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2016 Pesquisa em serviço social Prof.ª Denise da Silva Vieira Prof.ª Luiza Maria Lorenzini Gerber Copyright © UNIASSELVI 2016 Elaboração: Prof.ª Denise da Silva Vieira Prof.ª Luiza Maria Lorenzini Gerber Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: 361.3072081 V657p Vieira; Denise da Silva Pesquisa em serviço social/ Denise da Silva Vieira; Luiza Maria Lorenzini Gerber : UNIASSELVI, 2016. 237 p. : il. ISBN 978-85-7830-975-6 1. Serviço social – Pesquisa - Brasil. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci III aPresentação Prezado acadêmico! Bem-vindo aos estudos de Pesquisa em Serviço Social! Ao pensarmos em pesquisa, em um primeiro momento relembramos dos velhos trabalhos escolares nos quais, na maioria das vezes, após uma leitura superficial, fazíamos cópias, agrupávamos ideias em um texto, organizávamos uma “capa” e tínhamos finalizada a “pesquisa”. Mas será que esse processo é pesquisar? Não, a pesquisa vai muito além de tudo isso. Através deste livro vamos estudar o significado da pesquisa e, em especial, da Pesquisa Social. Vamos rever conceitos e adentrar ao mundo da pesquisa acadêmica, que irá de agora em diante influenciar sua maneira de pensar e refletir significativamente na sua formação como assistente social, que você, caro acadêmico, planeja ser, uma vez que estuda Serviço Social. Neste sentido, observamos que no cotidiano da vida social, homens e mulheres organizam/sistematizam suas vidas sob a influência do que apreenderam no convívio familiar, social, comunitário e/ou religioso. As pessoas em diferentes espaços geográficos e sociais engendram processos para organizar suas vidas baseados nas vivências e no aprendizado formal. Assim, as diferentes gerações através de diferentes maneiras e/ou narrativas transmitiam seus saberes, seus conhecimentos. Esses saberes, esses conhecimentos nos cercam e refletem na nossa organização doméstica, nas maneiras de executar determinado trabalho, nos hábitos cotidianos, no estilo de vida, no paladar, no senso estético, nas questões religiosas, entre outros aspectos. E por que isso ocorre? Não somos detentores do conhecimento por nascença, pelo contrário, adquirimos experiência conforme ocorre nosso crescimento, seja de maneira etária, a partir dos avanços da idade, ou como indivíduo que vive em sociedade. Antes de irmos, por conta própria ou porque o cotidiano nos direciona, em busca de novos saberes, fica em evidência o conhecimento denominado popular. IV Desde os primórdios os conhecimentos acumulados e repassados de geração em geração têm grande influência nos moldes da humanidade. São os valores que tanto você, acadêmico, quanto os povos do outro lado do mundo adquirem por meio de narrativas dos antepassados, hábitos, costumes culturais e religiosos etc. Porém, não é somente pelas experiências de gerações que se constrói e evolui uma sociedade. Apesar de esse modelo de repasse de conhecimento ainda existir e ter predominado durante muito tempo, houve um momento histórico, durante a evolução da humanidade, em que surgiram novas formas de aprender, experimentar e comprovar. Foi quando avançou o conhecimento sistematizado através de um treinamento específico, racional, no qual os fenômenos observados começaram a ser explicados em seus “porquês” e “como” ocorriam. Iniciou-se, então, uma tentativa de evidenciar fatos/fenômenos correlacionados a uma visão mais ampliada do mundo, mais global, isto é, o fenômeno sendo visto por diferentes ângulos e “olhares”. Essa diferença nos “olhares” para com os fenômenos é que fez a humanidade transpor do conhecimento popular para o conhecimento científico. Ou seja, trocou-se o conhecimento “comprovado” apenas por crendices para o conhecimento experimentado e colocado à prova de existência. Hoje, é na pesquisa que a percepção e a acuidade desses “olhares” mais avançados encontram âncoras. São os novos saberes, para a construção do conhecimento, que direcionam a vivência e a inteligência humana e tecnológica. Dito isso, prezado estudante, iremos neste livro adentrar ao mundo da Pesquisa Social para que, conhecendo-a, você tenha habilidades técnicas, éticas e políticas para exercitá-la na sua formação acadêmica e, principalmente, na sua atuação futuro como assistente social. Bons estudos! Prof.ª Denise da Silva Vieira Prof.ª Luiza Maria Lorenzini Gerber APRESENTAÇÃO DAS AUTORAS Denise da Silva Vieira é assistente social (CRESS n° 3780 12° Região/ SC), graduada pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), especialista em Gestão da Política de Assistência Social pela Faculdade SPEI/PR, atua junto à Política de Assistência Social no município de Blumenau/SC, é docente (interna) do curso de Serviço Social da UNIASSELVI desde 2012. V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! Luiza Maria Lorenzini Gerber é assistente social (CRESS nº 0968 12 R/SC), graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (USFC), tem especialização em Serviço Social no Trabalho pela mesma universidade e em Administração Pública pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina (UDESC); é mestre em Serviço Social pela UFSC, atuou profissionalmente junto à Previdência Social e Saúde, é tutora externa de Serviço Social do Polo MBS – UNIASSELVI de Florianópolis/ SC desde 2010. NOTA VI Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VII VIII IX UNIDADE 1 – A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES ...................................................... 1 TÓPICO 1 – O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA ........................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 O CONHECIMENTO – CONCEITOS .............................................................................................. 4 3 OS DIFERENTES CAMINHOS PARA A PRODUÇÃODO CONHECIMENTO CIENTÍFICO ......................................................................................................................................... 8 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 10 4 A CIÊNCIA – CONCEITOS, PARTICULARIDADES E LIMITES.............................................. 13 5 A CIÊNCIA COMO ÂNCORA PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ............... 15 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 18 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 – A PESQUISA: CONCEITOS E FINALIDADES ......................................................... 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 CONCEITOS .......................................................................................................................................... 21 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 25 3 FINALIDADES DA PESQUISA ........................................................................................................ 26 4 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ................................................................................................... 29 5 O SERVIÇO SOCIAL: DE UM PROCESSO DE TRABALHO INTERVENTIVO PARA UM PROCESSO DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO ATRAVÉS DA PESQUISA SOCIAL ................................................................................................................................................... 41 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 44 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 45 TÓPICO 3 – MÉTODOS NAS CIÊNCIAS SOCIAIS ....................................................................... 47 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 47 2 AS CIÊNCIAS SOCIAIS ...................................................................................................................... 48 3 O MÉTODO CIENTÍFICO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS – CONCEITOS ................................... 48 4 MÉTODO INDUTIVO ........................................................................................................................ 50 5 MÉTODO DEDUTIVO ........................................................................................................................ 51 6 MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO ............................................................................................ 53 7 MÉTODO DIALÉTICO ....................................................................................................................... 54 7.1 AS LEIS DA DIALÉTICA ................................................................................................................ 55 8 MÉTODO FENOMENOLÓGICO .................................................................................................... 56 9 O MÉTODO DE MARX – A TEORIA, MÉTODO E PESQUISA ................................................ 57 10 O MÉTODO E OS MÉTODOS ........................................................................................................ 62 10.1 MÉTODO HISTÓRICO ................................................................................................................. 64 10.2 MÉTODO COMPARATIVO ......................................................................................................... 