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Política Externa Brasileira e Defesa Nacional

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Aula 27
Política Internacional p/ CACD
(Diplomata) Primeira Fase - Com
Videoaulas - Pós-Edital
Autor:
Alexandre Vastella
Aula 27
10 de Agosto de 2020
 
 
 
Aula 28 - Política Internacional - A dimensão da segurança na política exterior do Brasil 
Introdução ao PDF ................................................................................................................................. 1 
Política Externa Brasileira e Defesa Nacional .................................................................................. 2 
Segurança – um tema tradicional da política externa brasileira ................................................................ 2 
Base legal de defesa no Brasil ................................................................................................................... 3 
Brasil e seu poder dissuasório – a força como meio de evitar conflitos. .................................................... 4 
Brasil, de tradição pacífica, busca a estabilidade regional e a cooperação internacional. ......................... 5 
Brasil condena arquiteturas de poder “conflituosas”, mas não negligencia as novas ameaças. .............. 10 
Brasil e a relação entre defesa, diplomacia e inteligência. ...................................................................... 11 
Objetivos nacionais de defesa ................................................................................................................ 12 
A dimensão da segurança na Política Externa Brasileira ......................................................................... 15 
 
 
INTRODUÇÃO AO PDF 
 Na aula de hoje, entenderemos a dimensão da segurança na política exterior brasileira; ou, a 
relação da política externa brasileira com a política de defesa nacional. Vamos estudar: a importância 
histórica do tema segurança na política externa brasileira; os pontos mais importantes da Política 
Nacional de Defesa, da Estratégia Nacional de Defesa e do Livro Branco de Defesa Nacional; e, as 
estratégias da diplomacia brasileira no poder dissuasório, na estabilidade regional e na cooperação 
internacional diante das ameaças do pós-Guerra Fria. Também veremos as relações entre defesa, 
diplomacia e inteligência e como isso influencia nos objetivos nacionais de defesa e nas missões de paz 
que o Brasil participa. 
 
 
 
 
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 POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA E DEFESA NACIONAL 
Segurança – um tema tradicional da política externa brasileira 
 A primeira coisa que devemos ter em mente é que a segurança é um tema tradicional da política 
externa brasileira – assim como é um tema tradicional de qualquer politica externa. Trata-se do assunto 
mais básico de quase todos os conceitos e teorias das relações internacionais. Nas primeiras aulas, vimos 
que tanto realistas quanto liberais se preocupam excessivamente com a segurança. A própria palavra 
“diplomacia” levada ao senso comum diz respeito à “solução de conflitos”. Por meio da diplomacia, Barão 
de Rio Branco (1902 – 1912) resolveu todos os problemas de fronteira no Brasil sem que a força fosse 
necessária. Portanto, podemos perceber que diplomacia e segurança são tema diretamente ligados. 
 Nesse contexto, há uma impressão equivocada de que o Brasil não se preocupa com a defesa de 
seu território. Essa crença deriva do fato de que o Brasil busca, antes de se envolver em guerras, a 
resolução pacífica de controvérsias, sobretudo aquela realizada em âmbito multilateral. Tanto é que a 
última vez que o país participou de uma guerra foi contra o Paraguai, há mais de cem anos, em 1872. Na 
verdade, apesar de se manter pacífico, o Brasil tem uma grande preocupação com o tema segurança, 
conforme veremos na aula de hoje. 
 
Barão de Rio Branco (1902 – 1912) 
“Não é possível ser pacífico sem ser forte” 
Para Rio Branco, a força deve ser um elemento dissuasório. 
Quanto mais armado um país, menor a chance de sofrer 
ataques. 
Portanto, para que paz seja garantida, é necessário que um 
país seja militarmente forte. 
Apesar de antiga, essa ideia ainda está presente nos 
documentos de defesa do Brasil. 
 Não por acaso, Barão de Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira, afirmava que “não é 
possível ser pacífico sem ser forte”. Ou seja, a força serve mais como elemento dissuasório – para 
desestimular que outras pessoas promovam ataques – do que propriamente para provocar guerras. Sendo 
assim, a segurança de um país é proporcional à sua capacidade militar; ou seja, quanto mais armas, 
mais protegido. Pelo menos por essa perspectiva, evidentemente. 
 No mais, a história das forças armadas se confunde com a história do Brasil, uma relação que se 
repete não somente nos demais países latino-americanos, mas também – e principalmente – na própria 
formação de um Estado autônomo. Para que um Estado consiga se estabelecer – seja conquistando sua 
independência ou agregando territórios autônomos sob uma mesma nação – é necessário que haja a 
construção de uma força armada fiel ao governante. Além disso, sem o apoio das forças armadas, 
dificilmente um Estado se sustenta. 
 
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Base legal de defesa no Brasil 
 Ciente da importância estratégica das forças armadas para a soberania nacional, o Brasil 
estabeleceu a Política Nacional de Defesa (PND), a Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Livro 
Branco de Defesa Nacional (LBDN). Vejamos no que consiste cada um desses documentos [fonte; fonte]: 
Base legal de defesa 
 
Política Nacional de Defesa 
Voltada, prioritariamente, contra ameaças externas, é o documento 
condicionante de mais alto nível do planejamento de defesa. Estabelece 
objetivos e diretrizes para o preparo e o emprego da capacitação nacional, com 
o envolvimento dos setores militar e civil, em todas as esferas do Poder 
Nacional. 
Estabelece: 
– O que fazer 
– Objetivos nacionais de defesa 
 
Estratégia Nacional de Defesa 
Estabelece diretrizes para a adequada preparação e capacitação das Forças 
Armadas, de modo a garantir a segurança do país tanto em tempo de paz, 
quanto em situações de crise. 
Define 
– O como fazer 
– Diretrizes 
 
Livro Branco de Defesa Nacional 
É o mais completo e acabado documento acerca das atividades de defesa do 
Brasil. Abrangente, visa esclarecer a sociedade brasileira e a comunidade 
internacional sobre as políticas e ações que norteiam os procedimentos de 
segurança e proteção à nossa soberania. 
Provê 
– Publicidade 
– Confiança mútua 
 Podemos perceber que o documento mais importante é a Política Nacional de Defesa, pois é nela 
que estão contidas as diretrizes e objetivos gerais para os setores militar e civil em termos de defesa. A 
Estratégia Nacional de Defesa também estabelece diretrizes, mas é um documento bem mais específico, 
direcionado especificamente às Forças Armadas. Já o Livro Branco de Defesa Nacional possui maior 
interface com a sociedade civil e a comunidade internacional, explicando para o cidadão comum as 
políticas e ações de defesa do país. 
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 É interessante notar que a Política Nacional de Defesa teve forte influência do Celso Amorim, o 
Ministro das Relações Exteriores que mais tempo permaneceu à frente do Itamaraty. Como Amorim 
também foi Ministro da Defesa pôde com base nos conhecimentos de ambas as pastas, formular uma 
política integrada entre defesa e diplomacia. 
 
