linguagem. Isso coloca o ato de ler como um processo cultural que, dentro dos grupos sociais específicos, ganha significados, delimitações e valores diferenciados, bem como se torna o lugar onde os sujeitos (o “eu” e o “outro”) se encontram. Cabe ressaltar que, no âmbito da intersubjetividade, trabalhar com a diversidade textual é elemento de suma importância. Será a diversidade de gêneros que permitirá as relações entre as diferentes individualidades, histórias de vida e percepções de mundo. Ela promoverá também o desenvolvimento do letramento, uma vez que convergirá os textos familiares (conhecidos e cuja leitura é “fácil”) com os textos não habituais ou estranhos (aqueles que não são uma leitura comum nos ambientes aos quais pertence o leitor). Observe que devemos não apenas pensar na dimensão intersubjetiva, mas também incorporar a ela a dimensão intrassubjetiva. Ao mesmo tempo em que o texto permite o encontro de um “eu” com um “outro” pela perspectiva cultural, também o faz nas relações textuais, nos recursos lexicais, gramaticais selecionados pelos autores em seus discursos para promover sua escrita. Desse modo, quando entramos do campo da intrassubjetividade, faz- se necessário conhecer o que é dito pelo autor para, depois de realizada uma compreensão leitora, dar as respostas que o texto pede. Nesse sentido, “[...] importa substancialmente decodificar o texto e depreender implícitos, dois processos exigidos dos sujeitos em sua individualidade” (CERUTTI-RIZZATTI; DAGA; DIAS, 2014, p. 230). Note que no processo intrassubjetivo é necessário que o leitor faça inferências, gerencie seus esquemas cognitivos (os quais permitirão decodificar os códigos utilizados na escrita) e ative seus conhecimentos prévios. Tais ações devem ser parte da escolarização, tornando o letramento fundamento para a formação do sujeito. UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 22 Cerutti-Rizzatti, Daga e Dias (2014) tratam em seu texto dos liames da língua materna. Esse é o foco de seus estudos e do grupo de pesquisa do qual fazem parte. Segundo as autoras: [...] entendemos que cabe aos professores de língua materna empreenderem uma ação que, partindo da complexidade intersubjetiva do ato de ler, toque sua complexidade intrassubjetiva – em uma abordagem não dicotômica, mas dialética –, de modo que os alunos, no processo cultural, do qual a escola é parte importante – e, às vezes, como escreve Kleiman (1995), instituição definitiva para tal porque a principal agência de letramento –, potencializem suas possibilidades de compreensão leitora, concebida como resposta aos autores dos textos, como acabamento no delineamento dos sentidos, processo histórica, cultural e socialmente situado, tal qual propõem os estudos de letramento (CERUTTI-RIZZATTI; DAGA; DIAS, 2014, p. 231). Depois dessa breve reflexão sobre o letramento, que se fechou em uma visão mais aproximada da língua materna, vem a pergunta: E na língua estrangeira (espanhol), como promover o letramento? A pergunta gera certa angústia nos professores de língua estrangeira das redes formais de ensino, porque sabemos que a carga-horária destinada a essa disciplina é pequena e, muitas vezes, os planejamentos gerais preveem mais assuntos relacionados à aquisição de vocabulários e questões de ordem gramatical do que exatamente o trabalho com os textos. Claro está que essa visão também passa por bem-vindas alterações. Os próprios textos-base utilizados em redes públicas e privadas de ensino já adotam uma visão de texto como base para as interações humanas, o quevai gradativamente modificando o fazer docente. Mas, a pergunta segue pertinente, embora com um viés um pouco diferenciado: Como a língua estrangeira pode colaborar para o letramento deste aluno-cidadão? Aqui cabe bem retomar as ideias de intra e intersubjetividade em uma proposta real de letramento. O professor de língua espanhola