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LMF - psiquiatria Doenças por Príon e correlatas - aula de tadeu O que é um príon? (PrPc) O Príon é uma glicoproteína muito pequena (menor que vírus) encontrada fisiologicamente na membrana de neurônios. Essa proteína é envolvida na função sináptica, e todos os seres que possuem neurônios têm essa proteína. Possui estruturas secundárias com alfa-hélices, é solúvel e facilmente degradada por proteases. É codificada pelo gene PRNP, que está no cromossomo 20. ● FISIOPATOLOGIA E como essas proteínas estão envolvidas no surgimento das doenças causadas por príon? O que ocorre é que ela pode sofrer uma alteração conformacional, também se tornando patogênica e infecciosa e causando doenças, entre as quais temos a mais conhecida: doença da vaca louca. A!! É uma partícula proteinácea que dizemos ser um agente infeccioso. Não podemos falar que é um patógeno, nem que é um vírus, porque não tem genoma nem ácido nucleico. Quando o príon entra em contato com proteínas iguais a ela, ela induz essas outras a mudar a conformação estrutural fazendo com que essa também se torne infecciosa. Mas que mudança estrutural seria essa? A sequência de aminoácidos e a estrutura primária da proteína é completamente normal, o que muda é a estrutura secundária, que de Alfa vira Beta. Quando isso ocorre, o príon, que é representado por [PrPc], passa a ser representado por [PrPsc]. E o que vai desencadear isso? O contato entre o príon anormal e o normal, e o processo vai acontecendo em cadeia, alterando as sinapses dos neurônios. A partir daí aparecem as alterações neurológicas clássicas do quadro clínico. E qual a diferença dessa proteína modificada além da estrutura? Vão ser insolúveis na maioria dos solventes, extremamente resistente à proteases (por isso que quando colocamos uma carne infectada na boca o príon modificado consegue sobreviver às proteases do nosso TGI), resistente ao calor, resistente a processos normais de esterilização (desinfetantes, pH ácido, luz solar). Esses príons vão conseguir se alastrar sem induzir resposta imune/inflamatória. → Como ocorre a infecção? Existem algumas formas de se contaminar, que serão citadas mais abaixo, mas a grande maioria dos casos ocorre pela ingestão de tecido que possua a proteína. Além do consumo do príon, ele precisa entrar em contato com as proteínas normais do indivíduo. Por isso que existe um grande cuidado com o consumo da carne bovina. A!! Alguns países não têm um cuidado tão bom para prevenção dessas doenças na criação de gado, e aí pode haver surto e etc. Isso ajuda na questão epidemiológica, se ficarmos sabendo que está tendo um surto, por exemplo, pode ajudar na suspeita diagnóstica. → Devemos nos atentar para: EUA, Canadá (2003 foi o primeiro caso), Europa, Reino Unido. Essas são áreas que já foram endêmicas, e ainda pode aparecer algum caso já que o período de incubação é enorme. Passo a passo: 1. Consumo do tecido que tenha a proteína. 2. A proteína adentra o TGI e se mostra resistente ao suco gástrico, proteases e enzimas intestinais. 3. É absorvida pelos enterócitos. 4. Consegue superar as Placas de de Peyer sem fazer ativação do sistema imune. a. As células B não conseguem responder imunologicamente à presença do príon modificado. b. Então não há resposta imunológica alguma. 