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1 Referência: aulas do prof. Álvaro Junior Essa primeira parte é cópia de slide, pois estava doente na primeira aula, depois é transcrição. Perícia médica É a aplicação metódica e imparcial dos conhecimentos médicos para esclarecer fatos de interesse de autoridade legitimada. Perito médico Médico que, conforme juízo de autoridade legitimada, detém os conhecimentos técnicos e os atributos morais necessários para realização de uma perícia. • Analisa e interpreta fatos utilizando seu conhecimento e sua aptidão, com o objetivo de esclarecer a verdade à justiça. • Funções do perito: nem defende, nem acusa; limita-se a verificar o fato e relatá-lo, bem como discutir, fundamentar e deduzir. • Atuação: planejar cada perícia, coletar impressão digital do periciando, partir do simples para o complexo, descrever as lesões do segmento cefálico para baixo, até a região pedial-plantar, limitar-se a verificar, descrever e interpretar com base científica, solicitar tantos exames auxiliares quanto for necessário, não entrar em conjeturas, hipóteses ou especulações, procurar estabelecer o nexo de causalidade. Deve ser imparcial, é senhor de sua vontade, não pode ser coagido por ninguém e, caso sinta-se pressionado, pode recusar-se a realizar a perícia. • Requisitos para ser perito médico: conclusão do curso de medicina, prestação de concurso público e aprovação, curso de formação, patrocinado pelo Estado. Classificação das perícias 1. Quanto ao objeto do estudo: • Pessoas vivas: crime de lesão corporal, verificação de virgindade (crime de difamação), avaliação mental, embriaguez alcoólica, acidentes de trabalho etc. Determina-se identidade, lesões e circunstâncias. o Exame de conjunção carnal: em crimes sexuais, para resguardar os direitos da vítima e, principalmente, enquadrar o agente responsável. o Exame de aborto: exame médico-legal com finalidade de definição da responsabilidade. o Perícia de embriaguez: são requisitadas para efeito de processamento judicial, nos casos de contravenções penais, para definição de responsabilidade. o Exame de validez: para verificar se o indivíduo tem aptidão para trabalhar. • Pessoas mortas: determina identidade, data da morte, causa da morte, circunstâncias e causa jurídica da morte. o Necropsia (= autópsia): “a perícia das perícias”. o Estudo de restos biológicos encontrados, com suspeita de serem humanos. o Exumações: a mais árdua e repulsiva das perícias médico-legais. • Locais e objetos: locais onde foram cometidos fatores delituosos, busca de vestígios deixados pelo criminoso e pela vítima, obtenção de provas incontestáveis, determinação da natureza do delito, autoria etc. o Os objetos são periciados em busca de: impressões digitais, pelos, manchas de líquidos orgânicos (saliva, urina, sangue, sêmen). • Vestes: fibras de tecido sintético ou de algodão no cadáver ou apenso a ele. Documentos médico-legais • Relatório médico-legal: narração escrita e minuciosa de todas as operações de uma perícia médica determinada por autoridade policial ou judiciária. Há o perito relator e o revisor. o Auto: quando ditado a um escrivão durante o exame. o Laudo: redigido depois de terminada a perícia. Estrutura do laudo pericial A. Preâmbulo: é uma espécie de introdução. Contém a qualificação da autoridade solicitante e dos peritos, o local onde é feito o exame, data e hora e tipo de perícia a ser feita. 2 B. Quesitos: perguntas, com finalidade de caracterização de fatos relevantes que deram origem aos processos; são padronizados – quesitos oficiais, e variam conforme o tipo de perícia. C. Histórico: contrapartida médico-legal da anamnese do exame clínico comum. • Importante: a pessoa que vem a exame médico-legal está envolvida numa ocorrência policial, como vítima ou como agressora; é comum que a vítima exagere em suas queixas (de modo a tornar maior o dano sofrido); o indiciado pode dissimular lesões comprometedoras; pode haver simulação de doença mental ( a fim de substituir a pena por medida de segurança). D. Descrição: parte importante; não pode ser refeita com a mesma riqueza de detalhes, em exame ulterior, pela evolução das lesões; deve ser minuciosa, rica em detalhes, como, por exemplo, forma, proporções, extensões, coloração, localização anatômica exata, em caso de feridas, descrever bordas, ângulos, fundo etc. O perito não deve diagnosticar na descrição. E. Discussão: comparação dos dados do histórico com os achados do exame objetivo. Quando não há contradições aparentes, pode ser desnecessária. Pode haver discrepância, por exemplo, uma senhora alegava ter sido agredida pelo companheiro no dia anterior à realização da perícia. No entanto, o perito constatou, ao examiná-la, uma equimose periorbitária de contornos esverdeados. Sabemos que as equimoses mudam de cor ao longo do tempo e que a cor esverdeada indica uma evolução de, no mínimo, uma semana. Com isso, ficou claro que ela estava mentindo quanto à data da agressão. F. Conclusão (ões): parte em que o perito assume uma postura quanto à ocorrência, ou não, de um fato, baseado nas informações do histórico, do exame objetivo e do confronto destes. A conclusão deve ser concisa, clara, resumida em poucas palavras. Ela pode ser afirmativa, negativa ou pode haver uma impossibilidade de concluir (que não deixa de ser uma conclusão - exemplo, hímen complacente no exame de conjunção carnal). G. Resposta aos quesitos: deve ser sucinta, objetiva e não pode permitir uma interpretação duvidosa. Parecer médico-legal Em situações, por exemplo, que envolvem divergências quanto à interpretação dos achados de uma perícia, pode ser solicitado, por qualquer das partes, esclarecimento mais aprofundados tecnicamente, de uma autoridade no assunto. • Preâmbulo, exposição, discussão e conclusão. Legislação A intervenção dos peritos é regulamentada, no foro criminal, pelo: CÓDIGO DE PROCESSO PENAL (Decreto-lei número 3.689 de 03 de outubro de 1941), modificado pela lei 11.690 de 09 de junho de 2008. Perícia médica – Fórum penal Quem determina a sua realização? Corpo de delito • Conceito: é o conjunto de vestígios materiais decorrentes da ação criminosa. • Tipos o Direto (perícia percipiendi): é o conjunto de vestígios materiais decorrentes da ação criminosa, como o corpo da pessoa ou coisa, instrumentos, utensílios, objetos, arma etc., bem como outros vestígios. o Indireto (perícia deducente): cabível apenas quando é impossível o exame direto, como no caso de terem desaparecido (natureza – tempo), por terem sido perdidos (homem – culpa ou dolo) ou por estarem inacessíveis (natureza). Constitui-se na prova testemunhal e documental. 3 Da prova pericial Exame realizado por um só perito • Valor probante de tal perícia • No mundo da medicina legal, não existem casos simples. Tudo é importante. Então, é questionável o valor da perícia por um único perito. Prazo para elaborar o laudo O exame médico legal pericial pode ser feito a qualquer dia e a qualquer hora. Podem ser feitos à noite, durante a madrugada etc. Prazo para realizar a necropsia As necropsias, em João Pessoa, são realizadas no IML e no SVO. • Por morte natural: não são obrigatórias, em SVO, por óbitos sem assistência médica, é atribuição do médico patologista. Pode ser feito em hospital universitário que tenha residência em patologia. Precisa da autorização de um familiar. o Se o médico não souber a causa da morte, ele pode também mandar para o SVO. O que não se pode fazer é encaminhar para o SVO sem necessidade. o Toda necropsia realizada por morte natural é feita pelo médico patologista. • Por morte violenta: obrigatórias, independem de autorização de familiar, nos IMLs,por um médico legista. o Exemplo: homicídio, suicídio, acidentes e morte de causa suspeita. o Essas necropsias são obrigatórias por lei. o Em suspeita de overdose por drogas, seja ela lícita ou ilícita, faz toxicológico. O que vai sair do SVO/IML é a declaração de óbito. A certidão de óbito preenche no cartório. Na pandemia da COVID, as necropsias ficaram sendo feitas apenas com dados clínicos e exame externo do cadáver. Se, pelo exame externo, puder atribuir a causa da morte, pode-se optar por não abrir o corpo. É com 6 horas de óbito que ficam evidentes os sinais consecutivos da morte – desidratação cadavérica com opacificação da conjuntiva, esfriamento cadavérico ou algor mortis (vai ficando frio), rigidez cadavérica ou rigor mortis e livor de hipóstase. Pode ser feita antes das 6 horas, mas quem vai decidir é o médico, se ele achar que já há indicativos de morte. Não existe uma legislação para a morte natural. É para necrópsia forense. No SVO também segue isso, mas existe uma indicação, com relação à necrópsia... As necrópsias devem 4 ser feitas durante o dia. Não é que seja contraindicado à noite, mas é uma recomendação, porque a luz artificial dificulta a necrópsia. Deveres de conduta do perito • Deveres de informação: informar sobre a perícia a ser realizada ao examinando ou a seu representante. A perícia só pode ser realizada com consentimento livre e esclarecido do periciando. • Deveres de atualização profissional: participação em congressos, conhecimento das técnicas de exame e dos meios modernos de diagnóstico. • Deveres de abstenção de abusos: deve agir com cautela, sem precipitação, insensatez... não se exceder em suas medidas. • Deveres de vigilância, cuidado e atenção: na realização do ato pericial, o perito deve estar isento de qualquer tipo de omissão que venha a ser caracterizada por inércia, passividade ou descaso. Objetivo da perícia: esclarecimento da verdade à justiça. Dos peritos Direitos dos peritos • Direito de recusar o encargo: o perito pode recusar o encargo, desde que se justifique no prazo legal e por motivo legítimo. Por exemplo, realização de perícia relativa à matéria sobre a qual se considere inabilitado para apreciá-la. • Do direito de proteção contra desobediência ou desacato: respeito como funcionário público contra a desobediência e o desacato. • Do direito aos honorários periciais: os peritos oficiais não podem cobrar honorários. Os médicos não peritos oficiais, quando nomeados pela autoridade, devem ser pagos pelo órgão público solicitante. • Do direito de desempenho livre da função pericial: o perito tem direito de agir com toda liberdade e independência. Para total liberdade, as perícias devem ser realizadas nos órgãos de perícia oficial. 