65 10.3 MÉTODO MONOGRÁFICO ........................................................................................................ 66 10.4 MÉTODO ESTATÍSTICO .............................................................................................................. 67 10.5 MÉTODO TIPOLÓGICO .............................................................................................................. 67 10.6 MÉTODO FUNCIONALISTA ...................................................................................................... 68 sumário X 10.7 MÉTODO ESTRUTURALISTA .................................................................................................... 69 10.8 MÉTODO ETNOGRÁFICO .......................................................................................................... 70 10.9 MÉTODO CLÍNICO ...................................................................................................................... 71 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 72 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 75 TÓPICO 4 – A PESQUISA SOCIAL ..................................................................................................... 77 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77 2 CONCEITOS E FINALIDADES ........................................................................................................ 77 3 O PESQUISADOR, SEU PAPEL E LIMITES ÉTICOS .................................................................. 83 4 AS ETAPAS METODOLÓGICAS DA PESQUISA SOCIAL ....................................................... 88 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 92 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 95 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 97 UNIDADE 2 – SUBSÍDIOS DA PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL ........................................... 99 TÓPICO 1 – PESQUISA E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO SERVIÇO SOCIAL .............................................................................................................................101 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................101 2 RESGATE HISTÓRICO DO SERVIÇO SOCIAL E A RELAÇÃO COM A PESQUISA .......102 2.1 DÉCADA DE 1980 .........................................................................................................................102 2.2 DÉCADA DE 1990 .........................................................................................................................103 3 RELEVÂNCIA DA PESQUISA NO SERVIÇO SOCIAL ............................................................106 4 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA PARA O SERVIÇO SOCIAL .......................................108 5 RETORNO DAS PESQUISAS PARA O SERVIÇO SOCIAL .....................................................109 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................113 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................114 TÓPICO 2 – PESQUISA SOCIAL E ÉTICA PROFISSIONAL ......................................................115 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115 2 CONCEITOS DE ÉTICA ...................................................................................................................1163 ÉTICA E O SABER – BIOÉTICA .....................................................................................................118 4 ÉTICA NA PESQUISA E O SERVIÇO SOCIAL ...........................................................................119 5 CENTRALIDADE DOS SUJEITOS NAS PESQUISAS EM SERVIÇO SOCIAL ...................122 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................126 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127 TÓPICO 3 – ATRIBUIÇÃO E COMPETÊNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL PESQUISADOR ..............................................................................................................129 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129 2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O ATO DE PESQUISAR ...............................................129 3 TORNANDO-SE UM PESQUISADOR ..........................................................................................131 4 COMPETÊNCIA NO ATO DE PESQUISAR .................................................................................132 5 PESQUISAS: QUALITATIVA E QUANTITATIVA ......................................................................134 5.1 PESQUISA QUALITATIVA ..........................................................................................................135 5.2 PESQUISA QUANTITATIVA .......................................................................................................137 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................141 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................142 XI TÓPICO 4 – ELEMENTOS DE UM PROJETO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL ........143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................143 2 O PROJETO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL .................................................................144 3 CARACTERÍSTICAS DO PROJETO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL ......................148 4 COLETA DE DADOS DA PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL ................................................151 5 RESULTADOS DA PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL ............................................................155 5.1 ANALISANDO OS DADOS .........................................................................................................155 5.2 ELABORANDO O RELATÓRIO DE PESQUISA NO SERVIÇO SOCIAL ............................157 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................160 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................163 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................164 UNIDADE 3 – RELATÓRIO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL: PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E RESULTADOS .................................................................................165 TÓPICO 1 – RETOMANDO OS DADOS DE UM PROJETO DE PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL .........................................................................................................167 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................167 2 ELABORAÇÃO DE UM PROJETO DE PESQUISA ....................................................................167 3 O QUE É O PROBLEMA DE PESQUISA, JUSTIFICATIVA E HIPÓTESES ..........................170 3.1 PROBLEMA DE PESQUISA .........................................................................................................171 3.2 JUSTIFICATIVA DA PESQUISA .................................................................................................173 3.3 CONSTRUÇÃO DE HIPÓTESES ...............................................................................................174 4 METODOLOGIA E CRONOGRAMA DA PESQUISA SOCIAL .............................................177 4.1 METODOLOGIA ...........................................................................................................................177 4.2 CRONOGRAMA DE PESQUISA SOCIAL ................................................................................179 5 RECURSOS E REFERÊNCIAS DE PESQUISA SOCIAL ............................................................180 5.1 RECURSOS .....................................................................................................................................180 5.2 REFERÊNCIAS DE PESQUISA SOCIAL....................................................................................182 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................187 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................188 TÓPICO 2 – AMOSTRAGEM NA PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL ....................................189 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................189 2 PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA AMOSTRAGEM ...........................................................189 3 TIPOS DE AMOSTRAGEM .............................................................................................................190 4 AMOSTRAS PROBABILÍSTICAS ..................................................................................................191 5 AMOSTRAS NÃO PROBABILÍSTICAS .......................................................................................193 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................196 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................197 TÓPICO 3 – TRABALHO DE CAMPO: INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS..........199 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................199 2 DEFINIÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ............................................199 3 INSTRUMENTOS: A ENTREVISTA ..............................................................................................200 4 A