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CARA DURÃO GAME CHANGERS #3 POR Rachel Reid RESUMO Eles não têm nada em comum - então por que Ryan se sente mais como ele mesmo sempre que está com Fabian? A estrela profissional do hóquei Ryan Price pode ser um executor, mas fora do gelo ele luta contra a ansiedade. Recentemente negociado com os Toronto Guardians, ele está determinado a começar de novo na dinâmica LGBTQ Village da cidade. A última coisa que ele espera encontrar em seu novo bairro é uma explosão de seu passado na forma fabulosa de Fabian Salah. O aspirante a músico Fabian detesta hóquei. Mas isso não o impede de se sentir atraído por um certo defensor corpulento de barba ruiva. Ele não esqueceu o beijo que quase compartilharam no colégio, e está claro que a química entre eles apenas se intensificou. Fabian está mais do que feliz em ser o guia de Ryan para a cena gay em Toronto. Entre boates e exposições de arte - e o sexo mais incrível - Ryan está começando a sentir algo que não experimentava há muito tempo: alegria. Mas desempenhar o papel de pesado no gelo afetou seu corpo e sua mente, e um futuro com Fabian pode significar pendurar seus patins para sempre. PRÓ LÓGÓ Setembro de 2018 — Você está feliz? Ryan Price não sabia dizer se o treinador Cooper estava fazendo a pergunta a ele ou ao computador do qual o homem não tirava os olhos. A resposta honesta foi que Ryan não conseguia se lembrar muito bem de como era a felicidade, mas seria uma coisa estranha de se admitir, então, em vez disso, ele apenas disse: — Claro. — Ótimo, — o treinador disse distraidamente. — Fico feliz em ouvir isso. Você já encontrou um lugar para morar? — Ainda no hotel, mas estou olhando... — Acho que você é especialista em mudar de cidade. — O treinador finalmente voltou seu olhar para Ryan e sorriu para ele como se tivesse acabado de pensar na piada mais engraçada do mundo. — Você praticamente tem um cartão de bingo completo agora, certo? — Sim. — Ryan nem tentou devolver o sorriso. — Bastante. O treinador se recostou na cadeira e cruzou os braços musculosos sobre o peito. Bruce Cooper estava possivelmente em melhor forma do que qualquer outro jogador do time do Toronto Guardians. Ele nunca tinha jogado na NHL, mas manteve o corpo em sua melhor forma, como se sugerisse aos jogadores que poderia muito facilmente amarrar os patins e substituir qualquer um deles a qualquer momento. — Bem, você sabe por que está aqui. Não preciso dizer que tipo de jogador você é e o que GAME CHANGERS #3 6 esperamos de você. Você entende o que estou dizendo, tenho certeza. — Ele parou de sorrir e fixou um olhar muito penetrante em Ryan. Ryan entendia bem o que ele estava dizendo. Era a mesma coisa que todos os treinadores que ele teve desde os dezessete anos lhe disseram: precisamos que você derrote os adversários que ameaçam nossos verdadeiros jogadores. — Sim, treinador —, disse Ryan. Ele tinha acabado de terminar sua primeira patinação com os Guardians, e tinha corrido... bem. Alguns jogadores lançaram olhares curiosos para ele, mas ninguém foi particularmente amigável com ele. A reputação de Ryan obviamente o precedeu. — Proteger Kent é a prioridade —, disse o treinador. — Ele tem uma boca aberta, mas não queremos que ele se machuque. Os caras podem pensar duas vezes antes de ir atrás dele se souberem que terão que, você sabe, pagar a Price. — Ele sorriu. Ryan se encolheu. — Sim. Entendi. — Bom, — o treinador disse alegremente. — Agora, a outra coisa que eu queria falar era sobre sua história de não se dar bem com seus companheiros de equipe. Ryan Price passou a língua pela parte de baixo dos dentes da frente, raspando os resíduos dos quatro Tums1 que engoliu antes de entrar no escritório de seu novo treinador. Ele queria colocar o máximo possível de antiácido em seu estômago para isso. — Não é isso, — Ryan tentou explicar. — Quer dizer, não é que eu não me dê bem com eles. Eu só... fico só comigo. Eu acho. 1 TUMS, o antiácido mais poderoso do mundo em razão de suas propriedades medicinais e com incrível sabor de frutas! RACHEL REID 7 O treinador franziu a testa. — Os Guardians são uma equipe, Ryan. No gelo e fora dele. As equipes são construídas com base na confiança e camaradagem. — Eu sei. Vou me esforçar mais. — Bom saber —, disse o treinador, como se o assunto estivesse resolvido. Ryan não esperava formar laços particularmente fortes com nenhum de seus companheiros de equipe. Algo sobre ser naturalmente estranho, tímido, clinicamente ansioso, com medo de voar e, ah, sim, gay, não o tornava exatamente um ímã de amigo no velho vestiário. Mas ele iria tentar. — E ouça. — O treinador baixou a voz e se inclinou para frente. — Você não vai, tipo, pirar com a gente, certo? Como antes? As sobrancelhas de Ryan se ergueram. Uau. Isso é direto. — Eu, uh... tenho trabalhado nisso. O treinador estreitou os olhos. — Trabalhando nisso, tipo, o quê? Meditação ou ioga ou algo assim? — Não. Quer dizer, um pouco. Mas, tipo, terapia. E eu tenho uma receita... — Então você tem tudo sob controle. Bom. — O treinador acenou com a mão, claramente feliz por ter acabado com a conversa. — Vamos passar pelo campo de treinamento e descobriremos onde você vai se encaixar nessa equipe. — Ok, treinador. Quando o treinador voltou para seu computador, Ryan se levantou, acenou com a cabeça e saiu da sala. A pequena conversa não tinha sido muito diferente da que tivera com seu último treinador. Ou o treinador GAME CHANGERS #3 8 antes disso. Queremos que você seja aterrorizante no gelo e normal fora dele. Ryan voltou para o vestiário para se preparar para o teste físico que os Guardians fariam naquela tarde. Na sala, ele viu o jogador estrela de Toronto, Dallas Kent, conversando com outro jogador estrela, Troy Barrett. Kent era baixo para um jogador de hóquei, com cabelos loiros e olhos azuis claros. Ele não era o que Ryan chamaria de atraente, mas principalmente porque sua arrogância transparecia em seu rosto. Barrett era mais bonito, com olhos azuis penetrantes e cabelo escuro, mas ainda longe do tipo de Ryan. Ryan percebeu que também poderia se apresentar aos homens que deveria proteger. Conforme ele se aproximava, ele podia ouvir Kent descrevendo suas façanhas sexuais da noite anterior em grandes detalhes para Barrett. Kent nem mesmo olhou para Ryan quando ele se aproximou, deixando-o parado sem jeito enquanto Kent terminava sua história nojenta. — Juro por Deus, pensei que ela fosse desmaiar! Barrett riu. Ryan pigarreou e Kent finalmente ergueu os olhos. — Oh. Ei. — Havia um pouco de escárnio no tom de Kent. — Oi —, disse Ryan estupidamente. Ele estendeu a mão. — Eu sou Ryan. Kent olhou para a mão de Ryan, então lançou um olhar para Barrett. Finalmente, ele rapidamente apertou a mão de Ryan e disse: — Achei que você enlouqueceu. — Não —, disse Ryan, o calor subindo em suas bochechas e descendo pelo pescoço. — Eu tenho tudo sob controle. RACHEL REID 9 Barrett bufou. Kent olhou para Ryan como se ele fosse uma pilha de cobras mortas. — Eu espero que sim, Red. A mandíbula de Ryan apertou. Esse não era um nome pelo qual ele responderia. — Ryan —, ele o corrigiu. Ele endireitou a coluna, girando os ombros para trás para ficar em sua altura máxima. Ele deixou sair apenas o suficiente do monstro para mostrar a Dallas Kent que Ryan não era alguém com quem se foder. — Não Red. Kent ergueu as mãos de maneira apaziguadora. — Tanto faz, cara. — Ele se voltou para Barrett e retomou sua história como se Ryan nem estivesse mais lá. Ryan sentiu seu peito apertar enquanto se retirava para sua baia. Felizmente, ele ficou bom em se acalmar com esses ataques leves. Inspire para dois, expire para três. Inspire para três, expirepara quatro. Inspire para quatro, expire para cinco... Ele estava bem. Ele estava bem. Dallas Kent era claramente um idiota, mas Ryan estava bem. Isso é apenas um trabalho. Este não é você. Você é mais do que este trabalho. Todo trabalho tem colegas de trabalho de merda, certo? Ele contou mais uma vez, inspirou e expirou, então começou a remexer em sua bolsa de ginástica, apenas para ter algo para fazer. — Quer saber um segredo? Ryan ficou surpreso com a pergunta inesperada. Ele se virou para ver Wyatt Hayes, que havia sido o goleiro reserva do Toronto por anos. — Certo? GAME CHANGERS #3 10 — Dallas Kent é, — Wyatt se inclinou e baixou a voz para um sussurro, — um pouco idiota. Ryan gaguejou surpreso. — Então, não sou só eu? — De jeito nenhum. Mas ele é o superstar, certo, então o que você pode fazer? Ryan poderia pensar em um par de coisas que ele gostaria de fazer para ele. Wyatt riu. — Puta merda, Price. Seu rosto! Você não pode dar um soco nele! — Eu sei. Eu não ia. — Bem, se você mudar de ideia, certifique-se de me dizer. Eu quero assistir. Ryan balançou a cabeça, mas estava sorrindo. Ele decidiu que gostava de Wyatt Hayes. Então isso era algo. Ele tinha pensado que poderia ser diferente nesta temporada. Em retrospecto, ele não tinha ideia do porquê. Desde seus dias de júnior de hóquei, Ryan obedientemente ocupou o papel de executor em qualquer time em que jogou. Ele nunca se entusiasmou com isso; se quisesse ser boxeador, poderia ter seguido os passos do pai e ser um. Ryan queria ser jogador de hóquei. No verão passado, depois de saber que havia sido negociado mais uma vez, Ryan decidiu se lançar ao treinamento. Ele trabalhou em sua patinação, sua velocidade, seu condicionamento da parte inferior do corpo. Ele encontrou um treinador em Buffalo, onde ainda morava, e trabalhou duro fazendo sprints, estocadas, agachamentos e todo um pesadelo de atividades desumanas