5 - Estuda as lesões produzidas por violência ao corpo humano, sob os seguintes aspectos: etiologia, diagnóstico, prognóstico. • Objetivo: implicações legais – penais, civis, trabalhistas -, em organismos vivos e mortos. As feridas acima foram produzidas por instrumentos diferentes. • Tipos de energias causadoras de dano: mecânica, física, química, físico-química, bioquímica, biodinâmica, mistas. Energias de ordem mecânica São aquelas capazes de alterar o estado de movimento e de repouso de um corpo. • Meios mecânicos – mecanismo de ação: pressão, compressão, descompressão e percussão, tração e torção, explosão, deslizamento, contrachoque, mista. A série contundente inclui uma grande quantidade de lesões. Classificação – características das lesões Ação perfurante Características: extremidade fina (pontiaguda), diâmetro transverso reduzido (fino), predomínio do comprimento (longo). Ex.: agulhas compartilhadas por usuários de drogas, prego, a ponta do dente de Gabi. A ferida produzida é punctiforme – orifício de entrada em forma de ponto, estreito e com diâmetro menor do que o do meio causador, pela elasticidade dos tecidos. O sangramento é raro e pequeno. O trajeto é estreito e com profundidade relacionada com comprimento do meio e da pressão de penetração. A causa jurídica principal é acidental. Pode levar a infecções (HIV, hepatite). Age através da pressão sobre os tecidos, pressiona até o limite da elasticidade dos tecidos e romper. Ação cortante • Características: presença de gume afiado, que atua por deslizamento. Tem como característica geral a regularidade. o Exemplo: faca, navalha, bisturi. • Forma linear, bordas regulares, margens oblíquas (vertentes), fundo regular, ausência de contusão na periferia, hemorragia abundante, predomínio do comprimento sobre a profundidade, presença de cauda de escoriação (onde o instrumento termina o seu corte, deixando uma parte dos tecidos mais superficiais), perfil de corte angular ou em bisel. 6 Prestar atenção que os dois ângulos são agudos. Por isso tem que ter um gume. Quadros especiais • Esgorjamento: lesão na região anterior do pescoço, produzida por instrumentos cortantes, tendo causa homicida ou suicida. A característica é que se pode ter gravidade, porque pode atingir estruturas nobres do pescoço. • Degola: quando a lesão é posterior. Só permite uma possibilidade – homicida. • Decapitação: separar a cabeça do corpo. Instrumentos de maior calibre podem produzir. • Esquartejamento: dividir o corpo em quartos. Pode ser produzida quando um trem passa por cima do corpo, lesões produzidas por meio aéreo, veículos marítimos e ferroviários. Também pode ser contundente e cortico-contundente. Ação contundente • Características: corpo com superfície; onda gasosa ou coluna líquida, carro, aviões, o chão; lei da ação e reação. Os meios contundentes produzem uma ferida contusa. Eles não têm gume, e é por isso que a ferida contusa não tem regularidade. • Forma estrelada, sinuosa ou retilínea, bordas irregulares, margens irregulares (vertentes), fundo irregular, contusão na periferia, hemorragia escassa (pressiona os vasos sanguíneos), pontes de tecido íntegro, retração das bordas da ferida. Na série contundente, há lesões graves, com prolapso visceral. Abaixo, lesões produzidas por esmagamento, quando como um veículo passa por cima de alguém. 7 Lesões produzidas por ação contundente 1. Rubefação: é uma vermelhidão, não tem alteração anatopatológica; de duração efêmera (difícil detectar em perícia), tem como característica a impressão do meio causador. Causada por congestão vascular – mancha avermelhada. 2. Escoriação: erosão epidérmica ou abrasão. É o que se conhece como “arranhão”. A escoriação típica não apresenta comprometimento da derme, não sangra, não cicatriza, mas forma crosta serosa (exsudato seroso). Desenha a dinâmica do evento. Podem mostrar o desenho do meio causador. Regenera. O mecanismo de ação é atrição. 3. Equimose: infiltrado hemorrágico nas malhas dos tecidos, por rotura de capilares. Internamente, há infiltrado hemorrágico. • Tipos: sugilação – grão (púrpura), petéquias (cabeça de alfinete), equimoma (grandes) proporções, víbice (estria). • Importância: assinatura do meio. As petéquias estão muito presentes nas asfixias, porém nem sempre são traumáticas. Equimose periorbitária: produzida nas violências domésticas e familiares. A imagem a seguir mostra uma bem recente. Equimose • Espectro equimótico de Legrand du Saulle o 1º dia: vermelha; o 2º e 3º dia: violácea; o 4º ao 6º dia: azul; o 7º ao 10º dia: esverdeada; o 12º dia: amarelada; o 15º dia: desaparece. Exceção: petéquias conjuntivais. Não sofrem essa evolução, por causa da alta oxigenação do local. Acima, evolução de, pelo menos, uns 10 dias. Víbices 4. Hematoma É uma lesão gerada por acúmulo de sangue, formando cavidade. A rotura devasos é maior (vasos de maior calibre). Pode ser um hematoma subdural (gravidade maior). Em geral, faz relevo na pele. 8 Uma situação de grande gravidade é quando ele é localizado intracerebral – hematoma subdural, por exemplo. Pode também ser dentro dos órgãos – intraparenquimatoso (hepático, renal). 5. Bossa sanguínea Coleção de sangue sobre superfície óssea, fazendo uma saliência conhecida como galo. Também ocorre em situações traumáticas. Tem elevação cutânea sobre superfície óssea. Costuma ocorrer em recém- nascidos. 6. Fraturas Solução de continuidade óssea, pode ser direta, indireta, associadas à compressão. 7. Encravamento Penetração de um meio sólido em qualquer parte do corpo; meio de ponta afiada e grande eixo longitudinal. Refere-se a grandes taumatismos e em várias partes do corpo. Não é comum. • Empalamento: é uma forma especial de encravamento, no qual a penetração do meio sólido ocorre pela região perineal ou anal. Antigamente, no século XVI, havia punições dessa forma. 8. Acidentes por veículo terrestre Essas lesões são importantes porque são muito frequentes. Os acidentes de tráfego terreste são os causadores de maior índice de morte violenta. Uma vítima, quando atropelada, cai e pode rolar sobre o próprio eixo, existindo a possibilidade de várias lesões, inclusive com formação de: contusão-tatuagem, estrias pneumáticas de Simonin (desenho das rodas do veículo na pele), lesões de passageiros (tendem a ser mais graves, por causa da bancada do veículo) e lesões no condutor. Existe uma série de lesões que podem ocorrer. As lesões do condutor são produzidas pelo impacto da cabeça, geralmente na região frontal. O traumatismo, quando há o impacto da cabeça, ocorre com o parabrisa. Existe o impacto do tórax no volante, que podem apresentar lesões denominadas de ?? traumática. Acima, estrias pneumáticas. Como o veículo passa por cima da vítima, existem outras lesões graves internas, como ruptura de vísceras por esmagamento, prolapso visceral etc. Atropelamento ferroviário • Espostejamento (despojos): redução do corpo a diversos e irregulares fragmentos. 9. Luxações 10. Entorses 11. Roturas de vísceras internas: pode ser esplênica, hepática etc. Toda víscera pode romper. 12, Escavações Quadros específicos 9 • Lesões por explosões: quando existe uma explosão, o deslocamento da massa de ar vai produzir lesões conhecidas como “Blast injury”. Elas podem acontecer no pulmão, com ruptura dos capilares alveolares, pode ser auditivo, abdominal, cerebral etc. Além de haver lesões produzidas por deslocamento da massa gasosa, há lesões produzidas por meios arremessados contra a vítima. • Lesões por martelo: fratura perfurante de estracima. Afundamento ósseo, graves e dolosas. Não necessariamente é por martelo, pode ser por outros instrumentos – coronha de revolver ou pistola ou outros objetos mais resistentes. • Lesões por achatamento ou esmagamento: passagem de veículos sobre o corpo. • Lesões por arrancamento: quando existe uma tração violenta de um segmento corporal, principalmente desprendimento de membros inferiores e superiores. Escaupelamento traumático é quando é com o couro cabeludo. • Lesões por cinto de segurança: o três pontos é o mais utilizado. Ainda que o indivíduo esteja protegido, não há uma proteção incondicional. Pode acontecer hiperflexão e hiperextensão da região cervical, com luxação da mandíbula. A arcada dentária pode ferir a lingua. São situações que acontecem por cinto de segurança. • Lesões por atropelamento terrestre, náutico, ferroviário o Náutico: lesões vutosas, como as causadas pela hélice da embarcação, com feridas corticocontusas de grande gravidade. o Ferroviário: escortejamento. • Lesões por acidente aéreo: fraturas, secção do corpo, escoriações. Pode haver explosão também, bem como fragmentação corpórea. A equipe do IML se desloca para identificar as vítimas, mais do que determinar a causa da morte. • Lesões por precipitação: quando um corpo cai de uma altura, que pode ser homicídio, suicídio ou acidente. Depende de como o corpo cai. o Fraturas múltiplas no crânio: caiu de cabeça. o Lado esquerdo: rotura esplênica. o Em pé: fratura de base de crânio. o Lado direito: rotura hepática. 