Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
POLÍTICAS ATIVAS E PASSIVAS NO MERCADO DE TRABALHO: aspectos conceituais, a experiência internacional e a avaliação do caso brasileiro1 José Paulo Zeetano Chahad2 1. Introdução O processo de globalização em escala mundial trouxe profundas mudanças para o mundo do trabalho. Em particular, destaca-se o aumento e a rigidez do desemprego, assim como a rápida obsolescência da mão-de-obra, a cada nova mudança. Como resultado, o acesso ao trabalho e o nível de remuneração se tornaram muito voláteis, comprometendo bastante o bem-estar da força de trabalho. As ações governamentais tradicionais para se lidar com essas questões foram, também, se tornando mais restritas em dar respostas rápidas. As políticas macroeconômicas requerem que os chamados fundamentos da economia estejam sólidos, o que por vezes contradizem a necessidade de elevar emprego e renda. As alterações na regulação do trabalho, quando bem feita, podem melhorar o nível de emprego e o valor dos ganhos salariais, mas representa uma política relativamente complexa marcada por superação de impasses de negociação que levam muito tempo para sua conclusão. Assim, ganhou força no cenário internacional um terceiro tipo de intervenção governamental, atuando diretamente no mercado de trabalho, com o objetivo de promover a transformação dos agentes econômicos ou dos ambientes em que convivem: as Políticas Ativas no Mercado de Trabalho (PAMT). Esta intervenção materializa-se por meio da oferta de serviços básicos, como concessão de crédito aos desempregados e trabalhadores autônomos, melhoria da qualidade da mão-de-obra por meio do treinamento e da recolocação do desempregado utilizando a intermediação da mão-de-obra. Essas políticas ativas que, associando-se ao seguro-desemprego e a outras formas de assistência aos desempregados, atuam no sentido de promover a geração de emprego, elevar o nível de rendimentos e garantir melhor bem-estar aos trabalhadores em geral. Essa direção dos acontecimentos observada no cenário internacional, não tem sido muito diferente no caso brasileiro. A década de 1990, quando se acelerou 1 Texto elaborado para a Comisión Económica para América Latina y el Caribe (Cepal). O autor agradece à Felisbela Rossetti, pelo suporte de secretaria, à Psicóloga Carolina Chahad Secco, pela revisão do texto, e à estagiária de pesquisa Roberta Cristina Possamai, pela coleta de informações, pela organização e pela digitação de gráficos, quadros e tabelas. 2 Professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e Pesquisador Sênior da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). 2 a globalização, foi uma época de grandes transições sociais e econômicas. O País passou de uma economia de alta inflação para um regime de estabilidade de preços, houve aumento no grau de abertura de economia e modificou-se lentamente o papel de Estado investidor para Estado voltado para a regulação. Ademais, sentiu os efeitos de profundas modificações tecnológicas impostas pela internacionalização dos mercados, estimulou as privatizações e, sobretudo, continuou a experimentar os impactos de um crescimento demográfico em queda, mas cuja população ainda aflui em grandes contingentes ao mercado. Em decorrência desse quadro, emergiram graves problemas sociais como a elevação da concentração de renda, contribuindo para acentuar ainda mais a pobreza, o aumento da informalidade nas relações econômicas e trabalhistas, a insegurança de renda e de emprego e um novo vilão a ser combatido: o elevado desemprego involuntário. Nesse sentido, o melhor remédio, mas não único, para estes males seria a retomada do crescimento econômico, com distribuição de renda, o que tem sido difícil em face das inúmeras restrições macroeconômicas internas e externas. No que diz respeito ao mercado de trabalho, as restrições ao crescimento econômico têm obrigado o Estado a adotar cada vez mais políticas na área do trabalho, visando amenizar as dificuldades trazidas ao mercado de trabalho decorrentes do baixo crescimento. Além de promover melhorias no mercado de trabalho, essas políticas acabam contribuindo, também, para que o País volte a crescer, pois tendem a promover uma homogeneidade maior da força de trabalho, bem como, quando articuladas, conduzem a maior eficiência e maior eficácia dos gastos públicos a elas direcionadas, poupando recursos para o desenvolvimento econômico. Nesse sentido, o País, na esfera do seu Ministério do Trabalho e Emprego, já conta com amplo programa de seguro-desemprego, atendendo a cerca de 4,5 milhões de trabalhadores por ano, o que representa um gasto de 0,44% do PIB, em 2005. Entre as PAMT, existe o Plano Nacional de Qualificação (PEQ), a intermediação da mão-de-obra realizada por meio do Sistema Nacional de Emprego (Sine) e uma política recente de democratização e oferta de crédito aos pequenos empreendedores, o Programa de Geração de Emprego e Renda (Proger). Ocorre, porém, que em decorrência das amplas carências sociais que afligem a sociedade brasileira, esses programas têm aumentado rapidamente sua escala de operação, sem a necessária avaliação de seus resultados. Em um País carente de recursos, isto é totalmente indesejado, seja sob a ótica da eficiência nos gastos públicos, seja na perspectiva da credibilidade de que devem desfrutar essas políticas públicas. 3 Este texto buscará trazer subsídios ao melhor conhecimento dessas políticas no caso brasileiro, resgatando o que tem sido significado das PAMT e das Políticas Passivas no Mercado de Trabalho (PPMT) no plano internacional, qual seu grau de abrangência, quais os resultados obtidos, qual o alcance e quais as principais limitações e outros detalhes associados às medidas ativas e passivas direcionadas ao mercado de trabalho brasileiro. A estrutura deste texto é a seguir apresentada. A seção um contém esta introdução. A seção dois enfoca as PAMT com respeito às principais definições, conceitos e tipologia. A seção três contempla sumariamente os efeitos e os impactos potencialmente esperados no mercado de trabalho na presença das políticas ativas, bem como os impactos líquidos de uma política sobre o emprego e a renda. A seção quatro contém um panorama das estatísticas internacionais com as políticas ativas segundo países e regiões, bem como o estágio em que atualmente se encontram. A seção cinco aborda o Seguro-Desemprego (SD) como praticamente a única PPMT internacionalmente praticada, trazendo, ainda, dados sobre as principais estatísticas. A seção seis adentra para a apresentação das PAMT no Brasil, historiando, de forma resumida, sua evolução, apresentando as principais estatísticas e analisando a avaliação e o impacto destas. A seção sete enfoca o surgimento, a evolução e as principais estatísticas do Seguro-Desemprego brasileiro revelando, ainda, suas principais distorções. A seção oito contém as principais lições e recomendações visando ao aprimoramento das políticas ativas e passivas no Brasil, a partir dos problemas aqui detectados, e com a utilização do aprendizado contido na experiência internacional. A seção nove contém as considerações finais e a seção dez traz as referências bibliográficas utilizadas no texto. 2. As Políticas Ativas no Mercado de Trabalho (PAMT): conceitos e definições 2.1 – Surgimento, conceituação, objetivos e funções A origem e a notoriedade das PAMT, no plano internacional, ocorreram nos anos 1960 no âmbito da OECD, tendo recebido crescente atenção nas décadas seguintes quando o problema do desemprego intensificou-se, principalmente no continente europeu. Sua consolidação na tentativa de combater a persistência do desemprego veio com o documento OECD Jobs Strategy (1994), em que um amplo conjunto de ações foi proposto para tentar resolver inúmeros problemas no mercado de trabalho, em especial o alto nível e apersistência do desemprego na presença das políticas tradicionais. De acordo com aquele estudo, 4 os gastos públicos voltados para o mercado de trabalho deveriam ser divididos em políticas ativas e passivas.3 As ações ativas compreenderiam um amplo conjunto de políticas endereçadas a melhorar o acesso do desempregado ao mercado de trabalho, às ocupações oferecidas e ao desenvolvimento de habilidades relacionadas a estas ocupações, assim como subsídios ao emprego. A geração de dados e informações pertinentes à tomada de decisões de políticas no mercado de trabalho pode, também, ser considerada uma política ativa. As medidas passivas cobririam os gastos com benefícios aos desempregados, em especial o programa de SD e os programas de antecipação da aposentadoria do trabalhador. Outras ações como postergação da entrada do jovem no mercado de trabalho, pela maior permanência na escola, ou mesmo o retorno completo do indivíduo aos bancos escolares é, também, considerada política passiva. As políticas ativas tendem a variar em diferentes países, seja nos objetivos ou mesmo em seu desenho. Elas podem incluir esquemas de criação de empregos no setor público, subsídios salariais ao setor privado, visando à contratação de mão-de-obra, assistência ao desempregado ou treinamento profissional. Podem ser direcionados a grupos específicos ou não. As fontes de recursos variam de um país para outro, podem ou não estar acopladas a um Serviço de Emprego e sua administração pode ser federal, estadual ou local. Existem, contudo, elementos comuns na maioria dos países que dão um caráter de universalidade a estas políticas. As PAMT englobam objetivos econômicos, políticos, sociais e culturais. Do ponto de vista econômico, e sob a ótica do mercado de trabalho, elas são, regra geral, destinadas a satisfazerem três objetivos principais: i) mobilização e desenvolvimento de recursos humanos; ii) treinamento e reciclagem da força de trabalho; e iii) melhoria das oportunidades de emprego dos trabalhadores em desvantagem no mercado de trabalho, tais como desempregados de longo-prazo que vão perdendo paulatinamente seu contato com o mercado de trabalho, bem como dos jovens, dos incapacitados e dos hipossuficientes. Estes objetivos buscam influenciar tanto o lado da oferta de trabalho, uma vez que as políticas ativas provêem treinamento, aconselhamento, orientação e recolocação do trabalhador, quanto da demanda de trabalho, na medida em que 3 Na literatura referente ao mercado de trabalho, e no âmbito da OECD, particularmente na União Européia, as políticas ativas e passivas são utilizadas para distinguir entre os programas de reposição de renda com treinamento ou condicionalidades de trabalho (políticas ativas) e somente reposição de renda (políticas passivas). Auer, Efendioglu e Leschke (2005: p.14) propõem que é mais apropriado falar em reposição de renda com (política ativa) e sem (política passiva) condicionalidades de trabalho ou de treinamento. 