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Política Externa Brasileira pós-Guerra Fria

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Aula 06
Política Internacional p/ CACD
(Diplomata) Primeira Fase - Com
Videoaulas - Pós-Edital
Autor:
Alexandre Vastella
Aula 06
19 de Julho de 2020
 
 
 
Aula 07 - Política Internacional - Política Externa Brasileira - 1990 a 2018 
Introdução ao PDF ................................................................................................................................. 2 
Reflexos do final da Guerra Fria na Política Externa Brasileira ................................................... 2 
Queda da União Soviética, Consenso de Washington e “fim da história” ................................................. 2 
Mundo multipolar ou unipolar? Como a Política Externa Brasileira deveria reagir às mudanças? ............. 4 
Cinco Pilares da PEB pós-Guerra Fria – regionalismo, renovação de credenciais, multilateralismo, 
geometria variável e comércio .................................................................................................................. 8 
Regionalismo – quatro tabuleiros ......................................................................................................... 8 
Renovação de credenciais – meio ambiente, desarmamento, direitos humanos, etc. .......................... 9 
Multilateralismo – maior participação na ONU e nos fóruns internacionais ........................................ 12 
Arranjos de geometria variável – alianças intermitentes e pontuais ................................................... 14 
Comércio – inserção do Brasil na globalização .................................................................................... 16 
Governos pós-Guerra Fria no Brasil ................................................................................................. 16 
Governo Fernando Collor (1990-1992) .................................................................................................... 17 
Governo Itamar Franco (1992 – 1994) ..................................................................................................... 20 
Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) ................................................................................. 22 
Governo Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) ........................................................................................ 27 
Governos Dilma Rousseff e Michel Temer (2016 – 2018) ........................................................................ 32 
 
 
 
 
 
 
 
Alexandre Vastella
Aula 06
Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital
www.estrategiaconcursos.com.br
 
 
 
2 
 
 
INTRODUÇÃO AO PDF 
 Esta é a última aula sobre política externa brasileira. Iremos estudar as transformações nas relações 
internacionais do pós-Guerra Fria e as contextualizar os governos de Fernando Collor (1990 – 1992), 
Itamar Franco (1992 – 1994) e Fernando Henrique Cardoso (1994 – 2002) dentro do que Amado Cervo 
chama de “dança de paradigmas” – uma intensa troca de paradigmas ocorrida nos anos 1990. Neste 
período, houve a transição do Estado desenvolvimentista (1930 – 1989) para o Estado Neoliberal 
(1990’s) e depois, para o Estado Logístico (2000’s); este último, implantado pelos governos de Luís Inácio 
Lula da Silva (2002 – 2010) e Dilma Rousseff (2010 – 2016). Esta aula, portanto, abrange todo o período 
desde a queda do Muro de Berlim (1989) até o ano passado, quando o governo de Michel Temer (2016 – 
2018) foi finalizado. 
 No início do nosso curso, aprendemos que a política externa é formada pelos condicionantes 
internos, pelos condicionantes externos e pelos formuladores. Porém, no caso específico dos anos 
1990, os formuladores tiveram papel secundário. Neste contexto histórico, independentemente de 
quem estivesse no governo, era necessário ajustar o Estado aos padrões impostos pela globalização e 
pelo Consenso de Washington. 
 É por isso os governos Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, embora tivessem sido 
distintos, possuíam uma política externa comum – afinal, foram obrigados a se ajustar aos processos 
globais. Por causa desse fato, nossa aula apresenta uma longa introdução teórica apresentando os 
reflexos do final da Guerra Fria na Política Externa Brasileira. 
 
REFLEXOS DO FINAL DA GUERRA FRIA NA POLÍTICA EXTERNA 
BRASILEIRA 
Queda da União Soviética, Consenso de Washington e “fim da 
história” 
 Antes do final da Guerra Fria, o presidente Mikhail Gorbatchov promoveu uma série de reformas 
na União Soviética, nas quais estavam a perestroika (abertura econômica) e glasnost (abertura 
política). Ao invés de garantirem sobrevida ao regime comunista, as reformas aceleraram ainda mais os 
anseios por mudança na União Soviética. O ápice do descontentamento ocorreria três anos depois, na 
queda do Muro de Berlim (1989), que consistiu na derrubada do muro que dividia a Alemanha Ocidental 
(capitalista) e a Alemanha Oriental (comunista), evento que reunificou as duas Alemanhas. Como dividia 
a Europa em duas metades, o muro era um símbolo da bipolaridade da Guerra Fria. 
Após a queda do Muro de Berlim, ficou muito claro que o sistema econômico soviético não havia 
funcionado e que o capitalismo era – segundo as ideias do momento – a melhor opção. Nesta onda de 
otimismo, foi promovido o Consenso de Washington (1989), um receituário de recomendações 
econômicas elaborado pelo economista John Williamson que deveriam ser adotadas para que os Estados 
se adaptassem à nova ordem internacional. Entre as principais medidas do Consenso de Washington 
Alexandre Vastella
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estavam o livre comércio, a redução do Estado, as privatizações e a responsabilidade fiscal. Portanto, 
medidas economicamente liberais. Dois anos depois do Consenso de Washington, ocorreu o colapso 
definitivo da União Soviética (1991). Neste período, várias ex-repúblicas soviéticas se tornaram 
independentes e romperam seus vínculos com o socialismo, incluindo a própria Rússia que passaria a ter 
uma economia de mercado – embora os grupos de poder continuassem os mesmos. 
Um dos principais aspectos dessa nova ordem mundial foi a globalização; que grosso modo, 
corresponde à integração dos povos do globo em diferentes aspectos – redes econômicas, comerciais, 
culturais, de comunicação, de transportes, etc. (veremos este assunto com mais detalhes nas aulas de 
Geografia). 
 Estas transformações imprimiam uma nova realidade internacional, quebrando a ordem da 
Guerra Fria que havia se estabelecido desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945). Para 
entenderemos melhor, pense que entre 1945 (final da Segunda Guerra) e 1989 (queda do Muro de Berlim) 
o mundo teve características relativamente homogêneas, tais como: polarização entre Estados Unidos 
(capitalismo) e União Soviética (comunismo), surgimento da Organização das Nações Unidas e do 
sistema financeiro de Bretton Woods; aceleramento dos processos de descolonização da África e da 
Ásia; multiplicação do número de Estados nacionais; e também, o fim de grandes impérios. A partir de 
1989, surgiu uma nova realidade internacional caracterizada pela globalização, pelo neoliberalismo, 
pela integração cultural, pela multipolaridade e por novos aspectos que exigiam mudanças na política 
externa até então praticada pelo Brasil. 
Com o final da Guerra Fria, o mundo chegou ao “fim da história”, afinal, todas as alternativas ao capitalismo haviam falhado. 
Os Estados Unidos haviam triunfado e, para os demais países, a única solução seria adotar o receituário do Consenso de 
Washington. Na imagem, Queda do Muro de Berlim, evento decisivo para o fim do mundo bipolar. 
 
É por conta destas transformações que o filósofo Francis Fukuyama chama este período de “fim 
da história”. Essa denominação surgiu após a constatação de que todas as alternativas ao capitalismo 
haviam falhado; tais como o nazismo,o fascismo e o comunismo. Neste período, portanto, havia uma 
forte sensação de que o capitalismo e o liberalismo econômico finalmente iriam triunfar. Isso significaria 
ter contas públicas saudáveis, um Estado enxuto e eficiente e regimes democráticos e 
economicamente livres. 
 Apesar da agressividade da globalização e da consequente integração econômica dos países, 
houve um aumento do regionalismo. Visando maior competitividade, surgiram grupos como o Mercosul 
(Tratado de Assunção – 1991) e a União Europeia (Tratado de Maastrich – 1991). Embora pareçam 
contraditórios, globalização e regionalismo são complementares: visando se proteger dos riscos da 
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globalização, é mais seguro um país primeiro se integrar a seus vizinhos e depois, após fortificar-se, se 
integrar ao restante do globo de forma que haja um maior aproveitamento das oportunidades. O 
Mercosul, por exemplo, tem mais força internacional do que Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai 
enquanto Estados individuais. 
 
Fim da Guerra Fria – Principais marcos 
Perestroika e 
Glasnost (1986) 
Políticas de abertura econômica e transparência política adotadas na União 
Soviética por Gorbachev. Ao invés de reformarem o país, aceleraram o seu fim. 
Queda do Muro de 
Berlim (1989) 
Queda do muro que separava a Alemanha Ocidental (capitalista) da Alemanha 
Oriental (comunista), símbolo máximo da Guerra Fria. 
Fim da União 
Soviética (1991) 
Afetada por inúmeras crises, a União Soviética chegou ao fim, finalizando 
definitivamente a bipolaridade da Guerra Fria. 
Lançamento do 
Consenso de 
Washington (1989) 
O Consenso defendia o livre mercado e o sistema democrático como receitas para o 
desenvolvimento de um país. 
Nova realidade 
internacional 
Com o final da Segunda Guerra Mundial (1945), estabeleceu-se a ordem da 
Guerra Fria, quebrada em 1991. A partir deste momento, houve um grande 
debate sobre qual ordem internacional seria estabelecida. 
Aprofundamento da 
globalização e 
aumento de 
competitividade. 
A globalização, que havia se iniciado anteriormente, aprofundou de uma forma 
muito rápida e intensa nos anos 1990. 
“Fim da história” 
(Francis Fukuyama) 
Todas as alternativas ao capitalismo haviam falhado, entre elas o nazismo, o 
fascismo e finalmente, o comunismo. Por isso, a história havia chegado ao “fim”. 
Regionalismo e 
globalização são 
complementares 
Ao invés de competirem diretamente na agressividade da globalização, os países 
preferem primeiro se integrar no aspecto regional para depois se projetarem nas 
relações globais. O Mercosul, por exemplo, possui mais força que o Brasil sozinho. 
 