10 Ação pérfuro-cortante Ex.: faca, pois tem ponta e lâmina. Características dos meios pérfuro-cortantes: ponta afiada e gume cortante. Se a faca atuar com o gume, produz ferida cortada, mas ela entrando no corpo com a ponta dela, temos uma ferida pérfuro-cortada Um ângulo mais arredondado é produzido na região onde não há gume, enquanto que ângulos agudos são produzidos onde há gume. Características • Forma de botoeira • Ângulos: sendo um deles mais agudo (pelo fume) e o outro, arredondado. • Bordas afastadas e regulares • Causa de escoriação • Contusão provocada pelo cabo meio • Trajeto (características das dos meios perfurantes). Ação homicida é comum ser com uma ação perfurocortante, devido a múltiplas facadas. Gravidade das lesões As feridas penetrantes são, geralmente, graves, por infecções e lesões em órgãos, roturas de vasos importantes etc. Causa jurídica: homicício é a mais frequente. Ação corto-contundente Ex.: foice, enxada, dentes, rodas de um trem. Características dos meios: gume, peso ou força. Mecanismos de ação são deslizamento e pressão. Características da ferida corto-contusa • Forma variável a depender do gume • Profunda – atinge plano ósseo • Não apresenta cauda de escoriação • Não apresenta ponte de tecidos íntegros Esquartejamento Ação pérfuro-contundente O grande exemplo é o projétil. São lesões por arma de fogo. Pode ser homicídio, suicídio ou acidente. O intrumento tem que ter uma ponta e peso. Não têm ponta afiada, mas perfuram e contundem. Os elementos resultantes do disparo saem pela boca do cano. Além do projétil, saem outros elementos produzidos pela explosão, que vão produzir lesões. Produzido o tiro, escapam, pela boca da arma: o projétil ou projéteis, gases superaquecidos, chama, fumaça, pólvora incombusta, bucha. Esses cinco últimos são denominados de cone de dispersão ou cone de explosão. São chamados assim, porque eles saem no formato de cone. Esses elementos podem ou não atingir a vítima, vai depender da distância em que foi dado o tiro. Se for à queima-roupa ou curta distancia, longa distancia ou encostado. • Munição: contém o estojo (recipiente em que se armazena projétil, pólvora), espoleta (arrendondado, fica na base da arma de fogo, 11 queima a pólvora e o projétil sai), projétil, bucha e pólvora. O projétil também pode passar de raspão, então não tem ação perfurante, apenas contundente. Lesões por projéteis de arma de fogo Devemos considerar: ferimento de entrada, ferimento de saída (pode existir ou não) e trajeto. O ferimento de entrada é diferente do de saída, assim como o trajeto tem características próprias. Ferimento de entrada – pode ser resultante de: • Tiro encostado: entra tudo de uma vez, projétil + elementos do cone de dispersão. • À curta distância ou à queima roupa: fragmentos do cone ficam impregnados na roupa. • À distância: os elementos do cone de dispersão vão se dispesar, vão se perder e não atingir a vítima. Só quem atinge a vítima é o projétil, que pode produzir três tipos de lesões. À distância • Efeitos primários o Orla de escoriação (ou de contusão): pelo arrancamento da epiderme, motivado pelo efeito rotatório do projétil; não é exclusivo da entrada, pode ocorrer na saíde, se a pele for espremida pelo projétil contra um anteparo, como um cinto de couro, por exemplo. o Halo de enxurgo: pela passagem do projétil através dos tecidos, limpando neles suas impuresas. É, em geral,escuro. Exclusivo do orifício de entrada!! o Aréola equimótica: zona superficial e relativamente difusa, de sufusão hemorrágica, pela rotura de pequenos vasos localizados nas vizinhanças do ferimento. Nem sempre ocorre nem é exclusiva do ferimento de entrada. Um projétil pode atingir em ângulo de 90 graus, formando orifício arredondado, vai até o limite de distensibilidade da pele, rompendo e produzindo ferimento. Se o ângulo de incidência dele no corpo for menor, faz ferimento ovalado. • Forma: arredondada (90 graus), ovalar (atinge mais inclinado), lesão de raspão é só contundente. • Bordas dos tecidos: ficam invertidas, pelo efeito do projétil. • Efeitos primários presentes (pelo projétil): orla de escoriação, hajo de enxugo, aréola equimótica. • Efeitos secundários: ausentes. No ferimento de saída, há eversão tissular, as bordas ficam para fora e sangra muito. Tiro encostado Nos tiros encostados, penetram, no local, tanto o projétil quanto os demais elementos do cone de dispersão de uma só vez. A lesão é maior e estrelada. Queimadura e deposição de material fuliginoso, formadores das zonas de disparo a curta distância, aqui podem ser vistos subjacentes à pele. • Forma: irregular, denteada ou com entalhes (pela ação resultante dos gases que descolam e dilaceram os tecidos). 12 • Bordas: podem estar voltadas para fora. • Crepitação gasosa da tela subcutânea: na redondeza do ferimento, pela infiltração dos gases. A pressão nos tecidos é muito grande, formando um ferimento de entrada maior. As bordas podem estar voltadas para fora. O halo escuro é chamado de Sinal de Benassi. Existe uma superfície óssea por baixo, a impregnação da pólvora leva a esse sinal. Os outros elementos de dispersão explodem os tecidos de dentro para fora, dando essa câmara de mina de Hoffman. À curta distância Os efeitos do projétil (aqueles três) + lesões produzidas pelos elementos do cone de dispersão. Tendo apenas um halo desse já caracteriza tiro dado à curta distância. • Efeitos primários o Orla de escoriação (ou de contusão): pelo arrancamento da epiderme, motivado pelo efeito rotatório do projétil; não é exclusivo da entrada, pode ocorrer na saída, se a pele for espremida pelo projétil contra um anteparo, como um cinto de couro, por exemplo. o Halo de enxugo (orla de Chavigny): pela passagem do projétil através dos tecidos, limpando neles suas impurezas; é, em geral, escuro. Exclusivo do orifício de entrada!! o Aréola equimótica: zona superficial e relativamente difusa, de sufusão hemorrágica; pela rotura de pequenos vasos localizados nas vizinhanças do ferimento; nem sempre ocorre, nem é exclusiva do orifício de entrada. • Efeitos secundários: basta ter um. o Halo ou zona de tatuagem: pela impregnação dos grãos de pólvora incombusta; impregnação na derme, não sendo removida por água e sabão. o Zona de orla de esfumaçamento: formado pelos resíduos finos e impalpáveis da pólvora combusta; também chamada de zona de falsa tatuagem, é removida por água e sabão. o Zona de queimadura (=zona de chamuscamento): por ação superaquecida dos gases que atingem e queimam o alvo; nas regiões cobertas por pelos, estes ficam crestados, quebradiços, entortilhados. Por isso é tatuagem, porque se lavar com água e sabão, ele não vai sair. A zona ou orla de esfumaçamento seria a falsa tatuagem, pois desaparece com água e sabão. Esses achados podem estar presentes na roupa do cadáver. Trajeto • Definição: é o caminho percorrido pelo projétil no interior do corpo; une a entrada ao ponto de repouso ou à saída do projétil. • Transfixante: uma linha reta ligando a ferida de entrada à de saída. • Pode terminar em fundo cego ou perder-se dentro de uma cavidade. • Elementos do trajeto: sangue coagulado, tecidos lacerados e infiltrados por sangue, corpos estranho (ex.: esquírolas ósseas). • Em chuleio: penetra sai, penetra de novo e sai. Em vísceras compactas, como fígado, baço e rim, a destruição é maior. No pulmão, como é cheio de ar, tende a absorver a energia cinética do trajeto e o impacto ser menor. O pulmão é mais esponjoso. Ferimento de saída 13 • Forma: irregular, variada – estrelada, em forma de fenda etc. Isso porque o projétil já vem com menor energia, por exemplo. • Bordas: reviradas para fora, evertidas. • Mais sangrantes: pela eversão das bordas. • Aréola equimótica presente • Ausência de: orla de escoriação (embora possa ocorrer), halo de enxugo e dos elementos decorrentes da decomposição da pólvora. Não pode ter halo de enxugo nem elementos resultantes do cone de dispersão, porque isso é característica do ferimento de entrada. A orla de escoriação também, apesar de poder acontecer. 14 Energias de ordem físico-química • Impedem a passagem do ar às vias respiratórias • Alteram a composição bioquímica do sangue • Levam à asfixia, que altera a função respiratória, inibindo a hematose. Exemplos: estrangulamento, afogamento, enforcamento, esganadura, sufocação, traumatismo torácico. Asfixia Asfixia, do grego, significa “parada de pulso” Fisiopatologia: redução do teor de oxigênio (hipóxia) + aumento do teor de gás carbônico (hipercapnia) no sangue arterial. Conceito: conjunto de alterações de respiração, geralmente de causa súbita e violenta, que conduzem a uma diminuição ou supressão da oferta ou da utilização de oxigênio pelos tecidos. Modalidades de asfixia • Impedimento da circulação do ar o Orifícios: sufocação (travesseiro) o Tubo: engasgamento (corpo estranho), aspiração (vômito). • Constricções cervicais o Com laço: enforcamento (+ laço, + peso), estrangulamento (+ laço, - peso). o Sem laço: esganadura (- laço, - peso). • Impedimento de incursões respiratórias: compressão do tórax. • Modificações no ambiente o Afogamento: substitui oxigênio por água. o Monóxido de carbono: substitui oxigênio por monóxido de carbono o Confinamento: pouca renovação de ar. Pode ser acidental ou não. o Soterramento: penetração de material sólido nas vias aéreas, como areia e barro. Classificação das asfixias (Afrânio Peixoto) • Puras o Asfixia por gases irrespiráveis: confinamento, CO. o Obstrução das vias aéreas: sufocação direta e indireta. o Substituição do meio gasoso em meio líquido: afogamento. o Substituição do meio gasoso em meio sólido: soterramento. • Complexas: constrição passiva do pescoço exercida pelo peso do corpo (enforcamento); constrição ativa do pescoço exercida pela força muscular do agente agressor (estrangulamento). • Mistas: esganadura Sinais gerais de asfixia Não há sinais patognomônicos, mas há achados comuns. Há sinais que são mais característicos de um tipo de asfixia do que de outro. 