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APOSTILA - O SERVIÇO SOCIAL NA INICIATIVA PRIVADA E NO TERCEIRO SETOR - FACUMINAS

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O SERVIÇO SOCIAL NA INICIATIVA PRIVADA E NO 
TERCEIRO SETOR 
 
 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
2 
Sumário 
 
APOSTILA – O SERVIÇO SOCIAL NA INICIATIVA PRIVADA E NO 
TERCEIRO SETOR ................................................................................................ 1 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 
TERCEIRO SETOR ......................................................................................... 8 
O terceiro setor privado no Brasil: a participação do mercado na gestão da 
questão social .......................................................................................................... 15 
A DEFINIÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL EM ANÁLISE ................................... 26 
O PROJETO SOCIAL COMO RESPOSTA À QUESTÃO SOCIAL ............... 32 
ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM PROJETOS SOCIAIS................ 35 
Considerações finais ..................................................................................... 37 
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 39 
 
 
 
 
 
 
 
file:///C:/Users/sandr/OneDrive/Área%20de%20Trabalho/APOSTILA%20EXTERNA-O%20SERVIÇO%20SOCIAL%20NA%20INICIATIVA%20PRIVADA%20E%20NO%20TERCEIRO%20SETOR.docx%23_Toc38488300
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Faculdade de Minas 
3 
 FACUMINAS 
 
A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo 
de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de 
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade 
oferecendo serviços educacionais em nível superior. 
A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
4 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Ao citarem sobre as políticas sociais e a sua forma de condução histórica no 
país (ineficiente, ineficaz e caracterizada por burocracia excessiva) se agravou de 
forma contundente, principalmente a partir dos anos 1990, no governo FHC, que 
empreendeu a contrarreforma do Estado (cf. Behring, 2003), amparado num discurso 
de “crise”. A submissão do país a uma orientação macroeconômica externa ficou bem 
nítida com a política social direcionada a uma prática apenas focalista e precária no 
enfrentamento da “questão social”. Enquanto o desemprego estrutural e o 
empobrecimento da população se ampliaram em níveis alarmantes, intensificando a 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
5 
ocorrência de condições de trabalho precarizadas e sem vínculo empregatício, a ação 
reguladora do Estado ia diminuindo, passando a estimular a solidariedade e 
construindo modalidades de parcerias no que era para ser da sua responsabilidade 
para com o social. 
Recrutado pelo próprio Estado no processo de contrarreforma, o “terceiro 
setor” é chamado para intervir na “questão social”, por meio do programa de 
publicização e, particularmente pelo programa Comunidade Solidária. O “terceiro 
setor” apresenta-se como um agente capaz de deslanchar uma “mudança social”, 
devido à sua capacidade de articulação, por ser um espaço democrático de 
mobilização comunitária e por ser também, apenas no nível do discurso, apolítico e 
aclassista, um “virtuoso”. Mas, embora queira mostrar-se neutro, seu discurso de 
classe já foi desvelado (cf. Montaño, 2005) e é fato que seu compromisso com a 
classe dominante não faz parte de conjecturas. Num contexto histórico de ações 
paliativas e pontuais, a iniciativa privada foi incentivada pelo Estado a atuar no campo 
da prestação de serviços sociais. 
 No entanto, esse apelo à filantropia não é novidade no Brasil. A parceria entre 
Estado e sociedade civil já vem sendo costurada desde a década de 1930 (cf. 
Mestriner, 2005) e intensificada ao longo dos anos, oscilando entre ampliações e 
retrações. Realizando atendimentos que, a priori, seriam responsabilidades do 
Estado, a iniciativa privada reforça o discurso da ineficiência governamental — 
mesmo que seu financiamento muitas vezes seja proveniente dele. 
 Considerando, o “terceiro setor” (que juntou num mesmo pacote conceitual 
ONGs, movimentos religiosos, associações de moradores e filantropia empresarial, 
só para citar alguns) passa a executar ações sociais, fortalecendo uma postura 
clientelista nos atendimentos. Dessa forma o enfrentamento da “questão social” por 
meio da (re)filantropia e do terceiro setor se ampliou. Ao tornarem-se “parceiros” do 
poder público para a implantação e gestão de programas e projetos sociais, 
consolidam uma transferência de responsabilidades para a iniciativa privada no 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
6 
campo do investimento social, que, na verdade, seria uma atribuição constitucional 
do Estado brasileiro em todos os níveis de governo. 
 Passou a ser um canal onde as demandas sociais resultantes da “questão 
social” podem ser absorvido, desarticulado, pulverizado e transmutado em “questões 
sociais”, esvaziando sua origem nas contradições de classe, buscando respaldo no 
discurso da solidariedade e munido de uma legitimidade outorgada pela sociedade e 
pelo financiamento do Estado e/ou de empresas. 
Portanto, neste contexto tem como objetivo suscitar uma discussão preliminar 
sobre o Terceiro Setor, conceitos, características e desafios, apontando para a ação 
do assistente social nesse. Trata-se de um tema atual considerando o processo de 
configuração desse setor no cenário nacional e a reconfiguração das formas de 
gestão institucional, despertando-nos a necessidade de reflexão sobre a atuação dos 
diferentes profissionais das áreas de ciências humanas, sociais e da saúde mental , 
com destaque ao Serviço Social . 
A discussão e a reflexão sobre o Terceiro Setor é assunto atual e pertinente à 
medida que se busca uma compreensão específica e atualizada sobre a atuação de 
diferentes profissionais nessas organizações, considerando a busca da qualidade 
social para os serviços prestados. O Terceiro Setor se configurou, no decorrer dos 
últimos vinte anos, dentro de um contexto social , econômico e político marcado pela 
complexidade, incerteza , instabilidade e mudanças aceleradas, em uma dimensão 
globalizada e de grande desenvolvimento tecnológico e científico . Em contrapartida, 
de muita pobreza e desigualdade social. 
Assim, a dimensão e o significado do terceiro setor necessitam ser compreendidos 
dentro da conjuntura social , econômica e política que tem determinado a sua 
configuração no contexto contemporâneo .A abordagem desse tema não pode ocorrer 
nem de forma “ ufanista ” como se o terceiro setor viesse ocupar o papel que é do 
Estado na formulação e execução de políticas sociais e nem de forma “ pessimista ”, 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
7 
negando a sua importância e a dimensão de suas ações no enfrentamento de 
diferentes manifestações da questão social brasileira . A postura é a de buscar uma 
compreensão real e equilibrada do papel que as organizações do terceiro setor 
ocupam nocontexto capitalista contemporâneo e, concomitantemente as diferentes 
formas que diferentes áreas profissionais podem contribuir para o mesmo, dentre 
elas, o Serviço Social . 
 Nesse sentido , esse texto tem como intencionalidade suscitar uma reflexão sobre o 
terceiro setor, mas , além disso, sobre a contribuição que o assistente social pode 
trazer para um trabalho contextualizado e de qualidade social, juntamente com a 
iniciativa privada das empresas aprimorado para buscar financiamentos, firmando 
parcerias e até se “adequando” aos seus interesses para atraí-las. Com a ampliação 
das ações sociais empresariais, dessa vez de forma sistemática — não mais restrita 
a doações de alimentos para creches ou asilos no Natal ou ao atendimento de seus 
funcionários (empréstimos internos, planos de saúde etc.), abre-se um campo 
potencial para a atuação do assistente social, na chamada “responsabilidade social 
das empresas”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
8 
TERCEIRO SETOR 
 
 
 
