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Resumo_Historia de Africa sec XX-XXI

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Prof Bruno 
História de África dos meados do século XX ao século XXI 
A historiografia moderna tende a ver na Africa um continente passivo, um receptaculo 
de influencias, bem mais que uma fonte. Alguns nao temeram ofender simultaneamente 
as mulheres e a Africa, chegando ao ponto ate de denominar esta ultima como “o 
continente-mulher”,em alusao a uma suposta passividade e penetrabilidade. 
Contextualização de África entre 1945 a 1960 
O ano de 1935 é o ponto de partida para o periodo de descolonização, porque a Segunda 
Guerra Mundial, para a Africa, começou nesse ano. A Africa viu efectivamente 
abrirem-se as hostilidades em Outubro de 1935, no momento da invasao da Etiopia 
pelas tropas de Mussolini. 
O continente africano experimentou a escravidão e o colonialismo, a subordinação de 
seus sistemas tradicionais de organização social às leis da valorização do capital e 
testemunhou a constituição de ordenamentos políticos internacionais, nos quais 
desempenhava o simples papel de “área de influência” e “reserva estratégica” à 
disposição dos poderes coloniais. 
Porém, a Segunda Guerra Mundial contribuiria para modificar tal quadro. Esgotadas 
econômica e militarmente pelo desenrolar da conflagração, as grandes potências 
européias experimentaram uma limitação (mas não a eliminação) de sua capacidade de 
preservar coercitivamente grandes impérios coloniais. Ademais, dois novos fatores 
concorriam para a erosão das bases da legitimação do colonialismo europeu no mundo: 
a) o crescimento do prestígio das concepções e dos movimentos democráticos e 
progressistas (por definição anticolonialistas) no mundo, que se seguiu à derrota das 
forças do eixo nazi-fascista; 
b) a ascensão, ao primeiro plano, da política internacional de duas novas grandes 
potências, as quais, devido a motivações diferentes, encontravam-se descomprometidas 
com a preservação dos domínios coloniais europeus na África e na Ásia: os Estados 
Unidos e a União das Repúblicas SocialistasSoviéticas. Excluídos da partilha da África 
na Conferência de Berlim e, conseqüentemente, marginalizados no acesso aos 
mercados, matérias-primas e áreas de influência no continente africano, aos Estados 
Unidos interessava, num primeiro momento, uma alteração no status quo internacional 
que lhe concedesse liberdade para realizar seus interesses econômicos e estratégicos na 
África, sem os inconvenientes gerados pelo exclusivismo colonial europeu. 
Para a União Soviética — potência cuja matriz histórica remontava às revoluções do 
ano de 1917 na Rússia —, a descolonização representava um enfraquecimento do 
“imperialismo ocidental” e optimizava as possibilidades de ampliação de sua influência 
internacional através do apoio aos movimentos de libertação nacional africanos e a 
aproximação das jovens nações africanas. 
Nestas novas condições, a opção pelo desenvolvimento de uma política de contenção da 
influência soviética na África reaproximou os EUA das antigas potências coloniais 
européias e os colocou na contramão dos movimentos de libertação nacional do 
continente, sobretudo daqueles cuja radicalidade anticolonial e ênfase nas definições 
antiimperialistas contribuíram para uma aproximação com as posições soviéticas. 
Assim, no hiato vigente entre o final da Segunda Grande Guerra e a cristalização da 
bipolaridade leste-oeste, as concepções referenciadas na idéia de descolonização e 
emancipação nacional do continente africano conquistaram carta de cidadania nas 
discussões internacionais. De tal forma que, mesmo nos anos posteriores de 
recomposição do poderio europeu e redefinição do posicionamento estadunidense frente 
ao problema colonial, o processo de emancipação africano seguiria seu curso sem 
jamais parar. 
Teríamos assim, nos anos 50, a independência da Tunísia (1950), da Líbia (1951), do 
Sudão, do Marrocos (1956), de Gana (1957) e da Guiné (1958). No emblemático ano de 
1960 — ano da independência da África, segundo as Nações Unidas — verificar-se-iam 
as libertações de Camarões, Togo, Madagascar, Zaire, Somália, Mali, Benin, Nigéria, 
Níger, Alto Volta (actual Burkina Faso), Costa do Marfim, Chade, República Centro-
Africana, Congo, Gabão, Senegal e Mauritânia; em 1961, Serra Leoa; em 1962, Ruanda, 
Burundi, Argélia e Uganda; o Quênia em 1963; Malauí, Zâmbia e Tanzânia em 1964; 
Gâmbia em 1965; Botsuana e Lesoto em 1966; Ilhas Maurício e Guiné Equatorial em 
1968. Na década de 70, Guiné Bissau em 1973; São Tomé e Príncipe, Moçambique, 
Cabo Verde, Comores e Angola em 1975; Ilhas Seychelles 
em 1976; Djibouti em 1977; Suazilândia em 1978. Já nos anos 80, Zimbábue, em 1980 
e, finalmente, a Namíbia, em 1990. 
Uma das grandes ironias da historia da Africa moderna reside no facto de o 
colonialismo europeu ter tido como efeito lembrar aos africanos que eles eram 
africanos. O maior servico que a Europa prestou aos povos da Africa nao foi trazer-lhes 
a civilizacao ocidental, actualmente encurralada, nem mesmo o cristianismo, hoje na 
defensiva. A contribuicao suprema feita pela Europa diz respeito a identidade africana, 
dom concedido sem amenidades nem intencao, o que não a torna menos real. E isso é 
particularmente verdadeiro no seculo XX. 
A humilhacao e o rebaixamento de que os africanos negros foram vitimas, por razoes 
raciais, no curso dos séculos, contribuiram a leva-los a se reconhecerem mutuamente 
como “irmaos africanos”. Mostrou tambem que a identidade africana, nascida da 
humilhacao racial e da dominação estrangeira, não podia ser senão frágil e incerta. Sob 
o choque do colonialismo e do imperialismo, os africanos haviam tomado consciencia 
do facto de representarem uma unidade diante dos opressores ocidentais. 
Contudo, uma solidariedade africana perene nao podia fundar-se somente na 
experiencia comum da exploracao. Unir-se contra o opressor estrangeiro, era uma coisa; 
outra coisa, porem, era unir-se para por em marcha o desenvolvimento interno. 
A independencia economica africana foi minada pelas apropriações violentas de terras, 
enquanto as forças produtivas eram submetidas as ordens dos brancos. 
No dominio cultural, a Africa passou pela fase de africanização das religiões vindas de 
fora, cristianismo e islamismo. 
Assim o imperialismo europeu contribuiu, com o passar do tempo, a tornar os africanos 
colonizados colectivamente mais conscientes de si mesmos, enquanto povo colonizado. 
Ao combater pela sua propria independencia, a Africa contribuiu tambem para 
modificar o curso da historia europeia e, inclusive, mundial. Os factos historicos que se 
produziram no interior do proprio continente mas, tendo em vista que no decorrer desse 
periodo a Africa foi incorporada e participou mais estreitamente do que nunca do 
sistema mundial, e importante lembrar que ela nao era simplesmente um continente 
passivo submetido as acções dos demais. As proprias acções da Africa igualmente 
contribuiram para transformar os destinos de outros. Se é verdade que a Africa foi, 
enquanto continente, submetida pela Europa, pelo conflito que a forçou a se reconhecer 
a si propria, por sua vez, a Europa, por foi forcada, em certa medida, a assimilar a lição 
de responsabilidade internacional e de humildade democratica que o desafio africano 
lhe impunha. Toda a historia da descolonizacao no seculo XX tambem deve ser vista 
como um processo pelo qual os oprimidos acabaram por compreender plenamente quem 
sao eles na realidade, ao passo que os opressores comecavam a aprender sobre a 
humildade inerente ao sentimento de ter que prestar contas ao mundo inteiro, em 
materiade humanidade. 
 
