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MEDICINA LEGAL

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Perícia Forense – Medicina Legal 
Generalidades em Medicina Legal 
A necessidade da perícia 
Imagine a situação em que se ouvem dois disparos de arma de fogo no interior de um apartamento. 
Imediatamente, os vizinhos ligam para a polícia. Dois policiais militares, chegando ao local, se 
deparam com a cena retratada a seguir: 
 
Com base na cena você vai fazer algumas indagações e 
certamente vai perceber a necessidade da perícia. Toda a 
dinâmica daí em diante estará no campo da investigação criminal. 
 
Imagine outra cena, retratada a seguir: 
Um jovem de corpo atlético entra num prédio onde não mora, pois tem acesso liberado pela 
moradora que é uma senhora de 70 anos. Esse jovem não é parente da senhora, mas se identifica 
como seu educador físico. 
Ao subir no 6º andar, fica por alguns minutos, desce e pergunta ao porteiro se a senhora está em 
casa. O mesmo liga por interfone e a senhora não atende. O jovem vai embora; 
24 horas depois, os vizinhos do andar se queixam de um mau cheiro. Chamam a polícia e os 
bombeiros, e se deparam com um cadáver inchado de mulher de cabelos brancos com olhos 
esbugalhados, pele escurecida, braços e pernas abertos. 
Com base na cena você também chegará à conclusão de que se trata de investigação criminal; 
portanto, isso demandará perícia. Nos dois casos, você tem um cadáver. A princípio se trata de 
crimes contra a vida – homicídio. Entretanto, o diagnóstico jurídico poderá ser suicídio. 
Apuração de uma infração penal 
→ O inquérito policial é uma peça inicial de apuração de uma infração penal, sendo o presidente 
do inquérito o delegado de polícia. 
→ No inquérito policial buscam-se a apuração da capitulação do crime, suas qualificadoras , se 
houver, da autoria, da motivação e de toda a dinâmica que se desenrolou. 
→ O diagnóstico jurídico seria a conclusão do inquérito policial. 
→ Ao final, ele é direcionado ao Ministério Público para oferecer denúncia. 
→ Sendo admitida, passa a chamar-se ação penal. 
 
Comentário 
O inquérito policial nada mais é do que satisfazer uma necessidade coletiva ou social de sabermos 
quem morreu, quem matou, por que matou, como matou. Todas essas perguntas serão apuradas 
em sede de delegacia. Nos dois casos, se faz necessária a apuração pericial de local e de 
necropsia. 
 
A aplicação da medicina legal 
Entretanto, a Medicina legal não tem aplicação única e exclusivamente para apurar crimes de 
homicídio. Também terá aplicabilidade nos acidentes de trabalho, no campo civil, previdenciário, 
constitucional, carcerário, canônico etc. 
A Medicina legal será imprescindível quando o fato deixar vestígios no corpo vivo ou morto. 
Pelo que estamos percebendo, a Medicina legal é um campo da Medicina social. Segundo Simonin 
(apud VANRELL, 2007): “a Medicina legal aparece como uma tríplice complexidade por sua natureza 
médica, seu espírito jurídico e seu caráter social”. 
Como se desenvolveu essa área da investigação? 
Historicamente, a medicina legal se desenvolveu timidamente por cinco períodos com muitas 
restrições. Ora a invasão do corpo era proibida, considerada uma profanação contra os deuses, ora 
a veracidade do testemunho dos médicos frente à questão de natureza médica dependia do 
reconhecimento do rei, do papa, mas frequentemente ficava a critério dos magistrados, até se chegar 
à determinação de que os juízes eram obrigados a ouvi-los. 
Período antigo: O período antigo é marcado pelas determinações legais em matéria 
médica previstas no Código de Hamurabi, sendo ele considerado um dos mais antigos, 
já que foi promulgado no século XVIII antes da era cristã. 
Na Índia (século V a.C.), durante o período budista, o Código de Manu, tal qual já se previa na Lei das 
XII Tábuas do Império Romano, considerava defeso os testemunhos de crianças, idosos, deficientes 
e perturbados mentais e embriagados. Nesse código, ainda se penalizava com a morte aquele que 
não indicasse um antídoto ao veneno descoberto. 
A Lei de Menés obrigava o exame das mulheres para fins de diagnóstico de gravidez em curso, 
enquanto, no século V da era cristã, a lex alemanorum arbitrava a indenização da vítima. 
Da china, em 1248, com o título Hsi Yuan Lu, registra-se a primeira publicação de natureza médico-
legal. 
Período romano: O período romano é marcado por uma fase anterior e posterior à reforma 
do imperador bizantino Justiniano. 
Nesse período, destacam-se a lex regia, de Numa Pompílio, na qual se determinava a abertura do 
útero das vítimas, e a Lei Aquilia, que preconizava o exame externo para apontar o ferimento fatal. 
Da reforma de Justiniano, a critério da autoridade judiciária, extrai-se a necessidade do parecer dos 
médicos em algumas questões, entre elas aquelas referentes a data do parto, impotência e 
problemas que implicam diretamente no casamento. Nessa fase, aparecem as parteiras para opinar. 
Período médio: Nesse período, destacam-se as capitulares de Carlos Magno, a lei 
germânica e a lei sálica. 
Carlos Magno definia que, em matéria médica, a fundamentação de mérito deve se apoiar nos 
pareceres de médicos. Com o fim de reparação legal, orientava a descrição detalhada dos ferimentos, 
sobretudo a sede, a gravidade e o dano quantitativo. 
As provas cruéis, ditas ordálios, mitigaram as capitulares, e essas provas de resistência só perderiam 
força com a Lei Comum de São Luís, no século XIII, na França. 
Período canônico: A perícia médico-legal aparece como exigência em 1219 com o papa 
Inocêncio III e o exame médico nas declarações de virgindade ante o juramento com o 
papa Gregório IX. 
Inicialmente, procedia-se à “prova do congresso”, em que três parteiras vigiavam o enlace marital e 
observavam atentamente se de fato havia impotência. Mais tarde, as parteiras seriam substituídas 
por três médicos. 
Na França, o papa autoriza o exame cadavérico externo nas investigações clínicas à faculdade de 
Montepellier. 
Nesse período, aparecem os cirurgiões que juntos ao Rei opinavam naquilo que lhe eram afeitos. 
Na Alemanha, o Código Bambergense (1507) obrigava o exame necroscópico externo nos casos de 
morte violenta: a suspeita de morte por envenenamento do papa Leão X acaba por entendimento do 
exame de necropsia. 
Ainda nesse período, se tem a lei básica germânica, em que o código criminal carolino apoia as 
decisões dos juízes nos crimes contra a vida. 
Em meio ao final desse período e início do período moderno ou científico, começam a aparecer 
figuras, como Ambroise Paré, Batista Condronchi, Séverin Pineau e Fortunato Fidelis. 
Período moderno: Fortunato Fidelis e Paulus Zacchias destacam-se no início do período 
moderno. Lacassgne denomina Ambroise Paré como o pai da Medicina legal. 
Grandes avanços na esfera jurídica frente ao exercício dos médicos no campo pericial: Luís XIV 
(1670) torna obrigatório o exame médico em assuntos médicos através da ordenação criminal. 
Criam-se a cadeira de Medicina legal e um curso de especialização na área da Universidade de 
Leipzig por Michaelis. 
 