Foi traduzido do inglês (third sector) e faz parte do vocabulário sociológico 
corrente nos Estados Unidos, onde costumam serem usadas outras expressões entre 
as quais se destacam organizações sem fins lucrativos (non-profit organizations), 
significando um tipo de instituição cujos lucros não são repassados aos seus diretores 
e associados, e organizações voluntárias, com significado complementar. (COSTA, 
2006). O conceito do “terceiro setor” foi formulado por intelectuais orgânicos do 
capital o que demonstra uma clara ligação com os interesses de classe nas mudanças 
necessárias à alta burguesia. Assim, o termo é constituído a partir de um recorte do 
social em esferas onde o Estado seria o primeiro setor, o Mercado, o segundo setor, 
e a Sociedade Civil é o terceiro setor. Recortes estes, neopositivistas, estruturalistas, 
funcionalistas ou liberais que isolam e atomizam a dinâmica de cada um deles que, 
portanto, desistoriciza a realidade social (MONTAÑO, 2010). 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
9 
O Terceiro Setor seria a articulação/inserção materializada entre os setores: o 
público, porém privado, a atividade pública desenvolvida pelo setor privado e/ou a 
suposta superação da equiparação entre o público e o Estado: o público não estatal 
seria também o espaço “natural” para esta atividade social. Neste sentido, o conceito 
“Terceiro Setor” se expande recentemente nas décadas de 1980 e 1990, a partir da 
necessidade de superação pública estatal. Porém ao identificar Estado, Mercado e 
Sociedade Civil, respectivamente como primeiro, segundo e terceiro setores, alguns 
autores observam que o “Terceiro Setor” é identificado como a sociedade civil e 
historicamente é a sociedade que produz suas instituições, o “Estado, o mercado, 
etc., a primazia histórica da sociedade civil sobre as demais esferas o “Terceiro Setor” 
seria, na verdade, o primeiro setor” (MONTAÑO, 2010, p.54). 
O Terceiro Setor se configura no decorrer das últimas décadas dentro de 
contextos sociais, econômicos e políticos complexos, estáveis, com mudanças 
aceleradas causadas pela globalização e grande desenvolvimento tecnológico e 
cientifico, porém, rodeado de muita pobreza e desigualdade social. Assim, o terceiro 
setor surgiu como uma nova configuração de relutância, às consequências da 
questão social, trazendo consigo a preconização de práticas voltadas ao voluntariado, 
à filantropia e principalmente a responsabilidade social (RODRIGUES, 1998). Neste 
contexto, de acordo com Montaño (2002), há uma fragmentação, preconização e 
focalização nas políticas sociais, seguida de uma descaracterização dos direitos 
sociais conquistados pela sociedade. E todas essas transformações ocorridas na 
sociedade também geram profundas alterações para o Serviço Social, principalmente 
no que diz a respeito ao mercado profissional de trabalho, onde seu maior 
empregador, o Estado se ausenta cada vez mais em relação ao atendimento às 
necessidades das classes subalternas. 
Diante da conjuntura apresentada, há uma reconfiguração dos espaços sócio 
ocupacionais do Serviço Social exigindo novas formas de atuação para o assistente 
social. Entretanto, contraditoriamente nesses espaços da atuação profissional 
 
 
 
 
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10 
também se encontra o objeto de estudo do Serviço Social, ou seja, as expressões da 
questão social, apresentando-se no terceiro setor para o Serviço Social como um 
espaço de atuação profissional, exigindo competências no campo de planejamento, 
formulação e avaliação de políticas sociais, atribuições que fazem parte do fazer 
profissional do assistente social. Ao falar em sociedade civil, movimentos sociais e 
Organizações Não Governamentais (ONG’S), é importante que tenhamos uma 
compreensão histórica dos diferentes interesses e conflitos que se encontram 
atrelados à sociedade. Um dos principais acontecimentos históricos foi à atuação 
política dos anos de 1990 na reforma e reconstrução do Estado. 
A Reforma do Estado constituiu-se de quatro problemas centrais que, embora 
interdependentes, podem ser distinguidos. O primeiro foi um problema econômico-
político, o outro também econômico-político (mas ligado diretamente ao papel 
regulador do Estado), o terceiro problema foi de caráter econômico-administrativo, e 
por fim um problema de caráter político, relacionado ao aumento da governabilidade 
ou capacidade política do governo de intermediar interesses, garantir legitimidade, e 
governar. (BRESSER-PEREIRA, 1997). Com os anos 1990 e o início do século XXI, 
um novo cenário se apresenta para os movimentos sociais e também para as ONG’s. 
A situação social é agravada pela mundialização, pela financeirização do capital, 
flexibilização produtiva e por outro lado, a conquista e criação de espaços 
institucionais e o estabelecimento de novas relações com as esferas governamentais 
que colocam novos desafios de atuação (MONTAÑO, 2002). O processo da 
contrarreforma do Estado brasileiro que adotou um conjunto de novas medidas para 
o Estado transferiu os serviços sociais para o terceiro setor repercutindo na profissão 
do serviço social, no seu espaço ocupacional, nas condições e relações de trabalho 
criando novas funções e competências. 
De acordo Milano Filho (2004), o Terceiro Setor no Brasil é destacado em 
especial toda a sociedade, independente das características operacionais e área de 
atuação, devendo esse setor atender as expectativas de seus interesses, sendo 
 
 
 
 
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representados nessa modalidade os doadores de recursos representados pelos 
financiadores dos projetos sociais executados pelas entidades sem fins lucrativos, de 
modo a realizar os projetos direcionados aos seus beneficiários carentes. Portanto, o 
Terceiro Setor é composto por Organizações Não Governamentais (ONG’s) que 
representam a sociedade civil organizada com participação de voluntários para 
atender aos interesses públicos em diferentes segmentos, como na educação, saúde, 
esporte, lazer e outros. 
“A substituição gradativa e intencional das funções do Estado 
de Bem-Estar Social pelo chamado Estado Mínimo, resultado de 
implantar a gradativa política neoliberal, levou o sucateamento das 
políticas sociais públicas. Embora o Estado de Bem-Estar Social 
nunca tenha sido implantado efetiva e amplamente no Brasil, não 
podemos desconsiderar ações sociais de iniciativa pública, porém de 
importante presença no atendimento à questão social brasileira, 
fortalecida, a partir de 1988, pela Constituição Federal contínuo de 
diversas leis orgânicas relacionadas ao atendimento a diferentes áreas 
e segmentos, que as promulgaram como dever do Estado e direito do 
cidadão.” (SIMÕES, 2009, p.341) 
 
Nesse contexto, funda-se mais um espaço sócio ocupacional para a 
configuração do mercado de trabalho do assistente social, determinado por um 
conjunto de chamados específicos que adensam a partirde condições sociais, 
históricas e particulares que necessitam de uma intervenção qualificada e crítica de 
um profissional do Serviço Social (NETTO, 1992). Assim, caracteriza-se o trabalho 
profissional como um conjunto de informações que identifica as necessidades junto 
às demandas sociais embasada no conhecimento do profissional de Serviço Social, 
portanto, isto não se confunde com as necessidades de um público que dependem 
do mercado de trabalho, enquanto profissionais reconhecidos socialmente numa 
esfera do capitalismo e suas exigências. 
 
 
 
 
Faculdade de Minas 
12 
 O Serviço Social é uma profissão que surgiu inicialmente para conter a população 
que se organizava para cobrar do Estado direitos sociais, mas devido aos agravantes 
sociais ocorridos pelo processo de industrialização e urbanização, o Serviço Social 
foi se desenvolvendo junto à divisão sócio técnica do trabalho, intervindo nas 
demandas que foram surgindo frente ao capitalismo, intervindo nas demandas que 
foram aparecendo frente ao capitalismo no que demandava a sociedade e seus 
pressupostos. (IAMAMOTO,1992). 
Para Gohn (1998) as lutas sociais nunca morrem e elas se apresentam historicamente 
de várias formas. Nos anos de 1970 e 1980, as ONG’s constituem-se como uma das 
principais formas de reivindicações sociais, aonde as mesmas vêm crescendo e 
ganhando autonomia, e hoje se constituíram em um universo próprio, organizado e 
menos politizado. Segundo Iamamoto (2001), o enfrentamento da questão social tem 
sido tensionado por distintos projetos societários na definição da estruturação e 
implantação das políticas que convivem em lutas no seu interior. 
 