deve planejar suas atividades de modo a também promover o letramento, fazendo, para isso, uso de textos diversificados que sejam relevantes ao contexto do aluno e que permitam o uso competente da língua nas variadas situações comunicativas. Schlatter (2009), em um artigo sobre o letramento em língua estrangeira, faz uma colocação muito interessante e que nos permite atribuir ao professor de língua estrangeira uma dimensão diferenciada: As atividades propostas devem levar em conta o papel da LE na vida do aluno, de que forma ele já se relaciona (ou não) com essa língua e o que essa LE pode dizer em relação a sua língua e cultura maternas. Em última análise, aprender a ler e escrever (e também ouvir e falar) em determinadas situações de comunicação da LE tem como meta ampliar a participação do educando nas práticas sociais em sua língua e em sua cultura, contribuindo para o seu desenvolvimento como cidadão (SCHLATTER, 2009, p. 12). TÓPICO 1 | ATO COMUNICATIVO: UMA LEITURA 23 Assim, reforça-se o objetivo da língua estrangeira de permitir que o educando tenha condições de exercer a leitura (e a escrita) com competência nas práticas sociais, elevando a função do leitor para além de somente decodificar, mas como agente capaz de avaliar o que lê e apresentar reações diante dessa leitura-reflexiva. Segundo a autora, “como analista, o leitor deverá ser crítico em relação à ideologia subjacente ao texto: deverá saber ler nas entrelinhas, reconhecer o que está implícito e pressuposto, reconhecer que qualquer texto representa um ponto de vista e que autor e leitor tomam posições em relação ao que escrevem/leem ”. (SCHLATTER, 2009, p. 13). Desse modo, para que consigamos formar leitores proficientes, precisamos adotar práticas de ensino que se valham dessa perspectiva e a ponham em exercício. Levar textos que tenham vínculo com o universo cultural e social do aluno, estimular o estabelecimento de relações entre o seu universo e o dos autores e demais leitores, permitir a análise das estruturas do texto que mostrem de que lugar fala o autor e sua proximidade ou distanciamento do nosso lugar de leitor, relacionar o universo textual da língua estrangeira com o universo textual da língua materna, são alguns elementos a serem introduzidos nas aulas para realmente promover o letramento. DICAS A Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE) e o Ministério da Educação, produziu uma coleção para a formação de docentes alfabetizadores. A coleção é formada por 17 títulos e os livros, em formato pdf, podem ser acessados no endereço: • <http://www.ceale.fae.ufmg.br/pages/view/colecao-alfabetizacao-e-letramento.html>. Vale a pena conferir! Para saber mais sobre alfabetização e letramento, assista aos vídeos nos endereços: • <https://www.youtube.com/watch?v=Gb_HDtzgmGo> (parte 1). • <https://www.youtube.com/watch?v=M-VMUXdzbR8> (parte 2). • <https://www.youtube.com/watch?v=-YP-7l6oAZM>. Após essa discussão introdutória, necessária para que possamos entender os processos de leitura e realmente desenvolvamos em nossos alunos as habilidades leitoras que o tornem um leitor competente na língua estrangeira, no próximo tópico nos deteremos à questão do ato de ler e como ler as diferentes linguagens. 24 Neste tópico, você aprendeu que: • Linguagem é o sistema de símbolos utilizados para a transmissão de mensagens. Criação de códigos capazes de atribuir significados. • Língua é o sistema de signos compartilhados pelos indivíduos de uma mesma sociedade. • Comunicação é o processo que envolve vários elementos, como: enunciador, enunciatário, mensagem, código, canal, contexto, ruídos, intenções comunicativas etc. • A comunicação ocorre porque se pretende atingir determinados objetivos com ela. A linguagem, portanto, assume funções. • As funções da linguagem são: referencial, emotiva, fática, poética, apelativa, metalinguística. • Interação comunicativa