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Comentário do livro de Romanos

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SEBEMGE - Seminário Batista do Estado de Minas Gerais 
Carta de Paulo aos Romanos 
Prof. Anísio Renato de Andrade 
 
ROMA – "A CIDADE ETERNA" 
INFORMAÇÕES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS 
Localização – Roma está localizada no continente europeu, na região central da 
península Apenina ou Itálica, que hoje corresponde ao território italiano. Nos 
primórdios da história romana, não existia um país chamado Itália. A península era 
ocupada por várias cidades-estado independentes. 
Fundação – A cidade foi fundada em 735 a.C. às margens do rio Tibre, sobre 7 
colinas. Sua origem está envolta em lendas. A principal está relacionada às figuras 
dos irmãos Rômulo e Remo, os quais teriam sido amamentados por uma loba. 
Outra versão nos informa que naquela região foi montado um posto militar dos 
povos do norte com o objetivo de resistir às invasões dos povos do sul, 
principalmente dos etruscos. Esse posto teria dado origem à cidade de Roma. 
Formação da população – os povos latinos, sabinos, e até mesmo os etruscos 
participaram da formação inicial da população romana. Posteriormente, outras 
etnias se introduziram no processo. 
Organização social – A população romana, já nos seus primeiros séculos, dividiu-
se em classes: patrícios, plebeus, clientes e escravos. Patrícios eram os nativos da 
cidade, os quais estavam ligados às famílias tradicionais (gens). Eram os donos da 
terra, possuíam cidadania e status de nobreza. Tais famílias se organizavam em 
"cúrias" que, por sua vez, formavam as tribos. Daí vinham os membros do senado 
e o rei. 
Os plebeus constituíam a classe popular, a plebe. Eram aqueles indivíduos sem 
raízes hereditárias entre as famílias importantes. Normalmente eram imigrantes e 
não possuíam nenhum direito à terra. Contudo, exerciam alguma atividade que lhes 
garantia uma renda. Portanto, pagavam impostos. Os clientes eram aqueles 
indivíduos que ocupavam um pedaço de terra de um patrício e, em troca, devia-lhe 
determinado pagamento. Os escravos eram aqueles que, por motivo de dívida ou 
de guerra, tornavam-se propriedade dos patrícios. De uma mistura de lenda e 
história vem a tradição de que Roma teve 7 reis. A monarquia acabou quando os 
próprios patrícios se ressentiram da tirania do poder real. Inicia-se então a 
república romana. 
Com o passar dos séculos, a plebe cresceu demasiadamente. Muitos plebeus se 
tornavam escravos por não poderem quitar seus compromissos financeiros. Desse 
modo, a classe dos escravos também crescia. Os menos favorecidos eram então a 
maioria da população. Nesse tempo, os patrícios controlavam o Estado, tomando 
todas as decisões como bem lhes parecia. Muitos indivíduos da plebe prosperaram 
por suas atividades comerciais ou por sua participação no exército. Muitas 
atividades indispensáveis eram desempenhadas por essa classe sem, contudo, 
terem direito à cidadania. Explode então a luta de classes em Roma. Em 494 a.C., 
os plebeus resolvem abandonar Roma. Eles saem da cidade, deixando os patrícios 
sem proteção e serviços. Diante disso, e vendo sua dependência, os patrícos 
resolvem dar direitos aos plebeus, os quais passaram a ter representantes eleitos 
na Assembléia. Exigiram também a elaboração de leis escritas pois, até então, só 
havia leis orais em Roma e mudavam de acordo com a vontade dos patrícios. 
Império Romano – Tendo formado um poderoso exército, Roma conquistou toda 
a península itálica, a Espanha, Portugal, Sicília, e todas as nações em volta do Mar 
Mediterrâneo. Forma-se então o Império Romano. Roma se torna a "capital do 
mundo", dominando sobre povos de diversas nacionalidades, línguas, religiões e 
costumes. 
Guerra, riqueza, e desenvolvimento – As guerras de conquista aumentaram 
excessivamente a riqueza romana através do espólio das outras nações. Todo esse 
poderio econômico proporcionou um desenvolvimento muito grande na cidade. As 
famílias ricas passaram a contratar professores gregos para seus filhos. Além disso, 
muitos literatos e artistas gregos se deslocavam para Roma. Comerciantes de 
várias nacionalidades iam morar em Roma ou fazer ali os seus negócios. 