“Por outro lado, a privatização se expressa na 
“progressiva mercantilização do atendimento das 
necessidades sociais” na expansão das iniciativas do terceiro 
setor, caracterizando um trato descoordenado, pontual e 
pulverizado das expressões da questão social que não 
reconhece a concepção de direito e universalidade de 
acesso.” (IAMAMOTO, 2001, p.24). 
 
Segundo Montaño (2002) nessa perspectiva teórica metodológica e critica, 
compreende que o terceiro setor teria que funcionar como se fosse um fenômeno 
para servir de ocultação do capitalismo diante dos interesses da classe trabalhadora 
para a função social e resposta às expressões sociais. 
 
 
 
 
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Landim (1998) e Fernandes (1997) identificam quatro momentos fundamentais 
no processo de constituição histórica do terceiro setor no Brasil. O primeiro se 
estende da colonização até meados do séc. XX e corresponde ao desenvolvimento 
das chamadas associações voluntárias, fundadas pela igreja católica e baseadas em 
valores da lógica cristã. Algumas dessas organizações existem até hoje e atuam na 
prestação de serviços sociais e assistenciais, entre os quais a saúde, a proteção dos 
desamparados e a educação. O segundo momento, que tem início na década de 
30, no governo de Getúlio Vargas, corresponde ao período em que o assistencialismo 
é assumido como uma estratégia política do governo. Durante esse período, que se 
estendeu até o final dos anos 60, o estado e a igreja dividiram a responsabilidade por 
obras assistenciais paternalistas e avessas ao questionamento social, a igreja 
agindo como uma poderosa aliada do estado, no controle das manifestações de 
insatisfação social. A década de 70 marca o ingresso do terceiro setor, no Brasil, em 
uma nova fase. 
As instituições de caráter filantrópico e assistencial unem se aos chamados 
movimentos sociais e, com o apoio da igreja, tornam-se porta-vozes de problemas 
locais, assim como passam a denunciar as situações de repressão, desigualdade e 
injustiça social. É nesse período que surgem as ONGs. Com significativa participação 
na vida política nacional, em particular no processo de democratização política, elas 
contaram com significativo apoio de organismos internacionais. Ainda assim, muitas 
delas vieram a desaparecer em consequência de sua resistência à institucionalização, 
então percebida como perda de autonomia e submissão ao estado. Algumas dentre 
as mais significativas ONGS brasileiras são o resultado de movimentos autônomos 
gestados em um momento em que qualquer forma de organização voluntária e 
independente do estado era percebida com suspeição pelos poderes instituídos, 
induzindo a que elas sejam, por vezes, associadas à agenda da esquerda. 
O quarto momento, na história do terceiro setor no Brasil, pode ser 
formalmente demarcado pela promulgação da constituição de 1988, que define o 
 
 
 
 
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14 
conceito de cidadania e define o arcabouço filosófico para a elaboração de políticas 
sociais. 
 Em 1990, é promulgado o estatuto da criança e do adolescente; 
 em 1991, a lei de incentivo à cultura; 
 em 1993 a lei orgânica da assistência social; 
 em 1998, a lei que dispõe sobre o trabalho voluntário; 
 e em março de(1999), a lei 9.790/99, que estabelece os termos para a 
qualificação das Organizações da Sociedade Civil de Interesse 
Público, as OSCs. 
Caracteriza, também, o momento presente a redução dos investimentos 
públicos e a municipalização de atividades e serviços que, até então, eram 
tradicionalmente realizados por organismos federais, estaduais e municipais. 
Paralelamente a esse processo, observa-se a emergência de novos atores sociais, 
entre os quais o GIFE (Grupo de Instituições e Fundações Empresariais), que é o 
organismo que reúne as OSCs representativas da participação do mercado no 
terceiro setor no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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15 
 O terceiro setor privado no Brasil: a participação do mercado 
na gestão da questão social 
 
 
 
Gestado a partir de um comitê de filantropia instituído em 1989, no âmbito da 
Câmara Americana de Comércio de São Paulo, para pensar como os empresários 
poderiam contribuir para modificar o conturbado panorama social do Brasil, O GIFE 
foi formalmente criado em 1995, por representantes de 25 grupos privados, nacionais, 
entre os quais: Bradesco, Volkswagen do Brasil, Victor Civita, Grupo Itaú, Oldebrecht 
e Rede Globo, com a atribuição de fomentar a atuação sistemática de empresas 
privadas na área social. Primeira organização latino-americana do gênero, e definida 
pelo empresariado como o fórum permanente da cidadania empresarial. 
 
 
 
 
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16 
Primeira organização latino-americana do gênero, e definida pelo 
empresariado como o fórum permanente da cidadania empresarial. (Meneguetti, 
1998), o GIFE já contava, em 1997, com 40 associados que, em conjunto, destinam 
cerca de US$ 400 milhões/ano para projetos nas áreas de educação, cultura, ciência, 
tecnologia, saúde, meio-ambiente e bemestar social. Pautado, de um lado, pela 
consciência da fragilidade do estado e, de outro, pelos riscos do capitalismo 
selvagem, o GIFE – cuja missão explícita é “aperfeiçoar e difundir os conceitos e 
práticas do uso de recursos privados para o desenvolvimento do bem comum” 
(Meneguetti, 1998) – realiza atividades educativas e oferece apoio técnico a 
empresas que desejem aderir à causa da cidadania empresarial. Assim, se 
disponham a investir sistematicamente na área social, através de atividades 
planejadas e continuadas, com objetivos e metodologias definidos e sujeitas à 
avaliação periódica. 
Avesso ao paternalismo, a situações que gerem dependência e ávido defensor 
da profissionalização das organizações que operam no terceiro setor, o GIFE realiza, 
igualmente, seminários, cursos e eventos, tanto de qualificação como de difusão de 
experiências, de modo a qualificar seus associados para o exercício da “cidadania 
empresarial” (GIFE, 1997) . Em 1997, com o objetivo de criar pólos regionais de 
disseminação da prática de intervenção do mercado na reorganização do espaço 
público, empresas integrantes do GIFE nacional, com tradição empresarial no Rio 
Grande do Sul,entre as quais, a Iochpe-Maxion, a Rede Brasil Sul de Comunicações, 
a Link S. A., a Copesul, a Ipiranga, o Grupo Gerdau, a Avipal, as Federações das 
Indústrias, do Comércio, da Carne, a C&A, o Grupo Econômico Robert Levy, criaram 
o GIFE Sul. Atuando no estado desde então, o GIFE-Sul é formado por sete 
Organizações Privadas da Sociedade Civil de Interesse Público/OSCIPP: a 
Fundação Iochpe, a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, a Fundação Projeto 
Pescar, o Instituto C&A de Desenvolvimento Social, o Instituto Robert Levy, a 
 
 
 
