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1 Cinética das Reações Heterogêneas DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA 2 • Processos heterogêneos em metalurgia extrativa. Os estudos termodinâmicos permitem a determinação da posição de equilíbrio alcançada pelo sistema e das energias envolvidas em qualquer transformação química. Essas informações são importantes, em projetos de engenharia, para reações que ocorrem rapidamente. Os estudos cinéticos levam em consideração o tempo gasto para que as reações ocorram e são desenvolvidos para sistemas longe do equilíbrio. 3 Estudaremos aqui uma classe de reações heterogêneas em que um gás ou um líquido reage com um sólido e esse é transformado no produto desejado. Essas reações podem ser representadas por: P.S. O tamanho da partícula pode ou não reduzir com o tempo. 4 Ustulação: 4FeS2(s) + 11O2(g) � 2Fe2O3(s) + 8SO2(g) Calcinação: MgCO3(s) � MgO(s) + CO2(g) Nitrogenação de carbeto de cálcio: CaC2(s) + N2(g) �CaCN2(s) + C(amorfo) Partícula permanece do mesmo tamanho. 5 Partícula diminui de tamanho. Queima de materiais carbonaceos: C(s) + O2(g)� CO2(g) 2C(s) + O2(g)� 2CO(g) C(s) + H2O � CO(g) + H2(g) C(s) + 2H2O � CO2(g) + 2H2(g) 6 Para reações não catalisadas de partículas envolvidas por um fluido, podemos considerar dois modelos onde não ocorre encolhimento da partícula, são eles: - Modelo da conversão progressiva. Todos as partes da partícula possuem a mesma probabilidade de reagir em qualquer momento da reação. - Modelo do núcleo não reagido. A reação ocorre na superfície da partícula e uma camada de produtos (cinza) fica aderida à superfície da partícula. 7 Modelo da conversão progressiva 8 Modelo do Núcleo Não Reagido 9Presentes apenas em processos heterogêneos. A velocidade de uma reação heterogênea pode depender, em linhas gerais, da: • Natureza das substâncias. • Concentração dos reagentes. • Temperatura. • Área da interface. • Geometria da interface. • Natureza da interface. • Presença e natureza dos produtos de reação na interface. 10 O modelo do núcleo não reagido 11 12 Considere a seguinte equação geral que representa uma reação química sólido/fluído: A(fl) + B(s)� P(fl) + Q(s) As etapas da reação são: – Transporte de A até a superfície do sólido (transporte de A através de uma película fluida de espessura ∆X). – Transporte de A através da camada de produto sólido Q. – Adsorção de A na interface. – Reação de A na interface. – Dessorção dos produtos da reação (no caso P). – Transporte dos produtos de reação através da camada Q de produtos. – Transporte dos produtos fluidos (P) de reação através da película fluída de espessura ∆X. Em algumas situações algumas dessas etapas podem não estar presentes. 13 Em sistemas muito agitados a espessura dessa camada tende a zero. PAumento da temperatura diminui a influência dessa etapa no controle do processo. 14 • Se a(s) etapa(s) química(s) do processo são rápidas (3, 4 e 5) a velocidade da reação depende essencialmente da velocidade de transporte. Nesse caso, tem-se um controle por transporte e as variáveis hidrodinâmicas irão afetar a velocidade da reação. • Caso contrário, quando a(s) etapa(s) química(s) do processo são lentas comparadas com as etapas de transporte, tem-se um controle químico. Nesse caso, as variáveis hidrodinâmicas não afetam a velocidade da reação. 15 Velocidade de reações e leis experimentais Considere um processo geral sólido-fluído: A(fl) + bB(s)� produtos (s, fl) A velocidade de transporte é definida como o fluxo de matéria normal à superfície unitária: −= dt dn S A1Velocidade de transporte de A Onde S é a área da superfície do sólido, na é o número de moles de A e t é o tempo. A velocidade da reação química em relação ao fluído A se define da mesma forma: −= dt dn S A1Velocidade de reação de A 16 A(fl) + bB(s)� produtos (s, fl) Em relação ao reagente B, como indicado pela estequiometria da reação: AB dnbdn ×= Onde nB é o número de mols de B e b é o coeficiente estequiométrico. Sendo assim, tem-se: A AB kC dt dn S b dt dn S = ×−= −= 11Velocidade de reação de B Constante de velocidade 17 É importante destacar que uma equação cinética pode mudar ao mudar as condições reacionais. Isso indica uma mudança de mecanismo ou de tipo de controle. Em cinética heterogênea, uma constante de velocidade pode ser: • Uma constante química de velocidade. (Relacionada com a natureza da interface) • Uma constante de transporte. (Relacionada com as variáveis hidrodinâmicas) • Uma constante mista. 