OBSERVAÇÃO ................................................................................................................................203 5 O QUESTIONÁRIO ...........................................................................................................................206 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................211 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................212 XII TÓPICO 4 – ANÁLISE DOS DADOS E ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO ............................213 DE PESQUISA ........................................................................................................................................213 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................213 2 DEFININDO ANÁLISE DOS DADOS ..........................................................................................213 3 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS COLETADOS ........................................................................2144 ANÁLISE ESTATÍSTICA DE DADOS ...........................................................................................217 5 REDIGINDO O RELATÓRIO DE PESQUISAS ...........................................................................219 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................224 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................229 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................230 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................231 1 UNIDADE 1 A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • compreender o conceito de ciência; • relacionar os conceitos de ciência, conhecimento e saber; • compreender a importância da pesquisa no meio acadêmico; • estudar e analisar os diferentes métodos de pesquisas utilizados nas ciências sociais; • conhecer os conceitos e a classificação da pesquisa social relacionando sua importância para o Serviço Social. A Unidade 1 está dividida em quatro tópicos e, ao final de cada um deles, você realizará atividades para fixar seus conhecimentos. TÓPICO 1 – O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA TÓPICO 2 – A PESQUISA: CONCEITOS E FINALIDADES TÓPICO 3 – MÉTODOS NAS CIÊNCIAS SOCIAIS TÓPICO 4 – A PESQUISA SOCIAL 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA 1 INTRODUÇÃO Neste tópico iremos estudar o conhecimento, como este foi sendo sistematizado pela humanidade no decorrer dos tempos através da capacidade humana de pensar. Esta complexa ação, associada aos sentidos humanos (audição, olfato, visão, tato e paladar) proporciona aos humanos a inquietude que não conforma; que os leva a buscar soluções para os fenômenos que vivenciam e que num primeiro momento não têm respostas. De maneira exata não se pode afirmar onde se iniciou a produção do conhecimento e qual foi a primeira pessoa a significá-lo, contudo a tradição do Ocidente marca a Grécia como o locus deste primeiro momento. Ao longo da história grega, pensadores se destacaram, deixando seu legado para a humanidade: • Sócrates (470 a 399 a.C.); • Platão (427 a 347 a.C.); • Aristóteles (384 a 322 a.C.). NOTA Esses três filósofos foram os inauguradores da filosofia ocidental, como a que concebemos ainda hoje em muitos aspectos. O período em que Sócrates, Platão e Aristóteles despontaram é considerado como o período áureo da Filosofia, dada a imensa contribuição deles para o avanço do pensamento filosófico. UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 4 Antes de se falar de Sócrates, Platão e Aristóteles, é imprescindível, também, abordar sobre os sofistas, que foram pensadores contemporâneos a Sócrates e, juntamente com ele, foram os primeiros a falar sobre as questões morais dentro do âmbito filosófico. Os sofistas eram pensadores que realizavam viagens de cidade em cidade e, através de discursos públicos, atraíam jovens discípulos, os quais pagavam taxas por essa educação recebida. Apesar de serem pessoas muito refutadas por outros filósofos, como Aristóteles, por exemplo, os sofistas exerceram um grande papel para a evolução histórica da Filosofia. As obras de Sócrates, Platão e Aristóteles serviram de base para toda a Filosofia na Idade Média, Renascentista, Idade Moderna e Contemporânea. Grandes filósofos, de várias épocas da história, têm suas bases nesses três pais da filosofia ocidental. Homens como Gregório, Tertuliano Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, no período entre a Filosofia Medieval e início da Renascença. Outros como os iluministas Rousseau, Diderot, Voltaire e Descartes e alguns mais recentes como Auguste Comte, Immanuel Kant, David Hume, Friedrich Nietzsche, Michel Foucault etc. FONTE: Disponível em: <http://origem-da-filosofia.info/socrates-platao-e-aristoteles.html>. Acesso em: 22 dez. 2015. 2 O CONHECIMENTO – CONCEITOS A palavra conhecimento tem vários significados. De acordo com o Dicionário Aurélio Online (2015), pode ser: 1 Ato ou efeito de conhecer. 2 Noção. 3 Notícia, informação. 4 Experiência. 5 Ideia. 6 Relações entre pessoas não íntimas. 7 Trato. 8 Recibo de contribuição paga. 9 Escrito representativo da fazenda recebida a bordo de um navio. 10 Ter perfeito conhecimento de si próprio, dos próprios méritos, do caráter próprio. TÓPICO 1 | O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA 5 11 Instrução, saber. 12 Pessoas das nossas relações. 13 Conhecimento de causa: competência ou sabedoria em relação a um assunto ou a um fato. Para Costa (2001, p. 2), “conhecer é apropriar-se mentalmente de algo”, o conhecer está ligado à memória, quando a ativamos, as imagens mentais de algo vêm à tona. Então, novas ideias, novos conceitos ativam nosso sistema mental e nos fazem “apropriar” este novo conceito, o que nos leva ao conhecimento. Costa (2001) também se refere ao repertório que é a acumulação de informações e experiências vividas por uma pessoa no decorrer de sua vida. O autor se refere ao arsenal no qual a pessoa orienta-se quando percebe ou se depara com algo novo e se dá conta de que “não tem repertório” para tal, isto é, não viveu e/ou apreendeu tal fenômeno. Passa então a interrogar-se em busca de solução. O repertório é individual, cada ser tem diferentes modos, maneiras de sentir e viver experiências. Assim, “conhecer é mais do que ter na memória um conjunto de informações: é conseguir fazer com que essas informações se transformem em prática e sejam úteis sob a perspectiva pessoal, profissional, social ou política” (COSTA, 2001, p. 4). Importante sinalizar que o ser humano não é passivo ao receber toda esta gama de informações, ele é racional e, neste sentido, infere sobre a informação sua reflexão crítica acerca do fenômeno novo com o qual se depara. Isto quer dizer que “o processo de aquisição (produção) de conhecimento não é passivo (“bancário” – como diria Paulo Freire), ele é produto de reflexão crítica sobre os incontáveis itens que compõem a natureza, bem como sobre as inúmeras relações que se estabelecem entre esses itens” (COSTA, 2001, p. 4). No Serviço Social, Aglair Alencar Setúbal, em sua obra Pesquisa em Serviço Social – Utopia e realidade (2013), também reflete sobre o conhecimento e a ação humana sobre a natureza, ação que transforma e está em contínuo movimento. Ao considerarmos o conhecimento como forma de se expressar do homem no decorrer da sua história, vemos que, desde os primórdios da humanidade, ele foi sendo construído na relação entre os homens e destes com os objetos da natureza. O conhecimento foi se desenvolvendo à medida que as próprias ações humanas expandiam- se em decorrência do surgimento e crescimento das necessidades estimuladas pelas experiências sociais, muitas das quais impostas pelos sistemas de produção determinantes das relações sociais de cada época. É certo que as condições e formas pelas quais o conhecimento foi e é elaborado, e as finalidades para as quais se destina, variam, dando origem às especulações filosóficas e teóricas que distam desde a Grécia antiga (século VI – I a.C) [...] Esses diferentes entendimentos UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 6 fazem-nos perceber que a ação do homem não é apenas determinada biologicamente, pois concomitante a ela surgem outras variantes que lhe são incorporadas, de acordo com as suas experiências e conhecimentos acumulados (SETÚBAL, 2013, p. 30). Neste sentido, pode-se afirmar com base em Costa (2001), Setúbal (2013) e na definição do Dicionário Aurélio Online (2015), que o processo de conhecimento é uma ação transformadora, muda a natureza porque transforma o ser que a vivencia, uma vez que o mesmose torna produtor de conhecimento, ou seja, se transforma em agente com “competência ou sabedoria em relação a um assunto ou a um fato”. Para fins metodológicos, Trujillo (1974 apud LAKATOS, MARCONI, 2009, p. 77) elencam os quatro tipos de conhecimento com base nos estudos deste autor: “Conhecimento Popular, Conhecimento Filosófico, Conhecimento Religioso (Teológico) e Conhecimento Científico”. O Conhecimento Popular é também denominado de senso comum, se caracteriza por ser não sistemático, é passado de geração em geração sem comprovação científica; difere do conhecimento científico pela forma como determinado fenômeno é observado. É valorativo