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JORNALISMO ESPECIALIZADO Fernando Lopes da Silva Conceitos de jornalismo especializado Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o que é jornalismo especializado. Apresentar as principais editorias de um veículo de informação. Definir as principais áreas de atuação da grande mídia e de veículos especializados. Introdução Ao avistar as manchetes que estampam as capas dos jornais ou, ainda, ao ouvir a escalada de um telejornal e de um radiojornal (aberturas dos programas com as chamadas principais), o público se depara com várias notícias sobre diferentes temas, que tratam desde o mercado de ações da bolsa de valores até os gols da rodada do campeonato estadual ou o começo de uma campanha de vacinação. O grande desafio da atividade jornalística, antes mesmo da apuração da informação e do seu relato preciso, é a escolha do que é notícia e do que desperta o interesse do público. Essas escolhas ocorrem no momento que antecede a produção e a elaboração da matéria jornalística. Afinal, o primeiro passo dentro de uma redação é a definição da pauta, ou seja, a percepção de quais assuntos são de interesse público e qual será a cobertura jornalística na edição diária. É importante ressaltar que a audiência do noticiário é composta por pessoas com diferentes linhas de interesse. Embora a economia interfira na vida de todos os cidadãos, parte do público acompanha mais de perto os índices diários da inflação, ainda que esses índices influenciem nos preços praticados por um supermercado e nos hábitos de consumo de toda a população. Mesmo que a matéria jornalística seja elaborada CMEI DOM ANTONIO Máquina de escrever Queda das exportações para acesso de milhares ou milhões de pessoas, essas pessoas têm não apenas interesses comuns, como também possuem interesses particulares e escolhas pessoais. Assim, parte do público acompanha as notícias de determinado assunto com mais atenção, enquanto outras pessoas dão atenção superficial a outros temas, como o interesse por notícias sobre as partidas de futebol, a estreia de um filme nos cinemas ou o mercado de automóveis no país. Certamente, é importante para o jornalismo convergir diversos as- suntos dentro de um noticiário e, ao convergir os conteúdos, conciliar linhas de relevância comuns a todas as pessoas com os temas que são relevantes para parte do público. Afinal, a especialização dos conteúdos jornalísticos decorre dessas linhas de interesses específicos. Neste ca- pítulo, você vai conhecer os conceitos que fundamentam o jornalismo especializado, identificando as principais editorias presentes nos veículos de comunicação e explorando as principais áreas de atuação da grande mídia e de veículos especializados. 1 Definição de jornalismo especializado O jornalismo especializado surge da atenção dispensada na imprensa a temas e assuntos específi cos. A especialização de conteúdos decorre da necessidade de aprofundar conhecimentos característicos a uma área do saber e, assim, transmitir satisfatoriamente a matéria jornalística para o público. O jornalista Juarez Bahia observa que enquanto a apresentação da notícia tradicional e generalista convenciona abordagens de interesse coletivo, o jornalismo especializado seleciona o tema e amplia sua perspectiva, acompanhando as mudanças sociais, o surgimento de novas tecnologias, a evolução dos meios de comunicação e as novas perspectivas culturais e científi cas na denominada sociedade da informação (BAHIA, 2009). Logo, é possível conceber o jornalismo especializado como propensão a aperfeiçoar as técnicas de reportar os assuntos, concedendo a eles maior profundidade e atendendo às necessidades sociais. Naturalmente, os conteúdos especializados se relacionam com as características do público que, cada vez mais, se reúne em torno de manifestações identitárias comuns e se organiza em segmentos mercadológicos. Em relação aos interesses sociais comuns, é válido ressaltar na contem- poraneidade as comunidades organizadas em redes digitais. No ciberespaço, é possível observar a reunião de internautas em torno de temas específicos e Conceitos de jornalismo especializado2 as hashtags (#) interligando internautas que estão se expressando com men- sagens a respeito de um mesmo assunto. Nas redes sociais, as comunidades virtuais apresentam conteúdos específicos sobre saúde, artes, empregabilidade, modalidades esportivas, meio ambiente, entre outros. Os participantes dessas comunidades se apresentam como especialistas sobre os temas que despertam o seu interesse, portanto, os conteúdos veiculados nas redes são cada vez mais especializados e requerem habilidades interpretativas do emissor e do receptor das textualidades. No que se refere aos segmentos do mercado, ainda que o mercado finan- ceiro relacione variadas cadeias produtivas (agricultura, pecuária, indústria, combustíveis, saúde, bens e serviços, etc.), é perceptível a organização de várias pessoas em torno de temas específicos que representam suas áreas de interesse, de atuação e de consumo. Assim, surgem produções de conteúdos direcionados a públicos-alvo determinados, isto é, publicações que tratam de tecnologia, produção do homem do campo, turismo, automóveis, beleza, inovações científicas, entre outros assuntos. A partir desse contexto, a pesquisadora Ana Carolina de Araújo Abiahy assinala a segmentação como processo de diferenciação de produtos e conteú- dos jornalísticos, assim como observa o agrupamento do público em torno de objetos de interesse comum (ABIAHY, 2005). Esses eventos contextualizam o aumento da produção jornalística especializada: Nestes tempos de desintegração das ideologias e da ruptura com um projeto de modernidade que