18C(s) + 0,5O2(g) ���� CO(g) 19 • Efeito da temperatura Experimentalmente, observa-se que as constantes de velocidade mostram uma relação exponencial com a temperatura. A equação que mostra essa relação é denominada equação de Arrhenius: Onde A é um fator pré-exponencial (fator de freqüência) e Ea é a energia de ativação da reação. P.S. Para processos químicos Ea > 40kJ × mol-1 ( > 10 kcal × mol-1). Para processos difusionais Ea < 20kJ× mol- 1 (< 5 kcal× mol-1). Quando o valor da energia de ativação se encontra entre 20kJ × mol-1 e 40kJ× mol-1 o controle da reação é misto. −= RT EAk Aexp 20 21 A velocidade de oxidação de uma substância X foi medida na seguinte faixa de temperatura: 700K-1000K. As constantes de velocidade são mostradas abaixo: Determine a energia de ativação (Ea) e o fator pré- exponencial (A). Y = -22651X+27,707 Ea = 188kJ/mol A = 1,0 x 1012 22 0.0010 0.0011 0.0012 0.0013 0.0014 0.0015 -6 -4 -2 0 2 4 6 l n K 1/T (K-1) R = -0.99932 23 Para o MNNR temos as seguintes condições: - Para um controle químico a constante da velocidade varia linearmente com o inverso do raio (1/r). - Para um processo difusional a constante varia linearmente com o inverso do raio ao quadrado (1/r2). De acordo com os dados abaixo, determine se o processo tem controle difusional ou químico. 24 y = 25x - 8E-14 R2 = 1 0 100 200 300 400 500 600 700 800 0 5 10 15 20 25 30 35 y = 0.746x + 6.3819 R2 = 0.9757 0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30 35 Controle por difusão Controle químico 25 Estudaremos os seguintes sistemas: Reações sólido-fluído sem formação de camada de produtos sólidos. transporte de matéria através da película fluida químico misto Reações sólido-fluído com formação de uma camada de produtos sólidos transporte de matéria através da película fluida. transporte de matéria através da camada de cinza. controle químico controle misto. 26 Etapas controladoras Reações sólido-fluído sem formação de camada de produtos sólidos. Considere um processo do tipo: A(fl) + B(s) ���� produtos fluídos 27 Caso 1) A Etapa controladora é o transporte de matéria até a interface. 28 29 Nesse caso, ocorre a formação de um gradiente de concentração entre a fina camada fluída e a superfície do sólido. A velocidade da reação depende da chegada dos reagentes na superfície reacional. A difusão de A é descrita pela lei de Fick: x CD dt dn S AA δ δ =− 1 Onde o primeiro termo representa o fluxo de A que difunde por unidade de tempo em uma direção perpendicular a um plano de referência de superfície unitária, CA é a concentração, x a coordenada de posição e D é o coeficiente de difusão (cm2/s). 30 O coeficiente de difusão varia com a temperatura de acordo com a equação: − = RT QDD exp0 Onde Q é a energia de ativação da difusão. A integração da lei de Fick em condições estacionárias (fluxo constante) conduz a: )(1 sAA CC x D x C D dt dn S − ∆ = ∆ ∆ =− Onde CA é a concentração no bulk da solução, CS é a concentração na superfície do sólido e ∆x é a espessura da camada fluída (∆x em soluções aquosas não agitadas ≈ 0,05cm, em situações de agitação violenta ∆x ≈ 0,001cm). 31 Em condições hidrodinâmicas constantes ∆x assume um valor constante. Nessas condições fala-se em uma constante de transporte( coeficiente de transferência de massa) definido por: x Dkd ∆ = Cuja unidade é cm .s-1. Para controle por transporte, Cs ≈ 0. Então a velocidade da reação se resume a: Ad A Ck dt dn S =− 1 Em relação a B: Ad b Cbk dt dn S =− 1 OBS: Como processos pirometalúrgicos ocorrem em elevadas temperaturas o controle da cinética, normalmente, ocorre por transporte de matéria. 