Mundo multipolar ou unipolar? Como a Política Externa Brasileira 
deveria reagir às mudanças? 
Com o fim do mundo bipolar (Estados Unidos versus União Soviética), os estudiosos passaram a 
debater qual seria a nova forma de polarização. Neste contexto, alguns autores defendiam que o mundo 
seria unipolar; afinal, os Estados Unidos haviam vencido a Guerra Fria e consolidado sua hegemonia 
econômica, política e militar e assim promovido a pax americana para o mundo. Por outro lado, outros 
autores defendiam a multipolaridade; ou seja, além dos Estados Unidos, outros polos de poder também 
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existiam. Os teóricos realistas viam a multipolaridade como nociva; afinal, a multiplicação dos polos de 
poder faria o número de conflitos proliferarem. 
Surgiram alternativas no debate entre unipolarização e multipolarização. Samuel Huntington, 
autor da teoria do Choque de Civilizações, propunha a unimultipolaridade, reconhecendo que sim, os 
Estados Unidos tinham um poder superior; no entanto, não conseguiam afetar sozinhos a ordem 
internacional. Por outro lado, Celso Lafer, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, dizia que na 
verdade, as polaridades eram indefinidas. Ou seja, embora os Estados Unidos fossem uma potência no 
aspecto econômico, existiam outras potências em temas diferentes. Na área ambiental, por exemplo, os 
Estados Unidos não eram líderes. 
Fim da Guerra Fria – Principais debates a respeito da polaridade 
 
 
Ordem bipolar Ordem unipolar Ordem multipolar 
Na Guerra Fria – no mundo 
bipolar – Estados Unidos e 
União Soviética disputavam a 
hegemonia global. Os norte-
americanos venceram. 
Os Estados Unidos se consolidariam 
como grande potência militar e 
econômica cuja liderança seria 
inquestionável. O mundo passaria a 
viver sobre a “pax americana”. 
Na verdade, os Estados Unidos não 
seriam a única potência. Ao invés da 
bipolaridade, o mundo viveria sob a 
multipolaridade, com diversos atores 
agindo. 
 
 
Ordem unimultipolar (Samuel Huntington) Polaridades indefinidas (Celso Lafer) – posição do Brasil 
Apesar dos EUA serem a maior potência, não 
conseguiriam sozinhos definir a ordem global. 
O mundo não seria nem unipolar e nem 
multipolar, mas sim, um misto entre os dois: os 
EUA sendo a maior potência, mas sem a 
Após a Guerra Fria, o mundo teria vários polos em áreas 
diferentes. Os Estados Unidos, por exemplo, seriam uma 
potência na área econômica; no entanto, na área ambiental, 
por exemplo, existiriam outras potências. 
O Brasil poderia até não ser a maior potência econômica, 
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hegemonia. mas poderia se destacar em outras áreas. 
Neste cenário de incerteza, o Brasil defendia a reformulação da ONU, instituição regida por uma 
ordem internacional que não existia mais. As reivindicações do Brasil incluíam, por exemplo, mudanças no 
Conselho de Segurança para que demais países pudessem participar, postura que foi mantida nos 
governos seguintes. 
 Tendo em vista as transformações geográficas do período – tanto no âmbito externo (nova ordem 
mundial) quanto no interno (redemocratização e abertura política) – foi necessário repensar a política 
externa. Com o final da Guerra Fria, surgiu um novo regime internacional com menor margem de 
manobra para Estados periféricos. Os Estados nacionais, aliás, perderam poder com a globalização. E 
com esse novo contexto de maior impotência, o Brasil passou a priorizar ainda mais a atuação 
multilateral. Não somente o Brasil como também grande parte dos demais países subdesenvolvidos 
preferiram seguir por este caminho. Conforme o quadro abaixo: 
Fim da Guerra Fria – Conjunturas externa e interna 
Conjuntura externa 
Momento de criação de regimes 
internacionais (regras e instituições) 
Com o fim da Guerra Fria, surgiu um novo sistema internacional com 
novas regras. Logo, a política externa deveria se adaptar a este novo 
cenário e não ficar “preso” no contexto desenvolvimentista. 
Menor margem de manobra para 
os Estados periféricos 
Com a agressividade do Consenso do Washington, do 
neoliberalismo e da integração dos mercados globais, os Estados 
nacionais perderam força, principalmente os Estados periféricos 
que já eram fracos e tiveram suas margens de manobra ainda mais 
reduzidas. 
Multilateralização A atuação em fóruns multilaterais foi uma das soluções para tentar 
preservar a força dos países subdesenvolvidos. É mais vantajoso, por 
exemplo, negociar no âmbito da ONU do que traçar relações bilaterais 
extremamente desiguais com os Estados Unidos. 
Indefinição No início dos anos 1990, a política externa brasileira ainda estava 
indefinida, afinal, as mudanças ainda eram muito recentes. Com o 
passar da década, houve a consolidação do Estado Neoliberal e as 
mudanças daí decorrentes. 
Conjuntura interna 
Redemocratização Ao mesmo tempo em que o sistema internacional estava 
mudando, os condicionantes internostambém estavam. O Brasil 
estava saindo de duas décadas de regime militar e entrando no 
período democrático. 
Esgotamento do modelo de 
substituição de importações 
O modelo de substituição de importações – que vinha desde a Era 
Vargas – havia esgotado, bem como o desenvolvimentismo e o 
protecionismo. Em seu lugar, o Brasil passou a abrir os mercados e 
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realizar privatizações. 
 
Fim da Guerra Fria – Necessidade de repensar a política externa brasileira 
Transição do paradigma 
desenvolvimentista para o 
paradigma neoliberal (Amado 
Cervo) 
Esta transição nada mais foi do que a aplicação do Consenso de 
Washington ao Brasil. Com o Estado Neoliberal vieram as reformas 
fiscais, a abertura econômica, as privatizações e a redução do Estado. 
Transição da estratégia de 
autonomia pela distância pela 
autonomia pela participação 
multilateral. 
Em grande parte do regime militar (especialmente com Costa e Silva e 
Médici), o Brasil priorizou sua autonomia. Já neste período mais recente, 
com a maior interdependência complexa entre os Estados, o Brasil não 
podia mais se isolar. É por isso que passou a defender, por exemplo, o 
meio ambiente, os direitos humanos, ou o desarmamento nuclear na 
ONU; adotando assim, maior ênfase multilateral. Deste modo, a 
estratégia de renovação de credenciais foi renovada. 
Quebra dos paradigmas Nesse momento, não era possível mais explicar a política externa 
brasileira sob a ótica da Guerra Fria. O americanismo e o universalismo 
já não eram suficientes para dar conta deste momento. Não era mais 
necessário “tomar posição” no sistema internacional (pró-EUA ou pró-
URSS), mas sim, agir de acordo com os interesses nacionais. 
Brasil passa a participar 
ativamente na formulação das 
decisões internacionais 
Com a quebra dos paradigmas, o Brasil passou a participar ainda mais 
ativamente na formulação das decisões internacionais, buscando a 
legitimidade através daquela estratégia de reformulação das credenciais. 
Busca de legitimidade Tratava-se da ampliação do poder de barganha para que o Brasil 
tivesse influência na construção dessa nova ordem global que estava 
emergindo. Em meio à indecisão, o Brasil poderia garantir espaço 
nesta nova ordem. 
Coalizões de geometria variável 
(Celso Lafer) 
No mundo globalizado, ficou mais evidente que ao invés da bipolaridade, 
o mundo possuía uma grande quantidade de Estados com diferentes 
tamanhos, poderes e interesses atuando de forma multipolarizada. Para 
além da antiga lógica EUA x URSS, o Brasil buscava construir e participar 
de grupos que pudessem exercer poder, tais como Mercosul, IBAS, 
BRICS, etc; ou seja, grupos de geometria variável girando em torno de 
alianças pontuais. 
 
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Cinco Pilares da PEB pós-Guerra Fria – regionalismo, renovação 
de credenciais, multilateralismo, geometria variável e comércio 
 Tendo em vista as conjunturas externa e interna expressas acima, a política externa brasileira dos 
anos 1990 foi baseada em cinco pilares fundamentais: 
Cinco pilares fundamentais da Política Externa Brasileira 
Regionalismo Articular-se em grupos regionais para depois partir para a 
competitividade global. Exemplo: Mercosul. 
Renovação de credenciais Melhorar a imagem do Brasil no cenário internacional em temas 
diversos – meio ambiente, direitos humanos, questão nuclear, etc. 
Multilateralismo Prezar pelo multilateralismo ao invés do bilateralismo. 
Arranjos de geometria variável Arranjos pontuais e pragmáticos, não mais ideológicos e duradouros. 
Comércio Inserir o Brasil no comércio competitivo global. 
 
