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Arthur Mendes Ferreira
2° Edificações Matutino
Turma : Única
Trabalho sobre Romantismo
O que é o Romantismo : O romantismo é um movimento artístico e cultural que privilegia as emoções, a subjetividade e o individualismo.
Contrário ao objetivismo e as tradições clássicas de perfeição, ele apresenta uma visão de mundo centrada no ser humano com destaque para as sensações humanas e a liberdade de pensamento.
O romantismo surgiu na Europa no século XVIII no contexto da revolução industrial e do iluminismo, movimento intelectual e filosófico baseado na razão. Ele durou até meados do século XIX, quando começa o realismo.
Rapidamente, esse estilo chegou a outros países inspirando diversos campos da arte: literatura, pintura, escultura, arquitetura e música.
No Brasil, o movimento romântico começa em meados do século XIX, anos depois da independência do país (1822) com a publicação da obra Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836.
Contexto histórico
Como escola literária, as bases do sentimentalismo romântico e do escapismo pelo suicídio foram estabelecidas pelo romance "Os sofrimentos do jovem Werther", de Goethe, publicado na Alemanha em 1774.
Primeira edição da obra Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), livro que deu início ao movimento romântico
Na Inglaterra, o Romantismo se manifesta nos primeiros anos do século XIX, com destaque para a poesia ultrarromântica de Lord Byron e para o romance histórico Ivanhoé, de Walter Scott.
Também figuram entre as primeiras obras do início da revolução romântica na Europa os livros Manon Lescut, do árabe Prévost (1731), e a História de Tom Joses, de Henry Fielding (1749).
O romance, contudo, já era utilizado no Império Romano, cuja palavra romano era aplicada para designar as línguas usadas pelos povos sob o seu domínio. Tais idiomas eram, na verdade, uma forma popular do latim.
As composições de cunho popular e folclórico escritas em latim vulgar, em prosa ou em verso e que relatavam fantasias e aventuras, também eram chamadas de romance.
E foi no século XVIII, que tomou o sentido atual, após passar pelas formas de "romance de cavalaria, romance sentimental, romance pastoral", na Europa. O romance pode ser considerado o sucessor da epopeia.
Principais características
Na literatura, as principais características do romantismo são:
· Oposição ao modelo clássico;
· Estrutura do texto em prosa, longo;
· Desenvolvimento de um núcleo central;
· Narrativa ampla refletindo uma sequência de tempo;
· O indivíduo passa a ser o centro das atenções;
· Surgimento de um público consumidor (folhetim);
· Uso de versos livres e versos brancos;
· Exaltação do nacionalismo, da natureza e da pátria;
· Idealização da sociedade, do amor e da mulher;
· Criação de um herói nacional;
· Sentimentalismo e supervalorização das emoções pessoais;
· Subjetivismo e egocentrismo;
· Saudades da infância;
· Fuga da realidade.
Oposição ao Clássico
No início, todos os movimentos em oposição ao clássico eram considerados românticos. Dessa maneira, os modelos da Antiguidade Clássica foram substituídos pelos da Idade Média quando surgiu a burguesia.
A arte, que antes era de caráter nobre e erudita, passa a valorizar o folclórico e o nacional. Ela extrapola as barreiras impostas pela Corte e começa a ganhar a atenção do povo.
A arte romântica, ao romper as muralhas da Corte e ganhar as ruas, liberta-se das exigências dos nobres que pagavam sua produção e passa a ter um público anônimo. É o surgimento do público consumidor, impulsionado no Brasil pelo folhetim, uma literatura mais acessível.
Na prosa, o aspecto formal do Classicismo é deixado de lado. O mesmo ocorre com a poesia, com os versos livres, sem métrica e sem estrofação. A poesia também é caracterizada pelo verso branco, sem rima.
Confira na tabela abaixo as diferenças entre o Classicismo e o Romantismo:
Leia também asCaracterísticas do Classicismo
Nacionalismo
Os românticos pregam o nacionalismo, incentivam a exaltação da natureza pátria, o retorno ao passado histórico e na criação do herói nacional.
Na literatura europeia, os heróis nacionais são belos e valentes cavaleiros medievais. Na brasileira são os índios, igualmente belos, valentes e civilizados.
A natureza também é exaltada no Romantismo. Está é vista como uma extensão da pátria ou refúgio à vida agitada dos centros urbanos do século XIX. A exaltação à natureza ganha contornos de prolongamento do escritor e de seu estado emocional.
Sentimentalismo Romântico
Entre as marcas principais do Romantismo estão o sentimentalismo, a supervalorização das emoções pessoais, o subjetivismo e egocentrismo. É dessa maneira que os poetas se colocavam como o centro do universo.
Dentro de um universo particular, o poeta sente a derrota do ego, produz frustração e tédio. São características do movimento romântico: as fugas da realidade por meio do abuso de álcool e ópio, a idealização da mulher, da sociedade e do amor bem como a saudade da infância e a busca constante por casas de prostituição.
Romantismo em Portugal
Os primeiros anos do Romantismo português coincidem com as lutas civis entre liberais e conservadores. A renúncia de Dom Pedro ao trono brasileiro e sua luta pelo trono de Portugal ao lado dos liberais, veio intensificar esses conflitos.
O romantismo literário em Portugal tem como marco inicial a publicação, em 1825, do poema Camões, escrito por Almeida Garrett. A obra foi produzida durante seu exílio em Paris.
Em Portugal, o movimento romântico esteve dividido em 2 fases:
1. Primeira geração romântica: fase nacionalista
2. Segunda geração romântica: fase de maturidade
Autores e obras do romantismo em Portugal
· Almeida Garret (1799-1854). Obras: Camões (1825), Viagens na minha terra (1846) e Folhas Caídas (1853).
