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Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia ~~~~~~~~ Dig���ão � �b�o�ção d� águ� � el���óli��� ~~~~~~~~ ABSORÇÃO > Água e sódio (Na +) A maior parte da absorção de água ocorre no intestino delgado, com um adicional de 0,5 L por dia absorvido no colo. A absorção de nutrientes move o soluto do lúmen do intestino para o LEC, criando um gradiente osmótico que permite que a água siga junto. A absorção de íons no corpo também cria os gradientes osmóticos necessários para o movimento da água. Portanto, quando o quimo está suficientemente diluído, a água é absorvida através da mucosa intestinal para o sangue das vilosidades quase inteiramente por osmose. Por outro lado, a água também pode ser transportada na direção oposta – do plasma para o quimo. Esse tipo de transporte ocorre especialmente quando as soluções hiperosmóticas são descarregadas do estômago para o duodeno. Normalmente, menos de 0,5% do sódio intestinal é perdido nas fezes todos os dias, porque é rapidamente absorvido pela mucosa intestinal. O sódio também desempenha um papel importante em ajudar a absorver açúcares e aminoácidos. A absorção de sódio é alimentada pelo transporte ativo de sódio de dentro das células epiteliais através das paredes basal e lateral dessas células para os espaços paracelulares. Esse transporte ativo obedece às leis usuais do transporte ativo. Os enterócitos no intestino delgado e os colonócitos, as células epiteliais da superfície luminal do colo, absorvem Na+ utilizando três proteínas de membrana: ● Canais apicais de Na+, como o ENaC, ● Transportador por simporte Na+ e -Cl ● Trocador Na+ e H+ (NHE) ! No intestino delgado, uma fração significativa da absorção de Na + também ocorre por meio de captação dependente de Na + de solutos orgânicos, como pelo SGLT e por transportadores Na +-aminoácidos. No lado basolateral de ambos, enterócitos e colonócitos, o 1 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia transportador principal para o Na é a Na-K-ATPase. A captação de cloreto usa um trocador apical Cl-HCO3 e um canal basolateral de Cl para movimento através das células. Parte do sódio é absorvida junto com os íons cloro; na verdade, os íons cloro carregados negativamente são principalmente arrastados passivamente pelas cargas elétricas positivas dos íons sódio. O transporte ativo de sódio através das membranas basolaterais da célula reduz a concentração de sódio dentro da célula a um valor baixo (cerca de 50 mEq/ℓ). Como a concentração de sódio no quimo é normalmente igual à do plasma, o sódio desce esse gradiente eletroquímico acentuado do quimo pela borda em escova da célula epitelial para o citoplasma da célula epitelial. A próxima etapa no processo de transporte é a osmose da água por vias transcelulares e paracelulares. Essa osmose ocorre porque um grande gradiente osmótico foi criado pela concentração elevada de íons no espaço paracelular. Grande parte dessa osmose ocorre por meio das junções estreitas entre as bordas apicais das células epiteliais (a via paracelular), mas muito dela também ocorre atravessando as próprias células – a via transcelular. O movimento osmótico da água cria fluxo de líquido para dentro e através dos espaços paracelulares e, por fim, para o sangue circulante das vilosidades. Quando uma pessoa fica desidratada, grandes quantidades de aldosterona são secretadas pelos córtices das glândulas adrenais. Essa aldosterona causa um aumento da ativação da enzima e dos mecanismos de transporte para todos os aspectos da absorção de sódio pelo epitélio intestinal. O aumento da absorção de sódio, por sua vez, causa aumentos secundários na 2 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia absorção de íons cloro, água e algumas outras substâncias. ! Esse efeito da aldosterona é especialmente importante no cólon, porque não permite praticamente nenhuma perda de cloreto de sódio nas fezes e também pouca perda de água. A absorção de potássio e água no intestino ocorre principalmente pela via paracelular. > Cloreto (Cl -) Na parte superior do intestino delgado, a absorção do íon cloro é rápida e ocorre principalmente por difusão (ou seja, a absorção de íons sódio através do epitélio cria eletronegatividade no quimo e eletropositividade nos espaços paracelulares entre as células epiteliais). Os íons cloro então se movem ao longo desse gradiente elétrico para seguir os íons sódio. O cloro também é absorvido através da membrana da borda em escova de partes do íleo e do intestino grosso por um trocador de cloro-bicarbonato (contratransporte Cl−/HCO3−) de membrana da borda em escova. O cloro sai da célula pela membrana basolateral pelos canais específicos de cloro. > Bicarbonato Frequentemente, grandes quantidades de íons bicarbonato (HCO3−) devem ser reabsorvidas do intestino delgado superior, porque grandes quantidades de HCO3− foram produzidas no duodeno tanto na secreção pancreática quanto na bile. O HCO3− é absorvido de forma indireta da seguinte maneira: íons sódio são absorvidos, quantidades moderadas de H + são secretadas no lúmen do intestino em troca de parte do sódio. Esses H +, por sua vez, combinam-se com o HCO3− para formar ácido carbônico (H2CO3), que então se dissocia para formar água e dióxido de carbono (CO2). A água permanece como parte do quimo nos intestinos, mas o CO2 é prontamente absorvido pelo sangue e, subsequentemente, expira pelos pulmões. > Ferro e cálcio A absorção de minerais geralmente ocorre por transporte ativo. O ferro e o cálcio são duas das poucas substâncias cuja absorção intestinal é regulada. Para ambos os minerais, um decréscimo na concentração do mineral no corpo leva ao aumento da captação no intestino. O ferro é ingerido como ferro heme na carne e como ferro ionizado em alguns produtos vegetais. O ferro heme é absorvido por um transportador apical do enterócito. O Fe2 ionizado é ativamente absorvido por uma proteína, chamada de transportador de metal divalente 1 (DMT1), por transporte com H +. 3 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Dentro da célula, as enzimas convertem o ferro heme em Fe2 + e ambos os pools de ferro ionizado deixam a célula por um transportador, chamado de ferroportina. A absorção de ferro pelo corpo é regulada por um hormônio peptídico, chamado de hepcidina. Quando os estoques de ferro do corpo estão altos, o fígado secreta hepcidina, que se liga à ferroportina. ! A ligação da hepcidina faz o enterócito destruir o transportador ferroportina, o que resulta em redução da captação de ferro pelo intestino. A maior parte da absorção do Ca 2+ no intestino ocorre por movimento passivo e não regulado através da via paracelular. O transporte de Ca2 + transepitelial hormonalmente regulado ocorre no duodeno. O cálcio entra no enterócito através de canais apicais de Ca2 + e é ativamente transportado através da membrana basolateral, tanto por um Ca2 +-ATPase quanto por antiporte Na +-Ca2 +. A absorção do cálcio é regulada pela vitamina D3. > Carboidratos Essencialmente, todos os carboidratos dos alimentos são absorvidos na forma de monossacarídeos; apenas uma pequena fração é absorvida como dissacarídeos e quase nenhuma é absorvida como compostos maiores de carboidratos. De longe, o mais abundante dos monossacarídeos absorvidos é a glicose, que geralmente responde por mais de 80% das calorias absorvidas dos carboidratos. A razão para essa alta porcentagem é que a glicose é o produto final da digestão de nosso alimento com carboidrato mais abundante, os amidos. Praticamente todos os monossacarídeos são absorvidos por um processo de transporte ativo secundário. A glicose é transportada por um mecanismo de cotransporte com o sódio.Na ausência de transporte de sódio através da membrana intestinal, praticamente nenhuma glicose pode ser absorvida, porque a absorção de glicose 4 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia ocorre em um modo de cotransporte com transporte ativo de sódio. O transporte de sódio e de glicose através da membrana intestinal ocorre em duas etapas, o primeiro é o transporte ativo de íons sódio através das