Regionalismo – quatro tabuleiros 
Primeiramente, o regionalismo da política externa brasileira foi 
uma resposta aos desafios da globalização – conforme vimos 
anteriormente, regionalismo e globalização são complementares e não 
antagônicos. Antes de se integrar em escala mundial e correr todos os riscos e 
consequências daí decorrentes, vale mais a pena um país primeiro se integrar em 
escala regional (regionalismo) para daí então, partir para a concorrência global. É por isso que 
o Brasil, antes de abrir seu mercado para os demais países do globo, preferiu investir em relações com a 
América do Sul, especialmente no MERCOSUL. O mesmo vale para a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. 
Regionalismo 
Resposta aos desafios da 
globalização 
O regionalismo é uma resposta aos desafios da globalização. Isso 
significa que é mais seguro um país se integrar regionalmente e 
depois mundialmente, do que partir para a integração global logo de 
cara. Além disso, blocos regionais são mais competitivos do que 
países isolados. 
Regionalização e globalização são 
fenômenos complementares 
Sendo assim, a regionalização não é oposta a globalização, mas sim, é 
uma estratégia de inserção global e aumento de competitividade. 
Globalização exige uma inserção 
competitiva no mercado global 
A globalização beneficia os países mais competitivos. Por isso, era 
fundamental que os países do terceiro mundo – como o Brasil – 
encontrassem formas de inserção no mercado global. 
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Aprofundamento das relações 
com América do Sul 
Por conta do regionalismo e da necessidade de inserção no mercado 
global, o Brasil aprofundou as relações com a América do Sul. São deste 
período o MERCOSUL (que deu certo) e a ALCA (que acabou 
fracassando). 
Em meio às tentativas de regionalismo, o Brasil não queria somente aprofundar as relações com os 
vizinhos, mas também, se consolidar como líder regional. O Brasil buscou essas estratégias primeiro com 
o MERCOSUL e depois com a criação da Área de Livre Comércio Sul-Americana (ALCSA) – proposta que 
não saiu do papel. Neste período, os Estados Unidos também lançaram suas estratégias propondo a Área 
de Livre Comércio das Américas (ALCA), que foi rechaçada pelos países sul-americanos e também não 
saiu do papel. 
Principais estratégias de inserção regional do Brasil – Anos 1990 e 2000 
 
Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) 
Criado pelo Tratado de Assunção (1991), Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai 
visam construíram uma união aduaneira com adoção de Tarifa Externa Comum 
(TEC). 
 
Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) 
Uma proposta feita pelos Estados Unidos para implantar uma área de livre 
comércio em todo o continente americano, eliminando as barreiras 
alfandegárias em todos os países. Por causa da grande disparidade de economia e 
infraestrutura, o projeto encontrou forte oposição e foi abandonado. 
 
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) 
Um grupo de cooperação entre estes cinco países considerados emergentes – 
embora a Rússia seja uma potência militar e a China, uma potência econômica. 
Criado em 2006, o grupo admitiu a África do Sul em 2011. 
 
Fórum de Diálogo Brasil, Índia e África do Sul (IBAS) 
Implantado em 2003 por meio da Declaração de Brasília, o IBAS é um grupo de 
cooperação entre Brasil, Índia e África do Sul suportado pelo Fundo IBAS. Até o 
momento, foram cinco reuniões de Cúpula. A próxima será em 2019. 
 
Renovação de credenciais – meio ambiente, desarmamento, direitos humanos, etc. 
Além do regionalismo, o Brasil também aprofundou a estratégia de renovação de credenciais 
iniciada no governo Sarney, adotando uma postura mais cooperativa nas áreas de meio ambiente, 
direitos humanos, desarmamento e não-proliferação nuclear, entre outras. 
 Começando pela questão ambiental, o Brasil se candidatou para sediar a Conferência das Nações 
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio-1992).O Brasil também assinou o Protocolo 
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de Montreal (1987) sobre redução dos gases da camada de ozônio; participou da Convenção-Quadro das 
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC); participou da Convenção Sobre Diversidade 
Biológica (CDB); e, além disso, teve uma posturaativa no Protocolo de Kyoto (1997), acordo que 
pretendia reduzir as emissões de gases do efeito estufa. A partir do governo Sarney, portanto, o Brasil 
mostrou-se bastante preocupado com o meio ambiente. 
Renovação de credenciais – Meio Ambiente 
Conferência das Nações 
Unidas sobre o Meio 
Ambiente e o 
Desenvolvimento (Rio-1992) 
O Brasil adotou uma postura cooperativa na Rio-1992, inclusive, 
sediando a conferência em seu próprio território como estratégia de 
mostrar ao mundo a sua renovação de credenciais. 
Convenção-Quadro das Nações 
Unidas sobre Mudanças 
Climáticas (UNFCCC) 
O Brasil assinou a convenção sobre mudanças climáticas da ONU, 
mostrando que estava preocupado com o aquecimento global e com o 
meio ambiente. 
Protocolo de Kyoto (1997) O Protocolo de Kyoto visava controlar as emissões de gases do efeito 
estufa. O Brasil não só aderiu ao protocolo, como também propôs o 
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) que propunha a 
comercialização de créditos de carbono. 
Convenção Sobre Diversidade 
Biológica (CDB) 
Dotado de grande biodiversidade, o Brasil participou da convenção, 
mostrando-se preocupado com a preservação dos biomas nacionais, 
principalmente a Amazônia que gerava maior preocupação internacional. 
A redemocratização também trouxe mudanças na questão dos direitos humanos, que até então, 
era parcialmente ignorada pelo Brasil. É verdade que desde o governo Geisel, o Brasil fazia parte da 
Comissão de Direitos Humanos da ONU. No entanto, era uma participação de fachada, apenas para se 
proteger das críticas internacionais e não uma participação ativa como viria a ocorrer a partir dos anos 
1990. Com essa nova mentalidade, o Brasil ratificou os Pactos Internacionais de Direitos Humanos da 
ONU de (documento de 1966 e ratificação brasileira em 1992) e o Pacto de San José da Costa Rica 
(documento de 1969 e ratificação brasileira em 1992). Além disso, foi bastante ativo na Conferência 
Mundial sobre Direitos Humanos ocorrida em Viena, 1993. 
Renovação de credenciais – Direitos humanos 
Rafiticação dos Pactos 
Internacionais de Direitos 
Humanos da ONU de 1966 
(1992) 
Os Pactos Internacionais de Direitos Humanos da ONU são de 1966. 
Nesta época, o Brasil estava preocupado com a questão da segurança 
(governo Castello Branco) e posteriormente, com a questão do 
crescimento econômico (entre os governos Costa e Silva e Figueiredo). 
 
Visando manter sua autonomia, o regime militar via com maus olhos 
as críticas aos direitos humanos. No entanto, os governos 
democráticos, seguindo a estratégia de renovação de credenciais, 
ratificaram os pactos referentes aos direitos humanos da ONU. 
 
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Ratificação do Pacto de San José 
de 1969 (1992) 
Em 1969, por meio do Pacto de São José da Costa Rica, a OEA criou a 
Convenção Americana de Direitos Humanos, no entanto, o Brasil só 
ratificou o documento em 1992. 
Brasil atuante na Comissão de 
Direitos Humanos da ONU 
Na época de Geisel, o Brasil se candidatou para a Comissão de Direitos 
Humanos e inclusive, acabou vencendo o pleito na ONU. Nesta época, 
o Brasil não estava tão preocupado com os direitos humanos. A 
candidatura foi para minimizar as críticas das grandes potências, 
especialmente dos Estados Unidos de Carter. 
 
A partir dos anos 1990, ao invés de uma preocupação de fachada, o 
Brasil passou a participar ativamente da comissão, mostrando-se 
realmente interessado no tema. 
Brasil atuante na Conferência 
Mundial sobre Direitos Humanos 
(Viena, 1993) 
O Brasil ajudou, inclusive, a formular o texto final da Conferência Mundial 
sobre Direitos Humanos, realizada em Viena, 1993. 
Se no período militar, o Brasil buscava se afirmar como potência buscando a autonomia nuclear, 
após a redemocratização, mudou radicalmente sua atitude. Como parte da estratégia de renovação de 
credenciais, o Brasil fez questão de afirmar sua nova postura desarmamentista. Para provarem que 
não estava desenvolvendo tecnologia nuclear para fins bélicos, Brasil e Argentina criaram a Agência 
Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle (ABACC) e depois, o Acordo Quadripartite com a 
Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Após muitos contenciosos no período militar, o Brasil 
finalmente ratificou o Tratado de Tlatelolco de 1967 (adesão 1994) e Tratado de Não-Proliferação 
Nuclear (TNP) (1968) (adesão em 1998). Também aderiu ao Tratado para a Proibição Completa de 
Testes Nucleares (CTBT) (1996). 
Renovação de credenciais – Desarmamento e não-proliferação nuclear 
Criação da Agência Brasileiro-
Argentina de Contabilidade e 
Controle (ABACC) (1991) 
Esta agência permite que Brasil e Argentina possam inspecionar 
instalações nucleares um do outro, garantindo que nenhum deles vá 
desenvolver tecnologia nuclear. A ABACC faz parte do contexto de 
superação de desconfianças entre Brasil-Argentina após o governo 
militar. 
Acordo Quadripartite (1991): 
Brasil, Argentina, ABACC e AIEA 
Em um segundo momento, a ABACC fez um acordo quadripartite com a 
Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). As quatro partes eram 
Brasil, Argentina, ABACC e AIEA. A partir deste momento, Brasil e 
Argentina se mostravam transparentes à investigação internacional, 
reforçando que não desenvolveriam tecnologia nuclear para fins bélicos. 
Ratificação plena do Tratado de 
Tlatelolco de 1967 (1994) 
O Brasil também ratificou o Tratado de Tlatelolco (1967), conhecido 
como Tratado para a Proibição de Armas Nucleares na América Latina 
e o Caribe. Na época, este tratado foi utilizado como desculpa pelo 
Brasil para não aderir ao TNP: foi assinado, mas nunca havia sido 
ratificado. A ratificação ocorreu somente em 1994. 
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Adesão ao Tratado para a 
Proibição Completa de Testes 
Nucleares (CTBT) (1996) 
O Brasil aderiu ao tratado que conforme o nome sugere, proibia 
totalmente a realização de testes nucleares. No entanto, o Brasil não 
exigiu nenhuma contrapartida, assinou “de graça” o documento. Para 
Amado Cervo, o Brasil deveria ter negociado alguma compensação. 
Ratificação do Tratado de Não-
Proliferação Nuclear (TNP) de 
1968 (1998) 
Finalmente, após décadas de atritos e negociações, o Brasil aderiu ao 
famoso TNP que já abordamos nas aulas anteriores. Foi a prova 
definitiva que o Brasil era um país desnuclearizado. 
Por causa destas medidas, houve a consolidação da credibilidade do Brasil no sistema 
internacional, processo já iniciado no governo Sarney. O Brasil “provou” para o mundo que havia 
construído uma democracia estável compromissada com os direitos humanos, 
com as questões climáticas, com o meio ambiente e com a não proliferação 
nuclear. Houve o abandono da estratégia de autonomia pela distância e 
um aumento do credibilismo internacional. A renovação de credenciais teve 
êxito, portanto. 
 
