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O SERVIÇO SOCIAL NA INICIATIVA PRIVADA E NO TERCEIRO SETOR Faculdade de Minas 2 Sumário APOSTILA – O SERVIÇO SOCIAL NA INICIATIVA PRIVADA E NO TERCEIRO SETOR ................................................................................................ 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 TERCEIRO SETOR ......................................................................................... 8 O terceiro setor privado no Brasil: a participação do mercado na gestão da questão social .......................................................................................................... 15 A DEFINIÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL EM ANÁLISE ................................... 26 O PROJETO SOCIAL COMO RESPOSTA À QUESTÃO SOCIAL ............... 32 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM PROJETOS SOCIAIS................ 35 Considerações finais ..................................................................................... 37 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 39 file:///C:/Users/sandr/OneDrive/Área%20de%20Trabalho/APOSTILA%20EXTERNA-O%20SERVIÇO%20SOCIAL%20NA%20INICIATIVA%20PRIVADA%20E%20NO%20TERCEIRO%20SETOR.docx%23_Toc38488300 file:///C:/Users/sandr/OneDrive/Área%20de%20Trabalho/APOSTILA%20EXTERNA-O%20SERVIÇO%20SOCIAL%20NA%20INICIATIVA%20PRIVADA%20E%20NO%20TERCEIRO%20SETOR.docx%23_Toc38488300 Faculdade de Minas 3 FACUMINAS A história do Instituto Facuminas, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Facuminas, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A Facuminas tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. Faculdade de Minas 4 INTRODUÇÃO Ao citarem sobre as políticas sociais e a sua forma de condução histórica no país (ineficiente, ineficaz e caracterizada por burocracia excessiva) se agravou de forma contundente, principalmente a partir dos anos 1990, no governo FHC, que empreendeu a contrarreforma do Estado (cf. Behring, 2003), amparado num discurso de “crise”. A submissão do país a uma orientação macroeconômica externa ficou bem nítida com a política social direcionada a uma prática apenas focalista e precária no enfrentamento da “questão social”. Enquanto o desemprego estrutural e o empobrecimento da população se ampliaram em níveis alarmantes, intensificando a Faculdade de Minas 5 ocorrência de condições de trabalho precarizadas e sem vínculo empregatício, a ação reguladora do Estado ia diminuindo, passando a estimular a solidariedade e construindo modalidades de parcerias no que era para ser da sua responsabilidade para com o social. Recrutado pelo próprio Estado no processo de contrarreforma, o “terceiro setor” é chamado para intervir na “questão social”, por meio do programa de publicização e, particularmente pelo programa Comunidade Solidária. O “terceiro setor” apresenta-se como um agente capaz de deslanchar uma “mudança social”, devido à sua capacidade de articulação, por ser um espaço democrático de mobilização comunitária e por ser também, apenas no nível do discurso, apolítico e aclassista, um “virtuoso”. Mas, embora queira mostrar-se neutro, seu discurso de classe já foi desvelado (cf. Montaño, 2005) e é fato que seu compromisso com a classe dominante não faz parte de conjecturas. Num contexto histórico de ações paliativas e pontuais, a iniciativa privada foi incentivada pelo Estado a atuar no campo da prestação de serviços sociais. No entanto, esse apelo à filantropia não é novidade no Brasil. A parceria entre Estado e sociedade civil já vem sendo costurada desde a década de 1930 (cf. Mestriner, 2005) e intensificada ao longo dos anos, oscilando entre ampliações e retrações. Realizando atendimentos que, a priori, seriam responsabilidades do Estado, a iniciativa privada reforça o discurso da ineficiência governamental — mesmo que seu financiamento muitas vezes seja proveniente dele. Considerando, o “terceiro setor” (que juntou num mesmo pacote conceitual ONGs, movimentos religiosos, associações de moradores e filantropia empresarial, só para citar alguns) passa a executar ações sociais, fortalecendo uma postura clientelista nos atendimentos. Dessa forma o enfrentamento da “questão social” por meio da (re)filantropia e do terceiro setor se ampliou. Ao tornarem-se “parceiros” do poder público para a implantação e gestão de programas e projetos sociais, consolidam uma transferência de responsabilidades para a iniciativa privada no Faculdade de Minas 6 campo do investimento social, que, na verdade, seria uma atribuição constitucional do Estado brasileiro em todos os níveis de governo. Passou a ser um canal onde as demandas sociais resultantes da “questão social” podem ser absorvido, desarticulado, pulverizado e transmutado em “questões sociais”, esvaziando sua origem nas contradições de classe, buscando respaldo no discurso da solidariedade e munido de uma legitimidade outorgada pela sociedade e pelo financiamento do Estado e/ou de empresas. Portanto, neste contexto tem como objetivo suscitar uma discussão preliminar sobre o Terceiro Setor, conceitos, características e desafios, apontando para a ação do assistente social nesse. Trata-se de um tema atual considerando o processo de configuração desse setor no cenário nacional e a reconfiguração das formas de gestão institucional, despertando-nos a necessidade de reflexão sobre a atuação dos diferentes profissionais das áreas de ciências humanas, sociais e da saúde mental , com destaque ao Serviço Social . A discussão e a reflexão sobre o Terceiro Setor é assunto atual e pertinente à medida que se busca uma compreensão específica e atualizada sobre a atuação de diferentes profissionais nessas organizações, considerando a busca da qualidade social para os serviços prestados. O Terceiro Setor se configurou, no decorrer dos últimos vinte anos, dentro de um contexto social , econômico e político marcado pela complexidade, incerteza , instabilidade e mudanças aceleradas, em uma dimensão globalizada e de grande desenvolvimento tecnológico e científico . Em contrapartida, de muita pobreza e desigualdade social. Assim, a dimensão e o significado do terceiro setor necessitam ser compreendidos dentro da conjuntura social , econômica e política que tem determinado a sua configuração no contexto contemporâneo .A abordagem desse tema não pode ocorrer nem de forma “ ufanista ” como se o terceiro setor viesse ocupar o papel que é do Estado na formulação e execução de políticas sociais e nem de forma “ pessimista ”, Faculdade de Minas 7 negando a sua importância e a dimensão de suas ações no enfrentamento de diferentes manifestações da questão social brasileira . A postura é a de buscar uma compreensão real e equilibrada do papel que as organizações do terceiro setor ocupam nocontexto capitalista contemporâneo e, concomitantemente as diferentes formas que diferentes áreas profissionais podem contribuir para o mesmo, dentre elas, o Serviço Social . Nesse sentido , esse texto tem como intencionalidade suscitar uma reflexão sobre o terceiro setor, mas , além disso, sobre a contribuição que o assistente social pode trazer para um trabalho contextualizado e de qualidade social, juntamente com a iniciativa privada das empresas aprimorado para buscar financiamentos, firmando parcerias e até se “adequando” aos seus interesses para atraí-las. Com a ampliação das ações sociais empresariais, dessa vez de forma sistemática — não mais restrita a doações de alimentos para creches ou asilos no Natal ou ao atendimento de seus funcionários (empréstimos internos, planos de saúde etc.), abre-se um campo potencial para a atuação do assistente social, na chamada “responsabilidade social das empresas”. Faculdade de Minas 8 TERCEIRO SETOR Foi