pregava a unidade (produções padronizadas), o jornalis- mo especializado demonstra uma mudança dos paradigmas informacionais. Na medida em que diferenças e divergências foram afrouxando os laços da coletividade, os indivíduos foram se fechando em seus interesses particulares e constatamos hoje o quanto a comunidade encontra-se dividida em nichos os mais diversos (ABIAHY, 2005, documento on-line). Esses nichos são facilmente identificáveis na estrutura do próprio jornal impresso, que é dividido em cadernos a respeito de política, economia, cul- tura, esportes, entre outros temas. Com relação aos meios digitais, há seções voltadas para esses mesmos temas, que são acessíveis ao internauta nos portais de notícias, permitindo que ele navegue pelas notícias e temas que são de seu interesse. As emissoras de rádio e de televisão, por sua vez, também hierar- quizam e organizam seus conteúdos durante a edição do noticiário, bem como produzem programas sobre temas específicos, como, por exemplo, o Globo Esporte, noticiário diário televisivo que traz reportagens sobre as principais modalidades esportivas. 3Conceitos de jornalismo especializado O jornalismo especializado está presente em diferentes conteúdos jor- nalísticos apresentados na imprensa, em torno de editorias e de seções dos periódicos impressos diários ou, ainda, em produtos jornalísticos específicos voltados para determinados públicos. Essas possibilidades de especialização dos conteúdos jornalísticos serão apresentadas a seguir. Especialização dos conteúdos jornalísticos De acordo com o jornalista Nilson Lage, atualmente, as pessoas estão inseridas em diferentes ambientes e situações, por exemplo, dentro de casa, trafegando nas ruas, trabalhando, estudando, ou seja, convivendo e se relacionando com pessoas, com mais ou menos afi nidade (LAGE, 2005). Desse cenário cotidiano, parte do que não é testemunhado presencialmente é acessada por meio das notícias veiculadas diariamente nos telejornais, radiojornais, nos impressos ou na internet. Portanto, independentemente do meio de comunicação, as textualidades e imagens publicadas na imprensa não apenas informam sobre variados assuntos, tornando oseventos de conhecimento comum, mas também relativizam as distâncias do público, que fica sabendo o que se passa em diferentes localidades, por meio dessas narrativas. Observe a capa do jornal Folha de São Paulo, publicada no dia 11 de janeiro de 2020. As manchetes se referem a vários temas e diferentes localidades, desde a inflação alta no Brasil, referindo-se à política e à economia nacional, até a economia internacional, noticiando os embargos e as punições financeiras dos Estados Unidos com o Irã. Ainda é possível avistar nas manchetes dessa edição a violência no Rio de Janeiro, as articulações políticas em São Paulo, o cenário cultural dos quadrinhos se destacando no mercado editorial e a devolução dos valores excedentes de seguros em todo o território nacional. Logo, a edição de um jornal diário inevitavelmente contempla variados temas factuais, que são referentes a diversas localidades, têm efeito social e despertam o interesse público. Conceitos de jornalismo especializado4 A cobertura do atentado de 11 de setembro de 2001 ilustra bem a relativiza- ção das distâncias geográficas promovida pela cobertura jornalística. Milhões de pessoas em todo o mundo assistiram atônitas ao World Trade Center em chamas, por meio de imagens exibidas ao vivo em várias emissoras de televisão. Outras pessoas acompanharam, inúmeras vezes, a reprodução das imagens do avião se chocando com uma das torres gêmeas, já que as sequências das imagens estão disponíveis na internet e as fotos foram impressas em várias revistas e jornais. Fonte: Folha de São Paulo (2020, documento on-line). 5Conceitos de jornalismo especializado Além de eventos inesperados, que ocorrem em diferentes localidades, há também a cobertura de acontecimentos previstos e com preparação técnica para serem exibidos ao público. Por exemplo, os torcedores assistem em suas casas os lances de uma partida de futebol, no noticiário, sem para isso ter de ir ao estádio, ou, ainda, acompanham as coberturas do futebol ao vivo no rádio, na televisão ou pela internet. O volume de informações da mídia à disposição do público, independen- temente das distâncias geográficas em que os fatos aconteceram, favorece o acesso das pessoas aos assuntos globais de interesse comum e que têm impacto social na vida de todos. Mantendo o exemplo da cobertura jornalística desencadeada pelo atentado de 11 de setembro de 2001, é possível observar as ações antiterroristas deflagradas em outros países, o concerto musical em prol das vítimas em Nova Iorque, os efeitos sociais e econômicos do atentado, que são situações que denotam como uma ação local interfere na vida de pessoas de diferentes lugares e agenda coberturas jornalísticas abordando variados temas em torno de um acontecimento central. Em vista desses encadeamentos temáticos, é importante ressaltar que os desdobramentos das notícias em torno de temas podem vir a despertar mais ou menos atenção da audiência de um jornal, o que depende das linhas de interesse das pessoas. Assim, a cobertura de uma partida de futebol da Copa do Mundo pode conectar inúmeros amantes dessa modalidade esportiva, mas, naturalmente, outras pessoas podem preferir assistir a outros conteú- dos durante a exibição do jogo. Mesmo que o futebol seja uma modalidade esportiva popular entre os brasileiros, nada impede que públicos específicos tenham preferências por outras atividades. A mídia contemporânea organiza inúmeras pessoas em torno de temas específicos, independentemente de sua localidade geográfica, porém, outras pessoas, mesmo estando