semelhantes. RACHEL REID 11 Ele apareceu para este campo de treinamento em Toronto na melhor forma de sua vida, com a esperança de ser levado a sério como um defensor. Ele daria a esses testes de condicionamento físico tudo o que tinha, mas duvidava que isso mudasse a opinião de alguém sobre o papel que ele desempenharia neste novo time. Deus. Ryan não tinha mais certeza de que conseguiria fazer isso. Ele iria, porque o que mais ele iria fazer? Seu currículo era bastante esparso. — Pronto para ir para o inferno? — Wyatt perguntou. Ryan sabia que ele estava se referindo ao teste de preparação física, mas Ryan estava pensando em toda a temporada. — Claro —, disse ele. — Vamos acabar com isso. CAPÍ TULÓ UM Fabian Salah odiava hóquei. Claramente havia algum tipo de jogo acontecendo hoje porque o trem do metrô estava lotado de pessoas vestindo camisetas azuis do Toronto Guardians. Fabian gostaria de poder se sentar; ele não gostava de ficar no meio dessas pessoas, sendo julgado por seus cérebros chatos e ignorantes. Havia pelo menos um atleta chato que estava abertamente zombando de Fabian com nojo. Fabian manteve os olhos baixos e resistiu ao impulso de zombar do homem. Mais três paradas e você está em casa, disse a si mesmo. Uma garotinha com uma versão rosa da camisa dos Guardians - porque obviamente você não pode deixar sua filha usar algo que não seja rosa chiclete - sorriu para ele. Ele se forçou a sorrir de volta. Não era culpa dela que ele estivesse de mau humor. Não era culpa dela que ele odiasse o hóquei e as pessoas que o amavam, ou que seus pais estivessem muito preocupados em criar agressivamente o gênero de seu filho. Ela estava apenas curtindo uma tarde com seus pais, torcendo pelos meninos da cidade. Fabian tinha certeza de que a equipe estava lotada de jovens heroicos e íntegros. Certamente não um bando de idiotas alfa homofóbicos que celebrariam sua vitória fazendo coisas alfa nojentas esta noite. Fabian conheceu exatamente um jogador de hóquei em toda a sua vida, sendo forçado a encontrar jogadores de hóquei que não eram um pesadelo completo. RACHEL REID 13 — Isso é uma guitarra? — A menina de camisa rosa perguntou a ele. Fabian piscou. — É um violino —, disse ele, o mais calorosamente que conseguiu. — É seu? — Sim. — Você sabe como tocar? Fabian sorriu. — Sim eu sei. Acho que tinha mais ou menos a sua idade quando comecei a aprender. Você toca algum instrumento? Ela balançou a cabeça, mas disse: — Gosto de cantar e dançar. — Eu também. A mãe da menina puxou-a para mais perto de seus assentos unidos e sussurrou algo em seu ouvido que provavelmente era benigno, como “Deixe o homem bom em paz” ou “Não fale com estranhos”, mas Fabian não pôde deixar de imaginar que era mais como “Não fale com homens que usam delineador e esmalte de unha”. A garota parou de falar com ele, mas o observou atentamente por todo o caminho até a estação Wellesley, onde Fabian finalmente se afastou do hóquei e dos fãs de hóquei. Enquanto descia a Church Street, Fabian sentiu a tensão persistente da viagem de metrô deixar seu corpo. Ele tinha coisas melhores em que pensar do que atletas estúpidos. Por um lado, ele finalmente terminou as coisas - para sempre desta vez - com Claude na noite anterior. Claude era o último de uma longa linha de esnobes obcecados que Fabian, por alguma razão, convidou para sua cama. Ele não chamaria o que eles tiveram de um relacionamento; ele apenas continuava encontrando Claude em vários GAME CHANGERS #3 14 eventos e eles inevitavelmente acabariam transando. Mas Fabian acabou com essa merda. Ele estava em um bom lugar agora. Ele tinha alguns shows muito promissores agendados, estava quase terminando seu novo álbum e gravou uma entrevista em estúdio e uma performance para a CBC Radio na semana passada. Seus pais até ouviram, então ele definitivamente se tornou grande. Se as coisas continuassem, ele poderia deixar o emprego de meio período, ficar super rico e famoso, se mudar para uma ilha particular e nunca mais ver uma camisa de hóquei. RYAN TINHA QUASE CERTEZA de que tinha um pau feio. O cara se masturbando na tela do laptop de Ryan agora tinha um pau lindo. Era longo, reto e não muito grosso. Era tudo liso e cortado, com bolas perfeitamente sem pelos. A haste projetava-se orgulhosamente de um retalho organizado de cachos escuros. O pau de Ryan era grosso e vermelho, e o cabelo que o rodeava era ainda mais vermelho. Ele tentou manter o controle da área, mas seus pelos púbicos eram tão rebeldes quanto os que cobriam sua cabeça e rosto. Suas bolas pareciam muito grandes e meio flácidas. Seu pau saía de uma manga protuberante do prepúcio. A cabeça era gorda e escura, e uma veia muito proeminente enrolada em seu eixo. E, ao contrário do cara no vídeo que ele estava assistindo, Ryan demorou uma eternidade para vir. Ele sempre foi um pouco lento no sexo, mas gozar exigia muito esforço extra no ano passado ou assim. Ele sabia que era pelo menos parcialmente culpa de seus remédios para ansiedade. RACHEL REID 15 Ryan fechou os olhos, bloqueando a imagem do Sr. Pau Perfeito, mas não os gemidos de felicidade do homem. Ryan respirou lentamente - inspirou e expirou - em seguida, olhou para seu pau. — Tudo bem, amigo. Nós podemos fazer isso. Sem pressão, apenas quando estiver pronto. Mas vamos tentar chegar lá desta vez, ok? Ele foi fácil, acariciando-se com os dedos soltos e muito lubrificante. O sexo hoje em dia, mesmo consigo mesmo, exigia muita paciência. Por esse motivo, ele raramente arrastava outra pessoa para a provação. O cara na tela estava se divertindo, xingando, ofegando e prometendo uma carga enorme em breve. — Mostre-se, — Ryan murmurou. Ele começou a percorrer os vídeos recomendados listados neste porque sabia que precisaria de outro. Ele nem tinha certeza do que estava procurando.Ele gostava de vídeos de punheta porque podia fingir que estava compartilhando uma experiência com alguém. Ele poderia fingir que era ele quem estava fazendo o belo homem gemer de prazer na tela do computador. Em vez disso, ele estava sozinho em seu apartamento, oferecendo palavras de incentivo ao seu pau mal interessado. Por que ele não podia fazer isso? Ele estava com tesão pra caralho, isso era certo. Ele não tinha estado com ninguém por meses. Ele não gozava há mais de duas semanas. A situação estava ficando desesperadora. — Só um pequeno orgasmo, amigo. Que tal? Era bom se acariciar assim. Certamente não se sentia mal. Ele poderia continuar assim por um longo tempo e apenas desfrutar das ondas de prazer que nunca atingiam o pico - e muitas vezes fazia exatamente isso, GAME CHANGERS #3 16 acariciando-se por uma hora ou mais sem sair do orgasmo. Foi frustrante, porém, e desta vez ele estava determinado a vir. — Oh merda, — o cara do vídeo engasgou. — Oh merda, vou gozar, vou gozar... E então ele o fez. O idiota. — Você sabe o que? — Ryan agarrou seu pau. — Estou dando as cartas hoje. Vou colocar outro vídeo, e nós dois vamos assistir e vou começar do zero. Vou devagar, mas vamos voltar esta noite. Não é como se gozar fosse impossível, mas ele precisava estar relaxado. Ele não podia ser distraído, mas também não podia estar excessivamente focado. As circunstâncias precisavam ser exatamente certas - tudo alinhado como o tiro perfeito em uma rede aberta. Se ele pudesse encontrar esse ponto ideal, ele poderia atingir o orgasmo. Mas era uma tarefa difícil, porra. Era hora de lançar as armas grandes. Ele foi até sua pasta de favoritos e trouxe um vídeo de uma estrela pornô de que gostava particularmente, chamada Kamil Kock. Ele era pequeno e magro e um pouco feminino, com um elaborado desenho de penas de pavão tatuado no lado esquerdo de seu torso. Ele tinha lindos olhos escuros e pele castanha clara. Ryan salvou muitos de seus vídeos. — Olha, — ele disse para seu pau, — é Kamil. Nós amamos Kamil. Seu pau deu uma contração indiferente. Foi alguma coisa. Ryan passou os próximos vinte e sete minutos observando Kamil Kock dar prazer a seu corpo magro e elegante, enquanto Ryan punia o seu próprio. Kamil tinha uma cadência musical em sua voz, e seus dedos longos RACHEL REID 17 e finos estavam cobertos por anéis elaborados. Ele era lindo de uma maneira que Ryan nunca poderia ser. Ryan tinha um tipo, sem dúvida. Ele gostava de homens que... confundiam um pouco a linha. Ele achava a androginia muito sexy, e não era apenas a beleza física de um homem deslumbrante e decorado que o atraía; ele estava pasmo com a confiança deles. De sua bravura para ser abertamente eles mesmos e desafiar alguém a dizer qualquer coisa sobre isso. Isso excitou Ryan como nada mais. Ele tinha estado em silêncio por anos, o que significava que ele não escondia ativamente sua sexualidade, mas ele também não falava sobre isso. Conversar online e ficar em várias cidades tinha sido o método preferido de Ryan para transar durante a maior parte de sua carreira no hóquei. Seus companheiros de equipe não lhe fizeram muitas perguntas sobre com quem ele estava saindo porque provavelmente não se importavam. Jogar para um time diferente a cada temporada tornava difícil para Ryan formar laços estreitos com seus companheiros de equipe. E foi assim que Ryan passou despercebido como um jogador gay sexualmente ativo da NHL por quase uma década. E agora, nesta nova era em que Scott Hunter estava beijando seu namorado ao vivo na televisão depois de ganhar a Copa Stanley, não parecia necessário se esconder. Hunter foi corajoso o suficiente para sair primeiro, e agora ser um jogador homossexual da NHL era pouco interessante. Um dos goleiros de Vancouver se casou com seu namorado de