traduzido do inglês (third sector) e faz parte do vocabulário sociológico corrente nos Estados Unidos, onde costumam serem usadas outras expressões entre as quais se destacam organizações sem fins lucrativos (non-profit organizations), significando um tipo de instituição cujos lucros não são repassados aos seus diretores e associados, e organizações voluntárias, com significado complementar. (COSTA, 2006). O conceito do “terceiro setor” foi formulado por intelectuais orgânicos do capital o que demonstra uma clara ligação com os interesses de classe nas mudanças necessárias à alta burguesia. Assim, o termo é constituído a partir de um recorte do social em esferas onde o Estado seria o primeiro setor, o Mercado, o segundo setor, e a Sociedade Civil é o terceiro setor. Recortes estes, neopositivistas, estruturalistas, funcionalistas ou liberais que isolam e atomizam a dinâmica de cada um deles que, portanto, desistoriciza a realidade social (MONTAÑO, 2010). Faculdade de Minas 9 O Terceiro Setor seria a articulação/inserção materializada entre os setores: o público, porém privado, a atividade pública desenvolvida pelo setor privado e/ou a suposta superação da equiparação entre o público e o Estado: o público não estatal seria também o espaço “natural” para esta atividade social. Neste sentido, o conceito “Terceiro Setor” se expande recentemente nas décadas de 1980 e 1990, a partir da necessidade de superação pública estatal. Porém ao identificar Estado, Mercado e Sociedade Civil, respectivamente como primeiro, segundo e terceiro setores, alguns autores observam que o “Terceiro Setor” é identificado como a sociedade civil e historicamente é a sociedade que produz suas instituições, o “Estado, o mercado, etc., a primazia histórica da sociedade civil sobre as demais esferas o “Terceiro Setor” seria, na verdade, o primeiro setor” (MONTAÑO, 2010, p.54). O Terceiro Setor se configura no decorrer das últimas décadas dentro de contextos sociais, econômicos e políticos complexos, estáveis, com mudanças aceleradas causadas pela globalização e grande desenvolvimento tecnológico e cientifico, porém, rodeado de muita pobreza e desigualdade social. Assim, o terceiro setor surgiu como uma nova configuração de relutância, às consequências da questão social, trazendo consigo a preconização de práticas voltadas ao voluntariado, à filantropia e principalmente a responsabilidade social (RODRIGUES, 1998). Neste contexto, de acordo com Montaño (2002), há uma fragmentação, preconização e focalização nas políticas sociais, seguida de uma descaracterização dos direitos sociais conquistados pela sociedade. E todas essas transformações ocorridas na sociedade também geram profundas alterações para o Serviço Social, principalmente no que diz a respeito ao mercado profissional de trabalho, onde seu maior empregador, o Estado se ausenta cada vez mais em relação ao atendimento às necessidades das classes subalternas. Diante da conjuntura apresentada, há uma reconfiguração dos espaços sócio ocupacionais do Serviço Social exigindo novas formas de atuação para o assistente social. Entretanto, contraditoriamente nesses espaços da atuação profissional Faculdade de Minas 10 também se encontra o objeto de estudo do Serviço Social, ou seja, as expressões da questão social, apresentando-se no terceiro setor para o Serviço Social como um espaço de atuação profissional, exigindo competências no campo de planejamento, formulação e avaliação de políticas sociais, atribuições que fazem parte do fazer profissional do assistente social. Ao falar em sociedade civil, movimentos sociais e Organizações Não Governamentais (ONG’S), é importante que tenhamos uma compreensão histórica dos diferentes interesses e conflitos que se encontram atrelados à sociedade. Um dos principais acontecimentos históricos foi à atuação política dos anos de 1990 na reforma e reconstrução do Estado. A Reforma do Estado constituiu-se de quatro problemas centrais que, embora interdependentes, podem ser distinguidos. O primeiro foi um problema econômico- político, o outro também econômico-político (mas ligado diretamente ao papel regulador do Estado), o terceiro problema foi de caráter econômico-administrativo, e por fim um problema de caráter político, relacionado ao aumento da governabilidade ou capacidade política do governo de intermediar interesses, garantir legitimidade, e governar. (BRESSER-PEREIRA, 1997). Com os anos 1990 e o início do século XXI, um novo cenário se apresenta para os movimentos sociais e também para as ONG’s. A situação social é agravada pela mundialização, pela financeirização do capital, flexibilização produtiva e por outro lado, a conquista e criação de espaços institucionais e o estabelecimento de novas relações com as esferas governamentais que colocam novos desafios de atuação (MONTAÑO, 2002). O processo da contrarreforma do Estado brasileiro que adotou um conjunto de novas medidas para o Estado transferiu os serviços sociais para o terceiro setor repercutindo na profissão do serviço social, no seu espaço ocupacional, nas condições e relações de trabalho criando novas funções e competências. De acordo Milano Filho (2004), o Terceiro Setor no Brasil é destacado em especial toda a sociedade, independente das características operacionais e área de atuação, devendo esse setor atender as expectativas de seus interesses, sendo Faculdade de Minas 11 representados nessa modalidade os doadores de recursos representados pelos financiadores dos projetos sociais executados pelas entidades sem fins lucrativos, de modo a realizar os projetos direcionados aos seus beneficiários carentes. Portanto, o Terceiro Setor é composto por Organizações Não Governamentais (ONG’s) que representam a sociedade civil organizada com participação de voluntários para atender aos interesses públicos em diferentes segmentos, como na educação, saúde, esporte, lazer e outros. “A substituição gradativa e intencional das funções do Estado de Bem-Estar Social pelo chamado Estado Mínimo, resultado de implantar a gradativa política neoliberal, levou o sucateamento das políticas sociais públicas. Embora o Estado de Bem-Estar Social nunca tenha sido implantado efetiva e amplamente no Brasil, não podemos desconsiderar ações sociais de iniciativa pública, porém de importante presença no atendimento à questão social brasileira, fortalecida, a partir de 1988, pela Constituição Federal contínuo de diversas leis orgânicas relacionadas ao atendimento a diferentes áreas e segmentos, que as promulgaram como dever do Estado e direito do cidadão.” (SIMÕES, 2009, p.341) Nesse contexto, funda-se mais um espaço sócio ocupacional para a configuração do mercado de trabalho do assistente social, determinado por um conjunto de chamados específicos que adensam a partirde condições sociais, históricas e particulares que necessitam de uma intervenção qualificada e crítica de um profissional do Serviço Social (NETTO, 1992). Assim, caracteriza-se o trabalho profissional como um conjunto de informações que identifica as necessidades junto às demandas sociais embasada no conhecimento do profissional de Serviço Social, portanto, isto não se confunde com as necessidades de um público que dependem do mercado de trabalho, enquanto profissionais reconhecidos socialmente numa esfera do capitalismo e suas exigências. Faculdade de Minas 12 O Serviço Social é uma profissão que surgiu inicialmente para conter a população que se organizava para cobrar do Estado direitos sociais, mas devido aos agravantes sociais ocorridos pelo processo de industrialização e urbanização, o Serviço Social foi se desenvolvendo junto à divisão sócio técnica do trabalho, intervindo nas demandas que foram surgindo frente ao capitalismo, intervindo nas demandas que foram