· Alexandre Herculano (1810-1877). Obras: A Harpa do Crente (1838), Eurico, o Presbítero (1844) e Poesias (1850).
· Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875). Obras: Amor e melancolia (1828), A noite do Castelo (1836) e Escavações poéticas (1844).
· Camilo Castelo Branco (1825-1890). Obras: Amor de perdição (1862), Coração, Cabeça e Estômago (1862) e Amor de Salvação (1864).
· Júlio Dinis (1839-1871). Obras: As Pupilas do Senhor Reitor (1866), Uma Família Inglesa (1868) e A Morgadinha dos Canaviais (1868).
· Soares de Passos (1826-1860). Única obra publicada: Poesias (1856).
· João de Deus (1830-1896). Obras: Ramo de Flores (1869) e Despedidas de Verão (1880).
Veja também: Romantismo em Portugal
Romantismo no Brasil
No Brasil, duas publicações são consideradas o marco inicial do Romantismo literário. Ambas foram lançadas em Paris, por Gonçalves de Magalhães, no ano de 1836: a "Revista Niterói" e o livro de poesias "Suspiros poéticos e saudades".
No país, o movimento foi dividido em três fases, ou gerações:
1. Primeira geração romântica (1836 a 1852): geração nacionalista-indianista.
2. Segunda geração romântica (1853 a 1869): geração ultrarromântica.
3. Terceira geração romântica (1870 a 1880): geração condoreira.
Autores e obras da primeira fase do romantismo no Brasil
· Gonçalves de Magalhães (1811-1882) - Obras: Suspiros poéticos e saudades (1836), A Confederação de Tamoios (1857) e Os Indígenas do Brasil perante a História (1860).
· Gonçalves Dias (1823-1864) - Obras: Canção do exílio (1843), I-Juca- Pirama (1851) e Os Timbiras (1857).
· José de Alencar (1829-1877) - Obras: O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).
· Álvares de Azevedo (1831-1852) - Obras: Lira dos Vinte anos (1853), Noite na taverna (1855) e Macário (1855).
· Casimiro de Abreu (1839-1860) - Obra: publicou somente um livro de poesias As primaveras (1859).
· Fagundes Varela (1841-1875) - Obras: Noturnas (1861), Cântico do Calvário (1863) e Cantos e fantasias (1865).
· Castro Alves (1847-1871) - Obras: O Navio Negreiro (1869) e Espumas flutuantes (1870).
· Tobias Barreto (1839-1889) - Obras: Amar (1866), A Escravidão (1868) e Dias e noites (1893).
· Sousândrade (1833-1902) - Obras: Harpas Selvagens (1857) e O Guesa (1858 e 1888).
CaracterísticasA Primeira Geração Romântica tem como principais características:
· Exaltação da natureza e da liberdade
· Religiosidade
· Figura do índio ou indianismo
· Sentimentalismo, emoções
· Nacionalismo-ufanista
· Brasileirismo (linguagem)
Principais Autores
Segue os principais escritores da primeira geração romântica no Brasil:
Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811-1882)
Considerado o fundador do Romantismo Brasileiro, Gonçalves de Magalhães nasceu no Rio de Janeiro. Foi poeta, professor, ensaísta, diplomata, político e médico brasileiro.
Personagem brasileiro multifacetado recebeu o título de "Visconde Araguaia" no ano de 1874.
Algumas de suas obras: Suspiros Poéticos e Saudades (1836), O poeta e a Inquisição (1839), A Confederação dos Tamoios (1857), Os indígenas do Brasil perante a História (1860).
Antônio Gonçalves Dias (1823-1864)
Gonçalves Dias foi um poeta, jornalista, professor, etnógrafo, advogado e teatrólogo maranhense.
Talvez um dos mais representativos poetas da primeira fase romântica no Brasil. Algumas obras: Canção do Exílio (1846), I-Juca-Pirama (1851), Os Timbiras (1857).
Manuel José de Araújo Porto Alegre (1806-1879)
José de Araújo foi escritor, jornalista, pintor, caricaturista, arquiteto, crítico, historiador, professor, diplomata e político brasileiro.
Considerado o fundador das revistas: “Guanabara” e “Lanterna Mágica”. Suas principais obras: A destruição das florestas (1846), Brasilianas (1863) e Colombo (1866).
Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)
Escritor e médico brasileiro, Joaquim Manuel de Macedo, destaca-se por sua prosa. Sua obra intitulada “A Moreninha”, publicada em 1844, é considerada o primeiro romance brasileiro.
Outras obras que se destacam: O Moço Loiro (1845), A Luneta Mágica (1869), As Vítimas-Algozes (1869).
Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)
Manuel Antônio de Almeida foi escritor, jornalista, médico e professor brasileiro. Destaca-se sua única obra em prosa denominada “Memórias de um Sargento de Milícias” (1852).
Foi publicada durante um ano (1852-1853) nos folhetins do jornal Correio Mercantil, no qual era redator.
José Martiniano de Alencar (1829-1877)
José de Alencar foi cronista, romancista, jornalista, crítico, político, advogado e dramaturgo brasileiro.
É conhecido por seus romances regionalistas, históricos e indianistas, dos quais se destacam: Cinco Minutos (1856), O Guarani (1857), A Viuvinha (1857), Iracema (1865), Ubirajara (1874), O Sertanejo (1875).
Curiosidades
· O marco inicial do Romantismo Português foi a publicação do poema “Camões” (1825) de Almeida Garrett (1799-1854).
· Em Portugal, as principais características do romantismo são: nacionalismo, romance histórico e o medievalismo.
José de alencar
 José de Alencar é considerado um dos mais importantes escritores brasileiros. Um dos principais representantes do romantismo, movimento artístico-literário que vigorou no Brasil no século XIX, o autor de O guarani construiu personagens marcantes que ainda povoam o imaginário nacional, como Peri e Iracema, além de que consolidou a produção do gênero romance, escrevendo-o nos estilos indianista, urbano e regional.
Biografia de José de Alencar
O escritor José Martiniano de Alencar nasceu em 1º de maio de 1829, em Messejana (atual bairro de Fortaleza, Ceará). Ainda criança, mudou-se com sua família para o Rio de Janeiro, então capital do país, para acompanhar o pai, José Martiniano de Alencar, eleito senador pelo estado cearense. Em 1844 mudou-se para São Paulo, onde cursou Direito (com exceção do 3º ano, o qual cursou na Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco), permanecendo na capital paulista até 1850.