Impacto da colonização de África pela Europa 
O colonialismo sufocava a África com seu torniquete. Parecia ter vindo para ficar para 
sempre. No entanto, revelou-se tão efemero como todos os empreendimentos baseados 
na força. O colonialismo perdurou em toda a Africa pouco menos de cem anos: desde a 
decada de 1880 ate a de 1960.A herança que o colonialismo legou a África foi segundo alguns estudiosos positiva e 
outros defendem que o impacto negativo foi superior ao positivo, assim: 
Lloyd, por exemplo, não hesita em afirmar o carater positivo da influencia colonial: As 
potencias coloniais proporcionaram toda a infraestrutura da qual dependeu o progresso 
na epoca da independencia: aparelho administrativo, alias eficiente, que alcancava as 
aldeias mais remotas, uma rede de estradas, de ferrovias 
e de servicos basicos em materia de saude e de educacao. 
Walter Rodney adoptou uma posição particularmente extremada. Diz ele: É costume 
dizer que de um lado havia exploração e opressão, mas que, de outro lado, os governos 
coloniais fizeram muito pelos africanos e contribuiram para o desenvolvimento da 
Africa. Para nós, isso e completamente falso. O colonialismo só tem um aspecto, um 
braço: e um bandido maneta.O impacto do colonialismo tanto é positivo como negativo. 
No entanto, há que salientar desde o inicio que a maior parte dos efeitos positivos não é 
de origem intencional: trata-se antes de consequencias acidentais ou de medidas 
destinadas a defender os interesses dos colonizadores. 
 A instauração de um grau maior de paz e de estabilidade na África. a propria 
criação dos modernos Estados independentes da Africa. A partilha e a conquista 
coloniais, revolucionarionaram a face politica da Africa. Em vez das centenas de 
clas, de grupos de linhagem, de cidades‑Estado, de reinos e de imperios, sem 
fronteiras nitidamente delimitadas, temos hoje cerca de cinquenta novos Estados 
de traços geralmente fixos; e bastante significativo que as fronteiras dos Estados, 
tais como foram estabelecidas durante o periodo colonial, não se tenham 
modificado depois da independencia. 
 Introduziu em quase todas as partes da Africa duas novas instituições que a 
independencia não eliminou: um novo sistema judiciario e uma nova burocracia 
(ou administracao). 
 O nascimento não só de um novo tipo de nacionalismo africano, mas tambem do 
pan‑africanismo. O primeiro, como vimos, representou o desenvolvimento de 
certo grau de identidade e de consciencia entre as classes ou grupos etnicos que 
habitavam cada um dos novos Estados. 
Impacto negativo: 
 O desenvolvimento do nacionalismo,não foi somente uma consequencia 
acidental da colonização; antes de ser resultado de um sentimento positivo de 
identidade, de compromisso ou de lealdade para com o novo Estado Nacional, 
ele se animou por um sentimento de colera, de frustração e de humilhação 
suscitado por certas medidas de opressão, de discriminação e de exploração 
introduzidas pelas autoridades coloniais. 
 Estrutura geopolitica criada tenha sido um exito (mais uma vez acidental), ha de 
se convir que ela mais levanta do que resolve problemas. Por exemplo, as 
fronteiras dos novos Estados não são tão arbitrarias como geralmente se 
acredita; muitos desses Estados foram criações artificiais e de que essa 
artificialidade colocou alguns problemas para pesarem fortemente sobre o 
desenvolvimento futuro do continente. Por exemplo: certas fronteiras dividem 
grupos etnicos ja existentes e retalham Estados e reinos, o que provoca 
perturbacoes sociais e deslocamentos. 
 A mentalidade que criou entre os africanos, segundo a qual a propriedade 
publica não pertencia ao povo, mas as autoridades coloniais brancas, podendo e 
devendo estas assim tirar proveito dela em todas as oportunidades. É importante 
observar que tal mentalidade ainda subsiste entre a maior parte dos africanos, 
apos decadas de independencia, explicando em parte a indiferenca com que a 
propriedade publica e tratada em muitos paises africanos independentes. 
 A perda da soberania e da independencia e, com ela, do direito dos africanos a 
dirigir seu proprio destino ou a tratar direCtamente com o mundo exterior. 
O impacto no terreno economico 
Aspectos positivos: 
 A constituição de uma infraestrutura de estradas e vias férreas, a instalação do 
telegrafo, do telefone e, as vezes, de aeroportos. 
 O impacto sobre o sector primário da economia foi igualmente significativo e 
importante. Desenvolver e explorar alguns dos ricos recursos naturais do 
continente – e, nesse plano, obteve exitos importantes. Foi durante o periodo 
colonial que todo o potencial mineral da Africa foi descoberto, a industria 
mineira teve enorme expansão e as safras de exportação se disseminaram. 
 A introdução da economia monetaria, todas as comunidades africanas, inclusive 
os grupos pastoris, caracterizados pelo conservadorismo, tinham sido arrastadas 
para esse tipo de economia por volta da decada de 1920. Os efeitos dessa 
mudanca foram mais uma vez significativos. Em primeiro lugar, desde a decada 
de 1930, fora introduzido um novo padrão de riqueza, o qual já não se baseava 
na quantidade de artigos que o individuo possuia, mas no dinheiro. Em segundo 
lugar, as pessoas passaram a desenvolver actividades não mais centradas na 
necessidade da subsistencia, mas no dinheiro, o que, em contrapartida, levaria ao 
surgimento de uma nova classe de trabalhadores jornaleiros e assalariados. Em 
terceiro lugar, a introducao da economia monetaria assinala o inicio das 
actividades bancárias na Africa, que se tornaram uma outra caracteristica 
importante da economia dos Estados africanos independentes. A introducao da 
moeda e das actividades bancarias levou, com a vasta expansao do volume de 
comercio entre a Africa colonizada e a Europa. 
 A infraestrutura proporcionada pelo colonialismo não era tão útil nem tão 
adaptada como poderia ser. As estradas e as ferrovias, em sua maioria, não 
haviam sido construidas para abrir o pais, mas apenas para ligar com o mar as 
zonas dotadas de jazidas minerais e de potencial para a produção de safras 
comerciais, “para ligar áreas de produção interna ao mercado mundial de 
mercadorias primarias”. Praticamente não havia ramais rodoviarios nem 
ferroviarios.A rede não se destinava a facilitar as comunicações interafricanas. 
Desta forma o crescimento economico das colonias baseava‑se nos recursos 
materiais das regiões, de modo que as zonas desprovidas de tais recursos haviam 
sido negligenciadas por completo. Dai as gritantes desigualdades economicas 
dentro de uma mesma colonia, que acentuavam e exacerbavam, por sua vez, as 
diferenças e os sentimentos regionais, o que representou grande obstaculo a 
constituição das nações na África independente. 
 Uma das caracteristicas da economia colonial consistia em negligenciar ou em 
desencorajar deliberadamente a industrialização e a transformação das materias‑
primas e dos produtos agricolas na maioria das colonias. As industrias e as 
actividades artesanais existentes na epoca pre‑colonial foram destruidas. Note‑
se que nessa epoca as industrias africanas produziam tudo de que o pais 
necessitava, sobretudo materiais de construcao, sabao, micangas, utensilios de 
ferro, ceramica e, principalmente, roupas. Se essa industria local tivesse sido 
incentivada e desenvolvida com a modernização de suas tecnicas de produção 
(como se fez na India, entre 1920 e 1945), a África teria conseguido aumentar 
sua produção e melhorar, pouco a pouco, sua tecnologia. 
 Embora a agricultura intensiva acabasse por se tornar a principal fonte de renda 
da maior parte dos Estados africanos, nenhuma tentativa fora feita para 
diversificar a economia rural das colonias. Muito pelo contrario, integrou as 
economias africanas na ordem economica mundial, mas de forma bastante 
desvantajosa e exploradora, e as coisas praticamente não mudaram depois disso. 
O trabalho forçado e o abandono da produção de alimentos provocaram bastante 
desnutrição, fomes e epidemias severas em algumas regiões da África. 
 A comercialização da terra, levou a venda ilegal das terras comunais, praticada 
por chefes de familia sem escrupulos, ou então a crescentes litigios, os quais 
generalizarama pobreza, sobretudo entre as familias dirigentes. 
Efeitos no plano social 
 O primeiro efeito benefico importante foi o aumento geral da população 
africana, deveu‑se ao estabelecimento de solidas bases economicas e ao 
desenvolvimento de malhas rodoviarias e ferroviarias, que permitiu transportar 
mantimentos para as regiões onde reinava a fome, bem como lançar campanhas 
contra doenças como a peste bubonica, a febre amarela e a doença do sono. 
 A urbanização, os reinos e imperios africanos possuiam capitais e centros 
politicos, porem, que o colonialismo acelerou enormemente o ritmo da 
urbanização; surgiram cidades inteiramente novas: 
 A difusão do cristianismo, do islamismo e da educação ocidental representou 
outro importante impacto do colonialismo. A propagação da educação ocidental 
esta estreitamente ligada a do cristianismo. A difusão da educação ocidental teve 
efeitos sociais de grande alcance, entre os quais o numero crescente dos 
membros da elite africana educados a europeia, que hoje em dia constitui a 
oligarquia reinante e o essencial da administração dos Estados africanos. 
 A instituição de uma lingua franca em cada colonia ou conjunto de colonias. 
Mas, se o colonialismo teve alguns efeitos sociais positivos, teve tambem os negativos, 
alguns seriamente negativos. 
 A diferenciação na concentração demográfica durante a época colonial entre os 
centros urbanos e as zonas rurais, que não se deu em consequencia do aumento 
natural da população, sendo antes o resultado daquilo que se chamou de “forcas 
de atracção e de repulsão: o continuo êxodo de jovens de ambos os sexos para os 
centros urbanos, pela necessidade de frequentar escolas e encontrar trabalho, 
repelidos do meio rural. 
 Nos centros urbanos, se encontravam as comodidades que melhoravam a 
qualidade da vida. As regiões rurais estavam praticamente entregues a sua 
propria sorte, o que acentuava o fenomeno da deserção. Ainda hoje ha um fosso 
enorme entre as zonas urbanas e as zonas rurais do continente africano, não 
havendo duvida de que foi o sistema colonial que o criou e ampliou. 
 O numero de colonos europeus e asiáticos aumentou. 
 No plano da educacao, revelou‑se globalmente inadequada, desigualmente 
distribuida e mal orientada, de modo que seus resultados não foram, portanto, 
tão positivos para a África como poderiam ser. Houve durante esse periodo 
cinco tipos diferentes de instituições educacionais: escolas primarias, 
secundarias, escolas normais, escolas tecnicas e universidades. Por outro lado, 
em parte alguma e em nenhum grau o sistema escolar satisfazia a demanda, 
como tampouco estava distribuido equitativamente. Independentemente da 
insuficiencia numerica e da distribuição desigual; os curriculos oferecidos por 
todas as instituições eram determinados pelas autoridades e estreitamente 
imitados dos programas metropolitanos. Por isso não estavam adaptados as 
necessidades do continente. O impacto desse sistema educacional inadequado, 
coxo e mal orientado sobre as sociedades africanas foi profundo e quase 
permanente. Em primeiro lugar legou a África um enorme problema de 
analfabetismo, cuja solução levará muito tempo. 
 Em segundo lugar, a elite culta que ele criou era uma elite alienada, que 
reverenciava a cultura e a civilizacao europeias e menosprezava a cultura africana. A 
discriminacao racial tambem gerou entre alguns africanos um profundo sentimento de 
inferioridade, Pior ainda foi o impacto do colonialismo no plano cultural. tudo quanto 
fosse autoctone, desde a musica, a arte, a dança, os nomes, a religião, o casamento, o 
regime sucessorio, o uso das vestes africanas foi proibido ou desencorajado em algumas 
regioes, e as pessoas educadas a europeia, esta vincado nelas. 
 
