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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE NOVA IGUAÇU – RJ. Processo nº _________________________. LIGHT - SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A., pessoa jurídica de direito privado concessionária do serviço público de distribuição de energia elétrica, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 60.444.437/0001-46, com sede na Avenida Marechal Floriano, nº 168, Centro, Município do Rio de Janeiro, nos autos do processo em epígrafe em que se examina ação ajuizada por LEONARDO GONÇALVES, vem através do procurador que esta subscreve apresentar sua CONTESTAÇÃO, pelos fatos e fundamentos que abaixo aduzidos. I. DA TEMPESTIVIDADE. Nos termos do art. 335 do CPC, considerando que a intimação para responder a presente ação ocorreu em (data)¸ conforme (intimação), tem-se por tempestiva a presente contestação, devendo ser acolhida. II. BREVE SÍNTESE 1. Insurge-se a parte autora contra o Termo de Ocorrência e Inspeção – TOI sob o nº 007007 e a consequente cobrança do consumo recuperada. 2. Do exposto requer: a nulidade da multa (TOI); indenizaçao por danos morais e materiais e por fim, a condenaçao da Cia. em custas processuais e honorários. 3. Contudo, tais pretenções não merecem ser acolhidas com base nas demonstrações de fato e de direito que serão expostas na presente peça contestatória. Eis a lide em sua essência. III. DAS PRELIMINARES. AUSÊNCIA DE PRETENSÃO RESISTIDA – NÃO ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA. 4. No presente caso sequer houve a tentativa do Autor em resolver a demanda diretamente com o Réu, o que se comprova pelo fato da parte autora não juntar protocolo de atendimento, fato que seria prontamente esclarecido se a parte autora entrasse em contato com a Concessionária Ré. 5. Trata-se de falta de interesse e necessidade da via jurisdicional, por sequer demonstrar em sua inicial a presença de uma pretensão resistida, uma vez que no presente caso havia plena possibilidade de cumprimento espontâneo da tutela mediante simples requerimento. 6. Vale dizer que, após a lavratura do TOI, a autora tomou ciência do débito apurado e de que poderia apresentar recurso junto à Light, ora parte Ré, caso não concordasse com a cobrança. Todavia, o autor deixou transcorrer o prazo in albis, e intentou a presença ação buscando a condenação da empresa, que se espera, não ocorra. A doutrina ao lecionar sobre o tema destaca: "O interesse de agir concerne à necessidade e à utilidade da tutela jurisdicional pedida pelo demandante. A legitimidade para causa (ou legitimatio ad causam), que não se confunde com a legitimidade para o processo (ou legitimatio ad processum, conhecida ainda como capacidade para estar em juízo), concerne à pertinência subjetiva da ação, atine à titularidade (ativa e passiva) da ação. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade." (MITIDIERO, Daniel. ARENHART, Sérgio Cruz. MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Código de Processo Civil Comentado - Ed. RT, 2017. e-book, Art. 17). 7. Dessa forma, diante da manifesta inadequação da via jurisdicional para o pleito, tem-se por demonstrada a falta de interesse em agir. IV. DO MÉRITO - DA REALIDADE DOS FATOS De fato, técnicos estiveram junto a residência do autor ao passo que fora lavrado o TOI n° 007007 com todas as informações detalhadas e a descrição da irregularidade detectada – conforme documentos em anexo. Após a constatação da aludida irregularidade, o consumo da unidade foi normalizado. Como restou demonstrado, há divergência entre a energia efetivamente vendida e o valor faturado, de forma que a diferença apurada representa débito junto à ré. Após a confirmação das irregularidades apuradas, efetuou a Ré o cálculo da receita a ser recuperada, tomando por base a carga elétrica instalada na unidade consumidora, tudo de acordo com o disposto no art. 130 da Resolução nº 414/10 da Agência Nacional de Energia Elétrica. Logo, não há que se falar que o débito realizado pelo réu, é totalmente ilegal. A ré agiu a todo tempo pautada na legislação que rege a matéria, não havendo que se falar em ilegalidade ou afronta aos direitos da autora. Vale frisar que, após a lavratura do TOI, a apelante tomou ciência do débito apurado e de que poderia apresentar recurso junto à Light, caso não concordasse com a