Brasil e seu poder dissuasório – a força como meio de evitar 
conflitos. 
 Nas linhas abaixo, estudaremos alguns trechos desses documentos e poderemos entender as 
estratégias e relaçõesentre defesa, segurança e política externa no Brasil. Vamos iniciar por um trecho do 
Livro Branco de Defesa: 
Livro Branco de Defesa 
“O Brasil se considera e é visto internacionalmente como um país amante da paz, mas não 
pode prescindir da capacidade militar de dissuasão e do preparo para a defesa contra 
ameaças externas. Não é possível afirmar que a cooperação sempre prevalecerá sobre conflito 
no plano internacional.” 
“A política externa brasileira tem projetado valores e interesses na moldagem da 
governança global. O Brasil tem desenvolvido sua própria agenda externa com maior 
autonomia para definir as prioridades para seu progresso como nação. Esse patrimônio exige 
defesa.” 
 Perceba que o Livro Branco é bem claro ao afirmar que apesar de ser um amante da paz, o Brasil 
não pode descuidar de sua defesa. Isso reforça o que já havíamos mencionado: não é porque o Brasil é 
um país tradicionalmente pacífico, multilateralista e prezador do direito internacional que a defesa deva 
ser deixada em segundo plano. 
 
 Outro trecho que chama a nossa atenção é a desconfiança, por parte do governo brasileiro, de que 
“não é possível afirmar que a cooperação sempre prevalecerá sobre o conflito”. Essa constatação faz-
nos lembrar das primeiras aulas curso sobre teoria das relações internacionais. Vimos que para os liberais, 
a cooperação pode mitigar os efeitos negativos da anarquia do sistema internacional e fazer com que o 
mundo seja mais pacífico. Ou seja, a medida que um país passa a depender cada vez mais do outro, a 
propensão à guerra diminui, pois um conflito acarretaria perda para ambos. Já para os realistas, embora a 
cooperação seja sempre buscada, as boas intenções não anulam o fato do “homem ser o lobo do 
homem” e do sistema internacional ser anárquico, pautado pela lógica de poder e sobrevivência e regido 
apenas pela autoajuda entre os Estados. Esse documento, que é oficial do Ministério da Defesa e que, 
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portanto, expressa a visão oficial do governo brasileiro, apresenta uma mescla das duas teorias. Acredita, 
ao mesmo tempo, que a cooperação é possível, mas também, admite suas fragilidades. 
 Além disso, segundo o Livro Branco, “a política externa brasileira tem projetado valores e 
interesses na moldagem da governança global”. Conforme vimos nas aulas anteriores, o Brasil tem 
historicamente buscado se afirmar como um player importante capaz de construir e moldar uma nova 
ordem global. O Brasil procura, por exemplo, pleitear as reformas do Conselho da Segurança da ONU e do 
sistema financeiro internacional. Também busca ampliar a concertação política via arranjos de geometria 
variável no âmbito do BRICS, IBAS, CPLP, entre outros. O verdadeiro objetivo de todas essas medidas é 
ampliar a capacidade de ação do Brasil. Diante disso, uma vez que o Brasil se firme como um ator 
importante no sistema internacional é preciso ter um sistema de defesa à altura. 
Ou seja, de acordo com o Livro Branco, não é possível atingir o “progresso como nação” sem o 
fortalecimento das forças armadas. A medida que o Brasil deixa de ser um Estado que apenas afeta o 
sistema internacional (system affecting) e passa a ser um Estado que influencia o sistema internacional 
(system inffluence), vai cada vez mais se tornando visado, aumentando a rivalidade com as grandes 
potências. O Brasil, portanto, precisa ter a capacidade de defender posições no sistema internacional, não 
somente pelo soft power – pela capacidade de projetar poder via econômica, cultural, etc. – mas também 
pelo hard power; ou seja, pelo poder “pesado”, pelo poder militar de fato. 
 
Brasil, de tradição pacífica, busca a estabilidade regional e a 
cooperação internacional. 
 Como o Brasil articula defesa e diplomacia 
 