Desenvolveu-se então a literatura, a engenharia, a arquitetura e as artes. Nesse 
tempo, a cidadania romana já não estava restrita aos patrícios. Ser cidadão já não 
dependia apenas da hereditariedade mas se tornara uma questão financeira. 
As construções romanas – Até hoje, o que mais impressiona o visitante de Roma 
são suas edificações. Entre elas podemos destacar: 
· O Panteon, onde se encontravam os deuses romanos; 
· O Coliseu, grande estádio onde se realizavam as lutas entre os gladiadores e 
onde muitos cristãos foram lançados às feras. 
· Os aquedutos – canais que conduziam água das montanhas para as cidades. 
· Os relevos – esculturas feitas sobre monumentos. 
· Além disso, podemos citas os templos, palácios, monumentos (ex.: arcos), 
estátuas, castelos, e as estradas que ligavam Roma a todas as partes do 
Império. 
As obras romanas foram muito influenciadas pelo estilo grego. Contudo, os 
romanos eram mais realistas. Enquanto que os gregos faziam monumentos em 
homenagem às figuras mitológicas, os romanos honravam pessoas reais, 
principalmente seus heróis de guerra e seus governantes. 
As catacumbas – eram buracos cavados em volta da cidade para extração de 
areia. Eram tão profundos que acabavam formando túneis e galerias. Na época da 
perseguição, os cristãos se escondiam nesses lugares e ali milhares deles morreram 
e ficaram sepultados. 
Religião 
Politeísmo – Desde a antigüidade, a religião romana se caracterizava pela adoração 
a diversos deuses. Inclusive, chegaram a adorar muitas divindades da mitologia 
grega. 
Culto aos antepassados – As famílias tradicionais adoravam seus próprios 
ancestrais em seus cultos domésticos. 
Culto ao imperador – Estabelecido por Augusto, o culto ao governante tornou-se 
parte da religiosidade romana. 
Cristianismo clandestino – O cristianismo entrou em Roma sem reconhecimento 
oficial. A recusa dos cristãos em relação ao culto ao imperador foi um dos motivos 
que deflagraram a perseguição. Após ter incendiado Roma, o imperador Nero 
acusou os cristãos. Este foi um dos momentos de maior perseguição. Segundo a 
tradição católica, nessa ocasião Paulo e Pedro foram mortos naquela cidade. 
Cristianismo oficial – A partir do governo de Constantino, o cristianismo foi 
autorizado. Algum tempo depois, o imperador Teodósio tornou o cristianismo 
religião oficial do Império. As práticas religiosas antigas passaram a ser proibidas. 
Contudo, continuaram a existir no campo, nas regiões afastadas dos centros 
urbanos. Com isso, entrou no vocabulário religioso o termo "pagão" que significa 
"do campo". 
Referências bíblicas a Roma: A bíblia se refere a Roma em Atos, Romanos e II 
Timóteo. Existem comentaristas que interpretam a "Babilônia" de I Pedro 5.13 
como sendo a cidade de Roma. Bem maior é o número dos que tem essa 
interpretação com relação à "Babilônia" do Apocalipse (cap.17 etc.). O texto fala de 
uma mulher sobre 7 montes e embriagada com o sangue dos seguidores de Jesus. 
Com efeito, quando João escreveu aquele livro, muitos cristãos já tinham sido 
mortos em Roma, a cidade das 7 colinas. 
Influência romana – Roma marcou a história da humanidade e até hoje 
carregamos suas influências em diversas áreas. Alguns exemplos: o direito romano, 
o estilo artístico, o calendário, os algarismos, o catolicismo, etc. Este último, com 
sua estrutura de domínio mundial, nos faz lembrar o antigo Império. 
A IGREJA EM ROMA 
Fundação : Em sua epístola, Paulo deixa claro que ainda não conhecia Roma. Logo, 
a igreja ali não foi por ele fundada. Entendemos que Pedro também não participou 
desse processo pois, se este ou outro apóstolo fosse responsável por aquela igreja, 
Paulo não escreveria uma carta doutrinária para aqueles irmãos. Por outro lado, se 
Pedro estivesse em Roma, o mesmo teria sido mencionado nas saudações do último 
capítulo. Ambrosiastro, escritor do século IV disse:"Os romanos abraçaram a fé em 
Cristo sem ver nenhum sinal de obras poderosas e nenhum dos apóstolos." No 
século II surgiu a tradição segundo a qual Pedro teria exercido ministério em Roma. 