5 tais programas oferecem inúmeros subsídios e incentivos que reduzem os custos das empresas. Elas visam, também, à eqüidade social, uma vez que o desemprego incide de forma desigual entre os diferentes grupos populacionais. Nesse contexto, uma combinação que otimize os objetivos de eficiência e eqüidade é, sem dúvida, o principal desafio das PAMT. A implementação de programas ativos pode servir a múltiplos objetivos, exigindo do policy maker clareza em relação à escolha das prioridades. De acordo com o quadro 1, elas são úteis para reduzir desequilíbrios estruturais, moderar o ciclo recessivo, aumentar a eficiência do mercado de trabalho, elevar a produtividade, aumentar as oportunidades de emprego etc. Atingir um determinado objetivo é compatível com diferentes tipos de PAMT e consistente com diferentes tipos de público-alvo. Quadro 1 Identificando os objetivos e o público-alvo das PAMT Objetivos Tipo de programa sugerido Orientação sobre o público-alvo Ciclo moderado •Criação direta de empregos (setor público) •Grupos vulneráveis de maus •Subsídios salariais ao emprego (àquelas com baixa elasticidade) negócios •Treinamento (subsídios ou doações para trabalhadores ou empre- •Regiões e ramos muito afeta- gadores) dos •Apoio aos trabalhadores autônomos Redução das •Serviços de emprego (informação, apoio à procura por trabalho, •Regiões, ramos ou ocupações instabilidades apoio à mobilidade) próximas estruturais •Treinamento •Subsídios salariais ao emprego Aprimoramento •Serviços de emprego •Toda força de trabalho do •Treinamento (aprendizagem, transição da escola para o trabalho) funcionamento do mercado de trabalho Aumentar o •Treinamento e reaprendizagem (incluindo o treinamento na função) •Grupos de empregados em conhecimento risco ou em desvantagem profissional e a (principalmente de produtividade reaprendizagem) Apoiar os •Serviços de emprego (aconselhamento, apoio na procura por tra- •Grupos em risco ou em trabalhadores balho) desvantagem em risco ou em •Treinamento (doações financeiras, subsídios) desvantagem •Subsídios salariais Fonte: Elaboração do autor com base em Betcherman, Olivas e Dar (2004) As políticas ativas possuem múltiplas funções, dependendo dos objetivos para as quais são utilizadas, conforme se pode verificar no quadro 2. Elas possuem um importante papel na criação direta e indireta de emprego, tanto no mercado formal de trabalho, quanto no setor informal; contribuem para aumentar a “empregabilidade” do trabalhador, facilitando seu reemprego; auxilia na redução 6 dos níveis de pobreza, desde que praticamente todas as PAMT estão associadas a algum volume de transferência de renda; e promove maior eqüidade na medida em que busca favorecer os grupos em desvantagem no mercado de trabalho. Além dessas funções, as PAMT contribuem para maior segurança de emprego e criação de renda em períodos de mudanças abruptas no mercado de trabalho. As oportunidades de sucesso, o alcance e as limitações das políticas ativas dependem de inúmeros fatores, que vão desde as características da economia de um País, das peculiaridades socioculturais, ou então das especificidades do mercado de trabalho. Em qualquer circunstância, entretanto, elas não devem ser adotadas isoladamente umas das outras e, acima de tudo, devem integrar-se com as políticas passivas, como o seguro-desemprego, as provisões para a aposentadoria, os arranjos sobre o tempo de trabalho, a postergação do ingresso dos estudantes na força de trabalho e assim por diante. Em um plano mais amplo, a eficiência das PAMT envolve reformas nos mercados de trabalho e do produto, política industrial, reformas fiscal e tributária, ações educacionais e de formação de capital humano, além de políticas macroeconômicas. Outro fator de sucesso dessas políticas condiciona-se ao nível da demanda agregada. Na presença de um baixo nível de demanda agregada, havendo poucas vagas e raras oportunidades de emprego, as PAMT atuarão simplesmente no sentido de redistribuir as ocupações existentes por meio dos efeitos substituição e deslocamento, a serem definidos. No longo prazo, porém, elas trazem efeitos positivos na medida em que essas políticas levam estímulos para a oferta de trabalho efetiva, contribuindo para limitar as pressões salariais, tendo em vista um nível de demanda, e criando mais oportunidades de emprego para os desempregados e ingressantes na força de trabalho. Outra dificuldade dessas políticas vai além de sua integração, dizendo respeito às superposições e aos “trade-offs” existentes entre elas. Por exemplo, intervenção no início da dispensa do trabalhador pode contribuir para a redução do desemprego de longo prazo, caso a chance de conseguir um emprego declinecom a extensão do período de desemprego. Contudo, a rapidez da ação pode produzir o chamado “efeito redundância”, ao empregar um trabalhador que seria contratado de qualquer forma. A questão, então, é de focalização correta para cada política. 7 Quadro 2 As principais funções das PAMT Elaboração do autor, com base em Auer, Efendioglu e Leschke (2005); Betcherman, Olivas e Dar (2004) e Martin (1998). Função Descrição 1. Criação de emprego Isto ocorre de duas formas: geração direta de emprego (emprego público, criação de empresas e oferta de subsídios, inclusive salariais, às empresas privadas) e indiretamente, promovendo maior "empregabilidade", por meio da oferta de treinamento, e melhoria do sistema de informações no mercado de trabalho que garante a melhoria do "job matching". Esta função representa a ocorrência de ações que proporcionam trabalho, renda e treinamento aos trabalhadores (desempregados ou não). As medidas em direção ao "Trabalho Decente", patrocinado pela OIT, fazem parte deste tipo de função. As transferências de renda associadas ao treinamento e às melhorias das condições de trabalho representam melhor alternativa, em termos de "custo de oportunidade", do que pagamento de benefícios ao desempregado. 2. Contribuição à redução da pobreza Decorre do estímulo à participação na força de trabalho de grupos populacionais mais vulneráveis e da parcela da população incapacitada ou em desvantagem no mercado de trabalho. As políticas e as ações em direção à eliminação da discriminação entre grupos fazem parte da busca da eqüidade por intermédio de políticas ativas. 3. Promoção da eqüidade Esta função visa proteger o trabalhador decorrente da abertura comercial, da contínua transformação tecnológica, do aumento do investimento estrangeiro e da privatização das empresas, os quais produzem mudanças no mercado de trabalho, em direção à flexibilização das relações de emprego e à ampliação do trabalho precário. Permitem combater os efeitos adversos da insegurança de emprego e renda e da insuficiência da demanda de trabalho. Devem ser complementadas com a adição de políticas macroeconômicas. 4. Garantia de maior segurança decorrente das mudanças no mercado de trabalho 8 Programas amplos implicam que mais pessoas têm maior chance de sucesso. Isto pode ocorrer, entretanto, em detrimento do próprio programa na medida em que a sua qualidade declina com o número de participantes. Pequenos programas, por sua vez, podem custar proporcionalmente mais em decorrência da dificuldade de se diluírem os custos fixos, e pode gerar pequeno impacto marginal sobre o desemprego. Pequenos programas, contudo, permitem um tratamento mais adequado aos beneficiários, aumentando a chance de sucesso, implicando pequenos efeitos colaterais indesejados nos mercados de trabalho e de produto, tais como os efeitos substituição e deslocamento (os quais veremos adiante), quando comparados com programas amplos. 