As fases da medicina legal no brasil 
O Brasil foi inserido nos tempos modernos ou atuais da Medicina legal. Sofreu influências de 
Portugal, mas, sobretudo, da França e da Alemanha. Historicamente, ela é divida em três fases: 
1814 – Fase estrangeira 
A fase estrangeira vai do período colonial até 1877. Nessa fase, registra-se a publicação oficial e 
pioneira de cunho médico-legal pelo médico mineiro do Império, Gonçalves Gomide, datada de 1814, 
por ocasião do exame de uma jovem considerada santa. Na verdade, tratou-se de um parecer que 
impugnava o exame de santidade realizado por dois clínicos. 
A cadeira de Medicina legal foi criada em faculdades na Bahia e no Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, 
o conselheiro Jobim foi o primeiro a ocupar a cátedra, seguido por Francisco Ferreira de Abreu (barão 
de Teresópolis). 
A primeira denominação administrativa para o setor de perícia foi a de “assessoria médica” (1856-
1885).Em 1900, surge o gabinete médico-legal, permanecendo por sete anos, quando passa a se chamar 
serviço médico-legal. A criação do Instituto Médico-Legal vem desse “serviço” e perdura no Estado 
do Rio de Janeiro com essa denominação. 
1877 – fase de transição 
Essa fase vai de 1877 a 1895. Augustinho José de Souza Lima, sucessor de Ferreira de Abreu, dá 
início a um curso prático de tanatologia forense. 
A Medicinal legal começa a apresentar características próprias da sociedade brasileira, porém ainda 
com influência estrangeira. Exerciam influência em nossa cultura a Medicina legal francesa e 
germânica. 
1895 – Fase de nacionalização 
A Medicina legal no Brasil tem grande impulso a partir de 1895, sobretudo na figura de Raimundo 
Nina Rodrigues, que deu um caráter nacional e original a essa área forense. 
Ele criou uma escola de Medicina legal na Bahia e enveredou pela antropologia criminal. 
Formalidade documental 
Dentro da formalidade documental afeita à Medicina legal, temos: atestados e declarações; 
notificações; relatório médico-legal, consulta médico-legal, parecer e depoimento oral. 
Atestados 
As declarações e atestados são afirmações de cunho médico destinado a produzir um efeito oficioso, 
administrativo ou judiciário. Quanto à forma, ele pode ser gracioso, idôneo, imprudente e falso. 
No atestado oficioso, não há compromisso legal. Os atestados administrativos são requeridos para 
ter efeito na administração pública ou privada, justificar ausência no serviço, comprovar o estado de 
saúde admissional ou demissional, ou outra finalidade ocupacional, além de objetivos diversos de 
interesse pessoal exigidos por entidades administrativas. 
O atestado é judiciário quando vem a fazer parte como exigência da própria autoridade judiciária. 
Os atestados graciosos, em geral, são oriundos de pedidos como cortesia entre conhecidos. Os 
atestados falsos estão tipificados em nosso ordenamento jurídico como crime previsto no art. 302 
do Código Penal, bem como nos códigos de ética médica e processual penal. 
Declaração de óbito 
A declaração de óbito (DO) é um documento de natureza pública que dá por encerrada a vida 
biológica da pessoa. 
De acordo com a causa, a morte pode ser natural com e sem assistência médica, de natureza violenta 
ou na condição especial de morte fetal. 
Sendo a morte natural ou fetal, o médico poderá fornecer a declaração ou encaminhar o corpo para 
um serviço de verificação de óbito (SVO) com as devidas justificativas, sobretudo aquelas sem 
assistência médica. 
Em sendo a morte oriunda de causa externa ou violenta, o corpo deverá ser direcionado ao Instituto 
Médico-legal. 
→ Morte natural com assistência médica 
São considerados com assistência médica os pacientes em regime ambulatorial, público ou 
particular, dentro do programa de Medicina de família, ou internados. 
Compete ao médico assistente ou seu substituto o fornecimento da declaração em caso de óbito. 
Caso paire alguma incerteza da causa natural da morte, ela deve ser apurada pelo SVO. 
Nas localidades sem SVO fundamentado na Resolução SES 550/1990, e ante a ausência de vestígios 
que possam sugerir morte suspeita ou de causa externa, o médico assistente ou seu substituto, ou 
o médico do serviço de saúde mais próximo, após exame do corpo, lavrará um atestado com causa 
indeterminada. 
→ Morte natural sem assistência médica 
Nas mortes em que não há registro de assistência médica, aplica-se o disposto na Resolução SES 
550/1990. 
→ Óbitos fetais 
O parâmetro que obriga o médico a fornecer a DO é de natureza biométrica. As variáveis são: peso, 
estatura e idade gestacional. Há uma relação de equivalência entre as três. 
Os critérios biométricos ficam assim definidos: gestação com duração igual ou superior a 20 
semanas; peso corporal fetal igual ou superior a 500 g; estatura fetal igual ou superior a 25 cm. 
Basta pelo menos um desses critérios presente para tornar obrigatória a confecção de DO. 
Quanto à competência sobre o feto nascido vivo, cabe ao pediatra fornecer o documento. No caso 
de natimorto, compete ao obstetra. 
→ Causa Violenta 
As causas de mortes violentas devem ser apuradas em sede de investigação criminal. 
Considera-se violenta a morte de causa externa que possa caracterizar acidente, homicídio e suicídio. 
As causas suspeitas poderiam em tese ser apuradas no SVO, migrando para a investigação criminal 
quando a suspeição em detrimento da presença de vestígios não puder indicar a causa natural. 
Considera-se suspeita toda morte súbita sem comorbidades que a justifiquem e circunstâncias em 
que pairem dúvidas quanto à dinâmica do desfecho final. 
Notificações 
O art. 269 do Código Penal (CP) reza que o médico está obrigado a comunicar à autoridade pública 
sobre as doenças que diagnosticar e que constam como sendo de notificação compulsória. São 
essas as infectocontagiosas, as doenças ocupacionais e os casos de morte encefálica (Lei 
8.489/1992). 
Trata-se de um dever legal disciplinado pela Portaria 104/2011 do Ministério da Saúde e com amparo 
legal na Lei 6.259/1975. 
O fundamento é de natureza sanitária em face da potencialidade de disseminação das doenças. Há 
um formulário próprio que, devidamente preenchido, deve ser comunicado em 24 horas. 
Quanto às mortes encefálicas, ficam obrigados os estabelecimentos de saúde a notificar as centrais 
de notificação de captação de órgãos para transplantes. 
Relatório médico-legal 
O relatório médico-legal na concepção de Flamínio Fávero “é a narração escrita e minuciosa de todas 
as operações de uma perícia médica determinada por autoridade policial ou judiciária a um ou mais 
profissionais nomeados e compromissados na forma da lei”. (FÁVERO, 1991) 
Quando digitado pelo perito, se chama laudo; quando ditado a um escrivão, se denomina auto. 
Consiste de sete partes: preâmbulo, quesitos, histórico, descrição, discussão, conclusões e respostas 
aos quesitos. 
O preâmbulo identifica os peritos e o periciado, a autoridade solicitante, a natureza da perícia, o local, 
a data e a hora EM que o exame foi realizado. 
O histórico narra a dinâmica do acontecimento que consta na requisição da autoridade e a 
declaração da vítima nos casos de lesão corporal. 
A descrição traduz minuciosamente tudo que foi constatado pelo perito, caracterizando o visum et 
repertum (visto e referido). 
Na discussão, os peritos buscam elementos de causalidade e temporalidade, opinando 
cientificamente sobre os fatos, traçando juízo de valor naquilo que é provado cientificamente. 
Na conclusão, é apontado o objeto de perícia e definição científica do que se propõe, sobretudo no 
que tange ao diagnóstico. 
Por fim, as respostas aos quesitos oficiais e demais suplementares que assim entender a autoridade. 
Consulta médico-legal 
Quando paira incerteza sobre o laudo pericial, a autoridade solicita esclarecimento, apontando os 
pontos duvidosos ou eventuais omissões na forma de quesitos. 
Parecer médico-legal 
Trata-se de um requerimento da autoridade a um expert com vistas a opinar sobre matéria de sua 
expertise. 
O parecerista não tem compromisso legal, valendo-se de sua experiência e reconhecido valor 
profissional. 
A forma, em geral, segue as mesmas disposições do relatório com exceção da descrição, uma vez 
que não dispõe do exame direto do objeto de perícia, mas tão somente da análise dos documentos 
que sirvam como prova, inclusive do relatório médico-legal e das consultas. 
Depoimento oral 
Quando não for solicitado por escrito, o perito poderá ser intimado a comparecer à audiência para 
esclarecer o laudo. 
As respostas devem ser simples, claras e objetivas, abstendo-se de opiniões pessoais ou de 
prognóstico, devendo se ater única e exclusivamente ao que lhe for perguntado e com fundamento 
científico. 
 
Antropologia 
Conceituação 
Antropologia forense é a área da medicina legal que se ocupa do levantamento da identidade. 
Identificar difere de reconhecer,valendo-se este da memória e aquele da ciência. 
Para identificar alguém ou qualquer coisa, é imprescindível o 1º registro, que é comparado ao 2º. 
Portanto, buscar a identidade é confrontar o 2º registro com o primeiro. 
O método de identificação deve possuir cinco características que permitam apontar a identidade. 
São elas: 
Unicidade : a especificidade que aponta a identidade diversa de outra; 
Imutabilidade : é a particularidade que não muda com o tempo; 
Perenidade : é a particularidade que resiste ao tempo; 
Praticabilidade : a colheita deve ser de fácil obtenção e prática para efeito de comparação; 
Classificabilidade : o processo deve ser de fácil classificação e arquivamento. 
Identificação médico-legal 
A identificação é dividida em dois campos: identificação médico-legal e identificação policial (ou 
judiciária). 
IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL 
Busca-se a identidade médico-legal por espécie, raça, estatura, biotipo, sinais próprios (sinais 
individuais, malformação, sinais profissionais, tatuagens e cicatrizes) e genética. 
IDENTIFICAÇÃO POLICIAL (OU JUDICIÁRIA) 
Busca-se a identidade policial pelo assinalamento sucinto, fotografia simples, fotografia sinaléptica, 
bertilhonagem, retrato falado e papiloscopia. 
Comentário 
A identidade policial se vale atualmente da datiloscopia, um campo da papiloscopia. Há um quadro oficial na 
Polícia Civil chamado de papiloscopista policial. É um quadro diferente do Detran, em que pese que a ciência 
seja a mesma. 
Espécie e raça 
Por vezes, peças ósseas ou um cadáver esqueletizado chegam ao IML. O primeiro processo é 
apontar que se trata de ossada humana. Sendo humana, deve-se buscar elementos que indiquem 
sexo, estatura, raça, particularidades odontológicas e ósseas. 
Espécie 
Quanto à espécie, afora as peculiaridades anatômicas, as diferenças histológicas podem ser 
constadas pelo número, forma e diâmetro dos canais de Havers, como mostra a tabela: 
Característica Animal Homem 
Número Chega a 40mm² 8 a 10 por mm² 
Forma Circular Irregular ou elíptica 
Diâmetro Inferior a 25µm Superior a 3µm 
Raça 
Os tipos étnicos fundamentais descritos por Ottolengui e suas características raciais são apontadas 
a seguir 
→ Caucásico: Pele branca, cabelos lisos ou crespos, cabelos louros ou castanhos, íris azuis ou 
castanhas, contorno craniofacial anterior ovoide, ortognata ou ligeiramente prognata. 
→ Mongólico (Asiático): Pele amarela, cabelos lisos, face com diâmetro anteroposterior 
reduzido, espaço interorbital alargado, mento saliente e maxilares reduzidos. 
→ Negroide: Pele preta, cabelos crespos, crânio pequeno, prognata, fronte alta, nariz alargado e 
achatado, narinas espessas e largas. 
→ Indiano: Pele amarelo-trigueira, estatura alta, cabelos pretos, lisos, espessos e luzidios, íris 
castanhas, mesocéfalo, supercílios espessos, orelhas pequenas, nariz saliente, estreito e 
longo, barba escassa, fronte vertical, zigomas salientes e largas. 
→ Australoide: Pele trigueira, estatura alta, nariz curto e largo, zigoma largo e volumoso, 
prognatismo, cintura escapular larga, cintura pélvica estreita, dentes fortes, saliência das 
arcadas superciliares, dolicocéfalo. 
Ângulo facial 
Em relação ao ângulo facial, busca-se o grau de prognatismo. São traçadas três linhas imaginárias, 
descritas a seguir. 
1. Ângulo de Jacquart : da glabela (região mais anterior da 
fronte), passando pela espinha nasal e desta para o meio da 
linha médio-auricular; 
2. Ângulo de Curvier : da glabela, passando pelo ângulo 
dentário superior e deste ao meio da linha médio-auricular; 
3. Ângulo de Cloquet : da glabela, passando pelo ponto 
alveolar e deste ao meio da linha médio-auricular. 
Ângulo Caucasoide Mongólico Negroide 
Jacquart 76,5º 72º 70,3º 
Cloquet 62º 59,4º 58º 
Negroide 54º 53º 48º 
 
Determinismo sexual 
Sexo pode ser determinado biologicamente pelo estudo cromossomial, quando então a presença do 
par XX e a ausência dos corpos fluorescentes apontam o sexo feminino, enquanto o par XY com 
corpos fluorescentes identifica o sexo masculino (sexo cromossomial). 
Ainda na mesma linha, o achado de corpos de cromatina no sexo feminino e de sua ausência no sexo 
masculino caracteriza a determinação do sexo cromatínico. A presença de gônadas (sexo gonadal) 
e a morfologia da genitália externa e interna seguem o mesmo parâmetro biológico. 
 
Atenção 
Destarte a natureza biológica na determinação do sexo, há de se levar em consideração o comportamento 
do indivíduo frente ao que ele sente de si mesmo, caracterizando o sexo psíquico, que pode ser contrário ao 
que é apontado no registro civil (sexo jurídico). 
 
