Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Perícia Forense – Medicina Legal Generalidades em Medicina Legal A necessidade da perícia Imagine a situação em que se ouvem dois disparos de arma de fogo no interior de um apartamento. Imediatamente, os vizinhos ligam para a polícia. Dois policiais militares, chegando ao local, se deparam com a cena retratada a seguir: Com base na cena você vai fazer algumas indagações e certamente vai perceber a necessidade da perícia. Toda a dinâmica daí em diante estará no campo da investigação criminal. Imagine outra cena, retratada a seguir: Um jovem de corpo atlético entra num prédio onde não mora, pois tem acesso liberado pela moradora que é uma senhora de 70 anos. Esse jovem não é parente da senhora, mas se identifica como seu educador físico. Ao subir no 6º andar, fica por alguns minutos, desce e pergunta ao porteiro se a senhora está em casa. O mesmo liga por interfone e a senhora não atende. O jovem vai embora; 24 horas depois, os vizinhos do andar se queixam de um mau cheiro. Chamam a polícia e os bombeiros, e se deparam com um cadáver inchado de mulher de cabelos brancos com olhos esbugalhados, pele escurecida, braços e pernas abertos. Com base na cena você também chegará à conclusão de que se trata de investigação criminal; portanto, isso demandará perícia. Nos dois casos, você tem um cadáver. A princípio se trata de crimes contra a vida – homicídio. Entretanto, o diagnóstico jurídico poderá ser suicídio. Apuração de uma infração penal → O inquérito policial é uma peça inicial de apuração de uma infração penal, sendo o presidente do inquérito o delegado de polícia. → No inquérito policial buscam-se a apuração da capitulação do crime, suas qualificadoras , se houver, da autoria, da motivação e de toda a dinâmica que se desenrolou. → O diagnóstico jurídico seria a conclusão do inquérito policial. → Ao final, ele é direcionado ao Ministério Público para oferecer denúncia. → Sendo admitida, passa a chamar-se ação penal. Comentário O inquérito policial nada mais é do que satisfazer uma necessidade coletiva ou social de sabermos quem morreu, quem matou, por que matou, como matou. Todas essas perguntas serão apuradas em sede de delegacia. Nos dois casos, se faz necessária a apuração pericial de local e de necropsia. A aplicação da medicina legal Entretanto, a Medicina legal não tem aplicação única e exclusivamente para apurar crimes de homicídio. Também terá aplicabilidade nos acidentes de trabalho, no campo civil, previdenciário, constitucional, carcerário, canônico etc. A Medicina legal será imprescindível quando o fato deixar vestígios no corpo vivo ou morto. Pelo que estamos percebendo, a Medicina legal é um campo da Medicina social. Segundo Simonin (apud VANRELL, 2007): “a Medicina legal aparece como uma tríplice complexidade por sua natureza médica, seu espírito jurídico e seu caráter social”. Como se desenvolveu essa área da investigação? Historicamente, a medicina legal se desenvolveu timidamente por cinco períodos com muitas restrições. Ora a invasão do corpo era proibida, considerada uma profanação contra os deuses, ora a veracidade do testemunho dos médicos frente à questão de natureza médica dependia do reconhecimento do rei, do papa, mas frequentemente ficava a critério dos magistrados, até se chegar à determinação de que os juízes eram obrigados a ouvi-los. Período antigo: O período antigo é marcado pelas determinações legais em matéria médica previstas no Código de Hamurabi, sendo ele considerado um dos mais antigos, já que foi promulgado no século XVIII antes da era cristã. Na Índia (século V a.C.), durante o período budista, o Código de Manu, tal qual já se previa na Lei das XII Tábuas do Império Romano, considerava defeso os testemunhos de crianças, idosos, deficientes e perturbados mentais e embriagados. Nesse código, ainda se penalizava com a morte aquele que não indicasse um antídoto ao veneno descoberto. A Lei de Menés obrigava o exame das mulheres para fins de diagnóstico de gravidez em curso, enquanto, no século V da era cristã, a lex alemanorum arbitrava a indenização da vítima. Da china, em 1248, com o título Hsi Yuan Lu, registra-se a primeira publicação de natureza médico- legal. Período romano: O período romano é marcado por uma fase anterior e posterior à reforma do imperador bizantino Justiniano. Nesse período, destacam-se a lex regia, de Numa Pompílio, na qual se determinava a abertura do útero das vítimas, e a Lei Aquilia, que preconizava o exame externo para apontar o ferimento fatal. Da reforma de Justiniano, a critério da autoridade judiciária, extrai-se a necessidade do parecer dos médicos em algumas questões, entre elas aquelas referentes a data do parto, impotência e problemas que implicam diretamente no casamento. Nessa fase, aparecem as parteiras para opinar. Período médio: Nesse período, destacam-se as capitulares de Carlos Magno, a lei germânica e a lei sálica. Carlos Magno definia que, em matéria médica, a fundamentação de mérito deve se apoiar nos pareceres de médicos. Com o fim de reparação legal, orientava a descrição detalhada dos ferimentos, sobretudo a sede, a gravidade e o dano quantitativo. As provas cruéis, ditas ordálios, mitigaram as capitulares, e essas provas de resistência só perderiam força com a Lei Comum de São Luís, no século XIII, na França. Período canônico: A perícia médico-legal aparece como exigência em 1219 com o papa Inocêncio III e o exame médico nas declarações de virgindade ante o juramento com o papa Gregório IX. Inicialmente, procedia-se à “prova do congresso”, em que três parteiras vigiavam o enlace marital e observavam atentamente se de fato havia impotência. Mais tarde, as parteiras seriam substituídas por três médicos. Na França, o papa autoriza o exame cadavérico externo nas investigações clínicas à faculdade de Montepellier. Nesse período, aparecem os cirurgiões que juntos ao Rei opinavam naquilo que lhe eram afeitos. Na Alemanha, o Código Bambergense (1507) obrigava o exame necroscópico externo nos casos de morte violenta: a suspeita de morte por envenenamento do papa Leão X acaba por entendimento do exame de necropsia. Ainda nesse período, se tem a lei básica germânica, em que o código criminal carolino apoia as decisões dos juízes nos crimes contra a vida. Em meio ao final desse período e início do período moderno ou científico, começam a aparecer figuras, como Ambroise Paré, Batista Condronchi, Séverin Pineau e Fortunato Fidelis. Período moderno: Fortunato Fidelis e Paulus Zacchias destacam-se no início do período moderno. Lacassgne denomina Ambroise Paré como o pai da Medicina legal. Grandes avanços na esfera jurídica frente ao exercício dos médicos no campo pericial: Luís XIV (1670) torna obrigatório o exame médico em assuntos médicos através da ordenação criminal. Criam-se a cadeira de Medicina legal e um curso de especialização na área da Universidade de Leipzig por Michaelis. As fases da medicina legal no brasil O Brasil foi inserido nos tempos modernos ou atuais da Medicina legal. Sofreu influências de Portugal, mas, sobretudo, da França e da Alemanha. Historicamente, ela é divida em três fases: 1814 – Fase estrangeira A fase estrangeira vai do período colonial até 1877. Nessa fase, registra-se a publicação oficial e pioneira de cunho médico-legal pelo médico mineiro do Império, Gonçalves Gomide, datada de 1814, por ocasião do exame de uma jovem considerada santa. Na verdade, tratou-se de um parecer que impugnava o exame de santidade realizado por dois clínicos. A cadeira de Medicina legal foi criada em faculdades na Bahia e no Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, o conselheiro Jobim foi o primeiro a ocupar a cátedra, seguido por Francisco Ferreira de Abreu (barão de Teresópolis). A primeira denominação administrativa para o setor de perícia foi a de “assessoria médica” (1856- 1885).Em 1900, surge o gabinete médico-legal, permanecendo por sete anos, quando passa a se chamar serviço médico-legal. A criação do Instituto Médico-Legal vem desse “serviço” e perdura no Estado do Rio de Janeiro com essa denominação. 1877 – fase de transição Essa fase vai de 1877 a 1895. Augustinho José de Souza Lima, sucessor de Ferreira de Abreu, dá início a um curso prático de tanatologia forense. A Medicinal legal começa a apresentar características próprias da sociedade brasileira, porém ainda com influência estrangeira. Exerciam influência em nossa cultura a Medicina legal francesa e germânica. 