No século IV iniciou-se a tradição de que ele teria sido o 1o bispo romano. Quem 
então teria fundado aquela igreja? De fato, isso não tem grande importância, mas 
sempre gostamos de ter um nome para a atribuição das honras. É isso que fomenta 
o surgimento das tradições. Uma das hipóteses mais prováveis é que a igreja tenha 
sido fundada no ano 30 pelos judeus de Roma que estiveram em Jerusalém no 
Pentecostes – At.2.10,11. 
A colônia judaica em Roma - Desde a conquista de Jerusalém por Pompeu no ano 
63 a.C., muitos judeus foram morar em Roma. No governo de Cláudio foram 
expulsos – (At.18.2). A ordem foi revogada por Nero poucos anos depois. Quando 
Paulo chegou a Roma, no ano 60 (At.28) ele encontrou judeus que ali residiam. (É 
bom lembrar que o envio da epístola é anterior a essa "visita"). 
A igreja em Roma era composta de judeus e principalmente gentios. Na epístola, 
Paulo fala aos judeus e aos gentios de forma específica e direta alternadamente 
(Rm.1.5-7,13; 2.17-24). Sendo pessoas de origens, tradições e costumes tão 
distintos, era natural que a convivência entre eles apresentasse suas dificuldades. 
O apóstolo procura tratar dessa questão no capítulo 14. 
A EPÍSTOLA AOS ROMANOS 
"O EVANGELHO SEGUNDO PAULO" (RM.2.16) 
Autor: Apóstolo Paulo 
Escritor: Tércio – Rom.16.22. 
Data – Ano 58 – entre 53 e 58 (3ª viagem missionária). 
Local – Corinto. 
Portadora – Febe – (Rm.16.1-2). 
Tema- O evangelho de Cristo 
Texto chave: 1.16 e 5.1 
Classificação: soteriologia (doutrina da salvação). 
A epístola de Paulo aos Romanos é uma obra prima da teologia cristã, destacando-
se entre os livros do Novo Testamento. É um tratado teológico sobre a salvação. 
Lutero chegou a dizer: "Se tivéssemos de preservar somente o evangelho de João e 
a epístola aos Romanos, ainda assim o cristianismo estaria a salvo." 
A carta nos apresenta um resumo da bíblia e da história humana sob o ponto de 
vista teológico. O autor menciona Adão (5.14), Abraão (4.13), Moisés (5.14), Israel 
(11.25), o Velho Testamento (1.2), Jesus (10.9), a salvação (10.9), a igreja (16.1), 
o juízo (2.16) e a glorificação dos salvos (8.30). Esses versículos são apenas alguns 
exemplos dentre tantos que mencionam tais temas e pessoas. 
Objetivo de Paulo - Paulo queria expor aos romanos seu entendimento a respeito 
do evangelho e prepará-los para sua futura visita, quando estivesse a caminho da 
Espanha. (Rm.15.22-24). 
ESBOÇO (RM.) 
I – Introdução – 1.1-17 
Apresentação pessoal, saudação, tema (16-17). 
II – O problema humano – 1.18 a 3.20. 
O pecado, sua universalidade e suas conseqüências. 
III – A solução divina – A salvação: 3.21 a 5.21. 
A origem do pecado e a origem do perdão. 
O método da salvação: justificação pela fé no sacrifício de Cristo. 
IV – A santificação – 6 a 8. 
Ação do Espírito Santo na vida do salvo. 
V - A soberania divina – 9 a 11. 
Judeus e gentios no plano de Deus. 
VI – O cristianismo prático – 12 a 15.13. 
A vida cristã na igreja, na sociedade e nas relações pessoais. 
O serviço cristão. 
V – Conclusão – 15.14 a 16.27. 
Assuntos pessoais, admoestações e saudações finais. 
COMENTÁRIO 
Deve-se observar a organização de Paulo. A carta apresenta um desenvolvimento 
em uma seqüência bem ordenada. Temos: Introdução, histórico, ilustração 
(Abraão), teoria e exemplos de aplicação prática. 
I – Introdução – 1.1-17 
Apresentação pessoal, saudação, tema (1.1, 16-17). 
As cartas antigas eram iniciadas com três elementos: identificação do remetente, 
identificação do destinatário e saudação. Vemos isso na epístola aos Romanos. 