A luta pela soberania política em África: contexto do nacionalismo a partir de 1945 
A descolonização de África e o processo pelo qual as colónias asseguraram a sua 
independência dos seus territórios não foi de nada pacífico, os movimentos de libertação 
foram uma consequência de não-aceitação das metrópoles a concessão ou o 
reconhecimento de direito a auto determinação das nações africanas. Alguns países 
como a Inglaterra e França a partir de 1945 iniciam a descolonização das suas colónias 
mas outros como Portugal e Espanha as suas colónias tiveram que passar por terríveis e 
prolongadas lutas de libertação. 
Todos países africanos resistiram ao colonialismo, e a resistência manifestou-se em 
quase todas as regiões de penetracao europeia. 
A Africa é afectada nos anos 30 e 40, por dois acontecimentos maiores em que se 
constituem a Grande Depressao e a Segunda Guerra Mundial. Os anos 30 inauguram 
uma serie de crises e mutacoes, aprofundadas e aceleradas pela guerra. No pos-guerra, 
novos equilibrios se estabelecem apos consideraveis dificuldades; eles sao muito 
rapidamente ameacados por movimentos politicos que saem reforcados e mais 
determinados do conflito. 
De 1940 a 1945, a evolucao dos diferentes paises esta ligada aos acontecimentos da 
guerra. No dominio politico, as crises do pre-guerra dao lugar a verdadeiras mutacoes: 
nacionalismos mais potentes e reivindicativos se manifestam desde 1943. Entre 1939 e 
1945, a evolucao das operacoes militares e a participacao, sob multiplas formas, dos 
paises africanos, estes dois fatores possuem um peso relativo muito maior sobre os 
rumos do conflito. A guerra produz numerosas dificuldades, economicas e sociais. A 
desorganizacao dos transportes repercute no declinante comercio exterior e a disparada 
dos precos aumenta o custo de vida, incentivando o mercado negro. A demanda 
induzida pela guerra se encontra na origem de um relativo crescimento industrial cuja 
durabilidade seria questionada pelo restabelecimento, em 1945, dos fluxos comerciais 
com a Europa. Os nacionalistas tiram as licoes de um conflito primeiramente externo e 
paulatinamente a eles imposto; eles inflectem seriamente as suas atitudes e revisam as 
suas perspectivas. 
O periodo dos anos de 1935 a 1945 foi chamado “a idade de ouro da colonizacao” e 
considerado como o apogeu da era colonial. Mas, essas denominacoes conferem uma 
falsa impressao da real situacao, esta soi-disant “idade do ouro”, na realidade, termina 
impreterivelmente durante a Grande Crise economica dos anos 30. Talvez fosse mais 
exato dizer que os anos de 1935 a 1945 tenham constituido a “decada de ouro” do 
extremismo de direita na Europa. 
As colonias das quatro potencias imperiais europeias foram profundamente afetadas 
pelas tendencias fascistas que haviam se expandido em suas respectivas metropoles 
mas, de diversas e muito complexas formas. 
Em Portugal, este periodo corresponde a estabilizacao de uma ditadura de direita que 
agravaria uma politica colonial ja particularmente repressiva. A decada de 1935-1945 
configurou um importante ponto de inflexao para a historia da libertacao da Africa, 
muito mais que um momento decisivo para o proprio imperialismo europeu. A era 
fascista nada mais foi senao um novo paragrafo da historia dos imperios europeus, mas 
ela inaugurou um novo capitulo nos anais do nacionalismo africano. Politicamente, os 
idos de 1935-1945 foram marcados pelo desenvolvimento do nacionalismo moderno, 
pela aparicao de novos niveis de consciencia politica, pelos balbuciamentos de 
organizacoes politicas modernas e pelo nascimento de jornais nacionalistas, 
Militarmente, os africanos participaram como soldados na luta contra as ditaduras 
fascistas da Europa – embora sujeitos coloniais, eles eram explorados por ambas as 
partes do conflito europeu. Culturalmente, a resistencia africana tomou por vezes um 
carater religioso. o isla nao foi a unica religiao a trazer uma resposta africana a era do 
fascismo. O cristianismo e as religioes tradicionais africanas tambem se revestiram em 
certos momentos de uma coloracao politica. 
 
Os movimentos de luta de libertaçãoem África 
Nós definimos a “descolonização” como o processo pelo qual o regime colonial atinge 
seu fim, as instituições coloniais são desmanteladas e os valores, bem como as 
modalidades coloniais, são abandonados.Teoricamente, a iniciativa da descolonização 
pode ser tomada, seja pela potencia imperialista, seja pelo povo colonizado. Na 
realidade, a verdadeira descolonização e geralmente imposta pela entrada dos oprimidos 
em luta. 
A Segunda Guerra Mundial rompeu o silencio envolvendo a politica colonial nos anos 
30 e lancou a Africa em uma nova tormenta. O conflito acelerou a evolucao de atitudes 
que ja haviam comecado a mudar. 
Em seu conjunto, a decada de 1935-1945 marcara, antes e sobremaneira, o nacionalismo 
africano comparativamente aos seus efeitos sobre as politicas coloniais europeias. O 
racismo europeu e a exploracao imperial permaneceram quase identicos, ao passo que a 
Africa se encontrava cada vez menos disposta a tolerar a sua propria humilhacao. Este 
periodo viu se cristalizarem novas formas de resistencia africana, notadamente: 
movimentos politicos, uma ebulicao religiosa e cultural, uma nova atividade sindical, 
um crescimento dos movimentos grevistas, bem como a aparicao do jornalismo politico 
africano. 
A Segunda Guerra Mundial teve um papel particularmente importante, como 
catalisadora. Este conflito nao ensinou a Europa a ser menos imperialista mas, instruiu a 
Africa no sentido de ser mais nacionalista e, neste ultimo continente, tambem estimulou 
a tomada de consciencia politica. 
O sistema colonial se tornara tao intoleravel a ponto de permitir o combate, lado a lado 
com o colonizador, em prol da liberdade. 
As colonias portuguesas e espanholas, atrasadas em sua evolucao social e economica, 
sairiam pouco a pouco de sua letargia mas, ao interditar qualquer possibilidade de 
organizacao politica ou sindical, os regimes fascistas nas metropoles haviam eliminado 
qualquer possibilidade de aprendizado da vida politica. Entretanto, o despertar dos 
povos destas colonias ecoou mais tarde com tamanho impacto que desestabilizaria a 
ditadura em Portugal, contribuindo para a libertacao do proprio povo portugues. 
 
Movimento de libertação nas colonias: portuguesa, francesa e espanhola, 
características 
As formas e lutas nas colónias africanas foram diferenciadas dependendo das 
características de dominação que cada metrópole impôs nas suas colónias. 
A extensão, a natureza e os limites da politica e do nacionalismo na Africa oriental, de 
1919 a 1935, examinando as diferentes formas de acção militante, os protagonistas 
eram as massas, e quem organizava a vida politica, durante esse periodo, eram os 
“jovens”, que haviam tirado proveito do ensino dos missionarios durante os vinte 
primeiros anos do seculo e eram capazes de apresentar as queixas dos africanos as 
autoridades coloniais. Interessavam- se principalmente pelas reivindicações locais, 
fazendo agitação contra os males que o colonialismo havia acarretado. 
Agiam em diferentes niveis, desde a baraza, ou assembleia publica das reservas, ate os 
governadores ou o secretario das Colonias, em Londres, a quem dirigiam petições. Suas 
tentativas de organização politica foram muitas vezes contrariadas pela potencia 
colonial, e nenhuma das associações fundadas logrou atingir todos os seus objetivos. 
Mas, enquanto duraram, tais associações relembraram as autoridades que a “voz da 
Africa” podia fazer-se ouvir por outros canais alem da administração colonial. No 
entanto, em muitos casos, as reivindicações africanas nunca deram lugar a organizações 
devidamente constituidas. Os limites da acção envidados pelos africanos durante o 
periodo considerado, centravam-se essencialmente nas questões locais, essa acção não 
redundou na criação de movimentos politicos eficazes em escala territorial. os africanos 
dos paises das Africas meridional e central resistiram ao colonialismo e deram uma 
importante quota parte para a preparação do movimento de libertação do continente 
desencadeado a partir de 1935. 
As formas mais avancadas de oposição ao colonialismo durante este periodo registaram-
se na União Sul Africana, onde o desenvolvimento da industria e, correlativamente, o 
processo de urbanizacao tinham integrado os africanos na economia capitalista mais 
cedo do que nos demais paises africanos. As organizações nacionalistas e politicas la 
criadas serviram de modelo em muitos paises das Africas meridional, central e oriental. 
 