1895 – Fase de nacionalização A Medicina legal no Brasil tem grande impulso a partir de 1895, sobretudo na figura de Raimundo Nina Rodrigues, que deu um caráter nacional e original a essa área forense. Ele criou uma escola de Medicina legal na Bahia e enveredou pela antropologia criminal. Formalidade documental Dentro da formalidade documental afeita à Medicina legal, temos: atestados e declarações; notificações; relatório médico-legal, consulta médico-legal, parecer e depoimento oral. Atestados As declarações e atestados são afirmações de cunho médico destinado a produzir um efeito oficioso, administrativo ou judiciário. Quanto à forma, ele pode ser gracioso, idôneo, imprudente e falso. No atestado oficioso, não há compromisso legal. Os atestados administrativos são requeridos para ter efeito na administração pública ou privada, justificar ausência no serviço, comprovar o estado de saúde admissional ou demissional, ou outra finalidade ocupacional, além de objetivos diversos de interesse pessoal exigidos por entidades administrativas. O atestado é judiciário quando vem a fazer parte como exigência da própria autoridade judiciária. Os atestados graciosos, em geral, são oriundos de pedidos como cortesia entre conhecidos. Os atestados falsos estão tipificados em nosso ordenamento jurídico como crime previsto no art. 302 do Código Penal, bem como nos códigos de ética médica e processual penal. Declaração de óbito A declaração de óbito (DO) é um documento de natureza pública que dá por encerrada a vida biológica da pessoa. De acordo com a causa, a morte pode ser natural com e sem assistência médica, de natureza violenta ou na condição especial de morte fetal. Sendo a morte natural ou fetal, o médico poderá fornecer a declaração ou encaminhar o corpo para um serviço de verificação de óbito (SVO) com as devidas justificativas, sobretudo aquelas sem assistência médica. Em sendo a morte oriunda de causa externa ou violenta, o corpo deverá ser direcionado ao Instituto Médico-legal. → Morte natural com assistência médica São considerados com assistência médica os pacientes em regime ambulatorial, público ou particular, dentro do programa de Medicina de família, ou internados. Compete ao médico assistente ou seu substituto o fornecimento da declaração em caso de óbito. Caso paire alguma incerteza da causa natural da morte, ela deve ser apurada pelo SVO. Nas localidades sem SVO fundamentado na Resolução SES 550/1990, e ante a ausência de vestígios que possam sugerir morte suspeita ou de causa externa, o médico assistente ou seu substituto, ou o médico do serviço de saúde mais próximo, após exame do corpo, lavrará um atestado com causa indeterminada. → Morte natural sem assistência médica Nas mortes em que não há registro de assistência médica, aplica-se o disposto na Resolução SES 550/1990. → Óbitos fetais O parâmetro que obriga o médico a fornecer a DO é de natureza biométrica. As variáveis são: peso, estatura e idade gestacional. Há uma relação de equivalência entre as três. Os critérios biométricos ficam assim definidos: gestação com duração igual ou superior a 20 semanas; peso corporal fetal igual ou superior a 500 g; estatura fetal igual ou superior a 25 cm. Basta pelo menos um desses critérios presente para tornar obrigatória a confecção de DO. Quanto à competência sobre o feto nascido vivo, cabe ao pediatra fornecer o documento. No caso de natimorto, compete ao obstetra. → Causa Violenta As causas de mortes violentas devem ser apuradas em sede de investigação criminal. Considera-se violenta a morte de causa externa que possa caracterizar acidente, homicídio e suicídio. As causas suspeitas poderiam em tese ser apuradas no SVO, migrando para a investigação criminal quando a suspeição em detrimento da presença de vestígios não puder indicar a causa natural. Considera-se suspeita toda morte súbita sem comorbidades que a justifiquem e circunstâncias em que pairem dúvidas quanto à dinâmica do desfecho final. Notificações O art. 269 do Código Penal (CP) reza que o médico está obrigado a comunicar à autoridade pública sobre as doenças que diagnosticar e que constam como sendo de notificação compulsória. São essas as infectocontagiosas, as doenças ocupacionais e os casos de morte encefálica (Lei 8.489/1992). Trata-se de um dever legal disciplinado pela Portaria 104/2011 do Ministério da Saúde e com amparo legal na Lei 6.259/1975. O fundamento é de natureza sanitária em face da potencialidade de disseminação das doenças. Há um formulário próprio que, devidamente preenchido, deve ser comunicado em 24 horas. Quanto às mortes encefálicas, ficam obrigados os estabelecimentos de saúde a notificar as centrais de notificação de captação de órgãos para transplantes. Relatório médico-legal O relatório médico-legal na concepção de Flamínio Fávero “é a narração escrita e minuciosa de todas as operações de uma perícia médica determinada por autoridade policial ou judiciária a um ou mais profissionais nomeados e compromissados na forma da lei”. (FÁVERO, 1991) Quando digitado pelo perito, se chama laudo; quando ditado a um escrivão, se denomina auto. Consiste de sete partes: preâmbulo, quesitos, histórico, descrição, discussão, conclusões e respostas aos quesitos. O preâmbulo identifica os peritos e o periciado, a autoridade solicitante, a natureza da perícia, o local, a data e a hora EM que o exame foi realizado. O histórico narra a dinâmica do acontecimento que consta na requisição da autoridade e a declaração da vítima nos casos de lesão corporal. A descrição traduz minuciosamente tudo que foi constatado pelo perito, caracterizando o visum et repertum (visto e referido). Na discussão, os peritos buscam elementos de causalidade e temporalidade, opinando cientificamente sobre os fatos, traçando juízo de valor naquilo que é provado cientificamente. Na conclusão, é apontado o objeto de perícia e definição científica do que se propõe, sobretudo no que tange ao diagnóstico. Por fim, as respostas aos quesitos oficiais e demais suplementares que assim entender a autoridade. Consulta médico-legal Quando paira incerteza sobre o laudo pericial, a autoridade solicita esclarecimento, apontando os pontos duvidosos ou eventuais omissões na forma de quesitos. Parecer médico-legal Trata-se de um requerimento da autoridade a um expert com vistas a opinar sobre matéria de sua expertise. O parecerista não tem compromisso legal, valendo-se de sua experiência e reconhecido valor profissional. A forma, em geral, segue as mesmas disposições do relatório com exceção da descrição, uma vez que não dispõe do exame direto do objeto de perícia, mas tão somente da análise dos documentos que sirvam como prova, inclusive do relatório médico-legal e das consultas. Depoimento oral Quando não for solicitado por escrito, o perito poderá ser intimado a comparecer à audiência para esclarecer o laudo. As respostas devem ser simples, claras e objetivas, abstendo-se de opiniões pessoais ou de prognóstico, devendo se ater única e exclusivamente ao que lhe for perguntado e com fundamento científico. Antropologia Conceituação Antropologia forense é a área da medicina legal que se ocupa do levantamento da identidade. Identificar difere de reconhecer,valendo-se este da memória e aquele da ciência. Para identificar alguém ou qualquer coisa, é imprescindível o 1º registro, que é comparado ao 2º. Portanto, buscar a identidade é confrontar o 2º registro com o primeiro. O método de identificação deve possuir cinco características que permitam apontar a identidade. São elas: Unicidade : a especificidade que aponta a identidade diversa de outra; Imutabilidade : é a particularidade que não muda com o tempo; Perenidade : é a particularidade que resiste ao tempo; Praticabilidade : a colheita deve ser de fácil obtenção e prática para efeito de comparação; Classificabilidade : o processo deve ser de fácil classificação e arquivamento. Identificação médico-legal A identificação é dividida em dois campos: identificação médico-legal e identificação policial (ou judiciária). IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL Busca-se a identidade médico-legal por espécie, raça, estatura, biotipo, sinais próprios (sinais individuais, malformação, sinais profissionais, tatuagens e cicatrizes) e genética. IDENTIFICAÇÃO POLICIAL (OU JUDICIÁRIA) Busca-se a identidade policial pelo assinalamento sucinto, fotografia simples, fotografia sinaléptica, bertilhonagem, retrato falado e papiloscopia. Comentário A identidade policial se vale atualmente da datiloscopia, um campo da papiloscopia. Há um quadro oficial na Polícia Civil chamado de papiloscopista policial. É um quadro diferente do Detran, em que pese que a ciência seja a mesma. Espécie e raça Por vezes, peças ósseas ou um cadáver esqueletizado chegam ao IML. O primeiro processo é apontar que se trata de ossada humana. Sendo humana, deve-se buscar elementos que indiquem sexo, estatura, raça, particularidades odontológicas e ósseas. Espécie Quanto à espécie, afora as peculiaridades anatômicas, as diferenças histológicas podem ser constadas pelo número, forma e diâmetro dos canais de Havers, como mostra a tabela: Característica Animal Homem Número Chega a 40mm² 8 a 10 por mm² Forma Circular Irregular ou elíptica Diâmetro Inferior a 25µm Superior a 3µm Raça Os tipos étnicos fundamentais descritos por Ottolengui e suas características raciais são apontadas a seguir → Caucásico: Pele branca, cabelos lisos ou crespos, cabelos louros ou castanhos, íris azuis ou castanhas, contorno craniofacial anterior ovoide, ortognata ou ligeiramente prognata. → Mongólico (Asiático): Pele amarela, cabelos lisos, face com diâmetro anteroposterior reduzido, espaço interorbital alargado, mento saliente e maxilares reduzidos. → Negroide: Pele preta, cabelos crespos, crânio pequeno, prognata, fronte alta, nariz alargado e achatado, narinas espessas e largas. → Indiano: Pele amarelo-trigueira, estatura alta, cabelos pretos, lisos, espessos e luzidios, íris castanhas, mesocéfalo, supercílios espessos, orelhas pequenas, nariz saliente, estreito e longo, barba escassa, fronte vertical, zigomas salientes e largas. → Australoide: Pele trigueira, estatura alta, nariz curto e largo, zigoma largo e volumoso, prognatismo, cintura escapular larga, cintura pélvica estreita, dentes fortes, saliência das arcadas superciliares, dolicocéfalo. Ângulo facial Em relação ao ângulo facial, busca-se o grau de prognatismo. São traçadas três linhas imaginárias, descritas a seguir. 