longa data no verão - um homem mais velho e robusto que construía cabanas para viver. E um sueco que jogava pelo Los Angeles começou a postar no Instagram fotos dele e de seu namorado, que GAME CHANGERS #3 18 era modelo. Ou um modelo do Instagram. Ou alguma coisa. Ele era um cara gostoso demais, de qualquer maneira. Uma coisa que Ryan havia notado sobre os namorados dos jogadores da NHL: eles eram todos muito masculinos. O namorado de Scott Hunter era fofo, mas não era o que Ryan chamaria de twink. E twink não era nem mesmo uma descrição precisa do que Ryan gostava. Então, talvez fosse subitamente aceitável para um jogador da NHL ter um namorado, mas Ryan suspeitava que se esperava que os jogadores de hóquei tivessem um certo tipo de namorado. E enquanto Ryan não se importava com o que as outras pessoas pensavam - ele nem mesmo tinha uma conta no Instagram - ele realmente não queria ter que explicar suas escolhas. Seu outro problema era que ele era tímido pra caralho perto de homens bonitos. Ele não podia imaginar que eles iriam querer olhar para ele, muito menos tocá-lo, então ele raramente puxava o tipo de homem que realmente queria. Ele se contentou com homens que ele sentia que estavam mais em sua liga. Havia um cara em Nova Jersey - um jovem deslumbrante chamado Anthony - que era surpreendentemente gostoso por Ryan. Ele parecia amar o tamanho de Ryan e sua força, então eles eram uma boa combinação por um tempo. Mas ele queria que Ryan o machucasse durante o sexo. Na verdade, não o machucasse, mas ele queria dor e Ryan não podia dar a ele. Ryan passou muito de sua vida causando dor física a outras pessoas, e a ideia de trazer isso para o quarto o deixava doente. Então foi isso para Ryan e Anthony. RACHEL REID 19 Ele esperava que Anthony tivesse encontrado o que precisava com outra pessoa. Alguém que não tinha a montanha de bagagem de Ryan. Ryan percebeu que tinha perdido o controle e estava apenas olhando fixamente para a tela onde Kamil estava provocando seu buraco com um vibrador. A mão de Ryan estava segurando frouxamente seu pau amolecido, imóvel. Droga. Ele se distraiu. Tinha acabado. Ele lançou seu pau e ele caiu, exausto, contra sua coxa. Ele fechou o vídeo e fechou o laptop. Droga de remédios estúpidos. Ansiedade estúpida do caralho. Estúpidas estrelas pornôs do caralho e seus paus funcionais perfeitos. Ele esfregou a mão no rosto. Que merda de partido ele era. Ele havia retirado seu perfil do Grindr alguns meses atrás e agora se perguntava se deveria reativá-lo. Talvez forneça uma descrição atualizada: Procurando um momento decepcionante com um imbecil peludo que provavelmente não virá mesmo se você chupá-lo por uma hora? Foda-se. Ryan precisava dormir. — Estamos tentando isso de novo amanhã à noite, — ele avisou seu pau. — Você, eu e Kamil. Nós vamos fazer isso. Seu pau parecia realmente recuar mais para dentro de seu prepúcio. — Eu deveria cortar você, todo o bem que você me faz, — Ryan resmungou. CAPÍTULO DOIS Fabian se perguntou se poderia usar a sombra líquida Stila Enchantress Glitter & Glow. Era realmente muito bonito. Ele passou um pouco do testador nas costas da mão. Tão linda. Ele inclinou a mão sob as luzes fluorescentes da loja e observou a sombra brilhar. A cor realmente funcionava com sua pele morena. Ele colocou o frasco de teste de volta na prateleira e voltou para seu banquinho atrás do balcão de cosméticos. Ele empoleirou-se na borda e girou para frente e para trás, entediado demais. Faltavam apenas quarenta minutos para seu turno noturno no Savers Drug Mart, mas a loja estivera praticamente morta na última hora e Fabian estava quase pronto para ir para casa. Ele verificou sua própria maquiagem no espelho que estava na mesa à sua frente. Tudo ainda estava totalmente correto. Ele tinha feito um trabalho particularmente bom em seu delineador líquido hoje. Ele estava, ele supôs, grato por ter um trabalho que lhe permitia usar alguns looks de maquiagembastante selvagens e experimentais para trabalhar. Ele usava uma camisa de botões preta e calças pretas - o uniforme para todos os funcionários do departamento de beleza Savers - mas ele podia ser criativo com seu rosto. O trabalho estava longe de ser glamoroso - não era nem mesmo uma loja de cosméticos glamorosa - mas havia trabalhos que teriam sido muito mais arrasadores. Pelo menos aqui ele poderia ser ele mesmo. RACHEL REID 21 As portas deslizantes automáticas se abriram e Fabian ergueu os olhos. Era seu trabalho cumprimentar calorosamente o maior número possível de clientes quando entravam na loja, mas ele tinha a sensação de que esse cara não estava aqui para comprar cosméticos. Ele era um homem enorme, com uma barba espessa e comprida e longos cabelos ruivos saindo de seu chapéu cinza. Ele parecia um Hagrid2 outonal. — Boa noite —, disse Fabian alegremente. O homem pareceu surpreso e olhou ao redor até que seus olhos pousaram em Fabian. — Posso te ajudar a fi-? Sagrado. Merda. — Ryan? — Fabian deixou escapar o nome antes que pudesse se conter. Mesmo se fosse Ryan Price, não é como se ele fosse reconhecer Fabian. Provavelmente nem se lembraria dele. O homem que possivelmente era Ryan Price encarou Fabian, com a boca aberta e os olhos arregalados. — Sim? — Ele disse finalmente. — Desculpe —, disse Fabian rapidamente. — Você provavelmente não me reconhece. Seu... — Fabian—, disse Ryan, quase um sussurro. Fabian sorriu. — Você lembra! Ryan acenou com a cabeça. — Fabian —, disse ele novamente. Fabian saiu de trás do balcão e parou alguns metros na frente de Ryan. Ryan não se moveu. Ryan. Porra. Price. — Olhe para você —, disse Fabian. — Você parece... enorme. 2 GAME CHANGERS #3 22 Ele era ainda mais alto do que Fabian se lembrava. Obviamente, ele provavelmente havia crescido desde os dezessete anos, mas Fabian também. Tipo de. Fabian ainda tinha que ser trinta centímetros mais baixo que Ryan. E a barba - toda a sua aparência, na verdade - deu a Ryan uma vibe rude de motociclista / viking. Quando Fabian o vira pela última vez, seu cabelo ruivo era curto e seu rosto era liso. O rosto de Ryan finalmente relaxou em um sorriso tímido. — Eu quase não te reconheci, — ele disse calmamente. Então ocorreu a Fabian que Ryan poderia estar um estranhando seu delineador e sombra (impecáveis). O pensamento por si só, justificado ou não, fez Fabian ficar um pouco mais ereto, desafiando Ryan a dizer qualquer coisa sobre isso. Mas tudo que Ryan disse foi: — Você está bem. Oh. Fabian relaxou os ombros, já que parecia que não haveria briga, e disse: — Então, o que traz Ryan Price a Toronto? O sorriso de Ryan se alargou e seus olhos ficaram mais calorosos. — Hóquei. Eu jogo para os Guardians. Bem, isso é constrangedor. — Eu provavelmente deveria saber disso —, disse Fabian. — Desculpe. Ainda não sou fã de hóquei, infelizmente. Ryan riu. — Está bem. — Por um momento, eles apenas ficaram em um silêncio constrangedor, e então ele disse: — Você ainda toca música? Fabian se iluminou. — Oh sim. Isso, — ele gesticulou para a loja ao seu redor, — é apenas minha agitação lateral. A música é o meu principal. — Como... suas próprias canções? Músicas que você escreveu? — Principalmente, sim. — Fantástico! Você faz shows? RACHEL REID 23 — Eu faço. Eu toco muito aqui no Village. Mas por toda a cidade. Às vezes, em outras cidades. Tenho um show no Farol no próximo sábado. Ryan franziu a testa. — Há um farol aqui? Ah não. Ryan Price ainda é adorável. — Não —, Fabian riu. — É um bar, aqui na vizinhança. — Oh. — O rosto de Ryan ficou rosa. — Sim, isso faz mais sentido. — Sim. O show é uma arrecadação de fundos para um abrigo e é um grande local. Isto deve ser bom. — Oh. Legal. — Ryan olhou para o chão. Em seguida, para Fabian. Então, atrás dele. — Uh, eu tenho que pegar uma receita, então... — Certo! Não me deixe impedi-lo! — Sim. Então, hum... foi bom ver você de novo. — Você também. E parabéns? Por jogar pelos Guardians? Eu entendo que isso é um grande negócio. Isso rendeu a Fabian outro sorriso caloroso. — Obrigado. — Então Ryan se virou e se dirigiu para os fundos da loja. Fabian se abraçou porquê de repente se sentiu muito exposto e estranho. Ele não esperava ver Ryan novamente, mas de repente foi transportado de volta aos dezessete anos com uma paixão confusa e ridícula pelo jogador de hóquei que morava com sua família há menos de um ano. Os pais de Fabian alojaram membros do time júnior de hóquei Halifax Breakers por anos. O jovem Fabian sempre se ressentiu disso e evitou ativamente interagir com os atletas detestáveis que invadiam sua casa a cada inverno. Para ser justo, os jogadores de hóquei também não pareciam nem um pouco interessados em Fabian. GAME CHANGERS #3 24 Exceto Ryan. Ryan tinha sido diferente, e isso desequilibrou Fabian completamente. O adolescente Fabian tinha sido todo espinhoso, incapaz de esconder sua estranheza, então ele se protegia sendo um rabugento presunçoso. Principalmente, ele apenas manteve a si mesmo, praticou sua música e dispensou qualquer um que tentou falar com ele. Um grande e idiota jogador de hóquei não poderia machucá-lo se Fabian não desse a mínima para ele. Razão pela qual Ryan era tão perigoso. Ryan, que estava na loja de Fabian agora. Algo ocorreu a Fabian: se Ryan estava pegando uma receita nesta farmácia, isso significava que provavelmente morava na vizinhança, que não era apenas onde Fabian morava, mas também era a maior vila gay do Canadá. O que não significa necessariamente nada. Mas era interessante. Poderia ser. Fabian avistou Ryan quando ele estava saindo da loja, uma pequena sacola de papel na mão. Assim que ele estava prestes