Após formado, regressou para o Rio de Janeiro, onde atuou como advogado e como jornalista no Correio Mercantil, no Jornal do Comércio e no Diário do Rio de Janeiro, instituição em que foi nomeado redator-chefe em 1855. Essa participação na imprensa possibilitou-lhe a publicação de folhetins, muitos dos quais foram posteriormente publicados sob a forma de livro.
José de Alencar escreveu romances das mais diversas temáticas.
Há que se ressaltar que, além dessa atividade jornalística, José de Alencar também atuou, assim como o pai, no meio político. Filiado ao Partido Conservador, elegeu-se para mais de um mandato de deputado pelo estado do Ceará, e, de 1868 a 1870, ocupou o cargo executivo de ministro da justiça.
No meio literário, seu reconhecimento deu-se a partir da publicação, em 1856, das Cartas sobre A confederação dos Tamoios, no Diário do Rio de Janeiro, nas quais criticava o poema épico A confederação dos Tamoios (1856), obra do escritor Domingos Gonçalves de Magalhães, considerado o introdutor do romantismo no Brasil. Faleceu, vítima de tuberculose, na cidade do Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877, aos 48 anos de idade.
Características das obras de José de Alencar
A vasta produção literária de José de Alencar, a qual é constituída por romances indianistas, urbanos e regionalistas, além de crônicas, críticas literárias e peças teatrais, tem como característica geral a tentativa de construção de uma cultura genuinamente brasileira, desvinculada, portanto, das características estéticas que vigoravam em Portugal.
Esse projeto de construção de uma identidade cultural brasileira era a principal bandeira do romantismo, e José de Alencar foi seu principal entusiasta. Ele procurou, assim, em suas narrativas, principalmente nas indianistas, retratar, em uma linguagem mais próxima possível do português falado no país, temáticas intimamente ligadas ao Brasil, como a questão indígena, presente em obras como Iracema (1865), O guarani (1857) e Ubirajara (1874).
Além dos romances de temática indígena, a tentativa de construção de uma produção literária, voltada à temática nacional e à reprodução da língua portuguesa brasileira, deu-se também por meio de romances ligados à temática rural e interiorana, como se nota em O gaúcho (1870), em Til (1871), em O tronco do ipê (1871) e em O sertanejo (1875).
 A temática histórica também não foi negligenciada, e, assim, no plano ficcional, passagens da história do Brasil, como as ligadas à colonização exploratória, foram transpostas para obras como As minas de prata (volume 1 e 2, respectivamente publicados em 1865 e 1866) e Guerra dos mascates (volume 1 e 2, respectivamente publicados em 1871 e 1873).
O meio urbano não teve menos destaque, sendo cenário de romances como Lucíola (1862), Diva (1864) e Senhora (1875). Nessas obras, a sociedade burguesa carioca do Segundo Reinado (1840-1889) é o cenário de enredos que têm como protagonistas fortes mulheres.
 Essa pluralidade de obras, com temáticas e cenários variados, cumpriu um propósito estético e político de consolidação de uma literatura genuinamente brasileira, porém, há que se ressaltar que o teor idealista, também característica do romantismo, permeou essas e outras obras de José de Alencar. Não obstante, elas são, sem dúvida, essenciais para a compreensão da literatura brasileira e constituem a base do romance moderno e contemporâneo.
Principais obras de José de Alencar
José de Alencar publicou uma extensa obra, segmentada em gêneros e temáticas variadas, o que confirma sua tentativa de consolidar uma literatura genuinamente brasileira, propósito principal do romantismo. Veja quais são elas:
→ Teatro
· Verso e reverso (1857)
· O crédito (1857)
· O demônio familiar (1857)
· As asas de um anjo (1858)
· Mãe (1860)
· A expiação (1867)
· O jesuíta (1875)
→ Romances
· Cinco minutos (1856)
· A viuvinha (1857)
· O guarani (1857)
· Lucíola (1862)
· Diva (1864)
· Iracema (1865)
· As minas de prata - 1º vol. (1865)
· As minas de prata - 2º vol. (1866)
· O gaúcho (1870)
· A pata da gazela (1870)
· O tronco do ipê (1871)
· Guerra dos mascates - 1º vol. (1871)
· Til (1871)
· Sonhos d'ouro (1872)
· Alfarrábios (1873)
· Guerra dos mascates - 2º vol. (1873)
· Ubirajara (1874)
· O sertanejo (1875)
· Senhora (1875)
· Encarnação (1893)
→ Crônica
· Ao correr da pena (1874)
· Ao correr da pena (folhetins inéditos) (2017) - organizado por Wilton José Marques
→ Críticas· Cartas sobre A confederação dos Tamoios (1865)
· Ao imperador: cartas políticas de Erasmo e Novas cartas políticas de Erasmo (1865)
· Ao povo: cartas políticas de Erasmo (1866)
· O sistema representativo (1866)
→ Autobiografia
· Como e por que sou romancista (1893)
Para saber mais sobre uma das obras indianistas fundamentais de autoria de José de Alencar, leia o nosso texto: Iracema.
Homenagens a José de Alencar
Fachada do teatro que homenageia José de Alencar, em Fortaleza. [1]
Em 1897, quando a Academia Brasileira de Letras foi fundada pelo escritor Machado de Assis, José de Alencar já havia falecido. Para homenageá-lo, o autor de Dom Casmurro escolheu-o como patrono da cadeira 23, ou seja, seu primeiro ocupante, mesmo que em memória. Posteriormente, outras honrarias foram concedidas a José de Alencar.
Ainda em 1897, na cidade do Rio de Janeiro, no bairro do Flamengo, foi inaugurada sua estátua no então Largo do Catete, rebatizado como praça José de Alencar. Em Fortaleza, capital do Ceará, estado em que o escritor nasceu, foi inaugurado, em 1910, o Theatro José de Alencar. Ainda na capital cearense, há, em homenagem ao autor de Iracema, a Praça José de Alencar e a estação José de Alencar da linha sul do metrô. No interior de seu estado natal, seu nome batiza um distrito do município de Iguatu.
 