aparecendo frente ao capitalismo no que demandava a sociedade e seus pressupostos. (IAMAMOTO,1992). Para Gohn (1998) as lutas sociais nunca morrem e elas se apresentam historicamente de várias formas. Nos anos de 1970 e 1980, as ONG’s constituem-se como uma das principais formas de reivindicações sociais, aonde as mesmas vêm crescendo e ganhando autonomia, e hoje se constituíram em um universo próprio, organizado e menos politizado. Segundo Iamamoto (2001), o enfrentamento da questão social tem sido tensionado por distintos projetos societários na definição da estruturação e implantação das políticas que convivem em lutas no seu interior. “Por outro lado, a privatização se expressa na “progressiva mercantilização do atendimento das necessidades sociais” na expansão das iniciativas do terceiro setor, caracterizando um trato descoordenado, pontual e pulverizado das expressões da questão social que não reconhece a concepção de direito e universalidade de acesso.” (IAMAMOTO, 2001, p.24). Segundo Montaño (2002) nessa perspectiva teórica metodológica e critica, compreende que o terceiro setor teria que funcionar como se fosse um fenômeno para servir de ocultação do capitalismo diante dos interesses da classe trabalhadora para a função social e resposta às expressões sociais. Faculdade de Minas 13 Landim (1998) e Fernandes (1997) identificam quatro momentos fundamentais no processo de constituição histórica do terceiro setor no Brasil. O primeiro se estende da colonização até meados do séc. XX e corresponde ao desenvolvimento das chamadas associações voluntárias, fundadas pela igreja católica e baseadas em valores da lógica cristã. Algumas dessas organizações existem até hoje e atuam na prestação de serviços sociais e assistenciais, entre os quais a saúde, a proteção dos desamparados e a educação. O segundo momento, que tem início na década de 30, no governo de Getúlio Vargas, corresponde ao período em que o assistencialismo é assumido como uma estratégia política do governo. Durante esse período, que se estendeu até o final dos anos 60, o estado e a igreja dividiram a responsabilidade por obras assistenciais paternalistas e avessas ao questionamento social, a igreja agindo como uma poderosa aliada do estado, no controle das manifestações de insatisfação social. A década de 70 marca o ingresso do terceiro setor, no Brasil, em uma nova fase. As instituições de caráter filantrópico e assistencial unem se aos chamados movimentos sociais e, com o apoio da igreja, tornam-se porta-vozes de problemas locais, assim como passam a denunciar as situações de repressão, desigualdade e injustiça social. É nesse período que surgem as ONGs. Com significativa participação na vida política nacional, em particular no processo de democratização política, elas contaram com significativo apoio de organismos internacionais. Ainda assim, muitas delas vieram a desaparecer em consequência de sua resistência à institucionalização, então percebida como perda de autonomia e submissão ao estado. Algumas dentre as mais significativas ONGS brasileiras são o resultado de movimentos autônomos gestados em um momento em que qualquer forma de organização voluntária e independente do estado era percebida com suspeição pelos poderes instituídos, induzindo a que elas sejam, por vezes, associadas à agenda da esquerda. O quarto momento, na história do terceiro setor no Brasil, pode ser formalmente demarcado pela promulgação da constituição de 1988, que define o Faculdade de Minas 14 conceito de cidadania e define o arcabouço filosófico para a elaboração de políticas sociais. Em 1990, é promulgado o estatuto da criança e do adolescente; em 1991, a lei de incentivo à cultura; em 1993 a lei orgânica da assistência social; em 1998, a lei que dispõe sobre o trabalho voluntário; e em março de(1999), a lei 9.790/99, que estabelece os termos para a qualificação das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, as OSCs. Caracteriza, também, o momento presente a redução dos investimentos públicos e a municipalização de atividades e serviços que, até então, eram tradicionalmente realizados por organismos federais, estaduais e municipais. Paralelamente a esse processo, observa-se a emergência de novos atores sociais, entre os quais o GIFE (Grupo de Instituições e Fundações Empresariais), que é o organismo que reúne as OSCs representativas da participação do mercado no terceiro setor no Brasil. Faculdade de Minas 15 O terceiro setor privado no Brasil: a participação do mercado na gestão da questão social Gestado a partir de um comitê de filantropia instituído em 1989, no âmbito da Câmara Americana de Comércio de São Paulo, para pensar como os empresários poderiam contribuir para modificar o conturbado panorama social do Brasil, O GIFE foi formalmente criado em 1995, por representantes de 25 grupos privados, nacionais, entre os quais: Bradesco, Volkswagen do Brasil, Victor Civita, Grupo Itaú, Oldebrecht e Rede Globo, com a atribuição de fomentar a atuação sistemática de empresas privadas na área social. Primeira organização latino-americana do gênero, e definida pelo empresariado como o fórum permanente da cidadania empresarial. Faculdade de Minas 16 Primeira organização latino-americana do gênero, e definida pelo empresariado como o fórum permanente da cidadania empresarial. (Meneguetti, 1998), o GIFE já contava, em 1997, com 40 associados que, em conjunto, destinam cerca de US$ 400 milhões/ano para projetos nas áreas de educação, cultura, ciência, tecnologia, saúde, meio-ambiente e bemestar social. Pautado, de um lado, pela consciência da fragilidade do estado e, de outro, pelos riscos do capitalismo selvagem, o GIFE – cuja missão explícita é “aperfeiçoar e difundir os conceitos e práticas do uso de recursos privados para o desenvolvimento do bem comum” (Meneguetti, 1998) – realiza atividades educativas e oferece apoio técnico a empresas que desejem aderir à causa da cidadania empresarial. Assim, se disponham a investir sistematicamente na área social, através de atividades planejadas e continuadas, com objetivos e metodologias definidos e sujeitas à avaliação periódica. Avesso ao paternalismo, a situações que gerem dependência e ávido defensor da profissionalização das organizações que operam no terceiro setor, o GIFE realiza, igualmente, seminários, cursos e eventos, tanto de qualificação como de difusão de experiências, de modo a qualificar seus associados para o exercício da “cidadania empresarial” (GIFE, 1997) . Em 1997, com o objetivo de criar pólos regionais de disseminação da prática de intervenção do mercado na reorganização do espaço público, empresas integrantes do GIFE nacional, com tradição empresarial no Rio Grande do Sul,entre as quais, a Iochpe-Maxion, a Rede Brasil Sul de Comunicações, a Link S. A., a Copesul, a Ipiranga, o Grupo Gerdau, a Avipal, as Federações das Indústrias, do Comércio, da Carne, a C&A, o Grupo Econômico Robert Levy, criaram o GIFE Sul. Atuando no estado desde então, o GIFE-Sul é formado por sete Organizações Privadas da Sociedade Civil de Interesse Público/OSCIPP: a Fundação Iochpe, a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, a Fundação Projeto Pescar, o Instituto C&A de Desenvolvimento Social, o Instituto Robert Levy, a Faculdade de Minas 17 Fundação Bradesco, a Fundação Parceiros Voluntários e a Fundação Semear, que congrega empresas da região dos Sinos. Para que se possa ter uma ideia do dinamismo da atuação do segundo setor, através das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público-Privado, as OSCIPPs, no Brasil, cabe mencionar que a experiência de regionalização da ações do GIFE, iniciadas com o GIFE-Sul, já está sendo reproduzida em outras regiões do país, com destaque para os estados do Rio de Janeiro e