1. Sinais externos • Manchas de hipóstase: precoces, abundantes e escuras. São manchas arroxeadas que surgem no corpo após a morte, por ação da gravidade, a coluna de sangue vai para a região mais baixa do corpo. Pode ser na região anterior ou posterior do corpo, depende da posição em que ele está. Aqui, elas tendem a acontecer mais precocemente. o Afogamento: róseos, porque existe uma penetração de líquido generalizada no corpo. Essa embebição cadavérica provoca diluição das manchas. o CO: cor de carmim (vermelho vivo). • Cianose e congestão da face e do pescoço: por estase mecânica da cava superior, principalmente por compressão torácica. • Petéquias e púrpuras (equimoses) de pele e mucosas: pela queda do sangue pela gravidade para as partes mais baixas do corpo e pelo peso da coluna de sangue, rompendo capilares; favorece quando há decúbito ventral. As petéquias podem ser externas ou internas. Abaixo, petéquias pleurais ou manchas de Tardieu. 15 • Fenômenos cadavéricos: putrefação mais precocee rigidez mais intensa. Se tiver com os braços flexionados, não se consegue abaixar. • Cogumelo de espuma: bola de finas bolhas de espuma que cobrem a boca e as narinas (mais comum nos afogados). Parece espuma cheia de sabão saindo pela boca, pelo líquido que penetra as vias aéreas. • Projeção da língua e exolftalmia: isso também pode ocorrer durante a putrefação. Também podem acontecer nas asfixias por constricção cervical, como enforcamento. 2. Sinais internos • Petéquias viscerais – manchas de tardieu • Sangue escuro (pobre em oxigênio) e líquido (causa mal definida) • Congestão polivisceral: fígado, mesentério, rins etc. Impedimento da circulação do ar: sufocar pode ser com sacola plástica na cabeça (criança faz muito isso), pode ser com travesseiro, com as mãos etc. • Sufocação direta • Sufocação indireta • Mista 1. Sufocação Consiste no impedimento da ventilação alveolar por obstrução das vias aéreas e/ou por compressão do tórax (indireta; incêndio, intoxicação por monóxido de carbono). • Causa jurídica: admite o homicídio, o acidente e o suicídio. Este último é menos comum. Tipos quanto à forma de impedimento da ventilação • Direta: decorrente da obstrução das vias aéreas. Boca e orifícios nasais, supraglótica e infraglótica. Entra os corpos estranhos nas vias aéreas, como um pedaço de carne. • Indireta: decorrente da compressão do tórax. Grandes multidões em pânico, posicional, outros meios (acidentes automobilísticos, em que os indivíduos ficam presos nas ferragens). • Mista: soterramento (desabamento, desmoronamento – várias são as possibilidades de causa de morte, tem que ver quando se considera realmente soterramento, pois nem sempre a causa da morte é por soterramento na presença do desabamento/desmoronamento). 1.1 Sufocação direta Sinais cadavéricos – sinais gerais de asfixia • Por obstrução da boca e dos orifícios nasais o Marcas ungueais na face e lesões labiais; uso das mãos ou travesseiros (oclusão homicida). Ex.: adulto que sufoca uma criança, tem que haver diferença de força. o Em RN, pode haver oclusão acidental, na cama. É quando a mãe está dormindo com o bebê e se vira por cima dele, sufocando-o. • Por obstrução das vias aéreas supra e infraglóticas: presença de corpos estranhos nas vias aéreas. 1.2 Sufocação indireta • Por grandes multidões em pânico: traumatismos múltiplos superficiais e profundos. Vai haver lesões da série contundente. • Posicional: posição que compromete a respiração por fadiga muscular. Controverso. • Outros meios: traumatismo contuso sobre o tórax e abdome e de suas vísceras, em acidentes de veículos, por exemplo. Asfixias por modificações do meio ambiente: ao invés de ar, vai haver outro elemento, como líquido, terra ou monóxido de carbono. • Confinamento • Afogamento • Soterramento • Monóxido de carbono 16 Confinamento Permanência em ambientes que não permitem a renovação do ar. Pode ser um espaço pequeno, como baú, mala, dentro de veículos etc. A causa da morte pode ser desidratação também, em casos de indivíduos dentro do veículo. • Causa jurídica: acidental (maioria), homicídio (infantil, por exemplo), suicídio. • Redução gradativa do oxigênio e elevação gradativa do gás carbônico. • Intenso sofrimento: lesões por tentativa de fuga e por aerofilia. Pode acontecer confinamento também em situações de desabamento e desmoronamentos. Não é muito comum, mas é principalmente por lesão contundente, gerando compressão torácica. Afogamento Penetração de um meio líquido ou semilíquido nas vias respiratórias. • Causa jurídica: geralmente acidente (maioria), mas admite suicídio (pessoas que se jogam na água com uma pedra no pescoço, por exemplo) e o homicídio (raro, preciso que o agressor tenha pelo menos 2x a força da vítima; pode ser em piscina ou banheira). Quando o indivíduo cai na água, a morte dele pode acontecer antes de haver embebição cadavérica (penetração de líquido por todo o corpo). O impacto na água causa a morte, com parada cardíaca. Não se sabe exatamente o porquê. Esse afogamento não é o típico. • Diagnóstico: talvez represente um dos diagnósticos mais difíceis, pela ausência de sinais patognomônicos ou específicos. É feito pelo somatório dos achados necroscópicos. Fisiopatologia • Fase de apneia voluntária: cai na água, para de inspirar e aí, o oxigênio inspirado vai sendo consumido. • Fase de dispneia involuntária: queda do oxigênio, aumenta gás carbônico e isso estimula o centro respiratório do bulbo. A inspiração se dará, mesmo contra a vontade da vítima. Então, ocorrem inspirações profundas e involuntárias, com penetração de líquido pelo corpo (começa pelas vias aéreas, mas vai preenchendo vários locais e órgãos). • Fase de exaustão ou hipóxia cerebral: a hipóxia cerebral leva o indivíduo à convulsão, inconsciência, parada respiratória e circulatória e morte. Sinais cadavéricos externos • Temperatura baixa da pele: pois, na água, o equilíbrio térmico é mais rápido. • Pele anserina (sinal de bernt): “pele de galinha”, pela contração dos mm. eretores dos pelos e rigidez cadavérica. • Retração do mamilo, do saco escrotal e do pênis: mesmo significado da pele anserina. O pé fica inchado, por causa da embebição cadavérica. O descolamento da epiderme é chamado de maceração. • Livores de hipóstase: precoces, pela fluidez do sangue; de coloração vermelha, por causa da embebição cadavérica; na cabeça (cabeça de negro) e face anterior do tórax (acontece porque o corpo na água fica suspenso, e a cabeça geralmente fica para baixo). • Rigidez cadavérica: mais precoce, pela asfixia. • Maceração da epiderme: sobretudo nas mãos – mãos de lavadeira, e nos pés, pela maior espessura da epiderme; no início, a epiderme é mais grossa, enrugada e esbranquiçada e, posteriormente, destaca-se, como dedos de luva. Pode ocorrer em fetos que morrem dentro da cavidade uterina e permanecem dentro do líquido amniótico. • Cogumelo de espuma: os gases da putrefação põem para fora a espuma dos brônquios e da traqueia. 17 O cadáver dentro da água pode estar boiando ou no fundo. Vai depender da fase do afogamento, se existe correnteza ou não. À medida que vai penetrando água no corpo, a tendência é que o corpo afunde. Enquanto existe gás, a tendência do corpo é flutuar. Locais onde é mais provável haver lesão, pela posição do corpo dentro da água: • Erosão dos dedos e presença de corpos estranhos sob as unhas: principalmente quando o corpo é levado pela correnteza. • Hemorragia petequial de pele e mucosas • Mancha verde da putrefação atípica: inicia com 24 horas de óbito, o cadáver sofre autólise (ruptura dos lisossomos e liberação de enzimas que provocam digestão celular; acontece no corpo morto ou em um órgão, com cerca de 20 horas) e putrefação. • Lesões pela fauna aquática: pálpebras e lábios, sobretudo. • Lesões cutâneas inespecíficas: lesões por atrito ou arrastamento, como escoriações e feridas. Quando se retira um órgão (ex.: vesícula biliar), deve-se colocá-lo em um meio contendo formaldeído. O objetivo dessa substância é evitar a autólise do tecido. Se o órgão não for colocado nesse meio, ele sofre autólise e putrefação. No caso do cadáver, esta última começa na fossa ilíaca direita, depois de 24 horas. No afogamento, ela começa na região superior do corpo. Pela posição do cadáver submerso, com a cabeça mais baixa que o tronco (pelo ar dos pulmões e alças intestinais), e pelos membros largados, é comum encontrar lesões na região frontal, faces anteriores dos joelhos, dorso das mãos e regiões dorsais dos pés. Com a embebição cadavérica, aumenta a densidade e a tendência é o corpo descer. Depois que começa a produzir gases na putrefação, o corpo volta a flutuar.Sinais cadavéricos internos • Vias aéreas: presença de líquidos e corpos estranhos. • Pulmão: enfisema aquoso, hemorragia petequial (manchas de Tardieu) e equimoses subpleurais (manchas de Pautaug). Vai haver rotura dos septos alveolares, formando essas equimoses. Isso só acontece se o indivíduo tiver inspirado muito líquido, para que ele, nos espaços alveolares, inche e rompa os septos. • Tubo digestivo: presença de líquido (sinal de Wydler). • Crânio: hemorragia temporal e etmoidal (sinal de niles e de Vargas Alvarado). Nas imagens acima, do lado esquerdo, hemorragias petequiais, com manchas de tardieu, do lado direito, o fígado está apenas congesto. Abaixo, observar líquido espumoso na traqueia (lado esquerdo). Normalmente, os pulmões ficam dentro da cavidade torácica. No afogamento, a tendência é que ocorra a anteriorização deles, por causa do inchaço. Quando corta para o exame interno, vê-se líquido espumoso e congestão. 