A segunda geração do Romantismo brasileiro é denominada ultrarromântica ou byroniana. Fortemente influenciada por autores europeus como Goethe e Byron, os escritores desse grupo produziram obras com certo tom pessimista e depressivo. O exagero sentimental, o macabro e o delírio são marcas presentes nos livros ultrarromânticos.
Contexto histórico
O contexto histórico do Romantismo é o período entre os séculos XVIII e XIX que compõe o processo de ascensão da burguesia como classe dominante na sociedade. Em específico, uma parcela significativa da juventude do século XIX encantou-se com a literatura ultrarromântica.
Isso ocorreu porque houve uma consonância de sentimentos e perspectivas de vida entre esses jovens e as personagens retratadas nos romances e novelas românticos. O exagero sentimental, o egocentrismo, a idealização da mulher, o pessimismo diante da existência e a vontade de fugir são marcas tanto da ficção do período quanto da própria vida dessa parcela da sociedade.
De fato, por exemplo, após a publicação da narrativa “Os sofrimentos do jovem Werther”, de Goethe, muitos jovens suicidaram-se, imitando o destino final do protagonista do livro. Esse fato histórico representa muito bem como os autores da geração byroniana conseguiram representar o espírito de uma parcela da juventude do período.
Acesse também: Veja alguns livros que viraram filmes
Características
Algumas das principais características da segunda geração romântica são:
· Egocentrismo: Nas obras ultrarromânticas, é notável um claro enfoque no sujeito em detrimento do mundo. Em muitas obras, inclusive, o espaço externo ao “eu” é apenas cenário para a existência da personagem. Em geral, questões de ordem social – tensões do mundo lá fora – não costumam ser abordadas pelos escritores dessa geração.
· Sentimentalismo exagerado: A idealização amorosa e a projeção de uma mulher perfeita são comuns nas obras da segunda geração romântica. O amor e a amada são quase sempre utopias inatingíveis e, por isso, as personagens e os sujeitos líricos sofrem demasiadamente.
· Forte tom depressivo: A depressão – ou “mal do século”, como era chamada – era claramente perceptível no discurso presente nas prosas e poemas ultrarromânticos.
· Tendência a fugas da realidade: Diante de um presente desastroso, marcado pela solidão e pela desilusão amorosa, as personagens e sujeitos líricos da segunda geração romântica apresentavam discursos em que exaltavam o desejo de fugir da realidade. Essa fuga mostrava-se de diversas formas, como mediante o desejo de morrer, por meio da exaltação da boemia desregrada, ou ainda fugindo para a infância.
· Gosto pelo delírio e pelo macabro: A tematização do grotesco, do macabro e de situações de delírio são comuns em narrativas ultrarromânticas.
· Ironia romântica: Trata-se de um conceito utilizado para definir um certo comportamento comum entre os autores da segunda geração romântica. Tal comportamento resume-se em apresentar um alto grau de criticidade em relação às próprias produções ultrarromânticas. Um exemplo disso seria bem representado no segundo prefácio do livro “Lira dos vinte anos”, de Álvares de Azevedo:
Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha Baratária de D. Quixote, onde Sancho é rei e vivem Panúrgio, sir John Falstaff, Bardolph, Fígaro e o Sganarello de D. João Tenório: — a pátria dos sonhos de Cervantes e Shakespeare.
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban.
A razão é simples. É que a unidade deste livro funda-se numa binomia: — duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas faces.
Demais, perdoem-me os poetas do tempo, isto aqui é um tema, senão mais novo, menos esgotado ao menos que o sentimentalismo tão fasbionable desde Werther até René.
Por um espírito de contradição, quando os homens se vêem inundados de páginas amorosas preferem um conto de Bocaccio, uma caricatura de Rabelais, uma cena de Falstaff no Henrique IV de Shakespeare, um provérbio fantástico daquele polisson Alfredo de Musset, a todas as ternuras elegíacas dessa poesia de arremedo que anda na moda e reduz as moedas de oiro sem liga dos grandes poetas ao troco de cobre, divisível até ao extremo, dos liliputianos poetastros. Antes da Quaresma há o Carnaval.
Há uma crise nos séculos como nos homens. É quando a poesia cegou deslumbrada de fitar-se no misticismo e caiu do céu sentindo exaustas as suas asas de oiro.
O poeta acorda na terra. Demais, o poeta é homem: Homo sum, como dizia o célebre Romano. Vê, ouve, sente e, o que é mais, sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem artérias — isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que quiserem, sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer muito prosaicos, não há poesia.
Autores
Os principais autores da segunda geração romântica brasileira são:
· Álvares de Azevedo;
· Casimiro de Abreu.
Obras
A obra poética “Lira dos vinte anos”, de Álvares de Azevedo, é uma célebre representante da geração byroniana, assim como o livro “As primaveras”, de Casimiro de Abreu, que também ilustra essa vertente. O primeiro autor, além de poeta, também publicou a peça teatral “Macário” e o livro de contos “Noite na taverna”.
Poemas
A LAGARTIXA
A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida,
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
Amo-te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito...
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.
Posso agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores
Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.
                    (Álvares de Azevedo)
Nos versos, é possível perceber a desconstituição da figura do amante, tipicamente idealizado pelo Romantismo – “Tu és o sol e eu sou a lagartixa”. Ao comparar, portanto, o sujeito lírico com uma lagartixa, o poeta foge do “eu” padrão romântico, virtuoso e heroico, e representa-o como um animal que tradicionalmente não é considerado belo ou elevado. 
LEMBRANÇA DE MORRER
	Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadeloQue se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade... é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai... de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
	 