Tradição 
pacífica 
Estabilidade 
regional 
Cooperação 
internacional 
Poder 
dissuasório 
A última guerra que o 
Brasil participou, de fato, 
foi a do Paraguai 
(imagem), no século XIX. 
Depois, somente a 
Segunda Guerra Mundial, 
quando se defendeu do 
eixo. 
Durante as últimas 
décadas, o Brasil tem 
participado e fomentado 
iniciativas que visam à 
estabilidade econômica e 
política da América do Sul. 
O Brasil participa de 
inúmeras organizações 
internacionais, aposta no 
multilateralismo para a 
resolução de conflitos e 
investe nos espaços de 
concertação política. 
A tradição pacífica, a 
estabilidade regional e a 
cooperação garantem a 
paz. 
Mas se nada disso 
funcionar, ainda há o 
poder dissuasório: se 
armar para desencorajar 
ataques. 
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 O Livro Branco de Defesa ressalta a preocupação do Brasil com a estabilidade regional e a 
construção de um ambiente internacional cooperativo. Isso evidencia que o cuidado que o Itamaraty 
tem com a paz e a estabilidade na América do Sul, uma região pacificada há mais de um século. É verdade 
que o Brasil participou da Segunda Guerra Mundial, mas o último conflito na América do Sul que se 
envolveu foi na segunda metade do século XIX, na Guerra do Paraguai. 
 Nesse longo período, apesar de atritos pontuais com outros países – como ocorrido com a 
Argentina durante os governos militares de ambos os países – não houve a escalada para um conflito 
armado. O fato é que o Brasil se relaciona pacificamente com seus vizinhos há mais de um século e isso 
é muito bem explorado pelo Itamaraty para pleitear um assento permanente no Conselho de 
Segurança da ONU. Ora, um país que consegue manter-se pacífico durante todo esse tempo, mereceria 
maior representatividade global. Também é verdade que o Brasil participou de dezenas de operações 
militares da ONU – como, por exemplo, a MINUSTAH no Haiti – mas foram operações de paz sem caráter 
belicoso. Houve o envio de tropas; não para guerrear, para ajudar. Vejamos o que diz o Livro Branco de 
Defesa: 
Livro Branco de Defesa 
“As políticas externa e de defesa são complementares e indissociáveis. A manutenção e a 
estabilidade regional e a construção de um ambiente internacional mais cooperativo, de 
grande interesse para o Brasil, serão favorecidos pela ação conjunta dos Ministérios da Defesa 
(MD) e das Relações Exteriores (MRE).” 
“A Política Nacional de Defesa (PND), a Estratégia Nacional de Defesa (END) e o Livro 
Branco de Defesa Nacional (LBDN) representam marcos históricos no sentido da afirmação e 
divulgação dos fundamentos e parâmetros de defesa.” 
O documento afirma que a política externa e a política de defesa são indissociáveis e 
complementares; ou seja, uma não pode existir sem a outra. A primeira se vale de instrumentos 
diplomáticos e a segunda, por instrumentos de dissuasão. Um diplomata pode muito bem – e deve – 
fazer negociações que favoreçam o seu país, mas para que ele seja levado a sério, é preciso que haja um 
poder por trás. Por mais que se busque maior horizontalidade nas relações internacionais, um diplomata 
de uma grande potência militar sempre possui maior poder de influência do que um diplomata de um 
pequeno país indefeso. 
 Podemos perceber que o Brasil não almeja se 
tornar uma grande potência militar e tampouco 
impor sua vontade aos outros países por meio da 
força. Na verdade, há apenas a busca pela paz, 
pela estabilidade e pela cooperação. Por esse 
último aspecto, podemos entender que o 
Brasil está buscando um sistema 
internacional mais participativo e inclusivo – 
a exemplo das defesas das reformas das 
Nações Unidas e de Bretton Woods, 
especialmente do FMI. Para o 
Itamaraty, as organizações 
internacionais devem reforçar o 
multilateralismo – vimos nas aulas 
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anteriores que o multilateralismo é um valor muito caro à diplomacia brasileira. Adotando maior grau de 
multilateralismo há maior representatividade e, consequentemente, maior horizontalidade das relações. 
Sendo mais horizontais, as organizações internacionais enfim podem ser consideradas legítimas, pois 
representariam, de fato, todos os países. 
 O Brasil também preza pela transparência nas relações internacionais. Por meio do Livro Branco 
de Defesa – um documento que visa informar a sociedade doméstica e externa sobre as aspirações 
militares do país – o Brasil se mostra um país pacífico e garantidor da paz regional. Esse documento 
funciona como uma espécie de vitrine para o sistema internacional entender (e se tranquilizar de) que o 
Brasil não possui aspirações imperialistas mas que, ao invés disso, busca a cooperação em âmbito 
internacional. 
O Brasil, portanto, não busca ser uma potência militar, mas apenas dissuadir agressões. Muito 
diferentemente, por exemplo, da China que durante o 19º Congresso do Partido Comunista Chinês, deu a 
entender que seus objetivos são ampliar a projeção externa e o domínio internacional. O Brasil, portanto, 
trabalha com a ideia de dissuasão. Veremos como isso aparece em outro trecho do Livro Branco: 
Livro Branco de Defesa 
“A Política e a Estratégia assinalam responsabilidades na promoção do interesse nacional, 
em particular nos temas afetos a desenvolvimento e segurança do país. Evidenciam a 
necessidade de fortalecimento dos mecanismos de diálogo entre o MD e o MRE, no sentido de 
aproximação de suas inteligências e no planejamento conjunto.” 
“Dotado de uma capacidade adequada de defesa, o Brasil terá condições de dissuadir 
agressões a seu território, a sua população e a seus interesses, contribuindo para a 
manutenção de um ambiente pacífico em seu entorno”. 
Por essa perspectiva, a fraqueza atrai agressões e a força atrai o respeito. Pensando em um 
contexto social, é muito mais fácil um homem franzino ser agredido na rua do um homem musculoso e 
armado até os dentes. Por isso, a força não serve para atacar, mas para dissuadir uma agressão. Ou 
seja, para desestimular o agressor a cometer o ato de violência. Quando pensamos em sistema 
internacional, ninguém teria coragem de atacar a Rússia, por exemplo. Diante desse contexto, o Brasil 
busca fortalecer o exército para que justamente não seja necessário utilizá-lo. 
 