porque o sujeito que o detém está imbuído de valores, do que ele pensa sobre determinado fenômeno, como o apreendeu e o conheceu. Igualmente, este conhecimento não pode ser tomado como uma formulação geral, é assistemático, isto quer dizer que o sujeito tem experiências pessoais sobre o fenômeno que não são sistematizadas como regra geral; é verificável porque se limita à vida cotidiana e se relaciona ao que se percebe no dia a dia (LAKATOS; MARCONI, 2009). Ainda de acordo com Lakatos e Marconi, é falível e inexato, “pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras palavras, não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados além das percepções objetivas” (2009, p. 78). Por outro lado, o Conhecimento Filosófico “se relaciona ao saber e ao amor à Filosofia” (COSTA, 2001, p. 8). A palavra Filosofia, em sua classificação etimológica, se refere ao “amor à sabedoria”; é um conhecimento também caracterizado como valorativo, porque emerge da experiência e não da experimentação (TRUJILLO, 1974 apud LAKATOS; MARCONI, 2009). Não é verificável, pois hipóteses e/ou enunciados filosóficos não são verificáveis, não podem ser confirmados e nem refutados. Apresenta a característica de racional, pois a Filosofia trabalha com enunciados que são logicamente correlacionados; é dito como sistemático porque suas “hipóteses e enunciados visam uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade” (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 78). TÓPICO 1 | O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA 7 As mesmas autoras também caracterizam o conhecimento filosófico como infalível e exato, “já que, seja na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, seja na definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipóteses, não é submetido ao decisivo teste da observação (experimentação)”. (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 78). Quanto ao Conhecimento Religioso (Teológico), este ancora-se na fé, em doutrinas, em proposições sagradas e que são valorativas; são determinadas pelo sobrenatural, pela inspiração. São verdades que são consideradas infalíveis e indiscutíveis, pois é a fé que as determina. É um conhecimento que parte do princípio de que as “verdades” são infalíveis e indiscutíveis porque são “revelações” de divindades (sobrenaturais). Se por um lado a ciência busca através de experimentos e pesquisas comprovar fenômenos, a fé é uma ação de crença em algo divino e que por isto não se colocam dúvidas sobre seus postulados. Neste conhecimento, a pessoa fiel acredita e por isto não procura evidências/provas do fenômeno, ela as interpreta como revelação divina e como tal não emergem dúvidas. O Conhecimento Científico é produzido pelo homem, com base na realidade, sendo testável, determinado pelas regras científicas de pesquisa (ciência). Assim, a ciência, que é base para este conhecimento, tem sua origem na palavra “scire, saber, conhecer, é uma forma especial, diferenciada de conhecimento. Caracteriza-se por buscar saídas inteligentes a problemas para cuja solução não exista repertório disponível e de tal modo que fique evidente a relação de causa e efeito existente entre os elementos envolvidos no problema” (COSTA, 2001, p. 11). O conhecimento científico é real (factual), atua com fatos/fenômenos; as proposições ou hipóteses podem ser testadas para verificação se são verdadeiras ou falsas através da experiência e não somente através da razão, tal como ocorre com o conhecimento filosófico. É um saber ordenado (sistemático), integra um sistema de ideias (teoria), as mesmas não estão dispersas/desconexas; tem como uma principal característica a verificabilidade, isto é, suas hipóteses que não podem ser verificadas não são consideradas como ciência (LAKATOS; MARCONI, 2009). É falível porque não pode ser avaliado como definitivo, final ou absoluto; segundo as autoras supracitadas, pode-se afirmar que o conhecimento científico é “aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente” (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 80). UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 8 Ainda observam as autoras que, mesmo com a separação metodológica entre os tipos de conhecimento (popular, filosófico, religioso e científico), é possível que um sujeito transite entre eles; o ser humano, ao ser estudado, pode ser avaliado e ser alvo de uma série de conclusões sobre sua vida em sociedade, “baseada no senso comum ou na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando através de investigação experimental as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções; pode-se observá-lo como um ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados” (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 80). Ainda sob a mesma análise, refletem as autoras que uma mesma pessoa pode utilizar-se de todas as quatro formas de conhecimento. Exemplificam: “[...] um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum”. (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 80). O que ressaltamos, caro(a) acadêmico(a), é que cada tipo de conhecimento tem características e especificidades distintas, contudo, em se tratando de pesquisa, o conhecimento científico é o determinante, pois sua metodologia é a que permite a ciência avançar. A partir de hipóteses, dúvidas, indagações sistematizadas através de um método escolhido pelo pesquisador é possível demonstrar, verificar, analisar, interpretar, explicar e prever uma determinada realidade e/ou fenômeno e assim poder propor, alterar, complementar ou refutar conceitos (pré)estabelecidos ou (pré)determinados anteriormente. Diante do que estudamos até o momento, descreva a diferença entre o conhecimento teológico (religioso) e o conhecimento científico. AUTOATIVIDADE 3 OS DIFERENTES CAMINHOS PARA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO Como já estudado, caro acadêmico, verificamos que o conhecimento científico é metodológico e permite que a ciência evolua, avance, faz com que a humanidade aumente seu saber. Mas o que é saber? O saber está relacionado ao conhecimento. Segundo Mbarga e Fleury (2015, p. 90), saber é: “conhecer, compreender, ler ou ver, sentir, avaliar, reconhecer, considerar, analisar, praticar ou dominar”. TÓPICO 1 | O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA 9 No aspecto da teoria, os mesmos autores Mbarga e Fleury (2015, p. 90) referem que “conhecer um tema, fato ou fenômeno significa que você pode descrevê-lo visual e virtualmente, explicar como ele interage com outros objetos ao seu redor e dizer como ele influencia seu ambiente e é influenciado por ele”. A produção do conhecimento científico se efetiva a partir do exercício da curiosidade, da observação, da coleta de informações através da razão; isto levará o ser a identificar, distinguir e descrever uma determinada realidade na sua forma mais verdadeira produzindo ciência. A raiz da palavra “racionalidade” (do latim ratio) significa “cálculo”. Razão não é o mesmo que intuição,sensação, reação espontânea, emoção ou crença. A razão começa com o senso comum e se desenvolve por meio da habilidade de contar, medir, ordenar, organizar, classificar, explicar e argumentar. O discurso racional, então, é aquele que é coerente, ponderado e construído numa espécie de “cálculo” lógico, o que é bem diferente de uma opinião pessoal. Este tipo de discurso deve ser universalmente verdadeiro. A irracionalidade, porém, se recusa a estar submetida à razão. Um indivíduo irracional não segue a lógica e age segundo propósitos desordenados. Suas decisões são frequentemente incoerentes. O mundo irracional pode ser relacionado também ao mundo desconhecido, da superstição, do misticismo e do inacessível, incluindo o que acontece contra a razão. (MBARGA; FLEURY, 2015, p. 91). Assim, o uso do saber, do conhecimento científico sistematizado com um método específico levará o ser humano que é dotado de razão a “fazer ciência”. A ciência é um conhecimento sistemático, tal como a arte, contudo ambas diferem entre si. Na arte, o conhecimento é sistematizado com base “nas preferências individuais, critérios de beleza ou, se você preferir, estética e emoções” (MBARGA; FLEURY, 2015, p. 91). A sistematização está vinculada “ao esforço de produzir uma descrição verdadeira da natureza. Aqui, sistematizar significa aprofundar, pesar, medir, cronometrar, argumentar, racionalizar e construir logicamente, rejeitando o subjetivismo, deixando de lado as preferências pessoais e mantendo o sujeito fora de questão” (MBARGA; FLEURY, 2015, p. 91). As teorias são elaboradas, construídas, escritas, mas também podem ser demonstradas de forma prática em um experimento laboratorial, por exemplo, onde o fenômeno é observado e estabelecidas suas causas e efeitos. A ciência moderna se contrapõe à ciência antiga quando o estudioso deixa de lado seus valores pessoais para questionar o “porquê” das coisas e ir em busca de respostas; a ciência antiga era fortemente atrelada ao místico, à religião que usava da autoridade teológica para combater argumentos e questionamentos. No texto a seguir, você, acadêmico, poderá observar através da biografia de Galileu Galilei este atrelamento da ciência antiga à religião. UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 10 GALILEU GALILEI – UMA PEQUENA BIOGRAFIA LEITURA COMPLEMENTAR Galileu Galilei foi um dos grandes cientistas da História, tendo dado grandes contributos, nomeadamente nos campos da astronomia e da física. Suas descobertas foram verdadeiramente notáveis, tendo revolucionado a forma de se fazer ciência. Foi o primeiro a utilizar o telescópio para observações astronômicas, foi um defensor do sistema heliocêntrico, entre muitas outras contribuições. A importância de Galileu para a ciência é tal que é considerado como o pai da ciência moderna. Vamos ver uma pequena biografia de Galileu Galilei, onde são apresentados alguns dos aspetos principais de sua vida e obra. Galileu Galilei (em italiano, Galileo Galilei) nasceu em Pisa (Itália) a 15 de fevereiro de 1564. Foi o filho mais velho do músico Vincenzo Galilei e de Giulia Ammannati. Galileu viveu em Florença entre 1574 e 1581, tendo depois ingressado na Universidade de Pisa para estudar medicina. Algum tempo depois abandona os estudos de medicina para se dedicar ao estudo da matemática. Nessa mesma Universidade de Pisa, em 1589 Galileu torna-se professor de matemática. Em 1592 assume a cátedra de matemática na Universidade de Pádua, onde passou os 18 anos seguintes. Em 1609, Galileu Galilei ouviu falar de um novo instrumento que consistia em um tubo com duas lentes e que permitia ver os objetos como se eles estivessem mais próximos. Com base nessa informação, Galileu criou ele próprio o seu telescópio. Não é verdade que tenha sido ele o inventor do telescópio, mas ele terá sido o primeiro a utilizá-lo para observações astronômicas e o primeiro a publicar um livro com os resultados dessas observações. A questão de quem foi o inventor do telescópio é bastante discutível, sendo normalmente atribuído ao holandês Hans Lippershey, que em 1608 pediu a patente deste instrumento óptico. Porém é provável que também não tenha sido este holandês o inventor. Existem vários outros que são considerados como potenciais inventores do telescópio. Galileu Galilei então criou seu próprio telescópio e posteriormente o aperfeiçoou. Apesar dos telescópios que ele possuía serem bastante rudimentares TÓPICO 1 | O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA 11 e limitados, mesmo comparados com os mais simples telescópios amadores do dia de hoje, as descobertas que Galileu fez com o telescópio foram espantosas para a época. Galileu Galilei começou as suas observações em 1609, e logo em março de 1610 ele publica o resultado das suas observações na sua obra Sidereus Nuncius (Mensageiro das Estrelas). Essa obra de poucas páginas viria a ser uma das mais importantes da História da ciência. Nela, Galileu apresenta a superfície da Lua como sendo irregular, com montes e crateras; apresenta a descoberta dos quatro satélites de Júpiter, a que ele chamou de “estrelas de Médicis”; apresenta ainda a descoberta de que a Via Láctea é na realidade constituída por um enorme número de estrelas que não podem ser distinguidas a olho nu. Depois da publicação do Sidereus Nuncius, outras descobertas foram realizadas por Galileu Galilei, nomeadamente a descoberta das fases do planeta Vênus e a descoberta das manchas solares. As suas descobertas apoiavam o modelo cosmológico do heliocentrismo. O sistema heliocêntrico é aquele em que a Terra orbita em volta do Sol, e não o contrário, como se pensava naquela época. Galileu foi um forte defensor do sistema heliocêntrico, sistema esse já anteriormente defendido pelo astrônomo polaco Nicolau Copérnico. Até então o modelo cosmológico aceito na época era o geocentrismo, ou seja, a Terra está no centro do universo. Tanto o Sol como a Lua, os planetas e até as estrelas orbitam em torno da Terra. Galileu Galilei apresentou várias evidências que apoiavam o heliocentrismo. Mais tarde a defesa do heliocentrismo viria a causar problemas entre Galileu e a Igreja Católica. Em 1616, a Inquisição pronunciou-se contra a ideia de que o Sol é o centro do universo, considerando a teoria heliocêntrica como herética. Em consequência, foi proibido de falar do heliocentrismo como realidade física, mas apesar disso era permitido referir- se a este sistema como hipótese matemática. Galileu foi convocado a Roma, onde pôde expor os seus argumentos. A conclusão do Tribunal do Santo Ofício era de que não existiam provas suficientes para concluir que a Terra se movia em volta do Sol, tendo admoestado Galileu a abandonar a defesa da teoria heliocêntrica. Em 1623 entra em função o Papa Urbano VIII, amigo de Galileu e uma pessoa mais aberta a novas ideias científicas. Apesar da abertura deste novo papa, este rejeitou o pedido de Galileu de revogar o decreto de 1616 que proibia a defesa do heliocentrismo. Apesar disso, Urbano VIII encorajou Galileu a prosseguir com seus estudos sobre o heliocentrismo, porém apenas como uma hipótese matemática e não como uma realidade física. Mais tarde Galileu escreveu a sua obra “Dialogo di Galileo Galilei sopra i due Massimi Sistemi del Mondo Tolemaico e Copernicano”, por vezes referido de forma mais abreviada como “Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo” (Diálogo sobre os dois principais sistemas do mundo, em português), obra essa publicada em 1632 e que defendia o heliocentrismo. Em consequência, Galileu foi julgado e condenado à prisão e a abjurar as suas ideias. Passou seus últimos anos de vida em prisão domiciliária. Apesar disso, Galileu Galilei sempre se apresentou como cristão, defendendo a veracidade das Sagradas Escrituras. Galileu aceitava a Bíblia como UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 12 verdadeira, ele apenas estava em desacordo quanto à interpretação da Bíblia que a IgrejaCatólica fazia naquela época. Para a Igreja daquela época, o heliocentrismo estava em desacordo com a Bíblia. Galileu, que acreditava na Bíblia, não estava de acordo com essa interpretação da Igreja. Em 1638, estando Galileu cego, publicou a sua importante obra “Discorsi e Dimostrazioni Matematiche Intorno a Due Nuove Scienze” (em português, Discursos e demonstrações matemáticas sobre duas novas ciências). Para além das descobertas através do telescópio e da defesa do heliocentrismo, a obra de Galileu Galilei não fica por aqui: ele desenvolveu estudos sistemáticos sobre o movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo; descobriu a lei dos corpos em queda; enunciou o princípio da inércia, bem como o conceito de referencial inercial; inventou a balança hidrostática; inventou um tipo de compasso geométrico; inventou um termômetro que leva o seu nome, termômetro de Galileu. Galileu Galilei faleceu em Florença em 8 de janeiro de 1642. FIGURA 1 – SIDEREUS NUNCIUS – CAPA DO LIVRO PUBLICADO EM 1610 FONTE: Disponível em: <http://www.siteastronomia.com/galileu-galilei-uma-pequena- biografia>. Acesso em: 21 dez. 2015. TÓPICO 1 | O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA 13 Prezado acadêmico, iremos a seguir estudar com maior ênfase a ciência. 4 A CIÊNCIA – CONCEITOS, PARTICULARIDADES E LIMITES O termo ciência, de maneira geral, é definido como um conjunto que evolve raciocínio, método e verificação de determinado objeto e/ou fenômeno. Neste sentido, para Lakatos e Marconi (2009 apud TRUJILLO, 1974, p. 80), “[...] é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto delimitado capaz de ser submetido a verificação”. Ander Egg (1978, p. 15), de maneira análoga, define ciência como sendo “um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza”. Nos autores(as) citados evidencia-se que o que move o ser humano em direção à ciência é a sua necessidade de entender a natureza ao seu redor, compreender para além da aparência sensível dos objetos, fenômenos ou fatos. Isto significa dizer que inicialmente a percepção sensorial humana os capta de forma superficial, com valores e críticas nascidos do senso comum, mas o homem quer ir adiante, romper com a realidade imediata, descobrir, compreender e explicar o fenômeno sobre o qual se debruça e responder às indagações iniciais que sua percepção captou. Em resumo, o ser humano quer respostas para os seus “porquês”! A ciência moderna, segundo Mbarga e Fleury (2015, p. 96), sedimenta o conhecimento através da: Observação, Experimentação, Explicação e Generalização e Previsão. Os autores afirmam a necessidade de cada uma destas etapas ser rigorosamente seguida pelo(a) cientista, ou seja, por aquele(a) que busca fazer ciência. UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 14 QUADRO 1 – A CIÊNCIA MODERNA E SEUS PASSOS METODOLÓGICOS OBSERVAÇÃO Observação rigorosa EXPERIMENTAÇÃO Aferição experimental cuidadosa dos fatos EXPLICAÇÃO Ao explicar o cientista deve: GENERALIZAÇÃO E PREVISÃO Quando um certo nº de fatos verificados é descoberto, deve- se prosseguir para a generalização ou indução. Observar cuidadosamente os fatos; Deixar de lado opiniões pessoais; Abandonar especulações e conhecimentos prévios; Abandonar crenças, preconceitos, expectativas e paixões; Abandonar expressões de autoridade; Formular perguntas lógicas; Propor hipóteses. As observações devem ser repetidas em diferentes situações por diferentes pessoas; Os resultados devem ser vitoriosos sobre a ignorância sem se submeter à autoridade; As relações inequívocas entre causa e efeito devem ser demonstradas; Os resultados devem ter uma confirmação clara, sem