18 Acima, necrópsia fetal mostra grande quantidade de líquido espumoso nos pulmões. Acima, intumescimento do pulmão. Essas lesões são chamadas de equimoses subpleurais, pela ruptura dos septos alveolares. Importante no diagnóstico do afogamento O diagnóstico de certeza da morte por afogamento é feito pelo somatório dos achados de necrópsia, exame do local bem feito e exames complementares – alcoolemia, anatomopatológico e toxicológico, bem como o uso de bom senso. É fundamental saber se um cadáver encontrado na água teve morte natural ou violenta, uma vez que ele pode ter sido jogado na água para simular afogamento. Lembrar que o afogamento típico apresenta sinais devido à grande penetração de líquido nos tecidos corpóreos. Em presença de estado de putrefação avançada, o diagnóstico é mais difícil. Soterramento Trata-se de uma asfixia mecânica em que a massa gasosa é substituída por substâncias pulverulentas, como terra, areia etc. • Causa jurídica: acidental (maioria) – em situações de desabamento ou desmoronamento. Vai haver associação de mecanismos causadores de morte – confinamento, compressão direta, lesões contundentes, sufocação direta, soterramento propriamente dito (quando vai fazer a necrópsia e, além dos achados externos de traumatismos múltiplos, encontra-se barro dentro das vias aéreas, por exemplo). É muito comum haver morte por ação contundente. Sinais cadavéricos externos • Sinais gerais de asfixia • Cadáver recoberto por terra ou restos de escombros • Escoriações e equimoses numerosas • Traumatismos múltiplos superficiais e profundos (a morte pode ter ocorrido por TCE, rotura de vísceras – desabamentos, desmoronamentos). Sinais cadavéricos internos • Terra, barro e poeira dentro das vias aéreas – alto valor diagnóstico de morte por soterramento. Acima, observar restos de terra na cabeça e lesões da série contundente no corpo. Abaixo, ver que há escoriações. Constrições cervicais • Esganadura: asfixia usando mãos no pescoço da vítima. Não vai haver laço nem ação do peso do corpo da vítima. Negativo para laço e peso. • Enforcamento: positivo para os dois – laço e peso do corpo na vítima. Laço seria lençol, corda, cinto de couro etc. É suicídio. • Estrangulamento: mãos do agente agressor. Esganadura Impedimento da ventilação alveolar por obstrução por compressão do pescoço pelas mãos do agressor. Podem estar presentes os estigmas ungueais • Causa jurídica: admite o homicídio. Enforcamento Constrição do pescoço por um laço ativado pelo peso do corpo da vítima. O corpo pode ficar totalmente ou parcialmente suspenso. • Causa jurídica: suicídio (maioria), homicídio (excepcional), acidente (raro). Mecanismo da morte: asfixia complexa • Obstrução das vias aéreas (mecanismo asfíxico). 19 • Obstrução dos vasos (mecanismo vascular) • Compressão de estruturas nervosas (mecanismo nervoso). Sinais cadavéricos externos • Sinais gerais de asfixia • Cabeça fletida para diante, com mento tocando no tórax • Face branca ou arroxeada, depende do grau de obstrução vascular • Protusão dos olhos e da língua • Presença do sulco cervical: diagnóstico diferencial com estrangulamento. Existe quando se retira o laço. • Manchas de hipóstase na metade inferior do corpo, mais intensas nas extremidades dos membros. Importante no diagnóstico diferencial do estrangulamento, em que se pendura o corpo para simular enforcamento. No estrangulamento, o local fica desorganizado. É uma tendência. Sinais cadavéricos internos • Pescoço (partes moles): sufusões hemorrágicas. • Lesões do aparelho laríngeo: fratura do osso hióide, das cartilagens cricoide e tireoide. • Lesões vasculares: sinal de Amussat (secção transversal da íntima da carótida comum), sinal de Friedberd (sufusão hemorrágica da porção externa da carótida comum). • Roturas musculares: ECM, omo-hioideo. • Lesões da coluna vertebral: fraturas das vértebras cervicais, roturas dos ligamentos intervertebrais. A seguir, observar sinal de congestão facial e sulco cervical, respectivamente. O sulco é oblíquo, ascendente e apergaminhado. O laço tende a ficar nas porções mais superiores do pescoço. Ao encontrar alguém enforcado, o cadáver deve ser levado com a corda no pescoço. Acima, sufusões hemorrágicas de partes moles em enforcamento. Estrangulamento Ocorre quando há constrição do pescoço por um laço ativado por uma força que não seja a do peso do corpo da vítima. • Causa jurídica: homicídio (maioria), acidente (excepcional – Isadora Duncan), suicídio (pouco frequente). Mecanismo da morte • Obstrução das vias aéreas, dos vasos e de estruturas nervosas. Sinais cadavéricos externos • Sinais gerais de asfixia • Protusão dos olhos e da língua • Presença de sulco cervical: características diferentes. • Manchas de hipóstase não estão nas extremidades, tendem a estar de acordo com a posição do corpo. Sinais cadavéricos internos • Sufusões hemorrágicas de partes moles do pescoço são raras. • Lesões carotídeas raríssimas • Lesões de cartilagens e osso hióide são excepcionais Características diferencial do sulco (Bonnet) 20 21 • Conceito: energias capazes de alterar o estado físico dos corpos. • Tipos: eletricidade, temperatura, pressão atmosférica, radioatividade, luz e som. Vamos nos deter nas três primeiras. 1. Temperatura: frio. • Causa jurídica: acidental (mais comum); homicida (abandono de recém-nascido) e suicida. • Modalidades: ação generalizada (morte por hipotermia ou congelamento), ação localizada (geladuras, semelhantes a queimaduras). Ação generalizada • Hipotermia e congelamento. • Diagnóstico o Sinais específicos: infiltrado hemorrágico na mucosa gástrica e flictenas (bolhas). o Circunstâncias do evento: comemorativos do ambiente. Se alguém foi encontrado morto dentro de um caminhão frigorífico, isso pode ser acidental ou homicida. o Fatores individuais: idade (extremos da idade são mais sensíveis a variações de temperatura), estado mental, alcoolismo. Ação localizada • Geladuras: classificação em graus. Provoca vasoconstrição generalizada, a tendência é que as vísceras fiquem pálidas na necrose. o 1º grau: palidez ou rubefação local e aspecto anserino da pele. o 2º grau: eritema e formação de bolhas ou flictenas. o 3º grau: necrose de tecidos moles. o 4º grau: gangrena ou desarticulação. Pés de trincheira: gangrena dos pés, pela exposição ao frio. 2. Temperatura: calor Em João Pessoa, no alto verão, a ação do calor pode matar. A ação generalizada e difusa do calor é chamada de “termonose”. • Insolação: proveniente do calor ambiental, em locais abertos, geralmente. Concorrem temperatura, raios solares, valor d’água, fadiga, fatores intrínsecos ao indivíduo – estado de repousoou de atividade, patologias prévias. No calor, haverá vasodilatação. Tanto no frio quanto no calor, existe aumento da permeabilidade vascular, formando bolhas de conteúdo líquido. • Intermação: calor ambiental em lugares fechados (veículo ao sol), sem a necessária ventilação, geralmente, acidental. o Diagnóstico: circunstância do evento, ausência de outras lesões sugestivas de causa mortis, desidratação – perda de líquido e eletrólitos. Ação localizada do calor (calor direto) • Localizada: são as queimaduras por calor direto. Geralmente, são acidentais. • Classificação de Hoffman o Primeiro grau: eritema simples e descamação. o Segundo grau: flictenas. É a formação de bolhas, que podem conter líquido rico em proteínas, por aumento da permeabilidade vascular – aspecto amarelado. o Terceiro grau: atinge até o plano muscular, com necrose, pela destruição da vascularização. Porta de entrada para microrganismos. o Quarto grau: atinge o plano ósseo. ▪ Carbonização: parcial ou generalizada. Carbonização • Redução do volume do corpo: pela condensação dos tecidos. Corpos adultos carbonizados podem chegar a uma estatura de 100 a 120 cm. • Cabelos crestados, quebradiços, entortilhados. • Pele atingida de coloração enegrecida; pele amparada pelas vestes pode permanecer íntegra. • Boca aberta, dentes salientes, porque existe retração de tecidos. • Atitude de boxeador: flexão generalizada do corpo, pela desidratação e retração sofridas pelos tecidos. • Fuligem na árvore respiratória – sinal de Montalti: importante saber o nome desse sinal. Ocorre pela 22 aspiração de material fuliginoso, sinal irrefutável de reação vital. A fuligem impregna nas vias respiratórias. Indica que a pessoa respirou durante o evento. • Fraturas, amputações, fendas corporais: temperaturas muito elevadas provocam fraturas de ossos longos, amputações de extremidades, fendas corporais (podendo haver herniações teciduais). • Presença de carboxiemoglobina: dosada no sangue e permite conclusão incontestável de que a vítima respirou em ambiente com grande concentração de CO2. Morte por queimadura • Desidratação: pela volumosa perda de líquidos corpóreos. • Infecções: pela porta de entrada para microrganismos. • Insuficiência renal: pela necrose tubular. • Hemorragia digestória: pelas úlceras de Curling. A imagem anterior mostra fendas corporais, atitude de boxeador, língua e dentes para fora. Não encontra nenhuma outra causa de morte violenta, como projétil de arma de fogo. 3. Eletricidade Tanto causa lesão de forma direta (pela eletricidade em si, alterando o funcionamento cardíaco ou dos músculos respiratórios, pois a eletricidade aumenta a excitabilidade muscular) e de forma indireta (por efeito Joule, com a produção de calor e produzindo queimaduras elétricas). Temos eletricidade industrial e natural. Elas recebem denominações de acordo com a modalidade. • Eletricidade natural: raios. Acidental. o Fulminação: êxito letal. o Fulguração: êxito não letal, causa lesões corporais. • Eletricidade artificial: doméstica ou industrial o Eletroplessão: com ou sem êxito letal. Geralmente acidental. Eletricidade natural 1. Êxito letal – fulminação: importante saber as circunstâncias que levou o indivíduo à morte. • Histórico de tempestade com descargas elétricas. • Sinais gerais de asfixia • Sinal de Lichtenberg: sinal arboriforme; não se sabe o mecanismo exato. 