Garantir a segurança e ter um bom poder dissuasório é fundamental para garantir o “interesse nacional”. Na foto, caça da Força Aérea 
Brasileira. Mesmo que o Brasil não o utilize, serve para desencorajar ataques. 
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Voltando ao quadro acima, podemos reparar que o primeiro parágrafo explicita a preocupação 
com a “promoção do interesse nacional”, especialmente no que tange o desenvolvimento e a segurança 
do país. É o “interesse nacional” que orienta o modelo de inserção internacional e as ações no Brasil no 
ambiente internacional. É para esse “interesse” que a política externa trabalha. Mas afinal, o que são esses 
interesses nacionais? 
Os interesses nacionais são politicamente construídos e mudam ao longo da história. Vamos 
pensar, por exemplo, na transição entre o Estado liberal-conservador e o Estado desenvolvimentista 
ocorrida entre os anos 1920 e 1930. No primeiro caso, havia uma elite agroexportadora com acesso ao 
poder que contrastava com a imensa maioria da população, ausente de poder e à mercê dos interesses dos 
grandes latifundiários. O voto não era universal e tampouco havia meios de comunicação e expressão para 
o cidadão comum. Nesse caso, o interesse nacional era defendido pela elite agropecuária que 
pressionava os governos para que agissem em prol de suas vontades em âmbito internacional e 
doméstico. Já quando houve a ascensão de Getúlio Vargas – já na transição para o Estado 
desenvolvimentista – houve a mudança dos interesses nacionais. Foi uma época de grandes 
transformações: com a industrialização, o êxodo rural e a urbanização, a população começou a se 
organizar em sindicatos, partidos e agremiações; além disso, entrou em contato com a rádio e os demais 
veículos de comunicação. Essas manifestações públicas e alterações na sociedade fizeram com que o 
interesse nacional também se transformasse. Sendo assim, a partir dos anos 1930, o interesse nacional 
passou a ser o desenvolvimento, a prosperidade nacional e a superação de problemas estruturais, algo 
bem diferente do que era na década anterior. 
Atualmente, com a sociedade evidentemente muito mais complexa do que na década de 1930, não 
há um único interesse nacional, mas múltiplos interesses que de algum modo, precisam ser 
conformados. No caso do Livro Branco da Defesa, o “interesse nacional” não é definido por uma elite, mas 
pelo conjunto de reivindicações da sociedade que, no geral, giram em torno do “desenvolvimento” e da 
“segurança” – conforme explicitado no documento. E essa visão – por estar em um documento oficial – 
orienta diplomatas, oficiais, agentes de inteligência e demais profissionais responsáveis por defesa e 
diplomacia. 
 
 Edifícios-sede dos Ministérios da Defesa (esquerda) e das Relações Exteriores (direita). A cooperação entre ambos é fundamental. 
O Livro Branco também cita algo que havíamos comentado no início da aula: a relação entre segurança e 
diplomacia. Perceba que há, explicitamente, a busca pelo “fortalecimento dos mecanismos de diálogo 
entre o Ministério da Defesa e o Ministério das Relações Exteriores”. A defesa, portanto, não deve ser 
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pensada somente pelo aspecto militar, mas também pela diplomacia e pela inteligência. Vejamos mais um 
trecho do documento: 
Livro Branco de Defesa 
“Ao mesmo tempo, e de modo coerente com a política cooperativa do país, a crescente 
coordenação dos Estados sul-americanos em temas de defesa concorrerá para evitar 
possíveis ações hostis contra o patrimônio de cada uma das nações da região. Pela dissuasão e 
pela cooperação, o Brasil fortalecerá, assim, a estreita vinculação entre sua política de defesa e 
sua política externa, historicamente voltada para a causa da paz, da integração e do 
desenvolvimento.” 
 Perceba que nesse trecho é acrescentado um novo instrumento para a promoção da defesa e da 
política externa. Além da dissuasão, há a cooperação. Voltando para o exemplo que citamos acima, é 
mais fácil um homem franzino ser agredido do que um homem musculoso e armado. Imagine agora que 
esse homem poderoso passe a andar em grupo. Nesse caso, a chance de sofrer agressão diminuiria ainda 
mais. Pensando no sistema internacional, uma aliança militar como, por exemplo, a OTAN, é muito mais 
forte do que seus membros isoladamente, ainda que sejam grandes potências como os Estados Unidos. 
 Tendo em vista a importância de cooperação, há a busca pela coordenação dos Estados sul-
americanos em termos de defesa. Isso é muito evidente, por exemplo, nas iniciativas da UNASUL, 
sobretudo no Conselho de Defesa – ainda que a UNASUL tenha se enfraquecido nos últimos anos. 
Também podemos destacar o sistema de segurança coletivo da OEA, especialmente o TIAR. O objetivo 
principal dessas articulações é evitar que uma nação externa agrida qualquer país da região. Caso 
houvesse realmente a cooperação, mesmo grandes potências ficariam dissuadidas de enfrentar vários 
países de uma única vez. Vejamos texto do Ministério da Defesa sobre o Conselho de Defesa da UNASUL: 
Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) – UNASUL 
 “Instituído em dezembro de 2008, por decisão dos 12 países que integram a União de Nações Sul-Americanas 
(Unasul), o Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS) demonstrou, em pouco tempo, elevado valor estratégico nohorizonte de atuação do órgão regional. 
O CDS tem o objetivo de consolidar a América do Sul como uma zona de paz, criando condições para a 
estabilidade política e o desenvolvimento econômico-social; bem como construir uma identidade de defesa sul-
americana, gerando consensos que contribuam para fortalecer a cooperação no continente. 
Por meio do CDS, os países membros analisam conjuntamente questões políticas e estratégicas, promovendo 
um amplo debate sobre as realidades global e hemisférica, a partir da ótica sul-americana. 
Além do Conselho de Defesa Sul-Americano, o Brasil participa ativamente de outros fóruns de Defesa em nível 
regional e sub-regional, tais como os encontros de Chefes de Estados-Maiores e de Comandantes de Forças 
Armadas; a Junta Interamericana de Defesa; a Comissão de Segurança Hemisférica; a Conferência de Ministros de 
Defesa das Américas; a Conferência dos Exércitos Americanos; a Conferência Naval Interamericana; e o Sistema 
de Cooperação entre Forças Aéreas Americanas.” – texto do Ministério da Defesa. 
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Ministros da Defesa da UNASUL se encontram na IV Reunião do Conselho de Defesa da UNASUL, em 2012. 
 Perceba que muitos dos elementos que nortearam a criação do Conselho de Defesa também estão 
presentes no Livro Branco de Defesa Nacional e na Política Nacional de Defesa. Entre eles, podemos citar: 
a consolidação da América do Sul como um ambiente de paz (estabilidade regional) e a cooperação 
como elemento garantidor da paz. Embora não esteja explícito no texto, também há uma tentativa de 
encapsular questões de defesa na América do Sul, evitando a interferência de grandes potências na 
região. No entanto, precisamos novamente ressaltar que a UNASUL está enfraquecida e esses objetivos 
acabaram não sendo plenamente alcançados. 
 