ambiguidades da verdade; Os resultados devem oferecer uma validação verdadeira e isenta de ilusões. Discutir as observações prévias, contraditórias, se houver; Demonstrar relações entre as novas observações e as observações prévias; Explicar por que certa causa tem determinado efeito; Certificar-se de que não há falhas em seu argumento. Generalizar as observações; Aceitar que os fatos demonstrados descrevem a realidade; Estabelecer leis e teorias válidas para situações semelhantes; Predizer a evolução e o futuro estado e forma dos fatos e de suas relações. FONTE: Adaptado de: Mbarga e Fleury (2015, p. 96) Caro acadêmico, pelo que estudamos, você deve ter observado que em ciência não há espaço para o “eu acho”, opiniões do senso comum do dia a dia sem sistematização com a teoria; toda e qualquer nova proposição deve ser observada, testada, experimentada para ser validada e ser generalizada para fatos ou fenômenos similares. TÓPICO 1 | O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA 15 A ciência é fascinante, contudo, é difícil e exige do pesquisador muito estudo, empenho e dedicação. Mbarga e Fleury (2015, p. 97) refletem que no mundo de hoje, o conhecimento “[...] chega mais perto da verdade e pode ser usado para transformar a realidade de tal maneira que foi capaz de moldar o mundo moderno. De forma espetacular, a ciência remodelou a saúde, as comunicações, as moradias, a energia, a agricultura, a guerra e a própria vida”. Há disputa de poder na ciência, há no mundo moderno a preocupação com o limite da ciência, se ela revolucionou a vida humana para o bem, há a possibilidade de ser usada para o mal... Por exemplo, a radioatividade: ao mesmo tempo em que partículas radioativas são utilizadas para o tratamento de variados tipos de câncer, podem ser utilizadas também em armas químicas, bombas, em guerras para a destruição em massa, para controle geopolítico sobre nações e populações vulneráveis... Embora pareça se insinuar por todos os cantos e deter poderes que antes eram privilégios dos deuses, a ciência não é uma religião e os cientistas não são sacerdotes de uma seita. A grande e dispendiosa infraestrutura que a ciência requer parece tê-la tornado exclusiva de alguns países, mas os cientistas não pertencem a raça, sexo, idade, religião, cor de pele ou classe social determinados. Mesmo que a ciência busque a verdade, os resultados científicos não são verdades definitivas nem nada parecido com mandamentos divinos; os cientistas estão sempre questionando e nunca ficam satisfeitos com sua própria verdade. Além disso, a publicação de resultados é sempre um convite para que outros pesquisadores verifiquem sua precisão. Como um esforço humano, a ciência tem suas fraquezas. Erros, mesmo fraudes, acontecem. Algumas experiências são compradas e seus resultados, fabricados. É um mundo com sua parcela de rivalidades, ambições, ilusões e truques sujos, sobretudo em relação a quem foi o primeiro a inventar isso ou aquilo. Mas a força única da ciência – e que a distingue – é a sua habilidade de rastrear erros e corrigi-los com experimentos extras (MBARGA; FLEURY, 2015, p. 97). Toda ação científica deve ser norteada por princípios éticos de não provocar malefícios, deve visar sempre a preservação da vida no planeta, desde as mais simples às mais complexas formas de vida, visto que o planeta é um sistema interdependente onde os elementos terra, ar e água são determinantes para a preservação da vida. 5 A CIÊNCIA COMO ÂNCORA PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Como já estudado, a racionalidade humana aliada à curiosidade e/ou busca por explicação para os fenômenos que o cercam, move o homem à procura de respostas; esta procura o impulsiona a sair do seu cotidiano, seus valores, do senso comum, em busca de um conhecimento sistematizado (conceitos, hipóteses, definições...) isto é, o conhecimento científico e que produz ciência. UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 16 A realidade percebida a partir de um olhar científico tem um princípio explicativo, serve como base para compreendermos toda a cadeia de relaçõesque está além da aparência dos fenômenos, nos leva a entender o tipo de relação que há entre os fenômenos, fatos e/ou coisas, ampliando a visão humana sobre o mundo. “[...] Estima-se que na primeira década deste século tenham sido produzidos mais conteúdos e dados novos do que em toda a história anterior da humanidade. Diante de tal sobrecarga, é natural a sensação de que os fatos negativos são os mais frequentes e que o mundo é um lugar cada vez pior para viver [...]” (PAULI, 2015, p. 113). Lideranças políticas, intelectuais e religiosas de expressão mundial discutem conjuntamente os limites da ciência; há acordos internacionais, como o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), que inibem o mau uso da ciência, aquele que traz malefícios para a vida. DICAS Para saber mais sobre este acordo, consulte: <http://www.infoescola.com/ geografia/tratado-de-nao-proliferacao-de-armas-nucleares/> e <https://pt.wikipedia.org/ wiki/Tratado_de_N%C3%A3o_Prolifera%C3%A7%C3%A3o_de_Armas_Nucleares>. Prossegue Pauli (2015, p. 113) em sua análise: A dificuldade de se desfazer de convicções pessoais contribui para a ansiedade causada pela mudança constante dos fatos, especialmente os científicos. Quando uma pessoa adquire um conhecimento e se convence de que ele é verdadeiro (por exemplo, de que um ovo faz mal à saúde), provoca-lhe incerteza receber a informação oposta. Contra isso, é preciso compreender que a produção de conhecimento é um processo contínuo. Há fatos que mudam rapidamente, como a previsão do tempo, e outros que são mais perenes, como o número de continentes no planeta. As mudanças mais difíceis de assimilar são aquelas que levam meses ou anos, no intervalo de tempo de uma vida humana, para ocorrer. A ciência atua diretamente para a ampliação do saber, para o progresso, enfim, para o avanço da tecnologia que traz inúmeras melhorias para a humanidade. Mas, como já exposto, ela também pode ser utilizada para fins não pacíficos; há um expressivo número de informações na atualidade que confundem o indivíduo norteado pelo senso comum. Para fins teóricos e acadêmicos e diante do amplo espectro de fenômenos que podem ser estudados, a ciência se apresenta com peculiaridades, especificidades, TÓPICO 1 | O CONHECIMENTO DA REALIDADE E A CIÊNCIA 17 assim, é classificada de acordo com seu “objeto ou tema, diferenças de enunciados e metodologia empregada” (LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 81). QUADRO 2 – CLASSIFICAÇÃO E DIVISÃO DA CIÊNCIA Ciência Formais Lógica Matemática Factuais Naturais Física Química Biologia e outras Sociais Antropologia Cultural Direito Economia Política Psicologia Social Sociologia FONTE: Adaptado de: Lakatos e Marconi (2009, p. 81) Caro acadêmico! O Serviço Social se insere no contexto das ciências sociais; no decorrer dos estudos desta disciplina de Pesquisa Social iremos aprofundar os conhecimentos nesta área da ciência. NOTA O que é Empírico? Empírico é um fato que se apoia somente em experiências vividas, na observação de coisas, e não em teorias e métodos científicos. Empírico é aquele conhecimento adquirido durante toda a vida, no dia a dia, que não tem comprovação científica nenhuma. Método empírico é um método feito através de tentativas e erros, é caracterizado pelo senso comum, e cada um compreende à sua maneira. O método empírico gera aprendizado, uma vez que aprendemos fatos através das experiências vividas e presenciadas, para obter conclusões. O conhecimento empírico é muitas vezes superficial, sensitivo e subjetivo. O conhecimento empírico ou senso comum é o conhecimento baseado em uma experiência vulgar ou imediata, não metódica e que não foi interpretada e organizada de forma racional. Empírico também é o nome designado para aquele indivíduo que promete curar doenças, sem noções científicas, uma espécie de curandeiro, que, na verdade, é um charlatão. É por esse motivo que o antônimo de empírico é “rigoroso”, “preciso” ou “exato”. FONTE: Disponível em: <http://www.significados.com.br/empirico/>. Acesso em 7 jan. 2016. 18 Neste tópico estudamos sobre o conhecimento da realidade e a ciência, assim podemos destacar: • De maneira exata não se pode afirmar onde se iniciou a produção do conhecimento e qual foi a primeira pessoa a significá-lo, contudo a tradição do Ocidente marca a Grécia como o locus deste primeiro momento. Na história grega, pensadores como Sócrates (470 a 399 a.C.), Platão (427 a 347 a.C.) e Aristóteles (384 a 322 a.C.) se destacaram, deixando seu legado para a humanidade. • O processo de conhecimento é uma ação transformadora, muda a natureza porque transforma o ser que a vivencia, uma vez que o mesmo se torna produtor de conhecimento. • Lakatos e Marconi (2009, p. 77) elencam os quatro tipos de conhecimento com base nos estudos de Trujillo (1974): Conhecimento Popular, Conhecimento Filosófico, Conhecimento Religioso (Teológico) e Conhecimento Científico. • A produção do conhecimento científico se efetiva a partir do exercício da curiosidade, da observação, da coleta de informações através da razão; isto levará o ser a identificar, distinguir e descrever uma determinada realidade na sua forma mais verdadeira produzindo ciência. • A ciência moderna se contrapõe à ciência antiga quando o estudioso deixa de lado seus valores pessoais para questionar o “porquê” das coisas e ir em busca de respostas; a ciência antiga era fortemente atrelada ao místico, à religião que usava da autoridade teológica para combater argumentos e questionamentos. • A ciência moderna, segundo Mbarga e Fleury (2015, p. 96), sedimenta o conhecimento através da: Observação, Experimentação, Explicação e Generalização e Previsão. • Toda ação científica deve ser norteada por princípios éticos de não provocar malefícios, deve visar sempre a preservação da vida no planeta, desde as mais simples às mais complexas formas de vida, visto que o planeta é um sistema interdependente, onde os elementos terra, ar e água são determinantes para a preservação da vida. RESUMO DO TÓPICO 1 19 1 De forma breve, descreva como ocorre o conhecimento racional e sua contribuição para o avanço da ciência. 