Recrudescimento do nacionalismo em África – o processo de descolonização da 
África 
Se entre 1880 e 1910 se deu a conquista e efectiva ocupação do continente, foi entre a 
década de 1935 que se consolidou a exploração do sistema colonial. Atento às múltiplas 
formas de resistência dos povos africanos, Boahen nos informa que desde a irrupção do 
colonialismo as autoridades e os dirigentes africanos defenderam a sua soberania e 
independência mediante o confronto, o estabelecimento de alianças ou por meio da 
submissão temporária. Na maior parte das vezes fracassaram diante dos invasores que, 
dotados de tecnologia e capacidade bélica superiores, os reduziram à condição de 
colonizados, mas, o facto é que as populações, se bem que tenham se adaptado ao novo 
regime, mantiveram a resistência protestando por melhores condições de vidas. 
A conquista da África pelas potências imperialistas europeias foi rápida. Do mesmo 
modo, foi rápida a conquista da independência pelas colônias africanas. 
Características do continente africano no período pós II Guerra Mundial 
O Pan-africanismo e a Negritude 
O pan-africanismo é um movimento político e filosófico de potencial libertador baseado 
na noção de raça negra. No que diz respeito às raízes do movimento pan-africanista, é 
preciso ter em mente que elas deitam fundo os solos antilhanos e norte-americanos 
desde o século XIX. Ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, o pan-
africanismo nasceu no Novo Mundo, e não na África. Segundo R. D. Ralston e 
Fernando Mourão, o movimento deve ser considerado dentro da perspectiva dos laços 
estabelecidos entre os negros africanos e os da diáspora. Entre 1880 e 1935, período da 
corrida imperialista e subsequente ocupação colonial, tais relações transcontinentais 
vinham num crescente em função da existência de movimentos de retorno à África ou 
emigração dos negros; da ação evangelizadora dos negros americanos que pretendiam 
“salvar” a África do paganismo; da corrente de estudantes africanos que iam se 
matricular em escolas e universidade dos Estados Unidos; e em função da presença dos 
valores africanos na América Latina e nas Antilhas. 
Ainda segundo os autores, nos anos 1920 dois personagens dominaram a cena pan-
africanista: um foi o jamaicano Marcus Garvey (1887-1940) e o outro foi o norte-
americano W. E. B. Du Bois (1868-1963). 
O primeiro apelava para o orgulho negro visando despertar o interesse dos americanos 
negros pelo projecto de emigração espontânea para a África. 
A América era encarada como um continente discriminatório e que rejeitava seus filhos 
de cor. Por esse motivo, militantes como Garvey passaram a defender a colonização, 
isto é, o povoamento, de países como a Libéria e, depois, a Etiópia. Isso constitui o que 
chamamos de garveysmo. Du Bois, ao contrário, costumava ver com cepticismo uma 
proposta como essa. Para ele, o negro deveria ser integrado na sociedade americana e 
participar activamente das decisões políticas. 
Nos anos 1930, estudantes negros oriundos das colônias francesas nas Antilhas e na 
África, uma vez em Paris, seu ponto de encontro, entraram em contato com essas ideias 
e se sentiram tocados por seu espírito de luta e reivindicação. Nascia a nègritude, 
movimento cultural de retorno e valorização das raízes africanas. Tão transcontinental 
como o pan-africanismo, o conceito de negritude foi formulado na Europa por dois 
intelectuais, sendoum americano e o outro africano, a saber, o martinicano Aimé 
Césaire (1913-2008) e o senegalês Léopold Sédar Senghor (1906-2001). Estes vieram a 
formular as identidades negras que um projecto nacionalista como o pan-africanista 
demandava. 
Como qualquer movimento político, o pan-africanismo passou por mudanças. Estas 
foram particularmente perceptíveis a partir de 1935. Segundo Edem Kodjo e David 
Chanaiwa (2010), os interesses imperialistas da Itália de Mussolini levaram à invasão da 
Etiópia, fazendo eclodir a guerra ítalo-etíope naquele ano. Se, por um lado, ela 
significou a humilhação do Estado etíope, até então independente, por outro lado 
representou a “reafricanização” da Etiópia, que até então se sentia mais pertencente ao 
Oriente Médio do que à África, ao mesmo tempo em que fortaleceu a solidariedade no 
mundo negro. Contra o inimigo comum, os negros do mundo inteiro se uniram. 
Contudo, foi em 1944, com a fundação da Federação Pan-Africana e a organização do 
5º Congresso Pan-Africano em Manchester, que o movimento deu uma guinada. Ele 
deixou de ser afro-americano para se tornar eminentemente africano. À luta contra o 
racismo acrescentou a luta contra o imperialismo e o colonialismo. Agora que já se 
estava na África não cabia mais a discussão sobre movimentos de retorno. 
Ao refletir sobre as mudanças operadas no pan-africanismo, Saint Clair Drake pôde 
distinguir-lhe duas fases: a racial, predominante junto aos primeiros partidários do 
movimento, e a continental, disposta a realizar a unificação política do continente 
africano. Este último estendia seus horizontes em direção à África do Norte e era menos 
restritivo em termos raciais: os miscigenados do Brasil e de Cuba, por exemplo, 
passavam a ser admitidos. 
Ainda de acordo com Edem Kodjo e David Chanaiwa, o período situado entre 1960 e 
1964 assinala uma nova mudança para o pan-africanismo. Dezenas de colônias africanas 
alcançaram a independência formal, pulverizando politicamente o continente e 
complicando dessa maneira o carácter integracionista do movimento. No entanto, uma 
baixa no factor integração se fez compensar por uma alta no factor libertação. É nesta 
perspectiva que devemos vislumbrar a criação da Organização da Unidade Africana 
(OUA) em 1963. Composta por dezenas de Estados recém-independentes, a OUA 
cristalizaria o pacto político segundo o qual era dever dos territórios que se 
emancipassem apoiar os movimentos de libertação daqueles que ainda se encontravam 
na condição colonial. Por esse motivo, ela seria a instituição que prestaria tal apoio 
sistemática e coordenadamente. 
 
O Pan-africanismo e os movimentos de libertação de África 
Enquanto discurso e movimento de autoafirmação o Pan-africanismo tornou-se central e 
motivador político na luta contra o colonialismo e imperialismo, um movimento racial e 
político que enriqueceu a luta pela libertação do continente africano. 
Nos anos de 1930 o Pan-africanismo retomou sua ascensão entre os movimentos 
políticos conjunturais. Com a invasão da Itália contra a Etiópia (1935-1941) houve uma 
vigorosa reação pan-africana em relação à ascensão do fascismo na Europa, esta reacção 
proporcionou ao movimento a oportunidade de aprofundamento teórico e 
organizacional. Este desenvolvimento pode ser comprovado com a realização do 
Congresso Pan-africano de Manchester em 1945 que contribuiu para a derrocada do 
sistema colonial e a conquista das independências em África entre os anos de 1950 e 
1960. Durante este congresso o pan-africanismo concretizou-se em uma ideologia 
nacionalista orientada pelas massas a prol da libertação do continente africano. 
A fase descolonial e libertária do movimento foram construídas entre os anos de 1950 e 
1965 pelo intelectual Kwame Nkrumah. Por meio das acções e declarações políticas, 
Nkruman conseguiu reunir vários dirigentes africanos e movimentos de libertação em 
prol da libertação completa e unificada do continente africano. Ao protagonizar a luta e 
conquista da independência de Ghana lançaram-se as bases para a criação da 
Organização da Unidade Africana (OUA), que objectificava a independência política e 
organização dos movimentos de libertação. Na década de 1960 foi intenso o nascimento 
de Estados Africanos independentes o que acelerou o movimento de libertação colonial 
no continente africano. A OUA através de uma “ajuda planejada” conseguiu unificar e 
fortalecer a causa pan-africanista. Os novos Estados independentes compendiam que 
todos os estados africanos tinham o dever de ajudar os povos dependentes da África que 
lutam pela liberdade e independência. Por meio da OUA pode-se obter uma 
problematização acerca do colonialismo e do apartheid. A criação da OUA e do Comitê 
Africano de Libertação aumentou a confiança, o otimismo, a determinação e a 
combatividade dos nacionalistas africanos, o que rendeu na década de 1970 a libertação 
das colônias portuguesas em África (Guiné-Bissau, Angola, Moçambique). Na luta por 
dignidade humana, o pan-africanismo assumiu o compromisso de ressignificar o 
passado e construir uma realidade livre das correntes colonialistas evidenciando que as 
afirmações de identidade cultural favorecem a emancipação dos povos colonizados. 
(PAIM, 2016) 
Em 1956, se estava num momento de ebulição política da luta-colonialista e anti-
imperialista. É verdade que, nesta data, ainda não haviam países independentes na 
África sub-saariana. O primeiro será Gana, em 1957. Mas os movimentos pela 
Descolonização Africana já era um força politica poderosa e quase incontrolável em 
muitos destes países, como Gana, Senegal, Congo, Nigéria, Guiné. Não por acaso, 
estávamos próximos do “ano glorioso” de 1960, quando dezesseis países africanos 
adquirem a sua independência. Em particular, na África ocidental. Vale lembrar também 
que, em 1956, tinha acabado de ocorrer a Conferência de Bandung (1955), que é o 
marco fundador do “Terceiro Mundo” enquanto bloco político. O primordial a 
compreensão da PA da questão da cultura como uma força de libertação e solidariedade. 
Não apenas no sentido de que ela seja algo a ser instrumentalizado pela força política. 
No entanto, só entre 1960 e 1964, ocorreram dezessete independências nacionais 
africanas, sobretudo na África francófona. Isto complexificou a ação conjunta de um 
Pan-africanismo radical, como propunha N´Krumah. Sobretudo porque muitos líderes 
das novas nações africanas viam o seu projeto como uma tentativa de colonialismo 
interno africano, em que os estados já independentes pretendiam anexar territorialmente 
os recém-independentes. Em suma, embora houvesse consenso quanto a sua 
necessidade, não havia concordância em como este processo de integração deveria ser 
realizado. A partir dos Congressos Pan-africanos, em Kumasi (1953), Accra (1958), 
Monróvia (1959) e Addis Abeba (1960), o desafio da descolonização e o confronto 
entre Leste e Oeste abalariam o cenário político e diplomático, dando origem a duas 
ormas de pan-africanismo: o Grupo de Casablanca (1961) e o Grupo de Monróvia 
(1962). 
 