2. Fulguração – êxito não letal Pode apresentar o mesmo sinal cutâneo, necrose muscular e insuficiência renal. • Morte em indivíduos atingidos por raios: inibição dos centros nervosos da respiração, fibrilação cardíaca, lesões secundárias da série contundente, pelo arremesso do corpo, carbonização (liberação de calor), sinais gerais de asfixia. Eletricidade artificial 1. Eletropressão – êxito letal ou não • Marca elétrica de Jellinek – porta de entrada da corrente. Parece um calo. • Queimadura elétrica • Lesões de saída • Lesões graves: amputação de membros e secção completa do corpo. 23 • Sinais gerais de asfixia – tetania dos músculos respiratórios. Existe coagulação das proteínas, parece calo, é uma lesão parda. 4. Pressão atmosférica Diminuição da pressão atmosférica • Causa jurídica: acidentais, quase sempre. • Conceito: diminuição da pressão atmosférica, com queda da concentração de oxigênio no ar, levando a alterações na oferta de oxigênio para os tecidos. • A ATM normal é de 760 mmHg = 1.036 kg/cm² Mal das montanhas: cefaleia, dispneia, fadiga, tonturas, síncopes, hipóxia cerebral, paradas cardíaca e respiratória e morte. Ocorre pela menor oferta de oxigênio aos tecidos, nas altitudes acima de 2500 m. Compensada pela poliglobulina das alturas. Acomete, por exemplo, alpinistas que não fazem a escalada pausadamente. É principalmente de causa acidental. Aumento da pressão atmosférica • Causa jurídica: acidentais (mais comum, acidente de trabalho), homicidas e suicidas (são raros). • Conceito: aumento da pressão atmosférica, com aumento da concentração de oxigênio, nitrogênio e gás carbônico no sangue, levando a alterações na oferta de oxigênio para os tecidos. Os mergulhadores têm que ter um cuidado especial, então eles precisam voltar lentamente para a superfície, para não haver embolia gasosa. Esta última pode atingir o corpo e causar a morte do indivíduo. Modalidades • Patologia da compressão: intoxicação pelo oxigênio, nitrogênio e gás carbônico. • Patologia de descompressão: mal dos caixões. o Embolia gasosa o Barotrauma pulmonar o Barotrauma auditivo 24 • Conceito de agentes químicos: substâncias que são capazes de provocar danos ao organismo, seja atuando externa ou internamente. • Modalidades o Cáusticos: atuam externamente. o Venenos: atuam internamente. 1. Cáusticos Atuam externamente, levando o tegumento por ação: • Coagulante: ácidos, que provocam desidratação e formação de escaras secas. Ex.: nitrato de prata, acetato de cobre e croridrato de zinco. • Liquefaciente • Álcalis: escaras úmidas. Ex.: soda, potassa e amônia. A ação é acidental, homicida ou suicida. Vitriolagem: quando, dolosamente e com o desejo de causar dano estético, o agressor lança, sobre o rosto da vítima, substância química lesiva. Abaixo, uso de óleo de vitríolo e ácido sulfúrico. O dano estético será correspondido à lesão gravíssima na hora de se classificar as lesões dolosas. 2. Venenos Atuam internamente, lesando os órgãos. Consiste em uma substância que, uma vez introduzida no organismo, pode, mesmo em pequenas doses, levar a uma deterioração grave da saúde ou até mesmo a morte. É difícil definir, pois várias substâncias podem atuar como venenos, até alimentos e medicamentos. Classificação • Quanto ao estado físico: líquido, sólido e gasoso. • Quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético. • Quanto às funções químicas: ácidos, básicos, sais, álcoois etc. • Quanto ao uso: doméstico, industrial, agrário etc. Fisiopatologia – fases de atuação no organismo. • Penetração: via oral, inalatória, gástrica, retal, cutânea. A mais usada é a orogastrointestinal. • Absorção: processo pelo qual o veneno chega à intimidade dos tecidos (as mucosas absorvem mais prontamente os tóxicos). • Fixação: é a etapa do envenenamento, em que a substância tóxica se localiza em certos órgãos, de acordo com o seu grau de afinidade. Ex.: cocaína na substância branca da medula espinhal. Quando existe a penetração por mucosas, a absorção é mais rápida. Cada substância tem afinidade por determinado tecido ou órgão. É por isso que, na necrópsia, é preciso analisar vários órgãos e líquidos corpóreos. • Transformação: o organismo tenta se defender dos efeitos tóxicos dos venenos, facilitando sua eliminação.• Distribuição: fase em que o veneno, penetrando na circulação, estende-se pelos mais diversos tecidos. • Eliminação: o veneno é expelido pelo sistema urinário e sistema digestivo (vômitos, evacuações), por exemplo. Fenômenos relacionados • Mitridatização (tolerância): fenômeno caracterizado pela elevada resistência orgânica aos efeitos tóxicos dos venenos, conseguida através da ingestão progressiva e repetida da substância. • Intolerância: exaltada sensibilidade de alguns indivíduos a pequenas doses de veneno. • Sinergismo: ação potencializadora dos efeitos tóxicos de várias substâncias. Por exemplo, álcool com benzodiazepínicos leva a uma depressão respiratória exacerbada. 2.1 Carbamatos Conhecidos, popularmente, como “chumbinho”, é o Aldicarb (Temik). Tal substância é causadora de morte por intoxicação homicida, suicida ou acidental. Na necrópsia, vemos que o conteúdo gástrico apresenta inúmeros grânulos prateados e brilhantes, misturados com os alimentos. 25 E se houver ausência de achados significativos na necrópsia? Segue para exame toxicológico. Critérios diagnósticos • Clínico: sinais e sintomas apresentados pela vítima; valoriza-se anamnese, dados pessoais, antecedentes etc.; na inspeção, vê-se atitude, marcha, odores peculiares, sinais cutaneomucosos etc. • Circunstancial: circunstâncias ligadas ao evento, estudo do local da morta, depoimento de testemunhas etc. • Anatomopatológico: processos degenerativos orgânicos decorrentes da ação de certas substâncias. • Físico-químico (toxicológico): isolar, identificar e dosar, no material examinado, as substâncias tóxicas suspeitas. • Experimental: usa-se o material suspeito em animais de laboratório e se verifica a sintomatologia que aparece. • Critério médico-legal: importante raciocínio, levando em conta todos os critérios. Pode fazer perinecroscopia, necrópsia e exames complementares pertinentes. A tendência é que uma necrópsia de uma vítima de envenenamento seja pobre em achados. Então, há algumas recomendações: • Anotar todos os detalhes e características. • Tipo de odor que se possa perceber • Não abrir estômago e intestinos na cavidade abdominal • Ligar as extremidades do tubo digestivo • Retirar sangue, sempre que possível, das cavidades cardíacas • Descrever as lesões degenerativas encontradas • Coleta de material para pesquisa: frascos de plástico para amostras sólidas e frascos de vidro para amostras líquidas. • Fragmentos viscerais: fígado, cérebro, pulmão, rim, conteúdo estomacal. • Líquidos corpóreos: sangue, urina, bile etc. Necrópsia Não vai no formol, porque é para análise toxicológica. O departamento faz o exame e emite o laudo. Precisa de exame complementar para fechar diagnóstico. 