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Política Internacional: Desenvolvimento, Meio Ambiente e Direitos Humanos

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Aula 26
Política Internacional p/ CACD
(Diplomata) Primeira Fase - Com
Videoaulas - Pós-Edital
Autor:
Alexandre Vastella
Aula 26
9 de Agosto de 2020
 
 
 
Aula 27 - Política Internacional - Desenvolvimento sustentável, meio ambiente e direitos humanos 
Introdução ao PDF ................................................................................................................................. 2 
Desenvolvimento .................................................................................................................................... 3 
Desenvolvimento e política externa no Brasil ........................................................................................... 3 
Histórico do desenvolvimento no Brasil e no mundo ................................................................................ 3 
Décadas de 1930 e 1940 – Alinhamento negociado de Vargas: industrialização e desenvolvimento..... 4 
Década de 1950 – Desenvolvimento associado de JK: OPA e ALALC .................................................... 6 
Década de 1960 – Década do desenvolvimento na ONU, universalismo no Brasil ................................ 7 
Década de 1990 – Pós-Guerra Fria: década social da ONU e nova abordagem para desenvolvimento 11 
Século XXI – A ONU aprofunda o desenvolvimento, periféricos apostam na articulação Sul-Sul. ....... 14 
A ONU e o desenvolvimento................................................................................................................... 18 
Direitos Humanos ................................................................................................................................. 22 
Histórico dos direitos humanos .............................................................................................................. 22 
Direitos humanos – Evolução geral dos debates ................................................................................. 23 
Final do século XVIII – Introdução dos direitos negativos: vida, liberdade e propriedade .................... 24 
Século XIX – Introdução da democracia, mas sufrágio não era universal ............................................ 25 
Início do século XX – Introdução dos direitos positivos: econômicos, sociais e culturais ..................... 25 
Final do século XX – Direitos de terceira geração: garantidos pela comunidade internacional ............ 26 
Décadas de 1960 e 1970 – Aumento do protagonismo da ONU e documentos importantes ............... 27 
Década de 1980 em diante – Aprofundamento das discussões na ONU ............................................. 31 
Conferências sobre Direitos Humanos .................................................................................................... 33 
O Brasil e os Direitos Humanos ............................................................................................................... 34 
Meio Ambiente ...................................................................................................................................... 37 
Emergência da temática ambiental na ONU – discussões e conferências ............................................... 37 
Conferência da ONU para Conservação e Utilização dos Recursos (1949) .......................................... 39 
Conferência da Biosfera (1968) ........................................................................................................... 40 
Conferência de Ramsar (1971) ............................................................................................................. 41 
Conferências de Belgrado (1975) e Tbilisi (1977) .................................................................................. 42 
Conferência de Estocolmo para o Meio Ambiente Humano (1972) ......................................................... 42 
Estocolmo 1972 – Antecedentes: ECOSOC e Clube de Roma.............................................................. 43 
Estocolmo 1972 – Discussões: ecodesenvolvimento e sociedade civil ................................................. 43 
Estocolmo 1972 – Poluição Atmosférica ............................................................................................. 46 
Estocolmo 1972 – População versus recursos naturais ........................................................................ 47 
Alexandre Vastella
Aula 26
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2 
 
Estocolmo 1972 – Debate entre zeristas e desenvolvimentistas ......................................................... 48 
Estocolmo 1972 – Planos de Ações ...................................................................................................... 49 
Temática ambiental na ONU – discussões e conferências pós-Estocolmo .............................................. 49 
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) ......................................................... 50 
Reflexos do PNUMA no Brasil e no mundo ......................................................................................... 51 
Convenção de Viena (1985) e Protocolo de Montreal (1987) ............................................................... 52 
Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) (1992) ................ 54 
Eco-1992 – Antecedentes: caminho para o desenvolvimento sustentável .......................................... 54 
Eco-1992 – Objetivos e contexto ......................................................................................................... 55 
Eco 1992 – Documentos vinculantes e não-vinculantes ...................................................................... 56 
Breve resumo das conferências da ONU – 1949 a 1992 ....................................................................... 58 
As Convenções-Quadro e suas principais discussões .............................................................................. 59 
Convenção-Quadro da Biodiversidade ................................................................................................ 59 
Convenção-Quadro de Mudanças Climáticas ...................................................................................... 61 
Conferências das Partes (COP) – Protocolo de Kyoto (1997) e Acordo de Paris (2015) ........................ 62 
Segurança ambiental e desenvolvimento sustentável ............................................................................ 65 
 
 
 
INTRODUÇÃO AO PDF 
 Na aula de hoje, estudaremos três temas do Edital: desenvolvimento (Item 16.2); meio ambiente 
(Item 16.4); e direitos humanos (Item 16.5). No primeiro caso, estudaremos as mudanças ocorridas na 
pauta de desenvolvimento tanto na política externa brasileira quanto no sistema internacional. Na 
questão ambiental, estudaremos os principais tratados, acordos e conferências; bem como as motivações 
das evoluções das mentalidades climática e ambiental. Em relação aos direitos humanos, faremos um 
histórico geral dos debates, também introduzindo conceitos e processos históricos importantes. Em todos 
os casos, destacaremos o papel das Nações Unidas e a relação desses temas com a política externa 
brasileira. 
 
 
 
Alexandre Vastella
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3 
 
DESENVOLVIMENTO 
 Primeiramente, falaremos sobre desenvolvimento. Embora seja um tema abrangente, vocês terão 
relativa facilidade em compreendê-lo, pois muitos dos aspectos envolvidos já foram estudados em outras 
aulas. Neste item, veremos: a relação entre desenvolvimento e política externa no Brasil, o histórico do 
desenvolvimento no Brasil e no mundo e, por fim, a relação entre ONU e desenvolvimento. 
Desenvolvimento e política externa no Brasil 
No Brasil, o tema desenvolvimento só foi ser incluído na política externa brasileira a partirda 
década de 1930, com o final da República Velha e início da Era Vargas. Durante o Estado Novo, houve 
maior ênfase nas demandas da população que, nesse período, abandonava o campo e ia para as cidades. 
Também havia demandas de investidores buscando oportunidades dentro desse novo contexto urbano. 
Adotando um viés nacional-desenvolvimentista – ou seja, capitaneado pelo Estado – Vargas procurou 
utilizar a política externa para, por exemplo, fomentar a indústria nacional e modernizar as forças 
armadas. 
Mais tarde, após a Política Externa Independente, já na década de 1960, o desenvolvimento 
ganhou um novo contorno. Dessa vez, em contexto de diversificação de parcerias, o Brasil passou se 
preocupar com o desenvolvimento dos países terceiro-mundistas como se fosse o seu próprio. Ou seja, 
ao invés batalhar pelo desenvolvimento de forma isolada, procurou fazer isso junto com outros países que 
também passassem pelas mesmas dificuldades. A partir dessa época, em uma tendência que se 
consolidou, de forma verdadeiramente efetiva, na virada do século XXI, o Brasil passou a focar nas 
cooperações Sul-Sul como um dos vetores de desenvolvimento. 
 Retomando as fases das relações exteriores no Brasil 
Período Início e fim Características 
Primeira fase 
(1500 – 1902) 
Início do descobrimento do Brasil até a 
chegada de Barão de Rio Branco à 
chancelaria. 
Subordinação unilateral ao capitalismo 
mediterrâneo e norte-atlântico. 
Segunda fase 
(1902 – 1961) 
De Barão de Rio Branco até o início do 
mandato presidencial de Jânio Quadros. 
Unilateralidade durante a hegemonia 
norte-americana. 
Terceira fase 
(1961 – 2018) 
De Jânio Quadros aos dias atuais. Multilateralidade na fase de crise de 
hegemonia no sistema internacional 
 
Histórico do desenvolvimento no Brasil e no mundo 
Para contextualizarmos melhor essas mudanças, vamos relembrar as fases de autonomia do Brasil. 
Depois dessa breve revisão, faremos um longo histórico do tema desenvolvimento no Brasil e no mundo: 
Autonomia na A autonomia na dependência estava ligada ao americanismo. Nessa época, que durou 
toda a primeira metade do século XX, o Brasil tinha uma relação de grande 
Alexandre Vastella
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4 
 
dependência 
Dependência dos 
Estados Unidos 
Primeira metade 
do século XX 
dependência com os Estados Unidos. E, com base nisso, procurava agir no sistema 
internacional de acordo com as poucas brechas que existam. 
Por meio da dependência com os Estados Unidos, o Brasil procurou obter ganhos em 
termos de desenvolvimento. Destacam-se, principalmente, as demandas feitas por 
Getúlio Vargas durante a Segunda Guerra Mundial. 
Dutra, Kubitscheck e o próprio Vargas em retorno democrático tentaram repetir os 
êxitos obtidos durante o conflito, mas com menos sucesso. Esses fracassos levaram 
ao universalismo. 
Autonomia pela 
distância 
Distância dos 
regimes 
internacionais 
Regime militar 
No período militar, houve o distanciamento dos regimes internacionais de meio 
ambiente, direitos humanos, desarmamento, entre outros. Nessa época, o Brasil 
entendia que se mantendo afastado, teria maior soberania. 
Do mesmo modo, houve aproximação dos países periféricos que demandavam uma 
série de reformas e projetos de desenvolvimento. O Brasil rompeu a dependência que 
tinha com os Estados Unidos – na verdade, antes mesmo do regime militar, já com 
Jânio Quadros, mas essa nova estratégia foi aprofundada. 
Autonomia pela 
participação 
Participação dos 
regimes 
internacionais 
Redemocratização 
Com a redemocratização, o Brasil mudou sua postura. Se antes, entendia que o 
afastamento gerava autonomia, passou a acreditar que, na verdade, a participação 
gerava autonomia. 
Nesse contexto, houve o início do processo de renovação de credenciais iniciado por 
Sarney e mantido por Collor, Itamar e FHC. 
Do ponto de vista do desenvolvimento, houve maior busca pela inserção econômica 
nas cadeias globais de produção, tornando o Brasil competitivo face à globalização. 
Autonomia pela 
diversificação 
Diversificação e 
adensamento de 
parcerias 
Século XXI 
Na virada do século, entre os governos FHC e Lula, houve a diversificação de 
parceiras. É verdade que isso estava acontecendo desde a década de 1960, mas nesse 
momento houve um adensamento inédito nas relações. 
O Brasil, definitivamente, se posicionou como um país solidário, interessado nas 
cooperações Sul-Sul e nas relações bilaterais de modo geral. Havia, portanto, a ideia 
de que ajudando países em estágios diferentes de desenvolvimento, o Brasil também 
conseguiria se desenvolver. 
 