A Negritude e os movimentos de libertação em África 
A Negritude surge para recuperar a dignidade e a personalidade do homem africano e 
desperta-lo contra o domínio dos colonizadores em Africa por isso que ao decorrer do 
tempo o movimento negritude ganhou além da dimensão literária mas também politico. 
No campo politico a negritude serviu de uma mola impulsionadora para a conquista das 
independências em Africa. No campo ideológico, negritude pode ser entendida como 
processo de aquisição de uma consciência racial. Já na esfera cultural, negritude é a 
tendência de valorização de toda manifestação cultural de matriz africana. Portanto, 
negritude é um conceito multifacetado, que precisa ser compreendido a luz dos diversos 
contextos históricos. 
Os apologistas da negritude: Kwame Nkrumah, líder político africano e presidente de 
Gana entre1960 e 1966, um dos principais activistas pela descolonização da África. 
Através de suas declarações, da sua acção e do seu exemplo, mobilizou, em favor da 
causa pan-africana, os dirigentes africanos dos movimentos de libertação e dos Estados 
independentes. Segundo ele, como declarou na noite da conquista da soberania pelo seu 
país: “a independência de Ghana não tinha sentido senão na perspectiva de uma 
libertação completa do continente africano”. 
O filósofo francês Jean-Paul Sartre, no seu famoso texto Orfeu Negro, de 1948, foi um 
dos primeiros intelectuais de proa a fazer uma reflexão aprofundada do movimento da 
negritude. Orfeu Negro foi escrito como introdução a uma antologia de poesia negra, 
organizada por Leopold Senghor. No texto, Sartre reconhecia o papel subversivo do 
movimento da negritude em determinado momento histórico: seja porque negava os 
valores culturais do opressor branco, seja porque despertava no negro, altivez e orgulho 
racial. Já para outro expoente do movimento da negritude, o poeta senegalês Léopold 
Sédar Senghor, existe uma "alma negra" inerente à estrutura psicológica do africano. A 
"alma negra" teria uma natureza emotiva em detrimento à racionalidade do branco. 
Trata-se de um conceito de negritude essencialista em que "a emoção é negra como a 
razão é grega". Enquanto a civilização européia seria fundamentalmente materialista, os 
valores negro-africanos estariam fundados na vida, na emoção e no amor. 
Para Senghor, estes atributos constituíam um privilégio do negro. Os depoimentos, 
contudo, feitos a seu respeito por Césaire e Senghor, e ainda, o facto de um dos seus 
poemas haver sido utilizado como epígrafe, por Léon-Gontran Damas, em seu livro 
Pigments, são suficientes para que seu nome e sua obra não possam ser esquecidos. E 
sua actuação como um dos mais activos participantes desses movimentos.assegura-lhe a 
gratidão de todos os negros que, através da sua obra tanto quanto a de vários outros, 
puderam se conscientizar da discriminação que sofriam e decidiram ir à luta para anular 
a situação humilhante em que viviam. 
O Surgimento da Palavra Negritude, foi, provavelmente, a partir dos anos 60 do 
século XX que a palavra negritude passou a figurar nos dicionários da língua 
portuguesa, vinda do francês —négritude, com uso já comum, nesse idioma, desde a 
década dos 30, quando escritores negros nascidos em colônias da França ,usando-o 
como sua segunda língua, criaram-na e passaram a utilizá-la para exprimir algo novo 
que sentiam sem que houvessem antes encontrado termo apropriado para defini-lo. 
Mas que será, afinal, a negritude? A dificuldade de defini-la, persiste, ainda que já se 
tenha passado muitos anos desde o seu surgimento. Senghor tentou dar-lhe um conteúdo 
que ultrapassasse limitações étnicas e lhe propiciasse dimensões universais. Dela 
afirmou, então, ser uma nova maneira de ver e entender o mundo, um certo tipo de 
“existencialismo”, uma filosofia “enraizada na Terra-Mãe, que desabrocha ao sol da fé e 
pressupõe presença na vida.... no mundo.... participação do sujeito com o objecto.... 
comunhão do Homem com as forças cósmicas, do Homem com os outros homens.... e, 
além disso, com tudo o que existe, do seixo à Deus”. 
 
A Governação dos estados africanos independentes 
“Procurai primeiramente o reino politico e todo o restante vos sera dado em 
suplemento.” Quando pronunciou estas palavras, Kwame Nkrumah estava persuadido 
que a independencia politica era a chave de todas as melhorias projetadas para a 
condicao africana. Esta declaracao derivava da ideia de primazia do politico nos 
assuntos humanos − concepcao radicalmente diferente daquela propria ao determinismo 
economico. E, no entanto, em uma situacao colonial, a preponderancia dada por Kwame 
Nkrumah ao politico estava, ao menos em parte, justificada. A Africa colonial deveria 
realmente comecar por se esforcar em adquirir a soberania politica antes de planejar 
qualquer outro tipo de soberania. Mas, Nkrumah deixava obscura uma simples distincao 
que a logica nos ensina − aquela existente entre condicao suficiente e condicao 
necessaria. A soberania politica (“o reino politico”) era realmente uma condicao 
necessaria para que a Africa pudesse realizar ou satisfazer qualquer uma das suas 
aspiracoes essenciais. Mas, a soberania politica por si so nao era suficiente. 
Características gerais e comuns dos estados africanos no período pós-
independência 
A África se viu às voltas com a necessidade de lutar por sua independência económica 
antes mesmo de concluir o processo de luta por sua emancipação política. Carentes de 
quadros técnicos, de tecnologia industrial, de capitais e até de mercados, uma vez que o 
processo de dissolução das economias tradicionais não acarretou necessariamente a 
formação de um contingente significativo de consumidores com efectivo poder de 
compra, a virtual totalidade dos países africanos já despertou para a vida independente 
submetida a uma situação de subalternidade no âmbito da economia internacional. 
Premidos pelas necessidades urgentes de populações intensamente espoliadas durante 
séculos pelo sistema colonial, a primeira geração de dirigentes dos jovens estados 
africanos teve de equacionar, como primeiro item de sua agenda pós-colonial, o 
problema do subdesenvolvimento econômico e social. 
Produtoras e exportadoras de matérias primas e gêneros agro-pecuários, as novas nações 
africanas viram-se inseridas em um sistema de trocas caracterizado pela deterioração 
constante do valor de seus produtos primários em relação aos bens industrializados 
produzidos pelos países centrais (Europa, Japão e Estados Unidos) e o monopólio dos 
capitais e da tecnologia por parte destes, em muitos casos, suas antigas metrópoles 
coloniais. 
Alguns de seus líderes mais esclarecidos, como o ganense N’ Krumah, o tanzaniano 
Nyerere, o queniano Kenyatta, e o congolês Lumumba, diagnosticaram adequadamente 
as possibilidades e os constrangimentos para o enfrentamento bem sucedido dos 
desafios econômicos apresentados pela realidade. Compreendiam que a África possuía 
riquezas naturais extraordinárias, capazes de propiciar as bases de seu crescimento 
econômico, como as maiores reservas de ferro e carvão mineral do mundo, enormes 
jazidas de petróleo e um notável potencial hidrelétrico. Por outro lado, eram capazes de 
identificar também os obstáculos ao progresso material de suas sociedades: a grande 
fragmentação político-territorial, a dependência tecnológica, a falta de capitais para a 
exploração de suas próprias riquezas, as rivalidades étnicas internas, a falta de 
competitividade econômica de sua produção agro-pecuária e o próprio controle de seus 
principais recursos pelas grandes empresas ocidentais. 
 
Coerente com tais constatações, a parcela mais engajada desta primeira geração de 
líderes procurou adoptar procedimentos práticos capazes de optimizar as condições para 
a superação das mazelas deixadas pela dominação colonial. 
No âmbito interno: 
 definição do estado, enquanto actor fundamental do processo de 
desenvolvimento econômico, através da regulação da actividade do capital 
estrangeiro e nacionalização, sempre que possível, de sectores estratégicos da 
economia; implementação de políticas de fomento à actividade industrial e 
modernização da produção agro-pecuária. 
 
No âmbito externo: 
 tratava de somar-se aos esforços de estruturação de um movimento de países 
não-alinhados, juntamente com outros estados da Ásia e América Latina, que 
tinham entre suas principais reivindicações a revisão das regras do comércio 
mundial; a facilitação do acesso dos países emergentes às tecnologias, mercados 
e capitais para exportação de seus produtos; o assessoramento técnico e o apoio 
institucional das Nações Unidas aos seus programas de desenvolvimento 
econômico; em resumo, uma Nova Ordem Econômica Internacional (NOEI). 
 