1. Ângulo de Jacquart : da glabela (região mais anterior da fronte), passando pela espinha nasal e desta para o meio da linha médio-auricular; 2. Ângulo de Curvier : da glabela, passando pelo ângulo dentário superior e deste ao meio da linha médio-auricular; 3. Ângulo de Cloquet : da glabela, passando pelo ponto alveolar e deste ao meio da linha médio-auricular. Ângulo Caucasoide Mongólico Negroide Jacquart 76,5º 72º 70,3º Cloquet 62º 59,4º 58º Negroide 54º 53º 48º Determinismo sexual Sexo pode ser determinado biologicamente pelo estudo cromossomial, quando então a presença do par XX e a ausência dos corpos fluorescentes apontam o sexo feminino, enquanto o par XY com corpos fluorescentes identifica o sexo masculino (sexo cromossomial). Ainda na mesma linha, o achado de corpos de cromatina no sexo feminino e de sua ausência no sexo masculino caracteriza a determinação do sexo cromatínico. A presença de gônadas (sexo gonadal) e a morfologia da genitália externa e interna seguem o mesmo parâmetro biológico. Atenção Destarte a natureza biológica na determinação do sexo, há de se levar em consideração o comportamento do indivíduo frente ao que ele sente de si mesmo, caracterizando o sexo psíquico, que pode ser contrário ao que é apontado no registro civil (sexo jurídico). Raras vezes, a identificação requer o intercurso pericial (sexo médico-legal), notadamente nos estados intersexuais, pela presença de genitália dúbia, e frequentemente nos estados avançados de decomposição cadavérica, em esqueletizados e despojos humanos. Dos ossos, os que melhor se prestam para determinação sexual são o crânio , a mandíbula , o tórax e a pelve . No crânio, grosseiramente, podem-se traçar parâmetros de diferenciação com base nas características anatômicas ou por meio do índice craniométrico de Baudoin, que define a relação de 100 vezes da largura máxima do côndilo occipital com o comprimento máximo deste côndilo. Crânio Crânio feminino Apresenta as seguintes características: glabela vertical, mastoide não proeminente, rebordo supraorbitário cortante e mandíbula ovoide. Crânio masculino Apresenta as seguintes características: glabela angulosa, mastoide proeminente, rebordo supraorbitário rombo e mandíbula angulosa. Peculiaridade anatômica Sexo masculino Sexo feminino Capacidade 1.400 cm³ 1.300 cm³ Mastoide Rugoso e proeminente Proeminência reduzida Arco superciliar Saliente Tênue Côndilo occipital Longo e delgado Curtos e largos Mandíbula Peso médio de 80 g, robusta, arco dental retangular, ângulo mandibular fechado em média 126o Peso médio de 63 g, suave, arco dental arredondado ou triangular, ângulo mandibular aberto em média 127,9o Índice de Baudoin <50 >50 Galvão (apud FRANÇA, 2004) em 1994, estabeleceu a relação entre 11 pontos craniométricos, sendo o meato acústico externo o referencial, como se observa na figura. Pontos craniométricos de Galvão. MAE : meato acústico externo; GN : gnátio; PR : próstio; ENA : espinha nasal anterior; G : glabela; B : bregma; V : vértex; L : lambda; OP : opistocrânio; I : ínio; Ms : mastoideo; GO : gônio. Pelve Na pelve óssea (ossos do quadril e do sacro), essencialmente na sua porção anterior, e, sobretudo, a partir dos 18 anos de idade, constatam-se elementos diferenciadores marcantes. Portanto, representa o segmento do esqueleto que mais se presta para a diferenciação sexual, notadamente em sua porção anterior. As características que permitem a diferenciação sexual nesse segmento do esqueleto são: Pelve feminina: → Cavidade pélvica mais arredondada e menor; → ângulo subpúbico obtuso; → incisura isquiática arredondada. Pelve masculina: → cavidade pélvica cordiforme; → ângulo subpúbico masculino agudo; → incisura isquiática angulosa. Exame de dimorfismo sexual, e incisura isquiática maior assimétrica, típica de pelve masculina. O forame obturador se apresenta robusto e arredondado no sexo masculino, enquanto no sexo feminino as bordas se mostram angulosas, dando uma conformação triangular à estrutura. Da coluna vertebral, apenas a região sacral permite o dimorfismo sexual. O osso sacro tem amplitude considerável e formato triangular no sexo feminino. No sacro masculino, observam-se alongamento e forma triangular estreita. Atenção Fique atento: o sexto segmento do osso sacro só aparece no sexo masculino. Na pelve feminina, é evidente o sulco pré-auricular, sendo difícil ou até mesmo ausente na pelve masculina. Quanto à faixa etária,observe a presença de epífises de crescimento. Correlações são feitas entre o amadurecimento ósseo e dentário. A radiologia se presta para avaliar a idade óssea, sobretudo a radiologia dos ossos do punho. A estatura (no vivo) ou o comprimento (no cadáver) pode ser estimado por mensurações dos ossos longos. Identificação judiciária Trata-se da identificação policial: atualmente, o que melhor aponta a identidade é a papiloscopia. Vamos tecer alguns comentários sobre outros processos de identificação. Fotografia simples A fotografia simples é a tomada fotográfica de frente e de perfil, diferindo da fotografia sinaléptica, cuja redução é de 1/7. Sistema de bertilhon Apontado por Alphonse Bertilhon, é um sistema fundamentado na fixidez do esqueleto a partir dos 20 anos de idade, traçando 11 medidas antropométricas. São elas: → Diâmetro anteroposterior da cabeça; → Diâmetro transversal da cabeça; → Comprimento da orelha direita → Diâmetro bizigomático; → Comprimento do pé esquerdo; → Comprimento do dedo médio esquerdo; → Comprimento do dedo mínimo; → Comprimento do antebraço; → Estatura; → Envergadura; → Altura do busto. Sistema datiloscópico de Vucetich Papiloscopia é uma denominação atribuída ao chileno Humberto Orrego Gauthier, porém o sistema datiloscópico mais aceito foi idealizado por Juan Vucetich em 1891 e aplicado no Brasil em 1903. Beltrán lançou a lofoscopia (estudo das cristas), Galton a denominou finger prints e Harold Cummins a chamou de dermatóglifo. Trata-se de um método de identificação que, através de um revelador, deixa impresso um conjunto de linhas brancas e pretas em um suporte, impressão que corresponde ao reverso do desenho digital. As linhas brancas e pretas se arranjam de modo a configurar três sistemas de linhas (linhas diretrizes): basal, nuclear e marginal. Sistema datiloscópico de Vucetich Este sistema foi idealizado por Juan Vucetich com base nas papilas dos dedos das mãos. Ele observou que linhas papilares descreviam um desenho digital formado por três sistemas de linhas: basal, nuclear e marginal. O encontro dessas linhas deixava notar em algumas impressões a letra grega delta. A partir daí, ele definiu quatro tipos de papilas: → Verticilo (V): dois deltas; → Presilha externa (E): delta à esquerda; → Presilha interna (I): delta à direita; → Arco (A): ausência de delta. Uma fórmula decadactilar é aquela na qual se expressam os 10 dedos. O polegar da mão direita é chamado de fundamental, enquanto os demais da mão direita se chamam divisão. O polegar da mão esquerda é denominado de subclassificação; os demais dedos da mão esquerda, subdivisão. Diante de dúvidas, se procuram os pontos característicos (ponto, cortada, bifurcação, forquilha e o encerro) que, em número mínimo de 12 pontos, são suficientes para afirmar a identidade. Dica Outros processos, como o albodactilograma e a poroscopia, podem ser utilizados quando ainda persistir dúvida. Outros sistemas voltados para a identificação são: → Sistema otométrico de frigério (forma dos pavilhões auriculares); → Sistema otométrico de Capdeville (cor e medida dos olhos); → Sistema otométrico de Levinsohn (fotografia do fundo do olho); → Sistema otométrico de Matheios (fixidez de regiões da face – comparação fotográfica); → Sistema de Bentham (tatuagem ao nascer); → Sistema poroscópico de Locard (individualização e imutabilidade dos poros das glândulas sudoríparas); → Sistema flobográfico de Ameuille (detalhe fotográfico das veias da fronte); → Sistema flobográfico de Tamassia (imutabilidade das veias do dorso da mão – fotografia) etc. Tanatologia forense Definição Tanatologia forense é um campo da medicina legal que se ocupa dos fenômenos decorridos da morte cujo interesse de investigação criminal ou jurídico é diverso. Conceito de morte A morte, apesar de representar a finitude da vida de uma pessoa, é, sobretudo, um processo com encadeamento de fenômenos que avançam no sentido de destruição ou de conservação. Entretanto, precisamos apontar alguns dos conceitos específicos de morte. Vejamos: → Morte real – é a morte biológica da pessoa, do corpo, passível de constatação médica; → Morte civil – é o registro cartorário na forma de certidão que encerra a vida civil da pessoa, passando a ser denominada de de cujus; → Morte presumida – é a morte, com previsão legal, em que se presume pelo tempo de ausência ou de desaparecimento, ou pelas circunstâncias de grande probabilidade, que a pessoa está morta; → Morte definitiva – é a morte prevista legalmente, considerando o decurso de tempo e a idade do ausente; → Morte por indignidade – é a morte fictícia em que o magistrado qualifica uma pessoa como indigna em pleito jurídico pelo infortúnio causado a outra pessoa com quem tem relação direta e dependência por questão de herança ou de qualquer outra natureza; → Morte súbita – aquela sem diagnóstico de certeza, cujos comemorativos clínicos levam ao desfecho fatal em tempo não superior a 24 horas; → Morte agônica – é a morte que decorre de evento arrastado e que denota sofrimento. Atenção Quando se deseja saber se houve a simultaneidade da morte de duas ou mais pessoas (comoriência), ou se uma delas precedeu a da outra (premoriência), buscam-se elementos necroscópicos, histológicos e bioquímicos que a possam definir. O Código Civil estabelece que, em não podendo apontar a premoriência, opta-se pela simultaneidade da morte. Morte encefálica A definição de morte é fundamentada no critério cerebral ou encefálico. Portanto, deve-se buscar a presença de sinais ou reflexos integrados em tronco cerebral, que é formado de cima para baixo pelas seguintes estruturas: mesencéfalo, ponte e bulbo. O mesencéfalo é a estrutura mais superior do tronco cerebral. O sinal