pertence a todos os acontecimentos da comunicação humana para além da língua. • Os atos de fala fazem parte da interação humana e se constituem de conteúdo e intenção. • Letramento é o uso competente da leitura e da escrita nas diversas situações comunicativas. RESUMO DO TÓPICO 1 25 1 De acordo com as intenções comunicativas, uma mesma frase pode ter diversos sentidos. Com base no que estudamos, analise as frases a seguir (se quiser, pode lê-las em voz alta, dando-lhes as diferentes entonações) e diga que sentidos elas podem assumir em cada situação: a) Merezco eso. b) Dios mío. c) No pasa nada. 2 Ainda pensando na questão dos sentidos, das intenções e das situações comunicativas, associe às perguntas que seguem diferentes situações comunicativas. Explique as situações e como seria a resposta esperada para cada uma delas: a) ¿Tiene fuego? b) ¿Está Pablo? 3 Faça uma breve pesquisa e veja como os estudiosos definem alfabetização e letramento. Você pode, se quiser, usar alguns dos que indicamos aqui: • MATTOS, Andréa Machado de Almeida; VALERIO, Kátia Modesto. Letramento crítico e ensino comunicativo: lacunas e interseções. Rev. bras. linguist. apl., Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 135-158, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984- 63982010000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 7 set. 2018. • SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-73302002008100008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 7 set. 2018. • BONAMINO, Alicia; COSCARELLI, Carla; FRANCO, Creso. Avaliação e letramento: concepções de aluno letrado subjacentes ao SAEB e ao PISA. Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 81, p. 91-113, dez. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 73302002008100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 7 set. 2018. • CERUTTI-RIZZATTI, Mary Elizabeth. Letramento: uma discussão sobre implicações de fronteiras conceituais. Educ. Soc., Campinas, v. 33, n. 118, p. 291-305, mar. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302012000100018&lng=pt&nrm=i so>. Acesso em: 7 set. 2018. AUTOATIVIDADE 26 Autor(a) Alfabetização Letramento 4 Em suas aulas de língua espanhola, como você poderia promover o letramento? Se achar pertinente, dê exemplos. 27 TÓPICO 2 LEITURA E ATO DE LER UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Já está claro que um leitor competente realiza a leitura de diferentes textos e consegue estabelecer nesse processo diversas relações: quem emitiu e quem recebeu (para não nos esquecermos dos termos utilizados inicialmente nos esquemas de comunicação); de que lugar se “fala” e se “ouve” e que relação se estabelece entre esses dois indivíduos; o conteúdo e o contexto em que foi produzido e em que foi recebido; as estruturas que compõem o próprio texto, e assim por diante. Por isso, os autores insistem tanto em falar de letramento e leitor competente. Sabemos que ler não é um processo simples. Envolve uma série de habilidades e competências que possibilitam a atribuição de sentidos, ocorrendo a interação entre os sujeitos. Também gera novas visões de mundo e nos instiga a refletir sobre quem somos e como atuamos na sociedade em que vivemos. Para que tal processo possa incluir-se em definitivo em nossas aulas de língua espanhola, neste tópico nos deteremos em entender como funciona a leitura, principalmente na era digital, e como ativar as habilidades necessárias para ler textos verbais e textos não verbais. Vamos lá?2 LEITURA, SOCIEDADE E ERA DIGITAL Você já se deu conta de que estamos cercados por informações e textos. Desde a hora em que acordamos até o momento em que vamos dormir praticamos a leitura, às vezes, de forma tão automatizada que nem atentamos para o fato de que estamos lendo. Pense nisso: você acorda e à mesa lê o que está escrito na caixa de cereais ou na margarina, porque quer saber