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Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital Autor: Alexandre Vastella Aula 13 26 de Julho de 2020 Aula 14 - Política Internacional - Relações do Brasil com o Oriente Médio Introdução ao PDF ................................................................................................................................. 2 Relações Brasil-Oriente Médio ............................................................................................................ 2 Introdução às Relações Brasil-Oriente Médio ........................................................................................... 2 Histórico das relações Brasil-Oriente Médio ............................................................................................. 9 Introdução ao histórico das relações Brasil-Oriente Médio ................................................................... 9 Década de 1940 – Criação de Israel – posição decisiva do Brasil, porém, equidistante. ....................... 10 Década de 1950 – Brasil mantém equidistância, mas ajuda na crise no Egito. Relações ainda pouco densas. ................................................................................................................................................ 12 Década de 1960 – Neutralidade brasileira nas guerras dos Seis Dias e Yom Kippur ............................ 13 Década de 1970 – Choque do Petróleo, ápice do universalismo e aproximação brasileira ................... 14 Década de 1980 – Apesar da crise doméstica brasileira, há esforços de adensamento. ...................... 17 Década de 1990 – No início, congelamento. No final, redescoberta do Mundo Árabe. ....................... 17 Décadas de 2000 e 2010 – Adensamento inédito as e protagonismo brasileiro na região. .................. 20 Posição do Brasil nos principais conflitos do Oriente Médio ................................................................... 30 Posição brasileira no conflito árabe-israelense – imparcialidade e equidistância. ............................... 30 Posição brasileira na Questão Nuclear do Irã – intenso protagonismo a favor do diálogo. .................. 31 Posição brasileira na Primavera Árabe – sugeriu conceito de “responsabilidade ao proteger” a ONU 32 Posição brasileira na Guerra da Síria – não intervenção e solução pacífica de controvérsias ............... 32 Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 2 INTRODUÇÃO AO PDF Na aula passada, estudamos as relações bilaterais do Brasil com a África e agora, vamos compreender as relações entre Brasil e Oriente Médio – uma região de difícil delimitação que abrange parte dos continentes africano e asiático e que engloba diversos povos e religiões, principalmente áraerbes e muçulmanos. Atenderemos, portanto, ao item do Edital do CACD: “Oriente Médio: a questão palestina; Síria, Iraque, Irã e outras situações nacionais relevantes”. Nesta aula, entenderemos como o Brasil se posiciona, ou se posicionou, nas principais questões envolvendo o Oriente Médio, tais como: conflito Israel x Palestina, Guerra do Golfo, Primavera Árabe, Guerra na Síria, etc. É importante mencionar que, por enquanto, o nosso foco é entender o posicionamento do Brasil nestas questões e não compreendê-las em profundidade – afinal, haverá mais aula sobre Oriente Médio no qual retomaremos, com a devida preocupação, às naturezas destes conflitos. No caso do Oriente Médio, o Brasil possui relações simétricas e horizontais, consideradas Sul-Sul, de país subdesenvolvido para outro país subdesenvolvido. Tanto Brasil quanto o Oriente Médio possuem muitos problemas em comum, tais como a pobreza estrutural e a busca pelo desenvolvimento. Assim como o Brasil, os países da região também foram colônias europeias e precisaram conquistar suas independências. Mas apesar dessas semelhanças, levou bastante tempo para que o Oriente Médio entrasse no radar da diplomacia brasileira. Conforme veremos a seguir: RELAÇÕES BRASIL-ORIENTE MÉDIO Introdução às Relações Brasil-Oriente Médio Historicamente, a região do Oriente Médio teve baixa prioridade para a Política Externa Brasileira (PEB) e tradicionalmente, não houve grande interesse econômico-comercial. Uma evidência disso é que somente dois estatistas brasileiros visitaram a região: D. Pedro II, em viagem turística e Lula da Silva, em viagem oficial. Um intervalo de quase dois séculos, portanto. Relações bilaterais Brasil-Oriente Médio – Historicamente, é uma região de baixa prioridade para a PEB – Tradicionalmente, não houve grande interesse econômico– comercial – Importância: processos desafiadores à segurança e à paz internacional – Momento de incremento nas relações: Pleito brasileiro para um assento permanente no CSNU Visitas oficiais – Visita turística D. Pedro II no século XIX Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 3 – Próximo estadista brasileiro a visitar o Oriente Médio foi Lula da Silva Com o término da Segunda Guerra Mundial, já no Governo Dutra (1946 – 1951), o Brasil almejava entrar para Conselho de Segurança da ONU, pleito que reivindica até os dias atuais. Por causa disso, o Oriente Médio começou a ser interessante para o Itamaraty; porém, de forma pouco prioritária. Nesse contexto, o Brasil não procurava estabelecer relações econômicas ou políticas com o Oriente Médio, mas somente participar das discussões sobre segurança. A região era um mero “trampolim” para que o Brasil entrasse no tão sonhado Conselho de Segurança, e não um foco das energias diplomáticas. Veremos, nesta aula, que foi a partir da Política Externa Independente (PEI) e com o consequente universalismo que o Brasil passou a se preocupar, de fato, com o Oriente Médio – relações que ganharam importância somente nos anos 1970. Países do Oriente Médio – Oriente Médio Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Chipre, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, Síria e Turquia. Não confundir com: 1 – Mundo árabe: Turquia, Israel e Irã não são árabes. 2 – Mundo islâmico: Israel e minorias de outras religiões não são islâmicas. É importante dizer que não há uma definição clara sobre o que é Oriente Médio. Trata-se de um conceito que envolve muitas dubiedades. Na diplomacia dos Estados Unidos, por exemplo, há a ideia de “Grande Oriente Médio”, uma área que engloba uma grande quantidade de países, incluindo a totalidade do norte da África. Já para a diplomacia brasileira, considera-se como “Oriente Médio” os seguintes países: Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, Síria e Turquia. Para a diplomacia brasileira, a Líbia e o Afeganistão, por exemplo, não fazem parte do Oriente Médio – embora sejam assim classificados para a OCDE e para a diplomacia dos Estados Unidos. Há quem inclua, por exemplo, o Marrocos no Oriente Médio e também, há quem não o faça. Nas imagens abaixo, podemos ver as diferenças de abrangência entre o Oriente Médio, o Mundo Árabe e o Mundo Islâmico. Países de pequeno território como Palestina, Bahrein e Kuwait não foram representados, pois não seria possível desenhar em cima deles. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 4 Não confundir – Oriente Médio, Mundo Árabe, Mundo Islâmico. 1 – Norte da África + Oriente Médio Duas regiões geográficas, às vezes sobrepostas, de difícil delimitação, algo parecido com a imagem abaixo: 2 – Oriente Médio (segundoa diplomacia brasileira) O Oriente Médio é uma região geográfica que abrange parte de dois continentes: África e Ásia. No entanto, é uma área de difícil delimitação, sem um consenso claro do que realmente é “Oriente Médio”. A diplomacia brasileira considera os seguintes países como sendo parte do Oriente Médio: Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Chipre, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Palestina, Síria e Turquia, conforme imagem a seguir: 3 – Mundo islâmico Grupo de países que tem o islamismo como religião majoritária. Na maioria das vezes, coincide com os países árabes, mas não é a mesma coisa – árabe é um povo e islã é uma religião. Com exceção de Israel (destaque abaixo), todos os outros países do Norte da África e Oriente Médio são de maioria muçulmana: Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 5 4 – Mundo árabe Grupo de países de maioria árabe, relativo ao povo árabe, portanto. Turquia (maioria turca), Irã (maioria persa) e Israel (maioria judia) NÃO fazem parte do mundo árabe – ainda que Turquia e Irã façam parte do Mundo Islâmico. Conforme a imagem: Recapitulando... Mundo árabe (agrupamento por povo) Conjunto de países de maioria árabe, do povo árabe, portanto. Embora façam parte do Oriente Médio, Israel (judeus), Irã (persas) e Turquia (turcos) não fazem parte do mundo árabe, porque possuem maioria de outros povos. O mundo árabe também engloba países de maioria árabe e muçulmana, mas que possuem minorias de outras religiões, como os cristãos, por exemplo. Mundo islâmico (agrupamento por religião) Conjunto de países de maioria muçulmana, que professa o islamismo. Embora não façam parte do mundo árabe, Irã (muçulmano) e Turquia (muçulmano também) fazem parte do mundo islâmico, pois os persas e os turcos adotam o islamismo como religião. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 6 Israel não faz parte nem do mundo árabe, nem do mundo muçulmano. Oriente Médio (agrupamento por região) Embora predominem os povos árabes e o islamismo como religião, o Oriente Médio é um agrupamento geográfico, nem sempre com limites consensuais, no qual predominam vários povos e religiões: árabes, judeus, persas, muçulmanos, cristãos, etc. Abrange parte da África e parte da Ásia, dois continentes, portanto. Oficialmente, de acordo com o Itamaraty, utiliza-se o termo Oriente Médio para a política externa brasileira. Vejamos mais informações: Mundo Árabe, Magreb e Mashreq Conceito de mundo árabe é amplo – Abrange povos de etnia não apenas árabe e também engloba povos de religiões minoritárias não– islâmicas Ponto de vista geográfico: 2 regiões – Magreb (parte ocidental, oeste da Líbia): – Mashreq (parque oriental, leste da Líbia): – A Liga Árabe abrange 22 países árabes – União do Magreb Árabe abrange apenas países do Magreb. Do ponto de vista geográfico, há duas sub-regiões distintas: o Magreb e o Mashreq. O primeiro é compreendido pelos países a oeste da Líbia, englobando Mauritânia, Marrocos, Saara Ociedental, Tunísia e Argélia. Já o segundo grupo, países a leste da Líbia, englobando Edito, Sudão, Jordânia, Líbano, entre outros. . Outra forma de regionalização – Magreb x Mashreq Magreb Parte ocidental da Líbia Mauritânia, Marrocos, Saara Ocidental, Tunísia, Argélia e Líbia Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 7 Mashreq Parte oriental da Líbia Egito, Síria, Líbano, Sudão, Jordânia, etc. Para complicar um pouco mais, não podemos confundir esses termos geográficos com as duas organizações internacionais nessa região que são: o bloco econômico União do Magreb Árabe e o grupo de cooperação Liga de Estados Árabes (conhecida como Liga Árabe). Vejamos mais detalhes abaixo: Liga de Estados Árabes (Liga Árabe). Fundada em 1945. Membros: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Catar, Comores, Djibouti, Egito, Emirados Árabes, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Síria, Somália, Sudão e Tunísia. Um grupo de cooperação e concertação política entre os Estados árabes, a fim de aumentar a integração regional e o poder de barganha no sistema internacional. Perceba que há uma grande quantidade de membros. União do Magreb Árabe Fundado em 1989. Membros: Argélia, Tunísia, Líbia, Marrocos e Mauritânia. Um bloco econômico com objetivo de livre circulação de capitais, pessoas, serviços e mercadorias; além da adoção de políticas econômicas comuns. Embora esteja longe de ser homogêneo, o mundo árabe é um grupo mais coeso do que o Oriente Médio como um todo, possuindo elementos aglutinadores em comum, dos quais se destacavam: a independência em relação aos países europeus e a rejeição à Israel. Em alguns momentos da história, esta união promoveu a ideologia pan-arabista – a defesa de interesses próprios do mundo árabe e, em alguns casos, a integração territorial formando um único grande mundo árabe com instituições integradas. Elementos aglutinadores do mundo árabe Independência em relação aos países europeus A maioria dos países árabes foi colônia de países europeus, especialmente Reino Unido e França. Por isso, precisaram lidar, quase que simultaneamente, com o processo de descolonização. Não somente “descolonização” em si mesmo, a independência propriamente dita, mas também – e, principalmente – o fato de se livrarem definitivamente do domínio das antigas metrópoles, conquistando a independência de fato. Vimos, na aula passada, que esse processo também ocorreu na África subsaariana e nas demais partes do globo. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 8 Diante dessas dificuldades em comum, houve – e ainda há – grande convergência entre os países árabes, uma solidariedade mútua no sentido de garantir que o processo de descolonização realmente se consolide, inclusive no âmbito do desenvolvimento independente das antigas metrópoles. Rejeição ao Estado de Israel criado em 1948 O segundo elemento aglutinador é o conflito existente entre Israel e Palestina. Podemos, inclusive, ampliá-lo, dizendo que é um conflito entre Israel e os povos árabes. Neste caso, há um inimigo em comum que não faz parte da mesma etnia, um “corpo estranho” na região. E isso une o povo árabe em torno de um objetivo comum, inclusive, motivando decisões em conjunto na Liga Árabe. Mais à frente veremos que, ao contrário do que muitos pensam, a maioria dos conflitos no Oriente Médio não envolve Israel – a exemplo da Primavera Árabe e das guerras civis do Iêmen e da Síria. Se o conflito Israel x Palestina fosse resolvido (o que seria muito difícil, infelizmente), mesmo assim, o mundo árabe continuaria envolvido em disputas. De forma geral, as relações do Brasil com o Oriente Médio são muito recentes, em sua maioria consolidadas nos anos 1970 – os Estados Unidos e a Argentina, por exemplo, se relacionam conosco pelo menos desde o século XIX. Na tabela abaixo, é possível visualizar o ano de estabelecimento de relações diplomáticas com o Brasil, de acordo com cada país da região: Estabelecimento de relações diplomáticas com o Brasil 1858/1923 – Turquia 1968 – Arábia Saudita 1903 – Irã 1968 – Kuwait 1924 – Egito 1974 – Qatar 1945 – Líbano 1974 – Emirados Árabes Unidos 1949 – Israel 1974 – Omã 1952 – Síria 1980 – Bahrein 1959 – Jordânia 1984/1990 – Iêmen 1967 – Iraque 2010 – Palestina Um dosprimeiros países da região a ter relações estabelecidas com o Brasil foi a Turquia; na verdade, o Império Turco-Otomano, ainda em 1858, na época do Brasil-Império. Com o final da Primeira Guerra Mundial, este grande império chegou ao fim, dando origem a Turquia e a demais países independentes. Neste novo cenário, o Brasil reconheceu a Turquia e estabeleceu relações diplomáticas com o país em 1923. No ano seguinte, em 1924, estabeleceu relações com o Egito. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 9 Após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil estabeleceu relações com o Líbano (1945) e com o recém-criado Estado de Israel (1947), cujo processo teve relevante participação do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha. E, posteriormente, veio a Jordânia (1959). Nesta época, conforme veremos ainda nesta aula, o Brasil mantinha equidistância entre Israel e os povos árabes, se mantendo neutro no conflito. Foi durante o Governo Militar (1964 – 1985) que ocorreu a maior parte de abertura de relações diplomáticas, aprofundando a Política Externa Independente. Durante o Governo Costa e Silva (1967 – 1969), foram costuradas relações com Iraque (1967), Arábia Saudita (1968) e Kuwait (1968). Durante o Governo Geisel (1974 – 1979), na época do Pragmatismo Responsável e Ecumênico, foram abertas relações com Qatar, Emirados Árabes Unidos e Omã – os três em 1974, no primeiro ano do novo mandato e imediatamente após o Choque do Petróleo, de 1973. Posteriormente, Bahrein (1980) e Iêmen (1984) – em 1990, houve a unificação do Iêmen, processo que o Brasil imediatamente reconheceu. O último Estado a ter relações oficiais estabelecidas com o Brasil foi a Palestina (2010), no final do segundo mandato do Governo Lula. Embora durante o governo Geisel, nos anos 1970, tivesse sido estabelecido um escritório da Organização para a Libertação Palestina (OLP) no Brasil, ainda não havia vínculos oficiais desde então. O Brasil, apesar disso, não abandonou a equidistância no conflito árabe- israelense. Histórico das relações Brasil-Oriente Médio Introdução ao histórico das relações Brasil-Oriente Médio Neste item, estudaremos o histórico das relações Brasil-Oriente Médio. Embora o Brasil já tivesse representações diplomáticas em países como Egito, Turquia e Irã ainda na primeira metade do século XX, foi a partir da Segunda Guerra Mundial que o Brasil passou a se interessar pela região, primeiramente, sob a perspectiva da segurança e paz internacional – necessárias ao pleito brasileiro por um assento permanente no recém-criado Conselho de Segurança da ONU. Nesta época, dentro do paradigma americanista ideológico, sob o Governo Dutra (1946 – 1951), o chanceler brasileiro Oswaldo Aranha mediou e coordenou a sessão das Nações Unidas sobre a criação do Estado de Israel, em 1947. Foi a primeira participação do Brasil no âmbito da ONU, que levou ao Plano de Partilha do território ocupado por Israel e Palestina. Apesar da equidistância brasileira no conflito, Oswaldo Aranha tornou-se um homem conhecido e admirado em Israel. Dez anos depois, outro evento importante foi a participação do Brasil na Primeira Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-I) (1957) realizada pela ONU para conter a crise do Canal de Suez –época em que o líder nacionalista egípcio Gamal Nasser (1956 – 1970) nacionalizou o canal homônimo, provocando a ira dos países europeus. Ainda nesta época, conforme já mencionamos o Brasil não tinha interesse comercial no Oriente Médio, apenas preocupava-se com a segurança. Conforme já mencionamos, o Brasil começou a se preocupar com o Oriente Médio, do ponto de vista econômico-comercial, a partir da Política Externa Independente, em 1961. Nesta época, as relações eram pouco sólidas. Este quadro foi alterado somente no governo militar, especialmente nos governos Costa e Silva, Médici e Geisel, entre 1967 e 1979, quando houve maior intercâmbio entre Brasil e Oriente Médio. O adensamento das relações, nos anos 1970, foi motivado por três motivos. Primeiramente, por causa do processo de