Décadas de 1930 e 1940 – Alinhamento negociado de Vargas: industrialização e 
desenvolvimento 
Desenvolvimento – Décadas de 1930 e 1940 
Estado Novo 
Segunda Guerra 
Mundial 
No Brasil, conforme já ressaltamos, o desenvolvimento apareceu na política 
externa a partir dos anos 1930 com a chegada de Vargas ao poder. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, já na década de 1940, Vargas fez um jogo duplo, 
uma equidistância pragmática em relação ao conflito, mantendo a ambiguidade na 
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aproximação. 
Em troca de financiamentos na indústria e nas forças armadas, Vargas tomou 
partido dos aliados, se unindo aos Estados Unidos. 
Companhia 
Siderúrgica Nacional 
(Eximbank) 
Um dos principais frutos da parceria com os Estados Unidos na Segunda Guerra 
Mundial foi o financiamento da Companhia Siderúrgica Nacional pelo banco norte-
americano Eximbank. Nessa época, havia uma grande demanda, por parte do Brasil, 
de indústrias de base. 
 
Companhia Siderúrgica Nacional, construída nos anos 1950, fruto do alinhamento negociado de Vargas. 
Anteriormente: 
Barão de Rio Branco 
– aliança não escrita 
Vargas – alinhamento 
negociado 
Dutra e Vargas 
(democrático) não 
conseguiram êxito no 
alinhamento 
negociado. 
Na época de Barão de Rio Branco, antes de Vargas, o Brasil possuía uma aliança não 
escrita com os Estados Unidos. Sendo entusiasta da Doutrina Monroe, Rio Branco 
conseguiu resolver a maioria dos litígios de fronteira do Brasil. Nessa época, portanto, 
ter os Estados Unidos como parceiro principal era muito vantajoso. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, Vargas, na sua postura de equidistância, rompeu 
essa aliança não escrita, pois havia a incerteza de que a qualquer momento poderia ir 
para o lado do eixo. 
Ao entrar no conflito ao lado dos aliados, Vargas promoveu o alinhamento 
negociado. Ou seja, o alinhamento mediante vantagens claras de desenvolvimento. 
Mesmo com essa nova postura, continuou ser vantajoso ter os Estados Unidos como 
aliados principais. 
No entanto, o alinhamento negociado não obteve êxito nos governos posteriores. 
Dutra, na posição de americanista ideológico, não conseguiu barganhar as demandas 
que esperava com os Estados Unidos. No governo democrático de Vargas, houve a 
tentativa de repetir o alinhamento negociado, desta vez, chantageando os Estados 
Unidos com medidas nacionalistas. 
Desenvolvimento – Década de 1940 
Criação da CEPAL - 
Comissão Econômica 
para a América Latina 
Embora o alinhamento negociado não tenha surtido os efeitos esperados pelo Brasil, 
houve alguns resultados importantes. Entre os principais, podemos mencionar a 
criação da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL), em 1948. 
Alexandre Vastella
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6 
 
e o Caribe (1948) Conforme veremos adiante, esse órgão teve um papel importante nas ideias 
nacionais-desenvolvimentistas que nortearam a economia do Brasil. 
Criação do BIRD - 
Banco Internacional 
de Reconstrução e 
Desenvolvimento 
Reconstrução daEuropa dos anos 1940 
aos 1950 
Nesse período, também houve a criação do Banco Internacional de Reconstrução e 
Desenvolvimento (BIRD) depois incorporado ao Banco Mundial. Nas décadas de 
1940 e 1950, o BIRD teve um grande papel na reconstrução da Europa do pós-guerra. 
Nas décadas seguintes, já com o continente restaurado, o Banco passou a financiar 
projetos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. 
 
Década de 1950 – Desenvolvimento associado de JK: OPA e ALALC 
Desenvolvimento – Década de 1950 
 
Como frutos da Operação Pan Americana (OPA), surgiram a ALALC e o BID; contudo, medidas decepcionaram JK, que esperava uma ação 
mais incisiva dos Estados Unidos para a América Latina. 
Desenvolvimento 
associado 
Com a chegada de Juscelino Kubitscheck à presidência, houve a transição do modelo 
de alinhamento negociado para o modelo de desenvolvimento associado. 
Trata-se da ideia de que o Brasil continuaria adotando os Estados Unidos como 
parceiro principal, mas ao mesmo tempo, buscaria o desenvolvimento por outros 
mecanismos que não dependessem dos Estados Unidos. Nesse contexto, JK buscou 
diversificar parceiras e criar instituições de desenvolvimento no país. 
Juscelino Kubitcheck 
1958: Operação Pan-
Americana (OPA) 
Binômio Segurança-
Desenvolvimento 
Uma das estratégias de JK foi associar a segurança ao desenvolvimento por meio da 
Operação Pan-Americana (OPA), uma proposta de Plano Marshall para a América 
Latina endereçada aos Estados Unidos. 
Kubitscheck argumentava que caso os países da América Latina tivessem maior 
desenvolvimento, ficariam menos tentados a ideologias excêntricas, especialmente 
ao comunismo e, portanto, teriam mais segurança. Ou seja, quanto mais 
desenvolvido, mais seguro. 
Apesar dos esforços, a OPA acabou fracassando, abrindo caminhos para o 
universalismo na década de 1960. 
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7 
 
1955: Instituto 
Superior de Estudos 
Brasileiros (ISEB) 
Em 1955, foi criado o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), um órgão 
altamente influenciado pelos ideais nacionais-desenvolvimentistas da CEPAL. 
O ISEB ajudou a promover a ideia de que o Brasil precisava de uma indústria forte 
impulsionada pela substituição de importações e por estímulos por parte do Estado. 
Comitê dos 21 Nesse período, houve o lançamento do Comitê dos 21, um grupo de 21 países para 
discutir questões ligadas ao desenvolvimento latino-americano. No entanto, o grupo 
encontrou poucos resultados práticos. 
BID - Banco 
Interamericano de 
Desenvolvimento 
Ainda nos anos 1950, houve o lançamento do Banco Interamericano de 
Desenvolvimento (BIRD). Cuidado para não confundir com Banco Internacional de 
Reconstrução e Desenvolvimento, cuja sigla também é BIRD. 
Um dos principais objetivos do BIRD interamericano é promoção do 
desenvolvimento não somente no Brasil, mas em todos os países da região. 
ALALC - Associação 
Latino-Americana de 
Livre Comércio 
Proposta dos EUA 
Não agradou os 
países da região. 
Como um dos frutos das reivindicações de JK frente aos Estados Unidos, surgiu a 
Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), um grupo fomentado 
por Washington para promover o desenvolvimento da região. 
No entanto, não era exatamente o que o Brasil queria. Além disso, a iniciativa gerou 
desconfiança dos vizinhos, pois o Brasil se tornaria interlocutor privilegiado frente 
aos Estados Unidos, um privilégio que os países menores não tinham. Portanto, a 
ALALC não agradou nem ao Brasil e nem aos demais países da região. 
Nessa época, os Estados Unidos estavam muito mais focados na Ásia, onde os 
conflitos da Guerra Fria eram mais urgentes, deixando a América de lado. Aqui no 
Brasil, por outro lado, JK recrudescia medidas nacionalistas como, por exemplo, a 
taxação de remessas internacionais e o rompimento com o FMI. 
Na década de 1960, após a Revolução Cubana e a chegada de Kennedy ao poder, 
houve maior atenção à América Latina, no entanto, o Brasil já havia adotado o 
universalismo. 
 