o teor de açúcar ou de gordura; já está no celular dialogando ativamente no Whats ou se inteirando das primeiras notícias do dia. Sai de casa e lê as placas de trânsito, os letreiros de ônibus, os nomes das ruas e números dos edifícios para chegar ao trabalho, à consulta médica, à escola ou a qualquer outro lugar desejado. Vai almoçar e precisa ler o cardápio ou UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 28 quais são as opções do buffet. Ao efetuar pagamentos, lê o que está no boleto ou no comprovante de crédito ou débito. Vai à farmácia e lê o que está nos rótulos, nas bulas dos remédios, no encarte da promoção. Isso sem falar da leitura que fazemos dos gestos, das expressões faciais, dos outdoors, cartazes e panfletos que se lançam sobre nós ao passarmos pelas ruas. E veja, só chamamos a atenção para alguns dos milhares de situações de leitura a que somos expostos em nosso cotidiano. Vivemos em um mundo em que ler é algo vital para que possamos interagir em sociedade. E, ainda, todos esses atos de leitura requerem de nós mais do que simplesmente codificar ou decodificar os códigos apresentados. Eles exigem que estabeleçamos relações, que busquemos conhecimentos prévios para associá-los aos novos que estamos construindo, que entendamos as entrelinhas, as pausas, as ironias que estão nos textos, ou seja, requerem que sejamos leitores competentes, portanto, letrados. Mas antes que passemos às ideias mais recentes sobre o processo de leitura, vamos estabelecer alguns princípios que norteiam o que se pensa hoje sobre esse ato. A leitura, tal como ocorre hoje, é um ato de representação. Não temos acesso direto à realidade, mas a reconstruímos através do que está em um texto. Ao olharmos para as palavras de um texto, ou as imagens, ou, ainda, as palavras e as imagens, vemos outras informações. Uma primeira ideia de leitura a via como “extração de sentidos de um texto”. Essa visão deixava claro que o sentido estava todo no texto e o leitor deveria extraí-lo de lá. Leffa (1996), ao mencionar esse conceito, faz uma associação com uma mina e o trabalho do mineiro. Segundo ele, o texto seria uma espécie de mina, cheia de corredores e riquezas a serem ainda exploradas. O leitor seria o mineiro que trataria de explorar esses corredores e riquezas e a exploração persistente o faria descobrir os sentidos do texto. Sob essa perspectiva, o destaque estaria no texto, ele conteria tudo que é necessário para entendê-lo. O leitor, por sua vez, precisaria aprender o texto na íntegra para não ter seu sentido comprometido. “O leitor está subordinado ao texto, que é o polo mais importante da leitura. Se o texto for rico, o leitor se enriquecerá com ele, aumentará seu conhecimento de tudo porque o texto é o mundo. Se o texto for pobre, mina sem ouro, o leitor perderá seu tempo, porque nada há para extrair” (LEFFA, 1996, p. 13). Uma análise breve mostra que essa visão de leitura é bastante limitada e não representa de fato o que ocorre no processo leitor. A segunda visão vê a leitura como “atribuição de significados”. Nela o foco deixa de ser o texto e passa a ser o leitor. Caberá ao leitor trazer ao texto as significações necessárias. Aqui, as experiências prévias são essenciais para a compreensão do texto. Diferentemente da primeira visão que se torna linear, TÓPICO 2 | LEITURA E ATO DE LER 29 esta é um levantamento de hipóteses que serão reforçadas ou refutadas a cada parágrafo ou página lida. O significado não está na mensagem do texto, mas no desencadeamento de acontecimentos na mente do leitor. Nesta perspectiva, ler é preencher lacunas deixadas pelo escritor. Isoladamente, as duas perspectivas apresentam problemas e não conseguem dar conta do processo. Entra em questão uma terceira forma de conceber a leitura, pautada na ideia de “interação”. A leitura ocorre quando há uma interação entre o leitor e o texto, levando ainda em conta