a passar pelas portas, Ryan fez uma pausa e olhou para Fabian. Ryan deu a ele um sorrisinho tímido e um aceno, e então ele se foi. CAPÍ TULÓ TRÊ S Ryan olhou para frente ao entrar no avião. Ele não olhou para os parafusos no exterior da aeronave, ou a intrincada mecânica visível ao redor da porta aberta. Ele não pensou sobre o quão crucial era para cada um daqueles parafusos e fios e placas finas de metal ficarem juntos; que o menor defeito poderia causar a morte de todos a bordo. Ryan não conseguia pensar em nada disso. Em vez disso, ele repassou sua lista de pré-voo usual de pensamentos calmantes e sensatos. Milhões de pessoas voam todos os dias sem problemas. Este avião provavelmente decolou, voou e pousou centenas, senão milhares, de vezes sem problemas. O piloto não pilotaria este avião se não fosse seguro. Os comissários de bordo estão calmos, felizes e sorridentes. Este é o seu trabalho todos os dias. Seus companheiros estão calmos. Voar é mais seguro do que dirigir. Ryan sabia que todas essas coisas eram verdadeiras, mas ele não conseguia parar o medo intenso que tomava conta dele toda vez que embarcava em um avião. Ele não conseguia parar de pensar que era o único que sabia que todos a bordo estavam condenados. Que todos eles precisavam sair deste avião agora porque não podiam ver como isso era perigoso? Ryan exalou enquanto apertava seu grande corpo ao longo do estreito corredor. Seu terno parecia muito apertado. Por que eles tinham GAME CHANGERS #3 26 que usar ternos nessas viagens de avião? Ele puxou a gravata enquanto procurava por um assento vazio no corredor. — Price! Ryan olhou para a parte de trás do avião e viu Wyatt Hayes acenando para ele de trás de um assento. Ryan acenou com a cabeça em resposta e se moveu em direção a ele. — Como você está? — O tom de Wyatt era alegre. Definitivamente, não era um homem que estava preocupado em morrer hoje. — Bom como sempre, eu acho —, disse Ryan. Ele colocou sua mochila no assento ao lado de Wyatte a abriu. Ele remexeu e tirou um novo livro de bolso de um de seus autores favoritos, um pequeno frasco de Tums e um exemplar surrado de Anne of Green Gables3. Ele enfiou os itens, junto com seu telefone, no bolso do assento à sua frente, empurrou a mochila sob o assento e se sentou. — É por isso que gosto de sentar com você, Price —, disse Wyatt. — Você é um leitor. — Ele gesticulou para o bolso de seu próprio assento, onde Ryan podia ver o topo de uma grossa história em quadrinhos projetando-se. Wyatt amava histórias em quadrinhos e super-heróis. Ryan não sabia nada sobre eles. Talvez Ryan pudesse pedir a Wyatt recomendações básicas de quadrinhos. Isso seria uma coisa amigável de se fazer... — Deve ser um voo suave. Eu estava olhando para o tempo entre aqui e Nashville. — Wyatt disse isso em tom de conversa, mas Ryan sabia que estava fazendo o possível para ajudar. Talvez fosse porque ele era o 3 Anne of Green Gables é um romance da escritora canadense L. M. Montgomery, publicado em 1908. Foi escrito como ficção para leitores de todas as idades, mas nas últimas décadas tem sido considerado principalmente como literatura infanto-juvenil. RACHEL REID 27 goleiro reserva do Toronto e passava mais tempo assistindo aos jogos do que jogando, mas Wyatt era notavelmente observador e atencioso. Ryan acenou com a cabeça em resposta. Ele desejou poder encontrar conforto na previsão do tempo de Wyatt, mas realmente não havia nada que acalmasse seu cérebro. Seus remédios para ansiedade ajudaram um pouco e provavelmente eram o que o estava impedindo de sair correndo gritando do avião agora, mas nenhuma quantidade de bom senso o faria parar de imaginar os piores cenários. É um voo curto. Você estará em Nashville antes que perceba. Ryan ansiava pelos dias em que as equipes da NHL viajavam principalmente de ônibus. Quando ele jogou hóquei júnior, todas as viagens eram de ônibus. Ele sabia que estava em minoria, mas faria uma viagem de ônibus de quinze horas em um voo de duas horas qualquer dia. Ele tirou o telefone do bolso do assento e enviou uma mensagem de texto para a irmã, como fazia antes de cada voo. Disse a si mesmo que era apenas porque gostava de ouvi-la e não porque temia nunca mais vê-la. Ryan: Indo para Nashville. Colleen: Com quem você está sentado? Ryan olhou para Wyatt, que estava baixando a cortina da janela em um gesto que era quase certo para o benefício de Ryan. Ryan: Wyatt Hayes Colleen: Ele é fofo! Você deveria sair com ele! Ryan corou e inclinou seu telefone para que Wyatt definitivamente não pudesse ver a tela. Ryan: Hétero. Casado. E cale-se. Colleen: Aw. Ele é fofo, certo? GAME CHANGERS #3 28 Ryan lançou outro olhar para Wyatt, que chamou sua atenção e sorriu para ele, todo covinhas e cachos loiros. Ele era atraente, sem dúvida, mas... Ryan: Não é meu tipo. Wyatt não era aquele em quem Ryan não conseguia parar de pensar. Levou muito tempo e muita distância para que Ryan quase se esquecesse de Fabian Salah. E agora um reencontro casual em uma farmácia de Toronto, mais de treze anos depois, abriu uma comporta de memórias. Mesmo quando adolescente, Fabian era deslumbrante - longe de ser machista, e ainda mais longe de se desculpar por isso. Ele sempre foi baixo e não devia pesar mais do que 56 quilos na época, mas Ryan se sentia totalmente intimidado por ele. Ele também estava completamente apaixonado por ele. Uma comissária de bordo estava fechando e trancando a porta do avião. O estômago de Ryan apertou. Ele enviou outra mensagem para sua irmã. Decolando em breve. Tenho que ir. Colleen: Você está com Anne? Ryan sorriu e tocou com os dedos as pontas esfiapadas de sua antiga cópia de Anne of Green Gables. Ryan: Sempre. Colleen: Então você está seguro. Ryan: Eu sei. Obrigado. Colleen: Amo você. Me mande uma mensagem quando você pousar. Ryan: Ok. Te amo. Ele enfiou o telefone no bolso do assento para não correr o risco de esmagá-lo na mão durante a decolagem. Graças a Deus por Colleen. Sua RACHEL REID 29 irmã era apenas três anos mais nova do que ele, e eles foram grossos como ladrões crescendo juntos em uma cidade de menos de duas mil pessoas. Deixá-la para trás foi uma das partes mais difíceis de se tornar profissional. O avião começou a se mover e Ryan agarrou os apoios de braço. Ele fechou os olhos e fez os exercícios respiratórios. Está bem. Tudo está bem. Quando ele abriu os olhos, ele podia ver os rostos sorridentes e idiotas de Dallas Kent e Troy Barrett olhando para ele de seus assentos no corredor. Assim que ele encontrou seus olhos, eles começaram a rir. Embora várias fileiras os separassem dele, Ryan pôde ouvir Dallas dizer algo como — Parece que ele vai ter um ataque cardíaco. Idiotas. — Ei, — disse Wyatt, que provavelmente adivinhou o que estava acontecendo. — Você já jogou em Nashville? Eu esqueço. — Não —, disse Ryan. — Não joguei por nenhum time ocidental. — Ah. Achei que seria convocado por Nashville. Meu agente achou que isso iria acontecer. Mas então... Toronto. — Você ficou desapontado? Wyatt sorriu. — Um pouco. Mas então eu conheci Lisa em Toronto, então deu tudo certo. Ryan conheceu a esposa de Wyatt, uma médica, apenas uma vez, em um jantar de equipe. Ela e Wyatt se conheceram quando Wyatt estava no hospital com uma clavícula quebrada. Ryan não ficou surpreso por ter conseguido encantá-la em tão pouco tempo. — Não que eu consiga vê-la —, acrescentou Wyatt. — A única coisa pior do que casar com um jogador de hóquei é casar com uma médica. Não faça isso. GAME CHANGERS #3 30 — OK. — Já que Ryan não tinha um encontro há mais de um ano, definitivamente não era um problema que o preocupasse. O avião fez uma curva e parou, e Ryan soube que eles estavam prestes a decolar. Ele odiava essa parte. Ele odiava todas as partes, mas realmente odiava essa parte. — Você pode me dizer para calar a boca se quiser —, disse Wyatt, — mas ajuda se eu falar agora? — Sim —, Ryan rangeu. — Continue falando. — Você deveria vir comigo na próxima vez que eu visitar o centro. — Wyatt era um visitante regular de um centro comunitário em uma área de baixa renda de Toronto. Ele se divertia com as crianças, jogando hóquei no chão e distribuindo mercadorias do Toronto Guardians. — Você realmente acha que as crianças ficariam animadas em me conhecer? — Ryan perguntou duvidosamente. — Certo. Por que não? — Eles não preferem conhecer Kent? Ou Barrett? — Ryan acenou com a cabeça na direção dos dois idiotas que por acaso também eram NHL All-Stars. — Eu não acho que esses idiotas devam ser permitidos dentro de cem metros de crianças. Ou qualquer um. Influências ruins. O motor do avião rugiu para a vida e saltou para a frente, e Ryan fechou os olhos e listou as equipes da NHL em ordem alfabética em sua cabeça. Em segundos, ele sabia, isso estaria acabado. Ele só precisava passar por isso. — Quero dizer, eles têm recebido visitas do goleiro reserva, então tenho certeza que um defensor que joga minutos reais seria emocionante RACHEL REID 31 para eles, — Wyatt continuou, educadamente ignorando o crescente estado de angústia de Ryan. — Além disso, você é enorme. As crianças adoram isso. Ryan fez uma careta, mas se forçou a responder. — As crianças têm medo de mim. — Nah. Você é como Chewbacca4. Eles vão adorar você. Por algum milagre, Ryan realmente riu enquanto estava em um avião durante a decolagem. — Muito obrigado. Wyatt continuou falando, contando a ele sobre algumas das crianças que ele conheceu durante suas visitas. Ryan não respondeu muito, mas ouviu atentamente. Depois de alguns minutos de Ryan ouvindo em silêncio com os olhos bem fechados, Wyatt disse: — Acho que nivelamos, a propósito. Ryan abriu um olho e depois o outro.Sempre o surpreendia como todos ao seu redor pareciam calmos em um avião. Seus companheiros de equipe estavam apenas conversando e brincando, ou colocando fones de ouvido, ou virando suas mesas para jogar cartas. Alguns estavam dormindo. Ryan não conseguia nem imaginar estar relaxado o suficiente para dormir em um avião. — Conseguimos! — Wyatt sorriu para ele. — Ótimo —, disse Ryan com firmeza. Nada para se preocupar quando você estiver a 12 mil metros de altitude. Wyatt balançou a cabeça. — Eu não posso acreditar que você se colocou nisso. É sempre tão ruim assim? 