integrado é o reflexo pupilar. O estímulo luminoso na pupila é captado pelo nervo óptico, localizado no tálamo (aferente; II. par de nervo craniano), que envia uma mensagem neural ao mesencéfalo, e este responde pelo nervo oculomotor (III. par de nervo craniano) contraindo a pupila. A ponte é alvo dos reflexos: corneano, vestíbulo calórico e oculocefálico. Reflexo corneano → Estimular a córnea com algodão → Nervo trigêmeo – V par – ponte → Nervo facial – VII par – ponte Reflexo vestíbulo calórico → Cabeceira da cama elevada a 30◦ sem fletir o pescoço; injetar lentamente 50 mL de NaCl a 0,9% no ouvido e observar os olhos abertos por 2 minutos. Ausência de desvio dos olhos no sentido do estímulo → Nervo vestíbulo coclear – VIII par – ponte → Nervos oculomotor (III); abducente (IV) e troclear (VI); fascículo longitudinal medial, mesencéfalo e ponte Reflexo oculocefálico → Movimentar a cabeça em rotação lateral ou flexão-extensão. Reflexo dos olhos de boneca. → Nervo vestíbulo coclear (VIII par) → III, IV e VI pares No bulbo , se pesquisa o reflexo da tosse estimulando a orofaringe, que envia uma mensagem pelo IX par de nervo craniano (glossofaríngeo) e responde pelo nervo vago (X par de nervo craniano). O critério encefálico é aplicado não somente para fim de diagnóstico de morte, mas também para a lei de transplante. Atenção Observam-se na morte encefálica: coma aperceptivo com abolição da atividade motora supraespinhal e apneia, com inconsciência e ausência de respiração autônoma por mais de 12h; midríase bilateral; EEG isoelétrico; e angiograma negativo durante 30 minutos de análise. No Brasil, a resolução do Conselho Federal de Medicina, CFM no 1.480/1997, estabelecia que, no termo de declaração de morte encefálica, deveriam constar três critérios fundamentais: 1. Ausência de atividade elétrica cerebral; 2. Ausência da atividade metabólica cerebral; 3. Ausência de perfusão sanguínea cerebral. Devem ser afastadas as condições de coma, hipotermia e o uso de drogas depressoras do sistema nervosocentral. Dois médicos que não sejam da equipe de transplante procedem aos exames e assinam o termo. Pela citada resolução, os exames clínicos e propedêuticos devem ser realizados em dois tempos de acordo com a faixa etária na forma que se segue: → De 7 a 2 meses incompletos: Intervalo é de 48 horas. → De 2 meses a 1 ano incompleto: Intervalo de 24 horas. → 1 a 2 anos incompletos: Intervalo de 12 horas. → Acima de 2 anos: Intervalo é de 6 horas. Saiba mais Atualmente, foi editada e publicada uma nova resolução que disciplina os critérios de morte encefálica. Trata-se da Resolução CFM Nº 2.173, de 23 de novembro de 2017. Veja o artigo 3º dessa resolução. Art. 3º O exame clínico deve demonstrar de forma inequívoca a existência das seguintes condições: a) coma não perceptivo; b) ausência de reatividade supraespinhal manifestada pela ausência dos reflexos fotomotor, córneo- palpebral, oculocefálico, vestíbulo-calórico e de tosse. § 1º Serão realizados dois exames clínicos, cada um deles por um médico diferente, especificamente capacitado a realizar esses procedimentos para a determinação de morte encefálica. § 2º Serão considerados especificamente capacitados médicos com no mínimo um ano de experiência no atendimento de pacientes em coma e que tenham acompanhado ou realizado pelo menos dez determinações de ME ou curso de capacitação para determinação em ME, conforme anexo III desta resolução. § 3º Um dos médicos especificamente capacitados deverá ser especialista em uma das seguintes especialidades: medicina intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica, neurocirurgia ou medicina de emergência. Na indisponibilidade de qualquer um dos especialistas anteriormente citados, o procedimento deverá ser concluído por outro médico especificamente capacitado. § 4º Em crianças com menos de 2 (dois) anos o intervalo mínimo de tempo entre os dois exames clínicos variará conforme a faixa etária: dos sete dias completos (recém-nato a termo) até dois meses incompletos será de 24 horas; de dois a 24 meses incompletos será de doze horas. Acima de 2 (dois) anos de idade o intervalo mínimo será de 1 (uma) hora. Fenômenos cadavéricos O estudo dos fenômenos cadavéricos tem por objetivo o diagnóstico da realidade da morte (tanatognose) e o tempo de evolução cadavérica (cronotanatognose). Os fenômenos cadavéricos são divididos em: 1. Abióticos : São imediatos e consecutivos 2. Transformativos : Podem ser destrutivos ou conservadores. Quanto ao tempo da morte, pode-se classificá-la como morte rápida ou agônica. Essa peculiaridade pode ser vista diante de exames histológicos e bioquímicos. São eles: 1. Prova hepática química de Lacassagne e Martin : análise química em que a concentração de glicogênio e glicose no fígado está esgotada na morte agônica; 2. Prova hepática histológica de Meissner : análise histológica de glicogênio no fígado com o mesmo critério da prova química; 3. Prova suprarrenal química de Leoncini e Cevidalli : análise química da concentração de adrenalina na cápsula das adrenais. Concentrações baixas indicam morte agônica; 4. Prova suprarrenal histológica de Veiga de Carvalho : análise histológica do pigmento feocrômico ou cromafim na região medular da glândula; 5. Prova de Cazzaniga (urinária) : pesquisa de glicosúria; a presença de glicose na urina indica morte agônica. Fenômenos abióticos imediatos É o período em que cessam as funções vitais, compreendendo um intervalo denominado período de incerteza de Tourdes. Antecede os sinais de realidade da morte. Deve-se prestar atenção na fácies da morte ou fácies hipocrática, cujas características são apontadas na tabela. Fenômenos abióticos imediatos Fácies hipocrática Pálpebras parcialmente cerradas Adelgaçamento labial e inexpressivo; Relaxamento dos esfíncteres Abolição do tônus muscular Pavilhão auricular frio e cianótico; Apneia e ausência de pulso Perda da sensibilidade Sudorese facial viscosa; Perda da consciência Fácies hipocrática Palidez intensa. Parada cardíaca Fenômenos abióticos consecutivos Os fenômenos consecutivos são aqueles que apontam os sinais de realidade da morte. São mais notados quando avança mais de 6 horas do óbito. São eles: Resfriamento (algor mortis) Com a morte, o corpo vai perdendo calor e se resfriando. Mensurar a curva térmica do corpo nas primeiras 24 horas após a morte é um bom método para estimar o tempo de morte. (POPOSKA et al, 2013) Os mecanismos de perda de calor são: transferência de calor para o ambiente (radiação), pela corrente de ar (convecção), por contato direto com outro objeto (condução) ou por evaporação. As regiões que produzem mais calor são o fígado, o cérebro, o coração e o músculo esquelético. Com a morte, a temperatura chega a se elevar, retornando à temperatura inicial 4 horas depois. Curva de dispersão térmica Marshall e Hoare projetaram uma curva de dispersão térmica, com tomadas da temperatura retal em um período de três horas, e chegaram às seguintes conclusões: → Nas primeiras três horas de morte, a queda térmica é de 0,5 ; → N o s p r ó x i m o s d o i s p e r í o d o s d e 3 h , h á q u e d a d e 1 º C / h ; → T r ê s h o r a s d e p o i s , o c o r r e r e d u ç ã o d e 0 , 7 5 º C / h ; → Entre a 12ª e a 15ª hora após a morte, a temperatura retal cai 0,5ºC. Entretanto, como é sabido, a temperatura cadavérica se eleva após a morte e retorna ao ponto inicial após quatro horas. Glaister, em 1947, Rentoul e Smith estabeleceram a fórmula a seguir, admitindo uma queda de temperatura corporal na razão de 1,5º por hora: H= (N-C)/1,5 N: temperatura retal normal; C: temperatura retal do cadáver no momento do exame; H: horas decorridas após a morte. O método de Moritz admite a seguinte fórmula, porém com a prerrogativa da temperatura de 37ºC no momento da morte: Temperatura retal – 37ºC + 3 = ∆t da morte Rigidez cadavérica (rigor mortis) A rigidez cadavérica é um fenômeno físico-químico que compromete todos os músculos do corpo. Os músculos pequenos ficam rígidos mais rapidamente. Ao que tudo indica, há uma desidratação muscular, que produz coagulação da miosina e aumento do ácido láctico no músculo (teoria de Brucke e Kuhne). A rigidez fica evidente inicialmente na face, enrijecendo a mandíbula; em seguida, acontece o mesmo com a nuca, pescoço, tronco, membros superiores e membros inferiores (lei de Nysten-Sommer). A rigidez craniocaudal se desfaz no mesmo sentido. Espera-se que, após a morte, ocorra primeiro a flacidez seguida da rigidez. Entretanto, em algumas condições, há um espasmo, desencadeando uma rigidez não precedida de flacidez. Esse tipo especial de rigidez denomina-se rigidez cataléptica, estatuária ou plástica. É comumente definida como um estado de contratura muscular. Hipóstase (livor mortis) O fenômeno da hipóstase guarda relação com a interrupção da circulação: o sangue acaba se acumulando nas áreas de maior declive entre 2 e 3 horas após a morte, vindo a fixar-se em 12 horas. Desidratação A desidratação é um fenômeno físico cujo processo depende de fatores intrínsecos e extrínsecos ao cadáver. A causa da morte é um fator intrínseco. Os fatores extrínsecos de importância são: temperatura ambiente, circulação de ar e umidade de ar. Favorece a evaporação e, consequentemente, a desidratação, a baixa umidade do ar, ventilação e superfície exposta a altas temperaturas. O fenômeno é demonstrado pela perda de peso do cadáver, alterações dos globos oculares e apergaminhamento (consistência dura e amarelada) da pele e das mucosas. A desidratação é mais bem demonstrada na região ocular. Observam-se a mancha negra da esclerótica, turvação da córnea, perda da tensão do globo ocular e formação da tela viscosa. A tela viscosa