Paulo se apresenta de forma humilde, como servo, chamado para o apostolado e 
separado para o evangelho. Desse modo, a autoria fica bem definida. Os 
destinatários são claramente indicados no verso 7. No próprio verso 1, o tema já 
surge: "o evangelho de Deus". A partir desse ponto, o autor pára de falar de si 
mesmo e passa a discorrer sobre a trindade, destacando o Filho. O Pai é 
mencionado nos versos 1, 2 e 7. O Espírito Santo é mencionado no verso 4. Jesus é 
mencionado em vários versículos, pois ele é o personagem principal no tema 
escolhido. 
Em sua introdução, Paulo apresenta o vínculo entre a história, a humanidade e a 
divindade. O elemento histórico é o rei Davi. A questão humana é a descendência 
carnal de Cristo. O elemento divino é a declaração da sua filiação divina. Esta 
abordagem demonstra que o evangelho de Deus está cravado no contexto humano 
de forma historicamente comprovada. O ápice da apresentação do tema se dá nos 
versos 16 e 17. 
II – O problema humano – 1.18 a 3.20. 
O pecado, sua universalidade e suas conseqüências (condenação e morte). 
No desenvolvimento da epístola, Paulo vai falar do evangelho, mas os romanos 
poderiam perguntar: para quê evangelho? O apóstolo, em sua excelente 
organização literária, vai demonstrar aos seus leitores os fatores que evidenciam a 
necessidade que os homens têm do evangelho. Este seria apresentado como um 
"remédio", mas, para isso, torna-se imperioso que a "doença" seja diagnosticada. 
Isto é feito de forma magistral pelo "doutor" Paulo. Nesse momento ele quer 
despertar a consciência dos romanos, então chama a atenção para práticas 
pecaminosas tais como a idolatria (1.23-25), o homossexualismo (1.27), a 
prostituição, o homicídio, e uma lista que inclui até à desobediência aos pais (1.29-
31). 
Os romanos eram a elite política do império. Os judeus eram a elite religiosa, pelo 
menos para si mesmos. Os gregos eram a elite cultural. Eles poderiam se 
considerar acima das questões apontadas por Paulo. Entretanto, o autor apresenta, 
de forma contundente, a universalidade do pecado. Ao citar gentios, judeus, 
bárbaros, romanos, gregos, sábios e ignorantes, ele não deixa ninguém de fora da 
sua abordagem (1.13-16). Isso se evidencia de forma definitiva no capítulo 3, onde 
lemos: "Não há um justo sequer", (3.10). "Toda boca esteja fechada e todo o 
mundo seja condenável diante de Deus" (3.19). "Todos pecaram e destituídos estão 
da glória de Deus" (3.23). 
O pecado é, em si mesmo, maligno. Contudo, muitas vezes só conseguimos ver 
essa malignidade através das suas conseqüências. É como uma doença que só é 
notada e sentida quando surgem os sintomas. Contudo, a doença é muito mais 
profunda do que os sintomas. As conseqüências do pecado são diversas e se 
apresentam nas mais variadas esferas da vida humana. Contudo, os piores efeitos 
são: a morte, que é o salário do pecado (6.23), e a condenação divina (3.19). Se a 
morte fosse o fim, tudo estaria então resolvido. Porém, o pior vem depois. 
Conforme diz a epístola aos Hebreus, depois da morte vem o juízo (Hb.9.27). 
III – A solução divina – A salvação: 3.21 a 5.21 
A origem do pecado e a origem do perdão. 
O método da salvação: justificação pela fé no sacrifício de Cristo. 
Fazendo um exame mais profundo, Paulo vai explicar como o pecado entrou na 
história humana. Após ter diagnosticado a "doença", o autor vai buscar sua causa. 
Então, ele menciona Adão, como sendo o primeiro pecador humano. Na condição de 
representante da humanidade, o primeiro homem passou a natureza pecaminosa a 
todos os homens. Novamente, a universalidade do pecado está evidente (3.23). 
Para o alívio dos leitores, não só o pecado é universal, mas também o amor de 
Deus possui a característica da universalidade. Já no capítulo 1 o autor diz que os 
destinatários são "amados de Deus". Afinal, o amor de Deus é o pressuposto 
fundamental do evangelho, conforme se observa em João 3.16. 