4 GAME CHANGERS #3 32 Às vezes é pior. — Sim. Isto é. — Não há uma pílula ou algo que você possa tomar? — Eu pego algo. Tipo de. — Ryan realmente não queria entrar em detalhes sobre seus remédios ou terapia para ansiedade. Não fazia sentido estranhar o único cara da equipe que parecia gostar de conversar com ele. Ele decidiu mudar de assunto. — O que você está lendo? Wyatt tirou seu livro colorido do bolso do assento. — É uma coleção de quadrinhos Mister Miracle de Jack Kirby. Foi uma série que saiu de seus quadrinhos do Quarto Mundo para a DC. Coisas incríveis. Ryan nunca tinha ouvido falar de Jack Kirby, Mister Miracle ou do Quarto Mundo, então ele apenas balançou a cabeça. — Se você quiser algum livro emprestado, me avise. Minha coleção é bem ridícula neste momento. Nosso porão é basicamente minha sala de quadrinhos agora. Você deveria vir e ver alguma hora. — Claro, sim. Isso seria legal. — Provavelmente também nunca aconteceria, mas Ryan não disse isso. — Você já se mudou para o seu novo lugar? — Sim. Ainda preciso comprar móveis para a maioria dos quartos, mas estou dentro. — Legal. Apartamento, certo? Centro da cidade? — Sim. — Ryan sabia que poderia estar fazendo um trabalho melhor com as idas e vindas dessa conversa, mas não queria dizer a Wyatt onde ficava seu prédio. Não que morar em um arranha-céu no coração da vila LGBTQ de Toronto significasse algo necessariamente - era um bairro no centro da cidade com propriedades caras onde muitas pessoas diferentes viviam - mas Ryan sabia com certeza que nenhum de seus companheiros de RACHEL REID 33 equipe morava lá, então seu endereço poderia levantar questões. E Ryan não gostava de responder a perguntas. O avião deu um solavanco e ele agarrou os apoios de braço. Normal. Isso tudo é normal. Como um solavanco na estrada. Como ondas sob o barco do seu tio. Você está seguro. Ele tentou imaginar isso por um tempo, que ele estava em um barco em vez de um avião. Ele cresceu em barcos em Ross Harbor, Nova Scotia. O pai e os irmãos de sua mãe eram todos pescadores de lagosta, e quase todos na pequena aldeia possuíam algum tipo de barco. Os barcos confortavam Ryan, embora provavelmente fossem estatisticamente mais perigosos do que os aviões. Pensar em barcos fez com que o cérebro de Ryan evocasse uma de suas memórias favoritas: uma noite fria de abril, perto o suficiente de Fabian para que seus braços se roçassem enquanto os dois garotos se apoiavam no parapeito da balsa Halifax-Dartmouth e observavam um navio de contêiner gigante passar na frente eles. Seu casco maciço havia escurecido as luzes da cidade do outro lado do porto, e Ryan disse algo embaraçoso sobre se sentir pequeno. Fabian respondeu algo, mas Ryan só conseguia se lembrar do jeito que Fabian sorriu para ele. Aquele sorriso. Foi tão doce e tímido. Ryan não sabia - nunca saberia - se ele tinha imaginado o convite nos olhos de Fabian. Se eles realmente tivessem se aproximado um do outro. Se Fabian tinha inclinado ligeiramente a cabeça e aberto os lábios... GAME CHANGERS #3 34 Quando Ryan abriu os olhos, ele pôde ver que Kent e Barrett estavam sorrindo para ele novamente. Eles se viraram assim que ele encontrou seus olhos, porque os dois eram covardes. Ryan tirou o livro do bolso do assento, determinado a ignorar seus companheiros idiotas de equipe e a parar de sonhar acordado com Fabian. E a maquiagem dos olhos de Fabian. Ryan não estava preparado para ver Fabian com os olhos pintados assim - sombra verde-jade e delineador preto alado que tornava os olhos castanhos escuros e longos cílios que o encantaram quando adolescente ainda mais impressionantes. Era uma imagem que ele não esqueceria tão cedo. Deus, ele parecia bem. Ele não era muito mais alto do que quando adolescente, mas sua mandíbula era mais afiada, seu peito e ombros mais largos. Ele ainda era muito magro, mas era o corpo de um homem. Quando Fabian cruzou os braços sobre o peito, Ryan pôde ver a ligeira protuberância de músculo magro em seus braços. Não. Pare de pensar em Fabian. Fabian, o primeiro garoto que ele quase beijou. O primeiro garoto que ele queria desesperadamente beijar. Fabian mencionou um show que ele estava fazendo. Em um lugar chamado Farol? Ryan tinha certeza de que disse que era no próximo sábado. Ryan estava jogando um jogo em Toronto naquela noite, mas talvez acabasse cedo o suficiente para que ele pudesse conferir o show de Fabian. Mas Ryan não poderia ir para isso, não é? Não é como se Fabian o tivesse convidado. Seria estranho se Ryan aparecesse. O que ele diria? Oi, RACHEL REID 35 sou eu. O cara com quem você provavelmente estava apenas sendo educado na farmácia outra noite. Estou perseguindo você agora. Não. Absolutamente não. Mas ele disse que era uma arrecadação de fundos. Talvez Ryan devesse ir. Como um cidadão bom e caridoso. Isso não seria estranho. Certo? Bom Deus. Ryan estava perdendo a cabeça. E isso certamente não era algo que ele pudesse fazer. De novo não. CAPÍ TULÓ QUATRÓ Fabian piscou acordado e teve que abafar um gemido quando viu contra quem estava aconchegado. Todos os eventos da noite anterior vieram à tona. Fabian está se divertindo muito na festa de Halloween de Ian. Fabian encontrando Claude na festa. Claude parecia tão fodidamente bom em uma camisa jeans escura de corte justo e jeans pretos justos, porque Claude era muito legal para fantasias. A respiração de Claude fazendo cócegas na orelha de Fabian quando ele se inclinou para dizer o quanto sentia falta dele, seu sotaque quebequense soando muito menos ridículo do que quando Tarek fez sua impressão sobre ele. A mão de Fabian deslizou para a de Claude, como se ele não tivesse controle sobre ela. E então Claude voltando para casa com ele, de volta ao apartamento que, embora fosse uma merda, Fabian não precisava dividir com ninguém. Muitas vezes sentia que Claude gostava mais dele porque tinha um lugar só para si. Eles ficaram para sempre na cama de Fabian, e Claude disse a ele que ele sentia falta dele. No momento, isso parecia ótimo. Parecia ótimo novamente mais tarde, quando Claude estava transando com ele. Mas agora... Fabian se afastou cuidadosamente de Claude, não querendo acordá- lo. Ou talvez devesse acordá-lo para que Claude fosse embora. Fabian estudou o rosto de Claude. Quando ele estava dormindo em vez de falar, Claude estava... Oh Deus, ele era bonito. Seu sedoso cabelo castanho estava cobrindo o olho que não estava escondido pelo travesseiro, e seus lábios carnudos RACHEL REID 37 estavam separados. Os lábios de Claude eram... bem, eles eram uma distração. Ele tinha um corpo de artista, esguio a ponto de quase parecer desnutrido. Sua pele era pálida, como um vampiro jovem e sexy. E ele pode muito bem ter sido um, porque Fabian certamente parecia estar enredado por ele. Fabian pegou seu telefone na mesa de cabeceira. A tela estava cheia de mensagens perdidas de Vanessa. Eu vi você sair da festa com o Claude. Você foi para casa com o Claude??? VOCÊ DORMIU COM CLAUDE??? FABIAN! VOCÊ ESTÁ FAZENDO SEXO COM CLAUDE AGORA??? Pare de fazer sexo com Claude, Fabian. Agora mesmo. Droga.ESTAMOS FALANDO SOBRE ISSO no Bargain Brunch. Não traga Claude. Tudo bem. Você pode trazê-lo. Mas ele não tem permissão para falar. Torne isso CLARO. Fabian bufou com o último, o que fez Claude despertar. — Foda-se, — Claude resmungou. — Que horas são? — Nove e meia—, disse Fabian. Claude fez uma careta como se as nove horas fossem a coisa mais nojenta do mundo. Fabian queria que ele fosse embora. Ele queria apagar toda essa má decisão. — É dia de Bargain Brunch —, disse Fabian. — Você pode vir se quiser. — Deus, não. GAME CHANGERS #3 38 — Bem, estou saindo em breve, então... — Tudo bem. — Claude fez uma grande produção ao se arrastar da cama para o banheiro. Quando ele voltou, ele começou a procurar agressivamente por suas roupas. — Porra, onde estão meus cigarros? — Eu não sei, mas você não está fumando aqui. Claude agarrou sua calça jeans do chão. — Eu sei. — Ele olhou ao redor. — Eu tinha uma jaqueta. — Na cadeira, — Fabian disse prestativamente. Ele queria que Claude fosse embora para que ele pudesse tomar um banho. Ele estava mais do que pronto para lavar os pecados - e o brilho residual - da noite anterior. Claude parou de se vestir mal-humorado e estendeu a mão para Fabian. Fabian suspirou e deu um passo em seu abraço. — Podemos continuar fazendo isso —, disse Claude com aquela voz irritantemente sexy. — Pode ser apenas casual. — Não posso continuar fazendo isso —, disse Fabian. — Não é o que eu quero. Temos que parar. — Você diz isso, mas... Ele balançou sua cabeça. — Quero dizer. Te vejo por aí, certo? Claude deu um passo para trás e deu-lhe um sorriso desagradável e conhecedor. — Tenho certeza que você vai. Fabian se amaldiçoou depois que Claude fechou a porta atrás dele. Ele finalmente terminou para sempre com Claude, e então ele topou com o maldito Price de Ryan, de todas as malditas pessoas. Tipo, que porra é essa, universo? Oi, Fabian. Lembra daquele jogador