ocorre pela desidratação do transudado ocular, o que vem a concentrar partículas depoeira e epitélio morto da córnea. Outros fenômenos da desidratação ocular são: redução considerável da tensão ocular (sinal de Louis), enrugamento da córnea (sinal de Bouchut), turvação da córnea e deformação da íris e da pupila à pressão digital (sinal de Ripault). Fenômenos transformativos Os fenômenos transformativos podem ser destrutivos ou conservadores conforme evoluem com a desintegração do corpo ou com a conservação de traços anatômicos, respectivamente. Veja a seguir a classificação dos fenômenos transformativos: Fenômenos transformativos destrutivos → Autólise → Putrefação → Maceração → Linha Fenômenos transformativos conservadores → Saponificação → Mumificação → Congelação → Petrificação → Corificação Fenômenos transformativos destrutivos Os transformativos destrutivos são fenômenos de certeza da morte. Eles são divididos em: Autólise As membranas plasmáticas perdem a sua seletividade e começam a extravasar o conteúdo citoplasmático. Os lisossomos liberam enzimas proteolíticas que acidificam a célula e dão início à destruição celular. A queda do pH é de curta duração. À proteólise bacteriana ocorre a autólise, alcalinizando a célula. Nesse momento, está instalado o primeiro momento da putrefação. Putrefação A putrefação é um fenômeno de decomposição da matéria orgânica, transformando-a em matéria inorgânica. São responsáveis pela putrefação as bactérias, os fungos e a fauna macroscópica. A putrefação é dividida em quatro fases: 1ª fase (de coloração ou cromática): em geral tem início na fossa ilíaca direita em função da proximidade do ceco (rico em bactérias) com a parede abdominal. 2ª fase (enfisematosa ou gasosa): ocorre pela produção de gases da putrefação (H2S, NH4 e H fosforado) que infiltram os tecidos, sobretudo os areolares, levando à formação de rede vascular periférica (circulação póstuma) e de bolhas epidérmicas que destacam em retalhos, além da projeção da língua edemaciada entre as arcadas, acabando o cadáver assumindo um aspecto de gigantismo. 3ª fase (liquefação ou coliquativa): ocorre a redução dos tecidos que se reduzem a uma massa de putrilagem. 4ª fase (esqueletização): ocorre com a desintegração da massa, acaba-se expondo peças ósseas. Maceração A maceração é um processo de destruição do corpo quando ele está exposto a água, líquidos estéreis (maceração asséptica) ou líquidos contaminados (maceração séptica). Fenômenos transformativos conservadores São fenômenos que conservam traços fisionômicos. Podem ser por saponificação, mumificação, coreificação (ou corificação) e congelamento. Veja mais detalhes sobre estes fenômenos a seguir: Saponificação A saponificação é um fenômeno tardio, favorecido por peculiaridades do ar e do solo. Dão sentido à saponificação o ambiente pouco ventilado e o solo de pouca permeabilidade, com sedimentos de arenitos vermelhos, os xistos, solos pretos, enriquecidos em barro ou ricos em minerais de argila. Com a morte, tem início a ação enzimática bacteriana que hidrolisa as gorduras neutras (triglicerídios), transformando-as em ácidos graxos saturados. A característica mais marcante é a untuosidade cadavérica. Esses ácidos graxos, em ambiente com água estagnada, rica em minerais, pouco ventilado, argiloso, poroso, impermeável ou de pouca permeabilidade, desencadeiam uma reação química, dando origem a sabões de cálcio (saponificação). A aparência de cera, acastanhada ou esbranquiçada, mole, quebradiça e fétida é conhecida como adipocera. É insolúvel em água, solúvel em éter e em álcool. Mumificação É um fenômeno conservador que ocorre em meio quente, ventilado, seco e de atividade bacteriana reduzida. Os fatores intrínsecos que favorecem a mumificação de um cadáver são se ele se tratar de: recém- nascido, sexo feminino, com grandes hemorragias, tratamento prolongado com antibióticos, envenenamento pelo arsênico e cianureto de potássio. São características do corpo mumificado: cadáver com segmentos pardacentos ou pretos e volume e peso reduzidos. Congelação É um fenômeno transformativo conservador pelo qual o cadáver é preservado quando exposto por tempo prolongado a baixas temperaturas. Coreificação É um fenômeno transformativo conservador que ocorre quando o corpo está sepultado em urnas metálicas, em geral de zinco, fechadas hermeticamente. As características do cadáver são: aparência de couro curtido, abdome escavado, musculatura e tecido celular subcutâneo preservados, vísceras amolecidas e conservadas. Particularidades Alguns fenômenos que destacamos aqui se valem da peculiaridade e estabelecem tempo de morte. Assim são: 1. Cristais de Westenhoffer-Rocha-Valverde (WRV): Produto da decomposição das hemácias. São cristais de tamanhos desiguais, incolores, laminados ou prismáticos. Ocorrem a partir do 3º dia de morte e persistem até o 35º dia; 2. Concentração de potássio no humor vítreo : Presta-se à determinação da concentração de potássio e sua relação com o tempo de morte até as 20 primeiras horas do óbito, assim como em relação à concentração de etanol; 3. Ponto crioscópico do sangue: Sabe-se que, aumentando o número de partículas dissolvidas, reduz-se o ponto crioscópico em função da redução do ponto de congelamento.Considerando que a decomposição orgânica cadavérica aumenta o número de partículas menores, conclui- se que o ponto crioscópico é reduzido progressivamente com o intervalo pós-morte; 4. Fenômeno de Zsaco : Estimulando-se o músculo até 2h30min após a morte, pode-se deparar com uma contração que toma todo o músculo. Esse é o chamado fenômeno de Zsaco; 5. Tafonomia forense: é o estudo da relação dos fatores ambientais e intrínsecos que justificam a evolução cadavérica. A ação externa pode ser: física, geológica, climática e biológica. A umidade do ar pode favorecer o desenvolvimento de fungos e algas, além de alterar a consistência e a cor dos ossos. Os fatores tafonômicos podem ser intrínsecos ou extrínsecos. São intrínsecos o tamanho, a forma, a densidade, a idade, o sexo e algumas considerações de natureza patológica. São extrínsecos os fatores bióticos e abióticos (ambientais), além daqueles provenientes da ação do homem (antrópicos). Traumatologia forense 1 – Energia mecânica Classificação dos agentes vulnerantes Os agentes vulnerantes, em medicina legal, são classificados em ordens na forma que se segue: mecânica, física, química, bioquímica, biodinâmica, físico-química e mista. A cada ordem se pressupõe uma energia. Cada instrumento da ordem mecânica tem uma energia potencial com capacidade para alterar o estado inercial de um corpo. Esse instrumento em movimento pode lesionar o homem por um mecanismo particular (em deslizamento, por pressão, por percussão, por explosão etc.) através de um meio (água, ar, vácuo). Atenção Da física se extrai que a energia cinética guarda relação com a massa e a velocidade. Ordem mecânica Agulha cilíndrica Instrumento perfurante de pequeno calibre. Age pela ponta. Lesão puntiforme; furador de gelo: instrumento perfurante de médio calibre. Age pela ponta. Lesão em “casa de botão”; Faca de 1 gume e uma faca de 2 gumes Instrumento cortante. Age pelo gume. Lesão incisa; Porrete Instrumento contundente. Age pela superfície. Lesão contusa; Agulha triangular ou faca de ponta e gume Instrumento perfurocortante. Age pela ponta e gume. Lesão perfuro-incisa; Machado Instrumento corto-contundente. Age pelo gume e pela superfície, considerando seu peso ou sua força. Lesão corto-contusa; Projétil de arma de fogo Instrumento perfurocontundente. Age pela ponta e pela superfície. Lesão perfuro- contusa. Agente perfurante São agentes alongados e com diâmetro transverso reduzido. Agem por pressão pela ponta percutindo ou perfurando. Afastam as fibras. São de pouco sangramento – e sua lesão é puntiformese o instrumento for de pequeno calibre - ou tomam a aparência de casa de botão - se o instrumento for de médio calibre. As lesões provocadas pelos instrumentos perfurantes de médio calibre obedecem a três leis: 1ª Lei de Filhos (lei da semelhança): as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre tomam a aparência de “casa de botão”, assemelhando-se às lesões produzidas por instrumentos cortantes de dois gumes; 2ª Lei de Filhos (lei do paralelismo): as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre em áreas de mesma direção e no sentido de linhas de força guardam uma relação de paralelismo entre si, ou seja, com a mesma direção e sentido, acompanhando as linhas de força; Lei da Langer: as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre em áreas de confluência de linhas de força, com direção e sentidos diferentes, tomam um aspecto triangular ou de um quadrilátero. Agente cortante São agentes que agem por um gume, seja por um mecanismo de deslizamento ou penetrando no corpo. Cortam fibras, estruturas e vasos sanguíneos. São de sangramento evidente, as bordas e as vertentes das lesões são regulares e a lesão é dita incisa. Atenção A lesão incisa na porção anterior do pescoço se chama esgorjamento, enquanto na porção posterior do pescoço se chama degola. A decapitação se dá quando da separação da cabeça do corpo. O esgorjamento pode ser suicida ou homicida: Esgorjamento suicida: No esgorjamento suicida, a linha de incisão é oblíqua de cima para baixo e da esquerda para a direita se a vítima for destra. A lesão é mais profunda no início da ação do instrumento. Esgorjamento homicida: No esgorjamento homicida, a linha de incisão é horizontal e tem profundidade igual em toda a extensão da ferida, podendo, além de seccionar vasos, seccionar nervos e traqueia. Agente contundente São agentes que agem pela superfície. Os mecanismos por