Paulo não se limita a mostrar o problema humano e suas conseqüências. Afinal, 
mostrar o problema é muito fácil e muitos estão fazendo isso a todo tempo. As 
religiões, as ciências humanas e os meios de comunicação estão mostrando o 
pecado humano e suas conseqüênciasdiariamente, embora utilizem outros nomes 
para tudo isso. O tema da epístola aos Romanos é o evangelho e o objetivo do 
evangelho é a salvação (1.16), e não o enriquecimento material dos convertidos. 
Depois que o homem está convencido do seu pecado e da respectiva condenação, a 
salvação se torna muito interessante. Mas, como ela ocorre? E por quais meios? Faz 
parte do evangelho a resposta a essas questões. E Paulo se dedica a explicar o 
método divino para a salvação do homem. 
A salvação não ocorre por meio das obras e nem através da lei. Os mandamentos 
da lei são santos, justos e bons (Rm.7.12), porém não salvam. A lei serve para 
mostrar o pecado e determinar a condenação. Mostrando o pecado, a lei é útil. 
Porém, não salva. A lei serve para mostrar ao homem a necessidade que ele tem 
da obra de Jesus Cristo. Tal obra foi o seu sacrifício na cruz, sua morte. Entretanto, 
tal obra não tem efeito automático. Se assim fosse, toda a humanidade estaria 
salva a partir do momento em que Cristo expirou. Ao sacrifício de Cristo deve ser 
aplicada a fé, pois a salvação é para "todo aquele que crê" (Rm.1.16). 
A fé no sacrifício de Jesus produz a justificação. Conforme diz Paulo: "sendo, pois, 
justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo." 
(Rm.5.1). Justificação é o ato divino de nos declarar justos. Voltando a Romanos 
3.10, temos as palavras de Paulo dizendo: "Não há um justo sequer." 
No capítulo 5, este problema está resolvido, pois Deus nos declara justos pelos 
méritos de Cristo. Por natureza, não somos justos, mas pela graça de Deus somos, 
pois a justiça de Jesus nos é imputada. "Imputar", de acordo com o dicionário 
Aurélio, significa "aplica um pagamento a determinada dívida". Podemos entender a 
imputação como um crédito aplicado a uma conta corrente. Paulo disse que Abraão 
creu e sua fé lhe foi imputada como justiça, ou seja, a fé de Abraão foi considerada 
como justiça. Da mesma forma a justiça do homem Jesus, sua vida santa, é 
imputada a todo aquele que nele crê. Sua justiça é creditada em nossa "conta" que 
estava "negativa" por causa da dívida do pecado. Assim, nossa débito é pago e 
ficamos em paz com Deus, a quem jamais poderíamos pagar. Por isso, a salvação é 
o "dom gratuito de Deus" (Rm.6.23). Sendo gratuito, não faz sentido nenhum tipo 
de pagamento que se pretenda estabelecer para a obtenção do perdão divino. A 
gratuidade da salvação não significa que ela não tenha um preço, mas indica que 
esse preço já foi satisfatoriamente pago através do sangue do nosso Senhor e 
Salvador Jesus Cristo. 
IV – A santificação – 6 a 8. 
Ação do Espírito Santo na vida do salvo. 
"Onde abundou o pecado, superabundou a graça." (Rm.5.20). Tamanha graça 
divina poderia ser erroneamente interpretada como licença para o pecado. 
"Permaneceremos no pecado para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós que 
estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rm.6.1-2). 
A obra de Deus na vida do crente não se resume à justificação. Podemos comparar 
a justificação à saída dos israelitas do Egito. Esta é uma ilustração excelente para a 
salvação. Porém, após retirar o povo do Egito, Deus precisava tirar o Egito do 
coração do povo israelita. Foi o processo do deserto, o qual nós podemos comparar 
com a santificação do salvo. Este consiste na formação do caráter de Cristo em nós. 