Brasil condena arquiteturas de poder “conflituosas”, mas não 
negligencia as novas ameaças. 
No trecho abaixo do Livro Branco de Defesa, fica evidente que o Brasil condena as arquiteturas de 
poder “conflituosas e excludentes” que ocorreram no século XX. Na primeira metade do século, houve 
duas guerras mundiais que resultaram em dezenas de milhões de mortos; e, segunda metade, um 
ambiente extremamente tenso de Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética. Ao invés disso, o 
Brasil busca uma “nova arquitetura de poder”, não somente participando como país que afeta o sistema 
internacional, mas que age no sistema internacional e promove mudanças. 
Livro Branco de Defesa 
“A nova arquitetura de poder do século XXI não deve favorecer posturas conflituosas e 
excludentes, herdadas de ordenamentos internacionais que predominaram ao longo do século 
XX. Essa opção política, no entanto, não pode negligenciar a complexidade das ameaças 
surgidas no período do pós-Guerra Fria e das incertezas de que se reveste o horizonte de 
médio e longo prazos. O país vem se preparando para essas realidades desde a reformulação 
da Política de Defesa Nacional, em 2005, e do lançamento da Estratégia Nacional de Defesa, 
em 2008, ambas revistas em 2012.” 
 Apesar de condenar os eventos conflituosos do século XX, o Brasil está ciente que não é possível 
negligenciar as ameaças do século XXI. Com o tempo, a onda de otimismo ocidental do pós-Guerra Fria 
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foi sendo quebrada por inúmeros fatores – crise nos Balcãs, desmembramento da Iugoslávia, crise e 
reerguimento da Rússia, crescimento da China, ondas de protecionismo global, persistência de conflitos e 
miséria no Oriente Médio e na África, entre outros. No século XXI, facilitados pela globalização, 
intensificaram-se problemas como terrorismo, narcotráfico e migração. Inclusive, conforme vimos nas 
aulas anteriores, estes três pontos – ao invés do combate ao comunismo – passaram a serem prioridades 
dos Estados Unidos no que diz respeito à segurança. Dentro desse contexto, o Brasil entende que apesar 
do fim da Guerra Fria, o século XXI ainda possui muitas ameaças e que é preciso se proteger. 
 
Brasil e a relação entre defesa, diplomacia e inteligência. 
‘ Diante dessa nova conjuntura mundial do século XXI, aumenta a preocupação do Estado 
brasileiro com a integração entre defesa, diplomacia e inteligência. Há maior cuidado e prevenção com 
ameaças relacionadas a questões econômicas, científico-tecnológicas, de espionagem, desinformação, 
sabotagem, terrorismo, crimes financeiros, direitos humanos, terrorismo, entre outros. Isso justificou a 
formulação da Política Nacional de Inteligência (PNI). Conforme o quadro abaixo: 
Preocupações da ABIN na nova ordem mundial (retirado do site da ABIN). 
“Os atuais cenários internacional e nacional revelam peculiaridades que induzem a atividade 
de Inteligência a redefinir suas prioridades, dentre as quais adquirem preponderância aquelas 
relacionadas a questões econômico-comerciais e científico-tecnológicas. Nesse contexto, 
assumem contornos igualmente preocupantes os aspectos relacionados com a espionagem, 
propaganda adversa, desinformação, a sabotagem e a cooptação. 
Paralelamente, potencializa-se o interesse da Inteligência frente a fenômenos como: 
violência, em larga medida financiada por organizações criminosas ligadas ao narcotráfico; 
crimes financeiros internacionais; violações dos direitos humanos; terrorismo e seu 
financiamento; e atividades ilegais envolvendo o comércio de bens de uso dual e de 
tecnologias sensíveis, que desafiam os Estados democráticos.” 
Sobre a Política Nacional de Inteligência (PNI) (retirado do site da ABIN). 
“A Política Nacional de Inteligência (PNI), documento de mais alto nível de orientação da 
atividade de Inteligência no País, foi concebida em função dos valores e princípios 
fundamentais consagrados pela Constituição Federal, das obrigações decorrentes dos 
tratados, acordos e demais instrumentos internacionais de que o Brasil é parte, das condições 
de inserção internacional do País e de sua organização social, política e econômica. 
“A PNI define os parâmetros e limites de atuação da atividade de Inteligência e de seus 
executores e estabelece seus pressupostos, objetivos, instrumentos e diretrizes, no âmbito do 
Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN).” 
Objetivos da Política Nacional de Inteligência (PNI) (retirado do site da ABIN). 
“Afigura-se imprescindível o delineamento de uma Política capaz de orientar e balizar a 
atividade de Inteligência no país, visando ao adequado assessoramento ao processo decisório 
nacional de forma singular, oportuna e eficaz. Esse instrumento de gestão pública deve 
guardar perfeita sintonia com os preceitos da Política Externa Brasileira e com os interesses 
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estratégicos definidos pelo Estado, como aqueles consignados na Política de Defesa Nacional 
e na Estratégia Nacional de Defesa.” 
 Há várias informações nesse quadro. Primeiramente, há a preocupação 
com as novas ameaças do mundo global, questões que justificaram a 
formulação de uma Política Nacional de Inteligência (PNI), o documento de 
mais alto nível de orientação de inteligência no Brasil e que define seus limites e 
parâmetros. Por fim, a própria PNI reconhece que deve haver sintonia entre a 
inteligência, a política externa brasileira e a defesa do Brasil. Ou seja, mais do 
que integrar os temas “segurança” e “defesa” – conforme já havíamos 
adiantado – é preciso integrar “segurança”, “defesa” e “inteligência”. No entanto, 
é preciso ressaltar que esse trabalho ocorre em âmbito de Estado e não de 
governo. Ou seja, é um instrumento do Estado brasileiro e não de partidos políticos oudeterminados 
governos eleitos. 
 
 As políticas de inteligência servem não apenas para impedir a atuação bem sucedida de ameaças 
globais, mas também, para garantir que os segredos de Estado permaneçam secretos. Nesse caso, 
podemos incluir informações sigilosas de operações militares, de ameaças internacionais e de linhas de 
atuação na política externa – alvos preferenciais de ataques de espionagem. De acordo com a Política 
Nacional de Inteligência: 
Prevenir ações de espionagem no país: 
“Segredos militares, industriais (inovação e tecnologia) e de política externa são alvos 
preferenciais da espionagem estrangeira. Faz-se necessário identificar, avaliar e interpretar 
posturas externas, elencando aquelas que representam ameaças, prejuízos e 
comprometimento das políticas e planos nacionais”. 
 Nota-se uma grande preocupação do governo brasileiro com o sigilo de seus documentos 
secretos, o que poderia ser comprometido em caso de espionagem física ou cibernética. Em relação à 
política externa, é muito importante que alguns pontos não sejam relevados, pois a surpresa, em muitos 
casos, é uma grande arma política. O presidente Donald Trump, por exemplo, raramente revela 
claramente suas intenções, sendo considerado “imprevisível” por muitos analistas. Do mesmo modo, em 
caso de ações militares, por motivos óbvios, é imprescindível que os alvos não saibam a rotina das forças 
armadas que irão lhe atingir. 
 
