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BEM-VINDOS À DISCIPLINA PROCESSO CIVIL II – PROF CARLOS EUGÊNIO – SANTA CRUZ. AULA 13 e 14 – Coisa julgada: conceito, requisitos e efeitos. Espécies. Limites objetivos e subjetivos. Relativização da coisa julgada. Utilizada a Doutrina de Elpídio Donizetti e Humberto Theodoro Júnior) ARTS 502 A 508 CPC. DIA 01/11/2021 LEGISLAÇÃO. Da Coisa Julgada Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso. Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. § 1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se: I - dessa resolução depender o julgamento do mérito; II - a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; III - o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. § 2º A hipótese do § 1º não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial. Art. 504. Não fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença. Art. 505. Nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide, salvo: I - se, tratando-se de relação jurídica de trato continuado, sobreveio modificação no estado de fato ou de direito, caso em que poderá a parte pedir a revisão do que foi estatuído na sentença; II - nos demais casos prescritos em lei. Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros. Art. 507. É vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo respeito se operou a preclusão. Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido. CONSIDERAÇÕES INICIAIS. A sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos ats. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. Nem toda sentença, portanto, terá efeito material, isto é, resolverá o mérito do litígio, criando norma especial para o caso concreto submetido à apreciação judicial. Quando a sentença resolve o mérito, o que ocorre nas hipóteses do art. 487, dizemos que ela, com o trânsito em julgado, a um só tempo, produz efeitos formal e material. O efeito formal extingue a relação processual. O efeito material, que pode ser declaratório, condenatório ou constitutivo, passa a regular, a constituir norma concreta aplicável à relação de direito material controvertida. Todavia, quando a sentença apenas põe fim ao processo (o que ocorre nas hipóteses do art. 485), sem resolução do mérito, o efeito e apensas formal, atinge apenas a relação estabelecida entre o autor, juízo e réu, em decorrência do processo, não produzindo reflexo algum sobre o direito material, que via de regra, preexiste ao processo. Os efeitos da sentença vão determinar a natureza da coisa julgada que dela emergirá. Tratando-se de sentença de mérito ou definitiva, com efeito formal e material, portanto, teremos a coisa julgada material. Ao revés, se a sentença apenas põe fim ao processo, sem resolução do mérito, teremos apenas o efeito formal e, consequentemente, a coisa julgada será tão somente formal. CONCEITO. Estabelecida a distinção entre os efeitos da sentença definitiva e terminativa, podemos conceituar o que é coisa julgada material e coisa julgada formal. De acordo com o art. 502 “ denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.” Diz-se que há coisa julgada formal quando a sentença terminativa transita em julgado. Na coisa julgada formal, em razão da extinção da relação processual, nada mais pode ser discutido naquele processo. Entretanto, como não houve qualquer alteração qualitativa nem repercussão alguma na relação (intrínseca) de direito material, nada impede que o autor ajuíze outra ação, instaurando-se novo processo, a fim de que o juiz regule o caso concreto. Também a coisa julgada material ocorre com o trânsito em julgado da sentença. O que a diferencia da coisa julgada formal é que agora a sentença transitada em julgado não só encerra a relação processual, mas compõe o litígio, havendo, portanto, modificação qualitativa na relação de direito material subjacente ao processo. Destarte, além do efeito formal, a sentença(definitiva), não mais sujeita a recurso, produz também alteração na relação intrínseca, na relação de direito material. A sentença, tal como no fenômeno da coisa julgada formal, é indiscutível e imutável, mas essa imutabilidade e indiscutibilidade, nesse caso, recai não somente sobre a relação processual, sobre o processo, mas também sobre o direito controvertido. Com a ocorrência da coisa julgada material, a sentença irradia seus efeitos materiais sobre a relação jurídica, antes controvertida e agora acertada com a regulamentação específica, com o pronunciamento jurisdicional. A sentença que apenas põe fim à relação processual, mesmo depois de esgotada a possibilidade de impugnação de impugnação(coisa julgada formal), continua sendo apenas ato que extinguiu o processo sem resolução do mérito. LIMITES DA COISA JULGADA. A coisa julgada formal, conforme já assentado, tem eficácia restrita aos limites do processo extinto; tem efeito semelhante ao da preclusão, ou seja, impede a discussão das questões da lide naquele processo, mas não impede a apreciação da matéria em outra relação processual. É o que se convencionou denominar de preclusão endoprocessual. A coisa julgada material, por sua vez, representa a impossibilidade de rediscussão da matéria não só no processo originário, como em qualquer outro. Além da estabilidade relativa, que imuniza a decisão contra a reconsideração no próprio processo(coisa julgada formal), a coisa julgada material proporciona, simultânea e concomitantemente, a estabilidade absoluta, tornando o julgamento intocável também fora do processo em que proferido. Os efeitos da coisa julgada material projetam-se, então, para fora do processo originário, daí se poder falar em preclusão extraprocessual. LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA. No relatório, inexiste julgamento, mas sim narração, exposição da marcha do procedimento. O Juiz apenas narra. Exatamente porque não há decisão, nada que consta do relatório faz coisa julgada. Na fundamentação ou motivação, inexiste julgamento, mas estabelecimento das premissas da conclusão. Na motivação, o juiz expõe as razões do seu convencimento, os motivos pelos quais vai dirimir a lide desta ou daquela forma; em outras palavras, nessa parte da sentença, o juiz apenas raciocina. Assim, também porque não há julgamento, nada do que foi assentado na motivação faz coisa julgada, ainda que os motivos tenham sido importantes para determinar o alcance do dispositivo (art. 504, I). Faz coisa julgada entre os partícipes da relação processual o que aparece no dispositivo ou conclusão da sentença, pois é nessa parte que o juiz julga. Em razão do princípio da congruência a sentença deve constituir resposta precisa e objetiva ao pedido do autor e também a eventual pretensão do réu, formulada em ação dúplice, em reconvenção ou como pedido contraposto. Não pode decidir aquém, além, nem fora do pedido, sob pena de nulidade do ato decisório. A sentença deve compor a lide, que se revela pelo pedido devidamente fundamentado. Para formar a coisa julgada não basta, entretanto, que a questão conste dos pedidos formulados pelo autor ou pelo réu. É indispensável que haja apreciação do tema na parte dispositiva da sentença. Se a sentença é omissa quanto a um dos pedidos, não forma coisajulgada em relação a ele, porque não há sentença implícita. Nada que estiver fora do pedido e do dispositivo, faz coisa julgada. (vide art. 504). COISA JULGADA E QUESTÃO PREJUDICIAL Entende-se como prejudicial a questão “ relativa a outra relação ou estado que se apresenta como mero antecedente lógico da relação controvertida (a qual não diz diretamente respeito, mas sobre a qual vai influir), mas que poderia, por si só, ser objeto de um processo separado”. Exemplo: a declaração da existência do vinculo de filiação ( biológica ou socioafetiva) na ação de alimentos é uma premissa lógica, antecedente necessário e condicionante do julgamento do mérito da ação. LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA A regra, que comporta exceção nas ações coletivas lato sensu, é de que ‘ a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros (art. 506). Na sucessão de partes e na substituição processual, porque o sucessor e o substituto são partes materiais na demanda e, portanto, não são terceiros, a coisa julgada opera entre eles. OBS: O terceiro pode ser alcançado pelos efeitos naturais da sentença, mas não pela imutabilidade e indiscutibilidade que emanam da coisa julgada, visto que a autoridade da coisa julgada atua apenas para as partes da relação processual.