2 Como visto, a ciência pode ser benéfica ou maléfica. Descreva como isto é possível e exemplifique. 3 Disserte brevemente sobre a Ética na ciência, ressaltando sua importância. AUTOATIVIDADE 20 21 TÓPICO 2 A PESQUISA: CONCEITOS E FINALIDADES UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Dando continuidade aos nossos estudos, iremos abordar a pesquisa em seu plano teórico, seus conceitos e finalidades. Ressaltamos, caros acadêmicos, a importância deste tema para o coletivo do Serviço Social, que nos últimos anos, com base na Lei de Regulamentação da Profissão (Lei nº 8.662/93), investe na formação e na qualificação continuada dos profissionais. Objetiva com isto firmar uma dimensão de intervenção voltada tecnicamente também para a sistematização de estudos e pesquisas que evidenciem as reais condições e as demandas da população brasileira com vistas à formulação, implementação e monitoramento das políticas sociais destinadas aos cidadãos nas suas singularidades e nos diferentes estágios do ciclo de vida. Uma pesquisa social com este objetivo e efetivada em consonância com o rigor metodológico retrata as reais condições e necessidades dos indivíduos, famílias e/ou grupos e pode subsidiar técnicos e gestores para a melhoria na qualidade, efetividade e/ou ampliação da oferta de serviços sociais. 2 CONCEITOS A palavra pesquisa tem origem no termo latino “perquerire” - “procurar com perseverança”. (Disponível em: <http://www.significados.com.br/pesquisa/>. Acesso em 28 dez. 2015). Neste sentido, pode-se afirmar que a pesquisa é um conjunto de ações e procedimentos que conduzem a novas descobertas e amplia os conhecimentos sobre determinado tema/área. UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 22 Entendendo, de acordo com Gil (1995) e Minayo (2007), o conhecimento como emergente da curiosidade,da inquietação, da inteligência e da capacidade investigativa dos indivíduos, bem como da possibilidade de confirmação ou não de algo já elaborado e sistematizado sobre a realidade social, entende-se também, como eles, que o ato de pesquisar é algo privilegiado. Privilegiado, sim, pois reúne o pensamento e a ação de uma pessoa ou grupos num esforço para elaborar o conhecimento de diferentes ângulos e aspectos do real. Além disso, destaca-se que a pesquisa, como ato humano e social, está envolta em valores, crenças, preferências, interesses e princípios do pesquisador. Sua visão de mundo, os pontos de partida, os fundamentos que orientam sua mente norteiam a sua trajetória e isso permite reafirmar que a ciência não é neutra. O pesquisador é justamente o elemento inteligente e ativo entre o conhecimento acumulado sobre determinado tema e as novas evidências sistematizadas no novo ato de pesquisa (GERBER, 2009, p. 11). O(a) pesquisador(a) tanto pode dirigir seu foco para investigar uma área do conhecimento pouco estudada, isto é, parte de dúvidas ou indagações que ao longo do seu estudo poderão ser comprovadas ou refutadas, como também pode ampliar os conhecimentos sobre um determinado fenômeno/fato anteriormente já estudado, mas que ainda apresenta possibilidades de ter seu leque de conhecimentos ampliado ou mesmo aprimorado, como uma ideia e/ ou bem de consumo. FIGURA 2 – A PESQUISA FONTE: Disponível em: <http://www.farmaceuticas.com.br/beneficios-e-efeitos-colaterais- goji-berry/>. Acesso em: 10 jan. 2016. É necessário ressaltar que a pesquisa social sofre inúmeras influências no seu campo de estudo, a sociedade e as relações sociais não são estáticas, estão em constante movimento, e isto reflete na pesquisa. Assim, o(a) pesquisador(a) deve estar atento(a) a estas influências externas. Aglair Setúbal chama atenção sobre isto: TÓPICO 2 | A PESQUISA: CONCEITOS E FINALIDADES 23 [...] Desse modo fica evidenciado que, para nós, é imanente ao conhecimento o caráter social que tem, por sua vez, as experiências sociais como base. Experiências que pelo trabalho, cultura, lazer e política viabilizam a transformação do homem; homem que na concretização das suas experiências sociais faz a história; história que representa as experiências sociais, que se constrói pela ação, que clarifica, que interpreta e que instrumentaliza o processo de reintegração do homem numa realidade concreta; realidade concreta que é apreendida, analisada e explicitada nas suas múltiplas determinações por meio do conhecimento científico, conhecimento que representa formas de se expressar do homem e da sociedade no mundo das artes, da política e do trabalho; trabalho que nem sempre representa o desejo do homem, mas que o transforma (SETÚBAL, 2013, p. 31). A pesquisa científica envolve um procedimento sistemático e intenso para explorar e inquirir em busca de descobertas e explicações que levam à compreensão de fenômenos em um determinado contexto histórico, social ou econômico. Neste sentido, ela contribui para otimizar recursos humanos, materiais e naturais; racionalizando a produção de produtos (bens), para implementar serviços ou mesmo na descoberta de novos elementos que irão incidir para a melhoria da vida humana e animal. A pesquisa enquanto proposta teórica é alvo de estudos e conceitos de diferentes estudiosos. Assim, observa-se que para Ander-Egg (1978 apud LAKATOS; MARCONI, 2009, p. 157) ela é um “procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento”. Evidenciam-se a sistematização, o controle e a crítica como elementos- chave para uma pesquisa produzir teorias e conhecimento. Para Barros e Lehfeld (2010, p. 30), a pesquisa é definida como “uma maneira de se estudar um determinado objeto, sendo ela sistemática e realizada visando a incorporação dos resultados alcançados aos níveis de conhecimento obtidos. Considera-se que nada se faz sem auxílio da pesquisa”. A afirmação de que a pesquisa é sistemática, racional e visa resposta/ resultados também é evidenciada nos estudos de Gil (2000, p. 41): “pesquisa consiste num procedimento racional e sistemático que visa encontrar respostas aos problemas que são propostos”. Desta maneira, como já exposto, a pesquisa traz respostas, soluciona problemas, traz esclarecimentos, novos saberes e técnicas... muda o mundo! Importante frisar esta característica: a partir de indagações/dúvidas, de forma racional e sistemática, o pesquisador encontra respostas e estas podem trazer melhorias para a vida cotidiana. UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 24 Nesta perspectiva está o alcance social da pesquisa, o retorno dos resultados à sociedade que sob a forma de impostos financia a pesquisa em instituições governamentais e deve ser a demandatária dos resultados; contudo, a neutralidade se evidencia como difícil concretização, porque o(a) pesquisador(a) tem suas crenças e valores que interferem na sua análise. Por isso é que consideramos ingênua a concepção que tenta abstrair a pesquisa das influências socioculturais e históricas do pesquisador e objeto, para cerrá-la num gueto científico dotado de esplendorosa beleza e de pureza imaculada. Felizmente, essa não é a maneira de ver da quase totalidade dos nossos sujeitos, o que nos leva a admitir que no Serviço Social não só vem ocorrendo a expansão quantitativa de pesquisas, mas que esse, à medida que se transforma como profissão inserida num mercado de trabalho, redimensiona a sua própria maneira de ver a pesquisa e passa qualitativamente a ter com esse processo uma relação mais íntima e, consequentemente, mais comprometida com a produção de conhecimento (SETÚBAL, 2013, p. 77). Cabe ressaltar que não estamos, aqui, nos referindo a uma pesquisa “sob controle, sob encomenda” para atender a interesses particulares e/ou políticos, e sim que a pesquisa deve, quando financiada por recursos públicos, dar um retorno à sociedade, sob a forma de melhoria de serviços, maior qualificação dos técnicos, ampliação da autoridade dos centros de pesquisas e universidades, entre outros. TÓPICO 2 | A PESQUISA: CONCEITOS E FINALIDADES 25 LEITURA COMPLEMENTAR FAZER CIÊNCIA: QUAL A SUA FUNÇÃO SOCIAL? Maria Estela Vidoretti Conta-se a lenda de que o famoso matemático inglês Michael Atiyah resolveu explicar para sua mãe a natureza de suas atividades. Depois de ter ouvido atentamente as explicações do filho, a boa senhora teria dito: “Acho que entendi o que você faz, mas diga-me uma coisa, filho: por que pagam você para isso?”