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SAÚDE MENTAL PROF. ALESSANDRO AGUIAR DE PAULA Introdução à visão psicanalítica e assistência de enfermagem em dependentes químicos SAÚDE MENTAL 2 3 Enfermagem no Brasil No Brasil, por muitos anos, a enfermagem não era reconhecida como uma profissão, era exercida por voluntários – leigos – orientados pelos sentimentos de submissão e obediência. Essas pessoas desenvolviam suas funções nas Santas Casas de Misericórdia e o ensino informal era transmitido oralmente pelas freiras. 4 Enfermagem no Brasil Em 1890 foi criada, no Rio de Janeiro, a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras da Assistência a Alienados, atual Escola de Enfermagem Alfredo Pinto. Como o próprio nome sugere, a escola surgiu orientada para formar profissionais que atuariam em hospitais psiquiátricos (BARROS, 2000; MACHADO, 1978 apud REINALDO; PILLON, 2007). 5 Enfermagem no Brasil A origem da enfermagem no Brasil está, portanto, diretamente atrelada à instituição psiquiátrica e subordinada à medicina. A assistência aos dependentes químicos sempre esteve relacionada à assistência psiquiátrica. 6 Enfermagem no Brasil No entanto, em 1990, a Declaração de Caracas determinou que a atenção psiquiátrica primária em saúde observasse o modelo centrado na comunidade, enfraquecendo, deste modo, a hegemonia do hospital psiquiátrico ao permitir que o usuário permanecesse em seu território ao longo do tratamento. 7 Enfermagem no Brasil Contudo, somente no ano de 2002 foram fundados, pelo Ministério da Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) direcionados a usuários com transtornos originados pelo uso e dependência de substâncias psicoativas. 8 Enfermagem no Brasil Uma substância psicoativa, substância psicotrópica, droga psicotrópica ou simplesmente psicotrópico é uma substância química que age principalmente no sistema nervoso central, onde altera a função cerebral e temporariamente muda a percepção, o humor, o comportamento e a consciência. 9 Enfermagem no Brasil De acordo com Pereira e Carvalho (2016), o CAPS AD tem como missão organizar e articular a atenção ao usuário de álcool e demais drogas por meio de serviço ambulatorial e hospital dia, cuja orientação segue os princípios da interdisciplinaridade e da integralidade. Este serviço prevê equipe mínima de saúde, com a presença do enfermeiro (VARGAS; DUARTE, 2011). 10 Enfermagem no Brasil Atualmente, a enfermagem psiquiátrica vive a transição da prática de cuidado hospitalar – que priorizava conter comportamentos característicos dos doentes mentais – para a incorporação de novos princípios constituídos a partir da prática interdisciplinar aberta às demandas dos usuários. 11 Enfermagem no Brasil A enfermagem psiquiátrica é alvo de críticas que apontam a precária formação do profissional que atua nessa área. De acordo Reinaldo e Pillon (2007, p. 691): 12 Enfermagem no Brasil Os autores defendem que a formação do profissional da enfermagem deve priorizar o usuário inserido em um contexto de saúde em transformação, a parceria de diferentes atores sociais e a atuação interdisciplinar. Em suma, a assistência ao dependente químico está inserida na clínica psiquiátrica cujo tratamento oferecido, pela rede pública da saúde, se dá por meio de um trabalho realizado por equipe interdisciplinar, incluindo o profissional de enfermagem. 13 Enfermagem no Brasil Para o senso comum, as drogas são classificadas como lícitas (comercializadas legalmente na sociedade, como álcool e medicamentos) e ilícitas (proibidas por lei, como maconha, cocaína, crack, entre outras). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), droga é qualquer substância natural ou sintética introduzida no organismo. 14 Psicanálise Atua diretamente no cérebro e muda seu funcionamento, altera as sensações, o humor, a consciência, o estado emocional, as funções psíquicas e o comportamento do sujeito. Para a psicanálise, o consumo de droga é alimentado pela ideia de buscar um paliativo (acalmar) que permita suportar o sofrimento e as dificuldades presentes na vida cotidiana. 15 Modo de Vida O modo de vida contemporâneo estimula o consumo e a busca imediata do prazer. Valoriza as aparências (sair bem nas fotos postadas nas redes sociais) e fortalece a ideia de que as relações devem ser rompidas rapidamente ao primeiro sinal de frustração ou dificuldade. O consumo de drogas surge, então, como um refúgio em um “lugar” sem frustração, limites, dor ou angústia. 16 Dependência Química Ao contrário, é apresentado como uma via para obtenção imediata do prazer unida à falsa ideia de controle absoluto por parte do usuário/consumidor, o que pode ser observado no discurso de vários dependentes químicos “paro quando quiser”. 17 Dependência Química Deste modo, o consumo de drogas configura-se como um sintoma de uma sociedade imediatista em busca de fórmulas que funcionem “em um passe de mágica”, sem dor ou sofrimento, transportam o sujeito para um lugar sem tristeza, limites e responsabilidades. Lugar este que somente existe em um mundo psíquico povoado de fantasias, resultado de imaturidade psíquica. 18 Dependência Química A medicina, por sua vez, classifica as drogas em função do modo como agem no cérebro e modificam a atividade do sistema nervoso central (SNC). são denominadas depressoras, estimulantes e as que provocam alucinações. 19 Drogas: Tipos, Características e Sintomas Fonte: adaptado de Petry (2015). 