Década de 1960 – Década do desenvolvimento na ONU, universalismo no Brasil 
Desenvolvimento – Década de 1960 
Década do Desenvolvimento 
Política Externa 
Independente (PEI) 
Universalismo 
Desenvolvimento doméstico 
para desenvolvimento 
sistêmico 
Brasil, em contexto de PEI, 
passa a se identificar com as 
A década de 1960 foi um período de mudanças tanto na política externa 
brasileira quanto no cenário internacional. Com a chegada de Jânio Quadros 
ao governo, teve início a Política Externa Independente (PEI) com o Brasil 
procurando novas parcerias e se projetando com mais ênfase aos países que 
até então, não tinha relacionamento. 
Inclusive, quando Kennedy chegou à presidência dos Estados Unidos, em 
contexto pós-Revolução Cubana, finalmente houve maior preocupação de 
Washington com a América Latina. No entanto, nessa época o Brasil já 
estava diversificando parcerias. Houve um desencontro, portanto. 
Para essa aula, o importante é entender que entre os governos de Vargas e 
Alexandre Vastella
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8 
 
demandas do Sul global. de JK, o desenvolvimento foi pensado de maneira doméstica. No entanto, 
após os anos 1960, o Brasil passou a demandar não somente o 
desenvolvimento de seu país, mas também, o desenvolvimento global, 
sobretudo dos países periféricos. A partir de então, houve a substituição de 
uma visão doméstica de desenvolvimento para uma visão sistêmica. E essa 
mudança de postura é fundamental para entendermos o contexto da política 
externa brasileira a partir de então. 
Juntamente a essa mudança de rumos no Brasil, o mundo passou a olhar 
mais para questões de desenvolvimento: por isso, a década de 1960 ficou 
conhecida como “década do desenvolvimento”. Nesse período, o mundo 
estava se descolonizando, havia países recém-formados tentando se 
emancipar, havia conferências da ONU sobre desenvolvimento – como, por 
exemplo, a UNCTAD – e no geral, os países periféricos começaram a se 
articular em prol de suas demandas no sistema internacional. Houve, 
portanto, um encontro muito claro entre as mudanças ocorridas em 
contexto brasileiro e em contexto mundial. 
Portanto, o Brasil, em contexto de Política Externa Independente, passou se 
aliar a esses países periféricos para pressionar os países do Norte e as 
Nações Unidas a promoverem maior desenvolvimento do Sul global. 
então a gente vai ver que o Brasil começa a caminhar que não apenas para 
esse modelo universalista, não apenas para se diversificação a essas parcerias 
mais também uma visão muito mais coletivo uma visão muito mais 
sistêmica do desenvolvimento. 
Discurso dos 3D - 
Desenvolvimento, 
Desarmamento, 
Descolonização. 
Foi no contexto de “década do desenvolvimento” que ocorreu o famoso 
discurso 3D de Araújo Castro que vinculava desenvolvimento, 
desarmamento e descolonização. Basicamente, tratava-se da defesa do 
desarmamento em termos nucleares – ainda que o Brasil fosse rever essa 
postura no final da década com a rejeição ao TNP; a descolonização da 
África e da Ásia e, consequentemente, o maior desenvolvimento dessas 
regiões. 
Conforme vimos nas aulas anteriores, Castro enfatizou a ideia de que o 
dinheiro utilizado para desenvolver armas nucleares deveria ser destinado 
ao desenvolvimento dos países periféricos; o que, evidentemente, 
beneficiaria o Brasil. 
Engajamento multilateral Todo esse contexto acabou contribuindo para maior engajamento 
multilateral do Brasil no tema desenvolvimento. 
Ou seja, reforçando a ideia de que o Brasil passou a encarar o 
desenvolvimento de forma sistêmica e não somente doméstica. Ao invés 
de somente procurar seu próprio desenvolvimento, passou a se articular com 
os demais países do Sul e demandar o desenvolvimentoglobal e coletivo. 
Alexandre Vastella
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9 
 
 
Na década de 1960, houve uma grande convergência dos interesses do Brasil com o cenário global, favorável ao aumento da discussão 
sobre desenvolvimento, principalmente do terceiro mundo. 
1964: UNCTAD - Conferência 
das Nações Unidas sobre 
Comércio e Desenvolvimento 
– Vínculo entre comércio e 
desenvolvimento 
– Princípio da não 
reciprocidade. 
Um dos principais marcos da “década do desenvolvimento” foi a Conferência 
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) 
realizada em 1964 e, posteriormente, em 1968 em nova edição. 
Na ocasião, o Brasil reforçou a ideia de que o comércio não é apenas 
realização de trocas, mas também, um instrumento de desenvolvimento. 
Ou seja, o livre comércio deveria considerar as assimetrias entre os países 
centrais e periféricos, dando maiores condições aos países periféricos de 
concorrerem em igualdade. 
Diante dessas reivindicações, o Brasil e os demais periféricos defenderam o 
princípio da não-reciprocidade. Até esse momento, havia a ideia de que 
vantagens comerciais cedidas a um país deveriam ser recíprocas. Por 
exemplo, se os Estados Unidos oferecessem a abertura comercial de um 
setor ao Brasil, o Brasil deveria, em tom de reciprocidade, promover 
aberturas também. A partir da UNCTAD, os periféricos passaram a defender 
que isso não era mais necessário. Segundo essa visão, os países em 
desenvolvimento não necessariamente precisariam reciprocar as ações 
dos desenvolvidos, afinal, estavam em condições de desvantagem. 
1965 - PNUD - Programa das 
Nações Unidas para o 
Desenvolvimento 
Outro fato importante foi a criação do Programa das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento (PNUD), estabelecido um ano após as discussões na 
UNCTAD. 
No âmbito do PNUD, por meio de um cronograma de ações práticas, foram 
estabelecidas diversas medidas de desenvolvimento dos países periféricos 
que, de certa forma, tiveram parte de suas demandas atendidas. 
1968 - II UNCTAD 
– G77 
Quatro anos depois da primeira edição, houve a II Conferência das Nações 
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) (1968). Na ocasião, 
Brasil e Índia se firmaram como líderes dos países periféricos, fortalecendo 
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10 
 
– Sistema geral de 
preferências; lista de países, 
inicialmente, depois na 
década de 70 da SGC. 
ainda mais suas posições. Foi nesse momento que surgiu o G-77, o grupo dos 
77 países em desenvolvimento que passou a reivindicar suas demandas não 
somente na ONU, mas em outras instâncias como o GATT, por exemplo. 
Também foi estabelecido o sistema geral de preferências, criando uma lista 
de países em desenvolvimento com condições especiais de comércio. Ou 
seja, o reconhecimento de que esses Estados precisam ser tratados de modo 
a corrigir as assimetrias no sistema internacional, beneficiando sempre o 
menos favorecido. 
 
Década de 1970 – Os periféricos aumentam a demanda por desenvolvimento 
Década de 1970 
 
Na década de 1970, houve grande crescimento dos periféricos – inclusive do Brasil – que passaram a demandar maior desenvolvimento. 
Na imagem, propaganda ufanista do governo militar, durante o milagre brasileiro. 
Crescimento dos 
periféricos 
G-24 
Blue Books e Nova 
Ordem Econômica 
Internacional (NOEI) 
Na década de 1970, conforme vimos em aulas anteriores, os países periféricos 
estavam em um bom momento econômico. Diante desse bom cenário, tiveram 
mais força para demandar suas pautas no sistema internacional. 
Foi nessa época que foi formado o G-24 com oito países latino-americanos, oito 
africanos e oito asiáticos; grupo responsável pelo Blue Books e pela proposição de 
uma Nova Ordem Econômica Internacional. Basicamente, essa nova ordem sugeria 
uma ordem mais equilibrada, mais simétrica com os periféricos. 
Substituição de 
importações 
Cooperações técnicas 
entre desenvolvidos e 
subdesenvolvidos 
Nessa época, os países em desenvolvimento aplicavam principalmente o nacional-
desenvolvimentismo e a substituição de importações. Ou seja, a ideia de que o 
Estado deve fomentar a indústria, o desenvolvimento e o crescimento econômico por 
meio do aumento da produção interna e da consequente diminuição de importações, 
diminuindo a dependência externa. 
Aumento da 
cooperação entre 
desenvolvidos e 
Havia também a ideia de que os países desenvolvidos deveriam ser solidários e 
deveriam realizar cooperações técnicas com os periféricos. No entanto, essas 
medidas foram pouco atendidas. Isso só foi ocorrer, de fato, a partir de 2008 com a 
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subdesenvolvidos eclosão da crise global, quando os periféricos ganharam novo impulso. 
 
Década de 1980 – Desenvolvimento é congelado pela crise nos periféricos 
Desenvolvimento – Década de 1980 
Década perdida 
Declínio do terceiro-
mundismo 
Na década de 1980, houve pouca ou nenhuma novidade em termos de 
desenvolvimento. Conforme já estudamos, foi uma época em que os países 
periféricos estavam preocupados demais com suas situações econômicas, 
literalmente garantindo suas sobrevivências. No Brasil, por exemplo, houve a “década 
perdida” com hiperinflação e moratória da dívida. 
É verdade que nesse período o Brasil adensou as relações, tanto com o mundo 
periférico quanto com os países desenvolvidos – afinal, tratava-se de uma época de 
renovação de credenciais. No entanto, pelo menos durante os anos 1980, essas 
iniciativas políticas, em sua maioria, não se traduziram em resultados econômicos 
para o país. Os resultados só começaram a ocorrer nos anos 1990. 
 