26 - • Conceito: estudo da morte e do morto. É a parte da medicina legal que estuda a morte e o morto, e as suas repercussões na esfera jurídico-social. Critérios atuais para um diagnóstico de morte A morte, pelo menos quando da parada total e irreversível das atividades encefálicas, para fins de remoção de órgãos e tecidos para transplantes, está definida pelo que se chama de morte encefálica. Vem substituindo o conceito de morte circulatória. A tendência atual é dar-se privilégio à avaliação da atividade cerebral e ao estado de descerebração ultrapassada como indicativo de morte real. • Critérios atuais para a morte encefálica (1480 – 1997) o Parâmetros clínicos: valorização do coma aperceptivo, ausência de atividade motora supraespinhal, apneia. o Exames complementares: ausência de atividade elétrica cerebral, ausência de atividade metabólica cerebral, ausência de perfusão sanguínea cerebral. o Intervalos mínimos (por faixa etária) Antes da putrefação, existe uma outra alteração, 20 a 24 horas depois da morte, que é a autólise cadavérica. Direitos sobre o cadáver • Posse do cadáver: inicialmente o cadáver pertence ao Estado, depois, à família, que vai dar um destino ao corpo. O corpo humano é valorizado como reserva de órgãos e tecidos, os quais podem ter utilidade em transplantes ou para estudo. A princípio, o corpo humano é inviolável e inalienável. Contudo, as práticas (ex.: necrópsia) não são proibidas, em virtude dessa inviolabilidade, e precisam ser regulamentadas. O cadáver tem um estatuto que lhe é próprio baseado pela tradição e piedade (assenta-se, essencialmente, sobre os valores afetivos que ele representa e não sobre a matéria de que ele se compõe). O cadáver é, essencialmente, objeto de piedade e de homenagem. Existe uma tradição de velar o morto. A existência material tem uma significação secundária. O interesse no material anatômico é para fins: didáticos, clínicos, científicos, terapêuticos. Juridicamente, o cadáver já não é mais pessoa, é coisa (que é posse da família). O cadáver pertence, em sentido estrito, à família. De início, a posse cabe ao Estado, para o cumprimento de normas específicas e, definitivamente, aos parentes. O corpo humano é de natureza extrapatrimonial, ou seja, não é bem econômico e não pode ser utilizado para fins lucrativos. • Direitos do indivíduo: o direito do homem sobre o seu cadáver é da mesma natureza que tem sobre seu próprio corpo. O homem tem o direito de exigir que suas vontades sejam respeitadas e executadas após a sua morte (exceto não querer necrópsia, em caso de morte violenta, pois é obrigatório). Portanto, o indivíduo pode ceder seu cadáver a uma instituição científica, se essa for sua vontade, pode exigir que seja feita a necrópsia de seu cadáver, pedir que não se faça a necrópsia – só se isso for compatível com as exigências legais (ex.: mortes violentas). • Direitos da família: a família pode negar a doação de órgãos de seu parente morto (mesmo que essa tenha sido sua manifestação quando vivo). A necropsia clínica, em casos de morte natural, é feita apenas com o consentimento da família. No caso de mortes violentas, a necrópsia é obrigatória por lei. o Regra absoluta: a família jamais poderá ceder o cadáver para uma instituição científica, se esta não era uma vontade do morto. • Direitos da sociedade: o corpo representa igualmente um valor, para a sociedade. A necrópsia tem uma importância social no interesse coletivo do progresso científico e na determinação da causa jurídica de morte. Assim, em alguns países, a necrópsia pode ser realizada mesmo sem o consentimento da família, pelo interesse indiscutível da ciência em contribuir o bem estar coletivo. 27 Destinos do cadáver 1. Inumação simples É o mais comum. Após verificação do óbito, faz atestado de óbito no cartório (na maioria das vezes, é o médico patologista, legista ou clínico), com emissão da certidão de óbito. São três vias: uma fica na instituição (hospital, por exemplo), outra para a secretaria da saúde e a via amarela vai para os familiares. Esses últimos levam para o cartório, onde se emite a certidão de óbito. O indivíduo deixa de existir civilmente. O cadáver é inumado, em cemitério público ou privado, em sepulturas. Antigamente, o padrão era 1,75m de profundidade por 0,80m de largura. O sepultamento não deve ocorrer antes das 24h nem depois das 36h, a não ser por motivos especiais. • Antes: em epidemias, conflitos e convulsões sociais. • Depois: quando se processam meios de conserva. 2. Inumação com necrópsia • Em mortes violentas: obrigatoriedade da necropsia disciplinada pela lei processual penal. • Em mortes naturais: necrópsia realizada apenas com a assinatura do termo de permissão por familiares. Se chegar um corpo em decomposição no SVO, não faz necrópsia, porque não vai conseguir dar diagnóstico de nenhuma doença, pois os achados macroscópicos e microscópicos já ficam completamente alterados. Então, leva parao IML, para descartar causas violentas, lá eles fazem mesmo em decomposição. 3. Imersão Os corpos que faleciam em alto-mar eram submersos na água, quando não havia aperfeiçoamento dos transportes marítimos. 4. Destruição Os cadáveres são levados a um edifício de 5 torres, para a destruição pelos abutres. Quando reduzidos a esqueletos, os ossos eram colocados em um profundo poço. Isso ocorria porque a terra, a água e o fogo eram considerados sagrados em Bombaim, na Índia. 5. Cremação O inconveniente é que não se restam resquícios para uma possível exumação. A princípio, é contraindicada em suspeita de morte violenta. Adotada em países como: Índia, Suíça, Alemanha, Canadá, EUA e, principalmente, Inglaterra. É permitida para aqueles que manifestaram em vida esse desejo, através de instrumento público ou particular, após necrópsia ou competente autorização, especialmente em casos de morte violenta (parecer do CFM). Além disso, também pode ser permitida por autoridades sanitárias, em casos de calamidade pública ou epidemias. A família pode autorizar, desde que o dito cujo não haja feito declaração em contrário. • Processo: o cadáver é levado a fornos elétricos especiais, cuja temperatura pode variar de 800 a 1000 graus celsius. Então, ele é transformado em cinzas. Essa operação dura de 1 a 2 horas. Por fim, as cinzas são colocadas em uma caixa de metal, cuja tampa é lacrada e, então, é colocada em uma urna de bronze. Do ponto de vista médico-legal, a cremação apresenta o inconveniente de não poder ser realizada numa morte violenta, por não deixar subsídios para uma possível exumação cadavérica. A autorização de cremação em casos de morte natural ocorre após diagnóstico realizado por necrópsia em SVO. Requer que o atestado de óbito seja firmado por dois médicos patologistas ou um médico legista. Peças anatômicas e partes do cadáver • Peças anatômicas ou membros amputados em cirurgias podem ser: sepultados (não necessitam de atestado ou declaração de óbito) ou incinerados. Se houverem partes ou parte de cadáver (esquartejamento, explosões...) que permitam identificação criteriosa, há necessidade de atestado de óbito. Diagnóstico da realidade da morte • Fenômenos: abióticos, avitais ou vitais negativos; transformativos. 1. Abióticos, avitais ou vitais negativos • Imediatos: devidos à cessação das funções vitais. • Consecutivos: devidos à instalação de fenômenos cadavéricos. Esses fenômenos estão exuberantes com 6 horas, mas podem aparecer bem antes de 6 horas. 28 1.1 Imediatos: perda da consciência, perda da sensibilidade, abolição da motilidade e do tônus muscular, cessação da respiração, cessação da circulação, cessação da atividade cerebral. Primeiramente, fica flácido, com 6 horas de óbito, começa rigidez, mas com a putrefação, fica novamente flácido. 1.2 Consecutivos 1.2.1 Desidratação cadavérica Pela evaporação tegumentar (varia com temperatura ambiente, umidade, circulação do ar etc.) e se mostra através de: • Decréscimo de peso • Pergaminhamento da pele: parece couro, deixa de ter coloração rosácea e fica pardacenta. • Dessecação das mucosas dos lábios • Modificação dos globos oculares Acima, opacificação da córnea, que é um indício de desidratação. 1.2.2 Esfriamento cadavérico O esfriamento cadavérico é chamado de algor mortis. Ocorre pela falência do sistema termorregulador. Quanto mais tecido adiposo, mais resistência ao esfriamento. Esse é um parâmetro importante na determinação do tempo aproximado da morte. 1.2.3 Manchas de hipóstase cutâneas Também chamadas de livor mortis, manchas de posição ou livores cadavéricos. • Mecanismo: pela parada de circulação, o sangue vai se acumulando nas partes mais baixas, deixando de aparecer, apenas, nas superfícies de contato. • Início: 2 a 3 horas após o óbito, variam com a posição do corpo, fixando-se, apenas com 8 a 12 horas do óbito. Esses livores mudam no afogado, no enforcado etc. Se modificar a posição do corpo, os livores também mudam de posição, mas depois eles se fixam e não mudam mais. • Aspecto: coloração purpúria ou violácea, forma de placas, embora possam assumir aspecto de pontilhado (púrpuras hipostáticas), podendo confundir com equimoses. As manchas de hipóstase cutâneas não são visualizadas em pessoas de cor negra. Além disso, não ocorrem em mortes por grandes hemorragias. São importantes para diagnóstico da realidade da morte, bem como de sua causa (mudança de cor em asfixias – vermelho no CO, envenenamento metahemoglobinizantes – marrom). Ademais, também ajudam a estimar o tempo da morte e fazer o estudo da posição em que permaneceu o cadáver após a morte. Obs.: no afogado, a embebição cadavérica faz com que os livores fiquem mais claros. Como eles são pós morte, se fizer um corte, o sangue está líquido, na equimose, não estará assim. Acima, observar como o corpo fica pardacento. 1.2.4 Rigidez cadavérica Também denominada rigor mortis. É resultante da supressão de oxigênio celular, diminuição de ATP e formação de actomiosina, com acúmulo de ácido lático. 29 Há um estado de contratura muscular, sendo um fenômeno físico-químico. Inicia com 2 a 3 horas após o óbito, na face, mandíbula e pescoço, depois membros superiores e, por último, membros inferiores. Atinge o máximo com 8 horas e desaparece com o início da putrefação (24h). • Importância: estimativa do tempo da morte, diagnóstico de morte. Inicialmente, existe flacidez muscular, depois tem rigidez paulatinamente, atinge o máximo com 8h. Após 24h, há novamente flacidez, com desaparecimento da rigidez cadavérica. 1.2.5 Espasmo cadavérico Trata-se de uma rigidez abrupta, generalizada e violenta. Difere da rigidez cadavérica, pois esta se instala progressiva. Contudo, o espasmo é um fenômeno controverso e raro. O diagnóstico da causa da morte estará mais evidente, porque esses fenômenos consecutivos estarão exuberantes. 