descolonização, muitas nações tornavam-se independentes, ampliando o leque Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 10 diplomático do Brasil. Além disso, houve o aprofundamento do universalismo, especialmente no Governo Geisel (1974 – 1979) com o Pragmatismo Responsável e Ecumênico. Em terceiro lugar – e, principalmente – houve o Choque do Petróleo (1973), fato que obrigou o Brasil a se aproximar dos países árabes para obter lugar privilegiado no mercado de petróleo. Por causa da aproximação com os países árabes, o Brasil mudou sua postura de equidistância do conflito árabe-israelense, passando a apoiar abertamente os países árabes. Foi nesta época que o Brasil votou contra o sionismo na ONU e deixou a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) instalar escritório no Brasil. Em contrapartida, o Brasil obteve ganhos importantes no âmbito multilateral, como, por exemplo, o voto decisivo dos árabes a favor do Brasil na Questão de Itaipu com a Argentina. Esta tendência se manteve nos anos 1980, embora enfraquecida por conta da crise da dívida e da hiperinflação que o Brasil vivia. Na década de 1990, houve o congelamento das relações do Brasil com a África e o Oriente Médio, por conta de vários motivos. Primeiramente, o Brasil estava focado em questões internas, como o combate à inflação e a adoção do receituário do Consenso de Washington. Em segundo lugar, estava procurando maior inserção nas cadeias globais de produção – o que provocava maior aproximação aos países desenvolvidos. Em terceiro lugar, estava focado no regionalismo, principalmente no Mercosul. A partir do século XXI, houve a redescoberta do Oriente Médio. Em 2000, ainda no Governo FHC (1994 – 2002), o Itamaraty organizou a Conferência Brasil– Países Árabes (2000). A partir do Governo Lula (2003 – 2010), houve um profundo adensamento destas relações. Lula, inclusive, foi o primeiro estadista brasileiro a fazer uma viagem oficiala região. Por conta destes esforços de aproximação, os países do Oriente Médio passaram a enxergar o Brasil como um aliado. Além disso, o Brasil firmou-se como um player importante na região, ajudando a mediar conflitos como, por exemplo, a crise nuclear do Irã. A partir do segundo mandato do Governo Dilma (2014 – 2016), sobretudo no Governo Temer (2016 – 2018), houve um declínio das relações com o Oriente Médio, provocadas principalmente pela crise interna do Brasil. Atualmente, um dos pontos mais polêmicos do governo de Jair Bolsonaro (2018 – 2022) é a transferência da embaixada brasileira para Jerusalém, fato que poderá alterar o relacionamento com o Oriente Médio. No entanto, ainda é cedo para fazer qualquer afirmação ou previsão. Década de 1940 – Criação de Israel – posição decisiva do Brasil, porém, equidistante. Participação muito ativa do Brasil na criação de Israel – Brasil conduziu processo negociador que levou à aprovação da Resolução 181 que criou o Estado de Israel. Ocorreu durante o Governo Dutra, pautado pelo americanismo. – Em 1947, Oswaldo Aranha presidiu a 2ª sessão da Assembleia Geral, no qual foi criado o Estado de Israel. – Plano de Partilha da Palestina em dois Estados autônomos e independentes e Jerusalém sob domínio internacional. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 11 – Posição do Itamaraty: Equidistância do conflito árabe-israelense. Década de 1940 – Criação de Israel – participação ativa do Brasil Em 1947, Oswaldo Aranha presidiu a 2a sessão da Assembleia Geral. Nesta seção, foi criado o Estado de Israel A segunda sessão da recém-criadaAssembleia Geral das Nações Unidas, em 1947, foi presidida pelo chanceler brasileiro Oswaldo Aranha. Foi nesta sessão, conduzida por Aranha, que se protagonizou o processo de negociação que levaria à criação do Estado de Israel e à partilha do território palestino. Este Plano de Partilha ficou conhecido como Resolução 181 das Nações Unidas. Brasil conduziu processo negociador que levou à aprovação da Resolução 181. Ocorreu durante o Governo Dutra, pautado pelo americanismo. Por conta de Oswaldo Aranha, o Brasil teve participação muito ativa no processo que levou à Resolução 181, fazendo as intermediações, conseguindo votos, liderando as negociações, etc. Por conta desse protagonismo, embora não fosse objetivo do Brasil beneficiar o povo judeu, Oswaldo Aranha é uma pessoa respeitada e admirada em Israel. Inclusive, há muitas estruturas em sua homenagem – praças, monumentos, ruas, etc. Na verdade, o Brasil apenas desejava ganhar maior projeção internacional, provando que tinha a capacidade de liderar uma negociação desta magnitude; especialmente neste momento de americanismo ideológico do Governo Dutra (1946 – 1951), quando se procurava mostrar maior alinhamento aos Estados Unidos, um país simpático à Israel. Sendo assim, ao contrário do que muitos judeus afirmam, Oswaldo Aranha não foi motivado pela religião, mas sim, pelos interesses do Brasil – o que não diminui a sua relevância. Plano de Partilha da Palestina em dois Estados autônomos e independentes. Jerusalém sob domínio internacional. É preciso lembrar que essa partilha ocorreu imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, quando o mundo estava traumatizado com as revelações do holocausto, o massacre dos judeus na Alemanha. Havia, portanto, um senso de urgência para que o povo judeu tivesse um território próprio. Muitos, inclusive, já viviam naquela região. Na sessão presidida por Oswaldo Aranha, foi firmado que Israel seria um Estado Judeu, enquanto a Palestina seria um Estado árabe. A cidade de Jerusalém – sagrada tanto para árabes quanto para judeus – ficaria sob domínio internacional. Equidistância do conflito árabe- israelense. Depois disso, o Brasil se manteve fiel à proposta do plano de partilha, não tomando partido para nenhum dos lados no conflito. Embora Oswaldo Aranha fosse querido por Israel – que também era principal parceiro do Brasil na região, o Brasil manteve equidistância de Israel e da Palestina, fazendo o máximo possível de esforço para se manter neutro. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 12 Década de 1950 – Brasil mantém equidistância, mas ajuda na crise no Egito. Relações ainda pouco densas. O Canal de Suez (imagem) possibilita que navios economizem tempo e recursos ao atravessarem o Mediterrâneo ao invés da longa rota pelo sul da África. Em 1956, foi nacionalizado pelo Egito, provocando a Ira do Reino Unido e da França. O Brasil manteve sua equidistância, mas ajudou à ONU enviando tropas à região. Década de 1950 – Nacionalização do Canal de Suez 1957– 1968: Brasil participa da UNEF – I Suez Após Nasser haver nacionalizado o Canal de Suez e, França, Reino Unido e Israel haverem feito uma intervenção. É criada a United Nations Emergency Force Dez anos depois, outro evento importante foi a participação do Brasil na Primeira Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-I) (1957 – 1968) realizada pela ONU para conter a crise no Egito. A crise foi motivada pelo líder egípcio Gamal Nasser (1956 – 1970), que era nacionalista, radicalmente a favor da descolonização, pan-arabista (defendia a união dos povos árabes) e contra a interferência estrangeira no país. Com essa mentalidade, em 1956, Nasser nacionalizou o Canal de Suez, uma importante via de acesso do Mar Mediterrâneo ao Oceano Índico, provocando a ira dos países europeus que dependiam do canal para realizarem o comércio na região. Por conta da nacionalização, houve forte mobilização da França, do Reino Unido e de Israel contra o Egito. Enquanto os países europeus enviaram navios à região, Israel chegou a ocupar parte do território egípcio, em retaliação. A ação de Nasser também foi reprovada pelas grandes potências, sendo um dos raros momentos de convergência entre Estados Unidos e União Soviética. Por causa dessas tensões, foi aprovada a Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-I) (1957 – 1968) para resolver a situação no país. O Brasil fez parte dessa missão enviando tropas, soldados e demais Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 13 recursos nos dez anos que esta ficou ativa. Apesar da intervenção no Egito, o Brasil não mudou sua equidistância no conflito entre Israel e o mundo árabe. Década de 1960 – Neutralidade brasileira nas guerras dos Seis Dias e Yom Kippur Nas imagens acima, a evolução do território de Israel desde a partilha (1947). Na Guerra dos Seis Dias (1967), Israel anexou territórios árabes. Na Guerra do Yom Kippur (1973), os árabes tentaram toma-los de volta, mas sem sucesso. Em retaliação, a OPEP elevou os preços do petróleo, iniciando a Crise do Petróleo e prejudicando todo o mundo ocidental. O Brasil se manteve equidistante desses conflitos. Década de 1960 – Guerra dos Seis Dias – neutralidade brasileira No principal conflito, a Guerra dos Seis Dias (1967), o Brasil deixou claro sua posição de neutralidade. Na década de 1960, ocorreu o principal conflito entre Israel e os países árabes, a Guerra dos Seis Dias (1967) – evento no qual Israel anexou a Faixa de Gaza (Cisjordânia), a Península do Sinai (Egito) e as Colinas do Golã (Síria), representando uma derrota significativa para os países árabes. Nesta época, começou, por parte dos países árabes, a percepção de que Israel estaria sendo ajudada pelos Estados Unidos. Já a posição brasileira continuava sendo a de equidistância, ou seja, a de neutralidade absoluta. Década