Década de 1990 – Pós-Guerra Fria: década social da ONU e nova abordagem para 
desenvolvimento 
Desenvolvimento – Década de 1990 
 
Secretários Boutros Ghali (1992 – 1997) e Kofi Annan (1997 – 2007) mudaram a percepção de desenvolvimento na ONU que não mais seria 
meramente econômico, porém, baseado na qualidade de vida das populações. 
Autonomismo para 
credibilismo. 
Na década de 1990, diante do contexto doméstico de dança de paradigmas e do 
contexto internacional de pós-guerra fria, houve no Brasil a mudança do modelo 
autonomista para o modelo credibilista. 
Isso significa que o Brasil abandonou a sua postura de autonomia pela distância – 
adotada largamente durante o governo militar, e passou a promover a autonomia 
pela participação. Em termos práticos, passou a participar mais ativamente dos 
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regimes internacionais e promover maior credibilidade construindo uma imagem 
mais positiva em termos políticos; tentando, portanto, superar a imagem negativa do 
antigo regime militar. 
Prioridade: inserção 
competitiva 
Políticas econômicas: 
– Abertura comercial 
– Controle da inflação 
– Privatização 
– MERCOSUL 
Na década de 1990, a prioridade do Brasil foi a inserção competitiva na economia 
internacional, reformulando seu sistema produtivo para atender às cadeias de 
produção global e ao Consenso de Washington. Embora o liberalismo, de fato, não 
tivesse sido plenamente aplicado, houve algumas medidas liberais como abertura 
comercial, controle da inflação e privatizações. 
Conforme já estudamos, essas mudanças não ocorreram por motivos ideológicos, 
mas sim porque, naquele momento, era a única forma possível de crescimento 
econômico. Não quer dizer que Collor, Itamar o FHC eram realmente simpáticos ao 
liberalismo, mas que apenas desejavam inserir o Brasil nas cadeias de produção 
globais.Do ponto de vista regional, o desenvolvimento também passou a ser buscado via 
Mercosul, um bloco recém-criado para justamente obter mais força entre os países 
vizinhos para a inserção econômica global. 
Década social da 
ONU: "Agenda 
Social" - origina a 
década das 
conferências 
No âmbito da ONU, diante do otimismo do pós-Guerra Fria, houve a chamada 
década das conferências; ou, a década social da ONU, com a adoção de uma agenda 
de desenvolvimento em diversos temas – meio ambiente, migrações, direitos 
humanos, desarmamento, direito das mulheres e das crianças, etc. 
Foi nesse contexto que o Brasil sediou a Rio 1992 e que Boutros Ghali, o Secretário 
Geral, defendeu a Agenda para a Paz. 
1992: Agenda para a 
Paz (Secretário Geral 
da ONU Boutros 
Ghali). 
Na década de 1990, as Nações Unidas passaram a entender o desenvolvimento não 
somente como uma questão meramente econômica, mas também, englobando a 
qualidade de vida das populações. 
Sendo assim, ficou definido que o desenvolvimento era mais do que econômico, era 
social, humano e sustentável também. 
Diante desse contexto, o Secretário Geral Boutros Ghali escreveu a Agenda para a 
Paz, um documento que justamente introduzia essas novas ideias no âmbito da ONU. 
Para Ghali, o foco da 
ONU não deveria ser 
os Estados e sim os 
indivíduos. 
Para Ghali, ao invés dos Estados, o foco da ONU deveria ser os indivíduos. 
Portanto, houve a introdução de novas ideias como, por exemplo, a segurança 
humana e a soberania individual. 
Os conflitos 
mudaram de 
interestatal para 
intraestatal. 
Na verdade, o próprio cenário internacional possibilitou essas mudanças. Após o final 
da Guerra Fria, com o consequente esfriamento das polaridades, os conflitos 
passaram a ocorrer, de forma mais intensa, de forma intraestatal – ao invés do 
interestatal. Ou seja, passaram a ocorrer mais dentro dos Estados do que entre os 
Estados. 
Sendo assim, era preciso que a ONU se atualizasse, buscando entender não somente 
a relação entre os Estados, mas também, as relações intraestatais que ocorriam 
entre comunidades e grupos antagônicos. 
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1995: Conferência da 
ONU sobre 
desenvolvimento 
humano 
(Copenhague) 
Diante dessa nova postura, a ONU promoveu a chamada década das conferências, 
entre elas, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Humano 
(1995) realizada em Copenhague, Dinamarca. 
Nesta ocasião, ficou justamente definido que o desenvolvimento, para além de uma 
questão meramente econômica, também estava ligado aos direitos humanos e à 
qualidade de vida. 
Agenda para 
desenvolvimento 
com a inclusão de 
grupos sociais 
marginalizados 
Ainda nesse contexto, a Agenda para o Desenvolvimento da ONU promovia a 
inclusão de grupos sociais considerados marginalizados, com o objetivo principal de 
combater a pobreza e a miséria. Havia também, políticas de adoção de empregos 
formais. 
1997: BIRD – World 
Development Report 
– Estado: indutor do 
desenvolvimento 
– Estados têm que 
aprender a gastar 
No final da década de 1990, foi escrito o World Development Report, um relatório do 
Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento que introduziu a ideia de 
que o Estado deveria ser o indutor do desenvolvimento; não no sentido tradicional 
nacional-desenvolvimentista, mas no sentido de que o Estado deveria “aprender a 
gastar”. Ou seja, promover políticas de bem estar social e programas sociais que 
realmente importassem. 
Kofi Annan: paz e 
desenvolvimetno e 
direitos humanos são 
indissociáveis 
Kofi Annan, o sucessor de Boutros Ghali, seguiu as linhas-mestras de seu antecessor, 
insistindo na ideia de que desenvolvimento está ligado aos direitos humanos, indo 
além da concepção tradicional que englobava somente desenvolvimento econômico. 
 
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) 
 
Criado na década de 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) se insere nessa nova lógica de que “desenvolvimento” deve estar 
atrelado a direitos humanos e indicadores sociais. No mapa, dados para 2018 – quanto mais fria a cor, mais desenvolvido um país é. 
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ONU propõe uma 
nova abordagem do 
desenvolvimento 
– Desenvolvimento, 
direitos humanos e 
temas sociais. 
– Índice de 
Desenvolvimento 
Humano (IDH) 
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) seguiu 
justamente essas novas orientações, promovendo o desenvolvimento em temas 
sociais e humanos. 
A iniciativa mais famosa foi o estabelecimento do Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH) que mede a qualidade de vida dos países com base em educação 
(taxas de alfabetização e escolarização), renda (PIB per capita) e saúde (expectativa 
de vida). 
Desenvolvimento 
Sustentável (1987) 
– Meio ambiente 
– Economia 
– Social 
Essas intensas reformulações do conceito de desenvolvimento naturalmente levaram 
à ideia de desenvolvimento sustentável – um termo que apareceu no final dos anos 
1980 e ganhou projeção nos anos 1990, sobretudo após a Rio 1992. 
Basicamente, o desenvolvimento sustentável prega que o desenvolvimento deve 
ocorrer em três pilares desenvolvimento ambiental, desenvolvimento econômico e 
desenvolvimento social, de forma que os recursos naturais utilizados não 
comprometam as gerações futuras. 
Essa mudança de paradigma foi fundamental para a maior preocupação dos países 
com o meio ambiente. Até então, países periféricos como, por exemplo, o Brasil, 
acreditavam que os países pobres precisavam primeiro buscar o crescimento 
econômico e depois, caso se desenvolvessem, buscariam preservar o restante do 
meio ambiente que tivesse sobrado. 
Para esses países, o subdesenvolvimento levaria à degradação ambiental, pois os 
países primeiro buscariam se desenvolver e depois, preservar o meio ambiente. 
No entanto, a partir do estabelecimento do conceito de desenvolvimento sustentável, 
ficou claro – tanto para os países desenvolvidos quanto para o subdesenvolvidos – de 
que o desenvolvimento poderia harmonizar economia, meio ambiente e questões 
sociais; e que, portanto, não eram aspectos antagônicos como até então se pensava. 
 
Século XXI – A ONU aprofunda o desenvolvimento, periféricos apostam na articulação 
Sul-Sul. 
Década de 2000 
2000 – Cúpula de 
Nova York: Metas do 
Milênio – 2015 
Grande aceitação: 
– Metas mensuráveis, 
possíveis e com prazo 
definido. 
Na virada do século, prosseguindo as tendências de reformas, ocorreram novas 
mudanças. A principal delas foi o estabelecimento das Metas do Milênio, aprovadas 
na Cúpula de Nova York (2000). 
Foram estabelecidas metas que deveriam ser alcançadas até 2015 em diversos 
assuntos – pobreza, educação, saúde, etc. Apesar de ambiciosas, as metas do milênio 
tiveram grande aceitação por para dos Estados, justamente porque eram 
mensuráveis – tinham prazos objetivos, números objetivos e, portanto, metas 
objetivas. 
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Agenda 2030 Em 2015, os países da ONU aprovaram o documento “Transformando o Nosso 
Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, no qual os países 
comprometeram-se com o desenvolvimento sustentável nos próximos 15 anos, até 
2030. 
As metas são bastante claras e tangíveis e englobam uma série de temas – combate a 
pobreza, educação, igualdade de gênero, mortalidade infantil, saúde materna, 
combate ao HIV, sustentabilidade ambiental, entre outros. 
Metas do Milênio – 2015 
 
– Erradicar a miséria e a fome 
– Educação primária universal 
– Igualdade de direito de participação entre homens e 
mulheres 
– Reduzir em2/3 a mortalidade infantil (até 5 anos de 
idade) 
 