. A pergunta que, segundo a anedota, a senhora Atiyah teria feito ao seu filho, infelizmente também é feita com frequência por muitos administradores públicos e pela sociedade em geral, e se refere à pertinência de se investirem recursos públicos na pesquisa científica e tecnológica em quaisquer países, sobretudo aqueles em desenvolvimento, como o Brasil – que, como se sabe, apresenta muitas carências sociais. Fazer ciência proporciona aos povos que participam, de fato, de seu desenvolvimento, uma melhor qualidade de vida, além da capacidade de superação econômica em relação aos povos que lideram os avanços tecnológicos. No entanto, criar uma cultura científica exige grandes investimentos em educação e cultura, o que é dificultado pela carência que essas sociedades em desenvolvimento apresentam para gerar riquezas sem o insumo principal para isso: o conhecimento. Sim, temos aqui um círculo vicioso! Fazer ciência não significa ter alguns grandes cientistas, tampouco laboratórios abarrotados de espectrômetros, telescópios, computadores e outros equipamentos. Para construir um país com ciência é fundamental que a educação seja universal, obrigatória e de qualidade e que a sociedade cresça em meio à concepção de que a ciência, bem como os seus produtos, gera bem-estar e progresso. Veja, por exemplo: vozes da sociedadeque bradam a necessidade da apropriação do saber têm a capacidade de impedir que o poder central sufoque economicamente nossas universidades, que são, hoje, os locais de maior concentração de pesquisadores de alto nível. Fazer ciência é, sobretudo, investir em educação e cultura, de modo que a promoção do crescimento econômico resultante seja capaz de reduzir a desigualdade social e promover o desenvolvimento do país. Apesar de muitos de nossos problemas sociais poderem ser resolvidos com saneamento básico, alimentação e interesse político, o século XXI nos desafia com os dramas das doenças emergentes, dos micro-organismos resistentes a fármacos, das doenças degenerativas e das múltiplas implicações da terapia gênica. Diante desse cenário, cabe a pergunta: “Que tipo de pesquisa devemos realizar?” Esse questionamento deriva do fato de que, embora o Brasil possua um conjunto expressivo de pesquisadores de bom nível e um investimento elevado UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 26 no financiamento à pesquisa – levando em conta sua realidade social –, a ciência e a mentalidade científica ainda não estão incorporadas de maneira plena e eficaz em nossa sociedade. Inseridos nesse contexto, é necessário realizarmos uma avaliação crítica sobre os “porquês” de produzirmos ciência, no sentido de não apenas compreendermos o seu significado humanístico – que sustenta a nobreza da busca pelo conhecimento – e pragmático – que revela que a pesquisa é a base da inovação, essencial para a geração de riquezas, como também de repensarmos a função social da ciência num país repleto de problemas sociais como o nosso. FONTE: Disponível em: <http://caez.org.br/fazer-ciencia-funcao-social/>. Acesso em 10 jan. 2016. 1 Defina com suas palavras o que é pesquisa. 2 Como você explica a expressão: alcance social da pesquisa? 3 Discuta com seus colegas, em pequenos grupos, possíveis temas de pesquisa que envolvam usuários dos serviços sociais nos diferentes estágios do ciclo da vida humana. AUTOATIVIDADE 3 FINALIDADES DA PESQUISA A pesquisa por si só não existe, para tal ela necessita que um ser (pesquisador) que, sob o uso racional de recursos, empreenda uma pesquisa. Assim, são variadas as razões que motivam um(a) pesquisador(a), contudo, é reconhecido no meio científico que a pesquisa deve estar voltada para o benefício da sociedade. UNI “Produzir um conhecimento novo e inseri-lo no dia a dia da sociedade em prol da vida, da liberdade e da democracia. Esse deve ser o objetivo da pesquisa científica, que não pode prescindir do rigor na coleta de dados e no cruzamento dessas informações com as teorias disponíveis em determinada área de estudo”. FONTE: Disponível em: <http://noticias.pucgoias.edu.br/index.php/component/k2/item/2844- debate-sobre-fun%C3%A7%C3%A3o-social-da-pesquisa-abre-encontro-cient%C3%ADfico>. Acesso em: 29 dez. 2015. TÓPICO 2 | A PESQUISA: CONCEITOS E FINALIDADES 27 De maneira geral, os(as) pesquisadores(as) são motivados para satisfazer o desejo de adquirir conhecimentos, sem que haja necessariamente uma aplicação prática para os resultados, como é o caso da Pesquisa Pura (Pesquisa Básica); “o desejo de conhecer pela própria satisfação de conhecer” (GIL, 2000, p. 45). Ou “o desejo de conhecer com vistas a fazer algo de maneira mais eficiente e eficaz” (GIL, 2000, p. 45), sendo estimulados a contribuir com os conhecimentos adquiridos que podem ser utilizados para a aplicação prática voltada para a solução de problemas concretos da vida cotidiana moderna. Neste caso, é denominada de Pesquisa Aplicada. NOTA Pesquisa Básica X Pesquisa Aplicada [...] As pesquisas, de modo geral, podem ser classificadas também em função de objetivos (para que serve?) e de recursos (o que será usado?). Em função dos objetivos, podem ser básicas (puras) ou aplicadas. Uma pesquisa é básica (pura) quando busca produzir ou ampliar conhecimentos teóricos ligados a alguma área ou tema de interesse. Como o próprio nome sugere, a pesquisa básica não se propõe a resolver nenhum problema específico. A pesquisa aplicada, por seu turno, utiliza-se de teorias já existentes e busca solucionar problemas específicos. Cumpre lembrar que existe uma modalidade de investigação que, embora se pareça com pesquisa aplicada, às vezes, é mera prestação de serviço (LUNA, 1996). Na prestação de serviço sempre existe um cliente. O pesquisador está buscando resolver um problema do cliente. Já na pesquisa aplicada (também poderia ser básica), o interesse está centrado na produção de conhecimento novo. Assim, na pesquisa propriamente dita, é como se o cliente fosse o próprio pesquisador. Nada impede, evidentemente, que uma investigação esteja situada na interseção desses objetivos: produzir conhecimento novo e resolver um problema específico (de alguém). FONTE: Costa (2001, p. 33) Definir a finalidade da pesquisa, auxilia o(a) pesquisador(a) a argumentar para terceiros como planeja realizar seu estudo, e isto em termos metodológicos é exposto no Projeto de Pesquisa; que se constitui em “um exercício pedagógico” que deve ser iniciado na graduação. Na UNIASSELVI, você, acadêmico, vivencia esta aproximação com a prática da pesquisa na disciplina de Seminário Interdisciplinar. UNIDADE 1 | A PESQUISA E SUAS PARTICULARIDADES 28 NOTA O projeto de pesquisa e sua finalidade José Artur Teixeira Gonçalves O projeto de pesquisa é um planejamento elaborado pelo pesquisador antes do início de uma investigação científica. Mesmo a pesquisa sendo um processo dialético, não se pode dispensar a sistematização prévia do que se pretende fazer, de como proceder e a que resultados se espera chegar. Dificilmente se terá êxito em uma pesquisa cuja coleta de dados seja feita de forma assistemática e sem um norteamento teórico-metodológico. A finalidade científica do projeto, então, é esclarecer ao próprio pesquisador as questões que ele pretende enfrentar e quais as estratégias de que lançará mão para surpreendê-las. Além do caráter de planejamento prévio de uma pesquisa - antecedendo a elaboração de teses e trabalhos de conclusão de curso -, o projeto tem outras finalidades, que podemos chamar de institucionais. Em geral, os cursos de graduação exigem que os estudantes apresentem um projeto ou pré- projeto de pesquisa antes da elaboração da monografia final. É uma forma de se avaliar se o caminho adotado pelo aluno poderá surtir os efeitos esperados, auxiliando-o na formulação/ construção de um objeto de investigação. Cursos de pós-graduação também solicitam dos candidatos projetos de pesquisa. São várias razões: verificar a pertinência do projeto na linha de pesquisa do programa; analisar a exequibilidade do projeto (ou seja, se o candidato conseguirá dar conta do que está se propondo); verificar o manejo do candidato de conceitos, teorias e metodologias. As instituições de pesquisa - tais como o CNPq - também exigem a apresentação de projetos de pesquisa pelos mesmos motivos expostos acima, visando avaliar também se o projeto se enquadra nas linhas de financiamento e se o mesmo apresenta relevância científica e social para ser fomentado através de uma bolsa de estudos. Como vimos, a finalidade do projeto de pesquisa é dupla: científica e institucional. Desta forma, sua produção deve ser rigorosa, atendendo tanto às exigências da própria pesquisa, bem como das instituições nas quais ela se insere. FONTE: Disponível em: <http://metodologiadapesquisa.blogspot.com.br/2008/07/o-projeto- de-pesquisa-e-sua-finalidade.html>. Acesso em: 29 dez. 2015. TÓPICO 2 | A PESQUISA: CONCEITOS E FINALIDADES 29 4 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA Para efetivar uma pesquisa é necessário confrontar dados, evidências, informações existentes sobre um determinado tema e o conhecimento teórico acumulado anteriormente sobre este mesmo assunto. Assim, o(a) pesquisador(a) poderá construir uma porção do saber, uma vez que a totalidade é impossível de ser agrupada. Neste sentido,
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