Multilateralismo – maior participação na ONU e nos fóruns 
internacionais 
Renovação de credenciais e multilateralismo 
Renovação de credenciais - 
Multilateralismo e maior 
participação nos foros 
internacionais – melhor 
caminho para a legitimidade 
e credibilidade 
Em contraste como regime militar, o multilateralismo passou a ser visto 
como um caminho para a credibilidade e a legitimidade do Brasil no 
sistema internacional. Isso eraespecialmente importante em um 
momento no qual a ordem internacional estava sendo mudada. Era uma 
forma do Brasil garantir seu espaço nessa nova ordem mundial. 
"Falta de excedentes de 
poder" demanda 
multilateralismo 
O multilateralismo também era importante por conta da falta de excedentes 
de poder. O Brasil não possuía poder bélico, nem poder econômico, nem 
recursos e portanto, também não tinha muito poder no sistema 
internacional. Para o embaixador Saraiva Guerreiro, o multilateralismo seria 
uma forma de compensar a falta de excedente de poder: já que o Brasil não 
tinha tanto poder de barganha para garantir seus interesses em relações 
bilaterais, era mais seguro recorrer aos fóruns multilaterais, tais como ONU, 
OEA e OMC. 
Inserção principista no Brasil 
e no cenário internacional 
Visando ter uma boa imagem nesses espaços multilaterais, o Brasil 
adotou a inserção principista; ou seja, a atuação por princípios no cenário 
internacional. Isso significa que o Brasil passou a adotar uma postura de 
árbitro das relações internacionais, do direito internacional público. Os 
diplomatas brasileiros passaram a denunciar as injustiças e às violações 
dos direitos humanos. Tudo isso visando construir uma imagem positiva 
do Brasil. 
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Brasil defende a 
democratização dos foros 
decisórios multilaterais: 
objetivo de conferir maior 
representatividade e 
legitmidade para as decisões 
multilaterais 
O Brasil não somente passou a participar ativamente dos fóruns 
multilaterais, como também passou a questioná-lo visando maior 
representatividade. O Brasil defendia que em uma nova ordem mundial, era 
necessário reformar a ONU. Também argumentava que a ONU era 
insuficiente para representar todos os Estados: em 1945, existiam 51 países. 
Hoje, são quase 200. 
Defesa dos interesses dos 
países em desenvolvimento 
O Brasil também passou a defender o interesse dos países em 
desenvolvimento, tanto no âmbito multilateral quanto em atuações 
regionais. 
Como parte de reconstrução de sua imagem no exterior, o Brasil passou a comandar e participar 
de diversas missões de paz junto à ONU. Conforme o quadro abaixo. 
Renovação de credenciais – Operações de Paz da ONU 
Engajamento em 
operações de paz 
O Brasil participou de várias missões de paz, como em Angola, Moçambique 
e Timor Leste – basicamente, em países de língua portuguesa, onde o 
idioma facilitava a atuação brasileira. 
Brasil defende maior 
interrelação entre 
manutenção e 
consolidação da paz 
As operações de paz brasileiras não visavam só a atuação militar, mas também, 
a resolução de problemas sociais. Além da conciliação de grupos, o Brasil 
ajudava na saúde, na educação, na engenharia civil, no combate à pobreza, etc. 
Esforços para a inclusão 
de elementos de 
peacebuilding nos 
mandatos das operações 
de paz no exterior. 
Atuando em várias frentes – procurando combater as causas dos problemas 
– o Brasil passou a adotar uma imagem de peacebuilding em suas missões; 
ou seja, de construtor da paz. Segundo o Brasil, esta paz seria construída 
mais pela atuação social do que pelo combate militar. 
Além disso, o processo de renovação de credenciais também passava pelo apreço ao 
multilateralismo. Por isso, o Brasil passou a agir quase que exclusivamente de forma multilateral nos 
anos 1990 em temas como comércio, resolução de conflitos, meio ambiente, direitos humanos e 
desarmamento. 
Principais tipos de multilateralismo 
Multilateralismo no comércio 
Rodada Uruguai (1986 – 1994) 
do GATT 
O Brasil participou ativamente da Rodada do Uruguai, ocasião no qual foi 
criada a Organização Mundial do Comércio (OMC); uma evidência de que o 
Brasil passou a atuar de forma multilateral no comércio. 
Multilateralismo na resolução de conflitos 
Disposição em assumir Na maioria dos casos, o Brasil não mediava sozinho os conflitos, mas sim, o 
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crescentes responsabilidades 
em temas de segurança 
internacional 
fazia por meio do Grupo do Rio – fusão dos grupos de Contadora e de seu 
grupo de apoio. 
Apesar disso, o Brasil também passou a assumir maioes responsabilidades 
em questões de segurança. O Brasil mediou, por exemplo, o conflito entre 
Peru e Equador, assumindo um papel de liderança regional. 
Multilateralismo na reforma do Conselho de Segurança da ONU 
Argumento de que a 
configuração do CS-ONU 
reflete as relações de poder do 
pós-II Guerra Mundial 
A defesa da reforma do Conselho de Segurança da ONU ocorreu pelo 
argumento de que este não refletia as relações de poder do mundo pós-
Guerra Fria; afinal, havia sido criado em um contexto de pós-Segunda Guerra 
Mundial. Ou seja, em um cenário que não existia mais. 
Multilateralismo em temas variados 
Meio ambiente, direitos 
humanos, desenvolvimento 
Resumindo, o Brasil atuou de forma multilateral em várias frentes: no 
comércio, no meio ambiente, no desenvolvimento, na questão dos direitos 
humanos, etc. Afinal, era necessário reforçar a estratégia de renovação de 
credenciais. Vale ressaltar, no entanto, que o Brasil não abandonou o 
regionalismo, inclusive o aprofundou: multilateralismo e regionalismo 
andaram juntos! 
 
Arranjos de geometria variável – alianças intermitentes e pontuais 
Outro aspecto muito importante para entendermos a política externa brasileira dos anos 1990 são 
os arranjos de geometria variável. Trata-se de acordos feitos em alianças pontuais e pragmáticas que 
não necessariamente se repetem em temas mais abrangentes, daí a explicação do termo “geometria 
variável” – pois a postura do país pode variar de grupo para grupo. O Brasil pode adotar, por exemplo, uma 
postura diferente no Mercosul e na OMC. Os quatro aspectos principais dos arranjos de geometria variável 
são: ocorrência após a década de 1990, aumento da complexidade das coalizões, inexistência de 
articulações permanentes e postura pró-ativa e propositiva na agenda internacional. 
A partir dos anos 1990, os arranjos de geometria variável – alianças pontuais e não-duradouras – se tornaram uma regra nas 
relações internacionais. Na foto, presidentes do Brasil, Rússia, Índia e China durante reunião dos BRICS. Repare que não há 
uma afinidade ideológica nem um alinhamento 100%, mas sim, um elo intermitente entre estes países. 
 
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Arranjos de Geometria Variável 
A partir da década de 1990 Maior complexidade das coalizões Sul-Sul 
Inexistência de articulações fixas e 
permanentes 
Não possuem caráter preventivo e defensivo: postura pró-ativa e 
propositiva na agenda internacional 
Exemplos de tabuleiros 
Meio ambiente – BASIC Acrônimo para Brasil, África do Sul, Índia e China – atuação 
coordenada em questões climáticas. 
Política – IBAS e BRICS Acrônimos para Índia, Brasil, África do Sul (IBAS) e Brasil, 
Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) – atuação 
coordenada na política 
Comércio internacional – G20 Comercial G-20 é o grupo das 20 maiores economias do mundo – atuação 
comercial. 
Os arranjos de geometria variável ganharam força após os anos 1990 e continuam sendo 
tendência no mundo atual. Ao invés de se articularem em torno dos Estados Unidos ou da União Soviética, 
os países passaram a formar blocos econômicos, grupos de cooperação e fóruns paralelos. O Brasil, por 
exemplo, pode concordar com um vizinho do MERCOSUL, porém, discordar de sua posição na OMC. Os 
grupos tornam-se temáticos e as alianças, cada vez mais pontuais e menos ideológicas. Neste contexto, as 
alianças não são mais duradouras – como no período da Guerra Fria – massim, pontuais e intermitentes; 
o que acarreta no aumento da complexidade das coalizões Sul-Sul. 
Arranjos tradicionais 
Alianças duradouras em questões 
centrais, como ideologia política. 
Alinhamento da Guerra Fria – 
capitalista ou comunista. 
Arranjos de geometria 
variável 
Alianças intermitentes em questões 
pontuais – comércio, economia, 
defesa, etc. 
Alinhamento pragmático – 
pertencimento à grupos (Mercosul, 
BRICS, IBAS, BASIC, G-20, etc). 
 