Raras vezes, a identificação requer o intercurso pericial (sexo médico-legal), notadamente nos 
estados intersexuais, pela presença de genitália dúbia, e frequentemente nos estados avançados de 
decomposição cadavérica, em esqueletizados e despojos humanos. 
Dos ossos, os que melhor se prestam para determinação sexual são o crânio , a mandíbula , o tórax 
e a pelve . 
No crânio, grosseiramente, podem-se traçar parâmetros de diferenciação com base nas 
características anatômicas ou por meio do índice craniométrico de Baudoin, que define a relação de 
100 vezes da largura máxima do côndilo occipital com o comprimento máximo deste côndilo. 
Crânio 
Crânio feminino 
Apresenta as seguintes características: glabela vertical, mastoide não proeminente, rebordo 
supraorbitário cortante e mandíbula ovoide. 
Crânio masculino 
Apresenta as seguintes características: glabela angulosa, mastoide proeminente, rebordo 
supraorbitário rombo e mandíbula angulosa. 
Peculiaridade anatômica Sexo masculino Sexo feminino 
Capacidade 1.400 cm³ 1.300 cm³ 
Mastoide Rugoso e proeminente Proeminência reduzida 
Arco superciliar Saliente Tênue 
Côndilo occipital Longo e delgado Curtos e largos 
Mandíbula Peso médio de 80 g, robusta, arco 
dental retangular, ângulo mandibular 
fechado em média 126o 
Peso médio de 63 g, suave, arco dental 
arredondado ou triangular, ângulo 
mandibular aberto em média 127,9o 
Índice de Baudoin <50 >50 
 
Galvão (apud FRANÇA, 2004) em 1994, estabeleceu a relação entre 11 pontos craniométricos, sendo 
o meato acústico externo o referencial, como se observa na figura. 
Pontos craniométricos de Galvão. 
MAE : meato acústico externo; GN : gnátio; PR : próstio; 
ENA : espinha nasal anterior; G : glabela; B : bregma; 
V : vértex; L : lambda; OP : opistocrânio; I : ínio; 
Ms : mastoideo; GO : gônio. 
 
Pelve 
Na pelve óssea (ossos do quadril e do sacro), essencialmente na sua porção anterior, e, sobretudo, a 
partir dos 18 anos de idade, constatam-se elementos diferenciadores marcantes. Portanto, 
representa o segmento do esqueleto que mais se presta para a diferenciação sexual, notadamente 
em sua porção anterior. As características que permitem a diferenciação sexual nesse segmento do 
esqueleto são: 
Pelve feminina: 
→ Cavidade pélvica mais arredondada e 
menor; 
→ ângulo subpúbico obtuso; 
→ incisura isquiática arredondada. 
Pelve masculina: 
→ cavidade pélvica cordiforme; 
→ ângulo subpúbico masculino agudo; 
→ incisura isquiática angulosa. 
 
Exame de dimorfismo sexual, e incisura isquiática maior assimétrica, típica de pelve masculina. 
O forame obturador se apresenta robusto e arredondado no sexo masculino, enquanto no sexo 
feminino as bordas se mostram angulosas, dando uma conformação triangular à estrutura. 
Da coluna vertebral, apenas a região sacral permite o dimorfismo sexual. O osso sacro tem amplitude 
considerável e formato triangular no sexo feminino. No sacro masculino, observam-se alongamento 
e forma triangular estreita. 
Atenção 
Fique atento: o sexto segmento do osso sacro só aparece no sexo masculino. Na pelve feminina, é evidente 
o sulco pré-auricular, sendo difícil ou até mesmo ausente na pelve masculina. 
 
Quanto à faixa etária,observe a presença de epífises de crescimento. Correlações são feitas entre o 
amadurecimento ósseo e dentário. A radiologia se presta para avaliar a idade óssea, sobretudo a 
radiologia dos ossos do punho. A estatura (no vivo) ou o comprimento (no cadáver) pode ser 
estimado por mensurações dos ossos longos. 
Identificação judiciária 
Trata-se da identificação policial: atualmente, o que melhor aponta a identidade é a papiloscopia. 
Vamos tecer alguns comentários sobre outros processos de identificação. 
Fotografia simples 
A fotografia simples é a tomada fotográfica de frente e de perfil, diferindo da fotografia sinaléptica, 
cuja redução é de 1/7. 
Sistema de bertilhon 
Apontado por Alphonse Bertilhon, é um sistema fundamentado na fixidez do esqueleto a partir dos 
20 anos de idade, traçando 11 medidas antropométricas. São elas: 
→ Diâmetro anteroposterior da cabeça; 
→ Diâmetro transversal da cabeça; 
→ Comprimento da orelha direita 
→ Diâmetro bizigomático; 
→ Comprimento do pé esquerdo; 
→ Comprimento do dedo médio esquerdo; 
→ Comprimento do dedo mínimo; 
→ Comprimento do antebraço; 
→ Estatura; 
→ Envergadura; 
→ Altura do busto. 
Sistema datiloscópico de Vucetich 
Papiloscopia é uma denominação atribuída ao chileno Humberto Orrego Gauthier, porém o sistema 
datiloscópico mais aceito foi idealizado por Juan Vucetich em 1891 e aplicado no Brasil em 1903. 
Beltrán lançou a lofoscopia (estudo das cristas), Galton a denominou finger prints e Harold Cummins 
a chamou de dermatóglifo. 
Trata-se de um método de identificação que, através de um revelador, deixa impresso um conjunto 
de linhas brancas e pretas em um suporte, impressão que corresponde ao reverso do desenho digital. 
As linhas brancas e pretas se arranjam de modo a configurar três sistemas de linhas (linhas 
diretrizes): basal, nuclear e marginal. 
Sistema datiloscópico de Vucetich 
Este sistema foi idealizado por Juan Vucetich com base nas papilas dos dedos das mãos. Ele 
observou que linhas papilares descreviam um desenho digital formado por três sistemas de linhas: 
basal, nuclear e marginal. O encontro dessas linhas deixava notar em algumas impressões a letra 
grega delta. 
A partir daí, ele definiu quatro tipos de papilas: 
→ Verticilo (V): dois deltas; 
→ Presilha externa (E): delta à esquerda; 
→ Presilha interna (I): delta à direita; 
→ Arco (A): ausência de delta. 
 
Uma fórmula decadactilar é aquela na qual se expressam os 10 dedos. O polegar da mão direita é 
chamado de fundamental, enquanto os demais da mão direita se chamam divisão. 
O polegar da mão esquerda é denominado de subclassificação; os demais dedos da mão esquerda, 
subdivisão. 
 
Diante de dúvidas, se procuram os pontos característicos (ponto, cortada, bifurcação, forquilha e o 
encerro) que, em número mínimo de 12 pontos, são suficientes para afirmar a identidade. 
Dica 
Outros processos, como o albodactilograma e a poroscopia, podem ser utilizados quando ainda persistir 
dúvida. 
 
Outros sistemas voltados para a identificação são: 
→ Sistema otométrico de frigério (forma dos pavilhões auriculares); 
→ Sistema otométrico de Capdeville (cor e medida dos olhos); 
→ Sistema otométrico de Levinsohn (fotografia do fundo do olho); 
→ Sistema otométrico de Matheios (fixidez de regiões da face – comparação fotográfica); 
→ Sistema de Bentham (tatuagem ao nascer); 
→ Sistema poroscópico de Locard (individualização e imutabilidade dos poros das glândulas 
sudoríparas); 
→ Sistema flobográfico de Ameuille (detalhe fotográfico das veias da fronte); 
→ Sistema flobográfico de Tamassia (imutabilidade das veias do dorso da mão – fotografia) etc. 
 
