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O artigo em questão visa a discussão do papel do psicólogo no bem-estar social /público e no ‘’terceiro’’ setor, bem como suas possibilidades e limites de trabalho. No que diz respeito ao compromisso social do psicólogo, Sylvia Leser Mello (1975) ressalta a tese de que a psicologia não deve ser uma profissão de luxo, deve ir muito além disso e ser acessível a todos. Alguns dados apresentados por Sílvio Paulo Botomé (1979) concluem que apenas 15% dos brasileiros tem acesso aos serviços de psicologia. E indaga: os demais 85% não necessitam? O foco dessas críticas aponta que a psicologia ainda carrega a antiga fama elitista, moldado à luz das profissões médicas. Essas questões acabam se apresentando como enormes consequências quando se diz respeito ao psicólogo dentro dos segmentos do bem-estar e do setor público. Além de que, as limitações dessas abordagens tradicionalistas acabam centradas no individuo, desconsiderando todo o aspecto social do sujeito. Isso pode se dar por conta do contexto do desenvolvimento da profissão no brasil. Apesar de já ser aplicada anteriormente, ela passa a ser uma profissão regulamentada na década de 1960, a partir da Lei Federal nº 4.119/62. Por conta disso, pode-se concluir que a profissão já se instaura em um período de estresse social, em uma preparação para um regime autocrático-burguês que viria a se concretizar em 1964. Por conta disso, os debates mais intensos sobre o rumo da psicologia estavam ausente dentro da academia, mas isso não se da apenas pelo regime autoritário da época, mas também pela incipiência da profissão. Já no final da década de 1970, a participação da psicologia na politica de categoria ganha uma grande expressão. Isso acabou influenciando para que em 1980 houvesse um grande envolvimento da psicologia no movimento da saúde, com participação ativa na luta antimanicomial, dando assim, maior presença dos psicólogos no setor público. Quanto as Políticas Sociais (Públicas), é indispensável a remissão do tratamento da chamada ‘’questão social’’, ou seja, o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos no processo de constituição da sociedade. Pode ser entendida também como manifestação no cotidiano da vida social da contradição capital- trabalho. A articulação das funções econômicas e extraeconômicas assumidas pelo Estado demanda a legitimação politica pelo alargamento da sua base de sustentação, através da institucionalização de direitos e garantias sociais. Nessas condições, as consequências da questão social tornam-se objeto de intervenção sistemática e continuada por parte do Estado, mas através de um processo peculiar: é tratada de forma fragmentária e parcializada. É, portanto, na forma de politicas setorizadas que as prioridades no campo social são definidas. As politicas sociais, como parte do processo estatal da alocação e distribuição de valores, encontram-se no centro desse confronto de interesses de classes. Portanto, intervir como profissão, no terreno do bem-estar social, remete a psicologia para a ação, nessas sequelas da questão social transformadas em politicas estatais e tratadas de forma fragmentária e parcializada. Isso conferirá tanto a relevância quanto os limites possíveis da intervenção do psicólogo. A crise do modelo econômico, experimentada no segundo quartel da década de setenta do século passado, dá inicio a um processo que culminaria com a hegemonia em nível planetário, do ideário e agendas neoliberais. Tomada em suas linhas mais gerais, a agenda consistiria da contração da emissão monetária, da elevação das taxas de juros, da diminuição da taxação sobre os altos rendimentos, da abolição de controles sobre os fluxos financeiros, da criação de níveis massivos de desemprego, do controle e repressão do movimento sindical, do corte dos gastos sociais pela desmontagem dos serviços públicos, além de um amplo programa de privatizações. As suas premissas fundamentais são o estabelecimento do mercado como instância mediadora fundamental e a ideia de um Estado mínimo (nos moldes assinalados anteriormente) como a única alternativa para a democracia. O impacto do programa neoliberais tende a acentuar as desigualdades e aprofundar o quadro de miséria social. Em 1990, aproximadamente 40 milhões de brasileiros estavam na ou abaixo da linha de pobreza; 32 milhões em situação de indigência. O Nordeste contava com mais de 40% da população em situação de indigência. Quanto ao financiamento do gasto social, o Brasil é o único país da região que apresenta uma elevação nos gastos do setor, mas é também aquele que tem os piores índices, tanto em termos absolutos, quanto relativos. O Brasil investe