– Reduzir em 3/4 a mortalidade materna (durante o 
parto) 
– Reduzir/interromper a propagação de doenças 
infecciosas, malária, tuberculose e AIDS. 
– Necessidade de propagação de desenvolvimento 
sustentável 
– Criação de uma aliança internacional 
Década de 2000 
Nossa 
responsabilidade 
comum 
Além das metas do milênio, houve a adoção de uma responsabilidade comum entre 
os países. Ou seja, a ideia de que todos tinham responsabilidades a cumprir – em 
meio ambiente, em direitos humanos, em questões de pobreza, etc. 
2005: "In larger 
freedom" – Kofi 
Annan 
– Liberdade de viver 
sem medo 
– Liberdade de viver 
sem miséria 
– Liberdade de viver 
com dignidade 
Prosseguindo os trabalhos de Ghali, o Secretário Kofi Annan propôs uma visão mais 
abrangente de liberdade: a liberdade de viver sem medo; a liberdade de viver sem 
miséria; e, a liberdade de viver com dignidade. 
Liberdade de viver sem medo: noção tradicional de que o Estado deve prover a 
segurança e as liberdades necessárias para que o indivíduo professe sua religião, sua 
cultura, sua língua, etc. 
Liberdade de viver sem miséria: no sentido de que o Estado deve agir no sentido de 
combater à pobreza e à miséria, trazendo desenvolvimento, de fato, às populações. 
Liberdade de viver com dignidade: ideia de que o Estado deve garantir um ambiente 
propício aos direitos humanos e ao respeito a demais questões que propiciem a 
dignidade – saúde, educação, entre outros. 
Articulação Sul-Sul Nos anos 2000, especialmente com a chegada de Lula da Silva à presidência, houve 
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ênfase na articulação Sul-Sul na política externa brasileira que nesse período, 
buscava tanto o credibilismo quanto o autonomismo. Ou seja, mostrar que era um 
país confiável, com credibilidade, participando ativamente dos regimes 
internacionais; porém, com autonomia de se afirmar perante as grandes potências. 
Dentro da articulação Sul-Sul, podemos destacar o desenvolvimento buscado em 
arranjos de geometria variável – especialmente no BRICS e no IBAS; e, além disso, a 
concertação política com os países periféricos como, por exemplo, na África. 
Solidariedade 
periférica (Embrapa) 
Essas articulações Sul-Sul seguiam a lógica da solidariedade periférica – a ideia de 
que o desenvolvimento não deveria ficar somente circunscrito ao território brasileiro, 
mas também, ser levado a outros países periféricos, sobretudo os que estavam em 
condições inferiores ao Brasil. 
Houve, por exemplo, o auxílio da EMBRAPA à agricultura africana por meio do 
programa PROSAVANA, beneficiando uma série de países, tal como Angola. 
Fome Zero (El 
Hambre mas 
Urgente) 
Também houve articulação brasileira para o combate à fome no exterior. O 
Programa Fome Zero, por exemplo, foi implantado no Brasil e serviu de exemplo à 
outros países. Seguindo o modelo brasileiro, a Argentina aplicou o El Hambre más 
Urgente – A fome mais urgente. 
PNAE (o Brasil é 
retirado do Mapa da 
fome da FAO). 
Por causa dos programas sociais – entre eles o Programa Nacional de Alimentação 
Escolar que garantia pelo menos três refeições às crianças na escola –, o Brasil foi 
retirado do Mapa da Fome da FAO – o órgão que cuida da alimentação e da 
agricultura na ONU. 
Conseguindo combater sua fome doméstica, o Brasil se projetou como um ator 
capaz de propor soluções para esses problemas em escala global. Portanto, além de 
pensar em seu próprio desenvolvimento, o Brasil passou a auxiliar o desenvolvimento 
de outros Estados. 
Diante desse contexto de pensar o desenvolvimento de forma sistêmica, auxiliando outros 
Estados, o Brasil promoveu uma série de iniciativas sociais no cenário internacional, das quais podemos 
destacar: 
Iniciativas do Brasil no cenário internacional 
Custos de liderança: 
Fundo IBAS 
O Fundo IBAS – que estudaremos posteriormente na Aula 29 – criou um fundo de 
combate à fome e desenvolvimento social no sentido global, uma ação 
compartilhada por Brasil, África do Sul e Índia – os três países emergentes 
integrantes do IBAS. 
Garantia de acesso à 
educação 
Houve a defesa da garantia de acesso à educação, tanto em escala doméstica quando 
em escala internacional. 
Perdão de dívidas Outro aspecto a ser mencionado foi o perdão de dívidas aos países africanos e 
outros Estados periféricos, atitudes justificadas em função da solidariedade e do 
desenvolvimento desses países. 
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Central Internacional 
de Medicamentos 
Houve a defesa brasileira da Central Internacional de Medicamentos, um projeto em 
parceria com a Índia e a África do Sul. A Central compraria remédios e distribuiria para 
os países que necessitassem e que não tivessem recursos para adquiri-los. 
Construção da 
primeira fábrica de 
medicamentos anti-
retrovirais na África 
Ainda no âmbito dos medicamentos, houve a construção da primeira fábrica de 
medicamentos antirretrovirais na África, uma ação da brasileira Fiocruz em 
parceria com a Índia, dentro do contexto de quebra de patentes de fármacos. 
Medicamentos 
genéricos 
A produção de medicamentos genéricos foi intensificada, tanto no âmbito doméstico 
quando na defesa da expansão dos genéricos em cenário internacional, sobretudo via 
IBAS. 
SEPPIR – Secretaria 
de Promoção de 
Igualdade Racial 
No âmbito doméstico, houve a criação da Secretaria de Promoção da Igualdade 
Racial, um projeto em contexto de benefício aos direitos humanos. 
 Do ponto de vista do Brasil, podemos grosseiramente dizer que o tema desenvolvimento foi 
introduzido a partir dos anos 1930, com a ideia de desenvolvimento econômico. Isto é, uma concepção 
tradicional baseada em desenvolvimento industrial, crescimento do PIB e aspectos relacionados. No 
entanto, essa concepção era puramente doméstica. Ou seja, o Brasil preocupava-se somente com seu 
próprio desenvolvimento, sem pensar isso de forma global. Com o estabelecimento do universalismo, o 
Brasil passou a ter uma visão sistêmica: além de seu próprio desenvolvimento, passou a se preocupar 
com o desenvolvimento dos países do Sul-global. 
 
Mesmo com essa mudança de postura, o Brasil continuou entendendo desenvolvimento como algo 
meramente econômico. Foi somente nas décadas posteriores, especialmente nos anos 1990, que o Brasil 
incorporou a ideia de desenvolvimento sustentável. Isso significa que o país não buscaria somente seu 
desenvolvimento econômico, mas também, os desenvolvimentos social e ambiental. Para além do 
crescimento econômico, era necessário proteger os biomas, garantir os direitos humanos e empreender 
em áreas relacionadas à qualidade de vida das populações. 
No século XXI, o Brasil tem buscado um desenvolvimento sustentável – não mais na concepção 
tradicional puramente econômica; e também, um desenvolvimento sistêmico – pensado no Sul-global 
como um todo e não somente em seu próprio território. Essas mudanças na concepção brasileira sobre 
desenvolvimento foram fortemente influenciadas pela ONU. Vejamos abaixo como se deu essa 
transformação no âmbito das Nações Unidas: 
 
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A ONU e o desenvolvimento 
 No início das Nações Unidas, em contexto pós-guerra, havia um enfoque no liberalismo 
econômico centrado no Estado como elemento principal de desenvolvimento. Ou seja, pensando 
principalmente em crescimento do PIB, em industrialização das nações e, portanto, em crescimento 
econômico. Não havia, pelo menos nesse primeiro momento, a ideia de um desenvolvimento que 
considerasse outras questões como, por exemplo, a pauta ambientalque surgiu depois. Assim, os 
principais órgãos da ONU não eram vistos como tendo um papel operacional no avanço ao 
desenvolvimento. Na verdade, apenas supervisionavam, sem terem um papel determinante, de fato. 
Nesse contexto inicial o foco das organizações internais – especialmente da ONU e do BIRD – era a 
reconstrução dos Estados afetados pela Segunda Guerra. Entre as principais medidas estavam o Plano 
Marshall (reconstrução da Europa) e o Plano Colombo (reconstrução do Japão). Portanto, o papel de 
organizações internacionais estava centrado em infraestrutura internacional, atendendo também, à 
propósitos como acordos sobre taxas de câmbio e comunicações. 
A ONU e o Desenvolvimento – início das discussões 
Desenvolvimento entra no discurso da ONU na forma de liberalismo econômico centrado no Estado. 
– Foco inicial na reconstrução e desenvolvimento do pós-guerra 
– Ênfase no empréstimo atráves do BIRD ou outros tipos de ajuda externa, políticas bilaterais de 
Estado 
– Papel de organizações internacionais centrado em infraestrutura internacional, como acordos sobre 
taxas de câmbio, comunicações, etc 
– Principais órgãos da ONU não eram vistos como tendo um grande papel operacional no avanço ao 
desenvolvimento 
 
Precaução de países do Primeiro Mundo em conceder um grande papel a organizações internacionais 
baseadas em voto majoritário 
 
Desde o início da ONU, Estados financiadores preferem o BIRD e o FMI 
– Criados antes da ONU, na Conferência de Bretton Woods (1944) 
– Decisão por voto proporcional, conforme o fundo destinado pelos estados membros às organizações 
 