Porém, osinteresses conflitantes das grandes potências ocidentais, particularmente da 
maior de todas elas, os Estados Unidos, não permitiriam que a marcha das nações 
africanas rumo ao progresso e ao desenvolvimento se realizasse sem incidentes. 
Identificando no recuo das antigas metrópoles colonizadoras européias na África uma 
ameaça de satelitização dos jovens estados pela União Soviética, as administrações 
norte-americanas implementaram, desde os anos 50, uma estratégia voltada para a 
substituição da influência européia por sua própria influência sobre o continente 
africano, assumindo a responsabilidade pela contenção do avanço da “influência 
soviética” nesta região. 
Recorrendo à chamada “diplomacia do dólar”, os governos norte-americanos 
procuraram, a princípio, influenciar os estados africanos, condicionando sua inclusão 
em programas de ajuda econômica e militar à concessão de privilégios para a operação 
de empresas estadunidenses nestes países e ao alinhamento diplomático e militar com 
Washington. 
Em outros casos, assessorou, treinou, financiou e armou grupos de oposição, golpes de 
estado e movimentos separatistas contra governos de orientação anti-neocolonialista, 
algumas vezes, em parceria com as antigas metrópoles colonizadoras. Além disso, 
desenvolveu uma política permanente de apoio aos regimes racistas da antiga Rodésia 
até 1980 e da República Sul Africana até 1994, que actuaram como factores de 
desestabilização econômica e militar dos estados africanos independentes da África 
Meridional. 
Como resposta a tais acções de desestabilização, os governos africanos de orientação 
mais anticolonialista e antiimperialista investiram em uma aproximação maior com a 
União Soviética e Cuba, de modo a obterem apoio diplomático e militar contra seus 
inimigos internos e externos. Tal facto aumentou ainda mais a tensão diplomática e 
militar e as divisões entre os estados africanos, deflagrando um longo e destrutivo ciclo 
de conflitos intracontinentais e militarização. 
O acirramento das rivalidades intra-africanas inviabilizou a cooperação e o 
desenvolvimento do comércio entre os países do continente, deteriorou as bases já 
frágeis da união continental e, em vários países, desorganizou a economia e dilapidou as 
riquezas naturais. 
Dilacerada internamente, politicamente instável e economicamente estagnada a maioria 
dos países do continente africano ainda teve que lidar com as transformações verificadas 
na vida internacional nas últimas duas décadas do século XX. 
As décadas de 80 e 90 do último século foram caracterizadas pelo fenómeno que ficou 
conhecido como Terceira Revolução Industrial. Este processo, verdadeira reestruturação 
produtiva do capitalismo mundial, se iniciou na seqüência dos choques nos preços do 
petróleo dos anos 70 e 80 e foi, entre outras coisas, uma resposta dos países 
industrializados às acções conjuntas dos países do chamado terceiro mundo na 
negociação de seus produtos no mercado internacional. Orientada, originalmente, pelo 
interesse no aproveitamento de matérias primas e fontes energéticas alternativas àquelas 
exportadas pelos países da periferia econômica do mundo, a chamada revolução tecno-
científica se realizou através da transição de um padrão de produção industrial - baseado 
no uso extensivo da força de trabalho e no processamento de insumos orgânicos -, para 
outro baseado no uso intensivo de força-de-trabalho e da tecnologia e no processamento 
de insumos já elaborados. 
Como resultado, toda uma geração de indústrias surgidas quando da chamada Segunda 
Revolução Industrial, no final do século XIX, foi substituída por outra, alicerçada na 
automação e na produção de artigos de alta tecnologia. 
Com isto, acentuou-se a subalternidade econômica dos países africanos no comércio 
mundial, através da perda de relevância relativa de suas importações, da 
sobrevalorização dos produtos exportados pelos países industrializados no comércio 
bilateral, aumentando também o abismo que separa as precárias economias do 
continente das indústrias do mundo desenvolvido. 
A participação do continente na economia mundial é, actualmente, inferior a 2%, tendo 
o volume de sua interação comercial com o restante do mundo declinado 40% no 
decorrer do período 1980-2000. A dívida externa africana atinge 315 bilhões de dólares, 
mais que o triplo do total de sua receita anual de exportações. A renda per capita 
africana caiu 20% desde 1980, passando, na África subsahariana, de US$ 752 a US$ 
641. Os investimentos directos estrangeiros na África correspondem a menos de 5% do 
total obtido pelo Terceiro Mundo. 
 
A Organização das Nações Unidas – ONU e a Organização da Unidade Africana – 
OUA 
A Organizacao das Nacoes Unidas, tal qual a conhecemos actualmente, é o produto de 
dois fenomenos historicos fundamentais produzidos no seculo XX: a Segunda Guerra 
Mundial e o processo de descolonizacao iniciado ao final deste conflito. 
A Segunda Guerra Mundial ressaltou a urgente necessidade de se criar um organismo 
mundial destinado a conservacao da paz. 
A União Africana (UA) surge num contexto diferente. Trata-se de uma fase 
caracterizada pela eliminação das últimas sobrevivências coloniais no seio do continente 
— o regime racista da África do Sul, desmantelado em 1994 da pacificação de 
sociedades dilaceradas por décadas por destrutivas guerras civis, como Angola e 
Moçambique; dos avanços democráticos materializados na remoção de velhos ditadores 
do poder como Mobuto e da emersão de novas lideranças regionais, como os dirigentes 
sul-africanos. Nesta atmosfera estão dadas as condições substancialmente favoráveis 
para a construção de novos consensos políticos continentais, para uma maior 
convergência diplomática e cooperação econômica. 
O papel da ONU na recuperação económica, social e política dos estados africanos 
A descolonizacao transformou a composicao do organismo instaurado e modificou o 
equilibrio 
de opinioes no seio das suas mais representativas instituicoes. 
O conflito mundial e o processo de descolonizacao estavam ligados e, de facto, a Africa 
esteve intimamente associada a estes dois episodios da historia planetaria. Os horrores e 
as destruicoes da Segunda Guerra Mundial haviam preparado a opiniao publica 
internacional para outra tarefa de pacificacao do mundo, conduzida por um organismo 
mais representativo que a Sociedade das Nacoes e do qual igualmente esperava-se maior 
eficacia. A brutalidade da agressao e dos crimes de guerra, a obscenidade e a 
desumanidade do genocidio cometido contra os judeus e outros povos, a propria 
amplitude do aniquilamento de vidas e bens, todos estes factores prepararam a 
comunidade internacional para outra experiencia em escala mundial. 
Porem, o novo organismo mundial nao deve a sua estrutura unicamente a guerra. Como 
nos o veremos, ele igualmente carrega a marca da descolonizacao, pois que numerosos 
paises, anteriormente submetidos ao regime colonial, alcancaram a independencia 
durante os vinte e cinco primeiros anos da sua existencia. 
Em 1980, o numero de membros da ONU passara de 51 para 157. A este respeito, as 
mutacoes incidentes sobre a Africa eram, sem duvida, a ilustracao mais notavel desta 
evolucao. A Africa saiu, deste modo e progressivamente, da sua condicao de 
dependencia e de sujeicao, dedicando-se, sobretudo a partir de 1960, a conquistar com 
confianca e fervor o seu estatuto de continente composto de nacoes soberanas, animado 
pela vontade de equilibrar as suas relacoes com o resto do mundo. 
 
Em 1945, a Africa estava muito mal representada no seio das Nacoes Unidas; esta 
representacao ocorria, poder-se-ia dizer, simbolicamente, por quatro Estados 
teoricamente independentes: a Etiopia, a Liberia, o Egipto e a Africa do Sul. Ademais, 
ela estava ausente na partilha, geografica e proporcional, das cadeiras nao permanentes 
do Conselho de Seguranca, exigida pelo artigo 23 daCarta das Nacoes Unidas, em seu 
paragrafo primeiro. O acordo, em vigor desde 1946 no ambito da Organizacao, repartia 
as cadeiras nao permanentes entre as diversas regioes do mundo, em funcao do seguinte 
barema: duas para a America Latina, uma para a Europa Ocidental, uma para a Europa 
Oriental, uma para o Oriente Medio e uma para o Commonwealth. A Africa nao era 
considerada e somente mais tarde o seria, em 17 de dezembro de 1963, quando a 
resolucao 1991 (XVIII) da Assembleia Geral far-lhe ia justica, atribuindo a Africa e a 
Asia cinco das dez cadeiras nao permanentes no Conselho de Seguranca. 
 
Com tamanha intensidade permaneceu a Africa em estado de dependencia (de 1945 a 
1960) que as Nacoes Unidas estimaram ter, a seu respeito, uma missao de emancipacao 
e uma responsabilidade de libertacao. Os lacos e os contactos firmados pelas Nacoes 
Unidas com a Africa eram, consequentemente, relacoes unilaterais e sob certos aspectos 
paternalistas, na justa medida que derivavam de actos elaborados e decretados por 
actores externos e estrangeiros, naturalmente levados a confundirem os interesses da 
Africa com aqueles da comunidade internacional, senao com os seus proprios. 
Retrospectiva e actualmente, pode se melhor apreender o esquema geral destas relacoes. 
Desde a sua formacao em Sao Francisco, no ano de 1945, a ONU desempenhou frente a 
Africa tres papeis principais (compreendendo certo numero de contradicoes): aquele 
referente a uma potencia imperial colectiva, herdado da Sociedade das Nacoes; outro 
proprio a um aliado do movimento de libertacao; e um ultimo, relativo a um parceiro no 
ambito do desenvolvimento. 
O organismo mundial mostrou-se tao cuidadoso em seu papel imperial (mediante o qual 
actuou, por assim dizer, como um “proprietario nao residente”) que se tornou dificil 
dissociar esta atribuicao daquela desempenhada como aliado pela libertacao. 
Diferentemente das outras potencias imperiais, a ONU aspirava acelerar o ritmo da 
descolonizacao. Portanto, ela se chocou inumeras vezes com as potencias coloniais, as 
mesmas que administravam as tutelas em seu nome. 
Nem sempre foi facil saber com precisao onde terminava o papel imperialista do 
organismo mundial, no sentido colectivo do termo, e onde comecava o seu papel como 
aliada do movimento de libertacao. 
Do ponto de vista do apoio oferecido pela ONU a descolonizacao e a libertacao da 
Africa, a questao argelina consistiu no maior problema dos anos 1950. Poucas potencias 
imperiais resistiram com tamanho afinco a perda de uma colonia quanto demonstrou a 
Franca relativamente a Argelia. E, no entanto, a Franca era membro permanente do 
Conselho de Seguranca (com direito de veto), alem de aliada dos Estados Unidos da 
America do Norte, desde 1948, no seio da Organizacao do Tratado do Atlantico Norte 
(OTAN). Nestas condicoes, quais chances poderia ter a organizacao mundial de apoiar a 
libertacao da Argelia? 
Em setembro de 1955, ao longo da decima sessao da Assembleia Geral, os paises afro-
asiaticos fizeram uma primeira tentativa no sentido de envolver a ONU com o problema 
argelino, apresentando-o como uma potencial ameaca a paz mundial. 
 