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.
Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!
Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!
(Álvares de Azevedo)
Nota-se nesse poema o forte tom depressivo e pessimista diante da vida expresso pelos versos “Eu deixo a vida como deixa o tédio/ Do deserto, o poento caminheiro”, além do desejo de fuga, em que a válvula de escape é representada pela morte. Também é perceptível no poema a presença do sentimentalismo exagerado, como em “Só levo uma saudade... é desses tempos /Que amorosa ilusão embelecia.”.
MEUS OITO ANOS
	Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
 
Como são belos os dias
Do despontar da existência !
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !
 
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
 
Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
	Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
 
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !
 
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !
 
Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
 
(Casimiro de Abreu)
 
O poema de Casimiro de Abreu apresenta a fuga do presente conturbado de uma forma diferente. Ele prefere acessar seu passado a fim de que isso possa trazer-lhe algum alívio. Nessa poesia, o autor coloca-se em uma posição de contemplador do passado, o que também configura uma importante característica da segunda geração do Romantismo.
Álvares de Azevedo
A poesia de Álvares de Azevedo, além de traços autobiográficos, revela pessimismo, angústia e desejo pela morte. O poeta tinha tuberculose, doença tida como o “mal do século”.
Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em 12 de setembro de 1831, em São Paulo. No entanto, foi no Rio de Janeiro que fez o curso primário. Voltou à capital paulista para cursar a faculdade de Direito em 1848. Neste período inicia sua produção poética e também os primeiros sintomas de sua tuberculose.
Por influência do conhecimento da doença que possuía, Álvares de Azevedo desenvolveu uma verdadeira obsessão pela temática da morte, evidente nas cartas à família e aos amigos.
Encontrou apoio na literatura do poeta inglês Lord Byron, conhecido por um modelo ultrajante de obstinação ética que feria os costumes da sociedade aristocrática. Este poeta ficou conhecido por suas aventuras morais e distúrbios comportamentais que o envolveu em escândalos amorosos, incluindo incesto. Sua poesia, além de traços autobiográficos, revela pessimismo, angústia e desejo pela morte, encarada como fuga perante seus sentimentos.
É interessante observar a vida de Lord Byron em paralelo com a de Álvares de Azevedo, pois constatamos que esse herdou por livre iniciativa os traços ultrarromânticos do “mal do século” daquele.
Além de um sentimento melancólico e do desencanto pela vida, Álvares de Azevedo também incorpora o sarcasmo, a ironia e a autodestruição de Musset.
O poeta do Romantismo tem poucas publicações, apesar de muito conhecidas, pelo fato de morrer ainda jovem, aos 21 anos, em 25 de abril de 1852.
Seu livro de contos “Noite na taverna” apresenta cenários escuros e personagens desolados com a vida que vêm no amor idealizado a solução para todos os males.
Na poesia de Álvares de Azevedo, além da temática da morte, encontramos a realização amorosa como algo inatingível, mas que se fosse possível seria a felicidade completa. Então, surge a frustração do “eu-lírico”, o qual se volta novamente para a depressão, sofrimento e dor como escape.
Vejamos um trecho do poema “Lembrança de morrer”, escrito um mês antes da morte do escritor:
(...)
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.
(...)
Por Sabrina Vilarinho
Graduada em Letras
Condoreirismo
O Condoreirismo é o nome atribuído à terceira geração da poesia romântica, a qual utiliza a produção literária como instrumento de denúncia às injustiças sociais, sobretudo a escravidão.
Condoreirismo é o nome atribuído à terceira e última geração da poesia romântica e abordou vertentes sociais e abolicionistas. A origem do nome Condoreirismo está relacionada com o símbolo de liberdade escolhido pelo poeta francês Victor Hugo, o Condor, uma ave que habita a Cordilheira dos Andes e é capaz de sobrevoar grandes altitudes. Dessa forma, os poetas condoreiros utilizavam suas poesias para criticar, entre outras questões, as condições desumanas dos escravos negros no Brasil.
Contexto histórico no Brasil
A partir da década de 1860, a monocultura do café alavancou a economia e a infraestrutura de várias cidades, sobretudo no estado de São Paulo. Alguns dos avanços advindos da cultura do café foram a construção de vias para a exportação e a implantação de redes de energia, de água e de esgoto. Durante esse período, muitas fazendas utilizavam mão de obra escrava.
Nesse contexto, surgiu a poesia condoreira como forma de denunciar as injustiças sociais e enaltecer, sobretudo, a libertação dos escravos.
Contexto de circulação da poesia condoreira
Os poetas condoreiros eram extremamente engajados nos debates sociais e mostravam-se conscientes do contexto brasileiro da época. Diferenciavam-se bastante dos poetas da primeira e da segunda geração do Romantismo, os quais se isolavam da realidade social e priorizavam a poesia que exaltasse seus sentimentos.
Para a divulgação de seus textos, os poetas condoreiros contavam com um grande meio de comunicação: os jornais impressos.Desse modo, poetas como Castro Alves, Tobias Barreto, Victoriano Palhares e Joaquim de Sousa Andrade conseguiram atingir um grande número de leitores. Além dos jornais impressos, os poemas dos poetas condoreiros também circulavam nos bailes, praças, teatros e associações estudantis. Em seus textos, os poetas condoreiros convocavam os leitores a se engajar nas causas sociais e abolicionistas.
Características da poesia condoreira
Para você compreender as características da poesia condoreira, enumeramos as mais relevantes. Veja:
1. Escrita para ser declamada;
2. Tons característicos da oratória;
3. Utilização recorrente de vocativos e de pontos de exclamação;
4. Ênfase às imagens exageradas;
5. Frequente uso de hipérbole.
Para que você possa observar de que maneira essas características aparecem nos textos, leia um trecho do poema Tragédia no Lar, de Castro Alves:
 