Arranjos de Geometria Variável - mais características 
Multilateralismo em detrimento do 
bilateralismo 
O Brasil, a partir deste momento, passou a priorizar as relações 
multilaterais – afinal, era o modo mais eficiente de garantir 
força no sistema internacional. As relações bilaterais 
praticamente desapareceram nos anos 1990. 
Quatro tabuleiros das negociações 
comerciais internacionais nos anos 90 
MERCOSUL, OMC, ALCA e acordo entre União Europeia e 
MERCOSUL 
Atuação simultânea do Brasil em O Brasil atuava em vários tabuleiros diferentes, cada um 
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todos eles para, pragmaticamente, 
manter a margem de manobra e o 
poder negociador do país. 
assumindo uma determinada postura. A ideia era obter 
benefícios de cada um deles de forma pragmática e pontual. 
4 tabuleiros principais – atuação brasileira nos anos 1990 
MERCOSUL – sub-regional Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) – Brasil, Argentina, 
Uruguai e Paraguai. 
OMC – Multilateral Organização Mundial do Comércio (OMC) – criada após o GATT. 
ALCA – Continental Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) – proposta pelos 
Estados Unidos e fracassada. 
UE - Birregional (Mercosul - UE) Acordo bilateral entre União Europeia e Mercosul – em 
negociação até hoje. 
 
Comércio – inserção do Brasil na globalização 
O quinto pilar da Política Externa Brasileira pós-Guerra Fria dizia respeito a inserção do Brasil no 
comércio mundial. Neste período, para o Estado sobreviver, era necessário se adaptar às condições da 
globalização e promover maior inserção nas cadeias globais. Como este pilar é o mais fácil de entender – 
e além do mais, teremos aulas específicas sobre o comércio brasileiro – preferimos apenas citá-lo aqui. 
Não se preocupem, pois desenvolveremos o assunto nas próximas aulas. 
 
GOVERNOS PÓS-GUERRA FRIA NO BRASIL 
 Conforme já dissemos no início da aula, aprendemos que a política externa é formada pelos 
condicionantes internos, pelos condicionantes externos e pelos formuladores. Porém, no caso 
específico dos anos 1990, os formuladores tiveram papel secundário. Neste contexto histórico, era 
necessário ajustar o Estado aos padrões impostos pela globalização e pelo Consenso de Washington. É por 
isso os governos Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso têm muitos aspectos em comum. 
Após o pleito eleitoral de 1989 – as primeiras eleições diretas desde 1960 –, Fernando Collor de 
Melo (1990 – 1992) assumiu a presidência, já com a necessidade urgente de adequar o Brasil ao novo 
cenário internacional pós-Guerra Fria. Após o fracassado Plano Collor (1992) (que confiscou o dinheiro 
das cadernetas de poupança), e escândalos de corrupção, o presidente sofreu um impeachment no 
mesmo ano, abrindo caminho para seu vice Itamar Franco (1992 – 1994). 
 
 
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Governo Fernando Collor (1990-1992) 
 
Governo Collor (1990 – 1992 ) 
Temas-chave 
- Parcerias operacionais para inserir o Brasil no 
sistema globalizado, auferindo ganhos com a 
liberalização multilateral do comércio 
- Aproximar o Brasil dos países do centro da economia 
mundial 
Breve contexto histórico 
- Nova configuração do sistema mundial com pouca 
margem de manobra para os países do Terceiro 
Mundo 
 
Adoção dos cinco pilares na política externa 
 
Críticas a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) 
Fatos marcantes 
- Plano Brady (1989) 
- Consenso de Washington (1989) 
- The Enterprise for the Americas Iniciative 
(1990) 
- Não conclusão da Rodada do Uruguai no GATT (1990) 
- Colapso da URSS (1991) 
- Tratado de Maastricht (1991) (União Europeia) 
- Tratado de Assunção (1991) (Mercosul) 
 O primeiro grande desafio de Collor – que se prolongou para os governos Itamar e FHC – foi 
adequar o Brasil à globalização e ao Consenso de Washington, iniciando o que Amado Cervo chama de 
Estado Normal ou Estado Neoliberal. O termo “normal” se deve a perda de autonomia dos Estados 
nacionais promovida pela agressividade das condições externas. Para responder às necessidades de um 
mundo globalizado, o Brasil adotou uma série de privatizações, se abriu para o mercado externo e 
passou a atuar em “tabuleiros” regionais – especialmente no Mercosul. Neste período, no entanto, a nova 
configuração do sistema mundial diminuiu a margem de manobra para os países do Terceiro Mundo, o 
que incluía o Brasil – ou seja, Estados nacionais perderam poder. Vejamos o quadro abaixo: 
 
 
 
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Nova República – Fernando Collor (1990 – 1992) – Temas-chave 
Parcerias operacionais 
para inserir o Brasil no 
sistema globalizado, 
auferindo ganhos com a 
liberalização 
multilateral do comércio 
No governo Collor, o Brasil fez parcerias operacionais para se inserir no mundo 
globalizado. Houve a liberalização multilateral do comércio, especialmente nos 
quatro tabuleiros que já mencionamos, negociando nos âmbitos: da OMC 
(multilateral); da ALCA (continental); do Mercosul (sub-regional); e entre o 
Mercosul e a União Europeia (bi-regional). É muito importante ter em mente 
estes quatro tabuleiros: OMC, ALCA, Mercosul e Mercosul-União Europeia, pois 
foram centrais na política externa brasileira dos anos 1990. 
Neste contexto, nós poderíamos destacar os arranjos de geometria variável que a 
gente viu agora nesta aula, então, existem várias parcerias operacionais que 
surgem dá necessidade responder aos desafios de um mundo globalizado, de 
inserir o Brasil no sistema global e fazer isso de modo a obter ganhos com a 
liberalização multilateral do comércio. 
Aproximar o Brasil dos 
países do centro da 
economia mundial 
Há uma buscar por aproximar o Brasil dos países do centro da economia 
mundial, fazendo isso por meio da adoção de reformas vinculadas ao Consenso de 
Washington; aderindo assim, ao Paradigma Liberal. 
Nova República – Fernando Collor (1990 – 1992) – Breve contexto histórico 
Nova configuração do 
sistema mundial com 
pouca margem de 
manobra para os países 
do Terceiro Mundo 
 
Adoção dos cinco pilares 
na política externa 
 
Críticas a Área de Livre 
Comércio das Américas 
(ALCA) 
O contexto histórico da época diminuía a margem de manobra para os países do 
Terceiro Mundo. Para Saraiva Guerreiro, o Brasil, sendo um país com “pouco 
excedente de poder”, seria ainda mais prejudicado por essa nova ordem global. 
Afinal, seu poder já era reduzido mesmo antes da globalização. 
Para compensar essa diminuição de margem de manobra, conforme vimos 
anteriormente, o Brasil buscou uma estratégia de cinco pilares: regionalismo, 
renovação de credenciais, multilateralismo, arranjos de geometria variável e 
comércio. Por causa da falta de excedente de poder, o multilateralismo era o 
preferido. 
No regionalismo, o Brasil tinha certo protagonismo, podendo negociar com a 
Argentina, Paraguai e Uruguai com certa facilidade, sem a presença de grandes 
potências, como Estados Unidos. Nos arranjos de geometria variável, o Brasil 
encontrava convergências pontuais, ampliando sua influência no sistema 
internacional. 
Do ponto de vista do comércio, o Brasil preferia negociar em espaços 
multilaterais(multilateralismo) do que tratar diretamente com as grandes 
potências. Era mais vantajoso atuar de forma multilateral do que bilateral. 
Por exemplo, o Brasil acreditava que um projeto como a ALCA traria muitas 
vantagens para os Estados Unidos e poucas vantagens para o restante da 
América do Sul. A oposição brasileira foi fundamental para que a ALCA não se 
concretizasse. Não por acaso, os Ministros das Relações Exteriores Celso Lafer, 
Fernando Henrique Cardoso (que foi ministro antes de ser presidente) e Celso 
Amorim, todos fizeram críticas frontais à ALCA. 
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 Entre os fatos marcantes do período estão o Plano Brady e o Consenso de Washington (1989); a 
iniciativa da The Enterprise for the Americas Iniciative (1990) – projeto que levaria à fracassada Área de 
Livre Comércio das Américas (ALCA); e a assinatura dos tratados de Maastricht (1991 – criação da 
União Europeia) e Assunção (1991 – criação do Mercosul). 
Nova República – Fernando Collor (1990 – 1992) – Fatos marcantes 
Plano Brady (1989) O Plano Brady, iniciativa proposta pelo governo Bush, visava a 
renegociação da dívida externa de países em desenvolvimento. No 
caso brasileiro, a negociação durou entre 1992 e 1994, já no governo de 
Itamar Franco. 
Lançamento do Consenso de 
Washington (1989) 
Houve a adoção das recomendações do Consenso de Washington: 
privatizações, responsabilidade fiscal, abertura de mercados, 
redução do Estado, etc. 
O lançamento da The Enterprise 
for the Americas Iniciative (1990) 
A The Enterprise for the Americas Iniciative (1990) foi uma iniciativa 
para aumentar investimentos, aliviar a dívida e promover acordos 
comerciais com a América Latina. 
Não conclusão da Rodada do 
Uruguai no GATT (prevista para 
dezembro de 1990) 
Iniciada em 1986, a Rodada do Uruguai estava prevista para terminar 
em 1990, mas Estados Unidos e União Europeia resolveram estendê-
la porque não concordaram com as discussões na área agrícola. 
Retomaremos este assunto em outras aulas para vocês entenderem. 
Assinatura do Tratado de 
Maastricht (1991) 
O Tratado de Maastricht (1991) foi assinado, levando à consolidação 
do projeto da União Europeia. Detalharemos este assunto nas próximas 
aulas. 
Colapso da URSS (1991) A União Soviética entrou em colapso, encerrando oficialmente a 
Guerra Fria. Como já comentamos bastante sobre o assunto, apenas 
vamos citar o fato aqui. 
Assinatura do Tratado de 
Assunção (1991) 
O Tratado de Assunção (1991) foi assinado por Brasil, Argentina, 
Uruguai e Paraguai, criando o Mercosul. 
 Conforme já mencionamos, após o impeachment de Collor e a posse de Itamar Franco, o Brasil 
manteve sua política externa alinhada ao Consenso de Washington e aos cinco pilares (regionalismo, 
multilateralismo, renovação de credenciais, arranjos de geometria variável e comércio). Neste 
período, houve maior inserção do Brasil na dinâmica da globalização e também, o aprofundamento da 
renovação de credenciais, colocando o Brasil como defensor da democracia, da paz, da segurança e de 
uma ordem mundial mais inclusiva. Também houve o aprofundamento do multilateralismo e a busca de 
uma identidade nacional que fizesse o Brasil ser reconhecido como uma potência média. Entre os fatos 
marcantes estão o aprofundamento do Mercosul, a criação da Zona de Cooperação do Atlântico Sul, a 
proposta da Área de Livre Comércio da América do Sul (ALCSA) como alternativa à NAFTA e a 
reaproximação com a África do Sul pós-Apartheid. 
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Governo Itamar Franco (1992 – 1994) 
 