próximas, acessam conteúdos diferentes por terem gostos e hábitos diferentes entre si. Portanto, o profissional que atua no campo jornalístico tem a complexa tarefa de selecionar o que é de interesse comum a todas as pessoas, assim como identificar o que é de interesse específico de parte da audiência, dedicando o tempo e a atenção às expectativas do público. A escolha do que publicar parte do conhecimento prévio que o jornalista tem das expectativas das pessoas em relação ao conteúdo que será noticiado, das orientações editoriais, que direcionam as abordagens da narrativa jornalística, e do que tem valor de notícia (gatekeeping). O encadeamento de temas nos noticiários, repetidas vezes, e sua repercussão diária também criam hábitos e fidelizam linhas de interesses a respeito de determinados temas, que passam a ser agendados (agenda-setting) em uma linha do tempo editorial. Conceitos de jornalismo especializado6 De acordo com pesquisas, o público tende a confiar em mediadores que transformam inúmeros dados informativos em mensagens midiáticas, consolidando os eventos de gatekeeping como “processo de seleção e transformação de vários pequenos pedaços de informação na quantidade limitada de mensagens que chegam às pes- soas diariamente, além de ser o papel central da mídia na vida pública moderna” (SHOEMAKER; VOS, 2011, p. 11). Agenda-setting se refere à capacidade que a mídia tem de agendar, a partir das suas narrativas, os temas que despertam interesse comum e que terão maior repercussão social. Observe que “tanto a influência do veículo quanto o tempo ótimo de agenda- mento dependem do conteúdo da mensagem” replicada pela mídia (BARROS FILHO et. al., 2010, p. 36). Logo, a agenda-setting, como perspectiva, considera não apenas os interesses dos emissores de uma mensagem, mas também a variável adesão do público às publicações e, desse modo, compreende que os conteúdos agendados pela mídia interferem no conhecimento cultural compartilhado socialmente. A recorrência de temas na imprensa favorece o agrupamento e a exibição dos conteúdos em editorias e, por conseguinte, a especialização dos jornalistas nos temas apresentados pela editoria. É comum ver na televisão os mesmos jornalistas cobrindo eventos esportivos, enquanto outros repórteres acom- panham frequentemente as sessões na Câmara e no Senado Federal. Assim, quanto mais um jornalista circula por espaços destinados a temas específicos, melhor é o seu desempenho na consecução das suas reportagens. Em linhas gerais, isso decorre da atuação do jornalista em relação a deter- minados temas, que se amplia à medida que ele interage com os mesmos atores sociais ou profissionais pertencentes a uma mesma área. A especialização, conceitual e prática, favorece o domínio sobre o assunto do profissional de comunicação. O repórter inexperiente fatalmente tem dificuldades de fazer boas reportagens em alguns locais. Já o repórter acostumado com dados ambientes é beneficiado pelo hábito, que incide na facilidade de acesso às informações dentro de um meio social. O jornalista político Vilas-Bôas Corrêa, a respeito de sua trajetória política, quando começou a atuar em Brasília, durante o governo de Eurico Dutra (1946–1951), encontrou, inexperiente, a “cobertura parlamentar estruturada na nítida divisão de áreas, confiadas a repórteres que acumulavam experiências, cultivavam fontes, definiam estilo, especializavam-se” (CORRÊA, 2002, p. 24). Essa narrativa apresentada por Côrrea (2002) é um caminho comum percorrido por jornalistas que acumulam experiências em suas respectivas 7Conceitos de jornalismo especializado áreas de cobertura jornalística. Assim, o repórter leva algum tempo para se adaptar ao cenário e às linguagens e para ter um bom desempenho em ambientes diferentes, pois, por exemplo, o cenário político muda contingencialmente, já que políticos perdem mandatos e novos parlamentares são eleitos. As vantagens não detêm as habilidades relacionais do jornalista experiente em uma área. O tratamento e a linguagem na imprensa são naturalmente adap- táveis às características da audiência e, nesse contexto, há a necessidade de o profissional se especializar sobre alguns temas. O aspecto verbal descontraído e comum das notícias culturais e esportivas não cabe nas coberturas policiais e nas narrativas sobre tragédias, por exemplo. A mensagem jornalística espe- cializadaé intrinsecamente acessível e dialógica, uma vez que o jornalismo compõe uma importante área da comunicação social. 2 Editorias jornalísticas comuns à imprensa A perspectiva do jornalismo como interlocutor com a opinião agregou outros signifi cados na sociedade, pois a audiência da mídia passou a ser composta por pessoas de diferentes espectros culturais, com gostos e hábitos heterogêneos. A prática disso é facilmente observada nas páginas de um jornal impresso diário. É possível observar que o conteúdo de um jornal impresso não se restringe à publicação de notícias que despertam interesse simultâneo em todos os leitores. Por vezes, apenas uma parcela do público vai se interessar na leitura de uma coluna sobre os bastidores do Senado Federal e nem todos os leitores acompanham com afi nco as páginas voltadas ao colunismo social. Assim, a mídia não apenas veicula conteúdos que prestam serviços e que têm utilidade pública, como o prazo e os critérios de declaração de imposto de renda e quem está isento das tributações, mas também divulga conteúdos que despertam o interesse de públicos específicos, por exemplo, o lançamento de um jogo eletrônico. Desse modo, a personalização de conteúdos acompanha os movimentos de uma sociedade que consome e requer mais informações para viver, a cada vez mais. Com isso, percebe-se que as mensagens informativas