cobrança. Todavia, o autor deixou transcorrer o prazo in albis, e intentou a presença ação buscando a condenação da empresa, que se espera, não ocorra. Nesse sentido vale destacar o artigo 129, §4º da Resolução 414/2010: Artigo 129, §4º - Na ocorrência de indicio de procedimento irregular a distribuidora deve adotar as providencias necessárias para sua fiel caracterização e apuração do consumo não faturado ou faturado a menor. Desta forma, não há que se questionar a conduta da ré, uma vez que se encontra em consonância com a legislação vigente. DO EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO – DA EXCLUDENTE DE ILICITUDE. Inicialmente, a Light pede vênia para estabelecer uma premissa que deverá ser observada ao longo dessa defesa: o Termo de Ocorrência e Inspeção praticado pela concessionária, na forma da Resolução ANEEL 414/10, é ato administrativo consubstanciado na aplicação de uma providência reparatória em razão de irregularidade comprovada na medição de consumo de energia elétrica. Uma vez ser ato administrativo, o TOI é dotado de atributos, que lhe são peculiares, tais como, segundo as lições de Hely Lopes Meirelles, “a presunção de legitimidade, porque se presume legal a atividade administrativa, por conta da inteira submissão ao princípio da legalidade; auto-executoriedade, uma vez que será executado, quando necessário e possível, ainda que sem o consentimento do seu destinatário; imperatividade, ante a inevitabilidade de sua execução, porquanto reúne sempre poder de coercibilidade para aqueles a que se destina”. Nesta esteira, é inegável que os atos administrativos, qualquer que seja sua categoria ou espécie, nascem com a presunção de legitimidade, independentemente de norma legal que os estabeleça. Vale ressaltar, que essa presunção decorre do princípio da legalidade da Administração, que, nos Estados de Direito, informa toda a atuação governamental. A Pois bem, o objetivo de deixar tal premissa consignada logo no introito se deve ao fato de que, a partir da entrada em vigor da Resolução 414/10 da ANEEL, houve uma renovação no setor elétrico, em que se consolidou os direitos e deveres dos usuários, introduzindo novos aspectos relacionados às condições de fornecimento e alterando também os procedimentos sobre Termo de Ocorrência de Irregularidade, o qual passou a ser denominado Termo de Ocorrência e Inspeção, considerando, sobretudo, a ampla defesa e o contraditório. DA IRREGULARIDADE CONSTATADA NO MEDIDOR DA PARTE AUTORA – PROCEDIMENTO LEGÍTIMO. A unidade usuária objeto dos autos está cadastrada como cliente da Light sob o nº 0020546655, mantendo, pois, nítida relação contratual, pela qual se compromete a quitar as faturas do consumo de energia elétrica que lhe são disponibilizadas. Ocorre que, não obstante a Light ter prestado regularmente os seus serviços, restou constatado em sede de verificação periódica desvio de energia no ramal de entrada: A constatação da irregularidade foi devidamente registrada no Termo de Ocorrência e Inspeção (TOI) de nº 007007(Resolução Normativa ANEEL nº 414/2010, art. 1303), sendo, após, efetuada a cobrança (refaturamento) do valor de R$500,00 (quinhentos reais), referente à diferença de consumo de energia não faturado, o que correspondente ao prejuízo sofrido pela Light. Comprovado o procedimento irregular, para proceder à recuperação da receita, a distribuidora deve apurar as diferenças entre os valores efetivamente faturados e aqueles apurados por meio de um dos critérios descritos nos incisos a seguir, aplicáveisde forma sucessiva, sem prejuízo do disposto nos arts. 131 e 170: I – utilização do consumo apurado por medição fiscalizadora, proporcionalizado em 30 dias, desde que utilizada para caracterização da irregularidade, segundo a alínea “a” do inciso V do § 1o do art. 129; II – aplicação do fator de correção obtido por meio de aferição do erro de medição causado pelo emprego de procedimentos irregulares, desde que os selos e lacres, a tampa e a base do medidor estejam intactos; III – utilização da média dos 3 (três) maiores valores disponíveis de consumo de energia elétrica, proporcionalizados em 30 dias, e de demanda de potências ativas e reativas excedentes, ocorridos em até 12 (doze) ciclos completos de medição regular, imediatamente anteriores ao início da irregularidade; (Redação dada pela REN ANEEL 670 de 14.07.2015) A