 
Tanatologia forense 
Definição 
Tanatologia forense é um campo da medicina legal que se ocupa dos fenômenos decorridos da 
morte cujo interesse de investigação criminal ou jurídico é diverso. 
Conceito de morte 
A morte, apesar de representar a finitude da vida de uma pessoa, é, sobretudo, um processo com 
encadeamento de fenômenos que avançam no sentido de destruição ou de conservação. 
Entretanto, precisamos apontar alguns dos conceitos específicos de morte. Vejamos: 
→ Morte real – é a morte biológica da pessoa, do corpo, passível de constatação médica; 
→ Morte civil – é o registro cartorário na forma de certidão que encerra a vida civil da pessoa, 
passando a ser denominada de de cujus; 
→ Morte presumida – é a morte, com previsão legal, em que se presume pelo tempo de ausência 
ou de desaparecimento, ou pelas circunstâncias de grande probabilidade, que a pessoa está 
morta; 
→ Morte definitiva – é a morte prevista legalmente, considerando o decurso de tempo e a idade 
do ausente; 
→ Morte por indignidade – é a morte fictícia em que o magistrado qualifica uma pessoa como 
indigna em pleito jurídico pelo infortúnio causado a outra pessoa com quem tem relação direta 
e dependência por questão de herança ou de qualquer outra natureza; 
→ Morte súbita – aquela sem diagnóstico de certeza, cujos comemorativos clínicos levam ao 
desfecho fatal em tempo não superior a 24 horas; 
→ Morte agônica – é a morte que decorre de evento arrastado e que denota sofrimento. 
Atenção 
Quando se deseja saber se houve a simultaneidade da morte de duas ou mais pessoas (comoriência), ou se 
uma delas precedeu a da outra (premoriência), buscam-se elementos necroscópicos, histológicos e 
bioquímicos que a possam definir. O Código Civil estabelece que, em não podendo apontar a premoriência, 
opta-se pela simultaneidade da morte. 
Morte encefálica 
A definição de morte é fundamentada no critério cerebral ou encefálico. Portanto, deve-se buscar a 
presença de sinais ou reflexos integrados em tronco cerebral, que é formado de cima para baixo 
pelas seguintes estruturas: mesencéfalo, ponte e bulbo. 
O mesencéfalo é a estrutura mais superior do 
tronco cerebral. O sinal integrado é o reflexo 
pupilar. O estímulo luminoso na pupila é captado 
pelo nervo óptico, localizado no tálamo (aferente; II. 
par de nervo craniano), que envia uma mensagem 
neural ao mesencéfalo, e este responde pelo nervo 
oculomotor (III. par de nervo craniano) contraindo a 
pupila. 
A ponte é alvo dos reflexos: corneano, vestíbulo calórico e oculocefálico. 
Reflexo corneano 
→ Estimular a córnea com algodão 
→ Nervo trigêmeo – V par – ponte 
→ Nervo facial – VII par – ponte 
Reflexo vestíbulo calórico 
→ Cabeceira da cama elevada a 30◦ sem fletir o pescoço; injetar lentamente 50 mL de NaCl a 
0,9% no ouvido e observar os olhos abertos por 2 minutos. Ausência de desvio dos olhos no 
sentido do estímulo 
→ Nervo vestíbulo coclear – VIII par – ponte 
→ Nervos oculomotor (III); abducente (IV) e troclear (VI); fascículo longitudinal medial, 
mesencéfalo e ponte 
Reflexo oculocefálico 
→ Movimentar a cabeça em rotação lateral ou flexão-extensão. Reflexo dos olhos de boneca. 
→ Nervo vestíbulo coclear (VIII par) 
→ III, IV e VI pares 
No bulbo , se pesquisa o reflexo da tosse estimulando a orofaringe, que envia uma mensagem pelo 
IX par de nervo craniano (glossofaríngeo) e responde pelo nervo vago (X par de nervo craniano). 
O critério encefálico é aplicado não somente para fim de diagnóstico de morte, mas também para a 
lei de transplante. 
Atenção 
Observam-se na morte encefálica: coma aperceptivo com abolição da atividade motora supraespinhal e 
apneia, com inconsciência e ausência de respiração autônoma por mais de 12h; midríase bilateral; EEG 
isoelétrico; e angiograma negativo durante 30 minutos de análise. 
No Brasil, a resolução do Conselho Federal de Medicina, CFM no 1.480/1997, estabelecia que, no 
termo de declaração de morte encefálica, deveriam constar três critérios fundamentais: 
1. Ausência de atividade elétrica cerebral; 
2. Ausência da atividade metabólica cerebral; 
3. Ausência de perfusão sanguínea cerebral. 
Devem ser afastadas as condições de coma, hipotermia e o uso de drogas depressoras do sistema 
nervosocentral. Dois médicos que não sejam da equipe de transplante procedem aos exames e 
assinam o termo. 
Pela citada resolução, os exames clínicos e propedêuticos devem ser realizados em dois tempos de 
acordo com a faixa etária na forma que se segue: 
→ De 7 a 2 meses incompletos: Intervalo é de 48 horas. 
→ De 2 meses a 1 ano incompleto: Intervalo de 24 horas. 
→ 1 a 2 anos incompletos: Intervalo de 12 horas. 
→ Acima de 2 anos: Intervalo é de 6 horas. 
Saiba mais 
Atualmente, foi editada e publicada uma nova resolução que disciplina os critérios de morte encefálica. 
Trata-se da Resolução CFM Nº 2.173, de 23 de novembro de 2017. 
Veja o artigo 3º dessa resolução. 
Art. 3º O exame clínico deve demonstrar de forma inequívoca a existência das seguintes condições: 
a) coma não perceptivo; 
b) ausência de reatividade supraespinhal manifestada pela ausência dos reflexos fotomotor, córneo-
palpebral, oculocefálico, vestíbulo-calórico e de tosse. 
§ 1º Serão realizados dois exames clínicos, cada um deles por um médico diferente, especificamente 
capacitado a realizar esses procedimentos para a determinação de morte encefálica. 
§ 2º Serão considerados especificamente capacitados médicos com no mínimo um ano de experiência no 
atendimento de pacientes em coma e que tenham acompanhado ou realizado pelo menos dez 
determinações de ME ou curso de capacitação para determinação em ME, conforme anexo III desta 
resolução. 
§ 3º Um dos médicos especificamente capacitados deverá ser especialista em uma das seguintes 
especialidades: medicina intensiva, medicina intensiva pediátrica, neurologia, neurologia pediátrica, 
neurocirurgia ou medicina de emergência. Na indisponibilidade de qualquer um dos especialistas 
anteriormente citados, o procedimento deverá ser concluído por outro médico especificamente capacitado. 
§ 4º Em crianças com menos de 2 (dois) anos o intervalo mínimo de tempo entre os dois exames clínicos 
variará conforme a faixa etária: dos sete dias completos (recém-nato a termo) até dois meses incompletos 
será de 24 horas; de dois a 24 meses incompletos será de doze horas. Acima de 2 (dois) anos de idade o 
intervalo mínimo será de 1 (uma) hora. 
Fenômenos cadavéricos 
O estudo dos fenômenos cadavéricos tem por objetivo o diagnóstico da realidade da morte 
(tanatognose) e o tempo de evolução cadavérica (cronotanatognose). 
Os fenômenos cadavéricos são divididos em: 
1. Abióticos : São imediatos e consecutivos 
2. Transformativos : Podem ser destrutivos ou conservadores. 
Quanto ao tempo da morte, pode-se classificá-la como morte rápida ou agônica. Essa peculiaridade 
pode ser vista diante de exames histológicos e bioquímicos. 
São eles: 
1. Prova hepática química de Lacassagne e Martin : análise química em que a concentração de 
glicogênio e glicose no fígado está esgotada na morte agônica; 
2. Prova hepática histológica de Meissner : análise histológica de glicogênio no fígado com o 
mesmo critério da prova química; 
3. Prova suprarrenal química de Leoncini e Cevidalli : análise química da concentração de 
adrenalina na cápsula das adrenais. Concentrações baixas indicam morte agônica; 
4. Prova suprarrenal histológica de Veiga de Carvalho : análise histológica do pigmento 
feocrômico ou cromafim na região medular da glândula; 
5. Prova de Cazzaniga (urinária) : pesquisa de glicosúria; a presença de glicose na urina indica 
morte agônica. 
Fenômenos abióticos imediatos 
É o período em que cessam as funções vitais, compreendendo um intervalo denominado período de 
incerteza de Tourdes. Antecede os sinais de realidade da morte. 
Deve-se prestar atenção na fácies da morte ou fácies hipocrática, cujas características são 
apontadas na tabela. 
Fenômenos abióticos imediatos Fácies hipocrática 
Pálpebras parcialmente cerradas 
Adelgaçamento labial e inexpressivo; 
Relaxamento dos esfíncteres 
Abolição do tônus muscular 
Pavilhão auricular frio e cianótico; 
Apneia e ausência de pulso 
Perda da sensibilidade 
Sudorese facial viscosa; 
Perda da consciência 
Fácies hipocrática 
Palidez intensa. 
Parada cardíaca 
 
Fenômenos abióticos consecutivos 
Os fenômenos consecutivos são aqueles que apontam os sinais de realidade da morte. São mais 
notados quando avança mais de 6 horas do óbito. 
São eles: 
Resfriamento (algor mortis) 
Com a morte, o corpo vai perdendo calor e se resfriando. Mensurar a curva térmica do corpo nas 
primeiras 24 horas após a morte é um bom método para estimar o tempo de morte. (POPOSKA et al, 
2013) 
Os mecanismos de perda de calor são: transferência de calor para o ambiente (radiação), pela 
corrente de ar (convecção), por contato direto com outro objeto (condução) ou por evaporação. 
As regiões que produzem mais calor são o fígado, o cérebro, o coração e o músculo esquelético. 
Com a morte, a temperatura chega a se elevar, retornando à temperatura inicial 4 horas depois. 
 
Curva de dispersão térmica 
Marshall e Hoare projetaram uma curva de dispersão térmica, com tomadas da temperatura retal 
em um período de três horas, e chegaram às seguintes conclusões: 
→ Nas primeiras três horas de morte, a queda térmica é de 0,5 ; 
→ N o s p r ó x i m o s d o i s p e r í o d o s d e 3 h , h á q u e d a d e 1 º C / h ; 
→ T r ê s h o r a s d e p o i s , o c o r r e r e d u ç ã o d e 0 , 7 5 º C / h ; 
→ Entre a 12ª e a 15ª hora após a morte, a temperatura retal cai 0,5ºC. 
Entretanto, como é sabido, a temperatura cadavérica se eleva após a morte e retorna ao ponto 
inicial após quatro horas. 
Glaister, em 1947, Rentoul e Smith estabeleceram a fórmula a seguir, admitindo uma queda de 
temperatura corporal na razão de 1,5º por hora: H= (N-C)/1,5 
N: temperatura retal normal; C: temperatura retal do cadáver no momento do exame; H: horas 
decorridas após a morte. 
O método de Moritz admite a seguinte fórmula, porém com a prerrogativa da temperatura de 37ºC 
no momento da morte: Temperatura retal – 37ºC + 3 = ∆t da morte 
Rigidez cadavérica (rigor mortis) 
A rigidez cadavérica é um fenômeno físico-químico que compromete todos os músculos do corpo. 
Os músculos pequenos ficam rígidos mais rapidamente. Ao que tudo indica, há uma desidratação 
muscular, que produz coagulação da miosina e aumento do ácido láctico no músculo (teoria de 
Brucke e Kuhne). 
A rigidez fica evidente inicialmente na face, enrijecendo a mandíbula; em seguida, acontece o mesmo 
com a nuca, pescoço, tronco, membros superiores e membros inferiores (lei de Nysten-Sommer). 
A rigidez craniocaudal se desfaz no mesmo sentido. Espera-se que, após a morte, ocorra primeiro a 
flacidez seguida da rigidez. Entretanto, em algumas condições, há um espasmo, desencadeando 
uma rigidez não precedida de flacidez. Esse tipo especial de rigidez denomina-se rigidez cataléptica, 
estatuária ou plástica. É comumente definida como um estado de contratura muscular. 
Hipóstase (livor mortis) 
O fenômeno da hipóstase guarda relação com a interrupção da circulação: o sangue acaba se 
acumulando nas áreas de maior declive entre 2 e 3 horas após a morte, vindo a fixar-se em 12 horas. 
 