2.2 – Os principais tipos de PAMT A literatura internacional contempla as seguintes categorias de PAMT: (1) Serviço Público de Emprego (SPE) e sua administração (assistência à procura por trabalho):4 inclui atividades de intermediação e recolocação de mão- de-obra, orientação de aconselhamento e vocacional, administração e habilitação ao SD e indicação aos que estão procurando trabalho sobre caminhos a serem trilhados nos programas visando à procura. Atualmente, tem sido adotado o procedimento de tratar os grupos de demandantes de acordo com a sua vulnerabilidade, tendo em vista aumentar a possibilidade de sucesso de cada política. (2) Treinamento e reciclagem profissional para o mercado de trabalho (ações para o aumento da “empregabilidade” e para a elevação da qualidade do trabalhador). Divide-se em duas espécies: (a) gastos em treinamento vocacional e de reabilitação para desempregados adultos; e (b) treinamento para adultos desempregados decorrente de razões de mercado. Existe ainda a divisão entre o treinamento em sala de aula para reciclar o desempregado e o treinamento na função (on the job training). Inúmeros países preferem a segunda opção, pois incute maior experiência profissional ao trabalhador, além de ir ao encontro das necessidades da demanda da empresa. Ignorando a questão dos custos, esta escolha fundamenta-se na suposição de que os trabalhadores que sofrem deterioração de sua qualificação pelo 4 Muitas vezes, depara-se na literatura das PAMT com o termo “Sistema Público de Emprego” em lugar de “Serviço Público de Emprego”. Neste texto, utilizaremos esta última expressão, pois está de acordo com a proposição das principais instituições internacionais, em especial a OIT, principal organização sobre normas e nomenclatura sobre mercado de trabalho, e cuja Convenção n. 88 estabelece as regras para a implantação de um “Serviço Público de Emprego”. 9 prolongamento do desemprego possuem uma repulsa natural em voltar ao ensino em sala de aula, preferindo envolvimento direto com a função ou a ocupação que deverão exercer (on the job training). (3) Medidas voltadas para a criação de emprego: são programas implementados visando à criação de emprego ou voltados para a manutenção dos empregos já existentes. Três tipos de programas enquadram-se nesta categoria: (a) Subsídios ao setor privado para geração de emprego: contempla medidas visando dar emprego para o desempregado ou outro grupo prioritário (exclusive jovens e incapacitados). Estes subsídios podem ser salariais ou outra forma de estimular as empresas do setor privado a aumentarem a contratação de novos trabalhadores. Uma forma tradicional de subsídio trata das isenções tributárias. Outra forma diz respeito aos sistemas de compensação dos pagamentos que o empregador deve fazer para o financiamento da seguridade social. São, geralmente, destinados para combater o “desemprego de longo prazo”, em setores, áreas ou regiões com alto nível de desemprego. Embora sejam de reconhecido conteúdo social, devem promover a criação de emprego com base na eficiência de custo (cost- effective). (b) Criação direta de emprego pelo setor público: destina-se ao atendimento de grupos de desempregados mais vulneráveis no mercado de trabalho, os quais são temporariamente ocupados em atividades do setor público, ou então de organizações não-lucrativas. Englobam projetos comunitários e projetos visando estimular setores utilizando mão-de-obra intensivamente. Visa solucionar o desemprego de curto prazo, envolvendo a criação de emprego direto ou a produção de bens e serviços públicos utilizando trabalho intensivamente. O governo pode administrar estes programas diretamente, ou delegá-lo ao setor privado, ou ainda utilizar os serviços de Organizações Não- Governamentais (ONGs). (c) Desenvolvimento de micro empreendimentos e auxílio ao desempregado a se estabelecer por conta própria: estes programas envolvem financiamento ao desempregado para implantarem seu estabelecimento, oferta de apoio técnico, serviços de incubadoras e responsabilidade do governo em relação aos custos iniciais dos pequenos empreendimentos. Em alguns casos, o financiamento ocorre em forma de parcelas, enquanto em outros ocorre na forma de parcela única (lump-sum). Estes programas podem se destinar a pessoas ou mesmo a um grupo de trabalhadores. Em ambos os casos pode haver uma atividade oficial prévia buscando avaliar as possibilidades de sucesso da concessão de recursos. Os programas públicos visando apoiar o pequeno empresário têm se revelado uma forma adequada de suplantar os problemas decorrentes do racionamento de crédito imposto pelo mercado financeiro. 10 (4) Medidas especiais destinadas à população jovem: cobrem programas especiaispara jovens na fase de transição da escola para o trabalho e aqueles com curto engajamento no mercado de trabalho. Neste caso, incluem: i) treinamento e aumento da empregabilidade para jovens desempregados; e ii) treinamento de aprendizes destinados, principalmente para aqueles indivíduos que estão deixando a escola, e que estão em busca do seu primeiro emprego. (5) Ações destinadas aos incapacitados: inclui somente programas especiais para os portadores de deficiência física. Divide-se em duas subcategorias: i) treinamento voltado para a reabilitação vocacional e medidas voltadas para aumentar a empregabilidade do incapacitado; e ii) programas que amparam diretamente o incapacitado fornecendo-lhe emprego imediato, sem qualquer condicionamento de trabalho. Em síntese, são estas as principais PAMT existentes no cenário internacional, utilizadas mais intensamente na esfera dos países da OECD. Sobre elas, têm sido realizadas diversas avaliações cujos resultados, apesar de revelar algumas de suas limitações, permitem reconhecer sua importância para amenizar as dificuldades do mercado de trabalho, em particular no combate ao desemprego aberto. 2.3 – O alcance e as principais limitações das PAMT A avaliação das PAMT permite dizer que elas são potencialmente uma importante arma no arsenal do governo na luta contra o desemprego e pela redução da pobreza, mas o farto conjunto de avaliações realizadas no cenário internacional aponta para a ocorrência de resultados controversos. Contudo, a maioria dos analistas dessas políticas e das políticas passivas adota a postura de magistrado concedendo a elas o benefício do in dubio pro reu, atribuindo às PAMT um papel importante como mecanismo de combate ao desemprego, assim como de outras mazelas do mercado de trabalho. Algumas afirmações de analistas das PAMT consolidam a importância de sua adoção, mesmo na presença de dúvidas e controvérsias resultantes das avaliações: Empirical evidence on the overall impact of active programmes on aggregate unemployment is mixed. Scarpettta (1996) suggest a small and often not statistically effect on unemployment. These results are in contrast with those……..who found a somewhat more significant impact, but are consistent with a number of studies based on micro data. However, empirical results are suggestive of a greater impact of active policy on employment rates (Scarpetta, 1996), confirming that these policies could have a positive effect on labour force participation by keeping otherwise discouraged workers in the labour market. Moreover, the results suggest that there is no linear relationship between spending on active programmes and the impact on unemployment, but rather, there are declining returns of scale. Too generous active policy may do more 11 harms than good because they may displace many jobs. Job displacement may occur for at least two reasons. First, active programmes may increase unions’ resistance to wage moderation in the face of shocks when active programmes reduce the income loss associated with open unemployment. Second, job search may be weakened if programmes fail to improve employability and skills. (Scarpetta, 1998: página 18) While we cannot ignore the undoubted problems with active measures, it would be wrong to draw a pessimistic conclusion about their potential role in the fight against high and persistent unemployment and the problems of low pay and poverty. We now know a great deal more about what works and what does not work among the large array of active measures currently in use across OECD countries. We are also much more aware nowadays of the crucial nature of the various interactions between active and passive measures. Recent OECD research suggests several practical steps which can be taken to enhance the effectiveness of active measures. At the same time, there is a crying need to expand the quantity and quality of evaluations of labour market programmes in a wider range of OECD countries so that countries can learn from each other’s experiences. (Martin, 1998: páginas 106-107) Despite the mixed evaluation picture, governments, faced with the economic and social problems associated with large numbers of unemployed and poor workers, have little choice but to use active programming as one instrument in their response. They should be realistic about what ALMPs can achieve and allocate resources on the basis of cost-effectiveness. The challenge, then, is to learn from existing experiences, investing in programs that have positive returns and altering or dropping programs that do not. If ALMPs are going to be an economically useful policy, it is very important that governments carefully evaluate their own programs and introduce interventions on the basis of what works domestically and in other countries. (Betcherman, Olivas, Dar, 2004: página 55) Finalmente, em termos da importância destas políticas, tem predominado a opinião de que elas são necessárias na presença das transformações impostas ao mercado de trabalho decorrentes da globalização dos mercados mundiais, bem como da insegurança de emprego e renda trazidos pela necessidade de se flexibilizar as relações de emprego. Nesse sentido, os dados provenientes da