de 1970 – Choque do Petróleo – aproximação aos países árabes Guerra do Yom Conforme vimos acima, na Guerra dos Seis Dias (1967), Israel anexou territórios Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 14 Kippur (1973) dos povos árabes, que se sentiram violados. Posteriormente, ainda protestando contra a Guerra dos Seis Dias, Egito e Síria se uniram para invadir Israel, eclodindo assim, a Guerra do Yom Kippur (1973). Os Estados Unidos intervieram a favor de Israel e a União Soviética, a favor dos árabes, gerando um impasse diplomático a ser resolvido na ONU. Mesmo com o cessar-fogo da ONU, Israel não devolveu os territórios ocupados em 1967, na Guerra dos Seis Dias. Em suma, os árabes não conseguiram recuperar as áreas perdidas. Década de 1970 – Choque do Petróleo, ápice do universalismo e aproximação brasileira Reportagem em revista brasileira de 1973 denunciava os efeitos do Choque do Petróleo. Em tempos de crise, o Brasil se viu obrigado a se aproximar dos países árabes para garantir acesso privilegiado ao produto. – Choque do Petróleo (1973) – arma econômica da OPEP contra o ocidente. Este evento mudou drasticamente os rumos econômicos do Brasil e do mundo ocidental em geral. – O Brasil busca diversificar a fonte de financiamentos: Por conta da crise no mundo desenvolvido provocada pelo Choque do Petróleo. Por conta do milagre brasileiro e da consequente necessidade de escoar os produtos brasileiros. – Ainda no II PND, o Brasil busca atrair investimentos em petrodólares para a área de infraestrutura. – Aproximação do Mundo Árabe por interesse: Em 1974, o Brasil reconheceu a OLP. Em 1975, o Brasil votou a favor da Resolução 3379 que condenavao sionismo. – Em troca à amizade brasileira, os árabes votaram a favor do Brasil na Questão de Itaipu. – Objetivo alcançado: o Brasil passou a conseguir comprar petróleo de forma especial e passou a vender alimentos para os países árabes. Década de 1970 – Choque do Petróleo – aproximação aos países árabes Choque do Petróleo (1973) – arma econômica da OPEP contra o ocidente. Este evento mudou Em represália a derrota na Guerra do Yom Kippur (1973), a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) – composta em sua maioria por países árabes – promoveu o Choque do Petróleo (1973), prejudicando diretamente as nações ocidentais, incluindo o Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 15 drasticamente os rumos econômicos do Brasil e do mundo ocidental em geral. Brasil. Travava-se, portanto, de uma arma econômica. O Choque foi feito da seguinte maneira: primeiramente, a OPEP diminuiu a quantidade de petróleo em circulação. Essa medida, seguindo a lei a oferta e demanda, fez com que os preços aumentassem. Com a elevação dos preços, houve crise em diversas economias, incluindo nos Estados Unidos e aqui mesmo, no Brasil. Além disso, a OPEP passou a selecionar venda de Petróleo, facilitando a comercialização para países aliados e a dificultando para “inimigos”. É por isso que o Brasil, conforme vimos nas aulas anteriores, passou a lutar para ter acesso privilegiado ao mercado de Petróleo. O Brasil busca diversificar a fonte de financiamentos. - Por conta da crise no mundo desenvolvido provocada pelo Choque do Petróleo. - Por conta do milagre brasileiro e da consequente necessidade de escoar os produtos brasileiros. Com o mundo desenvolvido em crise, especialmente América do Norte e Europa, duas regiões estratégicas para o Brasil, houve maior preocupação, por parte do governo militar, de buscar novas fontes de financiamentos. Além disso, no início da década de 1970, o Brasil estava finalmente colhendo os frutos da liberalização econômica do Governo Castello Branco (1964 – 1967), caracterizando o milagre brasileiro – um período de forte crescimento industrial. Era necessário, portanto, escoar os produtos para outros mercados, o que forçou os governos de Costa e Silva, Médici e Geisel (1967 a 1979) a buscarem novas parcerias, principalmente na África e no Oriente Médio. Conforme vimos nas aulas anteriores, foi nesta época que o Brasil se posicionou de forma mais incisiva contra o sionismo de Israel. Não exatamente com o objetivo de tomar partido no conflito árabe- israelense, mas porque queria ganhar a simpatia dos países árabes. Ainda no II PND, o Brasil busca atrair investimentos em petrodólares para a área de infraestrutura. Dentro desse contexto de aproximação, já no Governo Geisel (1974 – 1979), o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (1975 – 1979) (II PND) tentou atrair os petrodólares para o Brasil – parte do farto capital dos sheiks árabes – principalmente no ramo de infraestrutura, uma área em crescimento no Brasil. Em 1974, o Brasil reconheceu a OLP. Em 1974, o Brasil reconheceu a Organização de Libertação da Palestina (OLP), permitindo a instalação de um escritório do grupo no país, mostrando portanto, um compromisso maior com a região. Em 1975, o Brasil votou a favor da Resolução 3379 que condenava o sionismo. Os motivos foram: – Crise do Petróleo e necessidade de garantir acesso privilegiado ao produto (motivo principal). Em 1975, dando prosseguimento a esta estratégia, o Brasil votou a favor da Resolução 3379 na Assembleia Geral da ONU que basicamente, categorizava o sionismo como uma forma de racismo. Condenando, portanto, tanto os países africanos, como a África do Sul que mantinha o regime do Apartheid, quanto Israel, que mantinha o sionismo. Quanto ao Apartheid, não havia grandes polêmicas – poucos países duvidavam que aquilo era realmente uma forma de racismo. No Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 16 – Necessidade de investimentos dos países árabes no Brasil. – Necessidade de garantir votos na ONU – são mais de vinte países árabes contra um judeu. entanto, a condenação do sionismo foi algo bastante polêmico, pois sua reprovação não era consenso no sistema internacional. Mesmo desgastando sua imagem perante Israel e Estados Unidos, o Brasil preferiu tomar partido condenando o sionismo; afinal, neste momento, a prioridade era agradar o mundo árabe e garantir acesso privilegiado ao mercado de petróleo. Neste momento, em pleno milagre brasileiro, o país não poderia se dar ao luxo de ficar sem combustível. O segundo motivo para essa aproximação foi a necessidade de buscar investimentos aqui no Brasil, conforme já ressaltamos. Os petrodólares dos árabes poderiam servir muito bem à infraestrutura brasileira. O terceiro motivo foi a necessidade do Brasil de ganhar representatividade nos fóruns multilaterais. Enquanto Israel é apenas um voto, os países árabes têm mais de vinte países votantes. Inclusive, foram decisivos para a vitória do Brasil na Questão de Itaipu, com a Argentina. Os árabes votaram a favor do Brasil na Questão de Itaipu. Conforme vimos nas aulas anteriores, nesta época de rivalidade, Brasil e Argentina disputavam a geração de energia no Rio Paraná por meio das hidrelétricas de Itaipu e Corpus. Na época, acreditava-se que os projetos eram incompatíveis e, por isso, a disputa foi levada à ONU. Nas Nações Unidas, enquanto Israel votou a favor da Argentina, os países árabes votaram a favor do Brasil, sendo decisivos para a vitória brasileira. Mesmo tendo violado a consulta prévia, o governo militar brasileiro saiu exitoso. O Brasil passou a conseguir comprar petróleo de forma especial. Todos esses motivos explicam essa mudança de postura. Se, em um primeiro momento, o Brasil via o Oriente Médio apenas como um elemento de segurança, a partir dos anos 1970, a região passou a ser estratégica para a sua inserção internacional. O Brasil saiu da mera esfera retórica para realmente “botar a mão na massa” e tomar posição, condenando o sionismo, reconhecendo a OLP e, principalmente, costurando acordos comerciais com os árabes. Por causa disso, o Brasil teve êxito em conseguir captar Petróleo de forma especial, seu grande objetivo inicial. Inclusive, passou a vender alimentos para os países árabes, tradição que se mantém até hoje. Começamos a vender alimentos para os países árabes. Iniciamos a produção de alimentos halal. Dentro desse contexto de aprofundamento de relações, o Brasil passou a vender alimentos para os países árabes, de acordo com os padrões previstos no Alcorão. Ou seja, alimentos halal, aqueles que seguem os preceitos do islamismo. Passamos a produzir, também, armamentos. Além de alimentos halal, o Brasil passou a produzir armamentos para os países árabes. A indústria nacional de segurança vendia armamentos, blindados, tanques de guerra, equipamentos e demais Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 17 tecnologias à região, principalmente para o Iraque. Investimentos em infraestrutura: construção de barragens e estradas. Assim como ocorreu com a África, empresas brasileiras passaram a investir no Oriente Médio. A Odebrecht, por exemplo, passou a construir barragens, portos, estradas e outras obras de infraestrutura na região. Acordo Nuclear Brasil– Iraque (1980) No início da década de 1980, como ponto alto desse processo de integração, houve a assinatura do Acordo Nuclear Brasil-Iraque (1980) – um acordo de cooperação pacífico para fins de geração de energia. Década de1980 – Apesar da crise doméstica brasileira, há esforços de adensamento. Década de 1980 – aprofundamento das relações, mas crise dificulta Década de 1980 – Por um lado, o aprofundamento. – Por outro, as dificuldades da crise brasileira. Na década de 1980, tanto no Governo Figueiredo quanto no Governo Sarney houve o aprofundamento destas relações – seguindo a tendência dos anos 1970. Por outro lado, houve dificuldades por conta da crise que o Brasil estava passando no período, especialmente por conta da hiperinflação e da dívida pública. Nesta época, o Brasil estava focando em seus próprios problemas e, sendo assim, dedicou menor energia às atividades diplomáticas, tanto no Oriente Médio como em outras regiões. Década de 1990 – No início, congelamento. No final, redescoberta do Mundo Árabe. – Início da década de 1990: congelamento de relações e pouco espaço para o Oriente Médio – Nessa época, aconteceu a Primeira Guerra do Golfo e 500 brasileiros foram feitos reféns no Iraque. Missão Flecha resolveu a situação. – O Iraque sofre embargo e fica proibido de comprar armas, prejudicando o Brasil, grande exportador de armas para o país. – Participação mínima do Brasil no Acordo de Madri (1991) e no Acordo de Oslo (1993) – duas tentativas de firmar a paz na região. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 18 Na Guerra do Golfo (imagem), Iraque invadiu o Kuwait e logo em seguida, os Estados Unidos invadiram o Iraque, derrotando e impondo um embargo ao país. Brasil ficou em uma posição delicada, pois ambos lados eram grandes parceiros. – Final da década de 1990: relançamento das relações. Contexto de crise do Mercosul e necessidade de buscar parcerias. Década de 1990 Década de 1990: congelamento de relações. – Recuperação econômica. – Foco no regionalismo e na multilateralidade. – Inserção nas cadeias globais de produção. Por causa disso, havia pouco espaço para o Oriente Médio. Na década de 1990, houve o congelamento de relações com o Oriente Médio, principalmente por conta de três motivos. Em primeiro lugar, o Brasil estava tentando se recuperar da crise da década anterior. São dessa época, por exemplo, o Plano Collor (1992) e o Plano Real (1994) – tentativas de estabilizar a economia. Em segundo lugar, as energias diplomáticas do Brasil estavam focadas no regionalismo e nos fóruns multilaterais. Especialmente no Mercosul e nas negociações com a ALCA e a União Europeia. Neste contexto, a África e Oriente Médio perderam importância na política externa brasileira. Em terceiro lugar, o Brasil estava procurando se inserir de modo mais eficaz nas cadeias globais de produção, nas redes vinculadas ao bloco ocidental e nos padrões impostos pela globalização. Por isso, estava focando no mundo desenvolvido, especialmente Europa e Estados Unidos. Anos 1990 – Primeira Guerra do Golfo No início da década de 1990, aconteceu a Primeira Guerra do Golfo. No início da década, ocorreu a Guerra do Golfo (1990 – 1991), travada entre Estados Unidos e Iraque, dois grandes parceiros do Brasil. Tradicionalmente, os norte-americanos eram os nossos grandes parceiros comerciais. Os iraquianos, por sua vez, eram grandes parceiros na área militar – O Brasil havia vendido muito armamento para o país. Hussein invadiu e anexou o Kuwait, e os EUA invadiram o Iraque. O início do conflito ocorreu quando o líder iraquiano Saddam Hussein (1979 – 2003) decidiu invadir o vizinho Kuwait. A justificativa para a invasão, segundo o Iraque, era o fato do Kuwait estar vendendo petróleo abaixo do preço, prejudicando a economia iraquiana. Naquela época, a Guerra Fria havia acabado de terminar. Com a unipolaridade dos Estados Unidos, havia um grande otimismo de que novos conflitos não aconteceriam mais. Sem a ameaça soviética, as potências locais acreditavam que os Estados Unidos não interfeririam mais em questões regionais. Saddam Hussein acreditava nisso, mas não foi o que ocorreu. Com medo de terem o fornecimento de petróleo prejudicado, os Estados Unidos entraram no conflito a favor do Kuwait. Por conta disso, o Iraque saiu derrotado, sendo obrigado e se retirar do país invadido. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 19 Durante a guerra, 500 brasileiros foram feitos reféns no Iraque. Missão Flecha de Lima resgata os brasileiros que moravam no Iraque. Durante a guerra, 500 brasileiros que estavam trabalhando no Iraque em obras de infraestrutura, barragens e estradas, foram feitos reféns. Isso também gerou um desgaste muito grande com as relações com o Iraque. Em resposta a isso, o embaixador brasileiro Flecha de Lima tentou, com sucesso, resgatar os reféns. Essa solução diplomática possibilitou que o Brasil não entrasse na Guerra do Golfo. Este evento ficou conhecido como Missão Flecha de Lima. O Iraque sofre embargo e ficou proibido de comprar armas. Afeta a posição comercial e diplomática do Brasil na região. Com o final da guerra, o Iraque ficou impedido de comprar armas, prejudicando diretamente o Brasil, um de seus principais fornecedores. Do ponto de vista diplomático, não era interessante para o Brasil continuar apoiando o Iraque, um país cuja reputação havia sido manchada com a anexação do Kuwait. Vale lembrar que o Brasil estava finalizando seu processo de renovação de credenciais pós-regime-militar. Após a Guerra do Golfo, houve o congelamento das relações com o Iraque, que nunca mais foram retomadas ao grau de intensidade que ocorria nos anos 1970 e 1980. O Brasil tem participação mínima nas duas questões cruciais dos anos 1990: Conferência de Madri (1991) e Acordo de Oslo (1993). A Conferência de Madri (1991) e o Acordo de Oslo (1993) foram duas tentativas de estabelecer a paz no Oriente Médio, propondo diálogos para o fim do conflito árabe-israelense. O importante, neste momento, é entender que o Brasil não participou destas negociações, tendo um peso mínimo nestas questões cruciais. No Acordo de Oslo, a ANP abre escritórios de representação no Brasil. Após o Acordo de Oslo (1993), a Autoridade Nacional Palestina abriu escritórios no Brasil. No governo de Geisel, nos anos 1970, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) já havia aberto escritórios no país. Segundo Governo FHC: redescoberta do mundo árabe com ênfase nas relações comerciais. A partir do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, houve a redescoberta do mundo árabe. Nesta época, os problemas econômicos que se arrastavam desde os anos 1980 já estavam sendo resolvidos, o que possibilitou a retomada do relacionamento com a África e com o Oriente Médio. Com estabilidade macroeconômica consolidada, o Brasil poderia, inclusive, procurar novos mercados e oportunidades. Do ponto de vista geopolítico, a Guerra do Golfo (1990 – 1991) já havia se encerrado e o Acordo de Oslo (1993) prometia paz no conflito árabe-israelense. Um momento muito positivo, portanto. Diante da crise no Mercosul e das dificuldades nas Apesar de ter conseguido colocar a economia em ordem, o Brasil encontrou dificuldades no cenário externo. Nesta época, conforme vimos nas aulas anteriores, a Argentina estava Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 20 negociações comerciais com os EUA (ALCA) e com a UE, importa diversificar parcerias. recrudescendo o protecionismo contra o Brasil e, além disso, as negociações do bloco com a ALCA e a União Europeia não estavam indo bem – aliás, não se concretizaram até os dias de hoje. Diante da crise no Mercosul, era fundamental que o Brasilprocurasse novas parcerias, como, por exemplo, retomando as relações com o Oriente Médio. Décadas de 2000 e 2010 – Adensamento inédito as e protagonismo brasileiro na região. Governo Lula – adensamento inédito das relações – econômico e político Lula foi o primeiro presidente brasileiro a visitar o Oriente Médio, em 2003. Deu ênfase não só no plano comercial, mas também na dimensão política da relação. Brasil demonstra neutralidade e se firma como um player importante na resolução de conflitos. Crítica aos EUA por conta da Guerra ao Terror. Acordos de livre comércio do Mercosul com Israel e Palestina. Brasil como observador da Liga Árabe. Desde 2003, cresce muito o fluxo de comércio com o mundo árabe. 2010: Participação do Brasil na formulação da Declaração de Teerã (2010) (foto abaixo), que resolveria a questão nuclear do país, mas foi rejeitado pelos EUA. Novo acordo saiu em 2015, sem a participação do Brasil. Conferência Brasil-Países Árabes (2000) e Cúpulas América do Sul-Países Árabes (ASPA) (2005) como tentativas de aproximação. Brasil apoia a não-proliferação nuclear no Oriente Médio e junto com dezenas de outros países, reconhece a Palestina. No entanto, manteve a neutralidade. Desgaste progressivo dos EUA após a Guerra do Iraque, em 2003. Isso deu abertura à maior aproximação política do Brasil. Governo Dilma: Por conta da Primavera Árabe (2011), das críticas aos direitos humanos e da crise doméstica no Brasil, houve deterioração nas relações. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 21 Décadas de 2000 e 2010 Em 2000, o Itamaraty organiza a Conferência Brasil– Países Árabes. Diante desta necessidade de diversificar parcerias, o Itamaraty organizou a Conferência Brasil – Países Árabes (2000). Trata-se de um evento simbólico, justamente porque foi a partir deste ponto que houve a retomada das relações com o Oriente Médio, desencadeando uma série de mudanças que atingiram o ápice no governo Lula (2003 – 2010). Governo Lula Governo Lula: crítica à Guerra do Iraque Quando Lula chegou à presidência, em 2003, o Oriente Médio estava passando por um período complicado pós-11 de setembro. Havia a Doutrina Bush, a Guerra ao Terror e como reflexo disso, a Guerra do Afeganistão e a Guerra do Iraque. Na época, a Guerra do Iraque foi justificada porque Saddam Hussein estaria produzindo armas de destruição em massa. No entanto, após a invasão, as armas não foram encontradas, gerando questionamentos da comunidade internacional a respeito da real necessidade do conflito. Além disso, a invasão do Iraque havia sido feia sem o aval da ONU, fato que acirrava as discussões. Nesse contexto, o Brasil criticou fortemente o ataque preventivo ao Iraque, indo contra os Estados Unidos e o Reino Unido – se afirmando perante grandes potências, portanto. Essa foi uma das posturas do Brasil que ajudaram a atrair a confiança do Oriente Médio. Então, os países árabes passaram a olhar para o Brasil como um aliado, como um amigo, como alguém que olha também para aquilo que afeta diretamente o interesse da população da região. Lula foi o primeiro presidente brasileiro a visitar o Oriente Médio, em 2003. Egito, Síria, Líbano, Emirados Árabes. Presença de Eduardo Duhalde. Depois da viagem turística de D. Pedro II, Lula foi o primeiro presidente brasileiro a visitar o Oriente Médio, abrindo um espaço para acordos comerciais e de cooperação técnica responsáveis pelo aprofundamento das relações. Foram visitados os seguintes países: Egito, Síria, Líbano, Emirados Árabes e Líbia – este último, que nem sempre faz parte do Oriente Médio, dependendo da classificação adotada. Além de Lula, houve a presença do Eduardo Duhalde, representando a Argentina. Lula: ênfase não só no plano comercial, mas também na dimensão política da relação. Essas visitas evidenciam uma clara estratégia de dar ênfase à região, não somente no plano comercial, mas também na dimensão política da relação. A ideia – que acabou, em partes, sendo bem sucedida – foi transformar o Brasil em interlocutor político dos países árabes. Uma vez que o Brasil galgasse essa posição, mediando conflitos e atuando em processos de paz, estaria mais próximo de seu pleito por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Desde 2003, cresce Quando o presidente Lula assumiu, em 2003, o Brasil exportava U$$ 2 bilhões para o Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 22 muito o fluxo de comércio com o mundo árabe. Oriente Médio. Em 2011, estava exportando cerca de U$$ 12 bilhões. Ou seja, em menos de dez anos, as exportações para o Oriente Médio praticamente quintuplicaram. No mesmo período, o fluxo comercial com Israel passou de U$$ 71 milhões para U$$ 498 milhões – um salto vertiginoso, portanto. Neste caso, contrariando a tendência de superávit observada no Oriente Médio, o Brasil mantém déficit com Israel; principalmente por conta da importação de equipamentos, medicamentos e demais produtos científico-tecnológicos. A partir de 2015, no entanto, houve o declínio do fluxo comercial. Acordos de livre comércio do Mercosul com Israel e Palestina. No governo Lula, o Mercosul fez acordos de livre comércio com Israel e também, com a Palestina – em uma tentativa de manter a equidistância no conflito árabe- israelense. O acordo com Israel foi aprovado, mas com a Palestina, ainda está passando pelos trâmites legais. No entanto, o acordo não houve aumento expressivo do fluxo comercial. É verdade que o comércio foi incrementado no período, mas muito mais por conta da bilateralidade do que pela atuação via Mercosul. Recentemente, em 2017, já no Governo Temer, o Mercosul firmou um acordo de livre comércio com o Egito – acordo que já está em vigência. Brasil como país observador da Liga Árabe Após a visita de Lula, o Brasil conseguiu o status de observador da Liga Árabe. Ou seja, um país fora de contexto, sem ser grande potência, porém com espaço privilegiado como observador, podendo participar das reuniões e acompanhar, de perto, que estava acontecendo. Reforço do multilateralismo. A participação do Brasil na Liga Árabe, mesmo na condição de observador, promoveu o reforço do multilateralismo entre o Brasil e os países árabes. Também houve reforço do multilateralismo na ONU e convergência em temas internacionais, como, por exemplo, a crítica à intervenção dos Estados Unidos no Iraque e a defesa da reforma do Conselho de Segurança. Incremento do desenvolvimento e da cooperação internacional 55 Um incremento das relações e nos movimentos que buscavam o desenvolvimento. A cooperação internacional também se beneficia disso. Aqui no Brasil o mais importante era que a posição do Brasil como candidato ao Conselho de Segurança também saiu fortalecido. Afinal de contas um país da América do Sul que consegue o status de observador dentro da Liga Árabe, que tem o poder de observar tudo que ocorre ali de acompanhar as negociações, de participar de algumas reuniões e em alguma medida até mesmo aconselhar, dar diretrizes evidentemente sem qualquer poder vinculante. 2004: Brasil abre escritório de representação junto à ANP (Ramalá). Na década de 1970, conforme vimos anteriormente, a Organização para a Libertação Palestina (OLP) instalou um escritório no Brasil. Nos anos 1990, após o Acordo de Oslo (1993), a Autoridade Nacional Palestina abrir sua representação aqui no país. Em 2004, após estes movimentos, foi a vez de o Brasil abrir um escritório de Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 23 representaçãona Palestina, em Ramalá, em tom de reciprocidade, embora tardia. A Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA) procurava buscar convergências entre os países de ambas as regiões. Como fruto da ASPA, a Declaração de Brasília (2005) se tornou um importante marco institucional. Na foto, III edição em Lima, Peru, 2012 . Primeira Cúpula América do Sul – Países Árabes (ASPA) – Brasília, 2005. Realização das Cúpulas América do Sul– Países Árabes (ASPA) - Brasília, 2005, com 34 Estados. Além da Conferência Brasil – Países Árabes (2000), outro grande ato de aproximação foi a relação das Cúpulas América do Sul – Países Árabes – em alguns livros, com sigla ASPA e em outros, com a sigla CASPA incluindo a palavra “Cúpula”. A primeira delas foi realizada em Brasília (2005) com a participação de 34 Estados – uma grande aderência tanto por parte da América do Sul quanto por parte dos países árabes. Na ocasião, foi assinada a Declaração de Brasília (2005), um novo marco institucional para a busca do aprofundamento dessas relações, visando a busca do intercâmbio técnico e comercial. Declaração de Brasília, documento final, resume os pontos de convergência: A Declaração de Brasília (2005) resumiu os principais pontos de convergência, que eram: – Crítica ao terrorismo – Defesa da desnuclearização da região. – Defesa da desocupação dos territórios ocupados por Israel e da criação do Estado palestino. – Reforço ao multilateralismo. – Democratização nos fóruns decisórios. Curiosamente, o documento não se abordou a questão da democracia, afinal, isso poderia comprometer as relações, já que a maioria dos Estados árabes não era necessariamente democrática. Essa ausência gerou críticas por parte dos parceiros ocidentais do Brasil, Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 24 mas o Itamaraty, rebatendo às acusações, se defendeu justificando pragmatismo nas relações. Mudança comercial (Acordo– Quadro Mercosul Conselho de Cooperação do Golfo). Uma importante mudança na geografia comercial, ainda decorrente da primeira cúpula ASPA, foi o lançamento do Acordo-Quadro Mercosul Conselho de Cooperação do Golfo. Este último, composto de economias importantes como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, grandes investidores e produtores de petróleo. Futuramente, espera-se que haja um acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Conselho de Cooperação do Golfo, o que ainda não ocorreu. Essa é a primeira reunião é a mais importante delas, depois nós vamos ter outras 3, mas só vou trazer os dados da primeira e da segunda que são a que de fato inovam. As outras 3 são apenas um incremento desses primeiros elementos. Cúpula ASPA: primeira cúpula após a consecução da CASA (2004). Conforme vimos na aula sobre América do Sul, em 2004 estava em discussão a Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA) – um projeto não consolidado, mas que serviu de base para a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL). A primeira cúpula depois a consecução da CASA foi justamente a Cúpula América do Sul – Países Árabes (ASPA) (2005). Isso significa que além de estar focado na América do Sul, o Brasil também estava tentando expandir seus relacionamentos dentro do eixo Sul-Sul. Segunda Cúpula América do Sul – Países Árabes (ASPA) – Doha, 2009 Sistematização do mecanismo de concertação. A Segunda Cúpula América do Sul – Países Árabes (ASPA) ocorreu em Doha, no Catar, aprofundando as discussões em Brasília (2005). Neste novo evento, houve a sistematização de um mecanismo de concertação política, englobando possibilidade de consultas entre as partes, atuação coordenada em fóruns multilaterais (especialmente ONU e OMC); e, com isso, a consequente ampliação do poder de barganha tanto do Brasil quanto dos países árabes. Vale lembrar que o Brasil foi o grande propositor desta ideia. Investimentos em infraestrutura. Na II ASPA, também foram anunciados investimentos em infraestrutura, sobretudo por parte do Brasil aos países do mundo Árabe. Necesssidade de reforma do sistema financeiro internacional. Ainda no âmbito da II ASPA (2009), houve concordância no que diz respeito à necessidade de reformas do sistema financeiro mundial. É preciso lembrar que neste período, o mundo estava sofrendo os reflexos negativos da Crise Imobiliária dos Estados Unidos (2008). Do ponto de vista político, com o mundo desenvolvido em crise e o Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 25 crescimento dos países emergentes – especialmente China e Brasil – houve a transferência de poder do G-7 para o G-20. Nesse contexto, tanto os países árabes quanto os países sul- americanos estavam apoiando o Brasil como um futuro protagonista destas mudanças; que, por exemplo, poderiam alterar o sistema de cotas do FMI para beneficiar os países emergentes. 