Tragédia no lar
Na Senzala, úmida, estreita,
Brilha a chama da candeia,
No sapé se esgueira o vento.
E a luz da fogueira ateia.
Junto ao fogo, uma africana,
Sentada, o filho embalando,
Vai lentamente cantando
Uma tirana indolente,
Repassada de aflição.
E o menino ri contente...
Mas treme e grita gelado,
Se nas palhas do telhado
Ruge o vento do sertão.
[...]
Do fundo, materno olhar,
E nas mãozinhas brilhantes
Agitas como diamantes
Os prantos do seu pensar.
[…]
Agora que conhecemos um pouco mais sobre a terceira e última geração do Romantismo, o Condoreirismo, sugerimos que leia também sobre o Realismo, escola literária que transformou a produção literária na segunda metade do século XIX e início do século XX.
O Condoreirismo representa a terceira geração da poesia romântica
Castro Alves
Castro Alves, ou Antônio Frederico Castro Alves, é um poeta romântico do século XIX. Nasceu em Muritiba, no estado da Bahia, em 1847, e morreu em Salvador, no ano de 1871. É conhecido como o “Poeta dos Escravos”, em função de suas poesias de cunho abolicionista. O escritor também escreveu poemas de amor, mas sua poesia de cunho social fez dele o principal nome da terceira geração romântica.  
O poema O navio negreiro é o mais conhecido do escritor Castro Alves, dada a sua importância histórica e política. No entanto, poemas como “Mocidade e morte”, “Dedicatória” e “O laço de fita”, presentes em seu livro Espumantes flutuantes, mostram a sua capacidade de fazer versos sobre variados assuntos.
Castro Alves é o grande nome da poesia condoreirista do Brasil.
Biografia de Castro Alves
O poeta brasileiro Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847. Seu interesse pela poesia começou na infância, quando estudava na Escola do Barão de Macaúbas. Sua vida literária solidificou-se quando ele ingressou na Faculdade de Direito do Recife em 1864, onde passou a ser conhecido pelos seus versos.
Em 1866, o poeta apaixonou-se pela atriz e poetisa portuguesa Eugênia Câmara (1837-1874), que passou a exercer influência em sua vida e obra. Apesar disso, a fama do Poeta dos Escravos não se deve a suas poesias de amor, mas à sua poesia de cunho social. Em 1868, Castro Alves mudou-se para São Paulo, em companhia de Eugênia Câmara, que acabou rompendo com o poeta.
Desenho de Castro Alves que retrata a atriz e poetisa portuguesa Eugênia Câmara.
A partir daí, a vida do poeta assumiu um caráter trágico. Em 1869, Castro Alves, acidentalmente, durante uma caçada, deu um tiro no pé esquerdo, que precisou ser amputado. Com a saúde frágil desde os 17 anos, devido à tuberculose, não conseguiu vencer a doença e morreu em 6 de julho de 1871, com 24 anos de idade, deixando inacabado o seu livro Os escravos.
Leia também: José de Alencar – vida e obra do grande prosador do romantismo brasileiro
Contexto histórico
· Sociedade
Castro Alves nasceu durante o Segundo Reinado, que durou de 1840 a 1889, sob o comando de Dom Pedro II. O debate sobre a escravidão teve avanços importantes nesse período. A abolição da escravatura só ocorreu em 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel. No entanto, antes disso, outras leis foram promulgadas com vistas a combater a escravidão no Brasil:
· Lei Eusébio de Queirós (1850): proibia o tráfico de escravos.
· Lei do Ventre Livre (1871): declarou livres as crianças nascidas de mães escravas a partir daquela data.
· Lei dos Sexagenários (1885): tornou livres escravos com 60 anos de idade ou mais.
Antes da assinatura da Lei Áurea, havia um embate entre as seguintes correntes ideológicas:
· Escravistas: queriam a permanência da escravidão.
· Emancipacionistas: defendiam um processo gradual para a libertação dos escravos.
· Abolicionistas: lutavam pela liberdade imediata dos escravos.
· Artes
Nas artes, predominava o Romantismo, do qual faz parte o abolicionista Castro Alves. A poesia brasileira desse período foi dividida em três fases:
· Primeira geração romântica: indianista ou nacionalista.
· Segunda geração romântica: ultrarromântica ou byroniana (referente ao poeta britânico e romântico Lorde Byron).
· Terceira geração romântica: hugoniana (referente ao escritor romântico francês Victor Hugo) ou condoreira.
Características da poesia de Castro Alves
Castro Alves pertence à terceira geração romântica, que apresenta as seguintes características:
· Poesia de cunho social: temática voltada para problemas sociais e políticos do país.
· O condor como símbolo da liberdade: o condor, ave da Cordilheira dos Andes, representava o poeta dessa geração; assim como essa ave, ele conseguiria ver a realidade “de cima”, isto é, a partir de um campo de visão mais amplo.
· Os condoreiros participavam dos debates sociais: esses poetas estavam atentos aos problemas sociais do país e usavam sua poesia para divulgar suas ideias e críticas.
· Sem fuga da realidade: ao contrário da segunda geração romântica, o poeta condoreiro encarava a realidade de seu país e buscava combater os problemas sociais.
· Os poetas pretendiam atingir um grande número de pessoas: declamavam suas poesias em teatros e em praças públicas.
· Linguagem: uso de vocativos, exclamações e hipérboles, de modo a despertar a emoção do leitor/ ouvinte, que, dessa forma, seria motivado a tomar uma atitude.
Veja também: Realismo no Brasil – estética literária que revelou Machado de Assis
Obras de Castro Alves
São obras do autor:
· Espumas flutuantes (1870)
· Gonzaga, ou a revolução de Minas (1875)
· A cachoeira de Paulo Afonso (1876)
· O navio negreiro (1880)
· Os escravos (1883)
· O Navio negreiro
O poema O navio negreiro, dividido em seis partes, é apresentado com o subtítulo: “tragédia no mar”. Foi pensando no sofrimento de mulheres e homens escravizados, tirados do país de origem e transportados, em condições subumanas, para o Brasil, que Castro Alves escreveu seu poema, com o intuito de sensibilizar o país acerca da desumanidade associada à escravidão.
Capa do livro O navio negreiro, da editora Panda Books [1].
· Primeira parte
Na primeira parte, o eu lírico leva o leitor para o cenário onde se passará “a tragédia”: “‘Stamos em pleno mar...”. Ele vai repetir essas palavras no início das quatro primeiras estrofes, de forma a transportar o leitor para este cenário: o mar, cujas ondas refletem o céu noturno:
“‘Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...”
Em seguida, o eu lírico apresenta o navio negreiro: “Veleiro brigue corre à flor dos mares/ Como roçam na vaga as andorinhas...”. E pergunta de onde ele vem. Na sequência, ele descreve a natureza perfeita, harmônica:
“Bem feliz quem ali pode nest’hora
Sentir deste painel a majestade!...
Embaixo — o mar... em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
 