OECD, mencionados por Auer, Efendioglu e Leschke (2005), revelam duas constatações que confirmam a importância das PAMT como indispensáveis no conjunto de políticas governamentais visando adequar um país aos impactos decorrentes da globalização e da flexibilização do mercado de trabalho: (a) Quanto maior o grau de abertura da economia, maior têm sido os gastos com as PAMT, conforme mostra o gráfico 1. Isto sugere que quanto maior o grau de abertura, mais inseguro se torna o mercado de trabalho, e contra os riscos da globalização que resultam em 12 insegurança de renda e emprego trazidos pela abertura da economia, assim como outros aspectos adversos ao bem-estar dos trabalhadores, os governos têm elevado seus gastos com políticas ativas para enfrentar estas dificuldades; e (b) Quanto maior os gastos de um país com PAMT, maior o número de trabalhadores que se sentem seguros perante as possibilidades de manterem seus empregos, ou relativamente ao bom desempenho das empresas que os empregam (Auer, Efendioglu e Leschke, 2005: página 4), conforme mostra o gráfico 2. Embora estas conclusões não eliminem a busca constante do aprimoramento das políticas ativas, isto confere grande importância a estas em relação à segurança dos trabalhadores, em tempos de grandes transformações impostas pelos movimentos da conjuntura financeira, econômica e social no mundo. Gráfico 1 Gastos em PAMT em relação ao aumento da abertura econômica em países selecionados da OECD Fonte: OECD, Employment Outlook (2004) e Auer, Efendioglu e Leschke (2005: página 4). 13 Gráfico 2 Gastos com PAMT em relação ao aumento da segurança do mercado de trabalho em países selecionados da OECD Fonte: OECD, Employment Outlook (2004) e Auer, Efendioglu e Leschke (2005: página 4). 3. Os impactos potenciais das PAMT no mercado de trabalho 3.1 – Os efeitos das PAMT no mercado de trabalho Embora as PAMT tenham inúmeros objetivos, conforme vimos anteriormente, destinando-se aos diversos grupos populacionais, além de adotadas simultaneamente, elas podem ser colocadas em um instrumental teórico, de cunho microeconômico, quando utilizamos uma definição mais simplificada de seus objetivos: são adotadas visando à melhoria do funcionamento do mercado de trabalho em direção à eliminação do desemprego. Calmfors (1994) elaborou um modelo incorporando explicitamente o impacto das políticas ativas no modelo microeconômico, analisando quais são suas conseqüências sobre o mercado de trabalho, por meio das modificações que ocorrem na oferta e na demanda de trabalho. Essa nova interpretação de determinaçãodo equilíbrio no mercado de trabalho, englobando a participação dos trabalhadores em PAMT, possibilita entender inúmeros efeitos diretos decorrentes da adoção ou maior utilização dessas políticas. Todavia, como os efeitos diretos podem afetar tanto a oferta, quanto à demanda de trabalho, surgem, também, efeitos indiretos, ficando o 14 impacto líquido de determinada política dependente da magnitude desses efeitos.5 Para capturar os efeitos indiretos que permitam saber o resultado líquido das PAMT é preciso distinguir as diversas formas que tais políticas podem afetar o mercado de trabalho, até mesmo sobre a ótica de que alguns efeitos se reforçam mutuamente. Resumidamente, são os seguintes os impactos que podem ocorrer no mercado de trabalho, fruto de políticas ativas: (a) Efeitos no job matching (procura de vaga pelo trabalhador e oferta desta pela empresa); (b) Efeitos na competição entre insiders (trabalhadores empregados) e outsiders (trabalhadores procurando emprego) no mercado de trabalho; (c) Efeitos da participação na força de trabalho (indivíduos trabalhando ou procurando trabalho); (d) Efeito-Substituição (ES); Efeito-Redundância (deadweight effect) (ER); Efeito-Deslocamento pelo mercado do produto (ED);6 (e) Efeito teste de disponibilidade para o trabalho; (f) Efeito sobre a produtividade do trabalho; (g) Efeitos tributários sobre o equilíbrio-geral; e (h) Impactos decorrentes de interações com outras políticas. Em decorrência desses diversos efeitos, torna-se muito difícil, para não dizer impossível, inferir o impacto líquido originado de uma política ativa no mercado de trabalho unicamente sob a perspectiva teórica. Como as evidências empíricas ainda estão buscando seu caminho para gerar resultados mais confiáveis, resta apenas a alternativa de previsões sobre o impacto líquido a partir de considerações teóricas, chegando-se mais próximo do verdadeiro efeito quanto mais bem elaboradas forem as premissas do modelo. Ainda assim, após uma ampla e rigorosa análise conceitual, Calmfors (1994) resumiu os vários efeitos das PAMT sobre o mercado de trabalho de acordo com o quadro A.1, que se encontra anexado no fim deste texto. 5 São muitas as alternativas de efeitos diretos e indiretos e, conseqüentemente, os resultados líquidos possíveis são inúmeros, razão pela qual não serão aqui explorados. O leitor interessado deve consultar, entre outros, Calmfors (1994) e Boone e Ours (2004). 6 Estes efeitos serão definidos na próxima seção. 15 3.2 – Os aspectos conceituais das técnicas de avaliação utilizadas no cenário internacional 7 A ampla utilização das PAMT, especialmente em respostas às deficiências do mercado de trabalho, mas, principalmente, em decorrência do crescimento do desemprego aberto nos países industrializados e da ampliação do trabalho precário em várias regiões do mundo, tem provocado uma verdadeira avalanche de avaliações sobre os resultados dessas políticas. Além da necessidade de acompanhar os vultosos gastos realizados, estas avaliações têm sido estimuladas pelo desenvolvimento de novos métodos matemáticos, estatísticos e econométricos, o que tem melhorado substancialmente os resultados obtidos, aumentando a confiança nas políticas, e promovido a boa prática de avaliação. O monitoramento das PAMT possui grande significância em razão de vários aspectos. Em primeiro lugar, revela o grau de eficiência do gasto público, em decorrência da limitação de fundos a serem destinados às PAMT. Em segundo lugar, refere-se ao conhecimento da eficácia dessas políticas em relação ao público-alvo, ou seja, se a focalização inicialmente prevista atingiu seu objetivo. Em terceiro lugar, avaliações permanentes são indispensáveis para redesenhar, bem como ajustar sob novos parâmetros, as políticas já implementadas. Em quarto lugar, para revelar a adequação da participação dos agentes sociais, dos governos e das Instituições no sucesso ou no fracasso de determinada política. E, finalmente, porque a credibilidade das PAMT depende, em larga medida, do alcance dos objetivos que elas devem cumprir o que é somente possível conhecer por meio de avaliações rigorosas. Sob a ótica das políticas tomadas individualmente, existe uma ampla literatura procurando avaliar o desempenho e os resultados de programas ativos voltados para o mercado de trabalho. A literatura contempla dois tipos de avaliação de programas individuais: (1) O primeiro tipo procura medir o impacto sobre o participante de determinado programa, ou de certa política, em termos de emprego e renda depois que ele deixou o programa. O julgamento dos resultados obtidos faz-se em relação a um grupo de controle 7 Existe vasta literatura sobre avaliação das políticas ativas no mercado de trabalho. As avaliações que objetivam verificar o impacto microeconômico examinam seus possíveis impactos sobre o individuo, enquanto as avaliações macroeconômicas examinam os impactos sobre o emprego agregado ou sobre os salários nominais. A abundância dos estudos avaliando programas individuais é muito maior que as avaliações macroeconômicas, razão pela qual esta seção apresentará os aspectos a eles relativos, até mesmo porque possuem mais relevância para o atual estágio das PAMT brasileiras. O leitor interessado em conhecer os mais diversos aspectos das avaliações, e seus resultados, deve consultar, entre outras referências, as seguintes: Pierre (1999); Dar e Tzannatos (1999); Betcherman, Olivas e Dar (2004); Cockx (1998); Fretwell, Benus e O’Leary (1999); Heckman, Lalonde e Smith (1999); Smith (2000); Martin (2000); Martin e Grubb (2001); e Meager e Evans (1998), bem como a bibliografia neles referenciada. 16 composto por indivíduos similares que não participaram do mesmo programa. Este método de avaliação aplica-se aos programas em que houve tentativa de tornar os participantes mais produtivos e/ou competitivos no mercado de trabalho, especialmente os programas de treinamento e assistência à procura de trabalho pelo desempregado. (2) A segunda forma de avaliação de programas isolados, tenta medir o efeito líquido de um programa sobre o emprego, por intermédio da estimação dos Efeitos Substituição, Redundância (deadweight loss) e Deslocamento. A relevância desta forma de avaliação está associada, principalmente, aos programas de subsídios ao emprego. Este segundo tipo de avaliação busca obter o “emprego líquido” – o número de vagas criadas por determinado programa de Política Ativa no Mercado de Trabalho, por meio da seguinte fórmula: EL = CBE – ER – ES- ED onde, EL – impacto líquido sobre o emprego criado por determinada política CBE – criação bruta de emprego ER – Efeito-Redundância (deadweight loss) ES – Efeito-Substituição ED – Efeito-Deslocamento A definição de cada um desses efeitos é a seguinte: Efeito-redundância (deadweight loss) – ER: ocorre quando o resultado do programa não é diferente daquilo que aconteceria na ausência do programa. Um exemplo é quando se concede a uma empresa um subsídio salarial para contratar um trabalhador, mas essa contratação ocorreria mesmo se a empresa não tivesse concedido o subsídio. No caso do subsídio, a avaliação deve, imperiosamente, determinar se o emprego subsidiado seria criado de qualquer forma, mesmo na ausência deste estímulo. Efeito-Substituição (substitution effect) – ES: ocorre quando a empresa recebendo subsídio contrata um trabalhador que seria alugado, de qualquer forma, por outra empresa ou setor não-subsidiado. Ou seja, a avaliação procura quantificar se a melhoria de oportunidade para o grupo-alvo não vem à custa da piora das perspectivas de emprego para outro grupo de trabalhadores. 