É uma parte essencial do que costumamos chamar de "crescimento espiritual". Pela 
justificação, Deus perdoou todos os nossos pecados passados. Pela santificação, 
vamos nos livrando dos hábitos pecaminosos. Embora muitos possam alegar que 
tudo isso acontece instantaneamente quando se aceita a Jesus, a realidade nos 
mostra o contrário. O próprio Paulo demonstra esse conflito quando diz: "não faço o 
bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço." (Rm.7.19). Qual seria o 
escape para esse dilema prático? A operação do Espírito Santo na vida do crente 
em junção com a vontade humana e o exercício pessoal da obediência. "Portanto, 
agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam 
segundo a carne, mas segundo o Espírito." (Rm.8.1). Nesse processo, entra, de 
forma determinante, a Palavra de Deus. O Espírito Santo opera em nós na medida 
em que conhecemos a Palavra de Deus e procuramos aplicá-la (Rm.10.17; 
Ef.5.26). Santificar é "separar". Santificação é a separação do salvo de tudo aquilo 
que não condiz com sua nova condição espiritual. Lembremo-nos do relato da 
ressurreição de Lázaro. Estando já ressuscitado, ele ainda se encontrava 
imobilizado por muitas ataduras mortuárias. Era um vivo com cara de morto, cheiro 
de morto, aspecto de morto. Era preciso que tudo aquilo fosse removido. A 
santificação dos crentes é uma das principais funções do Espírito Santo no mundo. 
É a preparação da noiva, a igreja, para o seu encontro com o noivo, Jesus. 
V - A soberania divina – 9 a 11 
Judeus e gentios no plano de Deus. 
Nessa parte da epístola, o apóstolo Paulo se dedica a mostrar aos Romanos o valor 
dos judeus e sua posição no plano de salvação. Se os romanos não valorizassem os 
judeus e não reconhecessem neles a origem da revelação divina, como poderiam 
valorizar a pessoa de Jesus? Mesmo nós, hoje, aceitamos o cristianismo porque 
entendemos que "a salvação vem dos judeus" (João 4.22). Esse destaque para 
Israel parecia incompatível com a rejeição que os próprios judeus demonstraram à 
pessoa de Cristo. Paulo então, expõe alguns detalhes históricos do povo de Deus, 
sua incredulidade, sua desobediência e seu distanciamento do evangelho. Dizer que 
Israel era o povo escolhido de Deus poderia soar muito estranho para os romanos. 
Paulo demostra enfaticamente que Deus é soberano. Ele escolhe a quem quer e 
rejeita a quem quer. Logo, se Deus escolheu Israel, não se deve questioná-lo por 
isso. Deus tem razões anteriores às suas soberanas decisões. Sua presciência, 
conhecimento antecipado, faz com que as evidências das suas escolhas apareçam 
antes dos fatos que lhes deram causa. Então, a situação pode ter aparência de 
injustiça aos olhos humanos. Antes que Jacó e Esaú nascessem, Deus disse: "Amei 
a Jacó e aborreci a Esaú." (Rm.9.11-13). Então, Jacó já nasceu como escolhido de 
Deus, enquanto que Esaú nasceu rejeitado, mas tudo isso porque Deus já via qual 
seria, no futuro, a decisão de cada um daqueles meninos diante do plano divino. 
Deus, em sua presciência, sabia que o "enganador" se converteria e que o 
primogênito desprezaria sua primogenitura. Contudo, tais atitudes não foram 
determinadas por Deus, mas por eles mesmos. 
O conceito de soberania poderia nos levar a pensar que abaixo de Deus, apenas a 
sua vontade é feita. Mas não é assim. A soberania divina significa que acima dele 
não existe mais ninguém. Abaixo dele, nem todos obedecem à sua vontade. 
Contudo, até a desobediência se encontra debaixo da soberania. Os homens 
desobedecem porque Deus lhes deu um limitado campo de ação onde a vontade 
humana prevalece. 
Quando pensamos em soberania divina, eleição e predestinação, podemos pensar 
que toda a história e o destino humano dependem única e exclusivamente de Deus 
que, por sua absoluta decisão, escolheu quem haveria de se salvar e quem haveria 
de se perder, independentemente de qualquer ato ou vontade dos seres humanos. 
Esta posição é defendida por muitos teólogos. A outra maneira de se entender tudo 
isso é através da consideração da presciência de Deus como base da eleição e da 
predestinação. Assim, Deus elegeu e predestinou as pessoas porque já sabia 
antecipadamente qual seria a decisão de cada uma delas em relação à pessoa de 
Jesus Cristo. Como disse Pedro, somos "eleitos segundo a presciência de Deus" (I 
Pd.1.2). E voltando a Romanos, "os que dantes conheceu, também os predestinou 
para serem conformes à imagem de seu Filho Jesus..." (Rm.8.29). Antes da 
predestinação existe um conhecimento. Esta é a presciência de Deus a respeito das 
decisões humanas no uso de seu livre-arbítrio. 