Objetivos nacionais de defesa 
Após apresentarmos os aspectos gerais dos documentos brasileiros que tratam de segurança, 
estudarmos os objetivos nacionais de defesa expressos na Política Nacional de Defesa. No quadro 
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abaixo, podemos ver esses objetivos; primeiramente, de forma geral; e, após a apresentação inicial, a 
explicação sobre cada um dos tópicos: 
Objetivos Nacionais de Defesa 
I. Garantir a soberania, o patrimônio nacional e a integridade territorial. 
II. Defender os interesses nacionais e as pessoas, os bens e os recursos brasileiros no 
exterior. 
III. Contribuir para a preservação da coesão e da unidade nacionais. 
IV. Contribuir para a estabilidade regional. 
V. Contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais. 
VI. Intensificar a projeção do Brasil no concerto das nações e sua maior inserção em 
processos decisórios internacionais,. 
VII. Manter Forças Armadas modernas, integradas, adestradas e balanceadas, e com 
crescente profissionalização, operando de forma conjunta e adequadamente desdobradas no 
território nacional. 
VIII. Conscientizar a sociedade brasileira da importância dos assuntos de defesa no país. 
IX. Desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em 
tecnologias indispensáveis. 
X. Estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotando-as de pessoal e material 
compatíveis com os planejamentos estratégicos e operacionais. 
XI. Desenvolver o potencial de logística de defesa e de mobilização nacional. 
Detalhando os Objetivos Nacionais de Defesa 
I. Garantir a soberania, o patrimônio nacional e a integridade territorial. 
Esse é o elemento mais básico. Todos os Estados, sejam eles influentes ou não, buscam garantir suas 
soberanias e integridades territoriais. 
II. Defender os interesses nacionais e as pessoas, os bens e os recursos. 
Outro item bastante básico no qual há a busca da defesa dos interesses nacionais. Como há múltiplos 
“interesses nacionais”, a sua defesa ocorre de forma pragmática, influenciando e também sendo influenciada 
pelos rumos da política externa e de modo a proteger as pessoas, os bens e os recursos brasileiros no exterior. 
III. Contribuir para a preservação da coesão e da unidade nacionais. 
A “preservação da coesão e da unidade nacionais” é, na prática, “garantir a soberania, o patrimônio nacional e 
a integridade territorial”. Há, portanto, uma grande interface entre os itens I e III. 
IV. Contribuir para a estabilidade regional. 
Por “estabilidade regional”, entende-se que o Brasil busca a estabilidade na América Latina, especialmente na 
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América do Sul, conforme já falamos nas aulas anteriores. 
V. Contribuir para a manutenção da paz e da segurança internacionais. 
Neste item, fica claro que o Brasil se posiciona como um país defensor da paz e da segurança internacionais. 
Historicamente, desde a época da Liga das Nações – e conforme veremos no final da aula – o Brasil tentou 
sempre ter uma postura proativa no sistema internacional. Nos dias atuais, ainda busca a reforma do Conselho 
de Segurança da ONU. 
De acordo com o que vimos no começo da aula, o tema “segurança” é uma preocupação recorrente do 
Itamaraty, desde pelo menos a época de Rio Branco até os dias atuais com a emergência de novos problemas 
após a Guerra Fria como espionagem, por exemplo. 
Além disso, ainda há a ideia de círculos concêntricos que existiam no governo militar e que de certo modo, 
ainda influencia o debate sobre segurança no Brasil. Primeiramente, em uma abordagem local, busca-se 
proteger a nossa soberania, a nossa integridade territorial, a nossas pessoas, os nossos bens, os nossos 
recursos, etc. Em segundo lugar, parte-se para uma abordagem regional, garantindo a paz e a estabilidade na 
América do Sul. Por fim, o Brasil busca a segurança e a paz internacionais. 
VI. Intensificar a projeção do Brasil no concerto das nações e sua maior inserção em processos decisórios 
internacionais. 
26 6 intensificar a projeção do Brasil no concerto das Nações e sua maior inserção em processos decisórios 
internacionais, outro tema aqui que a gente já tratou bastante quando a gente falou em BRICS, quando a 
gente falou em IBAS, quando a gente falou em G20, quando a gente falou sobre CPLP, a gente falou 
basicamente que o Brasil buscava ampliar sua influência no sistema internacional para aumentar sua 
capacidade de indefinição e de participar das discussões que vão configurar vão dar a formatação do sistema 
internacional das instituições internacionais dos regimes internacionais para que o Brasil possa ali de algum 
módulo imprimir os seus valores e imprimir os princípios que eles são caros, dentro dessa nova ordem que de 
algum modo está se formando. 
VII. Manter Forças Armadas modernas, integradas, adestradas e balanceadas, e com crescente 
profissionalização, operando de forma conjunta e adequadamente desdobradas no território nacional. 
Esse item está mais vinculado a politica de defesa do que a política externa. Trata-se de um objetivo antigo do 
Brasil. Podemos lembrar, por exemplo, dos esforços exitosos de Getúlio Vargas para barganhar com os 
Estados Unidos a modernização das forças armadas em troca da participação na Segunda Guerra Mundial. 
VIII. Conscientizar a sociedade brasileira da importância dos assuntos de defesa no país. 
Um dos meios pelos quais essa conscientização ocorre é pelo Livro Branco de Defesa Nacional que, inclusive, é 
traduzido para outros idiomas. Quando um país não se envolve em guerras – como é o caso do Brasil – é 
necessário que a sua população saiba para que servem as forças armadas. Muitas pessoas acham que o 
exército, por exemplo, é um gasto desnecessário para o Brasil, o que não é verdade. 
IX. Desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias 
indispensáveis. 
Para além das questões vinculadas à segurança, é necessário que os setores voltados à defesa nacional se 
preocupem com ciência e tecnologia para que cada vez mais, haja equipamentos e conhecimentos que 
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15garantam a soberania nacional. 
X. Estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotando-as de pessoal e material compatíveis 
com os planejamentos estratégicos e operacionais. 
Um item específico sobre a profissionalização das forças armadas, algo que não interessa tanto à política 
externa. 
XI. Desenvolver o potencial de logística de defesa e de mobilização nacional. 
Outro item vinculado à ideia de melhorar a qualidade das forças armadas; dessa vez, por meio de 
aprimoramentos na logística e na mobilização. 
 