5. Passa pelo Baço. 6. Passa por nervos periféricos 7. ADENTRA O SNC pela medula e percorre um caminho ascendente até o córtex. Catarina Nykiel e Crislane Vitória - 6º semestre 8. Quando há chegada no córtex, começa a fazer os sintomas. a. Podemos observar também alterações histológicas: i. vai acontecer um processo de vacuolização, que vai promover um distanciamento entre o terminal de um axônio e o dendrito correspondente. Esse distanciamento é suficiente para inviabilizar a sinapse! Então nas lâminas histológicas, quanto maiores forem os vacúolos (vazios), maior o comprometimento. b. Perda de função da bainha de mielina. c. Atrofia do córtex. Nos humanos a infecção pode ocorrer também através de materiais não esterilizados utilizados em procedimentos invasivos. A “dose” (quantidade de príons) necessária para fazer alguém se contaminar é desconhecida. A infecção também pode ocorrer bem raramente através de aleitamento materno. Sobre a indústria farmacêutica e de vacinas, uma forma de prevenir seu alastramento é evitar produtos de origem bovina. (Em equinos não existem essas doenças priônicas, o que é um alívio já que produzimos vários insumos médicos, como soro antiofídico, a partir deles.) Outro ponto importante é que há suscetibilidade genética de desenvolver a Creutzfeldt-Jakob nos indivíduos homozigotos para metionina no códon 129 da PrPc. ● AS DOENÇAS PRIÔNICAS A!! Tem vários tipos de doenças priônicas para diversos tipos animais. Em bovinos o nome vai ser encefalopatia espongiforme bovina (BSE), conhecida como doença da vaca louca. Nos humanos existem alguns tipos: (ISSO PRECISA SABER PARA PROVA!!) 1. Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD): essa é a forma clássica, causada pela transformação espontânea da proteína priônica. É uma doença esporádica de ocorrência mundial. Acomete pacientes a partir de 55 e até 68 anos, que é a idade média de morte dos pacientes. É uma doença degenerativa muito agressiva que leva os pacientes a óbito em poucos meses, podendo chegar até 5 anos de duração. Período de incubação é indeterminado, pode levar anos. 2. Forma iatrogênica (iCJD): resultante de procedimento médico utilizando instrumental não esterilizado. 3. Forma familiar (fCJD): aparecimento espontâneo. 4. Forma esporádica (sCJD): afeta geralmente indivíduos a partir de 50 anos de idade, mais prevalente em mulheres. 5. Forma variante (vCJD): se trata de uma variação da CJD, já que é transmitida a humanos através de animais com doença priônica, logo devemos suspeitar dessa forma em pacientes que foram para o país de forma endêmica. A idade média de morte dos pacientes é de 28 anos e a doença se estende em média por até 14 meses. O paciente cursa com alguns sinais: depressão e esquizofrenia, evoluindo para tremores musculares involuntários, desequilíbrio e ataxia. Só esses dados clínicos não ajudam tanto, lançamos mão de exames de imagem e laboratoriais para auxiliar. a. Diagnóstico ante-mortem: i. desordem psiquiátrica sem diagnóstico conclusivo por mais de 6 meses ii. sinais clínicos específicos iii. EEC alterado iv. biópsia para confirmar? Claro que não! Biópsia de SNC? Sem condição. v. Para fechar diagnóstico: pesquisa de proteína pelo líquor. b. Tratamento: não existe, o que há até agora é uma droga que ainda está em período de teste, que é a Quinacrina. 6. Síndrome de Gerstmann-Straussler-Scheinker (GSS): neurodegenerativa genética muito rara também causada por príon, acomete indivíduos de 35 até 55, pacientes têm sobrevida média de 5 anos. 7. Insônia familiar fatal (FFI): interfere no sono, causa perda de coordenação, resulta na deterioração da função mental. A morte ocorre em meses e no máximo alguns anos. 8. Kuru: relacionado ao canibalismo, e aí a doença é transmitida de pessoa a pessoa por causa do consumo da carne infectada. Catarina Nykiel e Crislane Vitória - 6º semestre Como diferenciamos um tipo de CJD do outro? A história clínica. (O que pode cair na prova oral é isso.) → Tem história de cirurgia? Forma iatrogênica. → Já morou fora e tem possibilidade de ter consumido carne com os príons? Forma variante. → Tem, associado a todos os fatores, insônia importante? Insônia familiar fatal. → Não tem nenhum dos pontos acima? Forma clássica. ● QUADRO CLÍNICO Encefalopatia espongiforme - vai estar presente em todas