Bahia. O capital, na base desses casos, é de origem local e representativa de empresas sujeitas à acirrada concorrência e expostas aos desafios da produtividade com qualidade, o que as têm conduzido a processos de racionalização de seus respectivos recursos, estruturas e processos. Ou seja, à dinâmica da reestruturação produtiva. “Tomando-se, agora, a tipologia de classificação das OSCIPP,proposta por Lipietz (1998), constata-se que a 1 opera conforme a lógica da inserção como processo. Isto é, ela investe em ações que visam combater a desfiliação, enquanto a 2 e a 3 praticam, ainda, a inserção como destinação, na medida em que absorvem parte dos jovens que qualificam e procuram colocar os excedentes junto a fornecedores e clientes. A dinâmica econômico-social-gerencial- institucional A segunda macro-questão que nos colocamos foi: qual a dinâmica econômica-social-gerencial-institucional subjacente às ações das OSCIPs pesquisadas?” Lipietz (1998). A dinâmica econômica Ainda que os recursos utilizados originalmente fossem provenientes do grupo fundador, a tendência é passarem a operar cada vez mais com recursos de terceiros, sejam eles públicos ou privados, nacionais ou internacionais. Isso não diminui, entretanto, sua influência sobre as OSCs “clientes”, pelo contrário. Na medida em que dominam a tecnologia sobre como acessar financiamentos e desfrutam de credibilidade junto aos investidores para obtê-los – como é o caso da 1, que tem ainda a mídia a sua disposição – elas não apenas passam a direcionar as ações sociais Faculdade de Minas 18 daquelas, como a influir em suas práticas administrativas. No que se refere ao volume de recursos que canalizam para atividades sociais verifica-se que tem aumentado. Na 1, o volume de investimentos tem triplicado de ano para ano e, em 1998, ela aplicou US$ 15 milhões em atividades sociais, 20% dos quais com recursos próprios15. Já a 4, que vem investindo maciçamente no desenvolvimento do voluntariado, tem cadastrados mais de 2000 voluntários, dos quais 700 são ativos. Ou seja, estão atuando. Desses, 50% possuem o curso superior completo e 72% é mulheres, o que indica uma predominância da mulher no trabalho voluntário (vide anexo 1). Em 1998, essa organização computou um total superior a 35 mil horas de trabalho voluntário o que, convertido em valores monetários, possibilita compreender o poder de influência que também detém. Sua meta para 1999 é inaugurar 15 novos centros de voluntariado através da interiorização da ação no estado. Um tema bastante presente para todas elas é o novo marco legal (a lei 9.970/99 que qualifica e regulamenta as atividades no terceiro setor). Alimentam, em comum, a esperança de que o governo canalize para as atividades que apoiam os recursos que vêm sendo desperdiçados com o uso indevido da renúncia fiscal. A dinâmica gerencial Varia de uma OSCIP a outra o grau de maturidade da dinâmica da reestruturação ou “profissionalização”. Assim, enquanto a 3 está lutando para padronizar os métodos adotados nas escolas de iniciação profissional que mantém, a 2 – cuja atuação em função também do convênio com o MEC é semestralmente avaliada – adota procedimentos padronizados em todas as escolas. Pode-se, entretanto, afirmar que todas as OSCIPP pesquisadas estão tomando medidas concretas no sentido de substituir o agir filantrópicas por ações que visam obter o máximo de retorno (seja ele social, econômico ou outro) sobre os recursos investidos. O que nos permite afirmar que a lógica da gestão do privado está sendo transferida Faculdade de Minas 19 para a gestão do social. Medidas essas que estão aportando uma nova agilidade das ações, como é o caso da 3, que abriu no período entre 1997 – quando se filiou ao GIFE e passou a atuar em convênio com o governo do estado – e agosto de 1999, 24 novas escolas. Outro aspecto que chama a atenção é o fato dos empresários estarem atuando na área social não mais isoladamente, mas em grupo. Ou seja, como um “ator coletivo”. Da mesma forma é possível perceber que a missão não explícita do GIFE-Sul é a participação política do empresariado nacional na definição das estratégias a serem utilizadas e no modelo de gestão a ser adotado, para tratar de problemas sociais específicos. No que se refere especificamente à representação da questão social, tem-se: de um lado, a desfiliação de crianças e adolescentes e, de outro, o desenvolvimento daquilo que é denominado de “consciência cidadã”. Em duas das três empresas (casos 1, 2 e 3) que definem a questão social em torno da desfiliação, duas têm por foco a redução do analfabetismo e a difusão de habitus operários (2 e 3). A terceira (caso 1) inclui também em seu foco a geração de renda. Quanto à quarta (caso 4) seu foco é tanto aumentar o número de pessoas atuando como voluntários no terceiro setor, como substituir o voluntarismo pelo voluntariado. Expressão essa que simbolizaria a introjeção, por cada pessoa na comunidade – seja ela criança, adolescente, adulto, idoso, assalariado, autônomo, empresário, etc. –, do sentimento de corresponsabilidade pela solução dos problemas sociais. E que tem implícito o postulado de que a solução dos problemas sociais não é algo que diga respeito apenas ao estado. Assim, pode compreender a ênfase na importância atribuída pelas organizações que pertencem ao GIFE-Sul à substituição de atos filantrópicos isolados por uma ação coletiva de caráter político. Dado compreenderem que é coletivamente que irão atingir sua meta de modelagem de uma nova consciência ou cultura nacional. A expressão cidadania empresarial, amplamente empregada nos documentos do GIFE, deve, pois, ser compreendida tanto como um estado de comprometimento de cada um, e de todos os empresários, na busca de soluções para os problemas sociais, Faculdade de Minas 20 quanto como mobilização da sociedade em geral para a problemática. Processo esse no qual deverão atuar – e esta uma das características da dinâmica proposta pelo GIFE – em parceria com o estado e com as organizações sociais que já vêm atuando no setor. Subjacente à expressão “parceria” está desde a preocupação em agir de modo “profissional”, o que no contexto do terceiro setor inclui a avaliação do retorno sobre investimentos, como a redefinição de papéis. Com relação à distribuição de papéis observa-se uma dupla tendência, a saber: a) as OSCIPP realizam elas próprias as ações que identificam como importantes para minimizar os problemas sociais e b) as OSCIPP limitam sua participação ao financiamento e suporte técnico a projetos apresentados por organizações já atuando no terceiro setor. Das quatro OSCIPP pesquisadas, duas têm atuação direta (casos 2 e 3) e as outras duas (casos 1 e 4) atuam intermediando ações, o que parece apontarpara a tendência dominante no futuro. Paralelamente a esse processo de redefinição de papéis, de reestruturação da divisão tradicional do trabalho e da lógica de canalização de recursos, observa-se uma tendência de mudança também na origem e no volume dos recursos empregados em causas sociais. Na medida em que o empresário vai reservando para si o papel de gestor do social, e em que disponibiliza sua rede de contatos e sua competência gerencial para atrair recursos públicos e privados, nacionais e internacionais, a tendência é de aumentar o volume global de recursos investidos no setor e de diminuir comparativamente a parcela que ele próprio investe. Portanto, cada vez mais as empresas ou grupos empresariais pioneiros em investimentos na área social se transformariam em gerenciadores de recursos de terceiros. Outro aspecto que deve assegurar uma participação crescente do empresariado na área social é a relação que se estabelece entre envolvimento com esse tipo de atividade e opinião pública favorável. Investir na