alguns fatores como intenção, conhecimentos prévios e partilhados, contexto etc. Assim, a leitura passa a ser entendida como “uma atividade ou um processo cognitivo de construção de sentidos realizado por sujeitos sociais inseridos num tempo histórico, numa dada cultura” (CAFIERO, 2005, p. 17). Note que não estamos pensando simplesmente no ato de traduzir o que o autor escreveu (enfatizaremos a questão da escrita neste momento), mas de construir sentidos, em um contexto concreto de comunicação, a partir do que o autor nos deu. Isso nos leva a pensar que, quando lemos, precisamos inicialmente compreender o que lemos, e esse processo de compreensão ocorre em duas dimensões: nas estruturas linguísticas do texto, como está constituído, como funciona socialmente; e no próprio leitor, nos conhecimentos, nas operações mentais de que fará uso para ler o texto. Leer no consiste sólo en descifrar, esto es, en relacionar los sonidos con sus grafías correspondientes sino que supone, además, comprender, dotar de significado al texto. La comprensión, por tanto, implica un proceso interactivo entre el lector y el texto, en relacionar las ideas que posee en la mente con las que le presenta el autor en el texto. Supone diversas operaciones: – extracción de ideas (microestructuras); – relación entre las ideas: subtemas que contiene y que inciden en la coherencia textual (macroestructuras); – reconocimiento de la organización textual, según el tipo de texto que se trate (superestructura); – relación con los conocimientos previos; – construcción del significado (DELGADO, 2010, p. 14). A leitura é, portanto, um ato complexo que envolve diversos elementos. Desse modo, ao trabalharmos com nossos alunos esse ato, precisamos planejar como o faremos, para que consigamos promover realmente uma leitura competente. Como já mencionamos anteriormente, para que nossos leitores sejam competentes, um dos aspectos importantes é expô-los a diversos gêneros textuais, procurando dosar entre gêneros que são de seu conhecimento e uso e gêneros que ainda lhes são pouco conhecidos ou desconhecidos. Assim também ampliaremos seus conhecimentos prévios para outras e novas leituras. UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 30 Vale ressaltar que o meio de veiculação e circulação dos textos muda de acordo com a transformação das sociedades, as formas não desaparecem, mas se somam, permitindo que tenhamos sempre acesso a mais e mais leitura. Antes os textos eram orais, visto que a oralidade veio antes da escrita. Com o surgimento da escrita, os textos passaram a circular também de forma física (pergaminhos, papel etc.). Apareceram os livros, de vários formatos e tamanhos, e que circulam muito entre nós. E, claro, com o avanço da tecnologia e a entrada da humanidade na era digital, surgem os textos digitais. A questão é: O fato de que nossos textos, hoje, circulem em meios digitais ocasionou algum tipo de mudança na leitura? Surgiram novas habilidades a serem desenvolvidas no processo por conta desse novo meio de criação e circulação textual? Essas e outras perguntas servirão para o estudo que desenvolveremos no próximo item. Vamos lá. DICAS Sobre o ato e a importância de ler, há disponível um audiolivro de Paulo Freire que merece nossa atenção. Ele está no endereço: <https://www.youtube.com/ watch?v=v3PJqLKkAhs>. 