pressão, percussão e explosão são alguns exemplos. As lesões podem ser fechadas ou abertas. Lesões fechadas → Rubefação : lesão mais fugaz. Hiperemia de resolução rápida; → Tumefação : trata-se de edema com empalidecimento na área de impacto. Constata-se a tríplice reação de Lewis (hiperemia na área de impacto que se estende, circunscrevendo a região traumatizada, e palidez central); → Equimose : infiltração de sangue nas malhas de tecido provenientes de vaso sanguíneo roto. Apresentam-se puntiformes (petéquias) e confluentes (sugilação), estriadas (víbices), em placas com diversas formas, em ampla área (sufusão) ou ocupando grande extensão (equimoma); → Entorse : estresse nos ligamentos articulares; → Luxação : perda da congruência das peças ósseas que se articulam; → Fratura fechada : solução de continuidade óssea. Saiba mais Para saber mais sobre Equimose, leia este texto. A coloração vai do róseo ao preto, sendo a última própria das condições de compressão, como aquelas que decorrem do aprisionamento de sangue entre a unha e o leito ungueal, caracterizando o que se denomina popularmente de “sangue pisado”. Em geral, sua tonalidade vai variar de acordo com o tempo de instalação: vermelho – 1º dia; arroxeada – 2º e 3º dia; azul – entre o 4º e o 6º; esverdeada – entre o 7º e o 10º dia; amarelada, entre o 11º e o 12º dia (espectro equimótico de Legrand du Saulle). Algumas equimoses guardam relação com um instrumento específico e são intituladas lesões por assinatura. A lesão provocada pela sucção labial, comumente chamada de “chupão” em áreas específicas como o pescoço, as mamas, a face interna da coxa, região glútea e áreas próximas à genitália, dá conotação sexual ao evento. É denominada em medicina legal de “violetas róseo-equimóticas”. A ação contundente de um objeto alongado e roliço deixa impressas duas faixas equimóticas paralelas e alongadas com centro mais claro. A passagem da roda de um carro ou motocicleta por cima da vítima deixa notar estriações características denominadas de estrias pneumáticas de Simonin. Observa-se o mesmo fenômeno quando da compressão do cinto de segurança para conter a vítima no banco do automóvel em acidentes automobilísticos. Uma das questões de importância médico-legal é distinguir equimose de hipóstase. A equimose decorre da rotura de vasos sanguíneos que se infiltram no tecido e ali coagulam. Na hipóstase, não há malha de fibrina e o sangue não coagulado sedimenta-se por declive, de modo que uma incisão no local verterá sangue. Tal fato não ocorre com equimoses. Lesões abertas → Ferida contusa : lesão com a forma, as bordas e vertentes irregulares. Os ângulos da lesão são obtusos e por vezes apresentam retalhos de tecido unindo uma borda à outra da lesão; → Escoriações : são lesões na pele que podem comprometer somente a epiderme (serosa) ou a derme superficial (sero-hemática) ou a derme profunda (hemática). Assim, se apenas a epiderme for lesionada, temos o que se chama de escoriação típica, cujo fenômeno de recuperação tecidual se dá por regeneração ou reepitelização. → Fratura aberta ou exposta : quando expõe o osso fraturado. Saiba mais Para saber mais sobre Escoriações, leia este texto. Quando apenas a epiderme for lesionada, temos o que se chama de escoriação típica, cujo fenômeno de recuperação tecidual se dá por regeneração ou reepitelização. A pele humana é um órgão formado de epiderme, derme e hipoderme. A epiderme é um tecido epitelial caracterizado por células justapostas, avascularizado e de superfície livre. A nutrição da epiderme se dá por mecanismo de difusão. Apresenta quatro camadas da superfície para a profundidade: córnea, granulosa, espinhosa e basal; a camada basal é separada da derme pela membrana basal. Uma quinta camada, chamada camada lúcida, encontra-se na palma das mãos e planta dos pés. Essa camada ou estrato dá uma consistência mais firme a essas regiões. Os melanócitos, células derivadas, aparecem entremeados na camada basal e na derme papilar. Portanto, as escoriações podem ocorrer caprichosamente nas camadas mais superficiais da epiderme ou mais profundamente na última camada da epiderme, deixando a derme desnuda. Abaixo da epiderme, compromete a derme superficial (derme papilar) ou mais profundamente (derme reticular). As escoriações também podem ocorrer após o óbito ou a escoriação post mortem, que deixa notar o leito de arrasto brancacento; Agente perfurocortante e agente cortocontundente AGENTE PERFUROCORTANTE São agentes que agem pela ponta e pelo gume, como as espadas cortantes e as agulhas de extremidade cortante triangular. A lesão também é em casa de botão, porém com profundidade. AGENTE CORTOCONTUNDENTE São agentes que agem pelo gume e pela superfície. Exemplos desses instrumentos são o machado e a guilhotina. São instrumentos que se valem de seu peso ou de sua força. Os dentes pela força da mordida também são corto-contundentes. A lesão se chama corto-contusa. Agente perfurocontundente São agentes que agem pela ponta e pela superfície. O agente mais marcante é o projétil de arma de fogo. A balística é o ramo da mecânica que trata dos projéteis, estudando os mecanismos de expulsão deles pelo cano da arma (balística interna), sua trajetória (balística externa) e seus efeitos no alvo – trajeto (balística dos efeitos). Nesta aula, vamos tratar somente da balística dos efeitos desde a entrada, o seu trajeto e, se for o caso, sua saída. Projétil O cartucho é composto de projétil e cápsula. Há cartuchos com um projétil ou cartuchos com múltiplos projéteis (balins). Aqui, vamos descrever os efeitos provenientes do cartucho com um projétil. O projétil, que compõe com a cápsula o cartucho, para sair do cano da arma, precisa ser impulsionado. Esse impulso é favorecido pelos elementos deflagradores do tiro. Uma mistura iniciadora contida na espoleta gera uma faísca quando da percussão do pino percutor da arma nabigorna. Essa faísca queima a pólvora. Ao se queimar, ela eleva a temperatura interna do cartucho em um compartimento fechado, elevando, consequentemente, a pressão. Dessa queima, são gerados resíduos químicos representados pelos seguintes sais: carbonato de cálcio (praticamente 50%), sulfito (25%), sulfato (16%), sulfocianetos, tiossulfatos e carbonato de amônio. Comentário Um tipo de pólvora atualmente mais utilizada é a pólvora branca ou piroxilada (pólvoras químicas). É uma mistura de clorato de sódio (NaClO3 – 50%) e açúcar branco refinado (50%). A pólvora branca é um propelente denominado de pólvora sem fumaça, cuja composição varia de simples, constituído somente de nitrocelulose (algodão pólvora), ou sob a forma de base dupla – cordite (mistura de nitrocelulose com nitroglicerina). Portanto, o desenrolar do disparo se fundamenta na queima de uma fonte de energia química (propelente ou carga de projeção), representada pela pólvora, que deflagra uma explosão, liberando gases que impulsionam o projétil para adiante. Com a pressão elevada, o projétil se desgarra da cápsula e segue adiante – e, junto com ele, os elementos deflagradores do tiro: a pólvora combusta e incombusta, a chama e as partículas de metal. Saiba mais Leia o texto Efeitos do Tiro para saber mais sobre este assunto. O impacto do projétil no corpo rompe a elasticidade da pele e a penetra. Da ferida de entrada (borda invertida) se observam orlas que são a equimose, a escoriação e o enxugo. Esse último é também chamado de orla de alimpadura em que o projétil se limpa na vertente da ferida. Ao atravessar um osso díploe, como é o crânio, observa-se uma ferida em tronco de cone, com o ápice voltado para a entrada e a base para a saída nessa parte do osso (tronco de cone de Bonnet). Na ferida de saída na pele, as bordas são irregulares e evertidas. Essas lesões são efeitos primários do tiro que ocorrem pela ação direta do projétil. Os efeitos secundários são provenientes dos elementos que deflagram o tiro e descrevem zonas. São eles: Esfumaçamento : fumaça ou pólvora sem combustão que se deposita na pele; Queimadura : ação da chama que sai pela boca da arma; Tatuagem : pólvora incandescente que se incrusta na pele. Esses elementos são importantes, pois fazem juízo quanto à distância do tiro. Vejamos: Tiro encostado : se tiver plano ósseo adjacente, se apresenta irregular, dramático e com bordas solapadas (câmara de mina de Hoffmann). Sem plano ósseo pode-se notar a silhueta da boca da arma impressa na pele (sinal de Werkgartner); Tiro a curta distância ou à queima-roupa : observam-se aqui um ou todos os elementos secundários do tiro, além dos primários; Tiro à distância : aqui se constatam somente os elementos primários do tiro. A passagem do projétil pelo tecido deixa uma cavidade permanente, caracterizando um efeito primário que é favorecido pela pressão e laceração. A onda de pressão desencadeada pelo projétil expande a cavidade permanente temporariamente e adquire maior diâmetro de acordo com a elasticidade do tecido. Essa cavitação se chama cavidade temporária. Traumatologia forense 2 – energias física, química, bioquímica, físico-química, biodinâmica e mista Classificação dos agentes vulnerantes diversos da energia mecânica Os agentes vulnerantes diversos da energia mecânica são classificados em ordem na forma que se segue: 1. Física 2. Química 3. Bioquímica 4. Biodinâmica 5. Físico-química 6. Mista A cada ordem se pressupõe uma energia. Cada instrumento tem uma energia potencial com capacidade para alterar o estado inercial de um corpo. Vamos estudar cada um, deixando a asfixiologia para aula em separado. Terminologia forense Terminologia forense é a área da medicina legal que se ocupa dos efeitos da temperatura no corpo humano. Veja a seguir os principais tipos de temperaturas