irregularidade em questão indubitavelmente importou em faturamento a menor do consumo de energia, em prejuízo à Light e beneficiando exclusivamente o usuário, verdadeiro enriquecimento imotivado. Deve ser esclarecido, ainda, que não há que se falar em conduta unilateral por parte da concessionária, eis que é enviada carta informativa ao cliente expondo todo procedimento, bem como informando que em caso de discordância poderia apresentar recurso fundamentado em uma das lojas da Light, no prazo de 30 dias, conforme previsto na Resolução. Insta salientar ainda que o parcelamento especial de TOI é um projeto da Concessionária para facilitar a quitação da dívida. Assim, se o cliente não estiversatisfeito, poderá entrar em contato com a Empresa e solicitar o cancelamento deste, conforme abaixo: Art. 115. Comprovada deficiência no medidor ou em demais equipamentos de medição, a distribuidora deve proceder à compensação do faturamento de consumo de energia elétrica e de demanda de potência ativa e reativa excedentes com base nos seguintes critérios: (Redação dada pela REN ANEEL 479, de 03.04.2012) I – aplicar o fator de correção, determinado por meio de avaliação técnica em laboratório, do erro de medição; II – na impossibilidade de determinar os montantes faturáveis pelo critério anterior, utilizar as respectivas médias aritméticas dos valores faturados nos 12 (doze) últimos ciclos de faturamento de medição normal, proporcionalizados em 30 (trinta) dias, observado o disposto no § 1o do art. 89; ou (Redação dada pela REN ANEEL 479, de 03.04.2012) III – no caso de inviabilidade de ambos os critérios, utilizar o faturamento imediatamente posterior à regularização da medição, observada a aplicação do custo de disponibilidade, conforme disposto no art. 98. § 1º O período de duração, para fins de cobrança ou devolução, deve ser determinado tecnicamente ou pela análise do histórico dos consumos de energia elétrica e demandas de potência. (Redação dada pela REN ANEEL 479, de 03.04.2012) § 2º Os prazos máximos para fins de cobrança ou devolução devem observar o disposto no art. 113. § 3º Se a deficiência tiver sido provocada por aumento de carga, à revelia da distribuidora, devem ser considerados no cálculo dos valores faturáveis a parcela adicional da carga instalada, os fatores de carga e de demanda médios anteriores ou, na ausência destes, aqueles obtidos a partir de outras unidades consumidoras com atividades similares, devendo o período de cobrança ser determinado conforme disposto no art. 132. § 4º A distribuidora deve informar ao consumidor, por escrito, a descrição da deficiência ocorrida, assim como os procedimentos a serem adotados para a compensação do faturamento, com base no art. 133. § 5º A substituição do medidor e demais equipamentos de medição deve ser realizada, no máximo, em até 30 (trinta) dias após a data de constatação da deficiência, com exceção para os casos previstos no art. 72. § 6º A distribuidora deve parcelar o pagamento em número de parcelas igual ao dobro do período apurado ou, por solicitação do consumidor, em número menor de parcelas, incluindo as parcelas nas faturas de energia elétrica subsequentes. (Redação dada pela REN ANEEL 479, de 03.04.2012) § 7º Condiciona-se a caracterização da deficiência no medidor ou demais equipamentos de medição ao disposto no § 1º do art. 129. § 8º No caso de aplicação do inciso I, a avaliação técnica dos equipamentos de medição pode ser realizada pela Rede de Laboratórios Acreditados ou pelo laboratório da distribuidora, desde que com pessoal tecnicamente habilitado e equipamentos calibrados conforme padrões do órgão metrológico, devendo o processo ter certificação na norma ABNT NBR ISO 9001. (Redação dada pela REN ANEEL 479, de 03.04.2012). Conforme explanado resta nítido a legalidade da multa aplicada – TOI, bem como de todo procedimento realizado pela parte Ré. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DANO MORAL Conforme explanado, resta nítido que não há que se falar em qualquer espécie de dano. Muito menos em danos morais. Com efeito, inexistente no presente caso o dano moral alegado pela parte autora, porquanto, para sua configuração, não bastam meras alegações: deve ser comprovada, ao menos, a existência de fato que pudesse, ainda que potencialmente, colocar a suposta vítima em situação de afronta moral ou psicológico. De outro lado, seria mesmo impensável se admitir a concessão de qualquer quantia à parte autora, considerando o fato de que foi apurada fraude grosseira no medidor, restando configurada a hipótese de ocorrência de crime de furto de energia. Agraciar o possível fraudador com uma indenização, seria, ao ver da Light, algo imoral. Não basta, portanto, alegar ter sofrido o dano moral; deve ser comprovada a ocorrência de situação que o pudesse, ainda que potencialmente, causar; o que não foi feito nestes autos pela parte autora (CPC, art. 373, I). E mesmo que a Light tivesse concorrido para os danos que a parte autora alega ter sofrido (o que desde sempre se refuta), a improcedência de tal pedido ainda seria impositiva, pois os fatos narrados na inicial refletem tão somente a ocorrência de mero dissabor decorrente de atividades corriqueiras, hipótese insuficiente para a configuração do dano moral, conforme sedimentado pelo c. STJ: “O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige.” A doutrina é igualmente uníssona no sentido de que “(...) mero inadimplemento contratual, mora ou prejuízo econômico não configuram, por si sós, dano moral, po completamente descabido o pedido de reparação por danos morais nestes autos, por qualquer ângulo que se analise a questão.” DESCABIMENTO DA REPETIÇÃO DO INDÉBITO Para que o consumidor faça jus à devolução de eventuais valores é necessário que se comprove que a cobrança se deu de maneira indevida e de má- fé, bem como o efetivo pagamento indevido (art. 42, § único, do CDC), o que não ocorreu . Art. 42 - Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável. Visto isso não é aplicável o parágrafo único do dispositivo em questão haja vista que não há que se falar em cobrança indevida, uma vez comprovada legalidade da multa aplicada pelo consumo faturado. Ademais, a dívida imputada à parte autora, refere-se ao valor da energia consumida e não paga, em razão de irregularidade constatada. Trata-se, pois, de cobrança regular, prevista no art. 130 e seguintes da Resolução Normativa ANEEL nº 414/2010, o que afasta, peremptoriamente, a alegação de pagamento indevido que justificaria a devolução de eventual valor que tenha sido pago. Art. 130. Comprovado o procedimento irregular, para procederà recuperação da receita, a distribuidora deve apurar as diferenças entre os valores efetivamente faturados e aqueles apurados por meio de um dos critérios descritos nos incisos a seguir, aplicáveis de forma sucessiva, sem prejuízo do disposto nos arts. 131 e 170. Mas, ainda que se entenda pela devolução de valores, o que se admite apenas a título argumentativo, a restituição deveria se dar de forma simples, nos termos do verbete nº 85 da Súmula de jurisprudência predominante do TJ-RJ Súmula 85 TJRJ - "Incabível a devolução em dobro pelo fornecedor e pela concessionária, se a cobrança por eles realizada estiver prevista em regulamento, havendo repetição simples do indébito.” DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA A inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, CDC) é admitida somente quando presentes os seus pressupostos. A norma insculpida no art. 373, I do CPC, prevê expressamente que cabe ao autor o ônus de provar o fato constitutivo de seu direito. No mesmo sentido a Súmula nº 330 da jurisprudência predominante do TJRJ. Súmula nº 330 - "Os princípios facilitadores da defesa do consumidor em juízo, notadamente o da inversão do ônus da prova, não exoneram o autor do ônus de fazer, a seu encargo, prova mínima do fato constitutivo do alegado direito." No caso dos autos, a parte autora pretende a inversão do ônus probatório sem apresentar qualquer documento hábil a comprovar as alegações deduzidas na petição inicial, ou seja, sem desincumbir-se do ônus de fazer prova mínima dos fatos que embasam o direito alegado, razão pelo qual o pleito é manifestamente descabido. V. CONCLUSÃO E PEDIDOS. Por todos os motivos expostos, a Light confia na decretação da improcedência de todos os pedidos, com a condenação da parte autora ao pagamento dos honorários advocatícios, em seu grau máximo, além dos demais encargos advindos da sucumbência. Protesta pelos meios de prova em direito admitidos, em especial, documental superveniente (CPC, art. 435). Nestes termos, pede deferimento. Cidade, data. Advogado, OAB.
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