Desidratação 
A desidratação é um fenômeno físico cujo processo depende de fatores intrínsecos e extrínsecos ao 
cadáver. A causa da morte é um fator intrínseco. Os fatores extrínsecos de importância são: 
temperatura ambiente, circulação de ar e umidade de ar. Favorece a evaporação e, 
consequentemente, a desidratação, a baixa umidade do ar, ventilação e superfície exposta a altas 
temperaturas. 
O fenômeno é demonstrado pela perda de peso do cadáver, alterações dos globos oculares e 
apergaminhamento (consistência dura e amarelada) da pele e das mucosas. 
A desidratação é mais bem demonstrada na região ocular. Observam-se a mancha negra da 
esclerótica, turvação da córnea, perda da tensão do globo ocular e formação da tela viscosa. 
A tela viscosa ocorre pela desidratação do transudado ocular, o que vem a concentrar partículas depoeira e epitélio morto da córnea. 
Outros fenômenos da desidratação ocular são: redução considerável da tensão ocular (sinal de 
Louis), enrugamento da córnea (sinal de Bouchut), turvação da córnea e deformação da íris e da 
pupila à pressão digital (sinal de Ripault). 
Fenômenos transformativos 
Os fenômenos transformativos podem ser destrutivos ou conservadores conforme evoluem com a 
desintegração do corpo ou com a conservação de traços anatômicos, respectivamente. 
Veja a seguir a classificação dos fenômenos transformativos: 
Fenômenos transformativos destrutivos 
→ Autólise 
→ Putrefação 
→ Maceração 
→ Linha 
 
Fenômenos transformativos conservadores 
→ Saponificação 
→ Mumificação 
→ Congelação 
→ Petrificação 
→ Corificação 
Fenômenos transformativos destrutivos 
Os transformativos destrutivos são fenômenos de certeza da morte. 
Eles são divididos em: 
Autólise 
As membranas plasmáticas perdem a sua seletividade e começam a extravasar o conteúdo 
citoplasmático. Os lisossomos liberam enzimas proteolíticas que acidificam a célula e dão início à 
destruição celular. A queda do pH é de curta duração. À proteólise bacteriana ocorre a autólise, 
alcalinizando a célula. Nesse momento, está instalado o primeiro momento da putrefação. 
Putrefação 
A putrefação é um fenômeno de decomposição da matéria orgânica, transformando-a em matéria 
inorgânica. São responsáveis pela putrefação as bactérias, os fungos e a fauna macroscópica. 
A putrefação é dividida em quatro fases: 
1ª fase (de coloração ou cromática): em geral tem início na fossa ilíaca direita em função da 
proximidade do ceco (rico em bactérias) com a parede abdominal. 
2ª fase (enfisematosa ou gasosa): ocorre pela produção de gases da putrefação (H2S, NH4 e H 
fosforado) que infiltram os tecidos, sobretudo os areolares, levando à formação de rede vascular 
periférica (circulação póstuma) e de bolhas epidérmicas que destacam em retalhos, além da 
projeção da língua edemaciada entre as arcadas, acabando o cadáver assumindo um aspecto de 
gigantismo. 
3ª fase (liquefação ou coliquativa): ocorre a redução dos tecidos que se reduzem a uma massa de 
putrilagem. 
4ª fase (esqueletização): ocorre com a desintegração da massa, acaba-se expondo peças ósseas. 
 
Maceração 
A maceração é um processo de destruição do corpo quando ele está exposto a água, líquidos estéreis 
(maceração asséptica) ou líquidos contaminados (maceração séptica). 
Fenômenos transformativos conservadores 
São fenômenos que conservam traços fisionômicos. Podem ser por saponificação, mumificação, 
coreificação (ou corificação) e congelamento. 
Veja mais detalhes sobre estes fenômenos a seguir: 
Saponificação 
A saponificação é um fenômeno tardio, favorecido por peculiaridades do ar e do solo. 
Dão sentido à saponificação o ambiente pouco ventilado e o solo de pouca permeabilidade, com 
sedimentos de arenitos vermelhos, os xistos, solos pretos, enriquecidos em barro ou ricos em 
minerais de argila. 
Com a morte, tem início a ação enzimática bacteriana que hidrolisa as gorduras neutras 
(triglicerídios), transformando-as em ácidos graxos saturados. A característica mais marcante é a 
untuosidade cadavérica. 
Esses ácidos graxos, em ambiente com água estagnada, rica em minerais, pouco ventilado, argiloso, 
poroso, impermeável ou de pouca permeabilidade, desencadeiam uma reação química, dando 
origem a sabões de cálcio (saponificação). 
A aparência de cera, acastanhada ou esbranquiçada, mole, quebradiça e fétida é conhecida como 
adipocera. É insolúvel em água, solúvel em éter e em álcool. 
Mumificação 
É um fenômeno conservador que ocorre em meio quente, ventilado, seco e de atividade bacteriana 
reduzida. 
Os fatores intrínsecos que favorecem a mumificação de um cadáver são se ele se tratar de: recém-
nascido, sexo feminino, com grandes hemorragias, tratamento prolongado com antibióticos, 
envenenamento pelo arsênico e cianureto de potássio. 
São características do corpo mumificado: cadáver com segmentos pardacentos ou pretos e volume 
e peso reduzidos. 
Congelação 
É um fenômeno transformativo conservador pelo qual o cadáver é preservado quando exposto por 
tempo prolongado a baixas temperaturas. 
 
Coreificação 
É um fenômeno transformativo conservador que ocorre quando o corpo está sepultado em urnas 
metálicas, em geral de zinco, fechadas hermeticamente. 
As características do cadáver são: aparência de couro curtido, abdome escavado, musculatura e 
tecido celular subcutâneo preservados, vísceras amolecidas e conservadas. 
Particularidades 
Alguns fenômenos que destacamos aqui se valem da peculiaridade e estabelecem tempo de morte. 
Assim são: 
1. Cristais de Westenhoffer-Rocha-Valverde (WRV): Produto da decomposição das hemácias. 
São cristais de tamanhos desiguais, incolores, laminados ou prismáticos. Ocorrem a partir do 
3º dia de morte e persistem até o 35º dia; 
2. Concentração de potássio no humor vítreo : Presta-se à determinação da concentração de 
potássio e sua relação com o tempo de morte até as 20 primeiras horas do óbito, assim como 
em relação à concentração de etanol; 
3. Ponto crioscópico do sangue: Sabe-se que, aumentando o número de partículas dissolvidas, 
reduz-se o ponto crioscópico em função da redução do ponto de congelamento.Considerando 
que a decomposição orgânica cadavérica aumenta o número de partículas menores, conclui-
se que o ponto crioscópico é reduzido progressivamente com o intervalo pós-morte; 
4. Fenômeno de Zsaco : Estimulando-se o músculo até 2h30min após a morte, pode-se deparar 
com uma contração que toma todo o músculo. Esse é o chamado fenômeno de Zsaco; 
5. Tafonomia forense: é o estudo da relação dos fatores ambientais e intrínsecos que justificam 
a evolução cadavérica. A ação externa pode ser: física, geológica, climática e biológica. A 
umidade do ar pode favorecer o desenvolvimento de fungos e algas, além de alterar a 
consistência e a cor dos ossos. Os fatores tafonômicos podem ser intrínsecos ou extrínsecos. 
São intrínsecos o tamanho, a forma, a densidade, a idade, o sexo e algumas considerações de 
natureza patológica. São extrínsecos os fatores bióticos e abióticos (ambientais), além 
daqueles provenientes da ação do homem (antrópicos). 
 
 
 
Traumatologia forense 1 – Energia mecânica 
Classificação dos agentes vulnerantes 
Os agentes vulnerantes, em medicina legal, são classificados em ordens na forma que se segue: 
mecânica, física, química, bioquímica, biodinâmica, físico-química e mista. A cada ordem se 
pressupõe uma energia. 
Cada instrumento da ordem mecânica tem uma energia potencial com capacidade para alterar o 
estado inercial de um corpo. Esse instrumento em movimento pode lesionar o homem por um 
mecanismo particular (em deslizamento, por pressão, por percussão, por explosão etc.) através de 
um meio (água, ar, vácuo). 
Atenção 
Da física se extrai que a energia cinética guarda relação com a massa e a velocidade. 
 
Ordem mecânica 
Agulha cilíndrica 
Instrumento perfurante de pequeno calibre. Age pela ponta. Lesão puntiforme; 
furador de gelo: instrumento perfurante de médio calibre. Age pela ponta. Lesão 
em “casa de botão”; 
Faca de 1 gume e uma faca de 2 gumes 
Instrumento cortante. Age pelo gume. Lesão incisa; 
 
Porrete 
Instrumento contundente. Age pela superfície. Lesão contusa; 
 
Agulha triangular ou faca de ponta e gume 
Instrumento perfurocortante. Age pela ponta e gume. Lesão perfuro-incisa; 
 
Machado 
Instrumento corto-contundente. Age pelo gume e pela superfície, considerando 
seu peso ou sua força. Lesão corto-contusa; 
 