estão disponíveis em diversos lugares, como na leitura de um impresso, em um áudio de podcast, no acesso a um portal de notícias, entre outros. Nesse contexto, surgem os conteúdos especializados, que são agrupados em editorias e seções no jornalismo diário. Além de informações de interesse e de utilidade pública, a imprensa curva suas textualidades aos interesses de públicos específicos: os cinéfilos, que se apresentam como amantes das produções cinematográficas; as pessoas que acompanham as novidades do Conceitos de jornalismo especializado8 automobilismo com veemência; o homem do campo, que toma suas decisões com base nas informações que recebe sobre o mercado; o empreendedor, que tenta compreender as especificidades do público para quem ele destina o seu trabalho; os aficionados por literatura, que procuram as novidades do mercado editorial, etc. Portanto, conhecer o público a quem se destina a mensagem jornalística se tornou imperativo para as empresas de comunicação. No jornalismo impresso, o agrupamento de conteúdos jornalísticos em torno de temas que despertam a atenção de públicos específicos consolidou o surgimento de editorias nos veículos de comunicação, com a produção de cadernos e suplementos jornalísticos versando sobre assuntos específicos e de interesse de determinada parcela do público. Assim como os livros dispõem de sumário, o jornal dispõe seus conteúdos em cadernos específicos, colocando chamadas sobre as principais notícias na capa de seus impressos, utilizando símbolos e um chapéu para facilitar ao leitor identificar os assuntos que são de seu interesse. A Folha de São Paulo, na edição de 11 de janeiro de 2020, trouxe chamadas sobre as barreiras tributárias e sinalizou aos leitores que o conteúdo estava disponível na editoria Mercado, página A19. Já as reportagens sobre música e quadrinhos foram agrupadas na editoria cultural, especificamente, nos cadernos Ilustrada C1 e C6, respectivamente. O jornal também tem um caderno voltado para editorias esportivas, assim, a reportagem sobre técnicos estrangeiros remete ao caderno B, página 6. Fonte: Folha de São Paulo (2020, documento on-line). A separação de conteúdo por editorias é perceptível no impresso e nos portais de notícias, assim como representa quadros de um telejornal e de um radiojornal, que tratam, no decorrer de suas edições, sobre temas voltados a públicos específicos e, ainda, dividem suas reportagens em seções. Desse modo, diariamente, há uma infinidade de conteúdos e temas sendo publicados nos jornais impressos diários, nos portais de notícias, nas emissoras de rádio e televisão. Com isso, assuntos diversificados ganham tratamentos 9Conceitos de jornalismo especializado diferentes nos veículos de comunicação e se agrupam em editorias, seções e quadros de noticiários. O conhecimento prévio dos gostos e interesses do público é o critério que define a pauta e determina a organização dos conteúdos, que devem possuir um projeto gráfico aprazível para o público. Algumas editorias e seções são comuns ao jornalismo diário, como as listadas a seguir. Conteúdos factuais — Normalmente, apresentados em editorias denominadas Cidades (Correio Brasiliense), Cotidiano (Folha de São Paulo) ou Notícias (BBC News). Em comum, essas editorias apresentam conteúdos noticiosos, factuais, nos âmbitos local, regional e internacional, com temas relacionados ao jornalismo utilitário e à cidadania (transporte, empregos, campanhas, etc.), ao jornalismo policial (segurança, violência, investigações), à cobertura de eventos sazonais (tragédias, acidentes, etc.), às questões de urbanismo, aos problemas sociais, à previsão do tempo, entre outros. Alguns veículos de comunicação dividem esses conteúdos por região geográfi ca, como é o caso da Rádio CBN, com correspondentes de Brasília, do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Belo Horizonte. Ainda, o jornal O Estadão divide as notícias factuais nas seções Brasil e Internacional e aperfeiçoa a experiência do leitor, que norteia sua leitura por áreas geográfi cas. Conteúdos esportivos — Geralmente, os veículos de comunicação chamam a editoria de Esporte e abordam na seção as várias modalidades esportivas: futebol, voleibol, natação, basquete, tênis, atletismo, etc. Chama a atenção o Portal IG, que divide sua editoria esportiva em seções: futebol nacional, futebol internacional e outros esportes. Essas divisões certamente se devem aos interesses serem predominantes pelo futebol, em detrimento de outras modalidades esportivas. Desde os tempos áureos do rádio, as transmissões e notícias esportivas têm destaque na imprensa e mantêm a atenção fi el de parte do público, que acompanha suas competições esportivas preferidas assiduamente. Conteúdos políticos — Presentes nas edições diárias do jornalismo impresso e seções dos portais de notícia, os conteúdos políticos nortearam o surgimento do jornalismo, desde a sua chegada no Brasil. De um lado, os folhetos com informações emitidas pelo governo. Do outro, os pasquins com denúncias contra o governo e conteúdos republicanos. Assim como ocorre nas editorias voltadas para conteúdos factuais, as editorias políticas, por vezes, aparecem divididas em seções sobre a política brasileira e a mundial, como é o caso do Conceitos de jornalismo especializado10 jornal O Globo. A editoria política também tem o hábito de constituir seções sazonais sobre temas que irá cobrir em médio prazo, como processos eleitorais, CPIs, tramitação de reformas, entre outros. Conteúdos econômicos — Por tratar de conteúdos que envolvem toda a cadeia produtiva, a Folha de São Paulo agrupa os conteúdos econômicos no caderno denominado Mercado, enquanto outros veículos de comunicação dividem a editoria economia