 Outro ponto a ser destacado é que os países de primeiro mundo tinham receio das organizações 
internacionais de voto majoritário, tendo grande precaução em aumentar-lhes o poder. Isso é muito 
simples de entender: enquanto organizações como o BIRD e o FMI possuem poder de decisão baseado em 
cotas; a Assembleia Geral da ONU, por exemplo, conta com voto majoritário. No caso do FMI e do BIRD, 
um país rico possui maior poder de decisão – afinal, possui mais cotas, como se fossem ações dessas 
organizações. Já no caso da Assembleia Geral, um país rico possui tanto poder de decisão quanto um pais 
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periférico. Nesse caso, existe a paridade do poder de voto: uma pequena nação africana tem o mesmo 
poder de voto que os Estados Unidos, por exemplo. 
Diante dessas diferenças, os países desenvolvidos tradicionalmente preferem atuar mais 
intensamente nas instituições de Bretton Woods, um terreno seguro para quem possui a maior parte 
das cotas. Por outro lado, os países periféricos tradicionalmente fazem pressão na Assembleia Geral da 
ONU, onde são mais numerosos e, portanto, têm mais poder de influência. Conforme já estudamos, por 
várias vezes, os países periféricos tentaram barganhar mais poder dentro das instituições de Bretton 
Woods ou simplesmente, reforma-las. Entre as proposições do Blue Books, por exemplo, estava o 
aumento de cotas do FMI para os periféricos, algo proposto pelo G-24. 
Foi somente na década de 1960 que o desenvolvimento ganhou projeção na ONU, ocorrendo a 
chamada década do desenvolvimento, não apenas para o Brasil, mas para os demais países em 
desenvolvimento também. Conforme já vimos, foi nessa época que foram feitas as duas conferências 
sobre o tema: a I UNCTAD (1964) e a II UNCTAD (1968). 
A ONU e o Desenvolvimento – Anos 1960 – Década do desenvolvimento 
Anos 1960: primeira década do desenvolvimento na ONU 
– Preparação para a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) 
– Reorientação decorrente dos trabalhos da CEPAL e da teoria da dependência 
– Noção de deterioração dos termos de troca 
– Crítica ao GATT: liberalização do comércio de produtos manufaturados, mas pouca liberalização do 
comércio de produtos primários 
– UNCTAD criada como uma voz permanente no Terceiro Mundo dentro do sistema ONU 
 
1960: Banco Mundial decide criar a Associação Internacional de Desenvolvimento 
– Resposta aos países em desenvolvimento, que votaram no início dos anos 1950, para que o Fundo 
Especial das Nações Unidas aumentasse atividades de assistência técnica com empréstimos de longo 
prazo e juros baixos com vistas a construir infraestrutura. 
– Dificuldades para conseguir recursos dos países desenvolvidos 
– Oposição dos EUA 
 Também foi nesse período que a Comissão Econômica para a 
América Latina (CEPAL), um órgão criado na década de 1940, passou a 
reorientar o tema desenvolvimento e recomendar a adoção do nacional-
desenvolvimentismo para as economias da região, o que foi 
prontamente seguido pelo Brasil. Por outro lado, houve o crescimento da 
teoria da dependência, uma formulação teórica que estudava a relação 
entre os países centrais e os países periféricos. Não é nosso objetivo 
entende-la com profundidade, no entanto, devemos saber que essa teoria 
explica a pobreza dos países periféricos pela dependência com o 
capital dos países centrais e que foi muito influente entre as décadas de 
1960 e 1970, sendo colocada em xeque pela ascensão do neoliberalismo 
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na década de 1980. 
 Também houve a deterioração dos termos de troca. Ou seja, a ideia de que os países que 
produzem apenas commodities estão em situação desvantajosa em relação aos países industrializados. De 
acordo com o que se pensava na década de 1960, isso ocorre porque conforme os produtos 
industrializados vão se tornando mais caros, os produtos primários vão se tornando mais baratos. Isso 
faria com que os países em desenvolvimento tivessem que produzir uma quantidade cada vez maior de 
alimentos, minério, combustíveis e demais matérias-primas para conseguir a mesma quantidade de 
manufaturados tecnológicos; gerando, portanto, um desequilíbrio na balança comercial. Tendo essa 
constatação em vista, os países em desenvolvimento começaram a pressionar e criticar o GATT, 
sobretudo em relação à resistência dos países centrais em liberarem os produtos primários. 
 Além disso, em 1960, o Banco Mundial decidiu criar a Associação Internacional de 
Desenvolvimento. Em seus fundamentos originais, o Banco Mundial fornecia empréstimos pouco a 
pouco: caso o Brasil, por exemplo, pegasse dinheiro emprestado para construir uma determinada obra, o 
Banco só liberava o restante caso o governo brasileiro realmente avançasse o projeto e demonstrasse 
capacidade de corresponder às expectativas. Além disso, o Banco Mundial também poderia interferir nas 
políticas econômicas do país. Com o tempo, os países em desenvolvimento passaram a reclamar dessa 
interferência, demandando maiores aportes de verbas sem tantas exigências. Por isso, o próprio Banco 
Mundial, apesar da oposição dos Estados Unidos, decidiu criar a Associação Internacional de 
Desenvolvimento da qual os periféricos poderiam pedir empréstimos maiores, com mais autonomia e 
sem regras tão rígidas, visando maior incentivo à construção de infraestruturas necessárias ao 
desenvolvimento. 
 Nesse contexto de fomento ao desenvolvimento, as agências especializadas da ONU 
aumentaram a sua autonomia e os Estados podiam se filiar ou se retirar delas independentemente de sua 
filiação às Nações Unidas. Vale ressaltar que algumas agências como, por exemplo, a OIT, foram criadas 
antes da ONU e incorporadas pela organização; outras, como as conhecidas OMS, FAO e UNESCO, foram 
concebidas já dentro do sistema das Nações Unidas. O quadro abaixo mostra alguns exemplos dessas 
distinções: 
 A ONU e o Desenvolvimento – Agências especializadas 
Agências especializadas ligadas à ONU possuindo grande autonomia 
– Estados podendo se filiar ou se retirar delas independentemente de sua filiação à ONU 
– ECOSOCdeveria coordenar todas as organizações de caráter econômico e social ligadas à ONU, mas os 
arranjos legais e financeiros delas garante a sua independência. 
Exemplos de agências criadas antes ou fora da ONU, mas a ela incorporadas 
 
 
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Organização 
Internacional do Trabalho 
(OIT) 
Organização 
Meteorológica Mundial 
(WMO) 
União Internacional de 
Telecomunicações 
(ITU) 
União Postal Universal 
(UPU) 
Exemplos de organizações criadas dentro do sistema ONU 
 
Organização Mundial da Saúde 
(OMS) 
Organização das Nações Unidas 
para a Alimentação e Agricultura 
(FAO) 
Organização das Nações Unidas 
para a Educação, e Ciência e a 
Cultura (UNESCO) 
 Vale destacar, também, um fato que estudamos na nossa aula sobre a ONU: o Conselho 
Econômico e Social (ECOSOC) foi originalmente concebido para coordenar essas agências, no entanto, 
com o passar do tempo, na prática, essas agências conseguem agir com mais independência que o 
previsto. Portanto, não há uma coordenação clara do ECOSOC. O fato é que independentemente da 
estrutura de poder, essas agências cumprem o propósito de desenvolvimento a que se propuseram. Após 
estudaremos a década de 1960, vejamos alguns detalhes sobre a década de 1970: 
A ONU e o Desenvolvimento – Congruência com G77 
Noção de Nova Ordem Econômica Internacional 
– Declaração envolvendo quatro temas: soberania econômica, comércio, ajuda e participação. 
– Intenção de criar uma série de tratados que iriam regular a economia internacional e redistribuir 
poder e riqueza 
– Durante a Guerra Fria, o capitalismo ocidental teve de fazer concessões às demandas do Terceiro 
Mundo, porém, após seu término, deixou de haver motivos para fazê-lo 
 Durante a década de 1970, houve, por parte dos países em desenvolvimento, a proposição de uma 
Nova Ordem Econômica Internacional, um assunto que já estudamos em outras aulas. Essa nova ordem 
tinha convergência com as pautas do G-77 e do G-24 – grupos de países periféricos que articulavam maior 
desenvolvimento frente às Nações Unidas. Conforme já vimos, a NOEI tinha quatro objetivos: a busca pela 
soberania econômica; o reconhecimento das condições desiguais das relações comerciais; a 
necessidade de que os países centrais ajudassem os países em desenvolvimento; e, uma maior 
participação nas instâncias decisórias. Além disso, também havia intenções de criar uma série de tratados 
que regulamentassem a economia internacional, redistribuindo a riqueza e o poder. A NOEI chegou a ser 
aprovada na Assembleia Geral da ONU – onde os periféricos eram maioria; no entanto, não avançou na 
prática. 
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 Embora a NOEI não tivesse sido implantada, o contexto de Guerra Fria exigia que os países 
ocidentais fizessem concessões às demandas do terceiro mundo para evitar o avanço do 
socialismo/comunismo nos países periféricos. No entanto, com o término da Guerra Fria, esses motivos 
deixaram de existir. Os países latino-americanos, por exemplo, se preocupavam com o futuro da região 
pois, sem a polarização com a União Soviética, os Estados Unidos poderiam simplesmente parar de olhar 
para a América. Para o alívio dos periféricos, foi nesse período que o conceito de desenvolvimento foi 
reformulado na ONU, passando a ganhar contornos mais claros de qualidade de vida: 
Desenvolvimento – Conferência do Milênio (2000) 
A ONU e o Desenvolvimento 
– Promoção do desenvolvimento econômico e social e proteção de direitos humanos como forças de 
atingir a paz 
– Noção defindida por Boutros Ghali em "An Agenda for Peace" 
– Documento final reitera as metas de Desenvolvimento do Milênio 
 
Conferência do Milênio (2000) 
– Estados membros endossaram a segurança humana (eliminação da pobreza e promoção do 
desenvolvimento sustentável) como a mais alta prioridade da organização 
–Estados membros reconhecendo a relação entre o trabalho da ONU em domínios econômico e social 
e seu mandato para a paz e a segurança internacional 
 Apenas retomando os principais pontos, foi na década de 1990 que ocorreu a década das 
conferências, com o Secretário Geral Boutros Ghali (1992 – 1997) defendendo a Agenda para a Paz – 
uma preocupação seguida pelo sucessor Kofi Annan (1997 – 2007). Na virada do século, especificamente 
em 2000, a ONU implantou as Metas do Milênio, amplamente aceita pelos Estados nacionais por serem 
mensuráveis e aplicáveis na realidade. A partir do final da Guerra Fria, em uma tendência que se manifesta 
até hoje, a ONU passou a olhar o desenvolvimento não somente pelo prisma econômico, mas pela visão 
de desenvolvimento sustentável que englobava, por exemplo, a eliminação da pobreza e a promoção dos 
direitos humanos das populações. 
 