Governo Itamar Franco (1992 – 1994) 
Temas-chave 
- Marca a inserção do Brasil como país de interesses 
múltiplos na dinâmica da globalização 
- Brasil procurou o desenvolvimento, a formação de 
valores democráticos, a defesa da paz e da segurança 
e a luta a favor de uma ordem global econômica e 
politicamente justa. 
- Busca de reconhecimento internacional como 
potência média 
- Brasil procura fortalecer sua posição nos fóruns 
multilaterais. 
 
Breve contexto histórico 
- Globalização de cunho neoliberal se estabelece 
Fatos marcantes 
- Aprofundamento do Mercosul 
- Proposta da Área de Livre Comércio da América do Sul (ALCSA) como alternativa à NAFTA 
- Reaproximação com África do Sul 
 
Nova República – Itamar Franco (1992 – 1994) – Temas-Chave 
Marca a inserção do Brasil como 
país de interesses múltiplos na 
dinâmica da globalização 
Aprofundando a estratégia de renovação de credenciais, o Brasil 
passou a se preocupar com questões de direitos humanos, meio 
ambiente, segurança, desarmamento e abertura de novos mercados. 
Portanto, o Brasil deixou de ser um país com meros interesses 
desenvolvimentistas para se tornar um país de interesses múltiplos. 
Com essa nova postura, o país procurava ganhar posição de destaque na 
construção da nova ordem global. 
Brasil procurou o 
desenvolvimento, a formação de 
valores democráticos, a defesa da 
paz e da segurança e a luta a favor 
de uma ordem global econômica e 
Sendo um país de interesses múltiplos, além do desenvolvimento, o 
Brasil também prezou por valores democráticos, o que incluía a defesa 
da paz, do meio ambiente e dos direitos humanos; ainda na tentativa de 
superar a imagem negativa do regime militar. 
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politicamente justa Buscando construir uma ordem global que fosse economicamente 
mais justa e inclusiva, o Brasil buscava atuar como mediador de 
conflitos e líder dos países em desenvolvimento. 
Busca de reconhecimento 
internacional como potência 
média 
A busca de reconhecimento internacional com potência média está 
totalmente ligada a esse estabelecimento do Brasil como um país com 
interesses múltiplos, defensor dos valores democráticos e mediador 
de conflitos. Com toda essa renovação, o Brasil “merecia” ser melhor 
reconhecido. 
Brasil procura fortalecer sua 
posição nos fóruns multilaterais 
Conforme já ressaltamos, há também a busca pelo fortalecimento em 
fóruns multilaterais, como por exemplo, na ONU e na OMC. Ao invés 
do bilateralismo praticado em partes do regime militar, o Brasil passou a 
prezar pelo multilateralismo. 
Vale ressaltar que com o estabelecimento do Plano Real (1994) e a 
consequente resolução de vários problemas de ordem econômica, o 
Brasil pode se voltar com mais atenção ao cenário externo. Conforme 
veremos adiante, a partir deste momento, o Brasil passou a atuar de 
forma mais incisiva nestes fóruns multilaterais. 
Nova República – Itamar Franco (1992 – 1994) – Breve contexto histórico 
Globalização de cunho neoliberal 
se estabelece 
O contexto histórico do governo Itamar Franco é o mesmo de Collor: o 
aprofundamento da globalização e do neoliberalismo. Já comentamos 
bastante sobre estes fenômenos aqui. 
Nova República – Itamar Franco (1992 – 1994) – Fatos marcantes 
Aprofundamento do Mercosul Após a criação do Mercosul no Tratado de Assunção (1991), o Protocolo 
de Ouro Preto (1994) reconheceu personalidade jurídica ao bloco, 
aprofundando ainda mais as relações já estabelecidas anteriormente. 
Proposta da Área de Livre 
Comércio da América do Sul 
(ALCSA) como alternativa à 
NAFTA 
Ao invés da América Latina inteira, o Brasil passou a priorizar a 
América do Sul como espaço geopolítico. Neste contexto, surgiu a 
proposta de Área de Livre Comércio da América do Sul (ALCSA) como 
alternativa ao NAFTA – este composto por Estados Unidos, México e 
Canadá. 
Reaproximação com África do Sul Com o final do Apartheid (1948 – 1994), o Brasil se reaproximou da 
África do Sul. Inclusive, o próprio FHC, enquantoMinistro, visitou o país 
e assinou um protocolo de amizade mútua. 
Neste momento, porém, o Brasil não estava focado na estratégia 
africanista, mas sim, com aqueles cinco pilares que comentamos: 
regionalismo, multilateralismo, renovação de credenciais, arranjos de 
geometria variável e comércio. 
No final do governo de Itamar Franco, o então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso 
coordenou o Plano Real (1994), contribuindo, finalmente, para a estabilização econômica do país. Por 
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conta deste êxito, FHC venceu as eleições de 1994, permanecendo no poder por dois mandatos até o 
final de 2002. 
Governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) 
 
Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) 
Temas-chave 
- Substituição dos princípios do nacional-
desenvolvimentismo e a adoção dos princípios 
neoliberais do Consenso de Washington 
- Brasil abandonou a perspectiva de Potência 
Emergente e passa a ser um grande mercado 
emergente 
 