2.1 LEITURA DIGITAL Para iniciar nossa reflexão, leia a seguinte charge: FIGURA 11 – LEITURA X MEIO DIGITAL FONTE: <http://www.3livrossobre.com.br/leitura-e-a-maneira-pela-qual-pessoas-instalam- novos-softwares-em-seus-cerebros/>. Acesso em: 28 maio 2018. TÓPICO 2 | LEITURA E ATO DE LER 31 Em um tom bem-humorado,o chargista mostra uma situação bastante comum nas escolas atualmente: para que os alunos entendam determinados temas, é necessário associá-los com o universo do qual estes estudantes fazem parte. Este universo é o tecnológico. Nossos alunos estão todo o tempo conectados, recebendo e trocando informações em uma velocidade incrível. Com essa pequena ilustração, identificamos que atualmente não apenas as habilidades de escrita e leitura que são pregadas nos documentos oficiais devem ser trabalhadas, mas novas habilidades que surgem na mesma velocidade das tecnologias. Sobre a leitura, tema deste livro de estudos, vale uma nota saudosista que também ilustrará como a evolução tecnológica alterou a percepção do ato de ler. Quem nasceu nos idos dos anos 70, 80 e mesmo início dos 90 se recordará que na escola se enfatizava muito o valor do livro. Poder levar para casa um livro da biblioteca ou comprar um livro era um prazer. Muitos ainda dizem que nenhum outro meio substitui o folhear das páginas, o cheiro da tinta e do papel, a textura da capa sobre os dedos ávidos do leitor. No entanto, com o advento da internet e a rede praticamente infinita de informações que passou a circular neste meio, houve também uma revolução no ato de ler. Chegou-se a dizer, inclusive, que o livro, tal como o conhecemos, estaria fadado à extinção. Isso porque no meio digital a escrita passou por uma transformação que também transformou a leitura: o surgimento do hipertexto. Sobre o hipertexto, Zayas (2010, p. 2) apresenta a seguinte definição: “[...] una serie de fragmentos textuales vinculados entre sí de tal modo que las unidades puedan leerse en distinto orden, permitiendo así que los lectores accedan a la información siguiendo distintas rutas”. O termo hipertexto foi apresentado por Ted Nelson em 1963, embora seu funcionamento já tivesse sido descrito por Vannevar Bush logo após a 2ª Guerra Mundial. NOTA Se os textos impressos sugeriam uma leitura linear, normalmente do início para o final, no meio digital os textos permitem uma leitura em rede, ou seja, ao acessar um texto, os vários links distribuídos nele possibilitam que se tenha acesso simultaneamente a imagens, gráficos, sons, explicações e mesmo outros textos que complementam o primeiro lido. UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 32 FIGURA 12 – O HIPERTEXTO FONTE: <https://cw121a5.wordpress.com/tag/hipertexto/>. Acesso em: 2 jun. 2018. Na leitura em rede, proposta pelos hipertextos, o leitor abandona a linearidade e rigidez e tem múltiplas experiências, uma vez que o texto passa a ser uma espécie de quebra-cabeças que pode ser montado como lhe parecer melhor ou da forma que melhor atenda as suas necessidades para aquele momento. DICAS Para saber mais sobre hipertexto, escrita e a leitura hipertextual e outros aspectos do tema, leia os artigos disponíveis em: • <http://www.scielo.br/pdf/ci/v28n3/v28n3a4.pdf>. • <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-63982012000100011>. • <http://www.letramagna.com/Eliane_Arbusti_Fachinetto.pdf>. TÓPICO 2 | LEITURA E ATO DE LER 33 Muitos estudos tentaram provar que também havia a possibilidade de leitura não linear nos livros impressos. Um exemplo muito citado foi o livro Rayuela (O Jogo da Amarelinha), do argentino Julio Cortázar. Nele é possível fazer uma leitura capítulo a capítulo, seguindo o fluxo normal de leitura, ou se pode seguir as orientações que estão ao final de cada capítulo e que nos levam a ler o livro indo e voltando conforme o que pede o autor. NOTA Assim, o que podemos observar é que a tecnologia trouxe uma nova forma de leitura: a leitura digital, realizada diretamente nos aparatos tecnológicos. Essa nova forma não exige mais o contato com o papel, já que os textos são disponibilizados na rede de inúmeras formas, podendo ser lidos em qualquer lugar do mundo em que haja uma conexão com a internet. Também se verifica que essa forma de leitura exige de seu leitor novas habilidades. Ela necessita mais requisitos do que aqueles para a leitura do papel. Por isso, na atualidade, fala-se tanto na alfabetização digital, pois o leitor terá que saber