e suas definições: Calor difuso A termonose seria atribuída ao calor difuso. Dois conceitos se apresentam: insolação (exposição direta) e intermação (exposição indireta). Outros fatores estão implicados, como a faixa etária, as condições ambientais de arejamento e ventilação, as vestes, patologias prévias, atividade física, alcoolismo, a fonte de calor natural ou artificial etc. Atualmente, o conceito anatomopatológico e clínico é que vai apontar o tipo de termonose, sendo a intermação de natureza hemodinâmica e a insolação (manifestações neurológicas) a evolução desfavorável da intermação. Calor localizado A queimadura é a consequência do calor localizado. Dupuytren classifica a queimadura em seis graus. Vamos prestigiar a classificação de Hoffmann, que a divide em quatro graus: → 1º grau: compromete somente a epiderme. Eritema, edema e dor são as características principais; → 2º grau: há comprometimento da derme. A vesícula ou flictena é a característica. Ao romper- se, expõe a derme; → 3º grau: são lesões profundas, expondo aponeuroses e músculos. A necrose é a sua característica; → 4º grau: são as lesões mais profundas, por vezes comprometendo o plano ósseo. Sua característica é a carbonização. Frio difuso (hipotermia) Na hipotermia, assim como na termonose, as circunstâncias é que vão direcionar o diagnóstico médico-legal. No frio difuso, há a manifestação de alteração do sistema nervoso, com sonolência, delírios e convulsões. A vítima apresenta também congestão polivisceral, isquemia de estruturas, edema pulmonar e infiltração hemorrágica na mucosa gástrica (sinal de Wischnewski). Frio localizado A geladura é a consequência do frio localizado. Calissen classifica a geladura em três graus: → 1º grau: caracterizado pela palidez ou rubefação, ou eritema; → 2º grau: aqui há eritema e bolhas (vesicação); → 3º grau: caracterizado por necrose e gangrena. Temperaturas oscilantes Quando a vítima for submetida a oscilações térmicas, pode concorrer com baixa da imunidade e, consequentemente, predisposição a infecções oportunistas. Baropatia forense As variações da pressão atmosférica vão lesionar o homem conforme a redução da pressão (altitude) ou elevação (profundidade). A redução da pressão leva às doenças das montanhas, enquanto a elevação da pressão propicia as doenças dos caixões. Mal das montanhas Com a altitude, o ar fica rarefeito e com menor concentração de oxigênio. A hipóxia desencadeia mecanismos de adaptação. A não adaptação pode propiciar duas formas clínicas: clássica e doença dos monges. Na forma clássica, ocorre cefaleia frontal, insônia, náusea e vertigem. Não tratada, a hipóxia segue para desfechos graves, como o edema pulmonar e edema cerebral. A doença dos monges é a forma crônica caracterizada pela redução da ventilação pulmonar. Cefaleia, vertigem, irritabilidade, alucinações, sonolência e depressão fazem parte do quadro. Mal dos caixões O conjunto das alterações da elevação da pressão atmosférica é chamado de barotrauma. As formas clínicas do barotrauma podem estar relacionadas diretamente com a pressão (síndromes compressivas com comprometimento dos seios paranasais, da face, do dente, dos pulmões, das orelhas e síndrome de hiperdistensão pulmonar – SHP) ou indiretas (doença descompressiva, narcose por nitrogênio, intoxicação por gases e apagamento). Radiobiologia forense Radioatividade é o fenômeno de emissão natural ou artificial de radiações por elementos químicos instáveis. Trata-se de emissões eletromagnéticas, com poder de penetrar ou ionizar. As partículas emitidas são: 1. Alfa (2α4): Partículas pesadas e eletropositivas. Apresentam baixa penetrabilidade e alto poder de ionização; 2. Beta (-1β0): Partículas leves e eletronegativas. Elevado poder de penetrabilidade e com pequeno poder de ionização; 3. Gama (0γ0): São fótons neutros com grande alcance e pequeno poder de ionização. A radiodermite é a lesão mais simples. Sua forma aguda é classificada em: →Primeiro grau : área avermelhada, eritematosa e com queda de pelos; → Segundo grau : pápulas vermelhas, crostosas ou ulceradas, dolorosas e infectadas; → Terceiro grau : progride com necrose que avança para a profundidade. As formas crônicas não têm uma apresentação definida. Registram-se lesões do tipo ulceroatrófica, neoplásica ou telangiectásica. Quanto à luz e ao som, podemos conceituar da seguinte forma: A luz é uma onda eletromagnética e/ou partículas (teoria da dualidade onda-partícula) que se propagam no ar e no vácuo, perceptíveis ao olho humano dentro de uma faixa de comprimento de onda. O som é uma onda mecânica longitudinal com propagação do tipo compressiva a uma velocidade no ar de 340m/s. O som também pode estar implicado como fator desencadeante de crises convulsivas (epilepsia acusticogênica). A exposição prolongada ao ruído pode levar a um quadro de perda auditiva permanente. Atenção Os efeitos indesejáveis da exposição à luz e ao som são de interesse médico-legal e, em sua maioria, decorrem de acidentes laborais (infortunística). Ordem química A ação química é denominada genericamente de ação cáustica; se ingerida essa substância, podemos ter o quadro de envenenamento. A lesão depende do agente, e sua agressão se faz por desidratação ou por liquefação. → Desidratação : Os efeitos da desidratação, provenientes da ação coagulante, desenvolvem crostas ou escaras endurecidas no local de contato. → Liquefação : O efeito liquefaciente propicia a formação de escaras úmidas, untuosas e moles. Veja a seguir as ações de acordo com cada agente: Ação ácida localizada Os ácidos coagulam e desidratam os tecidos. As lesões se apresentam secas, enquanto as tonalidades variam do branco ao preto de acordo com o tipo de ácido. O ácido sulfúrico, considerando a sua concentração, dá formação a escaras brancacentas ou carbonizadas. Tonalidade amarela aparece quando da ação do ácido nítrico e acinzentada se o ácido for o clorídrico. Ação básica ou alcalina localizada As lesões pelos álcalis se apresentam úmidas pela ação liquefaciente. O representante desse grupo são os hidróxidos. Quando ingeridos , edemaciam os locais por onde passam e, se permanecerem por tempo em contato, acabam necrosando. No estômago, a agressão intensa de sua parede é conhecida como gangrena úmida de Tardieu. Ação sistêmica Os quadros sistêmicos são genericamente chamados de envenenamentos. Os venenos podem ser sólidos, líquidos ou gasosos. A título de exemplo, podemos citar a cicutoxina, extraída da cicuta. Esse foi o veneno que levou à morte de Sócrates. Da Atropa beladona, se extraem alcaloides. Da planta Nux vômica, se obtém um potente alcaloide chamado de estricnina que leva a espasmos e contrações musculares vigorosas, evoluindo para convulsões e morte. Dos gases, deve-se citar o cianeto, o gás sarin e o arsênico. O cianeto compromete severamente a fisiologia da respiração celular com consequente não utilização do oxigênio. Portanto, o oxigênio não entra nos processos metabólicos, concentrando-se nas vísceras e no sangue, dando aos mesmos uma tonalidade rósea. O gás sarin é do grupo dos organofosforados. Os efeitos deletérios desse gás são desencadeados pelo bloqueio da acetilcolina. Evolui com mal-estar generalizado, hipotensão, convulsões, paralisia e morte. O arsênico é conhecido na história como “o rei dos venenos”. Foi amplamente utilizado em épocas passadas nos envenenamentos. É um metal que se acumula nos fâneros. Inibe a tiamina, é cardiotóxico e compromete a respiração celular. A cocaína é um éster do ácido benzoico. Inibe a receptação das catecolaminas, intensificando a atividade simpática. Na investigação forense, se apuram os efeitos agudos e crônicos. O diagnóstico jurídico pode ser acidente, suicídio ou homicídio. Dos comemorativos clínicos à morte, se pode auferir o tipo de envenenamento ou intoxicação. As substâncias apresentam tropismos por tecidos. Em função disso, o exame laboratorial deve se basear na análise química desses tecidos com atenção para a substância-alvo. Os metais pesados, por exemplo, fixam-se nos fâneros. Também podem ser encontrados no fígado. O benzeno tem tropismo pela medula óssea, o metanol pelo nervo óptico e os inseticidas halogenados pelo tecido adiposo. O chumbo tem avidez pelos ossos. Sua ação se faz sentir na medula óssea, alterando as hemácias e desenvolvendo um quadro de anemia microcítica hipocrômica. O benzeno é absorvido e eliminado pelos pulmões. Nos rins, pode ser eliminado como benzeno ou como fenol e derivados. As anfetaminas são metabolizadas no fígado em fenilacetona. Pelos rins, são eliminadas como anfetaminas, fenilacetona e derivados glicurônicos. Concorda com “hidróxidos”. Ordem bioquímica Essa ordem médico-legal é uma gama de alterações caracterizadas por inanição, desnutrição, intoxicações alimentares (salmonelose, entre outras), doenças carenciais e outras formas de perturbação alimentar. 