área social resulta em dividendos políticos, o que tout court facilita a inserção na vida política e parece vir ao encontro do desejo de significativo número de empresários nacionais. Analisado o conjunto de mudanças em curso e tendo-se presente que a nova lógica está se Faculdade de Minas 21 difundindo com o apoio das associações patronais do comércio, da indústria e do meio rural para o interior do estado, constatasse estarmos diante de um processo de profunda mudança no paradigma gerencial tradicionalmente praticado pelas organizações do terceiro setor. A dinâmica institucional Todas as OSCIP pesquisadas, uma criada nos anos 70, duas na segunda metade da década de 80 e a outra em 1996, têm origem familiar e resultam da ação de um membro da família, ou do presidente do grupo, que inicialmente aportou o suporte econômico. O fundador é geralmente uma figura humana que em vida se distinguiu por ter acumulado fortuna, conquistado a glória em esportes, como o futebol e o automobilismo, ou por ter obtido representatividade no meio empresarial. A eles, sobretudo quando já estão mortos, é comum serem atribuídas, pelos membros da cúpula dirigente da organização que lhes tomou o nome emprestado, qualidades extraordinárias como a solidariedade, o desprendimento, o altruísmo, o que os faz ascender à condição de heróis. Ao criarem essas figuras veneráveis, os dirigentes dessas OSCIP tornam- se também os herdeiros legítimos do mito e, como tal, depositários de uma autoridade praticamente inquestionável. Quando o dirigente ainda está vivo, não raro se verifica a tentativa de associar-lhe uma personalidade carismática, de transformá-lo em um ser dotado de características extraordinárias. A responsável por uma das OSCIP pesquisadas é apontada como “a mentora intelectual (da organização que dirige). Ela é o coração da (organização que dirige). Ela acreditou, ela tem levado isso com um voluntariado próprio de 24 horas por dia. Ela está aqui na parte da tarde, mas ela em casa está sempre trabalhando em contatos novos, principalmente conhecimentos. É uma pessoa de total dedicação”. No entanto, agora, ao conceito de cidadania – conforme proposto por Silva (1995) – para analisar o sentido que essa palavra tão cara às OSCIPP integrantes do Faculdade de Minas 22 GIFE-Sul assume em sua prática cotidiana, verifica-se que as atividades dessas organizações concentram-se na dimensão social da cidadania. Ou seja, dos direitos, como o direito à educação, à saúde e ao trabalho que viabilizam o acesso do indivíduo à condição de consumidor da riqueza socialmente produzida. O desenvolvimento da consciência crítica – a autonomia, no sentido filosófico do termo – do mesmo modo que o sistema econômico não está em discussão. O ideal de democracia “como um espaço institucional que protege os esforços do indivíduo para se formarem e se fazerem reconhecer como sujeitos” (Touraine, 1996, p. 173) não compõe o debate. Trata-se de evitar novas desfiliações, não de questionar as causas estruturais da crise. Essa a missão que as organizações que compõem o GIFE no estado advogam para si e a serviço da qual estão mobilizando as ferramentas gerenciais da qualidade, independentemente de serem essas redutoras dos postos de trabalho. Trata-se da técnica a serviço do “progresso social”, ainda que a eficácia por ela garantida seja excludente, desfiliante. O que pode também ser traduzido por questionar o modelo político de organização da sociedade sem, no entanto, questionar a estrutura econômica, que em certa medida viabiliza sua sustentação. Segundo Touraine (1994), de um grupo de atores sociais que chama para si “a função de realizar o exercício da lógica natural do progresso científico e tecnológico modernizador” (Kunrath, 1998, p. 110), e cuja vontade política se expressa através de procedimentos que objetivam modificar opiniões e atitudes, modelar personalidades e a cultura; no caso, criar a “cultura do trabalho voluntário”. Outra dimensão do controle ideológico presente na práxis dessas organizações relaciona- se ao tipo de atividade que realizam como é o caso das escolas de iniciação profissional. Observando-se a composição do currículo e a carga horária das disciplinas nessas escolas, verifica-se que o tópico “questões comportamentais” – geralmente a cargo de pessoas da comunidade que têm o aval do responsável pela escola – é dedicado ao desenvolvimento de habitus (cf. Bourdieu, 1980) operários. Faculdade de Minas 23 Assim, representa o espaço de veiculação de valores que sustentam a ordem econômica vigente induzindo àquilo que Gattari denominou de “processo de subjetivação capitalística” (Guattari & Rolnick, 1993). A dinâmica social Retratando as organizações pesquisadas, sob a ótica de Rifkin (1997), isto é, do terceiro setor como um novo e promissor mercado de trabalho, verificou-se que elas operam com um efetivo particularmente enxuto: por exemplo, a 1 reduziu 50% dos postos de trabalho em 1998, em decorrência da externalização de atividades que, até então, realizava com mão-de-obra própria (cf. anexo 1). Já a 4 complementa suas necessidades de pessoal com assessorias (contábil, jurídica, de recursos humanos) prestadas por voluntários e através de convênios com instituições patronais como o SEBRAE, que utiliza para o diagnóstico organizacional e capacitação gerencial das OSC para as quais encaminha voluntários. No que se refere ao espaço para a participação, chama a atenção a centralização das decisões políticas em conselhos consultivos, nos quais destaca-se a presença de um membro da família, ou do próprio presidente da empresa, ou do grupo empresarial na origem da OSCIPP. A preocupação com a representatividade tem levado essas organizações a também incluírem na composição de seus conselhos deliberantes membros da comunidade. Não se trata, como se poderia esperar, de pessoas com representatividade política na comunidade beneficiária das ações sociais orquestradas por essas organizações, mas com conhecimento técnico ou científico em áreas nas quais elas atuam, como os direitos da criança e do adolescente, por exemplo. Assim, se por um lado busca-se uma transformação da ordem social, são a razão técnica e a razão econômica que fundamentam o exercício do poder. O que significa também que o poder político, sobre questões que tradicionalmente estiveram Faculdade de Minas 24 na esfera do poder público, está se transferindo para o empresariado privado evidenciando a reprodução, no terceiro setor, de um fenômeno já bastante difundido na sociedade brasileira, a saber, o encolhimento progressivo do estado. A questão que cabe, aqui, é: como, em médio prazo, a tecnoburocracia governamental poderá se legitimar, na medida em que está abrindo mão progressivamente de atividadesque justificavam sua razão de existir? Já a análise das relações sociais de produção revela a convivência de elementos da modernidade gerencial, entre os quais o uso de indicadores quantitativos de produtividade, a padronização de procedimentos, investimento em treinamento, efetivos enxutos, processos de terceirização e valorização e habilidades de terceira dimensão, com procedimentos tradicionais de gestão, como a ausência de um plano de carreira, escassez de benefícios, recrutamento com base na rede de contatos pessoais. É preciso ter também presente que a campanha pelo envolvimento do empresariado com a questão social, coordenada pelo GIFE a nível nacional, e pelo GIFE-Sul, no Rio Grande do Sul, está contribuindo para dar visibilidade a profissionais cujas habilidades e competências desenvolvidas na ação direta junto a organizações do terceiro setor não eram, até então, reconhecidas como tal e consequentemente não eram objeto de uma remuneração específica. É preciso, ter cuidado para não confundir a