 
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Fundação Bradesco, a Fundação Parceiros Voluntários e a Fundação Semear, que 
congrega empresas da região dos Sinos. 
 Para que se possa ter uma ideia do dinamismo da atuação do segundo setor, 
através das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público-Privado, as 
OSCIPPs, no Brasil, cabe mencionar que a experiência de regionalização da ações 
do GIFE, iniciadas com o GIFE-Sul, já está sendo reproduzida em outras regiões do 
país, com destaque para os estados do Rio de Janeiro e Bahia. O capital, na base 
desses casos, é de origem local e representativa de empresas sujeitas à acirrada 
concorrência e expostas aos desafios da produtividade com qualidade, o que as têm 
conduzido a processos de racionalização de seus respectivos recursos, estruturas e 
processos. Ou seja, à dinâmica da reestruturação produtiva. 
“Tomando-se, agora, a tipologia de classificação das 
OSCIPP,proposta por Lipietz (1998), constata-se que a 1 opera 
conforme a lógica da inserção como processo. Isto é, ela investe em 
ações que visam combater a desfiliação, enquanto a 2 e a 3 praticam, 
ainda, a inserção como destinação, na medida em que absorvem parte 
dos jovens que qualificam e procuram colocar os excedentes junto a 
fornecedores e clientes. A dinâmica econômico-social-gerencial-
institucional A segunda macro-questão que nos colocamos foi: qual a 
dinâmica econômica-social-gerencial-institucional subjacente às 
ações das OSCIPs pesquisadas?” Lipietz (1998). 
A dinâmica econômica 
Ainda que os recursos utilizados originalmente fossem provenientes do grupo 
fundador, a tendência é passarem a operar cada vez mais com recursos de terceiros, 
sejam eles públicos ou privados, nacionais ou internacionais. Isso não diminui, 
entretanto, sua influência sobre as OSCs “clientes”, pelo contrário. Na medida em que 
dominam a tecnologia sobre como acessar financiamentos e desfrutam de 
credibilidade junto aos investidores para obtê-los – como é o caso da 1, que tem ainda 
a mídia a sua disposição – elas não apenas passam a direcionar as ações sociais 
 
 
 
 
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daquelas, como a influir em suas práticas administrativas. No que se refere ao volume 
de recursos que canalizam para atividades sociais verifica-se que tem aumentado. 
Na 1, o volume de investimentos tem triplicado de ano para ano e, em 1998, ela 
aplicou US$ 15 milhões em atividades sociais, 20% dos quais com recursos 
próprios15. Já a 4, que vem investindo maciçamente no desenvolvimento do 
voluntariado, tem cadastrados mais de 2000 voluntários, dos quais 700 são ativos. 
Ou seja, estão atuando. Desses, 50% possuem o curso superior completo e 
72% é mulheres, o que indica uma predominância da mulher no trabalho voluntário 
(vide anexo 1). Em 1998, essa organização computou um total superior a 35 mil horas 
de trabalho voluntário o que, convertido em valores monetários, possibilita 
compreender o poder de influência que também detém. Sua meta para 1999 é 
inaugurar 15 novos centros de voluntariado através da interiorização da ação no 
estado. Um tema bastante presente para todas elas é o novo marco legal (a lei 
9.970/99 que qualifica e regulamenta as atividades no terceiro setor). Alimentam, em 
comum, a esperança de que o governo canalize para as atividades que apoiam os 
recursos que vêm sendo desperdiçados com o uso indevido da renúncia fiscal. 
 
A dinâmica gerencial 
Varia de uma OSCIP a outra o grau de maturidade da dinâmica da 
reestruturação ou “profissionalização”. Assim, enquanto a 3 está lutando para 
padronizar os métodos adotados nas escolas de iniciação profissional que mantém, 
a 2 – cuja atuação em função também do convênio com o MEC é semestralmente 
avaliada – adota procedimentos padronizados em todas as escolas. Pode-se, 
entretanto, afirmar que todas as OSCIPP pesquisadas estão tomando medidas 
concretas no sentido de substituir o agir filantrópicas por ações que visam obter o 
máximo de retorno (seja ele social, econômico ou outro) sobre os recursos investidos. 
O que nos permite afirmar que a lógica da gestão do privado está sendo transferida 
 
 
 
 
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para a gestão do social. Medidas essas que estão aportando uma nova agilidade das 
ações, como é o caso da 3, que abriu no período entre 1997 – quando se filiou ao 
GIFE e passou a atuar em convênio com o governo do estado – e agosto de 1999, 24 
novas escolas. Outro aspecto que chama a atenção é o fato dos empresários estarem 
atuando na área social não mais isoladamente, mas em grupo. Ou seja, como um 
“ator coletivo”. Da mesma forma é possível perceber que a missão não explícita do 
GIFE-Sul é a participação política do empresariado nacional na definição das 
estratégias a serem utilizadas e no modelo de gestão a ser adotado, para tratar de 
problemas sociais específicos. No que se refere especificamente à representação da 
questão social, tem-se: de um lado, a desfiliação de crianças e adolescentes e, de 
outro, o desenvolvimento daquilo que é denominado de “consciência cidadã”. 
Em duas das três empresas (casos 1, 2 e 3) que definem a questão social em 
torno da desfiliação, duas têm por foco a redução do analfabetismo e a difusão de 
habitus operários (2 e 3). A terceira (caso 1) inclui também em seu foco a geração de 
renda. Quanto à quarta (caso 4) seu foco é tanto aumentar o número de pessoas 
atuando como voluntários no terceiro setor, como substituir o voluntarismo pelo 
voluntariado. Expressão essa que simbolizaria a introjeção, por cada pessoa na 
comunidade – seja ela criança, adolescente, adulto, idoso, assalariado, autônomo, 
empresário, etc. –, do sentimento de corresponsabilidade pela solução dos problemas 
sociais. E que tem implícito o postulado de que a solução dos problemas sociais não 
é algo que diga respeito apenas ao estado. 
Assim, pode compreender a ênfase na importância atribuída pelas 
organizações que pertencem ao GIFE-Sul à substituição de atos filantrópicos isolados 
por uma ação coletiva de caráter político. Dado compreenderem que é coletivamente 
que irão atingir sua meta de modelagem de uma nova consciência ou cultura nacional. 
A expressão cidadania empresarial, amplamente empregada nos documentos do 
GIFE, deve, pois, ser compreendida tanto como um estado de comprometimento de 
cada um, e de todos os empresários, na busca de soluções para os problemas sociais, 
 
 
 
 
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20 
quanto como mobilização da sociedade em geral para a problemática. Processo esse 
no qual deverão atuar – e esta uma das características da dinâmica proposta pelo 
GIFE – em parceria com o estado e com as organizações sociais que já vêm atuando 
no setor. Subjacente à expressão “parceria” está desde a preocupação em agir de 
modo “profissional”, o que no contexto do terceiro setor inclui a avaliação do retorno 
sobre investimentos, como a redefinição de papéis. Com relação à distribuição de 
papéis observa-se uma dupla tendência, a saber: a) as OSCIPP realizam elas 
próprias as ações que identificam como importantes para minimizar os problemas 
sociais e b) as OSCIPP limitam sua participação ao financiamento e suporte técnico 
a projetos apresentados por organizações já atuando no terceiro setor. 
 Das quatro OSCIPP pesquisadas, duas têm atuação direta (casos 2 e 3) e as 
outras duas (casos 1 e 4) atuam intermediando ações, o que parece apontarpara a 
tendência dominante no futuro. Paralelamente a esse processo de redefinição de 
papéis, de reestruturação da divisão tradicional do trabalho e da lógica de canalização 
de recursos, observa-se uma tendência de mudança também na origem e no volume 
dos recursos empregados em causas sociais. Na medida em que o empresário vai 
reservando para si o papel de gestor do social, e em que disponibiliza sua rede de 
contatos e sua competência gerencial para atrair recursos públicos e privados, 
nacionais e internacionais, a tendência é de aumentar o volume global de recursos 
investidos no setor e de diminuir comparativamente a parcela que ele próprio investe. 
Portanto, cada vez mais as empresas ou grupos empresariais pioneiros em 
investimentos na área social se transformariam em gerenciadores de recursos de 
terceiros. Outro aspecto que deve assegurar uma participação crescente do 
empresariado na área social é a relação que se estabelece entre envolvimento com 
esse tipo de atividade e opinião pública favorável. Investir na área social resulta em 
dividendos políticos, o que tout court facilita a inserção na vida política e parece vir ao 
encontro do desejo de significativo número de empresários nacionais. Analisado o 
conjunto de mudanças em curso e tendo-se presente que a nova lógica está se 
 