Projétil de arma de fogo 
Instrumento perfurocontundente. Age pela ponta e pela superfície. Lesão perfuro-
contusa. 
Agente perfurante 
São agentes alongados e com diâmetro transverso reduzido. Agem por pressão pela ponta 
percutindo ou perfurando. Afastam as fibras. São de pouco sangramento – e sua lesão é puntiformese o instrumento for de pequeno calibre - ou tomam a aparência de casa de botão - se o instrumento 
for de médio calibre. 
As lesões provocadas pelos instrumentos perfurantes de médio calibre obedecem a três leis: 
1ª Lei de Filhos (lei da semelhança): as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio 
calibre tomam a aparência de “casa de botão”, assemelhando-se às lesões produzidas por 
instrumentos cortantes de dois gumes; 
2ª Lei de Filhos (lei do paralelismo): as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio 
calibre em áreas de mesma direção e no sentido de linhas de força guardam uma relação de 
paralelismo entre si, ou seja, com a mesma direção e sentido, acompanhando as linhas de força; 
Lei da Langer: as lesões produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre em áreas de 
confluência de linhas de força, com direção e sentidos diferentes, tomam um aspecto triangular ou 
de um quadrilátero. 
Agente cortante 
São agentes que agem por um gume, seja por um mecanismo de deslizamento ou penetrando no 
corpo. Cortam fibras, estruturas e vasos sanguíneos. São de sangramento evidente, as bordas e as 
vertentes das lesões são regulares e a lesão é dita incisa. 
Atenção 
A lesão incisa na porção anterior do pescoço se chama esgorjamento, enquanto na porção posterior do 
pescoço se chama degola. A decapitação se dá quando da separação da cabeça do corpo. 
O esgorjamento pode ser suicida ou homicida: 
Esgorjamento suicida: No esgorjamento suicida, a linha de incisão é oblíqua de cima para baixo e 
da esquerda para a direita se a vítima for destra. A lesão é mais profunda no início da ação do 
instrumento. 
Esgorjamento homicida: No esgorjamento homicida, a linha de incisão é horizontal e tem 
profundidade igual em toda a extensão da ferida, podendo, além de seccionar vasos, seccionar 
nervos e traqueia. 
Agente contundente 
São agentes que agem pela superfície. Os mecanismos por pressão, percussão e explosão são 
alguns exemplos. 
As lesões podem ser fechadas ou abertas. 
Lesões fechadas 
→ Rubefação : lesão mais fugaz. Hiperemia de resolução rápida; 
→ Tumefação : trata-se de edema com empalidecimento na área de impacto. Constata-se a 
tríplice reação de Lewis (hiperemia na área de impacto que se estende, circunscrevendo a 
região traumatizada, e palidez central); 
→ Equimose : infiltração de sangue nas malhas de tecido provenientes de vaso sanguíneo roto. 
Apresentam-se puntiformes (petéquias) e confluentes (sugilação), estriadas (víbices), em 
placas com diversas formas, em ampla área (sufusão) ou ocupando grande extensão 
(equimoma); 
→ Entorse : estresse nos ligamentos articulares; 
→ Luxação : perda da congruência das peças ósseas que se articulam; 
→ Fratura fechada : solução de continuidade óssea. 
Saiba mais 
Para saber mais sobre Equimose, leia este texto. 
A coloração vai do róseo ao preto, sendo a última própria das condições de compressão, como aquelas que 
decorrem do aprisionamento de sangue entre a unha e o leito ungueal, caracterizando o que se denomina 
popularmente de “sangue pisado”. 
Em geral, sua tonalidade vai variar de acordo com o tempo de instalação: vermelho – 1º dia; arroxeada – 2º 
e 3º dia; azul – entre o 4º e o 6º; esverdeada – entre o 7º e o 10º dia; amarelada, entre o 11º e o 12º dia 
(espectro equimótico de Legrand du Saulle). 
Algumas equimoses guardam relação com um instrumento específico e são 
intituladas lesões por assinatura. 
A lesão provocada pela sucção labial, comumente chamada de “chupão” em áreas específicas como o 
pescoço, as mamas, a face interna da coxa, região glútea e áreas próximas à genitália, dá conotação sexual 
ao evento. É denominada em medicina legal de “violetas róseo-equimóticas”. 
A ação contundente de um objeto alongado e roliço deixa impressas duas faixas equimóticas paralelas e 
alongadas com centro mais claro. 
A passagem da roda de um carro ou motocicleta por cima da vítima deixa notar estriações características 
denominadas de estrias pneumáticas de Simonin. 
Observa-se o mesmo fenômeno quando da compressão do cinto de segurança para conter a vítima no 
banco do automóvel em acidentes automobilísticos. 
Uma das questões de importância médico-legal é distinguir equimose de hipóstase. 
A equimose decorre da rotura de vasos sanguíneos que se infiltram no tecido e ali coagulam. Na hipóstase, 
não há malha de fibrina e o sangue não coagulado sedimenta-se por declive, de modo que uma incisão no 
local verterá sangue. Tal fato não ocorre com equimoses. 
Lesões abertas 
→ Ferida contusa : lesão com a forma, as bordas e vertentes irregulares. Os ângulos da lesão 
são obtusos e por vezes apresentam retalhos de tecido unindo uma borda à outra da lesão; 
→ Escoriações : são lesões na pele que podem comprometer somente a epiderme (serosa) ou a 
derme superficial (sero-hemática) ou a derme profunda (hemática). Assim, se apenas a 
epiderme for lesionada, temos o que se chama de escoriação típica, cujo fenômeno de 
recuperação tecidual se dá por regeneração ou reepitelização. 
→ Fratura aberta ou exposta : quando expõe o osso fraturado. 
Saiba mais 
Para saber mais sobre Escoriações, leia este texto. 
Quando apenas a epiderme for lesionada, temos o que se chama de escoriação típica, cujo fenômeno de 
recuperação tecidual se dá por regeneração ou reepitelização. 
A pele humana é um órgão formado de epiderme, derme e hipoderme. A epiderme é um tecido epitelial 
caracterizado por células justapostas, avascularizado e de superfície livre. 
A nutrição da epiderme se dá por mecanismo de difusão. Apresenta quatro camadas da superfície para a 
profundidade: córnea, granulosa, espinhosa e basal; a camada basal é separada da derme pela membrana 
basal. 
Uma quinta camada, chamada camada lúcida, encontra-se na palma das mãos e planta dos pés. Essa 
camada ou estrato dá uma consistência mais firme a essas regiões. 
Os melanócitos, células derivadas, aparecem entremeados na camada basal e na derme papilar. Portanto, 
as escoriações podem ocorrer caprichosamente nas camadas mais superficiais da epiderme ou mais 
profundamente na última camada da epiderme, deixando a derme desnuda. 
Abaixo da epiderme, compromete a derme superficial (derme papilar) ou mais profundamente (derme 
reticular). As escoriações também podem ocorrer após o óbito ou a escoriação post mortem, que deixa 
notar o leito de arrasto brancacento; 
 
Agente perfurocortante e agente cortocontundente 
AGENTE PERFUROCORTANTE 
São agentes que agem pela ponta e pelo gume, como as espadas cortantes e as agulhas de 
extremidade cortante triangular. A lesão também é em casa de botão, porém com profundidade. 
AGENTE CORTOCONTUNDENTE 
São agentes que agem pelo gume e pela superfície. Exemplos desses instrumentos são o machado 
e a guilhotina. São instrumentos que se valem de seu peso ou de sua força. Os dentes pela força da 
mordida também são corto-contundentes. A lesão se chama corto-contusa. 
Agente perfurocontundente 
São agentes que agem pela ponta e pela superfície. O agente mais marcante é o projétil de arma de 
fogo. 
A balística é o ramo da mecânica que trata dos projéteis, estudando os mecanismos de expulsão 
deles pelo cano da arma (balística interna), sua trajetória (balística externa) e seus efeitos no alvo – 
trajeto (balística dos efeitos). 
Nesta aula, vamos tratar somente da balística dos efeitos desde a entrada, o seu trajeto e, se for o 
caso, sua saída. 
 
Projétil 
O cartucho é composto de projétil e cápsula. Há cartuchos com um projétil ou cartuchos com 
múltiplos projéteis (balins). Aqui, vamos descrever os efeitos provenientes do cartucho com um 
projétil. O projétil, que compõe com a cápsula o cartucho, para sair do cano da arma, precisa ser 
impulsionado. 
Esse impulso é favorecido pelos elementos deflagradores do tiro. Uma mistura iniciadora contida na 
espoleta gera uma faísca quando da percussão do pino percutor da arma nabigorna. Essa faísca 
queima a pólvora. Ao se queimar, ela eleva a temperatura interna do cartucho em um compartimento 
fechado, elevando, consequentemente, a pressão. 
Dessa queima, são gerados resíduos químicos representados pelos seguintes sais: carbonato de 
cálcio (praticamente 50%), sulfito (25%), sulfato (16%), sulfocianetos, tiossulfatos e carbonato de 
amônio. 
Comentário 
Um tipo de pólvora atualmente mais utilizada é a pólvora branca ou piroxilada (pólvoras químicas). É uma 
mistura de clorato de sódio (NaClO3 – 50%) e açúcar branco refinado (50%). A pólvora branca é um 
propelente denominado de pólvora sem fumaça, cuja composição varia de simples, constituído somente de 
nitrocelulose (algodão pólvora), ou sob a forma de base dupla – cordite (mistura de nitrocelulose com 
nitroglicerina). 
 
Portanto, o desenrolar do disparo se fundamenta na queima de uma fonte de energia química 
(propelente ou carga de projeção), representada pela pólvora, que deflagra uma explosão, liberando 
gases que impulsionam o projétil para adiante. 
Com a pressão elevada, o projétil se desgarra da cápsula e segue adiante – e, junto com ele, os 
elementos deflagradores do tiro: a pólvora combusta e incombusta, a chama e as partículas de metal. 
 
 
Saiba mais 
Leia o texto Efeitos do Tiro para saber mais sobre este assunto. 
O impacto do projétil no corpo rompe a elasticidade da pele e a penetra. Da ferida de entrada (borda 
invertida) se observam orlas que são a equimose, a escoriação e o enxugo. Esse último é também chamado 
de orla de alimpadura em que o projétil se limpa na vertente da ferida. 
Ao atravessar um osso díploe, como é o crânio, observa-se uma ferida em tronco de cone, com o ápice 
voltado para a entrada e a base para a saída nessa parte do osso (tronco de cone de Bonnet). 
Na ferida de saída na pele, as bordas são irregulares e evertidas. Essas lesões são efeitos primários do tiro 
que ocorrem pela ação direta do projétil. 
Os efeitos secundários são provenientes dos elementos que deflagram o tiro e descrevem zonas. São eles: 
Esfumaçamento : fumaça ou pólvora sem combustão que se deposita na pele; 
Queimadura : ação da chama que sai pela boca da arma; 
Tatuagem : pólvora incandescente que se incrusta na pele. 
Esses elementos são importantes, pois fazem juízo quanto à distância do tiro. Vejamos: 
Tiro encostado : se tiver plano ósseo adjacente, se apresenta irregular, dramático e com bordas solapadas 
(câmara de mina de Hoffmann). Sem plano ósseo pode-se notar a silhueta da boca da arma impressa na 
pele (sinal de Werkgartner); 
Tiro a curta distância ou à queima-roupa : observam-se aqui um ou todos os elementos secundários do 
tiro, além dos primários; 
Tiro à distância : aqui se constatam somente os elementos primários do tiro. 
A passagem do projétil pelo tecido deixa uma cavidade permanente, caracterizando um efeito primário que é 
favorecido pela pressão e laceração. A onda de pressão desencadeada pelo projétil expande a cavidade 
permanente temporariamente e adquire maior diâmetro de acordo com a elasticidade do tecido. Essa 
cavitação se chama cavidade temporária. 
 
 
 
 
 