2. Fenômenos transformativos • Destrutivos: autólise, putrefação, maceração. • Conservadores: mumificação, saponificação, calcificação, corificação. A mumificação pode ser natural ou artificial. Na autólise, já fica ruim para examinar na macro e na microscopia. É como enviar uma vesícula em soro fisiológico ao invés de formol para a patologia, pois esta entra em autólise e fica imprestável para o anatomopatológico. Pode comprometer o diagnóstico do caso. A maceração ocorre quando o cadáver permanece em meio líquido, havendo destacamento da epiderme. Não é a sequência, é um processo transformativo que ocorre em cadáver que permanece em meio líquido – afogamento, feto morto dentro do útero. Falaremos adiante dos fenômenos conservadores. 2.1 Fenômenos destrutivos 2.1.1 Autólise: é um processo de destruição celular causada pelas próprias enzimas celulares. Não há interferência bacteriana. Com a morte, ocorre acidez celular, com diminuição do pH. As células mais afetas são as que possuem mais enzimas, como, por exemplo, a mucosa gástrica, a mucosa intestinal e o pâncreas. Portanto, nesses locais a autólise ocorre mais rápido. 2.2.2 Putrefação: é longa e tem quatro etapas. Trata-se da decomposição fermentativa da matéria orgânica por ação de diversos germes aeróbios, anaeróbios e facultativos. O início da putrefação é na região do intestino (com exceção dos fetos e RN, porque eles ainda não apresentam colonização bacteriana nesse órgão). O achado inicial é o aparecimento da mancha verde abdominal. Se já estiver em putrefação, não faz necrópsia no SVO, porque os achados estarão destruídos. Períodos da marcha da putrefação • Cromático ou de coloração • Gasoso ou enfisematoso • Coliquativo ou de liquefação • Esqueletização Inicialmente, o corpo fica colorido, mas termina ficando enegrecido. Começacom mancha verde, que vai tomando o corpo, ficando mais escuro até ficar enegrecido. A segunda fase é o inchaço do corpo, por uma presença difusa de gases. Na decomposição liquefativa, vai haver a transformação da matéria em massa de putrilagem – encontra larvas no corpo. A esqueletização dura muito tempo, porque os ossos são bem resistentes. A. Período cromático ou de coloração Inicia pela mancha verde abdominal, localizada na fosse ilíaca direita. Fica nesse local pois é onde se encontra o ceco, o qual é a parte mais dilatada e mais livre do intestino grosso. Além disso, também é pelo fato de ser o segmento no qual se acumula maior quantidade de gases. Surge com 20 a 24 horas de óbito. Nesse caso acima, já tem na fase ilíaca esquerda. Há relaxamento de esfíncteres e livores. Da mancha verde abdominal, há a difusão por todo o abdome, tórax, cabeça e membros. De início, a tonalidade é azul esverdeada, depois atinge o verde enegrecido. A coloração vai se disseminando pelo corpo. 30 Vai ficar de uma coloração esverdeada, que vai se tornando escura. Não é que vai acontecer a fase cromática, e depois a gasosa. Esses processos ocorrem de maneira concomitante. Tendem a se associar, cromática com gasosa, por exemplo. Situações especiais • Afogados: esse período começa pela parte superior do tórax e cabeça, pela posição do cadáver submerso. • Em fetos: a putrefação se inicia pela parte superior do tórax e face, pelo conteúdo intestinal estéril. B. Período gasoso ou enfisematoso: 48 – 72h, grau máximo com 5 a 7 dias. Surgem gases do interior do corpo, os gases da putrefação (enfisema putrefativo). Há bolhas na epiderme e o cadáver fica com aspecto gigantesco (posição de lutador). As bolhas na epiderme ficam até, às vezes, com conteúdo hemático. Como existe produção de gases, há projeção de olhos e da língua, bem como distensão do abdome. O diafragma comprime pulmões, há saída de líquido, que parece edema pulmonar. • Circulação póstuma de Brouardel: os gases fazem pressão sobre o sangue, que foge para a periferia. Pelo destacamento da epiderme, vê-se o esboço do desenho vascular na derme. A circulação póstuma de Brouardel é característica de que fase da putrefação? Fase enfisematosa. Projeção da língua e projeção vascular acima. O aumento da pressão abdominal pode levar a: prolapso do útero, prolapso do reto, elevação do diafragma (compressão pulmonar e saída de líquido avermelhado pela boca e narinas, sendo o sangue proveniente de ruptura alveolar) e degradação das proteínas, com liberação de compostos nitrogenados (ptomaínas, odor desagradável). Abaixo, observar também o destacamento da epiderme e bolhas de conteúdo hemático, respectivamente. 31 A imagem anterior mostra a fase final do período cromático, com projeção da língua. Já está na fase de gases, com aumento do cadáver. Acontece isso em torno de 5 a 7 dias, sendo que a única maneira de evitar é a cremação. C. Coliquativo ou de liquefação Esse período também é chamado de deliquescência cadavérica. Consiste na dissolução do cadáver, em que o corpo perde sua forma e o esqueleto fica recoberto por uma massa de putrilagem. Há um grande número de larvas de insetos e pode durar de 1 a vários meses. A arcada dentária, que fica preservada durante muito tempo, é muito usada para identificação do cadáver. (off: fariam a imagem abaixo?) D. Esqueletização O corpo se apresenta com os ossos quase livres, presos apenas por alguns ligamentos articulares. Esse processo dura de 3 a 5 anos. Os ossos resistem por muito tempo, porém, pouco a pouco, vão perdendo sua estrutura habitual. Tornam-se, assim, cada vez mais frágeis e mais leves. Os ossos ficam leves até virar pó. Uma exumação pode ser feita em qualquer etapa e os achados podem ser significativos. 2.2.3 Maceração É o destacamento de amplos retalhos de tegumento cutâneo, que se assemelham a luvas. O tegumento fica de tonalidade avermelhada. Ocorre em cadáveres mantidos em meio líquido (maceração séptica) e nos fetos dentro da cavidade uterina (maceração asséptica). 2.2 Fenômenos conservadores O corpo que morre em grande altitude, onde há neve, vai ficar conservado. Portanto, a marcha da putrefação não vai acontecer. 2.2.1 Mumificação Pode ser produzida por meios natural, artificial e misto. • Artificial: através do embalsamento; fazia-se no Egito Antigo. Hoje em dia, faz para conservar o cadáver para fins didáticos ou a pedido da família. Quando o corpo vai ser velado por um longo período ou se ele vai ser transportado para outro estado/país, nesse sentido, faz mumificação. • Natural: cadáver exposto ao ar, em clima quente e seco. Nesse caso, ocorre desidratação rápida, havendo acentuado dessecamento. Assim, ocorre impedimento da ação microbiana, responsável pela putrefação. Esse tipo de embalsamento acontece em situações em que há um clima muito quente e seco, como em um deserto, porque vai haver rápida desidratação do corpo e acentuado dessecamento. Fatores que condicionam a mumificação natural • Idade: mais comum em RN. • Sexo: mais comum nas mulheres. 32 • Causa da morte: grandes hemorragias, desidratação, tratamento prolongado com antibióticos. RN talvez pela perda volêmica ser maior? Não se sabe o porquê de ser mais comum nas mulheres. Como é um cadáver mumificado? Reduzido em peso; pele dura, seca, enrugada e enegrecida; uma pressão leve destrói músculos, tendões e vísceras, transformando-os em pó; dentes e unhas bem conservados. O interesse da medicina legal é que, como há conservação da matéria, pode ser importante para determinar causa da morte etc. 2.2.2 Saponificação ou adipocera Refere-se à transformação do cadáver em substância de consistência untuosa, mole e quebradiça, amarelo-escura, com aparência de cera ou sabão. • Mecanismo: surge após um estágio mais ou menos avançado de putrefação, quando certas enzimas bacterianas hidrolisam gorduras, originando ácidos graxos que, em contato com a argila, transformam-se em ésteres. É mais comum encontrar partes do cadáver transformados. O corpo se transforma em uma massa adiposa. • Fatores predisponentes: água estagnada e pouco corrente; solo argiloso e úmido, de difícil acesso ao ar atmosférico; obesidade; doenças que levam à degeneração gordurosa; idade (mais frequente em crianças); sexo (um pouco mais comum em mulheres. Mulheres: por maior quantidade de tecido adiposo? • Interesse médico-legal: permite examinar o tecido celular subcutâneo, possibilidade do estudo de lesões produzidas por PAF, possibilidade do estudo de lesões do pescoço, como nos estrangulamentos e enforcamentos. É interessante para encontrar lesões produzidas por algum agente. 2.2.3 Calcificação É a petrificação ou calcificação do corpo. Por exemplo, no caso de fetos mortos retidos na cavidade uterina (litopédios). O feto pode calcificar. A calcificação ocorre em tumores benignos, malignos, cistos, tuberculose, enfim, várias situações médicas. Também acontece na formação de cálculos. 2.2.4 Corificação É um processo raro. Ocorre em cadáver acolhido em urnas metálicas fechadas hermeticamente, principalmente de zinco. • Aspecto: pele de cor e aspecto de couro curtido; abdome achatado e deprimido; vísceras, em geral conservadas. Não se sabe o mecanismo. 33 Introdução A anotação da causa da morte iniciou no final do século XVI, com a epidemia de peste, para saber o número de óbitos pela doença. No século XVIII, despertou-se o “interesse científico”, gerando necessidade de se definir universalmente o significado de “causa de morte”, sendo criado um documento padrão para a declaração. • 1925: modelo internacional de atestado médico de causa de morte. Recomendações
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