visibilidade social – a qual está sem dúvida se fazendo também acompanhar de novas e mais complexas exigências, em termos do perfil de qualificação da mão-de-obra atuando no terceiro setor – com a emergência de um novo mercado de trabalho, conforme a tese de Rifkin (1997) (cf. anexo 1). Em questão o trabalho voluntário O trabalhador voluntário é alguém que trabalha sem direito à remuneração e, geralmente, sem direito de receber sequer indenização pelos gastos decorrentes da atividade que realiza, como gastos com transporte, vestuário, alimentação, etc., o que, em tese, nos levaria a pensar que para ser voluntário seria preciso dispor de um mínimo de riqueza excedente. Nem sempre, entretanto, é assim. Muitos deles abrem Faculdade de Minas 25 mão da satisfação de necessidades básicas em prol da conquista dos objetivos que se propuseram. A pergunta que cabe colocar, então, é: por que alguém se torna voluntário? Para respondê-la é preciso distinguir entre pelo menos três tipos de trabalhadores voluntários: a) o militante, que luta pela defesa de seus interesses diretos, como a legalização de áreas ocupadas por invasões, o acesso ao saneamento urbano e escolas para os filhos, b) o idealista que se comove com os problemas sociais e milita por simpatia a uma causa que o sensibiliza e c) o falso-idealista, que com sua luta visa a preservação de privilégios, ainda que não raro elementos dessas três modalidades se complementem. O primeiro tipo de voluntário se dedica a causas de interesse comum, por saber que essa é a única estratégia que dispõe para tentar acessar direitos que deveriam ser assegurados em qualquer sociedade. O segundo é representativo da pessoa que milita por se sentir responsável por uma lógica perversa que expõe crianças e adolescentes sujeitos a diferentes modalidades de violência. O mínimo que seria desejável, nesse caso – sobretudo quando se trata de crianças engajadas no trabalho social, é que desenvolvessem suas atividades voluntárias em organizações transformadoras. Isto é, em organizações que efetivamente contribuam para a reinscrição social, o que é muito difícil, para não dizer impossível, de ocorrer sem uma política nacional que articule o conjunto de medidas que estão sendo tomadas pelo conjunto das organizações que atuam na área. Já os terceiros utilizam o trabalho voluntário como um instrumento para tentar reverter uma situação de miséria que os ameaça em sua condição de classe politicamente dominante. Ao que se soma, ainda, que a campanha que vem sendo realizada pelos meios de comunicação no estado está começando a incutir no Faculdade de Minas 26 imaginário coletivo um sentido de nobreza ao trabalho comunitário. Quanto ao motivo do altíssimo índice de desistência entre os voluntários que se cadastram na organização representativa do caso 4, pode se cogitar que esteja associado ao baixo poder de retenção da força-de-trabalho, representado pelo discurso de valorização do trabalho voluntário em uma sociedade materialista e mercantil, como a nossa. Outro fator possível é que as pessoas que se oferecem para fazer trabalho voluntário estejam buscando, na realidade, uma forma de aproximação-inserção do mercado formal de trabalho, sobretudo por terem amigos ou conhecerem pessoas que se apresentaram como voluntários e acabaram sendo incorporados à força de trabalho dessa OSCIPP. A DEFINIÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL EM ANÁLISE No Brasil, a questão social acontece em um cenário já tardio no qual se desenvolve um modelo de produção capitalista, concentrador de renda e socialmente Faculdade de Minas 27 excludente. Sendo esta resultante da expressão capitalista e protagonista das mais diversas e perversas expressões das desigualdades sociais. Segundo “Iamamoto (2011) as práticas de concentração de capital, renda e poder, foram responsáveis pelo agravamento da questão social no país, além das precárias condições de vida da maioria da população brasileira, a questão social teve grande expressão no desemprego e no subemprego”. E o afastamento do Estado frente essas questões se eximindo de suas responsabilidades sociais contribuiu ainda mais para seu agravamento. Em decorrência, a questão social passa a ser definida por diversos autores como sendo a expressão da contradição do modo capitalista de produção, na qual quem produz não se apropria das riquezas oriundas de sua produção. Entretanto, pode-se identificá-la também nas contradições das classes e dessas com o Estado. Machado (2007), afirma a questão social como uma categoria, na qual se manifesta a contradição do modo capitalista de produção, em que os trabalhadores produzem e os capitalistas se apropriam de sua produção, fundamentando assim, a contradição na produção e apropriação da riqueza socialmente produzida. Para a autora, as expressões da questão social são percebidas no desemprego, na fome, no analfabetismo, na violência, e não somente no contexto capital versus trabalho. Há certa unanimidade por parte de vários autores de que a expressão das desigualdades sociais se dá em decorrência da apropriação do capital por parte de uma minoria da sociedade. A exploração do trabalho pelo capital está no cerne das discussões. [...] “entender a ‘questão social’ é de um lado, considerar a exploração do trabalho pelo capital e de outro, as lutas sociais protagonizadas pelos trabalhadores organizados em face desta premissa central à produção e reprodução do capitalismo. Conjugadas, essas premissas derivam em expressões diversificadas da ‘questão social’ em face das quais cabe sempre um processo de investigação a fim caracterizá-la enquanto ‘unidade na diversidade’; ou Faculdade de Minas 28 seja, devemos nos esforçar, como categoria, para apontar as características e ‘formas de ser’ de cada expressão da ‘questão social’ enquanto fenômeno singular e, ao mesmo tempo, universal, cujo fundamento comum é dado pela centralidade do trabalho na constituição da vida social” (SANTOS, 2012, p.133). Para Montaño (2012), a partir dos acontecimentos de 1830 a 1848, começa-se a pensar a questão social e suas formas de manifestar como fenômenos autônomos e de responsabilidade individual ou coletiva dos setores por elas atingidos e não somente como resultante da exploração econômica. Em contrapartida, Pastorini (2010) afirma que existem aqueles autores que, fazendo referência aos estudos de Castel sobre a questão social na América Latina dizem que a partir do período da colonização, ela se constitui nas desigualdades em que as relações sociais se assumem, sejam elas nas dimensões políticas, econômicas, religiosas, culturais, raciais, etc. A questão social então seria o conjunto das desigualdades e injustiças sociais que ao longo de centenas de anos, adquiriu diferentes formas.São as expressões das desigualdades sociais, oriundas do modo de produção capitalista que vão dar significado ao conceito que é a questão social. Mas principalmente, são elas que vão fazer surgir um movimento por parte dos trabalhadores insatisfeitos com suas condições de trabalho e de toda uma população socialmente excluída. O movimento organizado pelos trabalhadores e por outras classes excluídas, que lutam por direitos, sejam eles econômicos, políticos, sociais ou culturais, é o que caracteriza a chamada luta de classes. Dessa forma, pensar a questão social como o conjunto das desigualdades e injustiças sociais, seria considerar além do capitalismo, e que, ela ainda permanece nas mais diversas formas da estrutura social e não somente na estrutura de classe. Segundo Iamamoto e Carvalho (2014), a questão social nada mais é que as Faculdade de Minas 29 expressões em que se deram a formação, o desenvolvimento e a entrada da classe operária no cenário político da sociedade, buscando se fazer