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! Como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!”
Assim, o eu lírico parece desfrutar da natureza. O objetivo da voz poética é despertar no leitor esse encantamento, para, ao mostrar os horrores do navio negreiro, conseguir, nessa oposição, emocionar o leitor. Por isso, o eu lírico, propositalmente,adia as imagens fortes que serão mostradas, como vemos em:
“Esperai! Esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia...
Orquestra — é o mar que ruge pela proa,
E o vento que nas cordas assobia...”
Então, o eu lírico questiona: “Por que foge assim, barco ligeiro?/ Por que foges do pávido poeta?”. E pede ao albatroz: “Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas...”. É, poeticamente, por meio das asas e dos olhos do albatroz que o eu lírico e o leitor verão o que acontece no navio negreiro.
· Segunda parte
Na segunda parte, o eu lírico vai refletir sobre a origem do navio e de seus marinheiros.
“Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?...
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Canta! que a noite é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como um golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
Às vagas que deixa após.”
Na sequência, ele aponta as possíveis origens dos marinheiros: espanhóis, italianos, ingleses, franceses, helenos (gregos), encerrando assim essa parte: “...Nautas de todas as plagas!/ Vós sabeis achar nas vagas/ As melodias do céu...”.
· Terceira parte
Na terceira parte, composta por uma só estrofe, o eu lírico ordena ao albatroz que desça até o navio:
“Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais, inda mais... não pode o olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador.
Mas que vejo eu ali... que quadro de amarguras!
Que cena funeral!... Que tétricas figuras!...
Que cena infame e vil!... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
Dessa maneira, o eu lírico conclui a sua introdução. Tira o leitor de seu lugar de contemplação harmoniosa da natureza para fazer com que ele tenha contato com a situação oposta: a crueldade da escravidão.
“Navio negreiro”, obra do pintor alemão Rugendas.
· Quarta parte
Na quarta parte, o eu lírico relata os sofrimentos das escravas e escravos transportados da África para o Brasil. A primeira estrofe, dessa quarta parte, é uma das mais conhecidas e comentadas pelos leitores de Castro Alves:
“Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...”
Essa “dança”, claro está, refere-se ao movimento que esses “homens negros” fazem ao serem açoitados.
“Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.”
Nessa segunda estrofe, da quarta parte, o eu lírico expõe o sofrimento das mulheres transportadas no navio. Devemos lembrar que, no século XIX, a valorização da mulher na sociedade estava relacionada com o seu papel de esposa e mãe, e havia forte preocupação em preservar a sua conduta moral. Assim, era valorizada a virgindade da mulher solteira, bem como a maternidade da mulher casada. Ao mostrar mães e jovens escravas em situação tão degradante, o eu lírico pretende provocar a indignação em seu leitor.
As estrofes e versos seguintes demonstram o sofrimento dos homens e mulheres escravizados, como: “Se o velho arqueja... se no chão resvala,/ Ouvem-se gritos... o chicote estala”; “A multidão faminta cambaleia,/ E chora e dança ali!”; “Um de raiva delira, outro enlouquece...”; “Qual um sonho dantesco as sombras voam.../ Gritos, ais, maldições, preces ressoam!”.
Acesse também: Diferenças entre escravidão indígena e escravidão africana
· Quinta parte
Na quinta parte, o eu lírico mostra o seu horror diante do que vê: “Senhor Deus dos desgraçados!/ Dizei-me vós, Senhor Deus!/ Se é loucura... se é verdade/ Tanto horror perante os céus...”. E faz um questionamento: “Quem são estes desgraçados,/ Que não encontram em vós,/ Mais que o rir calmo da turba/ Que excita a fúria do algoz?”. Na sequência, ele invoca a musa: “Dize-o tu, severa musa,/ Musa libérrima, audaz!”.
Na mitologia grega, as musas eram divindades que inspiravam os poetas (artistas). Portanto, a obra de arte seria resultado do poder das musas, que usavam os artistas para dar vida às obras. Então, quando o eu lírico diz “Dize-o tu, severa musa”, ele está pedindo inspiração ou resposta para a sua pergunta.
A resposta da musa, por meio da escrita do poeta, vem a partir da terceira estrofe dessa quinta parte: “São os filhos do deserto/ Onde a terra esposa a luz”, ou seja, filhos do continente africano. O eu lírico então descreve esses homens e mulheres em sua pátria original: “guerreiros ousados”, “homens simples, fortes, bravos”, “crianças lindas”, “moças gentis”. Aponta ainda a sua situação presente: “míseros escravos”, “sem ar, sem luz, sem razão”, mulheres “desgraçadas”, “sedentas”, “alquebradas”, com “filhos e algemas nos braços” e “lágrimas e fel” na alma.
Na sequência, o eu lírico explicita a despedida dessas pessoas de sua terra natal: “...Adeus! ó choça do monte!.../ ...Adeus! palmeiras da fonte!.../ ...Adeus! amores... adeus!...”. E relata a travessia no deserto, após a captura:
“Depois o areal extenso...
Depois o oceano de pó...
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p’ra não mais s’erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer...”
Nas estrofes 7 e 8, da quinta parte, o eu lírico traz a oposição entre a vida livre dessas pessoas em sua terra de origem e a escravidão:
“Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d’amplidão...
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
 