1. Hipovitaminose A : xeroftalmia, cegueira noturna, pele descamativa e queratomalácia; 2. Hipovitaminose B1 : beribéri e polineurites; 3. Hipovitaminose B2 : pelagra; 4. Hipovitaminose C : escorbuto; 5. Hipovitaminose B6 : dermatites; 6. Hipovitaminose D : raquitismo; 7. Hipovitaminose E : esterilidade; 8. Hipovitaminose K : discrasia sanguínea; 9. Deficiência de niacina : também provoca pelagra. Em relação à nutrição, destaquemos as leis básicas estabelecidas pelo médico argentino Pedro Escudero: 1. Lei da qualidade : A alimentação deve ser completa em sua composição; 2. Lei da quantidade : Quantidade específica, sem excessos e sem restrições, o suficiente para dar suporte às necessidades calóricas e nutritivas; 3. Lei da harmonia : Os nutrientes devem guardar uma proporcionalidade entre si; 4. Lei da adequação : O objetivo da alimentação deve estar voltado para a necessidade do organismo. Ordem biodinâmica Nessa ordem, se encaixam as complicações que divergem da ação vulnerante primária. Por vezes elas são evoluções clínicas e cirúrgicas desfavoráveis, infecções nosocomiais que podem levar ao choque clínico (cardiogênico, hipovolêmico, séptico etc.), à falência de múltiplos órgãos e à coagulação intravascular disseminada. Ordem mista Energias de ordem mista representam a ação de pelo menos duas ordens de agentes lesivos. Sua importância reside no seu interesse forense de natureza civil, penal e trabalhista. Exemplo A título de exemplo, podemos citar a fadiga, as doenças parasitárias, sevícias e tortura. Considera-se a fadiga como um complexo de alterações da biofísica, bioquímica e psíquica. A síndrome de burnout é um exemplo de fadiga de natureza profissional. Destaca-se nessa síndrome a depressão, que pode evoluir para a despersonalização. Dentro do contexto criminal, pela sua natureza dolosa, destaca-se a sevícia, que pode se dar por ação ou por omissão. Assim o são a síndrome da criança maltratada, a síndrome do ancião maltratado e a tortura. Asfixiologia forense Premissa Asfixiologia forense é a área da traumatologia forense que se ocupa com o estudo das asfixias mecânicas. Atenção Alguns eventos clínicos podem apresentar evolução desfavorável com fisiopatologia semelhante às asfixias de interesse forense. No âmbito criminal, o que se investiga são as asfixias mecânicas. Classificação e conceito As asfixias mecânicas, segundo Afrânio Peixoto, são classificadas em: 1. Asfixias puras : Nas asfixias puras, ocorrem a hipercapnia e a anoxemia. 2. Asfixias complexas : As asfixias complexas são marcadas inicialmente por perturbações circulatórias e, mais adiante, por perturbações de natureza respiratória. 3. Asfixias mistas : Nas asfixias mistas, se observa uma sobreposição de alterações respiratórias, circulatórias e neurais. Classificação dos tipos de asfixia por Afrânio Peixoto: Asfixias mecânicasCondição Tipos Puras Ambientes com gases irrespiráveis Confinamento Asfixia por monóxido de carbono Outros vícios de ambientes Obstáculo à penetração do ar nas vias respiratórias Sufocação direta Sufocação indireta Transformação do meio gasoso em meio líquido Afogamento Transformação do meio gasoso em meio sólido Soterramento Complexas Constrição passiva do pescoço exercida pelo peso do corpo Enforcamento Constrição ativa do pescoço exercida pela força muscular Estrangulamento Mistas Sobreposição dos fenômenos circulatórios, respiratórios e nervosos Esganadura Outra classificação também utilizada foi estabelecida por Oscar Freire fundamentada exclusivamente em critério médico-legal. Na concepção dele, o fenômeno se dá por modificações físicas, quantitativas ou qualitativas do ambiente, ou por obstáculo mecânico na luz respiratória, ou por insuficiência da caixa torácica. Não há um sinal fidedigno que possa, de forma inconteste, diagnosticar a asfixia. Alguns autores apontam a tríade asfíxica: sangue fluido e escuro, congestão polivisceral e petéquias de Tardieu. Sinais gerais de asfixia Externos → Hipóstases intensas e precoces; → Cianose da face; → Cogumelo de espuma; → Procidência da língua; → Protrusão dos globos oculares. Internos → Petéquias ou manchas equimóticas lenticulares de Tardieu subpleurais, subpericárdicas, no pericrânio e no timo, ou também denominadas petéquias de Welsh; → Sangue escuro e fluido – ausência de coágulos nas cavidades cardíacas; → Em face da elevação do CO2, o ponto crioscópico está reduzido nas câmaras esquerdas do coração (sinal de Palmiere), assim como o aumento do coeficiente cloroglobular- cloroplasmático (sinal de Tarsitano) e hiperglicemia asfíxica; → Congestão polivisceral; edema pulmonar (sinal de Valentin). Afogamento Afogamento é a transformação do meio gasoso, respirável, em meio líquido. O mecanismo de afogar pode ser: 1. Primário : Quando o evento se deu pelo ato de afogar. 2. Secundário : Quando precedido por uma alteração que tem por consequência o afogamento. Classificação de afogamento: Quanto ao tipo Quanto ao mecanismo Quanto à natureza do líquido Quanto à apresentação Completo Primário Água doce Branco Incompleto Secundário Água salgada Azul A morte por afogamento ocorre em três etapas: resistência, exaustão e asfixia. Segundo Ponsold (apud CALABUIG, 1998), há cinco fases na submersão: 1. Inspiração profunda antes de submergir; 2. Apneia voluntária; 3. Inspiração forçada; 4. Convulsões; 5. Morte. Atenção Na fase três, há elevação sanguínea dos níveis de CO2, o que estimula o reflexo da inspiração. Não saindo dessa situação, a vítima desenvolve crise convulsiva e morte. Soterramento No soterramento, ocorre a transformação do ar respirável por substância pulverulenta. Apresenta os mesmos sinais gerais de asfixia, e o encontro dessas substâncias nas vias respiratórias superiores e inferiores fecha o diagnóstico. Enforcamento, estrangulamento e esganadura O enforcamento e estrangulamento são asfixias complexas em que se dão, geralmente, perturbação circulatória e respiratória. A constrição do pescoço por um laço pode ocorrer passivamente pelo peso do corpo (enforcamento) ou ativamente por força externa (estrangulamento). O sulco, deixado pelo laço, permite, frequentemente, se fazer o diagnóstico diferencial entre os dois tipos. Diferenças do sulco deixado pelo laço no enforcamento e no estrangulamento: Enforcamento → Oblíquo ascendente; → Predomina a variabilidade → Interrompe na altura do nó → Geralmente sulco único → Acima da cartilagem tireóidea → Geralmente apergaminhado → Profundidade não uniforme Estrangulamento → Horizontal → Predomina uniformidade → Contínuo → Geralmente múltiplo → Abaixo da cartilagem da tireoide → Raramente apergaminhado → Profundidade uniforme Sinais cadavéricos internos no enforcado: Sinal Peculiaridade Martin Sufusões sanguíneas na face profunda da pele e do tecido subcutâneo no local de aplicação da alça do laço ou na bainha dos vasos Brouardel-Vibert-Descoust Equimoses retrofaríngeas Amussat Secção transversal da túnica íntima da carótida comum; comum no lado oposto ao nó Étienne Martin Desgarramento da túnica externa da carótida Friedberg Sufusão hemorrágica na túnica externa da carótida comum Lesser Rotura da túnica íntima da artéria carótida interna ou externa e rotura transversal e hemorragia do músculo tireo-hioideo Ziemke e Otto Solução de continuidade da túnica interna das veias jugulares e desgarramento da íntima Fraturas Cartilagem tireóidea, cricoidea, hioidea e coluna vertebral Hoffmann-Haberda Infiltração sanguínea dos músculos cervicais Morgagni-Valsalva-Orfila-Roemmer Fratura do corpo do hioide Hoffmann Fratura da apófise superior da cartilagem tireóidea Helwig Fratura do corpo da cartilagem tireóidea Morgagni-Valsalva-Deprez Fratura do corpo da cricoide Bonnet Rotura dos ligamentos cricoideo e tireoideo, além de rotura das cordas vocais Dotto Rotura da bainha de mielina do vago Morgagni Fratura da apófise odontoide do áxis Ambroise Paré Luxação de C2 Kratter Sulco no músculo esternoclidomastoideo Outros Pulmões distendidos; equimoses viscerais; espuma hemorrágica traqueobrônquica e sangue fluido e escuro no coração No estrangulamento, se tem: → Língua cianótica e projetada além das arcadas; → Sulco único ou múltiplo, horizontal, contínuo, de profundidade uniforme; → Orelhas e lábios arroxeados; → Espuma rósea ou sanguinolenta nas narinas e na boca; → Bordas do sulco apresentam-se cianosadas e elevadas; → Face violácea e tumefeita; → Petéquias na face, conjuntivas, pescoço e face anterior do tórax. A esganadura é uma asfixia mista cujo mecanismo é a constrição do pescoço pelas mãos. Sinais cadavéricos em vítima de esganadura: Externos → Congestão da face; → Equimoses puntiformes da face e do pescoço; → Escoriações semilunares, apergaminhadas ou de tonalidade pardo-amarelada – estigmas ungueais; as impressões digitais podem ser reveladas por vapores de ácido ósmico; → Cogumelo de espuma e protrusão da língua são raros. Internos → Hemorragias das estruturas profundas do pescoço e equimose retrofaríngea de Brouardel; → Fraturas das cartilagens tireóidea, cricoidea e do osso hioide; → Congestão das partes moles do crânio, das meninges; → Fluidez do sangue. Sufocação A sufocação é o obstáculo à passagem do ar pelas vias respiratórias (sufocação direta) ou por impedimento da dinâmica torácica (sufocação indireta). Os mecanismos de sufocação direta são variados. Como exemplo do que impede a penetração do ar nas vias respiratórias, podemos apontar a sufocação pelas mãos, por saco plástico, travesseiro, seio materno etc. (FÁVERO, 1991). Quanto à veiculação do ar pelas vias respiratórias, citam-se: corpos estranhos, alimentos, líquidos, broncoaspiração por sangue, secreções, exsudatos, conteúdo gástrico etc. O impedimento da complacência da parede torácica caracteriza a sufocação indireta. Franklin, em seu livro Medicina Legal aplicada, assevera que: A sufocação indireta pode se dar por: multidão em pânico, situação em que as pessoas caem umas sobre as outras; inviabilidade ventilatória por sufocação posicional (crucificação, tortura com a vítima colocada de cabeça para baixo); acidentes com blocos pesados que impeçam a complacência torácica; criminosamente, pelas mãos impedindo a dinâmica torácica do recém-nascido; ou acidentalmente, quando o adulto, ao dormir, impede tal dinâmica etc. Sinais cadavéricos de sufocação: Sufocação direta → Cianose cervicofacial de Le Dentut ou máscara equimótica de Morestin; → Equimoses subconjuntivais; petéquias da face (Casper) e pescoço; petéquias nos lábios; → Estigmas ungueais ao redor do nariz e da boca; fratura do
Compartilhar