2005 – Brasília, Brasil. 2009 – Doha, Qatar. 2012 – Lima, Peru. 2015 – Riad, Arábia Saudita. Após as Cúpulas de Brasília (2005) e de Doha (2009), ocorreram mais duas edições: em Lima (2012) e Riad (2015). Para a prova do CACD, é mais importante saber das duas primeiras, onde foram firmados os principais acordos. Nas edições de Lima (2012) e Riad (2015), houve apenas a renovação de compromissos assumidos anteriormente. Desgaste progressivo dos EUA após a Guerra do Iraque, em 2003. Isso deu abertura à maior aproximação política do Brasil. Ênfase na cooperação Sul–Sul. Nesta época, houve dois fenômenos interdependentes. Por causa das Guerras do Iraque e do Afeganistão, a imagem dos Estados Unidos estava abalada no Oriente Médio. Sabendo desse cenário, o Brasil acreditava que poderia crescer dentro deste vácuo de poder deixado pelos Estados Unidos, ocupando o papel de interlocutor destacado e influente. E, por isso, apostou na cooperação Sul-Sul, aprofundando as relações simétricas, horizontais e complementares com o Oriente Médio Apoio do Brasil ao candidato árabe (egípcio) na UNESCO. Um fato pontual, porém relevante. Nesta época, o Brasil apoiou um árabe à presidência da UNESCO, mesmo existindo um candidato brasileiro ao posto, o que gerou polêmicas e críticas. Governo Lula (2003 – 2010) Cresce o apoio árabe à participação brasileira no processo de paz no Oriente Médio. No início do século XXI, cresceu o apoio dos árabes à participação brasileira no processo de paz no Oriente Médio. Lula foi bem recebido e muito bem vindo à região. Os países árabes, confiando no Brasil, defendiam maior participação brasileira ao processo de paz no Oriente Médio. Vale lembrar que os árabes estavam cansados de imperialismo europeu e norte-americano. O Brasil, nesse contexto, era visto como um país aliado, subdesenvolvido, e não uma potência estrangeira invasiva. Maior legitimidade como negociador da paz no Oriente Médio. Portanto, o Brasil ganhou maior legitimidade como negociador na questão de paz no Oriente Médio. Brasil conta com um corpo diplomático altamente especializado. Longa tradição do país na O Brasil contava com um corpo diplomático altamente especializado que tinha uma longa tradição na resolução do conflitos sob a ótica dos princípios da solução pacífica de controvérsias e da não-intervenção. Estes princípios – parte da Política Externa Brasileira – também Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 26 resolução de conflutos e solução pacífica de controvérsias. eram/são muito importantes aos países árabes. Ao contrário dos Estados Unidos, da Rússia, do Reino Unido e demais potências estrangeiras, o Brasil era visto como um país sem interesses próprios na região,o que aumentava ainda mais a sua legitimidade. Não tem interesses próprios na região ou no conflito. Portanto, o Brasil não tinha nenhum interesse que não fosse ganhar maior projeção internacional. Não se interessava por Israel. Não se interessava pelos árabes. Tinha uma postura de equidistância, um país neutro, portanto. Devido a essa condição de neutralidade, o Brasil pôde se consolidar como mediador de conflitos, como, por exemplo, na tentativa de resolução da questão nuclear do Irã juntamente à Rússia e Turquia, em 2010. Na prática, apesar de algumas vitórias no plano multilateral, a posição afirmativa do Brasil se traduziu em poucos resultados práticos. 2007: Conferência de Anápolis Retomar as negociações entre Israel e Palestina. Convocação do Brasil pelos EUA Com o objetivo de retomar as negociações entre Israel e Palestina, foi realizada a Conferência de Anápolis (2007). O Brasil estava tão envolvido com os países árabes, no auge da legitimidade com o Oriente Médio, que foi convocado pelos Estados Unidos a participar. Foram 50 países convocados, incluindo o Brasil. Brasil é convocado e Celso Amorim se oferece para mediar as negociações. Brasil mostrou postura propositiva e proativa. Além de o Brasil ter sido convocado, o chanceler Celso Amorim se ofereceu para mediar às negociações, porém, por conta da resistência dos países europeus, não foi atendido. Apesar da negativa, o Brasil mostrou sua postura afirmativa, proativa e propositiva – características que seguiram toda a política externa do Governo Lula. Apesar das tentativas, a Conferência de Anápolis falhou em promover a paz no conflito árabe-israelense. 2010: Participação do Brasil na formulação da Declaração de Teerã. Em 2002, no início da Guerra ao Terror, quando os Estados Unidos davam muita atenção ao Oriente Médio, surgiram questionamentos sobre o programa nuclear iraniano. Havia a desconfiança de que o urânio talvez não fosse enriquecido somente para fins pacíficos, suspeita que acirrou os ânimos no já conturbado Oriente Médio, abrindo uma série de debates sobre a questão nuclear. Foi nesse contexto, com o objetivo de por fim às suspeitas com o Irã, que Brasil, Turquia e Rússia formularam a Declaração de Teerã (2010). Segundo o documento, ficou acordado que: – Brasil defenderia a manutenção de todas as atividades nucleares pacíficas. – O urânio seria enriquecido pela Rússia, à no máximo 20% e com Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 27 supervisão da Agência Internacional Atômica. – A Turquia seria o intermediário. – A base foi o Art. 4o da TNP no qual o Irã é signatário. Apesar dos esforços, a Declaração de Teerã (2010) não foi aprovada (veja abaixo). O CSUN vota uma resolução contra o Irã. Declaração de Teerã (2010) não é aprovada. Apesar do Irã concordar com a Declaração de Teerã (2010), os Estados Unidos, os países europeus e também, o próprio Conselho de Segurança da ONU, viam dificuldades e falhas no documento. O principal argumento era que a declaração não era suficiente clara. Havia a possibilidade, por exemplo, de que talvez o Irã não enviasse todo o urânio para a Rússia e continuasse o enriquecimento longe dos olhos dos supervisores, de modo que pudesse utilizá-lo para fins bélicos. Quando a questão foi levada ao Conselho de Segurança da ONU, foi imediatamente vetada pelos Estados Unidos, ponto fim à Declaração de Teerã (2010). VII Conferência de Exame do TNP. Brasil apoia s não proliferação nuclear no Oriente Médio. Na VIII Conferência de Exame do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), além de todas as medidas necessárias, o Brasil apoiou a não-proliferação de armas nucleares no Oriente Médio. O Brasil, portanto, posicionou-se contra a nuclearização do Irã. A América Latina inteira, inclusive o Brasil, reconhece a Palestina, junto com outros 100 países. Críticas de Israel. Pouco antes do término de seu mandato, o presidente Lula reconheceu a Palestina como um Estado. Mas o Brasil não ficou isolado: a América Latina inteira, junto à 100 países, reconheceram a legitimidade da Palestina. Neste caso, não se trata somente de reconhecer a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), mas sim, a Autoridade Nacional Palestina – ou seja, o Estado palestino de fato. Há, portanto, uma relação diplomática oficial. Como esperado, Israel proferiu fortes críticas ao reconhecimento, por parte de vários países, ao Estado palestino. Reconhecimento das fronteiras pré–Guerra dos Seis Dias (1967). O Brasil não somente reconheceu a Palestina, como também reconheceu as fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias (1967). Ou seja, há territórios que o Brasil considera que devem ser devolvidos à Palestina. Neste caso, defende o Plano de Partilha de 1947 e não as anexações posteriores de Israel. Em 2015, acordo com os EUA e potências é firmado. Após o fracasso do acordo proposto pelo Brasil, o Irã e as grandes potências finalmente chegaram a um novo combinado, levando à assinatura do Acordo Nuclear com o Irã (2015). Desta vez, com a Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 28 aprovação dos Estados Unidos. Recentemente, no entanto, os Estados Unidos se retiraram do acordo de 2015, abrindo um novo período de instabilidade na região. A Primavera Árabe (2011) (foto) diminuiu não só as relações do Oriente Médio com o Brasil, mas do Oriente Médio com o mundo. A crise doméstica brasileira e as declarações de Dilma Rousseff a favor dos direitos humanos prejudicaram ainda mais as relações, cenário que se manteve no governo Temer. Governo Dilma Rousseff (2010 – 2016) Dilma: deterioração das relações do Brasil com a região: – Primavera Árabe (2011). – Críticas aos direitos humanos. Exemplo: Caso Sakineh. – Crise econômica e política no Brasil. A partir do Governo Dilma (2010 – 2016), houve a deterioração das relações com o Oriente