de hóquei pelo qual você era obcecado quando tinha dezessete anos? Bem, aqui está ele! E ele é um sonho molhado de lenhador gigante e sexy agora! RACHEL REID 39 Não que ver Ryan tivesse algo a ver com dormir com Claude novamente. Ok, Fabian prometeu a si mesmo ao entrar no boxe sujo do chuveiro, chega de Claude. Chega de pensar em Ryan Price. Apenas música e coisas normais e saudáveis de agora em diante. Os amigos de Fabian tinham uma tradição semi-regular de domingo, que carinhosamente chamavam de Brunch Bargain. Os três componentes principais eram: waffles congelados, máscaras de pele baratas da drogaria e fofoca. Todos trouxeram uma cobertura que achavam que elevaria os waffles congelados à alta gastronomia. Depois da semana que Fabian teve, amigos e tratamentos faciais foram exatamente o que o médico receitou. Ele bateu a campainha da porta de um apartamento que ficava ao lado de uma loja de vapor e ouviu passos descendo as escadas imediatamente. Quando a porta se abriu, ele foi saudado por uma Vanessa muito entusiasmada. — Fabian! Yay! — Ela disse, e jogou os braços ao redor dele. Fabian riu e a abraçou de volta. — Sentiu minha falta desde a noite passada? — Você cheira a Claude. — Foda-se. Não, eu não. — Você faz. Você cheira a cigarro e condescendência. — Cale-se. O Brunch Bargain foi oferecido por Vanessa, Marcus e Tarek, que viviam platonicamente juntos em um apartamento de dois quartos que eles haviam convertido em um apartamento de três quartos. Convertido talvez fosse uma palavra muito sofisticada para definir isso: a sala de estar GAME CHANGERS #3 40 também era o quarto de Marcus. Vanessa levou Fabian escada acima e pela porta da frente que dava diretamente para a sala de esta/quarto de Marcus. Fabian tirou sua mochila enquanto se dirigia ao futon onde Marcus e Tarek já estavam sentados. — O que você trouxe? — Perguntou Tarek. — Peras. — E... Fabian tirou quatro pacotes finos de sua mochila. — Máscaras! Eu tenho argila, abacate, algas marinhas e, uh... oh, toranja. — Ele os espalhou na mesa de centro como cartas de jogar. — O que as algas marinhas fazem? — Marcus perguntou. — Hidrata, nutre e faz você brilhar como Zendaya —, disse Fabian, com toda a autoridade de alguém que trabalhava na seção de cosméticos de um Savers Drug Mart5. — Vendido. — Marcus se inclinou para frente e agarrou a máscara de algas marinhas. Ele realmente não precisava de nenhuma ajuda para brilhar; sua pele escura era perfeita. Vanessa saiu da cozinha com quatro canecas, que alinhou na mesinha de centro. Marcus deu um pulo e foi até a geladeira para pegar um pote de suco de laranja e uma garrafa gelada de “champanhe” canadense Baby Duck. — A chaleira está fervendo para fazer chá e café —, disse Vanessa. Ela se deixou cair na poltrona gasta em frente ao futon, colocando uma perna sobre o braço. — Mimosa para mim, Marcus. 5 Savers, Inc. sediada em Bellevue, Washington, EUA, é uma brechó privado sem fins lucrativos que oferta uma cadeia de compras de produtos de segunda mão. https://en.wikipedia.org/wiki/Bellevue,_Washington https://en.wikipedia.org/wiki/Second_hand RACHEL REID 41 Marcus encheu cuidadosamente as canecas com Baby Duck e suco de laranja e as distribuiu. Fabian mal tomou um gole quando Vanessa disse: — Não acredito que você fodeu com Claude de novo. Fabian estreitou os olhos para ela. — Momento de fraqueza, — ele resmungou. — Achei que ele estava se mudando de volta para Montreal —, disse Tarek. — Bem, ele ainda não fez. Obviamente. E toda vez que o vejo eu simplesmente... esqueço por que ele é uma merda. — Eu poderia fazer uma lista para você —, Vanessa ofereceu prestativamente. — E você pode carregá-la com você. — Tudo bem. — Um! — Disse ela, ignorando-o. — Ele não tem absolutamente nenhum interesse em você ou em qualquer coisa que você faça. — Ele... está interessado em mim. Às vezes. — Dois —, Marcus saltou. — Ele odeia o Brunch Bargain. Fabian apertou os lábios para não sorrir. — Três, — disse Tarek. — Ele é um esnobe. — Tudo bem, entendi. — Quatro. — Marcus novamente. — Ele é um cineasta péssimo em fazer filmes. Fabian teve que engolir seu gole de mimosa rapidamente para se impedir de cuspir. — Cinco —, disse Vanessa. — Ele reclama quando a comida não é orgânica, mas fuma cigarros. GAME CHANGERS #3 42 Fabian estava rindo agora. Ele não pôde evitar. — Cale-se. Eu sei que ele é horrível, certo? Ele está apenas... lá. E eu meio que precisava de alguém na noite passada. Vanessa parou de provocá-lo. — O que há de errado, bebê? — Nada realmente. Só estou exausto, um pouco. Fiz alguns turnos extras na drogaria esta semana e estou tentando terminar algumas músicas novas. E me preparando para o show de arrecadação de fundos que estou fazendo neste sábado. — Oh, certo! Eu estarei lá com certeza —, disse Vanessa. — Eu não trabalho no sábado! — Ela trabalhava em uma loja de brinquedos sexuais de propriedade de lésbicas muito legal no Village, a apenas alguns quarteirões de seu apartamento. — Estou trabalhando nessa noite —, disse Marcus. — Desculpe. — Isso não foi surpresa; ele era bartender na Force, a maior boate gay da cidade. — Sem problemas. — Eu posso ir, — Tarek disse. Ele era o único dos quatro que trabalhava das nove às cinco. Ele trabalhava como assistente de escritório para uma organização de serviços de imigração. — Legal. É uma boa escalação. — Sim, mas você é quem eu vou ver, — disse Tarek. — É ele que todo mundo vai ver —, disse Vanessa. — Como se —, disse Fabian. Ele tomou um gole de mimosa de sua caneca cafona de souvenir das Cataratas do Niágara. — Acho que posso estrear uma nova música no show. — Yay! — Disse Vanessa. — Oh meu Deus, é tão lindo? Eu vou chorar? RACHEL REID 43 — Provavelmente. — Eu vou chorar totalmente.Eu ainda choro sempre que você toca 'Ravine'. — Essa música tem oito anos, Van. — Cada. Tempo. Mais tarde, depois que seus waffles foram comidos e a garaffa de Baby Duck estava vazia, os quatro amigos vadiaram com máscaras de pele no rosto. — Eu sei que pergunto isso todas as semanas —, disse Tarek, — mas é para queimar tanto? — Sim —, disse Fabian. — Queima porque seu rosto é uma merda. Tem que trabalhar muito duro para consertar. Tarek o ignorou. — Oh! — Vanessa disse de repente. — Eu tenho algo para você, Fabian. — Ela agarrou sua bolsa carteiro do chão. Estava coberto de remendos e botões que a identificavam ruidosamente como a feminista gay positiva que ela era. — Vibra? — Além de trabalhar em uma sex shop, Vanessa também tinha um blog de resenhas de brinquedos sexuais razoavelmente popular. Não era incomum para ela coagir seus amigos a serem testadores de produtos. — Querida, faz muito mais do que isso. — Ela tirou uma caixa roxa brilhante de sua bolsa e entregou a ele. — Certifique-se de me dizer o que você pensa. — Eu tenho que? — Fabian tirou a máscara, amassou-a em uma bola e a colocou em seu prato de waffle vazio. GAME CHANGERS #3 44 — Vamos. Não tenho tempo para revisar todos esses brinquedos sozinha! E não é como se eu tivesse próstata! — Você ganha pontos de bala —, disse ele. — Se eu usar a coisa. — Você vai usar. Ele faz todas as coisas. E é roxo! — Isso... torna melhor? — Isso torna mais bonito. É um amante melhor do que Claude, provavelmente. Fabian olhou para ela. — Mais agradável para conversar, com certeza, — ela acrescentou, sorrindo. — Melhores postagens no Instagram. — De qualquer forma —, disse Fabian, desesperado para mudar de assunto para qualquer outra coisa. — Como foi o trabalho ontem à noite, Marcus? Ele revirou os olhos dramaticamente. — Exaustivo. Eu odeio quando o Halloween é uma quinta-feira porque o transforma em um festival de uma semana. O clube estava lotado de garotos quase ilegais com chifres de diabo sendo desleixados por toda parte. Eu estava tão cansado quando finalmente fechamos que não pude nem me dar ao trabalho de ir para casa com o cara que parecia Ezra Miller6 que esteve flertando comigo a noite toda. — Trágico —, disse Fabian. — Ninguém se parece com Ezra Miller, exceto Ezra Miller, mas tudo bem, — acrescentou Tarek. 6 RACHEL REID 45 — Ele era gostoso, gostava de mim, recusei. — Marcus olhou carrancudo para eles. — Agora estou comendo waffles com vocês, babacas, em vez de compartilhar um banho matinal com o Ezra-light. — Mm, — disse Tarek. — Eu ia transar com Nick Jonas7 ontem à noite, mas não queria. — Porra. Você, — disse Marcus. Mas ele estava rindo. Fabian quase mencionou ter encontrado Ryan para seus amigos, mas era muito confuso para explicar e muito insignificante para se preocupar com isso. Ele encontrou alguém que não via há mais de uma década, e agora provavelmente nunca o veria novamente. O fim. Não é como se ele tivesse pensado em Ryan desde que o encontrou. Não é como se ele estivesse secretamente procurando por ele sempre que caminhava pelo Village. Deus. O suficiente. Ryan era jogador de hóquei. Ele usava uma daquelas camisetas azuis que Fabian odiava tanto para trabalhar. E Fabian não precisava de nenhuma distração agora, não importava quão altos fossem ou quão adorável fosse seu sorriso. Então, ele agradeceu a seus amigos por mais um momento adorável, pegou sua bolsa - agora mais pesada, graças ao vibrador - e foi para casa para se perder na música. E, ele supôs, se ficasse entediado, tinha um novo brinquedo para brincar. 