doenças! - Paciente facilmente irritável - Perda de coordenação motora - Fraqueza nos membros - Perda de peso - Depressão - Ataxia - Nos estágios finais paciente se assusta muito facilmente CJD → paciente vai apresentar demência progressiva, tremores, ataxia. → Não existe tratamento, taxa de transmissão é baixa, mortalidade 100%. ● DIAGNÓSTICO Diagnóstico definitivo somente post-mortem porque para isso precisamos fazer biópsia de tecido nervosodo SNC e análise das lâminas (histopatologia) que vai mostrar pra gente o processo de vacuolização., o que não é feito antes da morte por ser muito invasivo! O PADRÃO-OURO é imunohistoquímica para detectar a proteína anormal através de anticorpos monoclonais. Podemos analisar líquor para detectar a proteína neuronal. O que se faz aqui é escanear a presença da proteína 14.3.3. Quando o teste dá positivo para essa proteína, podemos fechar o diagnóstico. Isso é feito com PCR. Podemos lançar mão também de RNM para acompanhar as repercussões anatômicas da doença, como a atrofia do córtex e aumento dos ventrículos. Existem testes moleculares que também podem ser usados. → Diagnósticos diferenciais Temos outras doenças associadas à demência que devemos pensar na possibilidade diante do quadro: - Alzheimer, mas não apresenta anormalidade nos estudos com difusão. (Se a gente pegar material do SNC de um paciente com alzheimer e inocular em outro paciente, não terá contágio.) Uma coisa que ajuda a diferenciar essas duas é a rápida progressão dos sintomas neurológicos da CJD! - Demência vascular, que é associada com múltiplos infartos. Pode ser diagnóstico diferencial, mas as anormalidades na difusão acontecem apenas nos infartos recentes e não há envolvimento cortical difuso. - Se as anormalidades na difusão se restringirem ao córtex cerebral, o principal diagnóstico diferencial são MELAS (miopatia mitocondrial, que é caracterizada por encefalopatia, acidose lática e episódios de AVE). - Encefalopatia hipertensiva venosa - Encefalite crônica pelo vírus herpes simplex Para auxiliar na diferenciação dessa lista de doenças, podemos lançar mão de sorologias, laboratório ou exames de imagem! ● Modelos de prevenção e controle Proibição de importação de ruminantes e seus produtos de países com doença da vaca louca confirmada. Implementação de vigilância direcionada: teste de animais com sinais neurológicos. Restrição de importações de ruminantes da europa. Catarina Nykiel e Crislane Vitória - 6º semestre Notificação obrigatória de qualquer caso suspeito. Enviar cérebro para confirmar diagnóstico. Em situações de casos suspeitos: a propriedade é mantida em quarentena até confirmar o diagnóstico. Caso o diagnóstico seja confirmado, a propriedade é obrigada a fazer abate sanitário. CASO CLÍNICO PHB, 70 anos, sexo feminino. Começou com quadro psiquiátrico, sintomas depressivos. Evoluiu com déficit motor. SUSPEITA?? → AVE. Posteriormente começou a ficar sonolenta, com pouco contato e com mioclonias. Qual exame pedimos? RNM. A RNM demonstrou hipersinal em gânglios da base e cortical, o que é sugestivo de doença priônica. Qual o próximo passo? Lançar mão de exame molecular: PCR da proteína 14.3.3. Deu positivo! Então é DCJ. E qual tipo é mais provável de ser? Forma esporádica, porque é uma paciente brasileira, onde os insumos pecuários são rigorosamente monitorados. Essa forma não apresenta causa e fonte infecciosa conhecida, e a paciente também não vai transmitir para ninguém. Além disso, a paciente é idosa e esse tipo afeta geralmente pessoas entre 55 e 70 anos, sendo que o risco de acontecer isso aumenta com o aumento da idade. Lembrando que a prevalência é maior do sexo feminio também! A!! O paciente tem evolução muito rápida! Catarina Nykiel e Crislane Vitória - 6º semestre
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