A dimensão da segurança na Política Externa Brasileira 
 Embora seja um tema tradicional para o Itamaraty, a dimensão da segurança na política externa 
caiu poucas vezes no CACD, o que tem mudado de uns anos para cá, com a cobrança de mais assertivas 
nesse assunto. Recentemente, os chanceleres José Serra e Aloysio Nunes têm reforçado a importância da 
segurança para a política externa brasileira, o que reflete diretamente na seleção de diplomatas. Uma 
evidência desse aumento de importância foi o fato do Ministro da Defesa Raul Julgmann – e não alguém 
ligado à área diplomática – ter dado uma das aulas magnas do Instituto Rio Branco. 
Por isso, nesse último item da aula, iremos entender como evoluiu historicamente a dimensão da 
segurança na política externa do Brasil analisando os principais exemplos históricos: a ascensão de Barão 
de Rio Branco à chancelaria, a participação brasileira na Liga das Nações e nas Nações Unidas, a posição 
de Araújo Castro no Discurso 3D e, por fim, a participação brasileira nas missões de paz da ONU. Embora 
sejam temas aparentemente isolados, são os que mais costumam ser cobrados no CACD. A vantagem é 
que já estudamos a maioria desses assuntos. 
Alguns exemplos históricos de preocupação do Brasil com a segurança 
 
Barão de Rio Branco (1902 – 1912) 
Rio Branco resolveu, de forma diplomática, problemas de litígio em várias fronteiras 
brasileiras, evitando que as tensões escalassem para a guerra. 
É de Rio Branco a ideia de que “não é possível ser pacífico sem ser forte”, influenciando o 
poder de dissuasão que até hoje norteia a Defesa Nacional. 
 
Liga das Nações (1919 – 1926) 
Durante muitos anos, o Brasil pleiteou assento permanente no Conselho de Segurança 
da Liga das Nações, mas não obteve sucesso. 
A Liga durou até 1946, mas o Brasil se retirou em 1926 após o conturbado ingresso da 
Alemanha na organização. 
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ONU (1945 aos dias atuais) 
O Brasil quase entrou no Conselho de Segurança da ONU, em 1945, mas foi vetado pelo 
Reino Unido e pela União Soviética. Houve nova discussão em 2007, mas sem sucesso. 
Desde a criação da ONU, entrar no Conselho de Segurança é uma obsessão do Brasil. 
 
Discurso 3D (1963) 
O discurso 3D – desarmamento, descolonização e desenvolvimento – do chanceler de 
João Goulart Araújo Castro (foto) era profundamente vinculado à segurança. 
Para Castro, se grandes potências diminuíssem os gastos com a corrida armamentista, 
sobraria mais dinheiro para investir nos países de terceiro mundo e o mundo seria mais 
seguro. 
 
Missões de paz (1957 aos dias atuais) 
Desde 1957 – após a primeira missão no Egito – o Brasil já participou de dezenas de 
missões de paz, das quais podemos destacar a MINUSTAH no Haiti. 
É uma estratégia brasileira de se mostrar capaz de mediar conflitos e melhorar a sua 
imagem para pleitear reformas no Conselho de Segurança da ONU. 
Ao contrário do que possa parecer, a segurança é um tema tradicional da Política Externa 
Brasileira. No começo da aula vimos, por exemplo, que o Barão do Rio Branco, patrono da nossa 
diplomacia, dava ao assunto uma preocupação prioritária. Diante disso, foi muito bem sucedido em 
negociar e resolver a maioria absoluta dos problemas de fronteiras do país. Pouco tempo depois, o Brasil 
participou ativamente da Liga das Nações – organização criada após a Primeira Guerra Mundial 
objetivando evitar um novo conflito. Desde aquela época, o Brasil procurava se inserir como um Estado 
capaz de discutir os temas de segurança nacional e internacional, projetando-se como uma nação capaz 
de negociar com as grandes potências. 
Devido ao fato da organização ter sido diretamente inspirada nos Quatorze Pontos de Woodrol 
Wilson – o presidente norte-americano da época – havia uma grande expectativa que os Estados Unidos 
participassem da Liga das Nações, o que acabou não ocorrendo. Apesar da boa intenção do chefe do 
executivo, o senado norte-americano rejeitou a participação do país na organização. Diante desse vácuo, 
o Brasil seria o candidato natural a representar as Américas. Em outras aulas, vimos que a Liga das 
Nações era excessivamente eurocêntrica, uma postura criticada pelo Brasil que gostaria de ter mais poder 
na organização. Além disso, e fosse diferente do que conhecemos hoje na ONU, a Liga das Nações 
possuía um Conselho de Segurança e o Brasil sempre tentou participar dele. 
 Na década de 1920, quando a Alemanha entrou na Liga das Nações, já ingressou como membra 
plena do Conselho, irritando o Brasil. Por muito tempo, o Brasil tentou um assento permanente no 
Conselho de Segurança da Liga das Nações e não conseguiu. De uma hora para outra, a Alemanha entrou 
na organização e já ingressou com o tão sonhado assento pleiteado pelo Ministério das Relações 
Exteriores brasileiro. Como se não bastasse, o Brasil vetou a entrada da Alemanha, mas ela ingressou 
na Liga das Nações mesmo assim. Ou seja, a Liga das Nações passou por cima da vontade brasileira, de 
forma ilegal, já que o poder de veto era estendido a todos os membros da Liga. Diante dos episódios de 
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desrespeito, o Brasil se retirou da Liga das Nações, deixando a América sem representantes e 
reforçando o seu caráter eurocêntrico. 
No entanto, mesmo fora da Liga das Nações, o Brasil participou de várias mediações de paz. 
Dois exemplos bem sucedidos que podemos citar é a Guerra do Chaco travada entre Paraguai e Bolívia e a 
Questão de Letícia disputada entre Colômbia e Peru. Em ambos os casos, o Brasil participou como 
mediador, obtendo sucesso em sua atuação. 
Quando as Nações Unidas foram criadas logo após a Segunda Guerra Mundial, o Brasil acreditava 
que sua relação especial com os Estados Unidos lhe garantiria assento no Conselho de Segurança. De 
fato, o presidente Roosevelt era um grande entusiasta do ingresso do parceiro sul-americano que havia lhe 
ajudado no conflito contra o eixo. No entanto, Reino Unido e União Soviética foram contra a 
participação brasileira. Churchill afirmava que o Brasil não tinha poderio militar nem importância 
suficiente para tal. Já Stálin acreditava que o Brasil sempre votaria junto com os Estados Unidos, o que 
traria problemas à União Soviética. 
Mesmo fora do Conselho de Segurança, o Brasil participou da Primeira Força de Emergência das 
Nações Unidas (UNEF-I) (1957 – 1968) realizada pela ONU para conter a crise no Egito. O Ministério da 
Defesa enviou tropas, soldados e demais recursos por dez anos, durante todo o tempo da missão. 
Conforme vimos na Aula 14, a crise foi motivada pela nacionalização do Canal de Suez promovida pelo 
líder Gamal Nasser (1956 – 1970). Como Suez era uma estrutura fundamental para a navegação de 
grandes potências como a França e o Reino Unido, a nacionalização acirrou as tensões na região. 
 