em seções distintas, como é o caso do G1, com as seções: Agro, Calculadora, Concursos e Empregos, Dólar, Educação Finan- ceira, Imposto de Renda, Inovação, Mídia e Marketing, Pequenas Empresas e Tecnologia. A amplitude dos temas de natureza econômica e fi nanceira faz com que essa editoria seja uma das mais abrangentes do jornalismo, embora o jornalista que atue nessa área deve possuir conhecimentos específi cos sobre o mercado para elaborar uma boa reportagem. A editoria econômica ilustra bem a especialização do jornalista que se predispõe a trabalhar com editorias específi cas. Conteúdos culturais e diversionais — Cada vez mais, os conteúdos artís- ticos, culturais e diversionais são agrupados em uma mesma editoria, pois as manifestações culturais abarcam diversas expressões artísticas, compor- tamentais e identitárias. Ciente da diversidadede conteúdos que abarcam os cadernos de cultura, o jornal O Estadão divide essa editoria em seções sobre arte, cinema, séries, teatro, dança, literatura, moda, diversão, quadrinhos, música e televisão. Comumente acessados nas edições que antecedem o fi m de semana, os conteúdos culturais e diversionais oferecem respiro às tensões políticas, mercadológicas, sociais e, oportunamente, proporcionam relevantes provocações e percepções sobre as áreas de humanidades. Conteúdos científi cos e tecnológicos — Embora nem todos os veículos im- pressos destinem um caderno diário aos avanços científi cos e tecnológicos, é comum reservarem alguma página ou delimitar espaço de seus cadernos impressos para trazer as boas novas: o compilado de estudos e descobertas da ciência que têm impacto na saúde, no comportamento, nas relações sociais, no meio ambiente, etc. Isso depende da linha editorial do veículo de comunicação. A BBC News, a revista Veja e o jornal El País, por exemplo, dispõem assuntos sobre ciências e tecnologias em editorias distintas no seu portal de notícias. Já o jornal impresso gaúcho Zero Hora associa as notícias científi cas e tecnoló- gicas em uma mesma editoria: Ciência e Tecnologia. Independentemente do projeto gráfi co com que os veículos de comunicação apresentam os estudos 11Conceitos de jornalismo especializado científi cos e as inovações tecnológicas, a editoria tem despertado cada vez mais a atenção e a curiosidade do seu público-alvo. Assim, é fácil encontrar essa editoria nos portais de notícias. Conteúdo sobre saúde e meio ambiente — Reportagens sobre saúde estão conquistando espaço cativo no noticiário e sendo apresentadas em seções de portais de notícias, como é o caso do Portal IG e da emissora CNN Brasil, que possuem seção específi ca sobre saúde. No prospecto das editorias sobre saúde, há desde matérias de pesquisas científi cas nas áreas médicas até pautas sobre bem-estar físico e mental, beleza, estética e prática de atividades físicas. Esses temas são comuns na editoria Viva Bem, do Portal UOL, por exemplo. A necessidade de cuidar e preservar o meio ambiente e de desenvolvimento sustentável invadiu o tom das editorias políticas e econômicas e associou as pautas nas editorias de tecnologia e ciências, assim como os conteúdos estão sendo apresentados em espaços específi cos destinados às questões ecológicas. Esse é o caso da editoria Meio Ambiente e Sustentabilidade, da rádio CBN, com comentários sobre temas ecológicos. Ainda é possível visualizar outras editorias nas edições do jornalismo diário, como as de turismo, presentes nos jornais O Globo, Folha de São Paulo e na CNN Brasil, além de seções sobre educação, no Portal IG e na revista Veja e da seção sobre automóveis, presente nos portais UOL e G1. Ainda que não haja conteúdos digitais ou suplementos impressos, diariamente, sobre esses temas, é perceptível a produção de conteúdos digitais e suplementos impressos sobre esses assuntos e a especialização de jornalistas em torno dessas áreas do saber. Somam-se a essas editorias tantas outras se referindo a diferentes áreas do conhecimento: jornalismo rural, sobre moda, sindical, comunitário, entre outras. As empresas e entidades organizacionais requerem, cada vez mais, o trabalho de jornalistas para redigir e facilitar a comunicação dos seus conteúdos com o público, tanto na produção de releases para a imprensa quanto na escrita de textos jornalísticos publicados em impressos, portais institucionais, etc. Nesse contexto, deve-se ressaltar que essas empresas e organizações atuam em setores sociais e mercadológicos específicos em torno de alguns temas. Portanto, o jornalismo especializado também está presente nas atividades de assessoria de imprensa, com a produção de conteúdos jornalísticos especializados, favorecendo a comunicação entre empresas e entidades com o público. Conceitos de jornalismo especializado12 Inter-relação entre as editorias Com as empresas de comunicação dispondo matérias jornalísticas em tempo real, é comum uma reportagem que envolva vários temas aparecer em mais de uma editoria. Por exemplo, a descoberta de uma nova vacina feita por cientistas franceses tanto pode ser noticiada na editoria sobre ciência como também na editoria sobre saúde ou, ainda, na editoria sobre notícias internacionais. Ainda que conteúdos como esses sejam presumidamente especializados, eles dialogam com variadas áreas do conhecimento, a depender da perspectiva que a narrativa apresenta. Por exemplo, a votação de um projeto de lei que trata sobre os investimentos em pesquisas com células-tronco nas universidades públicas: os investimentos têm impacto na economia e nos gastos públicos; já a pesquisa se refere aos investimentos em educação e possíveis avanços científicos na área de saúde. Portanto, o fato pode ser noticiado em qualquer uma destas editorias: política, economia, saúde, educação e ciência. O que difere o espaço editorial que cabe a notícia é a abordagem e o tratamento concedidos à narrativa jornalística. O jornalista político possivel- mente irá enfatizar as tensões políticas em torno do projeto de lei. O jornalista econômico vai contextualizar as possibilidades de retorno do investimento no mercado e o impacto da pesquisa nos gastos públicos. O jornalista que trata de questões relacionadas à saúde vai querer saber quais tratamentos de doenças serão impactadas com a pesquisa, quantas pessoas estão em tratamento ou a espera de terapêutica para doenças. O jornalista com enfoque na educação vai querer saber quais pesquisas com células-tronco já estão sendo realizadas pelas universidades e quais os benefícios sociais de investimentos como esses na educação superior. O jornalista que cobre avanços científicos vai querer detalhar as etapas da pesquisa e apresentá-la de forma clara para o público. Ainda que para corresponder a cada um desses enfoques, comuns ao jorna- lismo especializado, o jornalista tenha que ter domínio da sua área de atuação, por outro lado, ele deve ter uma boa noção das outras áreas correlatas à editoria em que ele atua. Afinal, a economia depende muito das definições políticas. Uma das finalidades da educação e do ensino superior é a pesquisa científica. Um jornalista que atua com as questões rurais, por exemplo, deve ter noção da legislação ambiental e saber o que interfere no manejo agrícola e na pecuária. Quanto mais relevante é a matéria jornalística, ainda que ela seja especia- lizada, mais temas concomitantes ela poderá agendar e mais desdobramentos haverá para se reportar, pois os eventos elencam variadas perspectivas e afetam diferentes áreas do conhecimento. Nesse sentido, o jornalista Nilson Lage analisa que (2009, p. 50): 13Conceitos de jornalismo especializado Há relação entre interesse jornalístico e abrangência de público para uma informação. Quanto maior o interesse jornalístico, maior a abrangência do público a que a informação se possa destinar. Já a comunidade envolvida na especialidade será motivada não tanto pelo aspecto jornalístico de uma informação, mas por suas implicações puramente técnicas. Ciente do interesse de determinada parcela do público em saber mais sobre alguns temas específicos, a imprensa passa a elaborar conteúdos jornalísticos especializados que favorecem a experiência de aprofundar detalhes técnicos relativos a um assunto. Ela faz isso com o uso de linguagem apropriada ao público, com emprego de recursos gráficos, como infográficos, e destina mais espaço e voz aos especialistas de determinado tema que se enquadra na matéria jornalística. Reportagens especializadas sobre o mercado financeiro, por exemplo, em vez de apenas apresentar os dados quantitativos da balança comercial, podem abordar os produtos que tiveram queda e bons resultados para exportação, bem como podem trazer especialistas da área explicando as relações entre importações e exportações ou, ainda, abordar as expectativas em diferentescadeias produtivas. Com essa perspectiva, podem deslumbrar mais de uma reportagem especializada. O interesse nos desdobramentos de alguns temas, ou seja, de conhecer as questões técnicas que abarcam uma notícia, consolidou o agrupamento de textos jornalísticos em editorias e consagrou o jornalismo especializado na imprensa. Esse cenário teve impacto nas empresas de comunicação e propiciou o surgimento de programas e produtos jornalísticos especializados em determinados temas. 3 Consolidação da imprensa especializada A especialização dos conteúdos jornalísticos é perceptível tanto nas editorias e seções que reúnem links de matérias jornalísticas sobre um mesmo tema, como também no surgimento de programas de televisão, rádio e produtos jornalísticos com conteúdo voltado para interesses de públicos específi cos. Pode-se observar a consolidação da imprensa especializada destacando o surgimento de produtos radiofônicos e televisivos abordando temas específicos, como o programa radiofônico CBN Esportes, da Rádio CBN, sobre as modalidades esportivas, e o programa Repórter Eco, da TV Cultura, abordando as questões ambientais. Esses programas foram concebidos para tratar assuntos de interesse de públicos segmentados e com relativo grau de envolvimento com os temas. Conceitos de jornalismo especializado14 Com efeito, não é preciso ser ambientalista para ser telespectador de um programa voltado às questões ambientais. Basta apenas cultivar linhas de interesse pelo tema, seja a curiosidade, a valoração da mensagem, a defesa ou o pensamento compartilhado que compõe um mesmo grupo que tem em comum um apreço pelas questões ecológicas. A pesquisadora Lucia de Fátima Estevinho Guido fez as seguintes observações a respeito da apresentação do programa de turismo ecológico Tribos e Trilhas, da TV Cultura: É interessante notar as diferenças sutis que encontramos entre as formas de apresentação dos programas do bloco ecológico da TV Cultura. Estas dife- renças têm relação estreita com o modo de endereçamento proposto pelos programas. (…) Este modo de endereçamento compõe o estilo do programa (Tribos e Trilhas): uma conversa com o telespectador, que supostamente gosta de realizar esse tipo de turismo. Um público que está vendo o programa não necessariamente para obter dicas para ir ao local, mas que quer ter a sensação de estar no local da reportagem. Por isso as apresentadoras procuram transmitir o que sentem ao realizar esse tipo de turismo, o esporte radical anunciado no programa (GUIDO, 2005, documento on-line). Percebe-se que a formalidade dos modelos jornalísticos noticiosos e o distanciamento narrativo de um repórter que se detém a relatar os fatos