32 Caso 2) A Etapa controladora é a etapa química. 33 34 Quando a reação química é muito lenta comparada com os fenômenos associados ao transporte de matéria não se produz um gradiente de concentração significativo na película fluída. Nesse caso, a velocidade de reações é definida por: n Aq B Cbk dt dn S =− 1 onde kq é a constante química de velocidade e n é a ordem da reação. OBS: Muitos processos pirometalúrgicos (combustão, halogenação, etc) exibem esse comportamento em baixas temperaturas. 35 Caso 3) A Etapa controladora é mista 36 Quando a reação química e o transporte ocorrem a velocidades comparáveis tem-se um controle misto. Nesse caso, tem-se: n Sq B Cbk dt dn S químicavelocidade =−= 1. )(1.. SAdB CCbkdt dn S transportedevelocidade −=−= 37 Em condições estacionárias e considerando n = 1 tem-se: A qd d S Ckk kC + = substituindo em qualquer uma das expressões de velocidade tem-se: A qd qdB C kk kk b dt dn S + =− 1 Pode-se falar em uma constante mista kmix que o valor será: qd qd mix kk kk k + = 38 OBS: A constante kmix apresentará uma dependência intermediária com a temperatura (EA entre 20 e 40 kJ.mol-1) e uma dependência moderada com as variáveis hidrodinâmicas. Esse regime de controle misto se apresenta em certos intervalos de temperatura onde a mudança do tipo de controle está acontecendo. Observe que: Aumentando a temperatura: kq aumenta mais rápido que kd e assim, kq >> kd, kmix� kd (controle difusional). Diminuindo a temperatura: kq diminui mais rápido que kd e assim, kq << kd, kmix� kq (controle químico). 39 Reações sólido-fluído com formação de uma camada de produtos sólidos. Considere processos do tipo: A(fl) + bB(s) � produtos sólidos A(fl) + bB(s) � produtos sólidos + fluídos Os possíveis tipos de controle são: » por transporte na camada de cinza ou fluida. » controle químico » controle misto. 40 Caso 1) Transporte de matéria através da camada de fluido. 41 42 Nesse caso, tem-se controle difusional com características idênticas ao modelo de reações sólido-fluído sem formação de produtos sólidos. Ad b Cbk dt dn S =− 1 43 Caso 2) Transporte de matéria através da camada de produtos sólido. 44 Nesse caso, um gradiente de concentração é produzido na camada de produtos. A difusão de A através da camada pode ser descrita pela lei de difusão de Fick: )(1 SAeB CCl Db dt dn S − ∆ =− Onde De é o coeficiente de difusão efetivo (cm2 . s-1) e ∆l é a espessura da camada de produtos sólidos. O coeficiente de difusão efetivo depende do coeficiente de difusão em fase fluida, D, mais especificamente das características físicas da camada: l DDe ε = Onde ε é a porosidade da camada e l é o fator de tortuosidade (l ≥ 1) da camada. Normalmente não se conhece o valor de l e o valor de De se obtém experimentalmente a partir da velocidade de reação. Normalmente, De é de 10-1 – 10-2 vezes D, para camadas porosas. 45 Como nesse caso Cs = 0, a velocidade de reação é: A eB C l Db dt dn S ∆ =− 1 Nesse caso, não se pode falar em constante de transporte já que: cte l De ≠ ∆ 46 Caso 3) Controle químico. Quando o transporte através da camada de produtos é rápido comparado com a reação química não se forma nenhum gradiente de concentração (CS = CA) e a velocidade de reação é independente da presença dessa camada. Sendo assim, tem-se controle químico com características idênticas ao modelo de reações sólido- fluído sem formação de produtos sólidos. n Aq B Cbk dt dn S =− 1 47 Caso 4) Controle misto. 