 
 
 
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21 
difundindo com o apoio das associações patronais do comércio, da indústria e do 
meio rural para o interior do estado, constatasse estarmos diante de um processo de 
profunda mudança no paradigma gerencial tradicionalmente praticado pelas 
organizações do terceiro setor. 
A dinâmica institucional 
Todas as OSCIP pesquisadas, uma criada nos anos 70, duas na segunda 
metade da década de 80 e a outra em 1996, têm origem familiar e resultam da ação 
de um membro da família, ou do presidente do grupo, que inicialmente aportou o 
suporte econômico. O fundador é geralmente uma figura humana que em vida se 
distinguiu por ter acumulado fortuna, conquistado a glória em esportes, como o futebol 
e o automobilismo, ou por ter obtido representatividade no meio empresarial. A eles, 
sobretudo quando já estão mortos, é comum serem atribuídas, pelos membros da 
cúpula dirigente da organização que lhes tomou o nome emprestado, qualidades 
extraordinárias como a solidariedade, o desprendimento, o altruísmo, o que os faz 
ascender à condição de heróis. 
Ao criarem essas figuras veneráveis, os dirigentes dessas OSCIP tornam- se 
também os herdeiros legítimos do mito e, como tal, depositários de uma autoridade 
praticamente inquestionável. Quando o dirigente ainda está vivo, não raro se verifica 
a tentativa de associar-lhe uma personalidade carismática, de transformá-lo em um 
ser dotado de características extraordinárias. A responsável por uma das OSCIP 
pesquisadas é apontada como “a mentora intelectual (da organização que dirige). Ela 
é o coração da (organização que dirige). Ela acreditou, ela tem levado isso com um 
voluntariado próprio de 24 horas por dia. Ela está aqui na parte da tarde, mas ela em 
casa está sempre trabalhando em contatos novos, principalmente conhecimentos. É 
uma pessoa de total dedicação”. 
No entanto, agora, ao conceito de cidadania – conforme proposto por Silva 
(1995) – para analisar o sentido que essa palavra tão cara às OSCIPP integrantes do 
 
 
 
 
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GIFE-Sul assume em sua prática cotidiana, verifica-se que as atividades dessas 
organizações concentram-se na dimensão social da cidadania. Ou seja, dos direitos, 
como o direito à educação, à saúde e ao trabalho que viabilizam o acesso do indivíduo 
à condição de consumidor da riqueza socialmente produzida. O desenvolvimento da 
consciência crítica – a autonomia, no sentido filosófico do termo – do mesmo modo 
que o sistema econômico não está em discussão. 
 O ideal de democracia “como um espaço institucional que protege os esforços 
do indivíduo para se formarem e se fazerem reconhecer como sujeitos” (Touraine, 
1996, p. 173) não compõe o debate. Trata-se de evitar novas desfiliações, não de 
questionar as causas estruturais da crise. Essa a missão que as organizações que 
compõem o GIFE no estado advogam para si e a serviço da qual estão mobilizando 
as ferramentas gerenciais da qualidade, independentemente de serem essas 
redutoras dos postos de trabalho. Trata-se da técnica a serviço do “progresso 
social”, ainda que a eficácia por ela garantida seja excludente, desfiliante. O que pode 
também ser traduzido por questionar o modelo político de organização da sociedade 
sem, no entanto, questionar a estrutura econômica, que em certa medida viabiliza sua 
sustentação. 
Segundo Touraine (1994), de um grupo de atores sociais que chama para si “a 
função de realizar o exercício da lógica natural do progresso científico e tecnológico 
modernizador” (Kunrath, 1998, p. 110), e cuja vontade política se expressa através 
de procedimentos que objetivam modificar opiniões e atitudes, modelar 
personalidades e a cultura; no caso, criar a “cultura do trabalho voluntário”. Outra 
dimensão do controle ideológico presente na práxis dessas organizações relaciona-
se ao tipo de atividade que realizam como é o caso das escolas de iniciação 
profissional. Observando-se a composição do currículo e a carga horária das 
disciplinas nessas escolas, verifica-se que o tópico “questões comportamentais” – 
geralmente a cargo de pessoas da comunidade que têm o aval do responsável pela 
escola – é dedicado ao desenvolvimento de habitus (cf. Bourdieu, 1980) operários. 
 
 
 
 
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Assim, representa o espaço de veiculação de valores que sustentam a ordem 
econômica vigente induzindo àquilo que Gattari denominou de “processo de 
subjetivação capitalística” (Guattari & Rolnick, 1993). 
 
A dinâmica social 
Retratando as organizações pesquisadas, sob a ótica de Rifkin (1997), isto é, 
do terceiro setor como um novo e promissor mercado de trabalho, verificou-se que 
elas operam com um efetivo particularmente enxuto: por exemplo, a 1 reduziu 50% 
dos postos de trabalho em 1998, em decorrência da externalização de atividades que, 
até então, realizava com mão-de-obra própria (cf. anexo 1). Já a 4 complementa suas 
necessidades de pessoal com assessorias (contábil, jurídica, de recursos humanos) 
prestadas por voluntários e através de convênios com instituições patronais como o 
SEBRAE, que utiliza para o diagnóstico organizacional e capacitação gerencial das 
OSC para as quais encaminha voluntários. 
 No que se refere ao espaço para a participação, chama a atenção a 
centralização das decisões políticas em conselhos consultivos, nos quais destaca-se 
a presença de um membro da família, ou do próprio presidente da empresa, ou do 
grupo empresarial na origem da OSCIPP. A preocupação com a representatividade 
tem levado essas organizações a também incluírem na composição de seus 
conselhos deliberantes membros da comunidade. Não se trata, como se poderia 
esperar, de pessoas com representatividade política na comunidade beneficiária das 
ações sociais orquestradas por essas organizações, mas com conhecimento técnico 
ou científico em áreas nas quais elas atuam, como os direitos da criança e do 
adolescente, por exemplo. 
Assim, se por um lado busca-se uma transformação da ordem social, são a 
razão técnica e a razão econômica que fundamentam o exercício do poder. O que 
significa também que o poder político, sobre questões que tradicionalmente estiveram 
 
 
 