membranas basolaterais das células epiteliais intestinais para o líquido intersticial, esgotando o sódio dentro das células epiteliais. Segundo, uma diminuição do sódio dentro das células faz com que o sódio do lúmen intestinal se mova através da borda em escova das células epiteliais para o interior das células por um processo de transporte ativo secundário. Ou seja, um íon sódio se combina com uma proteína de transporte, o SGLT1, que não transportará sódio para o interior da célula até que o SGLT1 também se combine com a glicose. A glicose intestinal também se combina simultaneamente com o SGLT1, e tanto o íon sódio quanto a molécula de glicose são transportados juntos para o interior da célula. Assim, a baixa concentração de sódio dentro da célula arrasta o sódio para o interior dela, e a glicose é arrastada junto com ele. Uma vez dentro da célula epitelial, outra proteína de transporte, o transportador de glicose 2 (GLUT2) facilita a difusão da glicose através da membrana basolateral da célula para o espaço paracelular e, então, para o sangue ! A galactose é transportada quase exatamente pelo mesmo mecanismo da glicose, usando os transportadores SGLT1 e GLUT2. ! O transporte da frutose não ocorre pelo mecanismo de co-transporte de sódio. Em vez disso, a frutose é transportada por difusão facilitada por todo o epitélio intestinal, e não é associada ao transporte de sódio. O transporte de frutose do lúmen intestinal para o interior da célula é facilitado pelo GLUT5, e a saída da frutose da célula para o espaço paracelular é facilitada pelo GLUT2 > Proteína A maioria das proteínas, após a digestão, é absorvida pelas membranas luminais das células epiteliais intestinais na forma de dipeptídeos, tripeptídeos e alguns aminoácidos livres. A energia para a maior parte desse transporte é fornecida por um mecanismo de co-transporte de sódio da mesma maneira que ocorre o transporte de sódio para a glicose. Ou seja, a maioria das moléculas de peptídeos ou aminoácidos se liga na membrana das microvilosidades da célula com uma proteína de transporte 5 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia específica que requer ligação de sódio antes que o transporte ocorra. Após a ligação, o íon sódio então desce seu gradiente eletroquímico para o interior da célula e puxa o aminoácido ou peptídeo junto com ele. Esse processo é chamado de co-transporte (ou transporte ativo secundário) dos aminoácidos e dos peptídeos. Alguns aminoácidos não requerem esse mecanismo de co-transporte de sódio, mas, em vez disso, são transportados por proteínas especiais de transporte de membrana da mesma forma que a frutose é transportada, por difusão facilitada. > Gorduras Quando as gorduras são digeridas para formar monoglicerídeos e ácidos graxos livres, esses dois produtos finais digestivos primeiro se dissolvem nas porções lipídicas centrais das micelas biliares. Como as dimensões moleculares dessas micelas têm apenas de 3 a 6 nanômetros de diâmetro, e devido ao seu exterior altamente carregado, elas são solúveis em quimo. Dessa forma, os monoglicerídeos e os ácidos graxos livres são transportados para as superfícies das microvilosidades da borda em escova das células intestinais e, em seguida, penetram nos recessos entre as microvilosidades em movimento e em agitação. Nesse ponto, tanto os monoglicerídeos quanto os ácidos graxos se difundem imediatamente para fora das micelas e para o interior das células epiteliais, o que é possível porque os lipídios também são solúveis na membrana da célula epitelial. Esse processo deixa as micelas biliares ainda no quimo, onde funcionam continuamente para ajudar a absorver ainda mais monoglicerídeos e ácidos graxos. Assim, as micelas desempenham uma função de transporte que é altamente importante para a absorção de gordura. Na presença de uma abundância de micelas biliares, cerca de 97% da gordura são absorvidos; na ausência das micelas biliares, apenas de 40 a 50% podem ser absorvidos. Depois de entrar na célula epitelial, os ácidos graxos e os monoglicerídeos são absorvidos pelo retículo endoplasmático liso da célula. Aqui, eles são usados principalmente para formar novos triglicerídios, que são subsequentemente liberados na forma de quilomícrons pela base da célula epitelial, para fluir para cima pelo ducto linfático torácico e esvaziar-se no sangue circulante. Pequenas quantidades de ácidos graxos de cadeia curta e média, como os da gordura da manteiga, são absorvidas diretamente no sangue portal, em vez de serem convertidas em triglicerídeos e absorvidas pelos vasos linfáticos. 