A contribuição da OUA na consolidação dos Estados africanos 
Com a finalidade de conduzir os esforços conjuntos dos países africanos a um patamar 
superior, foi criada em Durban, na África do Sul, a 9 de julho de 2002, a União 
Africana, em substituição à Organização da Unidade Africana, fundada em Adis-Abeba 
(Etiópia), em 25 de maio de 1963. As tarefas da OUA foram as mesmas da primeira 
geração de líderes africanos pós-independência e dos condutores dos processos de 
libertação nacional. 
Seu objectivo principal consistiu em proporcionar apoio econômico, militar e 
diplomático 
aos movimentos de luta pela descolonização, contribuir para sua unidade e divulgação 
de suas atividades, no que foi, em geral, bem sucedida. Quanto a outros objectivos 
inscritos na agenda da entidade, quando de sua instauração, os resultados foram, de 
modo geral, bem mais modestos, a saber: o desenvolvimento de políticas comuns e da 
cooperação econômica entre os países africanos, a consolidação da influência 
internacional dos estados do continente, a protecção da soberania, da integridade 
territorial e da independência dos estados e a coordenação das actividades destes em 
matéria de política externa, economia, defesa e cultura. 
Os objectivos da UA não são pequenos, como não é pequeno o tamanho dos desafios 
que terá de enfrentar. Pretende-se a criação de um Parlamento Pan-Africano, do 
Tribunal de Justiça, de um Conselho Econômico e Social, de uma força comum de 
defesa e de um sistema financeiro (Banco Africano, Fundo Monetário Africano, Banco 
de Investimento Africano). 
Trata-se de um esforço ambicioso, vertebrado por uma ampla coalizão de governos, a 
serviço do enfrentamento dos graves problemas elencados anteriormente. A medida em 
que o mundo se torna cada vez mais assimétrico, excludente e inseguro, em que as 
próprias economias avançadas promovem a formação de grandes blocos regionais, 
parece não haver alternativa para as nações africanas a não investir decididamente nesta 
proposta ser de unificação, capaz de optimizar o aproveitamento das grandes riquezas 
do continente, fortalecendo sua posição negociadora e estimulando os intercâmbios 
econômico, científico e cultural entre os povos da região. Acima de tudo, parece ser 
uma oportunidade absolutamente original de reconciliar a África consigo mesma, com 
suas belezas e seus defeitos, com seus valores e tradições, com sua riqueza e 
diversidade. É uma chance de encarar seu passado sem as pressões do colonialismo e 
das rivalidades interestatais, na perspectiva de uma melhor compreensão de seu 
complexo presente e ante o horizonte da construção de um grande futuro. 
 
A cooperação entre os estados africanos independentes (formação de blocos 
regionais económicos e militares) 
A integração regional em Africa e a inserção das economias africanas no espaco global 
pela via do multilateralismo constituem questões centrais para o continente africano. 
Porém, o processo de integração regional, iniciado em Africa há cerca de duas décadas, 
tem-se mostrado decepcionante apesar de alguns progressos pontuais (modestos) ao 
nível da CEAO, ao mesmo tempo que a parte das exportações africanas nas exportações 
mundiais tem vindo a decrescer, com a consequente marginalização do continente na 
economia internacional. 
Muitos autores viraram-se então para a alternativa proposta pela teoria neoclássica e seu 
paradigma da extroversão. Todavia, no que se refere aos países africanos, esta opção 
comporta insuficiências teóricas e, a curto e médio prazos, impossibilidades praticas que 
não parecem responder à situação que o continente atravessa, independentemente de ser 
ou não a mais desejável. 
0 modelo sofreu entretanto uma erosão, e em diversas partes do mundo anos regista-se, 
nos últimos anos, um novo interesse pela regionalização, sob as suas diferentes formas, 
da "Zona de Comércio Preferencial" à "União Económica" . Na Europa, no continente 
americano, na Ásia e na África as zonas preferenciais concentram as atenções dos 
homens políticos (Mercado Único, NAFTA, Mercosur, transformação da SADCC em 
SADC, etc.). o continente africano devera reforçar a vertente da integração regional, 
sem nunca perder de vista a sua inclusão nas correntes comerciais da economia mundial. 
A regionalização aparece desta maneira como um meio transitório, uma fase 
preparatória durante a qual as economias africanas deverão operar transformações 
radicais, quer no piano económico quer no piano politico. A integração regional é uma 
condição sine qua non do desenvolvimento africano, mas tudo leva a crer que se trata de 
uma condição insuficiente a médio e longo prazos. Por seu turno, o continente africano 
enveredou desde os anos 70 pelas chamadas "Comunidades Económicas",com a criação 
da CEAO e CEDEAO na Africa ocidental e a formação de outros agrupamentos com 
objectivos similares. 
Mas, no essencial a integração proclamada não teve efeitos significativos apesar de 
algumas realizações pontuais e limitadas, nomeadamente na CEAO. Deixando de lado a 
questão ainda prematura da "integração vertical", o que a certo e que a formação de 
zonas preferenciais, vistas como zonas proteccionistas de dimensão regional, não pode 
ser encarada como um objectivo ultimo que traria, enfim, a "solução" dos problemas 
africanos. 
a esperança da Africa esta justamente no caminho do pragmatismo e do compromisso, 
onde a integração regional poderá construir os fundamentos de uma mais rápida 
inserção do continente na economia global. 
 
Não a de excluir que essa orientação possa conjugar duas formas de integração: 
horizontal e vertical. Seja qual for a estratégia mais desejável para o desenvolvimento 
dos países africanos, a evolução dos acontecimentos dependera de dois factores: por um 
lado, dos resultados obtidos pelo GATT no Uruguay Round; por outro lado, das 
condições intemas dos países africanos e, em ultima analise, da capacidade politica dos 
respectivos governos em levar por diante as reformas inadiáveis. 
Da conjugação das dual vertentes resulta uma outra conclusão mais genérica: a de que a 
analise do desenvolvimento em Africa já não pode, neste final do século, ser construída, 
unicamente, nem na visão "introvertida" que caracterizava teorias e politicas 
económicas nos anos 60-70; nem na perspectiva abstracta da "extroversão" niveladora 
dos anos 80, que relegava para a outras ciências sociais as diferenças pressentidas. 
 
A cooperação entre os estados africanos: Formação dos blocos regionais 
económicos e políticos na África Ocidental, Oriental, Central e do Norte 
Os processos de integração no Continente Africano obedecem a uma lógica bastante 
particular, fruto do contexto histórico e sócio-político no qual foram criados. As 
temáticas de segurança e construção do Estado estão presentes em grande parte desses 
processos, especialmente no caso da África Austral. A Comunidade para o 
Desenvolvimento da África Austral (SADC) é um dos casos mais emblemáticos quando 
se fala em integração securitária na África, tendo em vista sua própria origem, assentada 
na necessidade dos países da região de fazer frente ao regime do apartheid na África do 
Sul. 
A Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da África Austral (SADCC) 
que, alguns anos mais tarde, viria a se tornar a SADC, tem uma origem histórica 
bastante significativa e foi antecedida por uma série de organizações que culminaram 
com a criação dos Estados da Linha de Frente. O contexto do apartheid na África do 
Sul determinou, em grande medida, a actuação externa dos outros países da região e 
motivou a união desses países em torno de organizações que visassem a coordenação de 
políticas contra o regime de segregação racial e de apoio aos movimentos de libertação 
nacional. 
Em 1975, os Chefes de Estado de Botsuana, Tanzânia, Zâmbia e Moçambique criam os 
Estados da Linha de Frente (FLS). Os FLS nascem como um fórum de cooperação entre 
os Estados, sem ser uma instituição formal, com o objectivo de coordenar políticas em 
apoio aos movimentos de libertação nacional e reduzir a dependência dos países da 
região em relação à África do Sul. 
Com a independência de Moçambique, Angola e Zimbábue, os Estados da Linha de 
Frente perceberam a necessidade de tratar, também, das questões económicas na região. 
Em 1979, o Presidente da Tanzânia, Julius Nyerere, convoca uma reunião consultiva na 
cidade de Arusha, Tanzânia. Na ocasião, os membros dos FLS reuniram-se para debater 
a possibilidade de uma aliança económica entre eles. 
Em Abril de 1980, a SADCC é formalmente criada, através do Protocolo de Lusaka. 
Enquanto os Estados da Linha de Frente coordenavam esforços para apoiar os 
movimentos de libertação nacional e resistir às agressões da África do Sul, a SADCC 
tentava reduzir a dependência económica desses países em relação à Pretória 
(MURAPA, 2002). É importante deixar claro, assim, que a organização dos Estados da 
Linha de Frente não foi transformada na SADCC, as duas continuaram coexistindo. 
O momento histórico no qual a SADCC é criada, bem como o histórico de organizações 
que a antecede, torna bastante clara a existência de uma trajectória de cooperação 
política-securitária que antecede a cooperação económica. 
Como é sabido, o início dos anos 90 foi palco de mudanças em todo o sistema 
internacional, com o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética. Na África, 
em específico, concretizou-se o fim da batalha anticolonial e a abolição do regime do 
apartheid na África do Sul. Os problemas políticos e de segurança, desta forma, 
alteram-se, e surge uma oportunidade para maior colaboração regional nessas áreas. 
É nesse contexto de mudança e novas possibilidades que, em 1992, os Chefes de Estado 
da SADCC assinam a Declaração e o Tratado de Criação da Comunidade para 
Desenvolvimento da África Austral, a SADC, conhecida como declaração de 
Windhoek, cidade da Namíbia onde ocorreu o encontro. Nesse momento, passam a 
fazer parte da SADC, Angola, Botsuana, Lesotho, Malawi, Moçambique, Namíbia, 
Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. 
Em Agosto de 1994, a África do Sul, após o fim do regime do apartheid e a vitória 
eleitoral do Congresso Nacional Africano, ingressa na SADC. Quatro anos mais tarde, 
durante o encontro de Blantyre, são admitidos a República Democrática do Congo e 
Seychelles. Em 1995, havia ingressado Ilhas Maurício. O último membro a ingressar na 
SADC foi Madagascar, na Cúpula do Jubileu de Prata da SADC, em 2005. 
Como é sabido, o início dos anos 90 foi palco de mudanças em todo o sistema 
internacional, com o fim da Guerra Fria e a dissolução da União Soviética. Na África, 
em específico, concretizou-se o fim da batalha anticolonial e a abolição do regime do 
apartheid na África do Sul. Os problemas políticos e de segurança, desta forma, 
alteram-se, e surge uma oportunidade para maior colaboração regional nessas áreas. 
É nesse contexto de mudança e novas possibilidades que, em 1992, os Chefes de Estado 
da SADCC assinam a Declaração e o Tratado de Criação da Comunidade para 
Desenvolvimento da África Austral, a SADC, conhecida como declaração de 
Windhoek, cidade da Namíbia onde ocorreu o encontro. Nesse momento, passam a 
fazer parte da SADC, Angola, Botswana, Lesotho, Malawi, Moçambique, Namíbia, 
Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábwe. 
 