Médio, prejudicando muitos dos avanços de Lula da Silva, seu antecessor. Esses retrocessos foram basicamente motivados por três motivos. Primeiramente, logo no início do governo de Dilma, houve a eclosão da Primavera Árabe (2011) – fenômeno caracterizado por uma série de manifestações políticas contra governos centralizadores em diversos países do Oriente Médio. Embora propusessem mudanças positivas, como, por exemplo, a abertura democrática; na prática, a Primavera Árabe acabou desestabilizando a região, provocando, consequentemente, a diminuição das atividades diplomáticas, inclusive com o Brasil. Após estes eventos, o Oriente Médio ainda enfrentaria problemas com o Estado Islâmico, a Guerra da Síria e os conflitos no Iêmen, fatos que só pioraram esse afastamento com o Brasil – e, evidentemente, com o resto do mundo também. O segundo motivo foi a mudança de postura de Dilma Rousseff, em relação ao antecessor Lula da Silva. Ao contrário de Lula, que possuía uma visão mais pragmática, Dilma fazia críticas às questões de direitos humanos, provocando o consequente afastamento dos países árabes. Um dos exemplos mais emblemáticos desta nova postura foi a crítica Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 29 brasileira à condenação, por apedrejamento, à menina iraniana Sakineh. Tanto Dilma Rousseff quanto o próprio Itamaraty repudiaram a situação, algo que durante o Governo Lula, provavelmente seria ignorado. O terceiro e último motivo foi a crise econômica e política no Brasil, que prejudicou as relações não só com o Oriente Médio, mas com o mundo inteiro. Resumidamente, os trêsmotivos da deterioração das relações com o Oriente Médio foram: Primavera Árabe, críticas aos direitos humanos e crise econômica/política no Brasil. Crise na Líbia: Brasil lança o conceito de responsabilidade ao proteger. Durante a Crise na Líbia (2011), fruto da Primavera Árabe (2011), a presidente Dilma Rousseff lançou o conceito de responsabilidade ao proteger – um dos pontos mais importantes de sua diplomacia para o Oriente Médio. Por “responsabilidade ao proteger”, entendia-se que as intervenções externas deveriam ocorrer de forma responsável, de acordo com direitos humanos, com a proteção de civis, com um processo justo de construção da paz. Em suma, as intervenções não deveriam somente possuir um caráter puramente militar, mas também – e, principalmente – se preocupar com as consequências daquela interferência. No caso da Líbia, havia a sensação de que a interferência estrangeira havia desestabilizado o país, piorando ainda mais as condições anteriores à queda do Gaddafi. Sendo assim, faltou maior “responsabilidade ao proteger”. Governo Temer (2016 – 2018) Manutenção das difíceis condições do governo Dilma. Assim como ocorrido no Governo Dilma (2010 – 2016), o Governo Temer (2016 – 2018) foi caracterizado por baixa expressividade nas relações internacionais, principalmente por conta do prolongamento da crise doméstica – o que, evidentemente, inclui o Oriente Médio. Na gestão Temer, chanceler José Serra favoreceu mais Israel, inclusive retirando o voto brasileiro na UNESCO sobre a questão de Jerusalém. Na gestão Temer, o chanceler José Serra favoreceu mais Israel do que os países árabes. Houve, por exemplo, a retirada do voto brasileiro na UNESCO sobre a questão de Jerusalém. Para entendermos essa questão, precisamos saber que havia um voto brasileiro na UNESCO dizendo que Jerusalém não tinha vínculos claros com o povo de Israel. O que José Serra fez foi justamente reverter esse voto brasileiro, situação que permaneceu na chancelaria de Aloysio Nunes. Comércio: há múltiplos ALC's entre Mercosul e países da região. Neste momento, apesar da diminuição da atuação diplomática no exterior, o Brasil passou a buscar acordos de livre comércio que haviam se iniciado no Governo Lula. Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 30 Israel, Palestina e Egito. Só o acordo com Israel está em vigor, mas o Brasil é deficitário. No Governo Lula, por exemplo, houve a assinatura de acordos de livre comércio com Israel, Palestina e Egito. No entanto, nada de significativo para a nossa balança comercial. O Brasil, inclusive, é deficitário com Israel, importando mais do que exportando, principalmente tecnologia israelense. Apesar dos esforços brasileiros, somente os acordos com Israel e Egito entraram em vigor. E, mesmo assim, com pouca expressividade. Atualmente, nossos maiores parceiros no Oriente Médio são Israel, Arábia Saudita e Irã. Conselho de Cooperação do Golfo: perspectivas de livre comércio. Com o lançamento do Acordo-Quadro Mercosul Conselho de Cooperação do Golfo – evento que já comentamos – havia uma expectativa de que houvesse um acordo de livre comércio com o Mercosul. O Conselho de Cooperação do Golfo reúne países de economia próspera como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, grandes investidores e produtores de petróleo, o que poderia ser estratégico para o bloco sul-americano. No entanto, apesar das promessas, não houve evolução até o presente momento. Apesar disso, os acordos Mercosul-Israel e Mercosul-Egito estão em fase avançada de concretização. Posição do Brasil nos principais conflitos do Oriente Médio Posição brasileira no conflito árabe-israelense – imparcialidade e equidistância. Questão Israel x Palestina Questão Israel x Palestina – Apesar de ter colaborar com o Plano de Partilha, o Brasil se abstém quando da entrada de Israel na ONU, devido à indefinição sobre o status da cidade de Jerusalém. – Brasil demonstra posição muito clara de imparcialidade ou total equidistância. – O Brasil mantém postura proativa par a retomada das negociações diretas entre Israel e Palestina. – O governo brasileiro lamenta a estagnação do Quarteto para o Oriente Médio e ratifica a "condenção da construção de assentamentos nos territórios palestinos". Apesar de ter participado do Plano de Partilha por meio de Oswaldo Aranha, o Brasil se absteve de votar a favor da entrada de Israel na ONU. Ou seja, o Brasil participou da criação do Estado judeu, mas a hora que este foi entrar nas Nações Unidas, o Itamaraty optou pela neutralidade. Justificava-se, na época, a indefinição do status de Jerusalém: não estava claro, para a diplomacia brasileira, se Jerusalém Alexandre Vastella Aula 13 Política Internacional p/ CACD (Diplomata) Primeira Fase - Com Videoaulas - Pós-Edital www.estrategiaconcursos.com.br 31 realmente ficaria sob domínio internacional e por isso, o Brasil se absteve. Esta atitude da diplomacia brasileira deu o tom das próximas décadas: neutralidade e equidistância no conflito árabe-israelense. Apesar da imparcialidade, o Brasil manteve uma postura proativa para a retomada das negociações diretas entre Israel e Palestina, inclusive dentro dos espaços multilaterais. Recentemente, o Brasil tem lamentado a estagnação do Quarteto para o Oriente Médio – o grupo de quatro países que negociam com Israel e Palestina a resolução do conflito. E, além disso, tem criticado a construção de assentamentos judaicos nos territórios palestinos. Embora critique Israel, o Brasil não abandonou sua neutralidade. Para a diplomacia brasileira, o país está simplesmente buscando o que está expresso no direito internacional. Sendo assim, as condenações brasileiras são em tom de justiça e não de alinhamento. Evidentemente, isso pode mudar a partir de 2019, com o Governo Bolsonaro, mas ainda é cedo para fazer qualquer afirmação nesse sentido. Posição brasileira na Questão Nuclear do Irã – intenso protagonismo a favor do diálogo. Irã e a Questão Nuclear – 2002: descobriu–se que programa nuclear iraniano (antes de 1979 assistido pelos EUA) nunca havia sido interrompido. Ocorrem sanções. – 2010: Declaração de Teerã (Brasil, Turquia e Irã). – Irã poderia enriquecer urânio até 20% apenas (Energia e fins médicos). – O urânio do Irã seria enviado à Rússia para enriquecimento somente até 20%. – Não se sabia, porém, se o Irã enviaria todo o seu urânio para a Rússia. – Acordo de Genebra, 2015 (recém abandonado pelos EUA). – Brasil demonstra capacidade de posicionar–se internacionalmente. Em 2002, descobriu-se que o problema nuclear iraniano nunca havia sido interrompido. Por conta disso, houve uma série de sanções ao país por parte dos países ocidentais. De um lado, o Irã afirmava que seu programa era pacífico, mas por outro, o Conselho de Segurança da ONU criticava sua falta de transparência, gerando um impasse diplomático. A partir disso, várias soluções começaram a ser discutidas. Nesse cenário, Brasil e Turquia propuseram a Declaração de Teerã (2010), um acordo que seria firmado com o Irã para neutralizar as desconfianças provenientes do mundo ocidental. Por esse acordo, a Turquia transportaria o urânio do Irã para a Rússia, onde seria refinado a no máximo 20% e enviado de volta ao Irã para fins pacíficos e energéticos. Deste modo, o urânio não poderia ser enriquecido dentro do território iraniano e, além disso, estaria constantemente sob supervisão internacional. No entanto, os Estados Unidos criticaram o acordo, afinal, não estava claro se o Irã realmente enviaria todo seu urânio à Rússia. O impasse continuou até 2015, quando foi assinado um novo acordo, em Genebra; desta vez, sem a presença brasileira. O acordo de 2015, no entanto, foi desfeito por Donald Trump – estudaremos
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