DIREITOS HUMANOS 
 Neste item, estudaremos o tema direitos humanos, primeiramente em uma visão global, tratando 
do histórico e da evolução conceitual; e depois, analisando as mudanças de posição do Brasil ao longo do 
sistema multilateral pós-1945, especialmente dentro das Nações Unidas. 
Histórico dos direitos humanos 
 A primeira coisa que devemos saber é que o conceito de “direitos humanos” foi historicamente 
construído e modificado pelo tempo, por meio de acontecimentos pontuados na história e no 
desenvolvimento humano. Se no século XVIII, esta ideia foi fortemente influenciada pelo pensamento 
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liberal e pelas revoluções francesa e americana; no século XIX, houve maior peso à democracia e aos 
direitos políticos e civis. Já no século XX, sobretudo após as atrocidades cometidas na Segunda Guerra 
Mundial, havia um consenso de que o tema deveria ser tratado de forma internacional. O quadro abaixo 
resume esses diferentes momentos: 
 
Direitos humanos – Evolução geral dos debates 
Evolução do debate sobre direitos humanos 
 
Século XVIII Nesse primeiro momento, o debate sobre direitos humanos foi fortemente 
influenciado por dois eventos: a Revolução Americana (1776) e a Revolução 
Francesa (1789) que respectivamente, culminaram na instalação de sistemas 
republicanos nos Estados Unidos e na França. 
Por meio desses acontecimentos, houve a predominância do pensamento liberal, 
baseado, entre outros aspectos, na ideia de que homens possuem direitos universais 
inerentes que não podem ser tirados pelos Estados. Ou seja, a ideia de que 
governantes devem respeitar as liberdades dos indivíduos. 
Esses direitos eram principalmente a vida, a liberdade e a propriedade. Eram 
chamados de direitos negativos pelo fato de que para garanti-los, bastaria o Estado 
não fazer nada – deixar de agir, deixar a sociedade fluir, deixar o homem livre – para 
que fossem colocados em prática. 
Esse pensamento foi influenciado pela ideia de contrato social de John Locke e pela 
concepção de Estado de Thomas Hobbes. Por essa perspectiva, o Estado deveria 
garantir somente a lei e a ordem para que os indivíduos não entrassem em conflito 
entre si, para que houvesse a cooperação e, consequentemente, um ambiente 
propício à garantia da vida, da propriedade e da liberdade. 
Século XIX 
Século XX primeira 
metade 
Já no século XIX, houve a evolução das discussões liberais para concepções voltadas à 
democracia e à participação popular nas decisões políticas. Por exemplo, embora 
ainda não houvesse o sufrágio universal, o poder de voto começou a ser colocado em 
prática – ainda que fosse limitado à indivíduos com propriedades ou que tivessem 
servido o país em serviços militares. 
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Para garantir a vida, a liberdade e a propriedade – como defendiam os liberais do 
século XVIII – bastaria que o Estado não restringisse a liberdade dos cidadãos. Por 
isso, eram direitos negativos. Já no século XIX, para garantir esses direitos de 
segunda onda como, por exemplo, a participação popular e a democracia, o Estado 
deveria fazer maior esforço de inclusão, tendo maior protagonismo. Por conta disso, 
eram chamados direitos positivos. 
No início do século XX, os direitos positivos ganharam um impulso significativo com o 
fortalecimento dos sindicatos e a promulgação de leis trabalhistas ao redor do 
mundo. Foi nessa época que surgiu a Organização Internacional do Trabalho (OIT) – 
futuramente incorporada à ONU. No Brasil, a CLT foi inspirada nesses movimentos. 
Portanto, além da vida, da liberdade e da propriedade, os indivíduos passaram a 
ter direito à dignidade humana. 
Século XX Segunda 
metade 
Após os horrores da Segunda Guerra Mundial – holocausto, genocídios, massacres, 
etc. – houve um consenso de que as questões de direitos humanos não poderiam mais 
ser tratadas somente no âmbito doméstico, mas sim, serem debatidas também no 
âmbito internacional. Após os horrores desse conflito, ficou claro que os Estados 
nacionais não poderiam ser os únicos garantidores desses direitos. 
Nesse contexto, a Carta de São Francisco (1945) que deu origem à ONU é bem clara – 
tanto no preâmbulo quanto no primeiro artigo – na promoção da garantia dos 
direitos humanos. No entanto, como não especifica quais direitos seriam esses, a 
própria ONU lançou um documento complementar, mais detalhado. Tratava-se da 
famosa Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) que serviu de base para 
grande parte da discussão internacional sobre o tema nos séculos XX e XXI. 
A partir desse momento, houve intensos debates sobre direitos humanos na ONU, 
que culminaram em uma série de tratados nos anos 1960 e 1970 e, principalmente, na 
década das conferências ocorrida nos anos 1990. 
 
Final do século XVIII – Introdução dos direitos negativos: vida, liberdade e propriedade 
Direitos Humanos – Final do século XVIII 
Garantias dos 
direitos civis (vida, 
propriedade e 
liberdade). 
Lógica dos direitos 
negativos: para 
serem promovidos, o 
Estado deve abster-
se, nas relativas 
esferas. 
Conforme já mencionamos, no final do século XVIII a principal preocupação no que diz 
respeito aos direitos humanos, era a garantia dos direitos civis, especificamente da 
vida, da propriedade e da liberdade, ideias fortemente influenciadas pelas 
revoluções nos Estados Unidos e na França e, principalmente, pelo pensamento 
liberal. 
No caso da Revolução Francesa, houve a Declaração dos Direitos do Homem e do 
Cidadão, um documento que introduziu os ideais de liberdade, igualdade e 
fraternidade. No caso dos Estados Unidos, esses princípios ficaram positivados na 
Constituição do país como direitos inalienáveis ao ser humano. 
Posteriormente, algumas constituições latino-americanas também foram inspiradas 
na experiência norte-americana – Argentina, Colômbia e Haiti são alguns exemplos. 
Portanto, esses direitos já apareciam nas cartas nacionais. 
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Século XIX – Introdução da democracia, mas sufrágio não era universal 
Direitos Humanos – Início do século XIX 
Participação política 
dos cidadãos. 
Democracia existia, 
mas o sufrágio não 
era universal. 
Já no início do século XIX, houve a introdução de direitos políticos e civis relativos à 
participação da vida política dos cidadãos do Estado; ou seja, como os cidadãos 
podem influenciar as decisões, de que modo podem votar ou ser votados, entre 
outros pontos. 
Embora nesse momento começasse a aparecer a ideia de democracia, nem todos 
podiam votar: somente pessoas com propriedades ou com participação militar, o que 
limitava a atuação política à uma classe privilegiada. 
Ainda nesse momento, assim como ocorrido no século XVIII, o tema direitos 
humanos era restrito ao plano doméstico e assim se manteve até a eclosão da 
Segunda Guerra Mundial, já no século XX. 
 
Início do século XX – Introdução dos direitos positivos: econômicos, sociais e culturais 
Direitos Humanos – Início do século XX 
Garantia de direitos 
econômicos, sociais e 
culturais. 
Lutas operárias 
Leis trabalhistas 
Na primeira metade do século XX, houve a introdução de direitos econômicos, 
sociais e culturais. Nesse momento, havia uma sindicalização muito forte – 
especialmente nas áreas urbanas – fato que influenciou esse debate ser voltado à 
questões de trabalho e lutas operárias. 
Como fruto dessa movimentação, as primeiras leis trabalhistas começaram a ser 
criadas, bem como a própria Organização Internacional do Trabalho (OIT). No 
Brasil, por exemplo, durante o governo Vargas, houve a Consolidação das Leis do 
Trabalho (CLT) (1943). 
 