 
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na esfera do poder público, está se transferindo para o empresariado privado 
evidenciando a reprodução, no terceiro setor, de um fenômeno já bastante difundido 
na sociedade brasileira, a saber, o encolhimento progressivo do estado. A questão 
que cabe, aqui, é: como, em médio prazo, a tecnoburocracia governamental poderá 
se legitimar, na medida em que está abrindo mão progressivamente de atividadesque justificavam sua razão de existir? Já a análise das relações sociais de produção 
revela a convivência de elementos da modernidade gerencial, entre os quais o uso 
de indicadores quantitativos de produtividade, a padronização de procedimentos, 
investimento em treinamento, efetivos enxutos, processos de terceirização e 
valorização e habilidades de terceira dimensão, com procedimentos tradicionais de 
gestão, como a ausência de um plano de carreira, escassez de benefícios, 
recrutamento com base na rede de contatos pessoais. 
 É preciso ter também presente que a campanha pelo envolvimento do 
empresariado com a questão social, coordenada pelo GIFE a nível nacional, e pelo 
GIFE-Sul, no Rio Grande do Sul, está contribuindo para dar visibilidade a profissionais 
cujas habilidades e competências desenvolvidas na ação direta junto a organizações 
do terceiro setor não eram, até então, reconhecidas como tal e consequentemente 
não eram objeto de uma remuneração específica. É preciso, ter cuidado para não 
confundir a visibilidade social – a qual está sem dúvida se fazendo também 
acompanhar de novas e mais complexas exigências, em termos do perfil de 
qualificação da mão-de-obra atuando no terceiro setor – com a emergência de um 
novo mercado de trabalho, conforme a tese de Rifkin (1997) (cf. anexo 1). 
Em questão o trabalho voluntário 
O trabalhador voluntário é alguém que trabalha sem direito à remuneração e, 
geralmente, sem direito de receber sequer indenização pelos gastos decorrentes da 
atividade que realiza, como gastos com transporte, vestuário, alimentação, etc., o 
que, em tese, nos levaria a pensar que para ser voluntário seria preciso dispor de um 
mínimo de riqueza excedente. Nem sempre, entretanto, é assim. Muitos deles abrem 
 
 
 
 
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mão da satisfação de necessidades básicas em prol da conquista dos objetivos que 
se propuseram. 
A pergunta que cabe colocar, então, é: por que alguém se torna voluntário? 
Para respondê-la é preciso distinguir entre pelo menos três tipos de trabalhadores 
voluntários: 
a) o militante, que luta pela defesa de seus interesses diretos, como a 
legalização de áreas ocupadas por invasões, o acesso ao saneamento urbano e 
escolas para os filhos, 
b) o idealista que se comove com os problemas sociais e milita por simpatia a 
uma causa que o sensibiliza e 
 c) o falso-idealista, que com sua luta visa a preservação de privilégios, ainda 
que não raro elementos dessas três modalidades se complementem. 
O primeiro tipo de voluntário se dedica a causas de interesse comum, por 
saber que essa é a única estratégia que dispõe para tentar acessar direitos que 
deveriam ser assegurados em qualquer sociedade. O segundo é representativo da 
pessoa que milita por se sentir responsável por uma lógica perversa que expõe 
crianças e adolescentes sujeitos a diferentes modalidades de violência. O mínimo que 
seria desejável, nesse caso – sobretudo quando se trata de crianças engajadas no 
trabalho social, é que desenvolvessem suas atividades voluntárias em organizações 
transformadoras. Isto é, em organizações que efetivamente contribuam para a 
reinscrição social, o que é muito difícil, para não dizer impossível, de ocorrer sem uma 
política nacional que articule o conjunto de medidas que estão sendo tomadas pelo 
conjunto das organizações que atuam na área. 
Já os terceiros utilizam o trabalho voluntário como um instrumento para tentar 
reverter uma situação de miséria que os ameaça em sua condição de classe 
politicamente dominante. Ao que se soma, ainda, que a campanha que vem sendo 
realizada pelos meios de comunicação no estado está começando a incutir no 
 
 
 
 
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imaginário coletivo um sentido de nobreza ao trabalho comunitário. Quanto ao motivo 
do altíssimo índice de desistência entre os voluntários que se cadastram na 
organização representativa do caso 4, pode se cogitar que esteja associado ao baixo 
poder de retenção da força-de-trabalho, representado pelo discurso de valorização 
do trabalho voluntário em uma sociedade materialista e mercantil, como a nossa. 
Outro fator possível é que as pessoas que se oferecem para fazer trabalho voluntário 
estejam buscando, na realidade, uma forma de aproximação-inserção do mercado 
formal de trabalho, sobretudo por terem amigos ou conhecerem pessoas que se 
apresentaram como voluntários e acabaram sendo incorporados à força de trabalho 
dessa OSCIPP. 
 
A DEFINIÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL EM ANÁLISE 
 
 
No Brasil, a questão social acontece em um cenário já tardio no qual se 
desenvolve um modelo de produção capitalista, concentrador de renda e socialmente 
 
 
 
 
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excludente. Sendo esta resultante da expressão capitalista e protagonista das mais 
diversas e perversas expressões das desigualdades sociais. Segundo “Iamamoto 
(2011) as práticas de concentração de capital, renda e poder, foram responsáveis 
pelo agravamento da questão social no país, além das precárias condições de vida 
da maioria da população brasileira, a questão social teve grande expressão no 
desemprego e no subemprego”. E o afastamento do Estado frente essas questões se 
eximindo de suas responsabilidades sociais contribuiu ainda mais para seu 
agravamento. 
Em decorrência, a questão social passa a ser definida por diversos autores 
como sendo a expressão da contradição do modo capitalista de produção, na qual 
quem produz não se apropria das riquezas oriundas de sua produção. Entretanto, 
pode-se identificá-la também nas contradições das classes e dessas com o Estado. 
Machado (2007), afirma a questão social como uma categoria, na qual se manifesta 
a contradição do modo capitalista de produção, em que os trabalhadores produzem 
e os capitalistas se apropriam de sua produção, fundamentando assim, a contradição 
na produção e apropriação da riqueza socialmente produzida. 
Para a autora, as expressões da questão social são percebidas no 
desemprego, na fome, no analfabetismo, na violência, e não somente no contexto 
capital versus trabalho. Há certa unanimidade por parte de vários autores de que a 
expressão das desigualdades sociais se dá em decorrência da apropriação do capital 
por parte de uma minoria da sociedade. A exploração do trabalho pelo capital está no 
cerne das discussões. 
[...] “entender a ‘questão social’ é de um lado, considerar a 
exploração do trabalho pelo capital e de outro, as lutas sociais 
protagonizadas pelos trabalhadores organizados em face desta 
premissa central à produção e reprodução do capitalismo. 
Conjugadas, essas premissas derivam em expressões diversificadas 
da ‘questão social’ em face das quais cabe sempre um processo de 
investigação a fim caracterizá-la enquanto ‘unidade na diversidade’; ou 
 
 
 
 
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seja, devemos nos esforçar, como categoria, para apontar as 
características e ‘formas de ser’ de cada expressão da ‘questão social’ 
enquanto fenômeno singular e, ao mesmo tempo, universal, cujo 
fundamento comum é dado pela centralidade do trabalho na 
constituição da vida social” (SANTOS, 2012, p.133). 
 
Para Montaño (2012), a partir dos acontecimentos de 1830 a 1848, começa-se 
a pensar a questão social e suas formas de manifestar como fenômenos autônomos 
e de responsabilidade individual ou coletiva dos setores por elas atingidos e não 
somente como resultante da exploração econômica. Em contrapartida, Pastorini 
(2010) afirma que existem aqueles autores que, fazendo referência aos estudos de 
Castel sobre a questão social na América Latina dizem que a partir do período da 
colonização, ela se constitui nas desigualdades em que as relações sociais se 
assumem, sejam elas nas dimensões políticas, econômicas, religiosas, culturais, 
raciais, etc. 
A questão social então seria o conjunto das desigualdades e injustiças sociais 
que ao longo de centenas de anos, adquiriu diferentes formas.São as expressões 
das desigualdades sociais, oriundas do modo de produção capitalista que vão dar 
significado ao conceito que é a questão social. Mas principalmente, são elas que vão 
fazer surgir um movimento por parte dos trabalhadores insatisfeitos com suas 
condições de trabalho e de toda uma população socialmente excluída. O movimento 
organizado pelos trabalhadores e por outras classes excluídas, que lutam por direitos, 
sejam eles econômicos, políticos, sociais ou culturais, é o que caracteriza a chamada 
luta de classes. 
Dessa forma, pensar a questão social como o conjunto das desigualdades e 
injustiças sociais, seria considerar além do capitalismo, e que, ela ainda permanece 
nas mais diversas formas da estrutura social e não somente na estrutura de classe. 
Segundo Iamamoto e Carvalho (2014), a questão social nada mais é que as 
 