6 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia A causa dessa diferença entre a absorção de ácidos graxos de cadeia curta e longa decorre do fato de que os ácidos graxos de cadeia curta são mais solúveis em água e, em sua maioria, não são reconvertidos em triglicerídios pelo retículo endoplasmático. Esse fenômeno permite a difusão desses ácidos graxos de cadeia curta das células epiteliais intestinais diretamente para o sangue capilar das vilosidades intestinais. > Absorção e formação das fezes A maior parte da água e dos eletrólitos nesse quimo é absorvida no cólon, geralmente deixando menos de 100 mililitros de líquido para ser excretado nas fezes. Além disso, essencialmente todos os íons são absorvidos. A maior parte da absorção no intestino grosso ocorre na metade proximal do cólon, dando a essa porção o nome de cólon absorvente, enquanto o cólon distal funciona principalmente para armazenamento de fezes até um momento propício para a excreção de fezes e, portanto, é chamado de cólon armazenador. A mucosa do intestino grosso, assim como a do intestino delgado, tem alta capacidade de absorção ativa de sódio, e o gradiente de potencial elétrico criado pela absorção de sódio também causa a absorção do cloro. As junções estreitas entre as células epiteliais do epitélio do intestino grosso são muito mais estreitas do que as do intestino delgado. Essa característica evita quantidades significativas de retrodifusão de íons por essas junções, permitindo que a mucosa do intestino grosso absorva os íons sódio muito mais completamente. Além disso, como ocorre na porção distal do intestino delgado, a mucosa do intestino grosso secreta HCO3− enquanto absorve simultaneamente um número igual de íons cloro, em um processo de transporte de troca (já descrito). O HCO3− ajuda a neutralizar os produtos finais ácidos da ação bacteriana no intestino grosso. A absorção de íons sódio e cloro cria um gradiente osmótico ao longo da mucosa do intestino grosso, que causa a absorção de água. O intestino grosso pode absorver no máximo 5 a 8 litros de líquido e eletrólitos por dia. Quando a quantidade total que entra no intestino grosso pela válvula ileocecal ou pela secreção do intestino grosso ultrapassa essa quantidade, o excesso aparece nas fezes como diarreia. DIGESTÃO O processo digestivo de carboidratos, gorduras e proteínas envolve a hidrólise dos mesmos. O fator que vai variar diz respeito a enzima que irá realizar a hidrólise. 7 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia > Carboidratos Na dieta humana normal, existem apenas três fontes principais de carboidratos. Eles são a sacarose, a lactose, e os amidos. A digestão doscarboidratos começa na boca e no estômago. Quando o alimento é mastigado, é misturado à saliva, que contém a enzima digestiva amilase salivar ou ptialina (uma α-amilase), secretada principalmente pelas glândulas parótidas. Essa enzima hidrolisa o amido em dissacarídeo maltose e em outros pequenos polímeros de glicose que contêm de três a nove moléculas de glicose. A digestão do amido às vezes continua no corpo e no fundo do estômago por até uma hora antes que o alimento se misture com as secreções estomacais. A atividade da amilase salivar é então bloqueada pelo ácido das secreções gástricas, porque a amilase é essencialmente inativa como enzima, uma vez que o pH do meio cai abaixo de cerca de 4. No entanto, em média, antes que o alimento e a saliva que o acompanha se misturem completamente às secreções gástricas, cerca de 30 a 40% dos amidos terão sido