reconhecer como classe pelo Estado e pelo empresariado, são as contradições entre a classe operaria e a burguesia, em que a primeira, luta por intervenções que vão muito além da caridade e da repressão. Ainda tomando como referência Iamamoto e Carvalho (2014), pode- se observar que surgem outros modos da sociedade e do Estado interpretar e agir sobre a questão social: “Historicamente, passa-se da caridade tradicional levada a efeito por tímidas e pulverizadas iniciativas das classes dominantes, nas suas diversas manifestações filantrópicas, para a centralização e racionalização da atividade assistencial e de prestação de serviços sociais pelo Estado, à medida que se amplia o contingente da classe trabalhadora e sua presença política na sociedade. Passa o Estado a atuar sistematicamente sobre as sequelas da exploração do trabalho expressas nas condições de vida do conjunto dos trabalhadores, (CARVALHO; IAMAMOTO, 2014, p. 85)”. Em analise os estudos de Fraga (2010), entende-se a questão social como um conjunto de problemas sociais, econômicos e políticos: “O cerne da questão social está enraizado no conflito entre capital versus trabalho, suscitado entre a compra (detentores dos meios de produção) e venda da força de trabalho (trabalhadores), que geram manifestações e expressões. Estas manifestações e expressões, por sua vez, são subdivididas entre a geração de desigualdades: desemprego, exploração, analfabetismo, fome, pobreza, entre outras formas de exclusão e segregação social que constituem as demandas de trabalho dos assistentes sociais; também se expressa pelas diferentes formas de rebeldia e resistência: todas as maneiras encontradas pelos sujeitos para se opor e resistir às desigualdades, como, por exemplo, conselhos de direitos, sindicatos, políticas, associações, programas e projetos sociais (FRAGA, 2010, p. 45).” Faculdade de Minas 30 Portanto considera o quão são abrangentes as diferentes maneiras que a questão social se manifesta e que como ao longo dos anos ela foi adquirindo várias modalidades. E é nessa perspectiva que surge a necessidade de maiores intervenções por parte do Estado, do empresariado e também da sociedade civil, que não aquelas já pautadas na benevolência. Intervenções cujas finalidades estejam voltadas para a redução das desigualdades e injustiças sociais, para o fortalecimento e autonomia dos sujeitos, para a construção da cidadania e afirmação da democracia. Sabe se que, muitas foram às transformações que a sociedade sofreu, inclusive no mundo capitalista, fazendo com que alguns autores definissem a “velha questão social” como sendo “nova questão social”. Fundamentando o novo: no aumento do desemprego, na miséria, nas diversas formas de exclusão social, nos novos sujeitos e principalmente em suas novas necessidades. Sobre tais mudanças, Pastorini (2010), destaca que são muito importantes, porém, que são novas formas de sua expressão e que mantém traços de sua origem. O que há são diferentes versões da questão social para cada estágio capitalista, diferentes reações da sociedade frente à ela, buscando estabilidade e manutenção da ordem, além da preocupação com a reprodução das desigualdades e contradições capitalistas e o do reconhecimento social como partes fundamentais das diferentes versões da questão social. Ressalta-se ainda que, a discussão acerca de tais mudanças e expressões é fundamental para entender as respostas dadas a questão social na contemporaneidade. A questão social agora assume particularidades dependendo das peculiaridades de cada país. A novidade então está na forma assumida pela questão social em decorrência das várias transformações que sofreu desde a década de 80, onde tem-se o aumento da pobreza, a instabilidade dos trabalhadores e a perda dos padrões de proteção social. A autora ainda diz que mesmo reformulada e redefinida Faculdade de Minas 31 em vários dos seus estágios capitalistas, a questão social permanece a mesma e nos apresenta 3 pilares centrais que a compõem, são eles: Em primeiro lugar, ela nos remete à relação de exploração do capital x trabalho; Em segundo, seu atendimento está diretamente relacionado aos problemas e grupos sociais que podem comprometer a ordem social já estabelecida; E em terceiro, ela é a expressão das manifestações das desigualdades e antagonismos presentes nas contradições da sociedade capitalista; Pode-se observar que a questão social sempre aparece vinculada às desigualdades e contradições do capitalismo, às classes menos favorecidas e ao que ela significava para a ordem burguesa. Assim, considerar-se-á que a nova questão social, nada mais é que a tão conhecida e velha, questão social na qual suas expressões acontecem em novo contexto, daí a necessidade de intervenções pontuais adequadas as suas novas modalidades, aos novos sujeitos, as novas necessidades e a nova realidade social. Faculdade de Minas 32 O PROJETO SOCIAL COMO RESPOSTA À QUESTÃO SOCIAL Com o objetivo de dar uma resposta à questão social, políticas sociais são criadas em todo mundo a fim de provocar mudanças sociais, mas a questão social não é inerte e tão pouco se apresenta de maneira comum a todas as sociedades. Em cada sociedade ela se determina de um modo, de uma maneira que cada qual deve ser tratada de acordo com suas particularidades. Dessa forma, A questão pode ser entendida como tudo aquilo que põe em risco a integração da sociedade: a pobreza, a estratificação social, o desemprego, a concentração de poder e renda, entre outros. Faculdade de Minas 33 A determinação do que será tratado como questão social, dependerá das convenções formadas socialmente. A cada diagnóstico e a cada forma de concepção e enfrentamento dos riscos sociais estará manifestada determinada maneira pela qual a sociedade busca entender e enfrentar a questão da sua coesão (MOREIRA, 2011, p.57). Como foi observado, várias são as concepções sobre a questão social e suas diversas formas de manifestação. Estudar tais manifestações, significa analisar o contexto em que a maioria da população se encontra, buscando conhecer a realidade das condições de vida de tal população, as desigualdades as quais estão sujeitas e o que tais desigualdades produzem na vida dos sujeitos, formulando assim, estratégias específicas para intervir e superá-las. Os instrumentos técnico-operativos do Serviço Social são um conjunto das ações profissionais que possibilitam a identificação das expressões da realidade, bem como as intervenções que visam melhorias e mudanças na realidade social. Segundo Santos (2012), os instrumentos são parte essencial do exercício profissional porque norteiam nossas ações, porém, mais do que valer-se desses instrumentosé preciso ser capaz de utilizar e operacionaliza-los da melhor forma possível. São estratégias para a realização da prática profissional, podendo se apresentar na forma de: escutas, entrevistas, fichas, dinâmicas de grupo, visitas domiciliares, relatórios, pareceres e laudos, acompanhamento social, observações, pesquisas, encaminhamentos, articulação com a rede e diagnósticos. Além disso, outras tais como elaboração, execução, avaliação e gerenciamento de projetos sociais. O projeto social é uma ação planejada que nasce dessa necessidade de se intervir em uma determinada realidade ou problema e tem um propósito quando criado, o de transformar realidade estudada, sendo uma alternativa para enfrentamento da chamada questão social. Carvalho, Müller e Stephanou (2003) afirmam os projetos sociais como um desejo de mudança na realidade, que a partir de uma reflexão sobre determinado problema e por meio de ações organizadas, buscam contribuir para possíveis mudanças. Ainda em seu Guia para elaboração de Faculdade de Minas 34 projetos sociais, Carvalho, Müller e Stephanou (2003), falam