7 CAPÍ TULÓ CÍNCÓ Ryan colocou a mão em volta do braço do outro homem, puxando-o para perto com firmeza. Ele baixou a cabeça e aproximou os lábios do ouvido do homem. — Tem certeza que quer fazer isso, garoto? Quando Ryan se afastou, ele pôde ver o medo nos olhos do jovem. Inferno, ele podia sentir o cheiro saindo dele em ondas. — F-foda-se, — o homem cuspiu. Então Ryan deu um soco no queixo dele. E a multidão foi à loucura. Ryan esperava que um soco resolvesse o problema e o jogador mais jovem caísse no gelo. Então os árbitros poderiam intervir e terminar, o garoto diria que lutou com Ryan Price, e Ryan não teria que machucar esse novato tanto. Mas a criança não caiu. Em vez disso, ele puxou o punho direito e bateu no ombro de Ryan, que provavelmente não era para onde ele estava mirando, porque Ryan podia ouvir os nós dos dedos estalando contra o plástico rígido de seu ombro. O garoto - um novato de 22 anos em Minnesota chamado Corkum - olhou horrorizado para o próprio punho por um segundo e depois voltou os olhos arregalados para o rosto de Ryan. Ryan deu de ombros e deu a ele um olhar de desculpas antes de acertar um segundo soco no lado direito de seu rosto. Desta vez, Corkum atingiu o gelo. Ryan fez um show cobrindo-o com seu corpo muito maior e puxando seu braço para trás como se fosse bater nele novamente. Ele não iria - o garoto estava pulando agora, e Ryan nunca RACHEL REID 47 bateria em um cara naquela posição - mas ele queria chamar a atenção do árbitro. Funcionou. Em um momento, um dos bandeirinhas estava puxando Ryan rudemente de Corkum. A multidão gritava agora enquanto Ryan era conduzido para a área do pênalti. — Pague. O. Preço. Ryan odiava esse canto. Verdadeiramente, e profundamente desprezado. Isso o acompanhou desde seus dias júnior de hóquei até os oito times diferentes da NHL em que ele havia jogado, e agora para seu nono time. — Pague. O. Preço. Ele se acomodou na caixa, tirou o capacete e sacudiu o cabelo comprido e suado. — Estava começando a sentir sua falta —, brincou o atendente da caixa de penalidade. Gerald estava na casa dos sessenta e era mais falante do que a maioria dos assistentes da liga. Ryan saberia; ele estava muito familiarizado com eles. — Você vai estar esperando uma proposta em breve, aposto —, disse Ryan. — Todo esse tempo juntos sozinhos. Gerald riu, mas Ryan se perguntou quantas horas de sua vida haviam sido gastas em caixas de pênaltis. Quantos dias, se ele somasse todos os intervalos de dois e cinco minutos. Bem, menos do que Gerald. Pode ser. Quando a multidão se acalmou e a jogada começou, Ryan ouviu Corkum gritando com ele de sua própria área. — Ei, Price! — Sim? GAME CHANGERS #3 48 — Obrigado! — Corkum estava radiante e enrubescido como se tivesse acabado de fazer o melhor sexo de sua vida. Ryan bufou e balançou a cabeça. — Você fez a noite dele! — Gerald disse alegremente. — Ele é um idiota —, Ryan resmungou. Ele pegou uma garrafa de água e esguichou na cabeça, em seguida, penteou o cabelo úmido com os dedos, puxando-o para longe do rosto antes de colocar o capacete de volta. Não era incomum que jogadores jovens o desafiassem para lutas; Ryan era conhecido por ser um dos lutadores mais duros da liga. Um jovem pode rapidamente ganhar um pouco de respeito desafiando-o. No entanto, era provavelmente o tipo de luta menos favorito de Ryan. A última coisa que ele queria fazer era machucar alguém de verdade, então ele teve que se concentrar em puxar seus socos e ter certeza de que eles não pousassem na têmpora do cara ou em seu nariz ou olhos. Com um metro e noventa e quase duzentos e sessenta libras, Ryan era geralmente o maior cara do gelo, então lutas equilibradas eram raras. Ryan inspecionou sua mão esquerda antes de colocar as luvas de volta. Ele provavelmente teria alguns hematomas nos nós dos dedos, mas nada sério. Ele estava mais preocupado com o fato de que suas costas o estavam incomodando novamente. Ele olhou para o relógio. Ele duvidava que veria mais tempo no gelo esta noite; seu time estavacom dois gols faltando pouco mais de oito minutos para o fim, e ele havia feito seu trabalho durante a noite. Quando os cinco minutos se passaram e o jogo parou, Gerald abriu a porta para deixar Ryan sair da grande área. Ele rapidamente fez seu RACHEL REID 49 caminho para o banco de Toronto, onde se colocou entre seu companheiro de linha defensiva Marcel Houde e Wyatt. — Boa luta, Pricey —, disse Marcel indiferente quando Ryan se sentou ao lado dele. — Obrigado. — Ryan não se importou com a falta de entusiasmo; não tinha sido, na verdade, uma boa luta. Mas lutar era tudo que seus companheiros esperavam dele, e se ele não recebesse agradecimentos superficiais por socar pessoas, Ryan nunca ouviria elogios. — Quem você acha que as estrelas serão? — Wyatt perguntou com um sorriso. — Não sei. Pode ser... — Quero dizer, — Wyatt continuou, — obviamente a primeira estrela do jogo serei eu, mas quem será a segunda estrela? Ryan riu. — Você e eu, amigo. Um e dois. Wyatt balançou a cabeça. — Eu sou um, o Zamboni é dois. Você é o três. — Vou atender —, disse Ryan. O jogo estava agora no último minuto e Ryan percebeu que estava de bom humor. Seu time iria vencer em casa, e demoraria dias até que ele inevitavelmente começasse a se preocupar com o próximo voo que precisava embarcar. O jogo terminou e Ryan juntou-se aos seus companheiros no gelo para comemorar. Wyatt, em seu boné e uniforme limpo e seco, havia iniciado sua rotina habitual. — Whoosh, essa foi uma pergunta difícil, meninos. Não poderia ter feito isso sem mim! Onde estamos bebendo? GAME CHANGERS #3 50 A celebração continuou no vestiário. Ryan se sentou em sua baia em um canto e silenciosamente removeu seu equipamento enquanto seus companheiros gritavam e faziam planos para mais tarde naquela noite. Foi Wyatt quem pensou em perguntar a ele. É claro. — Você vai sair com a gente? — Wyatt, que não havia jogado e, portanto, não precisava de um banho, já estava vestido com um terno cinza escuro, pronto para deixar a arena. — Oh, uh, eu acho que vou para casa, na verdade. Eu... — Ryan não terminou a frase porque não queria contar a Wyatt sobre seus planos. Ele decidiu ir ver o show de Fabian naquela noite. Ele havia lutado com a ideia durante toda a semana e finalmente decidiu que seu desejo de ver Fabian se apresentar superava sua ansiedade em sair. Felizmente, Wyatt não exigiu uma explicação. Ele não esperava que Ryan aceitasse seu convite de qualquer maneira. Ryan tinha certeza disso. — Vejo você na segunda-feira, então —, disse Wyatt. — Tenha um bom dia de folga. — Certo. OK. Você também. Ryan precisava se apressar. Já passava das dez horas. Ele tomou o banho mais rápido de todos os tempos e amaldiçoou a regra de usar ternos fora da arena depois dos jogos. Ele não teria tempo de parar em casa para se trocar; como era, ele precisava puxar o rabo para o clube e esperar que ele não tivesse perdido o set de Fabian inteiramente. Quando Ryan chegou ao Farol, Fabian já estava no palco, mas parecia que ele estava apenas se preparando. A sala estava cheia, o que era bom tanto para a instituição de caridade para a qual o show estava arrecadando dinheiro, quanto para Ryan, porque ele preferia que Fabian não o visse. Ele RACHEL REID 51 não queria que ninguém o visse, realmente. Especialmente porque ele estava vestindo um terno completo, o que o fez se destacar ainda mais do que ele faria de qualquer maneira. Todos na sala estavam vestidos casualmente, mas de uma forma que sugeria que suas roupas foram cuidadosamente montadas. Ele viu de tudo, desde camisas de botão com estampas chamativas até macacões, camisetas brancas lisas e jeans skinny. Definitivamente, nenhum outro terno, no entanto. Ele ficou no fundo da sala escura, ciente de seu tamanho e não querendo bloquear a visão de ninguém, e observou Fabian mexer em uma configuração de aparência complicada que incluía vários pedais de piso, um laptop e um teclado. Ele também podia ver a caixa do violino de Fabian no chão atrás dele. Fabian moveu-se rápida e eficientemente entre cada um dos componentes, ocasionalmente conversando com as pessoas na plateia perto do palco. Ryan o viu sorrir e rir, e ele ficou impressionado com o quão surreal era vê-lo novamente como um adulto bonito e confiante. E isso foi antes mesmo de Fabian começar a se apresentar. A primeira música começou com uma faixa de bateria simples que Fabian tocou em seu laptop. A isso ele adicionou camadas de música do teclado, que parecia gravar e repetir usando os pedais de chão. Quando ele estava satisfeito com o som, ele adicionaria outra camada, construindo uma parede de som sozinho. Ele se afastou do laptop e do teclado e pegou seu violino, e quando se colocou na frente do microfone, Ryan sentiu como se o vento tivesse sido tirado dele. Fabian ficou sozinho sob as luzes do palco em uma camisa preta transparente, calças pretas elegantes e vários colares brilhantes. Ele também estava usando uma maquiagem dramática - Ryan GAME CHANGERS #3 52 podia dizer, mesmo do fundo da sala - e tudo o fazia parecer uma criatura mítica ou um anjo. Ryan pode ter engasgado um pouco quando Fabian trouxe o arco para o violino e tocou as primeiras notas. Ryan adorava ouvi-lo praticar seu instrumento com devoção quando adolescente, e ouvi-lo novamente agora era desconcertante. A melodia lenta e sonhadora foi gravada e repetida com os pedais, e então Fabian apoiou o violino e seu arco ao lado do corpo, um item em cada mão. Ele se virou para o microfone, fechou os olhos e cantou. Foi a coisa mais linda que Ryan já tinha ouvido; assombrando de uma forma que enviou faíscas dançando na espinha de Ryan e em seu abdômen. A voz de Fabian era suave e alta, mas também clara e confiante. A música provavelmente poderia ser chamada de pop, mas era tão complexa que Ryan não tinha certeza se se encaixava em qualquer categoria. As letras de Fabian eram enigmáticas, mas