48 Quando os dois processos ocorrem em velocidades equiparáveis, o controle é misto. Em condições estacionária, as duas velocidades se igualam, sendo assim, pode-se calcular a concentração de A na superfície. Para n = 1, tem- se: A e q e S C l Dk l D C ∆ + ∆ = Daí a velocidade resulta em: A qe qeA C lkD kD b dt dn S ∆+ =− 1 49 Normalmente, a variável que possibilita esse tipo de regime é o tamanho de partícula. Para partículas muito pequenas a camada de produtos necessariamente terá pequenas espessuras. Nessas condições De >> kq∆l e, sendo assim, tem-se controle químico. Para partículas muito grandes o contrário acontece; a capa alcança grandes espessuras para baixas conversões de sólido. Nesse caso, De << kq∆l e tem-se o controle por transporte de matéria. Para partículas intermediárias deve-se manifestar um controle químico no início da conversão, um controle por transporte no final da conversão e um controle misto em estágios intermediários de conversão. 50 51 Modelização dos sistemas sólido-fluído A variável mais útil para descrever a evolução de uma reação em um sólido é a conversão, X, que é um número admensional e que é a fração de substância reagida: )( )( )( )( inicialvolume reagidovolume inicialmassa reagidamassaX == 52 Caso 1) Modelo para controle químico Se a etapa química é a etapa lenta, CS = CA e, por tanto, a velocidade da reação é independente da presença ou não de camadas de produtos e a equação da velocidade de reação é: n Aq B Cbk dt dn S =− 1 Para esferas de um sólido B: 24 rS pi= Daí, BB rn ρpi 33 4 = Onde r é o raio da partícula e ρB é a sua densidade molar. Diferenciando nB: )(4 2 idrrdn BB piρ= 53 Substituindo, (i) em , reagrupando e integrando desde r = r0 a t = 0 até r = r a t = t, tem-se: Ad b Cbk dt dn S =− 1 ∫∫ =− t n Aq r r dtCbkdr 00 ρ Se CA não é constante deve-se conhecer a função CA = f(t) e resolver a integração. Contudo, na imensa maioria dos casos de reações sólido-fluído se trabalha a CA = cte. Nesse caso, a integração resulta em: t Cbk rr B n Aq ρ =−0 Dividindo por r0: t r Cbk r r oB n Aq ρ =− 0 1 54 Além disso, 3 03 0 33 0 1 3 4 3 4 3 4 )( )( −= − == r r r rr inicialvolume reagidovolumeX pi pipi Finalmente, t r Cbk X B n Aq 0 3 1)1(1 ρ =−− Para uma reação completa X = 1 e t = τ: n Aq B Cbk r0ρτ = E por tanto: ( )3111 BXt −−=τ 55 Aplicação do modelo para controle químico a)Comprovação do modelo A equação, tr Cbk X B n Aq 0 3 1)1(1 ρ =−− pode ser escrita como: tkX ex=−− 3 1)1(1 Onde: 0r Cbk k B n Aq ex ρ = Por tanto, fazendo experimentos a r0, CA e T constantes e se determinando a conversão de sólido a diferentes tempos, um gráfico de 1-(1-X)1/3 em função de t deve ser uma reta com inclinação igual a kex. 56 b) Determinação da ordem de reação Fazendo-se experimentos a r0 e T constantes e determinar os dados conversão/tempo para diferentes concentrações. Toma- se o logaritimo da equação: 0r Cbk k B n Aq ex ρ = A B q ex Cn r bk k logloglog 0 += ρ tem-se, Por tanto, representando os valores de logaritimo de kex frente ao logaritimo de CA deve-se obter uma reta com inclinação n. 57 c) Determinação da energia de ativação −= RT EAk Aq exp 0r Cbk k B n Aq ex ρ = 0 exp r RT EbAC k B An A ex ρ − = TR E r bACk A n A ex 1lnln 0 −= ρ A determinação da energia de ativação pode ser feita através de experimentos a r0 e CA constantes e determinar os dados conversão/tempo a diferentes temperaturas. Assim: Substituindo em: tem-se: Tirando o ln resulta em: 58 As constantes determinadas pela inclinação do gráfico acima são representadas frente ao inverso do raio comprovando o modelo. tkX ex=−− 3 1)1(1 59 0r Cbk k B n Aq ex ρ= A B q ex Cn r bk k logloglog 0 += ρ 60 TR E r bACk A n A ex 1lnln 0 −= ρ 61 Caso 2) Modelo para o controle por transportede matéria através da camada de produtos. tkXX ex=−−− 3 2)1( 3 21 2 0 2 r CbDk B Ae ex ρ = A determinação da ordem de reação e da energia de ativação se faz de forma análoga à descrita na seção em que se tratou do controle químico. 62 63 Caso 3) Modelo para o controle por transporte de matéria através da camada fluida. BX r rt = −= 3 0 1 τ A B bkC R 3 ρ τ = 64 Em um calcinador, fez a calcinação de um determinado carbonato (900oC), os dados são mostrados na tabela abaixo. Determine se o controle da reação é químico, de transporte na camada de cinza ou de transporte na camada de fluido. Determine a energia de ativação para o processo:
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