- "Autonomia pela integração", uma autonomia 
articulada com o meio internacional, no sentido de 
que "não somos suficientemente atrelados a nenhum 
centro de poder mundial para justificar uma opção 
excludente" 
- Perseguir perseverança ativa regional (Mercosul 
como prioridade) e internacional para inserir o país 
na globalização neoliberal 
- Defesa da democracia, da abertura ao exterior e da 
estabilidade econômica 
Breve contexto histórico 
- Project for the New American Century (PNAC) defende a obrigação dos EUA de promover a "liberdade 
política" em todo mundo. 
Fatos marcantes 
- 2001: ataques terroristas ao World Trade Center (WTC) 
- 2002: lançamento da Doutrina Bush, segundo a qual dos EUA se arrogam o direito de fazer ataques 
preventivos a qualquer país que consideram uma ameaça a sua segurança 
- Adesão ao Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis. 
- Proposta dos eixos de integração, o IIRSA. 
 De forma geral, governo Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) foi marcado pela 
estabilização econômica e pela continuidade na política externa – continuidade, no entanto, feita com 
alguns ajustes que veremos a seguir. 
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Antes de iniciarmos, vale ressaltar que o professor Amado Cervo é muito crítico com a política 
externa de FHC. Mas apesar das críticas serem válidas, devemos ter cuidado ao levá-las para a prova do 
CACD: como é um período muito recente, várias das figuras criticadas por Cervo continuam no Itamaraty e 
podem estar envolvidas no processo de seleção do concurso. Devemos ter ainda mais cautela quando 
criticarmos a diplomacia dos governos mais recentes. Fiquem tranquilos, pois até o final do curso vocês 
saberão dosar muito bem a prova de vocês. Enfim, vamos aos fatos marcantes do período: 
Nova República – Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) – Temas-chave 
Substituição dos princípios 
do nacional-
desenvolvimentismo e a 
adoção dos princípios 
neoliberais do Consenso de 
Washington 
Uma das principais características desde período foi a substituição dos 
princípios do nacional-desenvolvimentismo e a adoção dos princípios 
neoliberais do Consenso de Washington. 
É verdade que essa mudança já vinha ocorrendo desde o Governo Collor, mas 
neste período ocorreu um aprofundamento muito claro com as privatizações, 
por exemplo. Este receituário, porém, nunca foi 100% implantado no Brasil. 
Brasil abandonou a 
perspectiva de Potência 
Emergente e passa a ser 
um grande mercado 
emergente 
O Brasil abandonou a perspectiva de potência emergente e passou a ser um 
grande mercado emergente. Isso significa que o Brasil passou a adotar a 
economia como o vetor central da política internacional. 
O Brasil passou a olhar para o restante do mundo enxergando as 
oportunidades econômicas em potencial; focando na abertura de mercados e 
na troca de produtos e serviços, passando assim, a se colocar como um 
mercado emergente. Com essa nova postura, o Brasil estaria disponível à 
crescer por meio de investimentos estrangeiros, não mais pela ação exclusiva 
do Estado. 
Vale notar que enquanto Ministro das Relações Exteriores de Itamar Franco, 
Fernando Henrique Cardoso desenvolveu a estratégia de firmar o Brasil como 
potência emergente. No entanto, quando assumiu a presidência, assumindo 
em nova postura, FHC passou a tratar o Brasil como um mercado emergente 
disponível para investimentos externos. 
No final do segundo mandato de FHC – já na transição do Estado Neoliberal 
para o Estado Logístico – houve uma nova mudança de postura, mas 
deixaremos este assunto para depois. 
"Autonomia pela 
integração", uma 
autonomia articulada com 
o meio internacional, no 
sentido de que "não somos 
suficientemente atrelados 
a nenhum centro de poder 
mundial para justificar uma 
opção excludente" 
Nesta época, houve a ideia de autonomia pela integração, quase sinônima do 
conceito de autonomia pela participação. 
Basicamente, trata-se da concepção de que o Brasil não é suficientemente 
atrelado a nenhum centro de poder mundial para justificar uma opção 
excludente. Uma opção excludente seria, por exemplo, o americanismo do 
presidente Dutra, feito sem recompensas e excluindo uma série de países do 
Leste Europeu. 
Neste momento de globalização, era preciso se integrar de fato ao sistema 
internacional, sem excluir ninguém para não perder oportunidades. 
Perseguir perseverança 
ativa regional (Mercosul 
O Brasil continuou buscando aumentar sua representatividade no sistema 
internacional. Do ponto de vista regional, houve o aprofundamento do 
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como prioridade) e 
internacional para inserir o 
país na globalização 
neoliberal 
Mercosul; do ponto de vista global, o aprofundamento do multilateralismo. 
Neste ponto, houve a continuidade das estratégias de Collor-Itamar. 
Defesa da democracia, da 
abertura ao exterior e da 
estabilidade econômica. 
Houve uma defesa da democracia, da abertura ao exterior e da estabilidade 
econômica, bandeiras muito vinculadas aos reflexos do sucesso do Plano Real 
à política externa. Com a “casa em ordem”, o Brasil pode se preocupar mais 
com o que “acontecia lá fora”, aumentando o protagonismo internacional. 
Nova República – Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) – Breve contexto histórico 
Project for the New 
American Century (PNAC) 
defende a obrigação dos 
EUA de promover a 
"liberdade política" em 
todo mundo. 
Dentro do contexto histórico vale destacar o Project For The New American 
Century (PNAC), ou, Projeto para o Novo Século Americano, promovido em 
1997. Trata-se de um manifesto vinculado ao neoconservadorismo que defende 
a missão dos Estados Unidos de promover a liberdade política em todo o 
mundo. Segundo este ponto de vista, a liderança norte-americana seria boa 
tanto para a América quanto para o mundo todo. 
Por meio do PNAC, os Estados Unidos tentariam manter sua hegemonia no 
século XXI, repetindo o sucesso que tiveram no século XX. Essa hegemonia não 
seria somente uma forma de manter o poder, mas de difundir os valores norte-
americanos tais como: a substituição de ditaduras por democracias e a abertura 
de mercados fechados; algo que seria bom para todos, portanto. 
Essas ideias foram defendidas no meio político – a exemplo dos presidentes 
Bush (pai) e Bush (filho) – e no meio intelectual, como o próprio Francis 
Fukuyama que já mencionamos aqui. Para este autor, o mundo havia chegado 
ao “fim da história”; afinal, todas as alternativas ao capitalismo haviam 
falhado. 
Compartilhando as mesmas influências intelectuais, o discurso do PNAC é 
semelhanteao idealismo do período entreguerras. O livro “A Paz Perpétua” 
de Kant, por exemplo, defende a “teoria da paz democrática”; isto é, a ideia de 
que democracias não entram em guerra entre si. Por essa perspectiva, quanto 
mais intenso o comércio entre as nações, mais pacífica elas serão. 
Os Estados Unidos, no ímpeto de cumprirem essa missão, acabam adotando 
medidas consideradas autoritárias, como a invasão do Iraque em 2003. O Brasil, 
prezando pelo discurso legalista e juridiscista que vinha proferindo desde a 
redemocratização, criticou de forma incisiva estas posturas unilaterais dos 
Estados Unidos. Contrariando o PNAC, o Brasil dizia que “se as relações 
comerciais fossem fomentadas, o mundo seria mais pacífico e estável; e 
sendo o mundo mais estável, os Estados Unidos continuariam exercendo 
hegemonia”. Para a visão brasileira, não era necessário utilizar a força, 
portanto. 
Nova República – Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) – Fatos marcantes 
2001: ataques terroristas 
ao World Trade Center 
Em 11 de setembro de 2001, ocorreram os ataques terroristas ao World Trade 
Center e ao Pentágono, nos Estados Unidos. Foi o maior ataque que os norte-
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(WTC) americanos sofreram em seu próprio território, com milhares de mortos. 
Diversos países do mundo deram apoio ao país atacado, inclusive o Brasil, 
fazendo o Estados Unidos acionarem o Tratado Interamericano de Assistência 
Recíproca (TIAR). Segundo este documento, um ataque a um país seria 
entendido como um ataque à todos os país signatários. Os países latino-
americanos, no entanto, não se envolveram na Guerra ao Terror. 
A partir deste evento, os teóricos concordaram que existia uma nova 
configuração do sistema global. Se até então, guerras eram provocadas 
somente por Estados nacionais, passou-se a admitir a ideia de que atores não-
estatais poderiam desencadear conflitos; afinal, o grupo terrorista Al Qaeda 
promoveu um ataque em solo norte-americano. 
Além de grupos terroristas, organizações mafiosas, empresas multi e 
transnacionais, ONGs e até mesmo indivíduos isolados; ou seja, atores não-
estatais, passaram a ter voz ativa no cenário internacional. Sendo por meios 
legais ou não, o fato é que passam a afetar a realidade internacional. 
2002: lançamento da 
Doutrina Bush, segundo a 
qual dos EUA se arrogam o 
direito de fazer ataques 
preventivos a qualquer país 
que consideram uma 
ameaça a sua segurança 
O presidente George W. Bush respondeu aos ataques terroristas promovendo a 
Doutrina Bush, na qual os Estados Unidos se rogam o direito de fazer ataques 
preventivos a qualquer país que considerem uma ameaça à segurança. Esta 
doutrina levou à eclosão das guerras do Afeganistão (2001) e do Iraque (2003). 
A Doutrina Bush se chocava com o direito internacional público e com os 
ideais de segurança coletiva que eram vigentes até então. Afinal, os Estados 
Unidos passaram a ignorar a ONU e assumir uma posição unilateral na 
resolução de conflitos, a exemplo da invasão do Iraque (2003), feita sem o aval 
das Nações Unidas. 
O Brasil, simpático ao multilateralismo, foi um dos países que fez dura crítica à 
unilateralidade norte-americana – embora estas críticas não chegassem a 
prejudicar as relações bilaterais Brasil-EUA. 
Adesão ao Regime de 
Controle de Tecnologia de 
Mísseis,. 
O Brasil aderiu ao Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, uma 
associação de países que combate a proliferação de mísseis capazes de lançar 
armas de destruição em massa. A adesão do Brasil fazia parte do 
aprofundamento da estratégia de renovação de credenciais. 
Proposta dos eixos de 
integração, o IIRSA. 
Em 2000, foi lançada a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional 
Sul-Americana (IIRSA), uma proposta de integração da infraestrutura física 
da América do Sul; interligando os diferentes territórios e polos urbanos do 
continente visando aumentar a competitividade e a potência econômica do 
continente no cenário global. 
 Antes de finalizarmos a década de 1990 – e também este período de início do século XXI – é preciso 
recapitular que neste período de globalização, os condicionantes externos pesavam mais que os 
condicionantes internos e os formuladores de política externa. É por isso que há certa homogeneidade 
e continuidade entre os governos de Collor, Itamar Franco e FHC. Também é por isso que fizemos uma 
longa introdução dos anos 1990, mas falamos pouco dos governos em si. Para retomarmos os principais 
aspectos, segue quadro abaixo: 
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Décadas de 1990 - destaques 
Por não ter "excedentes de 
poder”, o Brasil teve que 
buscar a legitimidade no 
multilateralismo. 
Isso significa que os fóruns multilaterais foram priorizados nos três 
governos (Collor, Itamar e FHC) durante todo o Estado Neoliberal. 
Mercosul como plataforma de 
inserção competitiva na 
economia global 
O Mercosul foi constantemente aprofundado para aumentar a inserção do 
Brasil no sistema internacional. Não há contradição, portanto, entre 
globalização e regionalismo. 
Abertura comercial unilateral 
de Collor 
Collor promoveu uma grande abertura comercial, dando início ao 
Estado Neoliberal que duraria por toda a década de 1990. 
Política externa de Collor não 
foi alinhada aos EUA, mas 
serviu para a inserção 
internacional do Brasil 
O Brasil não se alinhou ao Consenso de Washington para agradar aos 
Estados Unidos, mas para se tornar competitivo no sistema internacional. É 
errado dizer que a política externa de Collor foi totalmente alinhada com os 
norte-americanos. 
Não existe oposição entre 
Mercosul e ALADI 
Ambos os projetos são complementares e não opositores. A ALADI é 
uma espécie de “mãe do Mercosul”. 
Proposta da ALCSA marcou 
mudança do foco da PEB para a 
América do Sul 
O Brasil passou a priorizar a América do Sul, não só por meio da ALCSA, 
mas também aprofundando o Mercosul. 
Não houve alinhamento aos 
EUA sob FHC: circunstancial. 
Aqui vale a mesma lógica dos governos Collor-Itamar: FHC promoveu 
medidas liberalizantes para aumentar a competitividade do Brasil e não 
para agradar Washington. 
Não adotar o tom 
excessivamente crítico de 
Amado Cervo em relação à PEB 
de FHC. 
Para alguns críticos, como Amado Cervo, FHC teria adotado um tom 
entreguista (privatista). Na verdade, estava somente se adaptando às 
condições globais. É preciso tomar cuidado com discursos ideológicos na 
prova discursiva, ainda mais quando sabemos que grande parte dos 
diplomatas continua lá. 
Pragmatismo do Brasil em 
vários eixos nas negociações 
comerciais 
Na verdade, ao invés de pró-EUA, o Brasil manteve seu pragmatismo, 
continuando a Política Externa Independente consolidada nas décadas 
anteriores. 
Para finalizar, vamos relembrar que no Governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) 
houve o aprofundamento da estratégia de autonomia pela participação, que teve como principais 
características: a reavaliação das diretrizes da política externa brasileira que foi consolidada na década 
de 90, a renovação de credenciais –uma estratégia consolidada igualmente na década de 90 –, e a 
confiança renovada nos mecanismos multilaterais. Toda essa renovação da imagem do país dá a 
possibilidade do Brasil de agregar valor à ordem internacional, ou seja, de ter credibilidade para 
defender seus pontos de vista. 
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Autonomia pela participação - Características 
- Reavaliação das diretrizes de política externa 
- Renovação de credenciais 
- Confiança renovada nos mecanismos multilaterais 
- Possibilidade deagregar à ordem internacional valores caros à diplomacia brasileira 
 Ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2002), houve a preocupação de ter uma 
postura pró-ativa e propositva nas relações Sul-Sul. No entanto, esta estratégia foi somente consolidada 
no governo posterior de Luís Inácio Lula da Silva (2003 – 2010), período que veremos no próximo item. 
 