também inconfundivelmente sexy. Ryan não conseguiu acompanhar a história da música, mas ele definitivamente sentiu cada palavra. Ele prendeu a respiração, não querendo fazer o menor som que pudesse competir com o presente perfeito que Fabian estava dando ao público. Ryan não conseguia acreditar que isso estava realmente acontecendo na sua frente e que havia pessoas no mundo que não estavam aqui testemunhando o que era certamente a conquista mais impressionante da humanidade. A música terminou, o público explodiu em gritos e Ryan, boquiaberto, quase se esqueceu de aplaudir. E então ele percebeu que era apenas a primeira música. RACHEL REID 53 — Obrigado, — Fabian disse baixinho, como se ele não tivesse acabado de fazer algo completamente incrível. — Essa próxima música é nova. Ainda não dei um nome, mas queria experimentá-lo esta noite, se estiver tudo bem para vocês. Houve aplausos dispersos e alguns gritos de agradecimento. Ryan considerou, enquanto caminhava para o clube, apenas ficar por uma ou duas músicas, mas não havia nenhuma maneira de ele ir a lugar nenhum agora. Ele ficou parado, mal se movendo, pelo tempo que Fabian demorou para terminar seu set. Trinta minutos? Quarenta? Ryan não tinha ideia de quanto tempo havia passado porque ele estava paralisado. Quando a última música terminou, Fabian meio que se curvou e jogou beijos para a multidão. O show acabou e Ryan deveria ir embora, mas agora ele realmente queria falar com Fabian. Só para dizer a ele o quanto havia gostado do show. Fabian pulou do palco e Ryan o perdeu de vista por um tempo. Ele considerou pegar uma cerveja, ou talvez encontrar uma mesa para se sentar, agora que algumas pessoas estavam começando a sair. Em vez disso, ele se encostou na parede e ficou olhando para o chão por alguns minutos, apenas para evitar a busca obsessiva de Fabian na multidão. Provavelmentevinte minutos depois, Ryan viu Fabian parado sozinho ao lado de uma mesa vazia, bebendo água de uma garrafa. Ryan decidiu que essa era sua chance e deu um passo em sua direção. Ele passou a mão rapidamente pela barba, esperando que parecesse bem. Ele parou no meio do caminho quando viu um homem envolver os braços em torno de Fabian. Fabian sorriu para o homem e beijou-o rapidamente na boca. O homem era atarracado, com a pele um pouco mais GAME CHANGERS #3 54 escura do que a de Fabian, e usava uma roupa estilosa completa com óculos de aro escuro. Ele era fofo. E é claro que Fabian tinha um namorado adorável. A mão do homem ficou no braço de Fabian enquanto conversavam. Possessivo, pensou Ryan. Ele não o culpou. Mas ele o odiava um pouco. Jesus. O que diabos deu a ele o direito de pensar mal do namorado de Fabian? Ryan não conhecia o cara. Ryan não conhecia Fabian. Ryan precisava sair deste bar. Ele não pertencia aqui. Foi por isso que ele nunca foi a lugar nenhum. Era por isso que ele estava tão sozinho. Ele estava prestes a se virar quando Fabian de repente olhou para ele. Merda. O rosto de Fabian se abriu em um sorriso e ele bateu suavemente no braço do outro homem antes de ir até Ryan. — Eu pensei que era você —, disse Fabian. Ele ainda estava sorrindo - um sorriso cheio e encantado que mostrava seus dentes. Ryan percebeu que sua boca estava meio aberta, como um peixe morto. — Oi. Eu, hum, estava apenas - você mencionou que estava tocando aqui. Esta noite. Quando conversamos na semana passada. Então, hum... Fabian se aproximou. — Eu lembro. Eu não esperava que você realmente viesse. — Desculpe. Eu provavelmente não deveria ter... — Não! Não, estou feliz que você esteja aqui. É... muito doce. Na realidade. — Oh. RACHEL REID 55 — Eu talvez devesse ter sido mais claro sobre o código de vestimenta. — O olhar de Fabian varreu o terno cinza claro de Ryan e seus lábios se torceram em um sorriso provocador. — Vim direto da arena. Eu não tive tempo para mudar. Eu sei que estou ridículo. — De jeito nenhum. Por alguns segundos, eles ficaram em silêncio, e Ryan queria tanto fugir, como estender a mão e tocar o rosto lindo de Fabian com os dedos. Estando tão perto quanto eles estavam, Ryan agora podia ver claramente a arte de sua maquiagem; as pálpebras de Fabian estavam pintadas em camadas esfumadas de preto e prata, e havia um pó cintilante iridescente em seu rosto que destacava suas maçãs do rosto acentuadas. — Você gostou do show? — Fabian perguntou. Foda-se, Ryan. Quão rude você é? — Santo Deus. Sim, foi irreal. Você é muito bom. Fabian apertou os lábios e disse: — Obrigado. Ryan queria dizer mais, mas não conseguia encontrar as palavras certas para descrever o quão incrível era a música de Fabian. Em vez disso, ele disse: — Bem, devo deixar você voltar para... — Venha se sentar com a gente —, interrompeu Fabian. — Você pode conhecer meus amigos. Eu tenho ingressos para beber. O que você quer? — Oh. Você não tem que... — Vamos. Você pode me contar um pouco mais sobre como eu fui ótimo. Ryan riu disso. — OK. GAME CHANGERS #3 56 Fabian o levou de volta ao homem que ele estava abraçando, beijando e tocando alguns minutos atrás. — Este é meu amigo, Tarek. Ele mora com meus outros amigos, Vanessa, que está aqui... em algum lugar... e Marcus, que não está aqui porque está trabalhando hoje à noite. Amigo. — Prazer em conhecê-lo, Tarek. — Ryan estendeu a mão. — Ryan. O rosto de Tarek expressou claramente que ele não tinha ideia de quem era Ryan, mas não de uma forma rude. — Ryan —, ele repetiu de volta enquanto apertava sua mão. — Ryan morava com minha família —, explicou Fabian. — Quando nós dois tínhamos dezessete anos. — Oh! — A compreensão surgiu no rosto de Tarek. — Você é um jogador de hóquei! — Sim. — Ryan mexeu no botão do paletó e desejou pela milionésima vez ter tido tempo para se trocar. — Você ainda joga? — Tarek perguntou educadamente. Ryan não era exatamente famoso, mas era incomum para ele falar com alguém que não sabia quem ele era. Incomum, e até legal, conhecer pessoas que não tinham expectativas sobre ele. — Eu jogo para os Guardians. Por enquanto, pelo menos. Eu sou muito negociado. — Deus. Cale a boca, Ryan. — Isso deve ser difícil, — disse Tarek, e ele soou verdadeiramente solidário. — Eu me mudei muito quando era criança. É uma merda. Ryan acenou com a cabeça. — Sim. — Ele desesperadamente tentou pensar em algo para perguntar a Tarek, mas foi poupado quando uma RACHEL REID 57 mulher atacou Fabian com o tipo de abraço que normalmente era reservado para gols de vitórias. — Fabian! Isso foi bom pra caralho! Ryan não pôde ver a reação de Fabian, porque seu rosto estava coberto pelos volumosos cabelos loiros encaracolados da mulher. Ela virou a cabeça para olhar diretamente para Ryan, sem soltar Fabian. — Não foi incrível? — Sim —, respondeu Ryan. — Surpreendente. Ela soltou Fabian e se virou totalmente para enfrentar Ryan. — Quem é você? A pergunta foi tão direta que o fez rir. — Uh, Ryan. Só... costumávamos, ah... — Oi, Ryan! Você é fã do Fabian? — Eu, hum... Fabian veio em seu socorro. — Essa é Vanessa, a propósito. Ela é bastante. — Definitivamente verdade, — ela concordou. — Eu gosto do terno. — Oh. Obrigado. — O que você quer, Ryan? — Fabian perguntou, inclinando a cabeça em direção ao bar. — Você não precisa... — Uma cerveja? Vou adivinhar cerveja. Havia uma peculiaridade nos lábios de Fabian que deixou Ryan saber que ele estava sendo brincalhão. Ryan respondeu da mesma forma. — Você não deve fazer suposições sobre as pessoas. GAME CHANGERS #3 58 Vanessa deu um soco no braço de Fabian. — Isso mesmo. Você deveria saber melhor. Ryan, por acaso eu sei que o barman esta noite faz os mais incríveis martinis com gotas de limão. Dá-me os bilhetes para bebidas, Fabe. Você fica e faz companhia ao seu amigo. Fabian fixou uma expressão no rosto de Vanessa que provavelmente dizia muitas coisas que Ryan não conseguia traduzir e entregou a ela uma tira de bilhetes de papel. — Vou querer um desses martinis. Vanessa apontou para Tarek e depois para Ryan. — Martini? Martini? — Claro, — disse Tarek. — Ah, eu realmente ireia apenas com uma cerveja, — Ryan disse timidamente. — Ha! — Vanessa parecia encantada. — Cerveja então. Tarek, venha comigo. — Sutil, — Tarek murmurou enquanto se virava para segui-la. FABIAN OBSERVOU SEUS AMIGOS ridículos abrindo caminho através da multidão até o bar, antes de voltar sua atenção para Ryan. — Pode demorar um pouco —, disse ele. — Vanessa tem uma queda pelo barman. O cabelo de Ryan estava preso em um pequeno coque hoje à noite, o que só acentuou o volume de sua barba. — Eu não sei como você escreve canções assim. Ou toca no palco na frente das pessoas. — Você não joga hóquei na frente de, tipo, um milhão de pessoas o tempo todo? — Não é o mesmo. — Não é? — Fabian realmente não entendia como não era a mesma coisa. RACHEL REID 59 Ryan balançou a cabeça. — Eu posso jogar hóquei na frente de uma multidão, mas nunca poderia, tipo, cantar o hino nacional, sabe? Fabian tentou imaginar isso e sorriu para si mesmo. — Isso é porque você é bom no hóquei. Eu sou bom nisso. — Ele gesticulou em direção ao palco. — E meu público não costuma me vaiar quando cometo um erro. Ouvi dizer que os fãs de esportes são menos tolerantes. A boca de Ryan se ergueu um pouco com isso. — Eles podem ser muito duros, com certeza. E não tenho certeza se sou bom no hóquei. OK. Bem, isso foi simplesmente idiota. — Você joga na NHL, Ryan. Existe uma liga superior da qual não estou ciente? — Ele franziu a testa. — Pergunta honesta. Na verdade, pode haver uma. Ryan riu. — Não. A NHL é a mais alta. Mas eu não... — ele se conteve e Fabian se perguntou
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