obje- tivamente, prática devida ao desenvolvimento da imprensa em um contexto industrial, cedem espaço para o envolvimento dos jornalistas com os assuntos que eles reportam em programas jornalísticos especializados. É possível observar, por exemplo, os diálogos frequentes entre telejornalistas esportivos. Eles noticiam e comentam os lances esportivos, com linguagem descontraída e direcionada às expectativas da audiência. A personalização dos conteúdos está intrinsecamente relacionada à capaci- dade que o jornalista tem de dialogar sobre assuntos específicos e sua relação empática com o público, algo também possível de observar nas coberturas das editorias políticas e culturais. A análise é o grande diferencial dos programas televisivos voltados para o cenário político. Os canais por assinatura ganham notoriedade ao levar profissionais especialistas em política para debater as principais notícias do dia. As linhas de interesses de parte do público por assuntos específicos acompa- nharam os processos de segmentação do mercado, durante todo o século XX, e contribuíram para o surgimento de produtos jornalísticos especializados. Nesse cenário, assinala Bahia (2009) que o jornal passa a ocupar espaços editoriais mais significativos, alinhando as perspectivas mercadológicas internacionais, e o jornalismo especializado consolida o mercado de publicações dirigidas. 15Conceitos de jornalismo especializado O Grupo Abril, conglomerado editorial brasileiro, introduz a publica- ção de fascículos na década de 1960 e acompanha, ao longo de sua história, as tendências mercadológicas e as mudanças de hábitos e comportamento. A revista Manequim foi o primeiro periódico brasileiro impresso a falar sobre moda e com linguagem direcionada ao público feminino. Em agosto de 1960, é publicada a primeira edição da revista Quatro Rodas, acompanhando o mercado de automóveis. Todos esses movimentos acompanham as tendências editoriais especializadas, que aconteciam em outros países e foram fundamentais para consolidar comportamentos e hábitos de consumo. A revista Placar, lançada em 1970, marcou a história do futebol e acompanhou a representatividade da modalidade esportiva durante os governos militares e seu valor mercadológico ascendente no período de redemocratização. Todo acervo editorial do periódico foi disponibilizado gratuitamente pela própria revista no Google Books. Para ter acesso às edições da revista que acompanha a história do futebol, basta digitar “Revista Placar” na aba “Livros” do Google. Fonte: Placar (1970, documento on-line). Conceitos de jornalismo especializado16 “A revista não parte apenas do interesse público para decidir o que vai ser notícia, mas parte do interesse do público” (GOULART, 2006, documento on-line). Essa prerrogativa da revista se alinha com a perspectiva do jorna- lismo especializado, por isso, há tantas revistas especializadas na imprensa. Naturalmente, essas revistas acompanham as mudanças do mercado. Por exemplo, a revista Capricho começou, na década de 1950, a circular com fotonovelas, na época das novelas em rádio e, depois, passou a acrescentar editorias jornalísticas e assuntos sobre beleza e comportamento. Nos anos 1980, a Capricho passou a ter por público-alvo as jovens e adolescentes, em um período em que esse público consumidor tinha destaque no mercado. Já nos anos 2000, a revista passou a usar a internet como suporte de interação com o público, o que favoreceu a sua veiculação na internet, em vez de ter versões impressas. Não apenas as revistas, mas o jornal impresso também atua com a espe- cialização de conteúdos. Por exemplo, o jornal Valor Econômico, do Grupo Globo, possui cadernos e conteúdos sobre variedades econômicas, como a macroeconomia, investimentos, empresas, entre outras. Já o jornal Gazeta Mercantil, por sua vez, começou a veicular informação sobre a economia na década de 1920 e tem a sua história permeada por problemas financei- ros e suspensão de edições. Em linhas gerais, o papel da imprensa tem sido questionado. Os interesses por detrás de uma informação se tornaram uma inquietação, em tempos de fake news. Cabe ao jornalismo protagonizar esses embates, com a apuração dos fatos e textualidade credível: Eu acredito firmemente que os cidadãos continuam querendo as mesmas coisas do jornalismo. Portanto, as responsabilidades que os jornalistas têm para com eles são as mesmas. Em outras palavras, eu quero que você me diga a verdade. Eu preciso saber que você verificou os fatos e que eles são precisos, não apenas literalmente, mas que você os contextualizou, que eles são verdadeiros. Quero que você seja independente, quero saber que não é um agente secreto para um determinado partido político, que, se disser que acha tal coisa, que realmente ache, e que você esteja fundamentalmente do meu lado, do lado do seu público, acima de qualquer outra filiação (ROSENSTIEL, 2017, documento on-line). Novas perspectivas para o jornalismo especializado Boa parte dos produtos jornalísticos especializados que surgiram no século XX não conseguiu manter a atuação no mercado editorial ou estão perdendo a audiência diariamente. Afi nal, como assinalado por Bahia (2009) e Lage 17Conceitos de jornalismo especializado (2009), o jornalismoespecializado parte de interesses de públicos específi cos e acompanha as mudanças socioculturais. Fato é que se mantêm nesse cenário a segmentação do mercado, os avanços tecnológicos constantes e as mudanças de hábitos de consumo e de acesso aos conteúdos. As comunidades e a setorização de consumo são fundamentais no mundo contemporâneo, mas os modos de se comunicar e as narrativas mudam em velocidade surpreendente. No século XX, o jornalismo especializado era protagonizado por