17 Efeito-Deslocamento (displacement effect) – ED: ocorre no mercado de produto, com implicações para o mercado de trabalho. Acontece quandouma firma contratando trabalhadores subsidiados eleva sua produção, mas provoca uma redução (desloca) a produção das empresas concorrentes que não foram contempladas pelo subsídio. Isto pode causar redução de emprego em empresas não-subsidiadas, o que deve ser computado na avaliação. É um efeito comum em políticas que destina recursos para desempregados procurando estabelecer seu próprio empreendimento, ou quando o governo central provê fundos aos governos locais, para projetos de criação de empregos, os quais seriam executados pelas autoridades locais independentes da ajuda federal. Embora esta forma de avaliar capte vários aspectos, pode haver, entretanto, outras externalidades decorrentes dos programas ativos que não são captados nem por ela, nem por alguma outra avaliação. Por exemplo, uma PAMT pode levar a uma redução da criminalidade, ou uma melhoria na qualidade do trabalho, ou na intensidade do trabalho oferecido, ou ainda no custo dos programas de saúde em razão da redução do tempo de desemprego. Como as informações não são completas, nenhuma avaliação consegue mensurar estes efeitos dificultando a correta contabilidade dos custos e dos benefícios sociais. O resultado mais comum focalizado pelas avaliações individuais procura mostrar se o indivíduo obtém ocupação e/ou experimenta um aumento de sua remuneração como conseqüência de sua participação em determinado programa. Contudo, o correto é que tais avaliações considerem cuidadosamente outros diferentes e possíveis resultados como, por exemplo, emprego, desemprego que resulta em outra política. Um trabalhador pode experimentar queda nos rendimentos em seguida à sua participação em um programa em decorrência de desemprego, ou após sua matrícula em outro programa ou, no caso de treinamento, pela necessidade que se impõe em obter mais educação. 3.3 – Os impactos potenciais das políticas ativas O quadro 3 contém um sumário das principais PAMT destacando os possíveis efeitos positivos esperados de sua adoção, os efeitos negativos que podem acarretar, além de algumas das principais questões que devem ser respondidas, seja antes da sua adoção, seja durante seu desenvolvimento, ou então na fase de avaliação. Parece claro que nenhuma dessas políticas tem efeito somente positivo ou somente negativo, podendo ocorrer ambos durante sua implementação. Observando-se o conjunto das políticas sob a ótica dos efeitos positivos, entre os muitos existentes, observa-se alguma predominância em obrigar o trabalhador a manter contato mais permanente com a evolução do mercado de trabalho. Para isso, estimula-se o aumento efetivo da oferta de trabalho do 18 indivíduo ou os impactos favoráveis na produtividade. E, também, redução do período de busca por trabalho. No caso dos impactos negativos, destaca-se, sem dúvida, a possibilidade que a maioria dessas políticas ativas tem de provocar o Efeito-Redundância ou o Efeito-Substituição ou mesmo o Efeito-Deslocamento. Isoladamente, ou combinados, parecem ser um resultado esperado da maioria das políticas mencionadas no quadro 3. Outro impacto não-desejado que aparece com freqüência é a elevação do poder de pressão dos “insiders”, um grupo já beneficiado por outros aspectos institucionais existentes no mercado de trabalho. 4. As políticas ativas no cenário internacional 4.1 – As principais estatísticas segundo países e regiões Embora a utilização das políticas ativas esteja disseminada em praticamente todas as regiões do mundo, existem diferenças significativas no volume de recursos destinado para esta finalidade, seja entre as regiões, seja entre países. 19 Quadro 3 Impactos Teóricos das Políticas Ativas no Mercado de Trabalho Programa / Política Efeitos Positivos Esperados Efeitos Negativos Esperados Questões a Serem Respondidas A. Subsíd ios ao emprego 1. Pode gerar emprego permanente ao auxiliar os indivíduos a desenvolver habilidades relacionadas ao trabalho. 2. Pode criar/induzir maior rotatividade no mercado de trabalho reduzindo o poder dos insiders . 3. Pode incrementar a oferta efetiva de trabalho ao auxiliar aos indivíduos a manterem contato permanente com o mercado de trabalho, contribuindo para a moderação salaria l para um dado nível de demanda. 4. Quando a participação no programa é voluntária, pode ser utilizada como "teste de atividade" em melhorar a posição no mercado de trabalho. 1. Pode haver "redundância", "efeito- substitu ição" e "efeito-deslocamento" 2. Pode aumentar as pressões salaria is ao reduzir o custo do desemprego do trabalhador (aumentar a pressão salaria l dos insiders) 1. Quem deve receber o subsídio: empregador ou empregado? 2. Quanto tempo deve durar o subsídio? 3. Qual o melhor formato: pagamento único ou em parcelas? 4. Deve um trabalhador ocupado receber treinamento? 5. Qual o tamanho ótimo do programa? 6. Em que ponto da duração do desemprego o subsíd io deve ser oferecido? 7. Como devem ser obtidos os fundos para os subsídios? Qual sua origem? B. Criação de emprego no setor público 1. Pode auxiliar no emprego de trabalhadores com alto grau de vulnerabilidade, obrigando-os a manter contato permanente com o mercado de trabalho 1. Pode haver substitu ição (crowding out) com o setor privado. 2. Estigma sobre o indivíduo impede o crescimento da sua empregabilidade. 3. A oferta de vagas pode criar ocupação que antes não existia, mas este emprego pode ser de baixa produtividade marginal. 4. Pode elevar o poder dos insiders ao reduzir o custo do desemprego. 1. Quanto tempo deve durar o emprego oferecido? 2. Onde o emprego deve ser oferecido para m inim izar o efeito-deslocamento? 3. Como maxim izar os benefícios dessas ocupações sabendo que são de baixa produtividade marginal? 4. Qual o nível de ganhos que deve ser oferecido? Deve ser e le re lacionado ao salário prévio, ao salário de mercado ou ao salário médio? Programa / Política Efeitos Positivos Esperados Efeitos Negativos Esperados Questões a Serem Respondidas C. Bônus pelo reemprego 1. Pode ajudar na redução do período de desemprego. 2. Pode contribuir para elevar a oferta efetiva de trabalho. 1. Pode elevar gastos do programa quando o trabalhador pleiteia benefícios ou regressa no programa, mas não faria isto se ele não existisse. 1. Que tipos de controle são necessários: tamanho do bônus, período de qualificação, período de reemprego etc.? 2. Como penalizar o conluio entre empregado e empregador? D. Assistência e aconselhamento na busca por trabalho 1. Auxilia na redução do período de desemprego. 2. Pode contribuir para a redução do poder dos insiders. 3. Pode contribuir no aumento da oferta efetiva de trabalho. 1. "Efeito-redundância". 2. Pode gerar o deslocamento no desemprego de longo prazo se oferecido no período inicial do desemprego. 1. Em que ponto da duração do desemprego devem ser intensificadas as ações de aconselhamento? 2. Com que freqüência deve a atividade de pesquisa ser testada? 3. Como premiar e/ou punir a falta de atividade na busca por trabalho? 20 laboração do autor com base em Calmfors (1994); Fay (1996); Martin (1998); Heckman, Lalonde e Smith (1999); e Martin e Grubb (2001). E Programa / Política Efeitos Positivos Esperados Efeitos Negativos Esperados Questões a Serem Respondidas E. Apoio ao desempregadoque deseja se estabelecer em um empreendimento próprio 1. Contribui para criar o espírito empreendedor. 2. Pode auxiliar no fortalecimento da competição no mercado de produto. 1. Pode haver "efeito-redundância". 2. Pode deslocar a produção de firmas não-subsidiadas. 1. Quais os suportes técnico, finance logístico que devem ser oferecidos n início do apoio? 2. Quanto tempo o apoio deve permanecer? 3. Que tipo ou forma este apoio deve parcelas periódicas, parcela única? 4. Como trabalhar com o fato de que existem diferenças no ingresso em cada setor, uns com poucas barreiras à entrada, mas baixos lucros, e outros com fortes barreiras, mas altos lucros? iro, o ter: F. Treinamento profissional por meio de cursos formais 1. Aumento da produtividade do desempregado relativamente ao requerido pelas vagas em aberto. 2. Aumentar a duração do "casamento" entre trabalhadores e empresa. 3. Aumenta a oferta efetiva de trabalho. 1.Pode haver "efeito-redundância". 2. Pode haver "efeito-deslocamento" de outros treinandos no programa ou trabalhadores desempregados. 3. Redução na intensidade da busca por trabalho desde que durante o período de treinamento o indivíduo usualmente não mantenha contato com o mercado de trabalho. 4. Pode elevar o poder dos insiders por reduzir o custo de desemprego. 1. Como conciliar as necessidades do empregador e do trabalhador? 