A soberaniadivina não anula a liberdade humana. Paulo mostra que podemos 
escolher. Ele diz: "Não sabeis vós que a quem vos oferecerdes por servos para lhe 
obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da 
obediência para a justiça?" (Rm.6.16). "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de 
Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a 
Deus, que é o vosso culto racional." (Rm.12.1). Nesses textos, observamos a 
vontade humana em ativa participação no destino espiritual de cada um. 
VI – O cristianismo prático – 12 a 15.13. 
A vida cristã na igreja, na sociedade e nas relações pessoais. 
A transformação operada pelo evangelho na vida humana deve ter dois aspectos: a 
pessoa deve deixar de fazer o mal e começar a fazer o bem (Is.1.16-17). A 
justificação é quase um sinônimo de perdão. A santificação seria o "deixar de fazer 
o mal". É o abandono de práticas pecaminosas. Contudo, o processo de ação do 
evangelho ainda não está concluído. Deixamos de fazer as coisas erradas e agora 
precisamos começar a fazer as coisas certas. Deixamos de servir ao Diabo e 
precisamos servir a Deus ativamente. Libertos do pecado, tornamo-nos servos da 
justiça (Rm.6.18). Os mandamentos divinos se dividem em proibições e ordens. 
São mandamentos negativos e positivos. Os negativos são aqueles que começam 
com o advérbio "não" e nos mostram os atos e atitudes que devem ser 
abandonados: "Não matarás", "Não adulterarás", etc. (Rm.13.9-10). Os 
mandamentos positivos são aqueles que nos ordenam à ação. Por exemplo, "honra 
teu pai e tua mãe." No desenvolvimento da vida cristã, temos a fase que podemos 
comparar `a limpeza de um terreno. Talvez haja alguma construção a ser 
demolida, algum lixo a ser removido, etc. Depois, deve vir a fase de edificação de 
acordo com o novo propósito. Por isso Paulo nos admoesta a apresentarmos os 
nossos corpos para o trabalho cristão. Entendemos assim pela análise do conteúdo 
do capítulo 12. O cristianismo não se resume em espiritualidade, mas em ação. As 
obras não salvam, mas o salvo pratica boas obras. 
Paulo nos convida ao serviço cristão. O apóstolo usa sempre os conceitos de servo 
e senhor, figuras tão presentes na organização social do Império Romano. Ele 
mesmo fora chamado para ser apóstolo. Sua vocação não era apenas para a 
salvação, mas para o serviço sagrado. Somos convidados a apresentar os nossos 
corpos (12.1) para o serviço no corpo de Cristo (12.5). Orar é bom e necessário, 
mas não é tudo. É preciso ação na igreja através dos dons espirituais e dos 
ministérios. 
A igreja não é o único campo de ação do cristão nem deve ser um esconderijo ou 
lugar de alienação. Precisamos enxergar além dos limites do nosso grupo de 
irmãos, não para lançar mão das imundícies do mundo mas para desempenharmos 
nele o nosso papel como bons cidadãos e agentes do bem. Por isso Paulo insere a 
questão da sujeição às autoridades, o pagamento dos impostos e de toda dívida 
(Rm.13.1,6,7,8). Deve haver coerência entre nossa ação na igreja e no mundo. 
Quando Jesus perguntou: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?", ele só 
obteve respostas positivas, embora nem todas estivessem corretas. E quais serão 
as respostas se fizermos a mesma pergunta a respeito de cada um de nós? O que 
as pessoas dizem a nosso respeito? Que "títulos" receberemos delas? Ainda que os 
títulos não tenham grande valor, se forem negativos podem ter grande peso contra 
o evangelho e contra o nome de Jesus. 
Além das relações a nível social ou institucional, temos relações pessoais diversas. 
Depois de termos consciência do nosso papel na igreja e na sociedade, precisamos 
ter bem em mente alguns princípios que irão reger nossos relacionamentos 
individuais. Então, Paulo chega ao nível do tratamento com "o próximo". O 
evangelho deverá reger tudo isso. 
V – Conclusão – 15.14 a 16.27 
Assuntos pessoais, admoestações e saudações finais. 
 
 
Em caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o 
nome do autor: 
Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia. 
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Apostila do SEBEMGE – Pastor Delmo Gonçalves 
Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - 
Versão Contemporânea - Ed. Vida

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