A crise económica dos anos 80 e a emergência do Programa de Reajustamento 
Estrutural em África 
A crise económica dos anos 1980: características 
Situação africana entre 1960 e os anos 80 
É conveniente relembrar antes de mais a grande diversidade do continente africano, 
mesmo se apenas nos referirmos à zona subsariana. Do ponto de vista da população, só 
seis países têm população superior (em 1982) a 15 milhões de habitantes: Etiópia, 
Quénia, Nigéria, Sudão, Tanzânia e Zaire. 
Vinte e quatro têm menos de 5 milhões e doze menos de 1 milhão. As dimensões dos 
mercados internos nacionais condicionam desde logo as políticas económicas e o 
desenvolvimento desses países. Diferentes em tamanho, são-no também em recursos 
disponíveis, na localização (uns na floresta tropical húmida, outros na savana ou no 
interior semi-árido; uns com acesso ao mar, outros ainda enclavados no continente) ou 
na estrutura social. 
Existe contudo um certo número de características comuns: 
1. A maioria das economias africanas é aberta e o comércio externo representa 
certa de 25% do PIB. São economias especializadas essencialmente na 
agricultura e geralmente tributárias de dois ou três produtos de base. O essencial 
da população activa está ligada à agricultura (raramente menos de 70%) e a 
agricultura de subsistência fornecemetade ou mais da produção agrícola total. 
2. O fraco nível de instrução e as fortes taxas de fecundidade que se traduzem em 
taxas de crescimento natural de cerca de 3%, as mais elevadas do Terceiro 
Mundo. Em 1940 a África contava com 200 milhões de habitantes, em 1970 
com 270 milhões e em 1980 com 359 milhões. Calcula-se que no fim deste 
século ela poderá atingir, segundo as estimativas, de 700 a 900 milhões de 
pessoas, o que, dada a penúria alimentar e as fracas perspectivas de 
desenvolvimento actuais, torna esta questão preocupante. 
3. A profunda crise económica do continente, não deve todavia fazer esquecer os 
resultados positivos que foram conseguidos neste quarto de século. 
4. Nos recursos humanos, por exemplo, a percentagem de crianças escolarizadas 
(em relação ao total escolarizável) passou entre 1960 e 1980, no ensino primário, 
de 36% a 63%, no ensino secundário de 3% a 13% e no ensino superior de 
praticamente 0 a 1 %5. Do mesmo modo a esperança de vida à nascença, 
principal indicador do estado de saúde geral, passou de 39 a 47 anos e a taxa de 
mortalidade infantil desceu de 38 para 25%. 
5. As infra-estruturas (portos, caminhos de ferro, estradas e construção civil) 
registaram em muitos casos importantes melhoramentos. 
6. No período pós-colonial certos países conheceram guerras ou crises profundas e 
traumatizantes, é conveniente sublinhar que os exemplos de transição pacífica e 
de harmonia étnica são igualmente numerosos. 
O desenvolvimento africano depara, sobretudo desde os anos 70, com crescentes 
dificuldades económicas. Os obstáculos a esse desenvolvimento são, a nosso ver, de 
ordem externa e interna. Certos autores põem, o acento exclusivo sobre um ou outro 
desses aspectos, esquecendo uns que no quadro de mundialização crescente da 
economia o contexto internacional condiciona cada vez mais directamente a vida de 
cada país, e ignorando outros que apesar disso é indispensável ter em conta as 
características próprias de cada estrutura social que não é apenas o mero reflexo do 
exterior. Há por conseguinte interacção entre os elementos internos e externos e só os 
separamos por comodidade da exposição. 
Os factores de origem externa ou em estreita relação com o exterior são igualmente 
determinantes em muitos aspectos: degradação das balanças de pagamentos e respectivo 
crescimento em flecha da dívida externa, deterioração dos «termos de troca» para 
muitos produtos africanos, em particular os minérios que, nos anos 70, se degradaram 
de 7,1 % por ano, embora durante o mesmo período os produtos agrícolas tivessem 
conhecido uma evolução favorável. No conjunto, os países africanos importadores de 
petróleo conheceram uma variação desfavorável dos termos de troca na década de 70 de 
—1,5% por ano e de 1980 a 1982 de —4,7% por ano. 
Contudo, a principal causa de agravamento dos défices da balança comercial durante a 
década de 70 não parece ter sido apenas a deterioração dos termos de troca, mas sim, em 
relação à década anterior, a diminuição do volume das exportações. Se esse volume 
tinha aumentado a uma taxa de 5,3% por ano de 1960 a 1970, no período de 1970-1980 
acusou uma diminuição anual de — 1,6% no conjunto dos países africanos ao sul do 
Sahara. Do mesmo modo se a parte da África nas exportações do Terceiro Mundo (com 
excepção dos combustíveis) era em 1960 de 18%, em 1978 essa percentagem tinha 
descido para 9,2%. Tal situação liga-se em parte ao facto de a África, mais do que 
qualquer outra região, estar essencialmente dependente de um número restrito de 
produtos primários, produtos que, no plano mundial, viram o seu comércio desenvolver-
se mais lentamente do que os produtos manufacturados. 
É enfim corrente sublinhar que as novas teorias proteccionistas, e sobretudo as 
restrições comerciais impostas pelos países industrializados em crise, teriam dificultado 
a colocação dos produtos africanos nos mercados europeus em particular. Porém, essas 
restrições afectaram essencialmente produtos agrícolas de climas temperados e bens 
manufacturados em que a África não tem uma produção significativa. Por outro lado, os 
acordos de Lomé, sejam quais forem ainda as suas insuficiências, permitiram aos 
produtos africanos beneficiar de uma situação preferencial que minimizou as 
dificuldades eventuais. Não foram portanto os mercados externos que nos anos 70 se 
fecharam aos produtos africanos, mas sim a parte das exportações deste continente que 
diminuiu, quer em relação às exportações dos países em desenvolvimento, quer em 
relação às exportações mundiais. Segundo o Banco Mundial, três factores explicam 
esses maus resultados: o abandono a que foi votada a agricultura pelos governos 
africanos, o crescimento da população que reduziu o excedente exportável e a rigidez 
das economias africanas, que as impediu de se diversificar e de entrar em novos 
mercados em expansão. As dificuldades crescentes da África subshariana resultam num 
quadro sombrio que se projecta senão até ao fim do século pelo menos sobre toda a 
década de 80. A discussão em torno das causas internas ou externas ou da sua 
convergência, bem como das propostas de soluções para o desenvolvimento africano, 
será particularmente viva nos grandes balanços internacionais elaborados a partir de 
1980, o primeiro dos quais será o «Plano de Acção de Lagos». 
 
 
Os Programas de Reajustamento Estrutural implementados em África: 
características 
A partir ,do início dos anos 80, vários países da Africa subsahariana empreenderam 
programas de ajuste visando a reduzir distorções econômicas e desequilíbrios 
financeiros, em face de crescentes pressões internas e externas. Os programas 
procuravam atingir, a médio prazo, uma taxa sustentável de crescimento econômico, 
compatível com estabilidade de preços relativos e um posicionamento viável do sector 
externo. Esses esforços ganharam impulso recentemente, e os países que persistiram em 
seus programas de ajuste fizeram progressos econômicos significativos. 
O Fundo Monetário Internacional, em estreita colaboração com o Banco Mundial, 
apoiou de perto esses esforços, prestando orientação e assistência técnica e financeira, e 
actuando como catalisador dos fluxos de recursos internacionais. 
O continente africano tem pela frente um enorme desafio nos anos 90 no que tange a seu 
objectivo de melhorar o padrão e a qualidade de vida de sua população. Os progressos 
recentes obtidos por alguns países no tocante a algumas de suas dificuldades mais 
prementes puseram em evidência os problemas estruturais mais graves e mais profundos 
a serem enfrentados na próxima década. Além disso, é preciso 
que vários outros países também empreendam esforços de ajuste. Do mesmo modo, 
para a região como um todo, faz-se necessário fortalecer o processo de ajuste para 
atingir o cerne dos problemas estruturais; perseverar nos esforços de ajuste; e fazer com 
que mais países adoptem programas de reforma estrutural. 
Crescimento e ajuste 
O crescimento econômico é um objectivo central, mas sua sustentabilidade depende da 
manutenção da estabilidade financeira interna e externa. Assim, o facto de se dar maior 
ênfase às políticas estruturais em nada diminui a importância de políticas adequadas de 
controle da demanda. 
Quando há uma pressão excessiva da demanda, refletida numa inflação interna alta, a 
poupança e o investimento são desestimulados, o que leva à queda do crescimento da 
produção. Além disso, essas 
pressões da demanda se fazem ·sentir em desequilíbrios externos persistentes, que, por 
sua vez, contribuem para uma supervalorização da moeda e para a escassez de divisas. 
Daí resultam distorções de preços e restrições à importação de produtos intermediários 
vitais e bens de capital que prejudicam as indústrias de exportação e de similares 
nacionais, em detrimento do crescimento econômico, Assim sendo, o ajuste não pode 
ser meramente estrutural ou financeiro,

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