Traumatologia forense 2 – energias física, química, 
bioquímica, físico-química, biodinâmica e mista 
Classificação dos agentes vulnerantes diversos da energia mecânica 
Os agentes vulnerantes diversos da energia mecânica são classificados em ordem na forma que se 
segue: 
1. Física 
2. Química 
3. Bioquímica 
4. Biodinâmica 
5. Físico-química 
6. Mista 
A cada ordem se pressupõe uma energia. Cada instrumento tem uma energia potencial com 
capacidade para alterar o estado inercial de um corpo. Vamos estudar cada um, deixando a 
asfixiologia para aula em separado. 
Terminologia forense 
Terminologia forense é a área da medicina legal que se ocupa dos efeitos da temperatura no corpo 
humano. 
Veja a seguir os principais tipos de temperaturas e suas definições: 
Calor difuso 
A termonose seria atribuída ao calor difuso. Dois conceitos se apresentam: insolação (exposição 
direta) e intermação (exposição indireta). Outros fatores estão implicados, como a faixa etária, as 
condições ambientais de arejamento e ventilação, as vestes, patologias prévias, atividade física, 
alcoolismo, a fonte de calor natural ou artificial etc. 
Atualmente, o conceito anatomopatológico e clínico é que vai apontar o tipo de termonose, sendo a 
intermação de natureza hemodinâmica e a insolação (manifestações neurológicas) a evolução 
desfavorável da intermação. 
Calor localizado 
A queimadura é a consequência do calor localizado. Dupuytren classifica a queimadura em seis 
graus. Vamos prestigiar a classificação de Hoffmann, que a divide em quatro graus: 
→ 1º grau: compromete somente a epiderme. Eritema, edema e dor são as características 
principais; 
→ 2º grau: há comprometimento da derme. A vesícula ou flictena é a característica. Ao romper-
se, expõe a derme; 
→ 3º grau: são lesões profundas, expondo aponeuroses e músculos. A necrose é a sua 
característica; 
→ 4º grau: são as lesões mais profundas, por vezes comprometendo o plano ósseo. Sua 
característica é a carbonização. 
Frio difuso (hipotermia) 
Na hipotermia, assim como na termonose, as circunstâncias é que vão direcionar o diagnóstico 
médico-legal. No frio difuso, há a manifestação de alteração do sistema nervoso, com sonolência, 
delírios e convulsões. A vítima apresenta também congestão polivisceral, isquemia de estruturas, 
edema pulmonar e infiltração hemorrágica na mucosa gástrica (sinal de Wischnewski). 
Frio localizado 
A geladura é a consequência do frio localizado. 
Calissen classifica a geladura em três graus: 
→ 1º grau: caracterizado pela palidez ou rubefação, ou eritema; 
→ 2º grau: aqui há eritema e bolhas (vesicação); 
→ 3º grau: caracterizado por necrose e gangrena. 
Temperaturas oscilantes 
Quando a vítima for submetida a oscilações térmicas, pode concorrer com baixa da imunidade e, 
consequentemente, predisposição a infecções oportunistas. 
Baropatia forense 
As variações da pressão atmosférica vão lesionar o homem conforme a redução da pressão 
(altitude) ou elevação (profundidade). A redução da pressão leva às doenças das montanhas, 
enquanto a elevação da pressão propicia as doenças dos caixões. 
Mal das montanhas 
Com a altitude, o ar fica rarefeito e com menor concentração de oxigênio. A hipóxia desencadeia 
mecanismos de adaptação. A não adaptação pode propiciar duas formas clínicas: clássica e doença 
dos monges. 
Na forma clássica, ocorre cefaleia frontal, insônia, náusea e vertigem. Não tratada, a hipóxia segue 
para desfechos graves, como o edema pulmonar e edema cerebral. 
A doença dos monges é a forma crônica caracterizada pela redução da ventilação pulmonar. 
Cefaleia, vertigem, irritabilidade, alucinações, sonolência e depressão fazem parte do quadro. 
Mal dos caixões 
O conjunto das alterações da elevação da pressão atmosférica é chamado de barotrauma. 
As formas clínicas do barotrauma podem estar relacionadas diretamente com a pressão (síndromes 
compressivas com comprometimento dos seios paranasais, da face, do dente, dos pulmões, das 
orelhas e síndrome de hiperdistensão pulmonar – SHP) ou indiretas (doença descompressiva, 
narcose por nitrogênio, intoxicação por gases e apagamento). 
Radiobiologia forense 
Radioatividade é o fenômeno de emissão natural ou artificial de radiações por elementos químicos 
instáveis. 
Trata-se de emissões eletromagnéticas, com poder de penetrar ou ionizar. As partículas emitidas 
são: 
1. Alfa (2α4): Partículas pesadas e eletropositivas. Apresentam baixa penetrabilidade e alto poder 
de ionização; 
2. Beta (-1β0): Partículas leves e eletronegativas. Elevado poder de penetrabilidade e com 
pequeno poder de ionização; 
3. Gama (0γ0): São fótons neutros com grande alcance e pequeno poder de ionização. 
A radiodermite é a lesão mais simples. Sua forma aguda é classificada em: 
→Primeiro grau : área avermelhada, eritematosa e com queda de pelos; 
→ Segundo grau : pápulas vermelhas, crostosas ou ulceradas, dolorosas e infectadas; 
→ Terceiro grau : progride com necrose que avança para a profundidade. 
As formas crônicas não têm uma apresentação definida. Registram-se lesões do tipo ulceroatrófica, 
neoplásica ou telangiectásica. 
Quanto à luz e ao som, podemos conceituar da seguinte forma: 
A luz é uma onda eletromagnética e/ou partículas (teoria da dualidade onda-partícula) que se 
propagam no ar e no vácuo, perceptíveis ao olho humano dentro de uma faixa de comprimento de 
onda. 
O som é uma onda mecânica longitudinal com propagação do tipo compressiva a uma velocidade 
no ar de 340m/s. O som também pode estar implicado como fator desencadeante de crises 
convulsivas (epilepsia acusticogênica). A exposição prolongada ao ruído pode levar a um quadro de 
perda auditiva permanente. 
 
Atenção 
Os efeitos indesejáveis da exposição à luz e ao som são de interesse médico-legal e, em sua maioria, 
decorrem de acidentes laborais (infortunística). 
 
Ordem química 
A ação química é denominada genericamente de ação cáustica; se ingerida essa substância, 
podemos ter o quadro de envenenamento. 
A lesão depende do agente, e sua agressão se faz por desidratação ou por liquefação. 
→ Desidratação : Os efeitos da desidratação, provenientes da ação coagulante, desenvolvem 
crostas ou escaras endurecidas no local de contato. 
→ Liquefação : O efeito liquefaciente propicia a formação de escaras úmidas, untuosas e moles. 
Veja a seguir as ações de acordo com cada agente: 
Ação ácida localizada 
Os ácidos coagulam e desidratam os tecidos. As lesões se apresentam secas, enquanto as 
tonalidades variam do branco ao preto de acordo com o tipo de ácido. O ácido sulfúrico, 
considerando a sua concentração, dá formação a escaras brancacentas ou carbonizadas. 
Tonalidade amarela aparece quando da ação do ácido nítrico e acinzentada se o ácido for o clorídrico. 
Ação básica ou alcalina localizada 
As lesões pelos álcalis se apresentam úmidas pela ação liquefaciente. O representante desse grupo 
são os hidróxidos. Quando ingeridos , edemaciam os locais por onde passam e, se permanecerem 
por tempo em contato, acabam necrosando. No estômago, a agressão intensa de sua parede é 
conhecida como gangrena úmida de Tardieu. 
Ação sistêmica 
Os quadros sistêmicos são genericamente chamados de envenenamentos. Os venenos podem ser 
sólidos, líquidos ou gasosos. 
A título de exemplo, podemos citar a cicutoxina, extraída da cicuta. Esse foi o veneno que levou à 
morte de Sócrates. 
Da Atropa beladona, se extraem alcaloides. Da planta Nux vômica, se obtém um potente alcaloide 
chamado de estricnina que leva a espasmos e contrações musculares vigorosas, evoluindo para 
convulsões e morte. 
Dos gases, deve-se citar o cianeto, o gás sarin e o arsênico. O cianeto compromete severamente a 
fisiologia da respiração celular com consequente não utilização do oxigênio. Portanto, o oxigênio não 
entra nos processos metabólicos, concentrando-se nas vísceras e no sangue, dando aos mesmos 
uma tonalidade rósea. 
O gás sarin é do grupo dos organofosforados. Os efeitos deletérios desse gás são desencadeados 
pelo bloqueio da acetilcolina. Evolui com mal-estar generalizado, hipotensão, convulsões, paralisia e 
morte. 
O arsênico é conhecido na história como “o rei dos venenos”. Foi amplamente utilizado em épocas 
passadas nos envenenamentos. É um metal que se acumula nos fâneros. Inibe a tiamina, é 
cardiotóxico e compromete a respiração celular. 
A cocaína é um éster do ácido benzoico. Inibe a receptação das catecolaminas, intensificando a 
atividade simpática. 
Na investigação forense, se apuram os efeitos agudos e crônicos. O diagnóstico jurídico pode ser 
acidente, suicídio ou homicídio. Dos comemorativos clínicos à morte, se pode auferir o tipo de 
envenenamento ou intoxicação. As substâncias apresentam tropismos por tecidos. Em função disso, 
o exame laboratorial deve se basear na análise química desses tecidos com atenção para a 
substância-alvo. 
Os metais pesados, por exemplo, fixam-se nos fâneros. Também podem ser encontrados no fígado. 
O benzeno tem tropismo pela medula óssea, o metanol pelo nervo óptico e os inseticidas 
halogenados pelo tecido adiposo. 
O chumbo tem avidez pelos ossos. Sua ação se faz sentir na medula óssea, alterando as hemácias 
e desenvolvendo um quadro de anemia microcítica hipocrômica. 
O benzeno é absorvido e eliminado pelos pulmões. Nos rins, pode ser eliminado como benzeno ou 
como fenol e derivados. As anfetaminas são metabolizadas no fígado em fenilacetona. Pelos rins, 
são eliminadas como anfetaminas, fenilacetona e derivados glicurônicos. 
Concorda com “hidróxidos”. 
Ordem bioquímica 
Essa ordem médico-legal é uma gama de alterações caracterizadas por inanição, desnutrição, 
intoxicações alimentares (salmonelose, entre outras), doenças carenciais e outras formas de 
perturbação alimentar. 
1. Hipovitaminose A : xeroftalmia, cegueira noturna, pele descamativa e queratomalácia; 
2. Hipovitaminose B1 : beribéri e polineurites; 
3. Hipovitaminose B2 : pelagra; 
4. Hipovitaminose C : escorbuto; 
5. Hipovitaminose B6 : dermatites; 
6. Hipovitaminose D : raquitismo; 
7. Hipovitaminose E : esterilidade; 
8. Hipovitaminose K : discrasia sanguínea; 
9. Deficiência de niacina : também provoca pelagra. 
Em relação à nutrição, destaquemos as leis básicas estabelecidas pelo médico argentino Pedro 
Escudero: 
1. Lei da qualidade : A alimentação deve ser completa em sua composição; 
2. Lei da quantidade : Quantidade específica, sem excessos e sem restrições, o suficiente para 
dar suporte às necessidades calóricas e nutritivas; 
3. Lei da harmonia : Os nutrientes devem guardar uma proporcionalidade entre si; 
4. Lei da adequação : O objetivo da alimentação deve estar voltado para a necessidade do 
organismo. 
Ordem biodinâmica 
Nessa ordem, se encaixam as complicações que divergem da ação vulnerante primária. 
 
Por vezes elas são evoluções clínicas e cirúrgicas desfavoráveis, infecções nosocomiais que podem 
levar ao choque clínico (cardiogênico, hipovolêmico, séptico etc.), à falência de múltiplos órgãos e à 
coagulação intravascular disseminada. 
Ordem mista 
Energias de ordem mista representam a ação de pelo menos duas ordens de agentes lesivos. Sua 
importância reside no seu interesse forense de natureza civil, penal e trabalhista. 
Exemplo 
A título de exemplo, podemos citar a fadiga, as doenças parasitárias, sevícias e tortura. Considera-se a 
fadiga como um complexo de alterações da biofísica, bioquímica e psíquica. A síndrome de burnout é um 
exemplo de fadiga de natureza profissional. Destaca-se nessa síndrome a depressão, que pode evoluir para 
a despersonalização. 
Dentro do contexto criminal, pela sua natureza dolosa, destaca-se a sevícia, que pode se dar por ação 
ou por omissão. Assim o são a síndrome da criança maltratada, a síndrome do ancião maltratado e 
a tortura. 
 