da importância de sua implantação: “Os projetos sociais são uma importante ferramenta de ação, amplamente utilizada pelo Estado e pela Sociedade Civil” (Carvalho, Müller e Stephanou, 2003, p. 13); e, diante das transformações ocorridas no Estado e na sociedade civil, o projeto social se tornou uma ferramenta bastante difundida e uma forma alternativa de implantação de novas políticas sociais” Além de ser um instrumento do Serviço social e de várias outras profissões, que contribuem para a redução das desigualdades sociais, os projetos sociais são um exercício de cidadania, no qual vários atores sociais estão envolvidos. Eles são uma forma de estimular também uma maior conscientização do indivíduo para o papel que desempenha na sociedade. Se um projeto social contribuir de forma relevante para fazer brilhar a luz interior de cada indivíduo no processo de constituição de novos sujeitos coletivos, então ele terá promovido o resgate da dignidade humana, em suma, terá sido exitoso (Armani, 2001 apud Carvalho, Müller e Stephanou, 2003 p. 6). A partir dessa citação de Armani (2001), entende-se que o projeto social não é somente execução, ele é compreensão, é transformação social e a maior delas é a aquela provocada no sujeito. Nesse sentido compreende-se o projeto social como uma ferramenta estratégica que através de ações delimitadas é capaz de responder de maneira positiva as manifestações da questão social. Faculdade de Minas 35 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM PROJETOS SOCIAIS Na Lei que regulamenta a profissão do assistente social — Lei n. 8.662/9 de 7 de junho de 1993, estão explicitas no art. 4º (nos incisos de I a XI), competências pertinentes ao profissional. Sendo uma dessas competências que constituem uma atividade privativa do assistente social: elaborar, coordenar, executar, avaliar: planos, programas e projetos juntamente com a sociedade civil. Iamamoto (2011) faz uma reflexão acerca do trabalho do Assistente Social, tendo como objeto de seu trabalho as diversas expressões da questão social: “Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos Faculdade de Minas 36 as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resiste, se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade (IAMAMOTO,2011, p. 28).” A atuação do assistente social em projetos sociais é de grande relevância, uma vez que esse profissional carrega consigo um conjunto teórico, metodológico e técnico-operativo capaz de compreender a realidade com uma visão crítica e desvelar as demandas, buscando medidas que beneficiem o desenvolvimento social. Para Iamamoto (2011) atualmente, um dos maiores desafios que o Assistente Social tem é de ser um profissional propositivo e não somente executor, que ao compreender uma determinada realidade, seja capaz de propor intervenções criativas e eficazes para a efetivação de direitos. O assistente social só tem a contribuir com projetos sociais, já que tem como característica de sua profissão a transformação social e essa se dão por meio da busca por instrumentos que possam mudar a realidade dos sujeitos, viabilizando o acesso aos direitos e contribuindo para a construção da cidadania. Os instrumentos utilizados pelo assistente social fazem dele o profissional que é, já que tais instrumentos nada mais são que a própria pratica profissional e a capacidade que este tem de operacionalizá-los. Em projetos sociais, o assistente social assume também o papel de gestor de projetos e os autores Carvalho, Müller e Stephanou (2003), traçam um perfil desse gestor de projetos sociais, sendo este profissional capaz de: compreender o contexto social, Faculdade de Minas 37 político e institucional em que se realiza a ação; comunicar e negociar; definir, delegar e cobrar responsabilidades e tarefas; coordenar todo o processo da ação; avaliar e propor mudanças e correções; motivar as pessoas, administrar conflitos e frustrações, gerenciar o trabalho em equipe; e, valorizar e promover a visibilidade do projeto e de seus resultados. Na gestão de um projeto social, o profissional deve ainda conhecer bem a realidade e o contexto em que o projeto será viabilizado, através de um diagnóstico das questões a serem abordada, identificação do público alvo a ser atendido e parcerias, e as dificuldades para a implantação do projeto social. Além de articular-se com os atores sociais envolvidos nos diferentes contextos do projeto social. Não só em projetos sociais, mas em qualquer outro segmento, o assistente social através de suas ações tem o compromisso de buscar a consolidação da democracia, garantia da liberdade, a equidade e justiça social, acesso aos direitos e atuar no enfrentamento das desigualdades sociais e intervir nas diversas manifestações da questão social. À frente dos projetos sociais, o assistente social procura intervir de imediato nas demandas levantadas, buscando alternativas para solucionar os problemas e enfrentar os desafios da sociedade capitalista e principalmente, lutar pela emancipação e autonomia dos sujeitos. Considerações finais Considerando todos os aspectos, a questão social nasce no advento capitalista, na relação de exploração e exclusão do contexto capital versus trabalho, foi se apresentando e manifestando de diversas formas e tamanha é a sua Faculdade de Minas 38 abrangência que passa a ser necessária intervenções que vão além da caridade. Faz- se necessária apropriação de estratégias e técnicas a fim de trabalhar a redução das desigualdades sociais que vem se apresentando ao longo dos anos e sobre novos contextos. Agora suas expressões estão além do contexto capital versus trabalho; ela é contradição, miséria, desemprego, fome, pobreza, violência de gênero, de raça, é analfabetismo, violação de direitos. Deve-se lançar mão de intervenções mais pontuais adequadas às novas modalidades da questão social e dos novos sujeitos. O projeto social aparece como uma alternativa, uma ferramenta estratégica, pontual e com delimitações para responder positivamente às manifestações da questão social. Através de sua elaboração, diagnóstico do contexto sócio histórico, compreensão da realidade, planejamento e intervenção,contribuindo assim para a transformação social, alcançando os sujeitos e suas necessidades, promovendo e consolidando as políticas sociais. Desde o surgimento do Serviço Social como profissão, o assistente social vem contribuindo de forma significativa para o enfrentamento da questão social. Seja por meio de projetos sociais ou em outro campo de trabalho, suas ações estão voltadas para consolidação da democracia, liberdade, equidade e justiça social e principalmente emancipação e autonomia dos sujeitos. É preciso atenção para as transformações que ocorrem constantemente na sociedade porque são elas que norteiam as ações profissionais dos assistentes sociais. E onde existir desigualdade, exploração ou qualquer violação de direitos, o compromisso de intervir para o benefício dos sujeitos e do desenvolvimento social e diminuição das desigualdades sociais, haverá um assistente social nesta mediação. Faculdade de Minas 39 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRESSER-PEREIRA, L.C. Reforma do Estado nos anos 90: lógica e mecanismos de controle. Brasília: MARE, Cadernos MARE, n.1, 1997. ______. Presidência da República Lei Orgânica da Assistência Social nº 8.742, de 7 de Dezembro de 1993. Regulamentada pela Presidência da República, Casa Civil, subchefia para Assuntos Jurídicos. Dispõe sobre a organização de assistência social e da outras providências. ______. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996. COSTA, M. Cristina. Muito além de marketing cultura: a produção artística e cultural em tempo de crise. 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