hidrolisados, principalmente para formar maltose. A secreção pancreática, como a saliva, contém uma grande quantidade de α-amilase, que é quase idêntica em sua função à α-amilase da saliva, mas é várias vezes mais poderosa. Portanto, em 15 a 30 minutos depois que o quimo sai do estômago para o duodeno e se mistura com o suco pancreático, praticamente todos os carboidratos são digeridos. Em geral, os carboidratos são quase totalmente convertidos em maltose e/ou em outros pequenos polímeros de glicose antes de passarem além do duodeno ou jejuno superior. Os enterócitos que revestem as vilosidades do intestino delgado contém quatro enzimas (lactase, sucrase, maltase e α-dextrinase), que são capazes de dividir os dissacarídeos lactose, sacarose e maltose, além de outros pequenos polímeros de glicose, em seus monossacarídeos constituintes. ! Essas enzimas estão localizadas nos enterócitos que cobrem a borda em escova das microvilosidades intestinais, de modo que os dissacarídeos são digeridos à medida que entram em contato com esses enterócitos. Assim, os produtos finais da digestão dos carboidratos são todos monossacarídeos. Eles são todos solúveis em água e são absorvidos imediatamente pelo sangue portal. ! Na dieta comum, que contém muito mais amidos do que todos os outros carboidratos combinados, a glicose representa mais de 8 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia 80% dos produtos finais da digestão dos carboidratos, e a galactose e a frutose raramente representam mais de 10%. > Proteínas As proteínas da dieta humana padrão são cadeias quimicamente longas de aminoácidos unidos por ligações peptídicas. A pepsina, uma importante enzima péptica do estômago, é mais ativa em um pH de 2 a 3 e é inativa em um pH acima de 5. Consequentemente, para que essa enzima cause a digestão de proteínas, os sucos do estômago devem ser ácidos. As glândulas gástricas secretam uma grande quantidade de ácido clorídrico. Esse ácido é secretado pelas células parietais (oxínticas) nas glândulas a um pH de cerca de 0,8; mas, quando ele é misturado com o conteúdo do estômago e com as secreções das células glandulares não oxínticas do estômago, o pH atinge uma média em torno de 2 a 3, uma faixa de acidez altamente favorável para a atividade da pepsina. Uma das características importantes da digestão da pepsina é sua capacidade de digerir a proteína colágeno, um tipo de proteína albuminóide que é pouco afetada por outras enzimas digestivas. ! Em pessoas com falta de pepsina nos sucos estomacais, as carnes ingeridas são menos penetradas pelas outras enzimas digestivas e, portanto, podem ser mal digeridas. A pepsina apenas inicia o processo de digestão da proteína, geralmente fornecendo apenas de 10 a 20% da digestão total da proteína para convertê-la em proteoses, peptonas e em alguns polipeptídeos. Essa divisão de proteínas ocorre como resultado da hidrólise das ligações peptídicas entre os aminoácidos. A maior parte da digestão das proteínas ocorre no intestino delgado superior, no duodeno e no jejuno, sob a influência de enzimas proteolíticas da secreção pancreática. Imediatamente após entrar no intestino delgado, saídos do estômago, os produtos da degradação parcial dos alimentos protéicos são atacados pelas principais enzimas pancreáticas proteolíticas: tripsina, quimiotripsina, carboxipolipeptidase e elastase. Tanto a tripsina quanto a quimotripsina dividem as proteínas em pequenos polipeptídeos; a carboxipolipeptidase, em seguida, cliva os aminoácidos individuais a partir das extremidades carboxil dos polipeptídios. A pró-elastase, por sua vez, é convertida em elastase, que então digere as fibras de elastina que mantêm as carnes parcialmente unidas. 