conglomerados de comunicação. A editora Abril lançou vários produtos jornalísticos especializados em esporte, moda, automóveis, ciência, etc., enquanto o Grupo Globo investiu em periódicos especializados e canais por assinatura voltados para notícia (Globo News, em 1996), cultura (Multishow, em 1991), documentários (GNT, em 1991), esporte (Sport TV, em 1998), entre outros. Nos últimos anos, surgiu o streaming, que distribuiu conteúdos digitais e renovou as práticas midiáticas. As redes sociais se consolidaram como espaço de agendamento público de conteúdos relevantes e há a multiplicidade de canais de informação e comunicação interativos. Os influenciadores digitais agregam valor às marcas, com a produção de blogs, vídeos e podcast. Nesse contexto, não faltam desafios à imprensa tradicional. De um lado, a emergência de a imprensa convencional direcionar suas mensagens a públicos específicos, acompanhando as linguagens e os modos de se comunicar constituídos com a popularização das mídias digitais e os modos de se relacionar com a informação em rede. Do outro lado, o que diferencia a imprensa de outros produtores de conteúdos midiáticos é o seu compromisso com a checagem dos fatos, a transmissão correta dos conteúdos, o domínio das técnicas de comunicação, entre outros fatores que fazem a audiência escolher se informar pelos canais da imprensa, em detrimento a outros produtores de informação. A perda de espaço dos meios de comunicação de massa tradicionais, em relação ao alcance de décadas atrás, decorre da multiplicidade dos meios de acessar conteúdos. Ainda assim, esses veículos de comunicação também estão adequando suas estratégias à produção e disposição de con- teúdos nesses espaços convergentes. De acordo com Estigarribia (2019), a Globoplay, serviço de streaming da Rede Globo, conta com acesso de 25 Conceitos de jornalismo especializado18 milhões de pessoas por mês. Em 2020, além de produtos de entretenimento e da disponibilização dos programas jornalísticos, a emissora passou a investir em documentários jornalísticos, o primeiro deles é o investigativo Marielle — o documentário. Os públicos específicos se mantêm em alta nesse cenário cosmopolita de espaços geográficos, mas que possui comunidades virtuais segmentadas. O podcast tem conquistado público cativo. O Nerdcast, por exemplo, traz tudo que o seu público-alvo gosta e associa tecnologia à ciência, à cultura, ao empreendedorismo, entre outros. A sustentabilidade financeira tem levado as revistas e jornais impressos a investir em versões digitais, assim como a valorizar espaços opinativos, como colunas e crônicas. Novos veículos de informação já nasceram especializados e nessa nova perspectiva de comunicação em rede. O Catraca Livre surgiu como portal de notícias em 2008 e define o seu foco nas atividades culturais. Entretanto, à medida que ele agenda temas culturais, abrange outros temas consoantes à cultura, como educação, empreendedorismo, política, economia e comporta- mento. Porém, sempre prevalece a prerrogativa de boas iniciativas culturais frente aos problemas sociais cotidianos. Portanto, observa-se que, a partir de uma iniciativa de trazer notícias sobre cultura, o Catraca Livre representa a voz das comunidades culturais e é um bom exemplo de jornalismo voltado às comunidades culturais. Trata-se de um canal noticioso, que representa um conjunto de pessoas que valorizam as expressões culturais vindas de variadas iniciativas, da cultura popular até a cultura de massa consumida por essa mesma comunidade. Todas essas movimentações editoriais denotam o cenário vindouro da comunicação social. Em entrevista ao Portal Comunique-se (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE JORNALISMO INVESTIGATIVO, 2019), falando sobre as projeções futuras do jornalismo, a cofundadora do Nexo Jornal, Paula Miraglia, aponta três eixos para o jornalismo contemporâneo: a noção de comunidade, repensar as métricas e a ênfase na relação com o público. Esses eixos se referem à especialização dos conteúdos para que eles atendam pú- blicos organizados por interesses comuns e consolidem um modo de engajar a audiência. O jornalismo especializado vem, há tempos, desbravando esse caminho promissor. 19Conceitos de jornalismo especializado ABIAHY, A. C. de A. O jornalismo especializado na sociedade da informação. BOCC, [s. l.], p. 1–27, 2005. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/abiahy-ana-jornalismo- -especializado.pdf. Acesso em: 29 abr. 2020. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE JORNALISMO INVESTIGATIVO. O que esperar do jorna- lismo brasileiro em 2020? Portal Comunique-se, São Paulo, 20 dez. 2019. Disponível em: https://portal.comunique-se.com.br/o-que-esperar-do-jornalismo-brasileiro-em-2020/. Acesso em: 29 abr. 2020. BAHIA, J. Jornal, história e técnica: história da imprensa brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. v. 1. BARROS FILHO, C. et al. (org.). Teorias da comunicação em jornalismo: reflexões sobre a mídia. São Paulo: Saraiva, 2010. CORRÊA, V. B. Conversa com a memória: a história de meio século de jornalismo político. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. ESTIGARRIBIA, J. A estratégia da Globoplay para brigar com Netflix e Disney. Revista Exame. 26 Nov. 2019. Disponível em: https://exame.abril.com.br/negocios/a-estrategia- -do-globoplay-para-brigar-com-netflix-e-disney/. Acesso em: 5 mai. 2020. FOLHA DE SÃO PAULO. Capa da edição. 2020. 1 fotografia. Disponível em: https:// www1.folha.uol.com.br/fsp/fac-simile/2020/01/11/index.shtml. Acesso em: 29 abr. 2020. GOULART, A. Uma lupa sobre o jornalismo de revista. Observatório da Imprensa, [s. l.], 4 jul. 2006. 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