 
 
 
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expressões em que se deram a formação, o desenvolvimento e a entrada da classe 
operária no cenário político da sociedade, buscando se fazer reconhecer como classe 
pelo Estado e pelo empresariado, são as contradições entre a classe operaria e a 
burguesia, em que a primeira, luta por intervenções que vão muito além da caridade 
e da repressão. Ainda tomando como referência Iamamoto e Carvalho (2014), pode-
se observar que surgem outros modos da sociedade e do Estado interpretar e agir 
sobre a questão social: 
 
“Historicamente, passa-se da caridade tradicional levada a 
efeito por tímidas e pulverizadas iniciativas das classes dominantes, 
nas suas diversas manifestações filantrópicas, para a centralização e 
racionalização da atividade assistencial e de prestação de serviços 
sociais pelo Estado, à medida que se amplia o contingente da classe 
trabalhadora e sua presença política na sociedade. Passa o Estado a 
atuar sistematicamente sobre as sequelas da exploração do trabalho 
expressas nas condições de vida do conjunto dos trabalhadores, 
(CARVALHO; IAMAMOTO, 2014, p. 85)”. 
Em analise os estudos de Fraga (2010), entende-se a questão social como 
um conjunto de problemas sociais, econômicos e políticos: 
“O cerne da questão social está enraizado no conflito entre capital versus 
trabalho, suscitado entre a compra (detentores dos meios de produção) e venda da 
força de trabalho (trabalhadores), que geram manifestações e expressões. Estas 
manifestações e expressões, por sua vez, são subdivididas entre a geração de 
desigualdades: desemprego, exploração, analfabetismo, fome, pobreza, entre outras 
formas de exclusão e segregação social que constituem as demandas de trabalho 
dos assistentes sociais; também se expressa pelas diferentes formas de rebeldia e 
resistência: todas as maneiras encontradas pelos sujeitos para se opor e resistir às 
desigualdades, como, por exemplo, conselhos de direitos, sindicatos, políticas, 
associações, programas e projetos sociais (FRAGA, 2010, p. 45).” 
 
 
 
 
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Portanto considera o quão são abrangentes as diferentes maneiras que a 
questão social se manifesta e que como ao longo dos anos ela foi adquirindo várias 
modalidades. E é nessa perspectiva que surge a necessidade de maiores 
intervenções por parte do Estado, do empresariado e também da sociedade civil, que 
não aquelas já pautadas na benevolência. Intervenções cujas finalidades estejam 
voltadas para a redução das desigualdades e injustiças sociais, para o fortalecimento 
e autonomia dos sujeitos, para a construção da cidadania e afirmação da democracia. 
Sabe se que, muitas foram às transformações que a sociedade sofreu, 
inclusive no mundo capitalista, fazendo com que alguns autores definissem a “velha 
questão social” como sendo “nova questão social”. Fundamentando o novo: 
 no aumento do desemprego, 
 na miséria, nas diversas formas de exclusão social, 
 nos novos sujeitos e principalmente em suas novas necessidades. 
Sobre tais mudanças, Pastorini (2010), destaca que são muito importantes, 
porém, que são novas formas de sua expressão e que mantém traços de sua origem. 
O que há são diferentes versões da questão social para cada estágio capitalista, 
diferentes reações da sociedade frente à ela, buscando estabilidade e manutenção 
da ordem, além da preocupação com a reprodução das desigualdades e contradições 
capitalistas e o do reconhecimento social como partes fundamentais das diferentes 
versões da questão social. Ressalta-se ainda que, a discussão acerca de tais 
mudanças e expressões é fundamental para entender as respostas dadas a questão 
social na contemporaneidade. 
A questão social agora assume particularidades dependendo das 
peculiaridades de cada país. A novidade então está na forma assumida pela questão 
social em decorrência das várias transformações que sofreu desde a década de 80, 
onde tem-se o aumento da pobreza, a instabilidade dos trabalhadores e a perda dos 
padrões de proteção social. A autora ainda diz que mesmo reformulada e redefinida 
 
 
 
 
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em vários dos seus estágios capitalistas, a questão social permanece a mesma e nos 
apresenta 3 pilares centrais que a compõem, são eles: 
 Em primeiro lugar, ela nos remete à relação de exploração do capital 
x trabalho; 
 Em segundo, seu atendimento está diretamente relacionado aos 
problemas e grupos sociais que podem comprometer a ordem social já 
estabelecida; 
 E em terceiro, ela é a expressão das manifestações das desigualdades 
e antagonismos presentes nas contradições da sociedade capitalista; 
Pode-se observar que a questão social sempre aparece vinculada às 
desigualdades e contradições do capitalismo, às classes menos 
favorecidas e ao que ela significava para a ordem burguesa. 
Assim, considerar-se-á que a nova questão social, nada mais é que a tão 
conhecida e velha, questão social na qual suas expressões acontecem em novo 
contexto, daí a necessidade de intervenções pontuais adequadas as suas novas 
modalidades, aos novos sujeitos, as novas necessidades e a nova realidade social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O PROJETO SOCIAL COMO RESPOSTA À QUESTÃO SOCIAL 
 
 
 
Com o objetivo de dar uma resposta à questão social, políticas sociais são 
criadas em todo mundo a fim de provocar mudanças sociais, mas a questão social 
não é inerte e tão pouco se apresenta de maneira comum a todas as sociedades. Em 
cada sociedade ela se determina de um modo, de uma maneira que cada qual deve 
ser tratada de acordo com suas particularidades. Dessa forma, A questão pode ser 
entendida como tudo aquilo que põe em risco a integração da sociedade: 
 a pobreza, 
 a estratificação social, 
 o desemprego, 
 a concentração de poder e renda, 
 entre outros. 
 
 
 
 
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 A determinação do que será tratado como questão social, dependerá das 
convenções formadas socialmente. A cada diagnóstico e a cada forma de concepção 
e enfrentamento dos riscos sociais estará manifestada determinada maneira pela qual 
a sociedade busca entender e enfrentar a questão da sua coesão (MOREIRA, 2011, 
p.57). Como foi observado, várias são as concepções sobre a questão social e suas 
diversas formas de manifestação. Estudar tais manifestações, significa analisar o 
contexto em que a maioria da população se encontra, buscando conhecer a realidade 
das condições de vida de tal população, as desigualdades as quais estão sujeitas e 
o que tais desigualdades produzem na vida dos sujeitos, formulando assim, 
estratégias específicas para intervir e superá-las. 
Os instrumentos técnico-operativos do Serviço Social são um conjunto das 
ações profissionais que possibilitam a identificação das expressões da realidade, bem 
como as intervenções que visam melhorias e mudanças na realidade social. Segundo 
Santos (2012), os instrumentos são parte essencial do exercício profissional porque 
norteiam nossas ações, porém, mais do que valer-se desses instrumentosé preciso 
ser capaz de utilizar e operacionaliza-los da melhor forma possível. São estratégias 
para a realização da prática profissional, podendo se apresentar na forma de: escutas, 
entrevistas, fichas, dinâmicas de grupo, visitas domiciliares, relatórios, pareceres e 
laudos, acompanhamento social, observações, pesquisas, encaminhamentos, 
articulação com a rede e diagnósticos. Além disso, outras tais como elaboração, 
execução, avaliação e gerenciamento de projetos sociais. 
O projeto social é uma ação planejada que nasce dessa necessidade de se 
intervir em uma determinada realidade ou problema e tem um propósito quando 
criado, o de transformar realidade estudada, sendo uma alternativa para 
enfrentamento da chamada questão social. Carvalho, Müller e Stephanou (2003) 
afirmam os projetos sociais como um desejo de mudança na realidade, que a partir 
de uma reflexão sobre determinado problema e por meio de ações organizadas, 
buscam contribuir para possíveis mudanças. Ainda em seu Guia para elaboração de 
 