9 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia Apenas pequenas porcentagens das proteínas são digeridas até seus aminoácidos constituintes pelos sucos pancreáticos. A maioria permanece como dipeptídios e tripeptídios. O último estágio digestivo das proteínas no lúmen intestinal é alcançado pelos enterócitos que revestem as vilosidades do intestino delgado, principalmente no duodeno e no jejuno. Essas células têm uma borda em escova, que consiste em centenas de microvilosidades projetando-se da superfície de cada célula. Na membrana de cada uma dessas microvilosidades, encontram-se múltiplas peptidases, que se projetam das membranas para o exterior, onde entram em contato com os líquidos intestinais. Dois tipos de enzimas peptidases são especialmente importantes, a aminopolipeptidase e várias dipeptidases. Elas dividem os polipeptídios maiores restantes em tripeptídios e em dipeptídios, e alguns, em aminoácidos. Os aminoácidos, os dipeptídios e os tripeptídios são facilmente transportados através da membrana microvilosa para o interior do enterócito. Por fim, dentro do citosol do enterócito, estão várias outras peptidases que são específicas para os tipos restantes de ligações entre os aminoácidos. Em minutos, praticamente todos os últimos dipeptídios e tripeptídios são digeridos até o estágio final para formar aminoácidos únicos, que então passam para o outro lado do enterócito e daí para o sangue. Mais de 99% dos produtos digestivos de proteínas finais que são absorvidos são aminoácidos individuais, com apenas uma rara absorção de peptídeos e uma absorção muito mais rara de moléculas de proteínas inteiras. Mesmo essas poucas moléculas de proteína inteira absorvidas podem, ocasionalmente, causar graves distúrbios alérgicos ou imunológicos. > Gorduras De longe, as gorduras (lipídios) mais abundantes da dieta são as gorduras neutras, também conhecidas como triglicerídeos, com cada molécula composta por um núcleo de glicerol e por três cadeias laterais de ácido graxo. Pequenas quantidades de fosfolipídios, colesterol e ésteres de colesterol também estão presentes na dieta usual. ! O colesterol é um composto de esterol que não contém ácido graxo, mas exibe algumas das características físicas e químicas das gorduras. 10 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia A digestão das gorduras ocorre principalmente no intestino delgado. Uma pequena quantidade de triglicerídeos é digerida no estômago pela lipase lingual, secretada pelas glândulas linguais na boca e engolida com a saliva. Essa quantidade de digestão é inferior a 10% e geralmente não é importante. Em vez disso, essencialmente toda a digestão da gordura ocorre no intestino delgado. O primeiro passo na digestão das gorduras é sua emulsificação por ácidos biliares e por lecitina. O primeiro passo na digestão da gordura é quebrar fisicamente os glóbulos de gordura em tamanhos pequenos para que as enzimas digestivas solúveis em água possam atuar nas superfícies dos glóbulos. Esse processo é chamado de emulsificação da gordura e começa com a agitação no estômago para misturar a gordura com os produtos da digestão estomacal. A maior parte da emulsificaçãoocorre, então, no duodeno, sob a influência da bile, a secreção do fígado que não contém nenhuma enzima digestiva. No entanto, a bile contém uma grande quantidade de sais biliares, assim como o fosfolipídio lecitina. Ambas as substâncias, mas especialmente a lecitina, são extremamente importantes para a emulsificação da gordura. As partes polares (os pontos em que ocorre a ionização em água) dos sais biliares e as moléculas de lecitina são altamente solúveis em água, enquanto a maioria das porções restantes das suas moléculas é altamente solúvel em gordura. Portanto, as porções lipossolúveis dessas secreções hepáticas se dissolvem na camada superficial dos glóbulos de gordura, com as porções polares se projetando. As projeções polares, por sua vez, são solúveis nos líquidos aquosos circundantes, o que diminui muito a tensão interfacial da gordura e a torna também solúvel. Quando a tensão interfacial de um glóbulo de líquido não miscível é baixa, esse líquido não miscível, sob agitação, pode ser dividido em muitas partículas minúsculas com muito mais facilidade do que quando a tensão interfacial é grande. Em consequência, uma função importante dos sais biliares e da lecitina na bile é tornar os glóbulos de gordura