2. Qual o conteúdo do curso? 3. Quando o treinamento deve se inic 4. Qual deve ser a extensão do curso para simultaneamente maxim izar a eficiência e os benefícios a longo pra mas m inim izar o tempo de obter um novo emprego, com menor "renda perdida 5. O setor público deve servir de parâmetro? iar? zo, "? 21 4.1.1 – Países da OECD A tabela 1 contém as estatísticas do dispêndio dos países da OECD em políticas ativas, segundo os principais tipos de programas. Trata-se do conglomerado de países que mais gastam com as PAMT. A média não-ponderada desses gastos representa 0.69% do PIB, muito embora exista grande disparidade entre países: os gastos são sensivelmente maiores entre os países da União Européia que nos demais, inclusive a América do Norte. Mesmo dentro da União Européia existem diferenças marcantes. Os países Nórdicos gastam bem mais que os demais, e nações como Grécia, Portugal, Itália e Reino Unido têm destinado, historicamente, poucos recursos às PAMT. Outra constatação, a partir das referências bibliográficas consultadas (ver Dar e Tzannatos, 1999, Martin, 1998 e Martin e Grubb, 2001), diz respeito ao comportamento dos gastos na esfera da OECD ao longo do tempo: em 1985/1986, era de 0.77% do PIB; em 1992/1993, passou a 1.08%; em 1995/1996, estava em 1.03%; em 1997, caiu para 0,8%; e, em 2002, reduziu-se para 0.69%. Este comportamento é explicado principalmente pela trajetória da taxa de desemprego, mas a queda recente deve ser atribuída, também, às amplas reformas implementadas após 1994. Naquele ano, em resposta ao alto e persistente nível de emprego em grande parte dos países da OECD, especialmente na União Européia, a instituição empreendeu um amplo conjunto de estudos sobre os fatores originando o mau funcionamento do mercado de trabalho. Como conseqüência, foi publicado o OECD Jobs Study contendo inúmeras sugestões e recomendações de políticas para reduzir o desemprego, promover a geração de emprego e aumentar a prosperidade (OECD, 1994). Entre as áreas cobertas, as ações ativas e passivas voltadas para o mercado de trabalho mereceram especial atenção. O pressuposto foi o de que as PAMT, quando desenhadas apropriadamente, poderiam contribuir para a redução do desemprego por meio da melhoria no processo de job matching, assim como garantir a preservação da experiência adquirida, além da ampliação da qualificação da parcela da força de trabalho contemplada pelas políticas. O quadro 4 contém, para o período 1994- 2004, para um conjunto de países da OECD, um sumário das principais sugestões de alterações nas PAMT formuladas pelo mencionado Jobs Study. As reformas concentraram-se em quatro grandes áreas:8 8 Independentemente do maior ou do menor grau de sucesso da implantação dessas reformas, o conhecimento do seu conteúdo é de suma importância para a América Latina e para o Brasil. Tal fato indica não só a necessidade de correção de equívocos aqui existentes, bem como, e principalmente, indica caminhos mais seguros a serem seguidos na adoção das políticas ativas, tendo em vista o baixo nível de utilização destas na região. 22 (a) Forte ênfase em testar e monitorar a disponibilidade do desempregado para o trabalho: um número representativo de países membros da Organização introduziram condições mais rigorosas relativas à obrigatoriedade da busca por trabalho. Outros países ampliaram a ligação entre as PAMT e as reformas no SD por meio da utilização da PAMT como um elemento do teste de disponibilidade para o trabalho; (b) Aumento do estímulo (activation) ao empenho do desempregado: praticamente metade dos membros da Organização utilizou intensivamente as políticas ativas como instrumento para orientar os desempregados a buscarem trabalho imediatamente na seqüência de sua dispensa, visando, com isso, evitar a perda de qualificação, ou falta de estímulo em sua motivação, em decorrência do desemprego de longo prazo. Outros países tornaram compulsória a busca imediata de trabalho tornando o recebimento do benefício condicional à comprovação de busca ativa por trabalho, durante determinado período de tempo; (c) Melhorar os esforços de colocação do trabalhador do Serviço Público de Emprego: vários países introduziram a técnica de examinar o “perfil do desempregado” (profiling), acompanhado de planos de ação visando oferecer o mix adequado de aconselhamento, treinamento e outros serviços com o objetivo de garantir rapidamente o reemprego do trabalhador em ocupações não-subsidiadas. Outra medida foi a oferta de serviços diferenciados para os desempregados de longo prazo e outros grupos mais vulneráveis. Em muitos países, houve intenso apoio para melhorar a assistência à busca por trabalho, ampliando as possibilidades de contato, e onde o SPE foi utilizado para monitorar as atividades de busca de trabalho; e (d) Tornar a administração das atividades do SPE mais eficiente: este objetivo advém do reconhecimento de que as PAMT estão intimamente associadas à obrigação do desempregado buscar trabalho para assegurar sua elegibilidade ao SD. Nesse sentido, de acordo com as reformas propostas, um significativo número de países melhorou a colaboração entre as Instituições administrando diferentes serviços e benefícios ao trabalhador, e alguns deles promoveram uma completa integração entre políticas ativas e passivas. Buscando tornar as políticas mais eficientes, alguns países impuseram regras de “contestabilidade”, fazendo que os Serviços de Emprego funcionassem com seu desempenho avaliado por parâmetros de mercado. Além disso, a “terceirização” foi introduzida em inúmeros programas voltados para o mercado de trabalho. 23 Tabela 1 Gasto público com as PAMT como porcentagem do PIB, países selecionados no âmbito da OCDE, 2002 (%) Programas SPE TRE AJ ESP AI Total das PAMT [1] [2] [3] [4] [5] [6]=[1+2+3+4+5] Países Alemanha 0,23 0,32 0,10 0,22 0,30 1,17 Austrália 0,20 0,03 0,08 0,10 0,05 0,46 Áustria 0,14 0,21 0,02 0,10 0,060,53 Bélgica 0,21 0,30 0,01 0,60 0,13 1,25 Canadá 0,20 0,15 0,02 0,03 0,02 0,42 Dinamarca 0,12 0,86 0,10 0,17 0,34 1,59 Espanha 0,09 0,22 0,06 0,45 0,03 0,85 Estados Unidos 0,04 0,03 0,03 0,01 0,03 0,14 Finlândia 0,12 0,30 0,17 0,33 0,08 1,00 França 0,18 0,24 0,43 0,35 0,09 1,29 Grécia 0,06 0,21 0,10 0,08 0,01 0,46 Holanda 0,28 0,60 0,04 0,33 0,59 1,84 Hungria 0,12 0,06 - 0,34 - 0,52 Itália n.d. 0,04 0,21 0,38 n.d. 0,63 Japão 0,18 0,04 0,01 0,06 0,01 0,30 México - 0,03 - 0,02 - 0,05 Noruega 0,13 0,05 0,01 0,01 0,67 0,87 Nova Zelândia 0,12 0,12 0,14 0,08 0,05 0,51 Polônia n.d. 0,01 0,07 0,03 n.d. 0,11 Portugal 0,11 0,15 0,22 0,09 0,04 0,61 Reino Unido 0,15 0,03 0,12 0,03 0,02 0,35 República da Coréia 0,05 0,07 0,02 0,11 0,02 0,27 República Tcheca 0,07 0,02 0,02 0,06 0,01 0,18 Suécia 0,37 0,29 0,02 0,21 0,50 1,39 Suíça 0,11 0,13 0,01 0,13 0,15 0,53 média não-ponderada 0,15 0,18 0,09 0,17 0,15 0,69 Observações: SPE:Serviço Público de Emprego TRE: Treinamento para o Mercado de Trabalho AJ: Apoio aos Jovens ESP: Emprego Subsidiado às Empresas Privadas (e outros programas) AI: Apoio aos Incapacitados PAMT: Políticas Ativas de Mercado de Trabalho n.d.: não disponível (-)cifra insignificante Elaboração do autor com base em Auer, Efendioglu e Leschke (2005). 24 Quadro 4 Políticas ativas de mercado de trabalho: reformas nos países da OECD durante o período 1994-2004 Mais Aumento Completo de Ativação Serviço Público de Emprego Aumento no uso de PAMT como Avaliações Por meio da Por meio de Procura de Melhoria na articulação administrativa Por meio da maior competição Teste de Rápida ativação intensidade na ações individuais emprego mais maior maior contestabilidade "terceirização" avaliação de Em Obrigatório procura de emprego planos/perfil monitorada cooperação integração trabalho geral Alemanha + + + + + Austrália + + + + + + + Áustria + + Bélgica + + + + Canadá + + Coréia + + Dinamarca + + + + + + Espanha + + Estados Unidos + + + Finlândia + + + + França + + + + + Grécia + + + + Holanda + + + + + + Hungria + + + Irlanda + + + Islândia + + + Itália + + Japão + + Luxemburgo + México + Noruega + + + + + Nova Zelândia + + + + + Polônia + + + Portugal + + + + Reino Unido + + + + + República Eslováquia + República Tcheca + + Suécia + + Suíça + + + Turquia + Observação: O sinal de + indica reformas que seguem o Jobs Strategy. Fonte: Brandt, Burniaux e Duval (2005). 25 4.1.2 – Países em desenvolvimento e economias em transição As tabelas 2 e 3, a seguir apresentadas, contêm informações referentes à proporção dos gastos com PAMT em nações em desenvolvimento, bem como referentes às economias em transição no leste europeu. Ressaltando que são estatísticas mais difíceis de serem obtidas, bem como menos rigorosas e mais limitadas, é possível inferir que: (1) Em relação aos países (selecionados) em desenvolvimento na América Latina e no Caribe, os gastos com políticas ativas, representadas apenas pelo dispêndio de recursos em programas de treinamento, e aqueles voltados para a geração de emprego, representam cerca de 0.48% do PIB, uma cifra menor que a verificada nos países no âmbito da OECD. De qualquer forma, trata-se de uma cifra não-desprezível quando comparada com as estatísticas internacionais. Países de grandes dimensões (Argentina, Brasil e México) parecem gastar mais com as políticas ativas voltadas para a geração de emprego, enquanto nações pequenas como Costa Rica e Chile investem mais em programas de treinamento; e (2) Os países em transição gastam, em média, 0.14% do PIB com as PAMT, cifra bastante abaixo dos países em desenvolvimento. Apenas a Hungria, a Eslováquia e a Polônia revelam cifras que têm alguma significância no cenário internacional. Tabela 2 Gastos nos programas de treinamento e geração de empregos em países selecionados da América Latina e Caribe, 1997 (em US$ e como porcentagem do PIB) Programas Programas de treinamento Geração de emprego Países US$ 1000 Como % do PIB US$ 1000 Como % do PIB Argentina 95,6 0,04 249,2 0,09 Brasil 310,2 0,10 1188,8 0,21 Chile 18,3 0,03 1,4 0,00 Costa Rica 60,6 0,73 3,3 0,04 Jamaica 18,6 0,44 21,2 0,50 México 135,0 0,04 1802,0 0,51 Peru 5,0 0,10 0,10 0,00 média não- ponderada 91,9 0,21 466,6 0,27 Elaboração do autor com base em Auer, Efendioglu e Leschke (2005). 