 
 
 
 
Asfixiologia forense 
Premissa 
Asfixiologia forense é a área da traumatologia forense que se ocupa com o estudo das asfixias 
mecânicas. 
Atenção 
Alguns eventos clínicos podem apresentar evolução desfavorável com fisiopatologia semelhante às asfixias 
de interesse forense. No âmbito criminal, o que se investiga são as asfixias mecânicas. 
Classificação e conceito 
As asfixias mecânicas, segundo Afrânio Peixoto, são classificadas em: 
1. Asfixias puras : Nas asfixias puras, ocorrem a hipercapnia e a anoxemia. 
2. Asfixias complexas : As asfixias complexas são marcadas inicialmente por perturbações 
circulatórias e, mais adiante, por perturbações de natureza respiratória. 
3. Asfixias mistas : Nas asfixias mistas, se observa uma sobreposição de alterações 
respiratórias, circulatórias e neurais. 
Classificação dos tipos de asfixia por Afrânio Peixoto: 
Asfixias mecânicasCondição Tipos 
Puras 
Ambientes com gases irrespiráveis 
Confinamento 
Asfixia por monóxido de carbono 
Outros vícios de ambientes 
Obstáculo à penetração do ar nas vias 
respiratórias 
Sufocação direta 
Sufocação indireta 
Transformação do meio gasoso em meio 
líquido 
Afogamento 
Transformação do meio gasoso em meio 
sólido 
Soterramento 
Complexas 
Constrição passiva do pescoço exercida 
pelo peso do corpo 
Enforcamento 
Constrição ativa do pescoço exercida pela 
força muscular 
Estrangulamento 
Mistas 
Sobreposição dos fenômenos circulatórios, 
respiratórios e nervosos 
Esganadura 
Outra classificação também utilizada foi estabelecida por Oscar Freire fundamentada 
exclusivamente em critério médico-legal. Na concepção dele, o fenômeno se dá por modificações 
físicas, quantitativas ou qualitativas do ambiente, ou por obstáculo mecânico na luz respiratória, ou 
por insuficiência da caixa torácica. 
Não há um sinal fidedigno que possa, de forma inconteste, diagnosticar a asfixia. Alguns autores 
apontam a tríade asfíxica: sangue fluido e escuro, congestão polivisceral e petéquias de Tardieu. 
 
Sinais gerais de asfixia 
Externos 
→ Hipóstases intensas e precoces; 
→ Cianose da face; 
→ Cogumelo de espuma; 
→ Procidência da língua; 
→ Protrusão dos globos oculares. 
Internos 
→ Petéquias ou manchas equimóticas lenticulares de Tardieu subpleurais, subpericárdicas, no 
pericrânio e no timo, ou também denominadas petéquias de Welsh; 
→ Sangue escuro e fluido – ausência de coágulos nas cavidades cardíacas; 
→ Em face da elevação do CO2, o ponto crioscópico está reduzido nas câmaras esquerdas do 
coração (sinal de Palmiere), assim como o aumento do coeficiente cloroglobular-
cloroplasmático (sinal de Tarsitano) e hiperglicemia asfíxica; 
→ Congestão polivisceral; edema pulmonar (sinal de Valentin). 
 
Afogamento 
Afogamento é a transformação do meio gasoso, respirável, em meio líquido. 
O mecanismo de afogar pode ser: 
1. Primário : Quando o evento se deu pelo ato de afogar. 
2. Secundário : Quando precedido por uma alteração que tem por consequência o afogamento. 
 
Classificação de afogamento: 
Quanto ao tipo 
Quanto ao 
mecanismo 
Quanto à natureza do 
líquido 
Quanto à 
apresentação 
Completo Primário Água doce Branco 
Incompleto Secundário Água salgada Azul 
 
A morte por afogamento ocorre em três etapas: resistência, exaustão e asfixia. Segundo Ponsold 
(apud CALABUIG, 1998), há cinco fases na submersão: 
1. Inspiração profunda antes de submergir; 
2. Apneia voluntária; 
3. Inspiração forçada; 
4. Convulsões; 
5. Morte. 
 
Atenção 
Na fase três, há elevação sanguínea dos níveis de CO2, o que estimula o reflexo da inspiração. Não saindo 
dessa situação, a vítima desenvolve crise convulsiva e morte. 
Soterramento 
No soterramento, ocorre a transformação do ar respirável por substância pulverulenta. 
Apresenta os mesmos sinais gerais de asfixia, e o encontro dessas substâncias nas vias respiratórias 
superiores e inferiores fecha o diagnóstico. 
Enforcamento, estrangulamento e esganadura 
O enforcamento e estrangulamento são asfixias complexas em que se dão, geralmente, perturbação 
circulatória e respiratória. A constrição do pescoço por um laço pode ocorrer passivamente pelo peso 
do corpo (enforcamento) ou ativamente por força externa (estrangulamento). 
O sulco, deixado pelo laço, permite, frequentemente, se fazer o diagnóstico diferencial entre os dois 
tipos. 
Diferenças do sulco deixado pelo laço no enforcamento e no estrangulamento: 
Enforcamento 
→ Oblíquo ascendente; 
→ Predomina a variabilidade 
→ Interrompe na altura do nó 
→ Geralmente sulco único 
→ Acima da cartilagem tireóidea 
→ Geralmente apergaminhado 
→ Profundidade não uniforme 
Estrangulamento 
→ Horizontal 
→ Predomina uniformidade 
→ Contínuo 
→ Geralmente múltiplo 
→ Abaixo da cartilagem da tireoide 
→ Raramente apergaminhado 
→ Profundidade uniforme 
Sinais cadavéricos internos no enforcado: 
Sinal Peculiaridade 
Martin 
Sufusões sanguíneas na face profunda da pele e do tecido 
subcutâneo no local de aplicação da alça do laço ou na bainha dos 
vasos 
Brouardel-Vibert-Descoust Equimoses retrofaríngeas 
Amussat 
Secção transversal da túnica íntima da carótida comum; comum 
no lado oposto ao nó 
Étienne Martin Desgarramento da túnica externa da carótida 
Friedberg Sufusão hemorrágica na túnica externa da carótida comum 
Lesser 
Rotura da túnica íntima da artéria carótida interna ou externa e 
rotura transversal e hemorragia do músculo tireo-hioideo 
Ziemke e Otto 
Solução de continuidade da túnica interna das veias jugulares e 
desgarramento da íntima 
Fraturas Cartilagem tireóidea, cricoidea, hioidea e coluna vertebral 
Hoffmann-Haberda Infiltração sanguínea dos músculos cervicais 
Morgagni-Valsalva-Orfila-Roemmer Fratura do corpo do hioide 
Hoffmann Fratura da apófise superior da cartilagem tireóidea 
Helwig Fratura do corpo da cartilagem tireóidea 
Morgagni-Valsalva-Deprez Fratura do corpo da cricoide 
Bonnet 
Rotura dos ligamentos cricoideo e tireoideo, além de rotura das 
cordas vocais 
Dotto Rotura da bainha de mielina do vago 
Morgagni Fratura da apófise odontoide do áxis 
Ambroise Paré Luxação de C2 
Kratter Sulco no músculo esternoclidomastoideo 
Outros 
Pulmões distendidos; equimoses viscerais; espuma hemorrágica 
traqueobrônquica e sangue fluido e escuro no coração 
 
No estrangulamento, se tem: 
→ Língua cianótica e projetada além das arcadas; 
→ Sulco único ou múltiplo, horizontal, contínuo, de profundidade uniforme; 
→ Orelhas e lábios arroxeados; 
→ Espuma rósea ou sanguinolenta nas narinas e na boca; 
→ Bordas do sulco apresentam-se cianosadas e elevadas; 
→ Face violácea e tumefeita; 
→ Petéquias na face, conjuntivas, pescoço e face anterior do tórax. 
A esganadura é uma asfixia mista cujo mecanismo é a constrição do pescoço pelas mãos. 
Sinais cadavéricos em vítima de esganadura: 
Externos 
→ Congestão da face; 
→ Equimoses puntiformes da face e do pescoço; 
→ Escoriações semilunares, apergaminhadas ou de tonalidade pardo-amarelada – estigmas 
ungueais; as impressões digitais podem ser reveladas por vapores de ácido ósmico; 
→ Cogumelo de espuma e protrusão da língua são raros. 
Internos 
→ Hemorragias das estruturas profundas do pescoço e equimose retrofaríngea de Brouardel; 
→ Fraturas das cartilagens tireóidea, cricoidea e do osso hioide; 
→ Congestão das partes moles do crânio, das meninges; 
→ Fluidez do sangue. 
Sufocação 
A sufocação é o obstáculo à passagem do ar pelas vias respiratórias (sufocação direta) ou por 
impedimento da dinâmica torácica (sufocação indireta). 
Os mecanismos de sufocação direta são variados. Como exemplo do que impede a penetração do 
ar nas vias respiratórias, podemos apontar a sufocação pelas mãos, por saco plástico, travesseiro, 
seio materno etc. (FÁVERO, 1991). 
 
Quanto à veiculação do ar pelas vias respiratórias, citam-se: corpos estranhos, alimentos, líquidos, 
broncoaspiração por sangue, secreções, exsudatos, conteúdo gástrico etc. 
O impedimento da complacência da parede torácica caracteriza a sufocação indireta. Franklin, em 
seu livro Medicina Legal aplicada, assevera que: A sufocação indireta pode se dar por: multidão em 
pânico, situação em que as pessoas caem umas sobre as outras; inviabilidade ventilatória por 
sufocação posicional (crucificação, tortura com a vítima colocada de cabeça para baixo); acidentes 
com blocos pesados que impeçam a complacência torácica; criminosamente, pelas mãos impedindo 
a dinâmica torácica do recém-nascido; ou acidentalmente, quando o adulto, ao dormir, impede tal 
dinâmica etc. 
Sinais cadavéricos de sufocação: 
Sufocação direta 
→ Cianose cervicofacial de Le Dentut ou máscara equimótica de Morestin; 
→ Equimoses subconjuntivais; petéquias da face (Casper) e pescoço; petéquias nos lábios; 
→ Estigmas ungueais ao redor do nariz e da boca; fratura do

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