prontamente fragmentáveis por agitação com a água no intestino delgado. Cada vez que os diâmetros dos glóbulos de gordura diminuem significativamente como resultado da agitação no intestino delgado, a área de superfície total da 11 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia gordura aumenta muitas vezes. Como o diâmetro médio das partículas de gordura no intestino após a emulsificação ter ocorrido é inferior a 1 micrômetro, isso representa um aumento de até 1.000 vezes nas áreas superficiais totais das gorduras causadas pelo processo de emulsificação. As enzimas lipase são solúveis em água e podem atacar os glóbulos de gordura apenas em suas superfícies. Assim, essa função detergente dos sais biliares e da lecitina é muito importante para a digestão das gorduras. Os triglicerídeos são digeridos pela lipase pancreática. De longe, a enzima mais importante para a digestão dos triglicerídios é a lipase pancreática, presente em enormes quantidades no suco pancreático, o suficiente para digerir em um minuto todos os triglicerídeos que puder atingir. Os enterócitos do intestino delgado contém lipase adicional, conhecida como lipase entérica, mas ela geralmente não é necessária. Os produtos finais da digestão das gorduras são os ácidos graxos livres. A maioria dos triglicerídeos da dieta é dividida pela lipase pancreática em ácidos graxos livres e 2-monoglicerídeos. Os sais biliares formam micelas que aceleram a digestão das gorduras. A hidrólise dos triglicerídeos é um processo altamente reversível; portanto, o acúmulo de monoglicerídeos e de ácidos graxos livres nas proximidades da digestão das gorduras bloqueia rapidamente a digestão. No entanto, os sais biliares desempenham o papel importante adicional de remoção dos monoglicerídeos e dos ácidos graxos livres da vizinhança dos glóbulos de gordura digeridos quase tão rapidamente quanto esses produtos finais da digestão são formados. Quando os sais biliares têm uma concentração alta o suficiente na água, tendem a formar micelas, que são pequenos glóbulos cilíndricos esféricos. Essas micelas se desenvolvem porque cada molécula de sal biliar é composta por um núcleo de esterol altamente solúvel em gordura e por um grupo polar altamente solúvel em água. O núcleo do esterol engloba o digerido de gordura, formando um pequeno glóbulo de gordura no meio de uma micela resultante, com grupos polares de sais biliares projetando-se para fora para cobrir a superfície da micela. Como esses grupos polares têm carga negativa, eles permitem que todo o glóbulo da micela se dissolva na água dos líquidos digestivos e permaneça em uma solução estável até que a gordura seja absorvida pelo sangue. As micelas de sais biliares também atuam como um meio de transporte para os 12 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Fisiologia monoglicerídeos e para os ácidos graxos livres, ambos os quais seriam relativamente insolúveis, para as bordas em escova das células epiteliais intestinais, onde os monoglicerídeos e os ácidos graxos livres são absorvidos pelo sangue, mas os sais biliares são liberados de volta para o quimo para serem usados repetidamente nesse processo de transporte. Digestão de esteres de colesterol e fosfolipídios, a maior parte do colesterol da dieta está na forma de ésteres de colesterol, que são combinações de colesterol livre e uma molécula de ácido graxo. Os fosfolipídios também contêm ácidos graxos em suas moléculas. Tanto os ésteres de colesterol quanto os fosfolipídios são hidrolisados por duas outras lipases na secreção pancreática que liberam os ácidos graxos – a enzima colesterol hidrolase, para hidrolisar o éster de colesterol, e a fosfolipase A2, para hidrolisar o fosfolipídio. As micelas de sais biliares desempenham o mesmo papel em transportar o colesterol livre e os digeridos das moléculas de fosfolipídios que desempenham no transporte de monoglicerídeos e de ácidos graxos livres. Na verdade, essencialmente nenhum colesterol é absorvido sem essa função das micelas. 13
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