26 Tabela 3 Gastos em políticas ativas e passivas de mercado de trabalho em países em transição, 1998 Gastos em políticas Gastos em políticas Gasto total como ativas como % do PIB passivas como % do PIB % do PIB Bulgária 0,12 0,46 0,8 Croácia 0,03 0,48 0,6 Eslováquia 0,32 0,56 1,1 Estônia 0,07 0,10 0,2 Hungria 0,28 0,91 1,3 Polônia 0,30 0,59 1,0 Rússia 0,02 0,13 0,2 Tchecoslováquia 0,05 0,26 0,4 Ucrânia 0,03 0,19 0,3 média não- ponderada 0,14 0,41 0,66 Elaboração do autor com base em Betcherman, Olivas e Dar (2004). 4.2 – O estágio atual das PAMT em diversas regiões do mundo Em período recente tem se ampliado bastante, e em escala mundial, a utilização de PAMT, especialmente em resposta aos problemas trazidos ao mercado de trabalho pelo processo de globalização. A importância, a intensidade e as principais características, contudo, diferem bastante entre países e regiões conforme se observa no quadro 5 que se segue. As informações desse quadro são auto-explicativas, e, por esta razão, apenas um sumário de observações será aqui formulado. África A realidade do mercado de trabalho no continente africano revela um grande contingente de trabalhadores informais, sendo esta a característica marcante que condiciona a geração de emprego. O apoio aos pequenos empreendimentos e aos trabalhadores autônomos é de vital importância. O SPE opera em níveis muito baixos e somente nas regiões e nos países africanos de língua inglesa. Sofrem grande limitação de recursos, e os serviços operam em padrões mínimos, com recursos humanos escassos de baixa qualificação. As agências praticamente se limitam a inscrever desempregados e trabalhadores nos serviços oferecidos, e a função de intermediação é desempenhada pobremente. O 27 pessoal técnico é insuficiente, a infra-estrutura física é precária e atuam desconectados da economia informal, limitando as oportunidades de emprego neste setor. A oferta de Treinamento tem aumentado de importância como uma política ativa na região, principalmente em modalidades que combinam treinamento com a experiência adquirida no trabalho. O treinamento formal tem atuado articuladamente com o desenvolvimento das habilidades empresariais e a promoção do espírito empresarial. Além disso, a oferta de treinamento tem se voltado para as necessidades da demanda do setor privado. O Emprego Público tem sido utilizado intensivamente em situações de emergência originadas de desastres naturais, catástrofes e conflitos civis, mas também de forma estratégica na recessão econômica. Trata-se de uma política ativa de alta prioridade na região. Entretanto, esses programas são caracterizados por baixos níveis de organização do trabalho, reduzidos níveis de produtividade,pouca eficiência e, ainda, baixo valor do produto final gerado. A geração de emprego desse tipo de programa esta atrelada ao crescimento econômico, o que significa que o sucesso está, sob esta ótica, também, associado ao governo central. Medidas de política ativa na forma de Emprego Subsidiado são bastante escassas no continente africano. Quando existe, destina-se a contemplar os jovens com alto nível de escolaridade. Em decorrência do enorme setor informal, o apoio ao trabalhador autônomo tem se revelado mais apropriado para os países africanos. Nesse contexto, a Criação de Microempresas e o Apoio ao Trabalhador Autônomo têm sido considerados como a melhor resposta às dificuldades de absorção de mão-de-obra pelo setor formal da economia. Contudo, as possibilidades de sucesso dos jovens em sustentar micro empreendimentos ou permanecerem como trabalhador autônomo somente acontecerão se fizerem parte de uma reestruturação global da economia da região, tendo como principal objetivo transformar as relações entre formal e informal, agrícola e não-agrícola, industrial e rural e doméstica e internacional. América Latina Não obstante diversos países da região os tenham criado desde os anos 1970, o SPE sempre atua em bases mínimas, ganhando maior importância ao fim dos anos 1980 quando algumas nações implantaram o SD. O pessoal ocupado é subdimensionado e de baixa qualificação. Apesar de oferecerem serviços de intermediação de mão-de-obra, contribuem pouco para um bom equilíbrio entre a oferta e a demanda de trabalho. 28 Os programas de Treinamento surgiram ao fim dos anos 1980 e vem ganhando cada vez mais importância e maior dimensão como PAMT. Em alguns países, já existia uma boa tradição proveniente do setor privado, e mais recentemente, além do governo, as organizações corporativas têm se envolvido em formação de recursos humanos para atender às necessidades crescentes de mão-de-obra qualificada. Eles são regra geral, financiados por impostos sobre a folha de salários, têm tido a participação crescente dos parceiros sociais, a oferta tem se modernizado, o treinamento oferecido pelo setor privado tem crescido e tem havido grande avanço nas técnicas de ensino a distância. A pressão para a crescente necessidade de treinamento deve-se a dois fatos: i) aumento crescente da demanda de pessoal qualificado decorrente da internacionalização do comércio, mudanças tecnológicas e a flexibilização do mercado de trabalho; e ii) atuação crítica positiva das organizações sindicais e de empregadores nos órgãos oficiais de decisão sobre treinamento. A ação voltada para aumentar o Emprego Público tem como objetivo atuar como programas de redução da pobreza e destinados aos desempregados. Em lugar de servir de rápida transição do desempregado para o mercado de trabalho privado, age no sentido de prover bem-estar material ao trabalhador nesta condição. Em geral, proporcionam ocupações de baixos salários, de curta duração, sendo que praticamente todo desempregado tenta se habilitar a recebê- lo. Os baixos salários e a curta duração do emprego têm o propósito de assegurar que somente os desempregados mais necessitados tenham acesso. O gasto com Subsídios ao Emprego tem sido muito baixo na região, beneficiando uma parcela bastante restrita da força de trabalho. Em alguns países, ocorre uma combinação de emprego público com subsídios ao emprego privado, desde que as empresas aceitem absorver trabalhadores por meio de contratos de trabalho, os quais acabam sendo mais precários que os contratos tradicionais. A Criação de Microempresas e Apoio ao Trabalhador Autônomo representam políticas muito populares na região pelo fato de que os pequenos estabelecimentos representam parcela substancial das empresas do setor produtivo, figurando como uma parte importante da economia da região. Apesar disso, elas têm sido parcialmente bem-sucedidas, principalmente pelas falhas governamentais em oferecer o apoio e o monitoramento necessários para garantir a eficiência desses empreendimentos. Quando há o apoio oficial, a burocracia é bastante desestimulante. Ásia A ausência de um programa de SD, ou de outro beneficio semelhante, faz o SPE ter uma característica bastante diferente do que aquela consagrada nos países industrializados. Em decorrência deste fato, acabam oferecendo alguns 29 serviços aos desempregados, quase que todos ligados à questão da recolocação. Somente beneficiam-se dos serviços os trabalhadores que se registram em uma agência de emprego, as quais são bastante disseminadas em níveis locais. O Treinamento recebe importância maior e tem sido crescentemente utilizado. Como a economia dos principais países tem trilhado o caminho dos países industrializados, o problema de desequilíbrios estruturais tem obrigado ao retreinamento e à requalificação de grande contingente de trabalhadores. Os dois maiores problemas são: falta de coordenação entre as instituições governamentais responsáveis pelo treinamento vocacional e pela educação formal, bem como ausência de um processo de realimentação entre as necessidades da demanda de trabalho e a oferta de treinamento. A utilização de Emprego Público tem sido a política ativa mais utilizada na região. Sua implementação responde mais ao objetivo social de alivio dos níveis de pobreza do que propriamente para a geração de emprego. Tem sido de eficiência limitada em razão de desenhos de programas inadequados. Os Subsídios ao Emprego têm sido pouco utilizados, recebendo baixa prioridade como política ativa. Os tipos postos em prática são deduções de imposto de renda, grants ou empréstimos dos fundos de seguro-desemprego, onde eles existem. A Criação de Microempresas e o Apoio ao Trabalhador Autônomo recebem menor atenção em decorrência das fortes restrições de recursos para esta finalidade. O acesso ao crédito é especialmente restrito às mulheres nas áreas rurais por duas razões: a possibilidade de sucesso de empreendimento administrado por elas, assim como o fato de que elas possuem dificuldades em dar garantia colateral, uma vez