 
 
 
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projetos sociais, Carvalho, Müller e Stephanou (2003), falam da importância de sua 
implantação: 
“Os projetos sociais são uma importante ferramenta de ação, 
amplamente utilizada pelo Estado e pela Sociedade Civil” (Carvalho, 
Müller e Stephanou, 2003, p. 13); e, diante das transformações 
ocorridas no Estado e na sociedade civil, o projeto social se tornou 
uma ferramenta bastante difundida e uma forma alternativa de 
implantação de novas políticas sociais” 
 
Além de ser um instrumento do Serviço social e de várias outras profissões, 
que contribuem para a redução das desigualdades sociais, os projetos sociais são um 
exercício de cidadania, no qual vários atores sociais estão envolvidos. Eles são uma 
forma de estimular também uma maior conscientização do indivíduo para o papel que 
desempenha na sociedade. 
 Se um projeto social contribuir de forma relevante para fazer 
brilhar a luz interior de cada indivíduo no processo de constituição de 
novos sujeitos coletivos, então ele terá promovido o resgate da 
dignidade humana, em suma, terá sido exitoso (Armani, 2001 apud 
Carvalho, Müller e Stephanou, 2003 p. 6). 
 
 A partir dessa citação de Armani (2001), entende-se que o projeto social não 
é somente execução, ele é compreensão, é transformação social e a maior delas é a 
aquela provocada no sujeito. Nesse sentido compreende-se o projeto social como 
uma ferramenta estratégica que através de ações delimitadas é capaz de responder 
de maneira positiva as manifestações da questão social. 
 
 
 
 
 
 
 
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ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM PROJETOS SOCIAIS 
 
 
Na Lei que regulamenta a profissão do assistente social — Lei n. 8.662/9 de 7 
de junho de 1993, estão explicitas no art. 4º (nos incisos de I a XI), competências 
pertinentes ao profissional. Sendo uma dessas competências que constituem uma 
atividade privativa do assistente social: elaborar, coordenar, executar, avaliar: planos, 
programas e projetos juntamente com a sociedade civil. Iamamoto (2011) faz uma 
reflexão acerca do trabalho do Assistente Social, tendo como objeto de seu trabalho 
as diversas expressões da questão social: 
 
“Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas 
suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos 
 
 
 
 
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as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na 
saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo 
desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam 
as desigualdades e a ela resiste, se opõem. É nesta tensão entre 
produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, 
que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido 
por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou 
deles fugir porque tecem a vida em sociedade (IAMAMOTO,2011, p. 
28).” 
 
A atuação do assistente social em projetos sociais é de grande relevância, uma 
vez que esse profissional carrega consigo um conjunto teórico, metodológico e 
técnico-operativo capaz de compreender a realidade com uma visão crítica e desvelar 
as demandas, buscando medidas que beneficiem o desenvolvimento social. Para 
Iamamoto (2011) atualmente, um dos maiores desafios que o Assistente Social tem 
é de ser um profissional propositivo e não somente executor, que ao compreender 
uma determinada realidade, seja capaz de propor intervenções criativas e eficazes 
para a efetivação de direitos. O assistente social só tem a contribuir com projetos 
sociais, já que tem como característica de sua profissão a transformação social e essa 
se dão por meio da busca por instrumentos que possam mudar a realidade dos 
sujeitos, viabilizando o acesso aos direitos e contribuindo para a construção da 
cidadania. 
Os instrumentos utilizados pelo assistente social fazem dele o profissional que 
é, já que tais instrumentos nada mais são que a própria pratica profissional e a 
capacidade que este tem de operacionalizá-los. Em projetos sociais, o assistente 
social assume também o papel de gestor de projetos e os autores Carvalho, Müller e 
Stephanou (2003), traçam um perfil desse gestor de projetos sociais, sendo este 
profissional capaz de: 
 compreender o contexto social, 
 
 
 
 
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 político e institucional em que se realiza a ação; 
 comunicar e negociar; 
 definir, delegar e cobrar responsabilidades e tarefas; 
 coordenar todo o processo da ação; 
 avaliar e propor mudanças e correções; 
 motivar as pessoas, administrar conflitos e frustrações, gerenciar o 
trabalho em equipe; 
 e, valorizar e promover a visibilidade do projeto e de seus resultados. 
Na gestão de um projeto social, o profissional deve ainda conhecer bem a 
realidade e o contexto em que o projeto será viabilizado, através de um diagnóstico 
das questões a serem abordada, identificação do público alvo a ser atendido e 
parcerias, e as dificuldades para a implantação do projeto social. Além de articular-se 
com os atores sociais envolvidos nos diferentes contextos do projeto social. Não só 
em projetos sociais, mas em qualquer outro segmento, o assistente social através de 
suas ações tem o compromisso de buscar a consolidação da democracia, garantia da 
liberdade, a equidade e justiça social, acesso aos direitos e atuar no enfrentamento 
das desigualdades sociais e intervir nas diversas manifestações da questão social. À 
frente dos projetos sociais, o assistente social procura intervir de imediato nas 
demandas levantadas, buscando alternativas para solucionar os problemas e 
enfrentar os desafios da sociedade capitalista e principalmente, lutar pela 
emancipação e autonomia dos sujeitos. 
 
Considerações finais 
 
Considerando todos os aspectos, a questão social nasce no advento 
capitalista, na relação de exploração e exclusão do contexto capital versus trabalho, 
foi se apresentando e manifestando de diversas formas e tamanha é a sua 
 
 
 
 
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abrangência que passa a ser necessária intervenções que vão além da caridade. Faz-
se necessária apropriação de estratégias e técnicas a fim de trabalhar a redução das 
desigualdades sociais que vem se apresentando ao longo dos anos e sobre novos 
contextos. Agora suas expressões estão além do contexto capital versus trabalho; ela 
é contradição, miséria, desemprego, fome, pobreza, violência de gênero, de raça, é 
analfabetismo, violação de direitos. Deve-se lançar mão de intervenções mais 
pontuais adequadas às novas modalidades da questão social e dos novos sujeitos. 
 O projeto social aparece como uma alternativa, uma ferramenta estratégica, 
pontual e com delimitações para responder positivamente às manifestações da 
questão social. Através de sua elaboração, diagnóstico do contexto sócio histórico, 
compreensão da realidade, planejamento e intervenção,contribuindo assim para a 
transformação social, alcançando os sujeitos e suas necessidades, promovendo e 
consolidando as políticas sociais. Desde o surgimento do Serviço Social como 
profissão, o assistente social vem contribuindo de forma significativa para o 
enfrentamento da questão social. Seja por meio de projetos sociais ou em outro 
campo de trabalho, suas ações estão voltadas para consolidação da democracia, 
liberdade, equidade e justiça social e principalmente emancipação e autonomia dos 
sujeitos. É preciso atenção para as transformações que ocorrem constantemente na 
sociedade porque são elas que norteiam as ações profissionais dos assistentes 
sociais. E onde existir desigualdade, exploração ou qualquer violação de direitos, o 
compromisso de intervir para o benefício dos sujeitos e do desenvolvimento social e 
diminuição das desigualdades sociais, haverá um assistente social nesta mediação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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