não apenas ler de forma competente, mas também utilizar de forma competente os recursos tecnológicos. Nos ambientes virtuais, lugares de excelência do hipertexto, o leitor precisará: estabelecer claramente quais são seus objetivos de leitura para que saiba que percurso de leitura traçar nesta rede de informações; reconhecer os itens de navegação disponíveis naquele ambiente (menus, conteúdos, ícones, buscadores internos daquela Web...); identificar os vínculos que o levam a espaços em que ocorre a participação direta do leitor (fórum, comentários, impressão etc.). Zayas (2010) afirma que o leitor da era digital deve saber movimentar-se na rede com o propósito de obter informação, selecionar e classificar a informação encontrada, arquivar o que considerar importante e reutilizar a informação arquivada, quando necessário em novos contextos de comunicação. Dessa forma, além das habilidades de leitura “convencionais”, o leitor precisa ser alfabetizado também no ambiente tecnológico, porque a leitura neste espaço exige dele novas habilidades que envolvem o acesso aos espaços virtuais de informação e o manejo das ferramentas destes espaços. O professor de língua espanhola precisará trabalhar com seus alunos estes novos aspectos da leitura, promovendo o letramento também no ambiente virtual. Isso implicará ter e permitir o acesso à tecnologia e não se apoiar unicamente nos planejamentos estáticos e/ou nos livros didáticos. Igualmente, exigirá que se trabalhe a linguagem e suas diversas formas de manifestação. O próximo item discutirá justamente a questão da linguagem e suas manifestações. Em frente! UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 34 3 O TEXTO VERBAL E O TEXTO NÃO VERBAL Já vimos no início desta unidade que a linguagem é um sistema de códigos, utilizado pelas sociedades para representar ideias, as mensagens que se quer transmitir. Isto é, foram criados códigos, ao longo da história da sociedade, que permitem que atribuamos significado aos diversos elementos que compõem os indivíduos e o mundo que os cerca. Observe as imagens a seguir: FIGURA 13 – IDEIA FONTE: <https://br.freepik.com/vetores-gratis/empresario-com-uma-grande-ideia_834592. htm>. Acesso em: 2 jun. 2018. FIGURA 14 – IDEIA (2) FONTE: <http://adridea.blogspot.com/>. Acesso em: 2 jun. 2018. TÓPICO 2 | LEITURA E ATO DE LER 35 Podemos afirmar que as duas imagens representam a mesma “coisa”? Sim, ambas nos apresentam um mesmo conceito: “ter uma ideia”, mas o fazem valendo-se de códigos diferentes. Na primeira, temos apenas desenhos (homem e lâmpada), na segunda, as letras do alfabeto que combinadas formam uma escrita (tuve una idea). Nossa sociedade convencionou que a lâmpada está associada a “ter ideias” porque quando as temos nosso cérebro “se ilumina”. Então, cada vez que vemos uma lâmpada sozinha em uma imagem ou pairando perto de alguém, automaticamente associamos com “ideia”. Esses são, portanto, códigos – a imagem e as letras – que utilizamos para expressar o que queremos. São parte deste sistema que definimos como linguagem. E dentro deste sistema podemos identificar dois grandes grupos: a linguagem não verbal e a linguagem verbal. Para entender como cada uma delas se manifesta, novamente observe as imagens a seguir: FIGURA 15 – EXPRESSÕES FONTE: <https://www.psicoactiva.com/blog/la-comunicacion-no-verbal-el-arte-de-expresarse- sin-hablar/>. Acesso em: 2 jun. 2018. UNIDADE 1 | LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 36 Você conseguiria traduzir em palavras cada uma das expressões que vê na Figura 15? Então, coloque a palavra no quadro que corresponde a cada carinha: E, agora, consegue fazer o mesmo com esta outra imagem? Então, preencha o quadro: AUTOATIVIDADE AUTOATIVIDADE FIGURA 16 – SINAIS DE TRÂNSITO FONTE: <http://gloriaanabel.blogspot.com/2015/05/lenguaje-no-verbal.html>.
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