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cum’lo de maldade
Nem são livres p’ra... morrer...
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim roubados à morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoite... Irrisão!...”
· Sexta parte
Na sexta e última parte, o eu lírico faz uma crítica ao Brasil por permitir a escravidão. Assim, ele afirma: “E existe um povo que a bandeira empresta/ P’ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...”. E pergunta: “Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,/ Que impudente na gávea tripudia?!...”. No entanto, não obtém resposta e lamenta: “Silêncio!... Musa! chora, chora tanto/ Que o pavilhão se lave no teu pranto...”.
Na penúltima estrofe dessa última parte do poema, o eu lírico revela de quem é essa bandeira. Além disso, conclui que seria melhor que a bandeira (símbolo do Brasil) tivesse sido destruída em batalha do que servir de mortalha para o povo africano:
“Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...”
Castro Alves finalizou a escrita desse poema na cidade de São Paulo, no dia 18 de abril de 1868, dezoito anos depois de promulgada a Lei Eusébio de Queirós e vinte anos antes da abolição da escravatura.
Exemplos de poemas
O Poeta dos Escravos não escreveu apenas poesias de temática abolicionista, como podemos ver em seu poema a seguir
Mocidade e morte
Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh’alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n’amplidão dos mares.
No seio da mulher há tanto aroma...
Nos seus beijos de fogo há tanta vida...
— Árabe errante, vou dormir à tarde
À sombra fresca da palmeira erguida.
Mas uma voz responde-me sombria:
Terás o sono sob a lájea fria.
Morrer... quando este mundo é um paraíso,
E a alma um cisne de douradas plumas:
Não! o seio da amante é um lago virgem...
Quero boiar à tona das espumas.
Vem! formosa mulher — camélia pálida,
Que banharam de pranto as alvoradas.
Minh’alma é a borboleta, que espaneja
O pó das asas lúcidas, douradas...
E a mesma voz repete-me terrível,
Com gargalhar sarcástico: — impossível!
Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.Vejo além um futuro radiante:
Avante! — brada-me o talento n’alma
E o eco ao longe me repete — avante! —
O futuro... o futuro... no seu seio...
Entre louros e bênçãos dorme a glória!
Após — um nome do universo n’alma,
Um nome escrito no Panteon da história.
E a mesma voz repete funerária: —
Teu Panteon — a pedra mortuária!
Morrer — é ver extinto dentre as névoas
O fanal, que nos guia na tormenta:
Condenado — escutar dobres de sino,
— Voz da morte, que a morte lhe lamenta —
Ai! morrer — é trocar astros por círios,
Leito macio por esquife imundo,
Trocar os beijos da mulher — no visco
Da larva errante no sepulcro fundo.
Ver tudo findo... só na lousa um nome,
Que o viandante a perpassar consome.
E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito
Um mal terrível me devora a vida:
Triste Ahasverus, que no fim da estrada,
Só tem por braços uma cruz erguida.
Sou o cipreste, qu’inda mesmo flórido,
Sombra de morte no ramal encerra!
Vivo — que vaga sobre o chão da morte,
Morto — entre os vivos a vagar na terra.
Do sepulcro escutando triste grito
Sempre, sempre bradando-me: maldito! —
E eu morro, ó Deus! na aurora da existência,
Quando a sede e o desejo em nós palpita...
Levei aos lábios o dourado pomo,
Mordi no fruto podre do Asfaltita.
No triclínio da vida — novo Tântalo —
O vinho do viver ante mim passa...
Sou dos convivas da legenda Hebraica,
O ‘stilete de Deus quebra-me a taça.
É que até minha sombra é inexorável,
Morrer! morrer! soluça-me implacável.
Adeus, pálida amante dos meus sonhos!
Adeus, vida! Adeus, glória! amor! anelos!
Escuta, minha irmã, cuidosa enxuga
Os prantos de meu pai nos teus cabelos.
Fora louco esperar! fria rajada
Sinto que do viver me extingue a lampa...
Resta-me agora por futuro — a terra,
Por glória — nada, por amor — a campa.
Adeus! arrasta-me uma voz sombria
Já me foge a razão na noite fria!...
O poema Mocidade e morte traz dois aspectos que devem ser levados em conta: marcas da biografia do autor e a representação não idealizada da mulher. Sobre a questão biográfica, referimo-nos à tuberculose, doença que vitimou alguns jovens escritores românticos no século XIX; entre eles, Castro Alves. Em relação à menor idealização da mulher, isso é uma marca da terceira geração romântica, que, mais realista, passa a tratar a mulher amada de forma mais concreta e menos espiritual.
Capa do livro Espumas flutuantes, da editora L&PM. [2]
Já o poema Dedicatória reflete sobre os esforços de um livro para chegar a seus leitores e sobreviver ao tempo:
Dedicatória
A pomba d’aliança o voo espraia
Na superfície azul do mar imenso,
Rente... rente da espuma já desmaia
Medindo a curva do horizonte extenso...
Mas um disco se avista ao longe... A praia
Rasga nitente o nevoeiro denso!...
O pouso! ó monte! ó ramo de oliveira!
Ninho amigo da pomba forasteira!...
 
Assim, meu pobre livro as asas larga
Neste oceano sem fim, sombrio, eterno...
O mar atira-lhe a saliva amarga,
O céu lhe atira o temporal de inverno...
O triste verga à tão pesada carga!
Quem abre ao triste um coração paterno?...
É tão bom ter por árvore — uns carinhos!
É tão bom de uns afetos — fazer ninhos!
 
Pobre órfão! Vagando nos espaços
Embalde às solidões mandas um grito!
Que importa? De uma cruz ao longe os braços
Vejo abrirem-se ao mísero precito...
Os túmulos dos teus dão-te regaços!
Ama-te a sombra do salgueiro aflito...
Vai, pois, meu livro! e como louro agreste
Traz-me no bico um ramo de... cipreste!
Por fim, o poema O laço de fita, em que o eu lírico, por meio de uma metonímia, fala de uma mulher por quem ele se apaixona em uma festa.
O laço de fita
Não sabes, criança? ‘Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
 
Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.
 
Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.
 
E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh’alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!
 
Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita.
 
Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.
 
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N’alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
No laço de fita.
 
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c’roa...
Teu laço de fita.

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