Governo Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010) 
 
Governo Lula (2003 – 2010) 
Temas-chave 
- Prioridades: Mercosul e os países da América do 
Sul, Central e Caribe. 
- Adoção do conceito de "autonomia pela 
assertividade" 
Contexto histórico 
- Brasil passou a utilizar o BNDES como grande 
motor da integração física da América do Sul 
- Brasil derrubou diversas barreiras comerciais 
impostas aos produtos chineses, facilitando sua 
entrada no país. 
- Brasil buscou estimular a reforma da ONU 
pleiteando um assento permanente no Conselho 
de Segurança (missão ao Haiti e Timor Leste). 
- Liderança na Missão das Nações unidas para a 
Estabilização do Haiti (MINUSTAH) 
- Retomada do diálogo com os países árabes 
(Cúpula América do Sul-Países Árabes e visita a 
EAU, Egito, Líbano, Líbia e Síria). 
Fatos marcantes 
- 2003: O Brasil firmou 12 convênios com Cuba - Eixo Sul-Sul: Brasil se aproximou de países que 
têm um perfil socioeconômico semelhante ao seu 
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Criação da União Sul-Americana de Nações 
(UNASUL). 
(África do Sul, China e Índia), 
- Articulação do G-21 
A política externa do Governo Lula (2003 – 2010) foi marcada pelo aumento do protagonismo do 
Brasil no sistema internacional. Foi adotada a “autonomia pela assertividade” – nas palavras do 
chanceler Celso Amorim. Isso significa que o Brasil passaria a adotar uma política externa assertiva, ativa 
e altiva. Ou seja, uma política externa participativa, proativa, engajada, afirmativa e convicta na 
defesa de seus interesses, adotando os princípios de reciprocidade e engajamento nos fóruns 
multilaterais. O Brasil procurou maior horizontalidade nas relações internacionais, procurando falar de 
“igual para igual” nos pleitos globais, evitando “falar grosso” com os países mais fracos e também, 
evitando “falar fino” com países mais fortes. 
Durante o governo Lula, o Brasil atingiu o ápice de sua diplomacia, tendo política externa proativa, engajada, afirmativa e 
convicta na defesa de seus interesses; se tornando, finalmente, um player importante no sistema internacional e sendo visto 
como potência em ascensão. Na foto, Missão de Paz no Haiti coordenada pelo Brasil. 
 
 O Brasil estava colhendo os frutos das estratégias de regionalismo, multilateralismo e 
renovação de credenciais e enfim, se tornando um player importante no sistema internacional. Houve 
o aprofundamento e o adensamento das relações do Brasil não só com a América Latina, mas com o 
Oriente Médio, a África e a Ásia. Relações antigas ganharam um novo patamar de maior conexão e, além 
disso, novas relações foram traçadas, ampliando ainda mais o raio de ação do Brasil (Não por acaso, havia 
muitas vagas para o CACD). O Brasil era considerado um país de grande prestígio internacional, líder 
natural da América Latina e um dos principais articuladores do sul-global. 
Devido a essa elevação de patamar, o número de eventos diplomáticos é tão grande, mas tão 
grande, que deixaremos a maior parte do conteúdo para ser tratada em outras aulas: deste período, há 
muita coisa para se falar, por exemplo, nas relações bilaterais Brasil-Estados Unidos, Brasil-Argentina, 
Brasil-China, etc. Como é um período recente, tomaremos o cuidado para não enviesar politicamente o 
material de estudo – afinal, a ideia é que vocês passem no concurso. 
Pensando naquelas três perguntas – quem formula a política externa, quais são os condicionantes 
internos e quais são os condicionantes externos – nós podemos entender melhor esse período. No 
“quem formula”, a política externa brasileira foi idealizada pelo Partido dos Trabalhadores, em destaque à 
figura do Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República para assuntos 
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internacionais. Também se destaca o diplomata Celso Amorim que permaneceu no Ministério das 
Relações Exteriores por um grande período, englobando os dois mandatos inteiros do Governo Lula. 
No que diz respeito aos condicionantes externos, a América Latina estava passando por um 
período de transformação. O esgotamento do modelo neoliberal abriu caminho para a chamada onda 
rosa no continente; ou seja, a eleição de presidentes de esquerda em vários países, tais como: Lula 
(Brasil) Hugo Chavez (Venezuela), Nestor e Cristina Kirchner (Argentina) e Evo Morales (Bolívia). Essa 
convergência ideológica ajudou neste aumento da integração dos países latino-americanos. Ainda no rol 
dos condicionantes externos, houve a intensificação da globalização com o barateamento dos produtos 
de informática/internet, das passagens aéreas, das tecnologias de comunicação e dos demais objetos 
técnicos que possibilitavam a integração global. Os condicionantes internos também eram favoráveis. A 
economia estava em ascensão, as commodities – principais produtos produzidos no Brasil – estavam em 
alta e a China, grande parceira comercial do Brasil, estava crescendo em ritmo exponencial. Vejamos os 
principais fatos marcantes e temas-chave do período: 
Nova República – Luís Inácio Lula da Silva (2003 – 2010) – Temas-chave 
Prioridades: Mercosul e os países 
da América do Sul, Central e 
Caribe 
Os países da Américas do Sul, Central e Caribe tornaram-se 
prioridade, aprofundando a estratégia regionalista iniciada nos 
governos anteriores. 
Nesta época, o Mercosul deixou de ser um grupo meramente 
economicista para ganhar um contorno cada vez mais político, 
cultural e social, passando a ter uma realidade mais densa, portanto. 
Adoção do conceito de 
"autonomia pela assertividade" 
Houve a adoção do conceito de autonomia pela assertividade. Isso 
significa que o Brasil passaria a adotar uma política externa assertiva, 
ativa e altiva. Ou seja, uma política externa participativa, proativa, 
engajada, afirmativa e convicta na defesa de seus interesses, adotando 
os princípios de reciprocidade e engajamento nos fóruns multilaterais. 
Nova República – Luís Inácio Lula da Silva (2003 – 2010) – Breve contexto histórico 
Brasil passou a utilizar o BNDES 
como grande motor da integração 
física da América do Sul 
O Brasil passou a utilizar o Banco Nacional de Desenvolvimento 
Econômico Social (BNDES) como grande motor da integração física 
da América do Sul – e aí está incluída a IIRSA iniciada no governo FHC. 
Durante o governo Lula, o BNDES financiou infraestruturas em 
diversos países como Venezuela, Bolívia, Paraguai ou Uruguai. 
Brasil derrubou diversas barreiras 
comerciais impostas aos produtos 
chinees, facilitando sua entrada 
no país. 
O Brasil derrubou diversas barreiras comerciais impostas aos 
produtos chineses facilitando sua entrada no Brasil e abrindo o 
caminho para que a China se tornasse a principal parceira do Brasil no 
âmbito comercial – até muito recentemente, nosso principal parceiro 
comercial era os Estados Unidos. 
Por causa disso, houve a inundação de produtos chineses no Brasil – 
lembrem-se da proliferação de “lojinhas de 1 real” no início dos anos 
2000. 
Também houve o aumento de exportações brasileiras para a China 
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que neste momento, estava crescendo em uma grande velocidade. 
Exportamos minério de ferro, soja, carnes, grãos e uma série de outras 
commodities.

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