Embora o Brasil não se envolva em guerras, já participou e coordenou dezenas de missões da ONU e da Liga das Nações, possuindo uma 
grande tradição na mediação de conflitos internacionais. Na imagem, símbolos das Forças Armadas Brasileiras. 
Na década de 1960, o Brasil se destacou nas Nações Unidas enfatizando o discurso 3D de Araújo 
Castro: desenvolvimento, descolonizaçãoe desarmamento. Embora não pareça, esses três aspectos estão 
fortemente vinculados à segurança. Na época, o chanceler Araújo Castro defendia que se as grandes 
potências diminuíssem os gastos com a corrida armamentista, sobraria mais dinheiro para investir 
nos países de terceiro mundo. Com mais dinheiro, esses países ficariam menos vulneráveis a 
ideologias subversivas e o mundo seria mais seguro. Esse discurso foi proferido em 1963, um ano após a 
Crise dos Mísseis que quase desencadeou um conflito nuclear na América. Caso se concretizasse, uma 
guerra nuclear obviamente traria muitos prejuízos ao Brasil. 
 
Durante o início do regime militar, no mesmo contexto de acirramento de Guerra Fria, o presidente 
Castelo Branco focou os esforços em segurança. Na época, foi formulada a teoria dos círculos 
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concêntricos. De acordo com esta, o Brasil deveria se preocupar com o seu próprio território; depois, com 
a Bacia do Rio do Prata; depois, com o continente americano; e depois, com o hemisfério ocidental. Ou 
seja, a preocupação em segurança parte do local para o global. 
Nos últimos setenta anos, conforme já mencionado em vários momentos do curso, o Brasil tem 
buscado obsessivamente integrar e reformar o Conselho de Segurança da ONU. Para melhorar sua 
imagem e ampliar suas chances, o Brasil recentemente tem participado de diversas missões de paz – à 
exemplo do de Haiti, Congo e Timor Leste. Embora sejam contribuições “desinteressadas”, estas missões 
engrossam as justificativas para que o Brasil aumente sua participação na ONU. Foi nesse contexto que o 
Brasil exerceu o comando político e militar da Missão das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH) (2004), 
consolidando sua liderança em missões de paz. A missão serviu para restaurar a ordem no Haiti após um 
período de insurgência e a deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide. Neste momento, o Brasil 
tornou-se um player importante para as Nações Unidas; no entanto, ainda não obteve êxito em seus 
objetivos de reformas. 
Principais missões de paz que o Brasil participou/participa [fonte]. 
 
Apesar da missão no Haiti ter sido a mais famosa, de acordo com o site do Itamaraty, “o Brasil já 
participou de mais de 50 operações de paz e missões similares, tendo contribuído com mais de 50 mil 
militares, policiais e civis. O país prioriza a participação em operações em países com os quais mantemos 
laços históricos e culturais mais próximos, como nas missões realizadas em Angola, Moçambique e Timor-
Leste, e, mais recentemente, no Haiti e no Líbano.” Atualmente, de acordo com a instituição, o Brasil 
participa com cerca de 275 efetivos em oito operações de paz das Nações Unidas (dados de fevereiro de 
2019): 
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Operações de paz que o Brasil participa atualmente – fevereiro de 2019. 
UNIFIL (Líbano) 
UNMISS (Sudão do Sul) 
MINURSO (Saara Ocidental) 
MINUSCA (República Centro-Africana) 
MONUSCO (República Democrática do Congo) 
UNAMID (Darfur, Sudão) 
UNFICYP (Chipre) 
UNISFA (Abyei, Sudão) 
Apesar das raríssimas menções na mídia, o Brasil está atualmente participando de oito missões 
de paz, especialmente em países africanos –Saara Ocidental, República Centro-Africana, Congo, Sudão 
do Sul e Sudão. Nesse último país, há duas missões em andamento. No mapa abaixo, extraído de uma 
apresentação do Ministério da Defesa, podemos ver várias missões que o Brasil participa ou participou: 
Perceba que embora a maioria das missões seja concentrada na África, ainda houve, em diferentes 
momentos da história, missões na América Latina, na Europa e na Ásia. No contexto latino-americano, 
houve participação brasileira em missões na Guatemala (ONU), em El Salvador (ONU), na Nicarágua 
(ONU) no Equador/Peru (OEA) e na República Dominicana (OEA). Embora não esteja citado no mapa 
(na apresentação original, aparece em outra seção), ainda há a missão no Haiti (ONU), considerada uma das 
mais importantes que o Brasil já participou. 
 
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