que os homens controlam os recursos produtivos como maquinário, residência e terra. Economias em Transição Estes países têm recebido forte apoio da União Européia e de outros países desenvolvidos na esfera da OECD para implantar as PAMT. O progresso é visível, mas ainda está longe de contribuir substancialmente para reorganizar o mercado de trabalho em que não havia, oficialmente, desemprego e no qual, em alguns deles, permanece o problema macroeconômico de demanda deficiente. O SPE consiste em agências de trabalho centralizadas, nacionalmente disseminadas, e também escritórios e agências em níveis regionais e locais. Eles seguem a tradição da OECD em que as agências são responsáveis tanto pela administração do SD, quanto pela intermediação da mão-de-obra e, também, a implementação das principais políticas ativas. O Treinamento recebe uma importância mediana sendo mais utilizado pelos países nos quais o desemprego estrutural e a necessidade de requalificação são maiores. O treinamento tem sido 30 financiado pelas empresas e/ou pelos trabalhadores, sendo somente oferecido para aqueles que estão registrados em um SPE. A Criação de Emprego Público representa uma política bem adaptada aos problemas típicos do mercado de trabalho desses países. Tem sido muito útil em socorrer o desemprego de longo prazo, evitando que os trabalhadores nesta condição empobreçam rapidamente, bem como permitindo que eles não se desconectem completamente do mercado de trabalho. Os Subsídios ao Emprego têm sido utilizados de forma muito descontínua, em decorrência das dificuldades financeiras, e de forma bastante diferenciada entre os países em transição. Os subsídios salariais têm sido um expediente bastante comum de estimulo à geração de emprego no setor privado e alguns países têm procurado combiná-lo com programas de treinamentovisando melhorar os resultados dessas políticas. A Criação de Microempresas e o Apoio ao Trabalhador Autônomo representam uma política ainda bastante modesta, mas tem tido algum sucesso entre os trabalhadores desempregados altamente qualificados. OECD O SPE tem sido uma política de alta prioridade na organização, cumprindo três funções básicas: a) Job matching, incluindo técnicas de pesquisar trabalho e orientação para carreira; b) administração do SD; e c) endereçamento dos desempregados para os programas ativos oferecidos. A tendência atual é de promover a articulação de políticas, projetos e programas, incluindo a utilização da cooperação entre as organizações envolvidas, com agências oferecendo um amplo conjunto de serviços (one-stop employment service). Existe uma atitude deliberada de privilegiar medidas ativas sobre as passivas, e, nesse contexto, uma forte utilização do conceito de “ativação” sobre os desempregados para correto enquadramento como beneficiário de um programa. No caso do Treinamento, a organização tem atribuído papel especial no combate ao alto e persistente desemprego. A orientação tem se pautado pela oferta de programas pequenos, que sejam bem desenhados e corretamente focalizados, tendo em vista elevar a qualidade do treinamento e aumentar a possibilidade de reinserção do desempregado. O problema maior tem sido a excessiva seletividade dos programas de treinamento que acabam contemplando segmentos de trabalhadores muito educados, além de outros com elevado nível de qualificação. A criação de Emprego Público possui pouca importância na maioria dos países da organização. O objetivo principal tem sido compensar os problemas de curto prazo que têm levado à pouca criação de emprego pelo setor privado. Ele somente pode ser implementado desde que não empregue trabalhadores adicionais que seriam normalmente absorvidos pelo setor privado. Ademais, tem 31 sido direcionado para absorver os desempregados com fortes dificuldades de reemprego e os trabalhadores do mercado de trabalho secundário com dificuldades de transitarem para um emprego regular. Os Subsídios ao Emprego são de ampla utilização nos países da OECD, com grande variedade de desenhos que se relacionam não somente com o mercado de trabalho do grupo-alvo, mas, também, com o sistema de Seguridade Social. Podem ser de curto ou longo prazo, sempre por meio da redução do custo do emprego adicional, ou do lado da oferta de trabalho, incentivando o trabalhador a aceitar ocupações subsidiadas. Esses subsídios têm direcionado aos grupos mais vulneráveis, em especial, aos trabalhadores mais idosos, aos pais solteiros e aos desempregados de longo prazo. A duração do subsídio depende normalmente da severidade do problema que ocorre no mercado de trabalho do beneficiário. Quando a demanda é bastante escassa, têm sido utilizados programas de Criação de Microempresas e Apoio ao Trabalhador Autônomo. Essa modalidade de política ativa, porém, não desfruta de muita importância no âmbito da Instituição. Regra geral tem beneficiado desempregados jovens do sexo masculino, com elevado nível de educação. A oferta de apoio realiza-se por intermédio do SPE, havendo várias modalidades, como por exemplo, material para o início do empreendimento, desenvolvimento de idéias e projetos e apoio técnico. 32 Quadro 5 Sumário da importância e das características das PAMT em diversas regiões do mundo Tipo de OECD Economias em Ásia América Latina África Programa transição 1. Serviço Público (AAA) (AA) (A) (A) (A) de Emprego (SPE) Função: avançado job Recente, com ajuda da OECD A inexistência de seguro- Inoperante até 1990. Após Quando existe opera com desemprego impede adminis- matching; administração Isto, esforços para moderni- baixo nível de recursos e ca- Função de benefícios; endereça- : mediação de emprego; tração de benefícios. Tem zá-lo. pital humano, é inadequado mento às políticas ativas. implementação de políticas crescido com as crises. registrar trabalhadores sem Problemas ativas; administração de bene- : SPE não possui oferta de serviços. Tendências: descentra- fícios. Tendências: centros integra- equipe necessária e o pessoal lização, terceirização de dos; crescente privatização ocupado é de baixa qualifica- Problemas: desfruta de baixa certos serviços; predomí- Problemas: recursos inade- dos serviços, com controle ção. prioridade; não dispõe de in- nio de ações ativas sobre quados, limitando atuação a do governo em razão de práticas fra-estrutura adequada; baixo ações passivas; profiling; funções elementares. fraudulentas. nível de registros e de difícil serviço integrado; privati- acesso ao trabalho informal. zação e corporações. Problemas : pouca reação às reformas; ausência de boas práticas; excesso de pessoal. 2. Treinamento (AAA) (AA) (AA) (AA) (AA) Função: promover empre- Não representa a política mais Popularidade em alta; neces- Centralizada até 1990. Hoje há Predomínio do treinamento gabilidade aos desempre- importante, seja em termos de sidade de manter uma quali- grande envolvimento dos par- combinado com experiência gados; reciclagem para os gastos ou de participação; ficação alta devido à deman- ceiros sociais; crescente priva- no trabalho. Reformas têm empregados; programa mais sucesso que em paí- da de trabalho. Às vezes é tização do treinamento; melhor melhorado a oferta de trei- prioritário, na OECD. ses em desenvolvimento. usada para suprir educação resultado para mulheres. namento. básica. Problemas: Pluralidade de atores Problemas : resultados in- Gratuito para quem se regis- Problemas: viés para Econo- certos. Viés de seleção tra em SPE. Bolsa recebida é Problemas: programas de provoca desvantagens para mia Formal. Papel limitado dos em favor de grupos mais maior que o seguro-desem- treinamento aquém do con- grupos populacionais mais governos locais. privilegiados no mercado prego. teúdo necessário. Falta de vulneráveis. de trabalho. coordenação entre institui- Tendência: mais programas Problemas: SPE não permite ções. Tendências: Expansão do trei- para as mulheres. Tendências : Aprendizado antecipar treinamento aos em- namento para firmas; privatiza- Tendências de longo prazo. pregados, mesmo onde o ris- : focalização nas ção; treinamento ocupacional co de demissão é alto. melhores ONGs e atividades para autoridade local. não-agrícolas. 33 Tipo de OECD Economias em Asia América Latina África Programa transição 3. Criação de emprego (A) (AA) (AAA) (AA) (AAA) direto / emprego público Uso intensivo até 1980, Uso exclusivo em alguns Importante para infra-estrutu- Programas vagos destinados Utilizado em tempos de emer- com pouca utilização após países com desemprego de ra local e desenvolvimento ao alívio da pobreza pelo de- gências (guerra civil, desas- 1990 devido a avaliações longo prazo alto. Para evitar de trabalhadores; efeitos semprego. tres naturais) e estrateégica- negativas. desengajamento do mercado multiplicadores fortes devido mente na recessão. Pratica- de trabalho. à integração coma arquite- Problemas: alta taxa de fracas- da em muitos países, mas Destinado praticamente tura e infra-estrutura local. so; programas de vida curta; sempre com salários abaixo aos desempregados de Importante para o desenvol- falta de recursos; dificuldade de do mercado. longo prazo. vimento local de infra-estrutura Este programa cresceu após organizar. a crise asiática como meio de Função: pagamento ou ali- Problemas: risco elevado Problemas: pobre integração aliviar a tensão social, devi- Tendências: público-alvo são mento para os participantes de fixar trabalhadores no ao mercado e baixos rendi- do à ausência
Compartilhar