 
 
 
 
 
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Final do século XX – Direitos de terceira geração: garantidos pela comunidade 
internacional 
Direitos Humanos – Segunda metade do século XX 
 
A partir da segunda metade do século XX, os direitos humanos deixaram de ser algo exclusivo dos Estados nacionais e passaram a ser 
discutidos na comunidade internacional, sobretudo na ONU. A Declaração de São Francisco (1945) e a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos (1948) são evidências dessa mudança de postura. 
Direitos humanos de 
terceira geração 
Desenvolvimento, 
paz, meio ambiente 
Direitos difusos ou 
solidários – 
garantidos pela 
comunidade 
internacional 
Horrores da II Guerra: 
direitos humanos 
passou a ser tema 
internacional. 
Na segunda metade do século XX, surgiram os direitos humanos de terceira geração 
– a primeira geração era a de direitos negativos do século XVIII e a segunda geração, 
a de direitos positivos políticos do século XIX. 
Esses novos direitos eram considerados direitos difusos ou direitos solidários – que 
devem ser garantidos pelo conjunto de Estados ou pela comunidade internacional, 
sendo impossível um Estado garantir-lhes sozinho. Para que a paz seja obtida, por 
exemplo, é necessário que haja um vínculo coletivo entre os Estados. 
Embora tivessem atingido o ápice entre os anos 1990 e 2000, os direitos difusos – 
desenvolvimento, paz e meio ambiente – começaram a entrar no radar internacional 
a partir de 1945, após a Segunda Guerra Mundial. 
Por conta dos horrores deste conflito – especialmente por causa do holocausto – 
ficou nítido que um Estado sozinho poderia não dar conta de garantir o devido 
respeito à sua população. Por isso, os direitos humanos passaram a ter abordagem 
internacional, principalmente por meio das Nações Unidas. 
Carta de São 
Francisco 
Art 1º: promoção dos 
direitos humanos e 
liberdades 
fundamentais. 
Conforme já mencionamos, a Carta de São Francisco (1945) já tem alguns elementos 
que trazem um tratamento internacional ao tema: afinal, seu Art 1º diz respeito à 
“promoção dos direitos humanos e liberdades fundamentais.” 
No entanto, a Carta não especifica o que ou quais são os direitos humanos, 
somente compromete-se a promovê-los. Por isso, a ONU lançou ulgou um 
documento complementar especificando os tópicos duvidosos, resultando na 
conhecida Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). 
 
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Declaração Universal 
dos Direitos 
Humanos (1948) 
A fim de complementar e especificar as questões de direitos humanos já expressas na 
Carta de São Francisco, a Declaração Universal dos Direitos Humanos elenca 30 
princípios do que seriam os direitos humanos. 
Noinício, a Declaração não tinha caráter vinculante. Somente mais tarde, por volta 
da década de 1960, que conferências e tratados específicos vincularam essas ideias ao 
Direito Internacional Público. É o caso, por exemplo, do Pacto Internacional de 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, estabelecido em 1966. 
Tanto a Carta de São Francisco quanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos 
tiveram forte influência liberal no sentido de que o aumento da cooperação, do 
diálogo e da colaboração diminui o risco de conflitos. Por essa perspectiva, quanto 
mais os Estados se comprometerem com os direitos humanos, mais pacífico o 
sistema internacional se torna, pois a cooperação está estritamente vinculada à paz. 
 
Décadas de 1960 e 1970 – Aumento do protagonismo da ONU e documentos 
importantes 
Direitos Humanos – Décadas de 1960 e 1970 
Descolonização, 
multiplicação de 
atores e novas 
demandas de direitos 
humanos 
Na década de 1960, houve a mudança de composição provocada pelos processos de 
descolonização e multiplicação de atores internacionais. Isso não ocorreu somente 
na Comissão de Direitos Humanos, mas também, na estrutura da própria ONU, 
principalmente na Assembleia Geral. 
Devido a essas transformações, os novos países passaram a trazer novas pautas 
como, por exemplo, a preocupação com os rumos da política da África do Sul que 
naquele momento, vivia o regime racista do Apartheid. Nesse sentido, os países 
africanos, agora mais numerosos, passaram a pressionar o ECOSOC e a Comissão de 
Direitos Humanos para que medidas fossem tomadas contra o país. 
1966: Dois pactos 
sobre direitos 
humanos: 
– Pacto Internacional 
de Direitos Civis e 
Políticos. 
– Pacto Internacional 
de Direitos 
Econômicos, Sociais 
e Culturais. 
Dois pactos se 
justificaram pela 
polarização 
ideológica 
Em 1966, no contexto da “década do desenvolvimento” na ONU, foram firmados dois 
pactos sobre direitos humanos: o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, 
Sociais e Culturais e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, ambos de 
1966. 
A existência de dois pactos diferentes se justificou pela polarização ideológica da 
Guerra Fria. Estados Unidos e União Soviética tinham visões distintas sobre o 
conceito de “direitos humanos”. Enquanto os norte-americanos davam um peso 
maior à visão liberal, retomando a ideia dos direitos negativos e também, dos 
direitos civis e políticos; os soviéticos davam um peso maior aos direitos sociais e 
culturais. 
Ainda que a União Soviética tivesse, na prática, um governo autoritário que 
contradizia o discurso oficial, sua concepção de direitos humanos influenciou muitos 
dos países periféricos. Por isso, os Estados Unidos tinham dificuldade em avançar sua 
concepção liberal de direitos humanos. 
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Apesar das dificuldades da Guerra Fria – como a assinatura de dois pactos diferentes sobre direitos humanos – o assunto ganhou projeção 
na ONU. Nessa época, vários documentos importantes foram firmados. 
Diferenças principais 
entre os pactos. 
 
Pacto Internacional 
de Direitos Civis e 
Políticos. 
– Influência dos EUA. 
– Direitos negativos. 
– Tudo que o Estado 
precisava fazer era 
não violar os direitos 
humanos. 
– Por isso, aplicação 
imediata. 
 
Pacto Internacional 
de Direitos 
Econômicos, Sociais 
e Culturais. 
– Influência da URSS. 
– O Estado precisava 
se esforçar para 
implantar as 
Conforme podemos imaginar, cada grande potência da Guerra Fria influenciou um 
documento diferente. 
O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos tinha forte influência dos Estados 
Unidos, sobretudo da visão liberal. Nesse caso, a única coisa que o Estado signatário 
deveria fazer é não atrapalhar: não violar a liberdade, não atentar contra a vida e não 
desrespeitar as propriedades de seus cidadãos; além disso, não deveria interromper a 
possibilidade de votar e ser votado. Por conta de serem direitos negativos – e, 
portanto, de pouco protagonismo estatal – o pacto influenciado por Washington foi 
rapidamente aplicado. Para cumpri-lo, bastaria que o Estado se abstivesse de agir. 
Já o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais foi fortemente 
influenciado pela União Soviética. Nesse caso, ao contrário da versão americana, 
havia direitos positivos não inerentes aos cidadãos e que, portanto, demandavam 
mais esforços dos Estados. Afinal, para que os governos garantissem “direitos 
econômicos e culturais” não bastaria apenas deixar de agir. Era necessário fazer 
medidas afirmativas que realmente proporcionassem esses direitos à população. Por 
conta disso, o pacto foi implantado aos poucos – ao contrário da versão dos Estados 
Unidos. 
É fácil diferenciar os dois. O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, 
conforme o nome sugere, tinha uma ênfase maior nos direitos civis e políticos, 
aqueles direitos negativos influenciados pelo pensamento liberal. Já o Pacto 
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, influenciado pela União 
Soviética, tinha justamente um peso maior na economia, na sociedade e na cultura, 
sendo classificados como direitos positivos. 
Ao contrário da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, ambos os 
pactos tinham um efeito vinculante, o que demandava maior compromisso e 
seriedade dos Estados signatários. No entanto, foram implantados com velocidades 
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medidas. 
– Por isso, aplicação 
lenta. 
distintas: o pacto norte-americano com maior rapidez e o soviético, com maior 
lentidão. 
Pacto Internacional 
de Direitos Civis e 
Políticos 
– Monitorado, de 
forma rápida, pelo 
Comitê de Direitos 
Humanos 
Pacto Internacional 
de Direitos 
Econômicos, Sociais 
e Culturais. 
– Monitorado, de 
forma branda, pelo 
Comitê de Direitos 
Econômicos e 
Culturais 
 
Como o Pacto de Direitos Civis e Políticos era mais fácil de ser implantado – pois 
bastaria o Estado não violar os direitos – seu monitoramento era eficaz e imediato. 
Quem observava seu andamento era o Comitê de Direitos Humanos da ONU – 
atualmente denominada Comissão de Direitos Humanos da ONU. 
Já no caso do Pacto Internacional de Direitos Econômicos e Culturais, havia maior 
lentidão de aplicação, pois os Estados precisavam “arregaçar as mangas” para 
cumpri-lo. Por isso, era cobrado de forma mais branda. Neste caso, pelo Comitê de 
Direitos Econômicos e Culturais. 
 
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos 
– Aplicação rápida e cobrança imediata. 
– Monitorado pelo Comitê de Direitos Humanos 
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. 
– Aplicação lenta e, portanto, cobrança mais branda. 
– Monitorado pelo Comitê de Direitos Econômicos e Culturais 
Os documentos 
vinculantes somente 
entram em vigor em 
1976, ao serem 
atingidos o número 
de ratificações 
exigidas. 
Demora devido à 
postura soberanista 
dos Estados 
Apesar de terem sido concebidos em 1966, os dois documentos só entraram em 
vigor dez anos depois, em 1976. 
A demora se justifica porque nesse período, grande parte dos Estados – incluindo o 
Brasil –, tinham uma postura soberanista avessa a intervenções estrangeiras. Ou 
seja, simplesmente não aceitavam que a ONU ou as potências mundiais interferissem 
em questões internas como os direitos humanos. 
Sendo assim, somente em 1976 houve o número mínimo de ratificações para que os 
pactos entrassem em vigor. 
Carta Internacional 
dos Direitos 
Humanos 
Conjunto da 
Declaração Universal 
dos Direitos 
Humanos (1948) e 
dos pactos assinados 
em 1966. 
Posteriormente, a ONU reuniu os três documentos sobre direitos humanos em 
apenas um só. A soma da Declaração Universal dos Direitos

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