cinco vezes menos que a Argentina e três vezes menos que o México no setor educacional. Quanto ao setor de saúde, investe quatro vezes menos que a Argentina e metade do que gasta o México. À refuncionalização neoliberal das políticas sociais passa por dois processos articulados, a precarização e a privatização dos serviços. A precarização é traduzida através de dois mecanismos, a descentralização dos serviços (que implica transferência de responsabilidade aos níveis locais do governo a oferta de serviços deteriorados e sem financiamento) e a focalização (introduzindo um corte de natureza discriminatória para o acesso aos serviços sociais básicos pela necessidade de comprovação da “condição de pobreza”). A privatização (total ou parcial) dos serviços obedece a duas lógicas: a (re)mercantilização (com a transformação dos serviços sociais em mercadorias, configurando uma nova forma de apropriação de mais-valia do trabalhador) e a (re)filantropização das respostas à “questão social”. Portanto, a responsabilidade pelas sequelas da “questão social” no projeto neoliberal deixa de ser do Estado, é dividida com dois outros “setores”, o mercado (privatização) e a sociedade civil (ação solidária, filantrópica, voluntária), e isso acaba gerando consequências: um atendimento segmentado, com oferta de serviços de qualidade diferenciada conforme a capacidade de pagamento do usuário. Quanto as Políticas Sociais, “Terceiro Setor” e os Limites do “Compromisso Social do Psicólogo” propriamente dito, mostra-se que o elitismo que marcou os primeiros tempos vem sendo paulatinamente contrarrestada por um movimento. É importante reverter esse estereótipo com a expansão dos serviços do psicólogo para camadas mais amplas da população. O crescimento nessa pratica está associado a dois processos interdependentes: a introdução sistemática do psicólogo no campo do bem-estar social e a presença crescente do psicólogo nas organizações do chamado ‘’terceiro setor’’ voltadas para a área do bem-estar social. Os dados mais recentes colhidos pelo Conselho Federal de Psicologia, de 2004, mostram um quadro que não é radicalmente diverso do verificado nos primeiros anos da regulamentação. Políticas públicas de saúde, segurança ou educação é a melhor descrição das atividades exercidas apenas por 11% dos entrevistados. Em contrapartida, a maioria dos profissionais exercem sua profissão ao atendimento individual ou em grupo em consultórios particulares ou clinicas. Isso se da pelo fato de que, considerando a agenda neoliberal no setor das políticas sociais, a probabilidade de envolvimento profissional do psicólogo no chamado “terceiro setor” é mais promissor que propriamente o desenvolvimento de trabalhos no âmbito do Estado. Para Bock (1999b), a Psicologia brasileira tem se comprometido com os interesses das elites e não com a maioria da população brasileira. Em anos passados, a focalização das atenções dos psicólogos para as classes subalternadas era fortemente motivada por um reconhecimento da importância do comprometimento social da ação profissional. Atuar com compromisso significa não somente superar o elitismo, mas dirigir a ação para rumosdiferentes daqueles que têm consagrado a Psicologia. Bock (1999b), defendo a tese de que “o trabalho do psicólogo deve apontar para a transformação social, para a mudança das condições de vida da população brasileira” (p. 325).21. Na medida em que o trabalho assalariado passa a ser a forma especifica de atuação profissional do psicólogo, ela se traduz, como no caso de qualquer outro trabalhador sob o capital, pela venda e compra de força de trabalho. Portanto, ao analisar o significado e os limites da intervenção do psicólogo no terreno do bem-estar social, é necessário um duplo cuidado: ao mesmo tempo em que a crítica à reiteração das formas convencionais e inadequadas de intervenção clínica, é preciso evitar fazer exigências que vão além das possibilidades da ação profissional. As possibilidades de ação do profissional de psicologia rumo a práticas diferenciadas também devem ser colocadas no contexto do papel do intelectual numa sociedade contraditória. Nessa direção, o desafio posto para a categoria é ampliar os limites da dimensão política de sua ação profissional. Referências Yamamoto, Oswaldo Hajime. Políticas sociais, "terceiro setor" e "compromisso social": perspectivas e limites do trabalho do psicólogo. Psicologia & Sociedade [online]. 2007, v. 19, n., pp. 30-37. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102- 71822007000100005>. Epub 28 Maio 2007. ISSN 1807-0310. https://doi.org/10.1590/S0102-71822007000100005. Acesso em 22 de nov de 2021.
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