20 Dependência Química Além dos sintomas físicos, o consumo de drogas provoca prejuízos psiquiátricos, sociais, familiares, afetivos e a capacidade produtiva ou de trabalho. Trata-se, portanto, de um problema social que demanda assistência especializada, multidisciplinar e integral. O tratamento do sujeito usuário de drogas é um processo longo e complexo. 21 Dependência Química Requer a participação da família dos usuários e deve ter enquanto meta reabilitar o sujeito e propiciar sua reinserção à sociedade. 22 Dependência Química 23 Dependência Química Alguns autores diferenciam o uso nocivo da dependência química. Para Petry (2015, p. 13), essa distinção dá-se pelo padrão de consumo e as consequências que o consumo provoca: [...] O primeiro é caracterizado pela presença de danos físicos e mentais decorrentes do uso, no entanto, não há presença de complicações crônicas relacionadas ao consumo, como a síndrome de abstinência, a cirrose hepática, desnutrição, entre outras. 24 Dependência Química Já a dependência, é identificada a partir de um padrão de consumo constante e descontrolado, uma relação disfuncional entre um indivíduo e seu modo de consumir uma determinada substância psicotrópica, visando principalmente a aliviar sintomas de mal-estar e desconforto físico e mental, conhecidos por síndrome de abstinência. Frequentemente, há complicações clínicas, mentais e sociais concomitantes. 25 Dependência Química Esta diferenciação é essencial para o diagnóstico da dependência química e, consequentemente, para a obtenção de êxito nos cuidados prestados. O diagnóstico geralmente ocorre na entrevista inicial, quando o profissional da saúde observará o uso e/ou abuso de substâncias químicas. 26 Dependência Química Este contato deve ser conduzido com clareza, objetividade, de modo amplo e simples. Além disso, alguns profissionais recorrem à aplicação de questionários e escalas para diagnosticar a existência ou não de dependência química. 27 Dependência Química Verificar a presença frequente dos sintomas relacionados a seguir também indica o abuso de substâncias psicoativas: depressão, ansiedade, humor instável, irritabilidade exagerada, alterações da memória, faltas constantes ao trabalho, à escola e a compromissos sociais, alterações da pressão arterial, problemas gastrointestinais, história de trauma e acidentes frequentes e disfunção sexual. 28 Dependência Química Importante número de dependentes químicosapresenta comorbidade. Segundo Alves & Cols (2004 apud SILVA, 2009), trata da existência de determinada patologia em concomitância com outra patologia, o que potencializa ambas as doença. Entre os sujeitos dependentes químicos, é frequente o desenvolvimento de transtornos psíquicos como consequência do uso de drogas. 29 Dependência Química Esses quadros dificultam o diagnóstico, uma vez que os sintomas de ambas as doenças se sobrepõem, podendo encobrir ou ressaltar sintomas de apenas uma das patologias. 30 Dependência Química 31 Alusão à Intoxicação Fonte: iStock. 32 Alusão à Intoxicação 33 Dependência Química Após o diagnóstico de dependência química, o passo decisivo para a obtenção de êxito é a aderência ao tratamento. De acordo com a OMS (2003), adesão é o grau de comprometimento do sujeito, o que será verificado por meio do comportamento adotado frente às recomendações acertadas com o prestador de cuidados de saúde, como: tomar o medicamento prescrito, seguir dieta alimentar, mudar o estilo de vida, entre outros. 34 Dependência Química De acordo com Bordin et al. (2010), poucos dependentes químicos finalizam o tratamento, pois não conseguem reagir aos obstáculos que surgem no decorrer do tratamento, como o lapso e a recaída. A enfermagem tem um papel relevante no tratamento e assistência do usuário dependente químico. 35 Dependência Química De acordo com Silva Neto et al. (2014), o enfermeiro atua diretamente influenciando a adesão ao tratamento, além de realizar o planejamento de intervenções específicas por meio do levantamento dos diagnósticos de enfermagem. Desta forma, contribuirá para a promoção, proteção, recuperação ou reabilitação dos usuários em questão. Silva Neto et al. (2014, p. 1.032) justificam tal compreensão dizendo: 36 Dependência Química “Considerando que a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) possibilita a aplicação dos conhecimentos técnicos, levantamento dos problemas para tomada de decisão, registro e avaliação da assistência prestada, é um instrumento facilitador ao cuidado do paciente com dependência química [...]. A Classificação dos Resultados de Enfermagem (NOC) contém informações úteis às intervenções de enfermagem. Estes resultados mostram os indicadores do estado de saúde do paciente em um nível conceitual. Diante disso, contribui para uma avaliação rápida, como em casos de emergências e avaliação de resultados da assistência, permitindo um confronto com informações subjetivas coletadas durante a entrevista e observação, para que o enfermeiro elabore um plano de ações e cuidados individualizados e de qualidade aos clientes”. 37 Dependência Química No entanto, pesquisas mostram que os profissionais da enfermagem reconhecem que a formação acadêmica não privilegia o preparo para atendimento de dependentes químicos. O tema não é abordado na medida necessária para a realização de um trabalho eficaz, desenvolvido sob o senso de segurança e confiança (VARGAS; DUARTE, 2011). 38 Situação-Problema Ricardo, estagiário de enfermagem, atua na escola e também faz a ligação entre as demandas da instituição e o CAPS. A professora Cristina solicitou a ajuda de Ricardo porque um de seus alunos é usuário de crack e tem chegado à escola sob o efeito dessa substância. 39 Situação-Problema Bernardo tem 14 anos e ultimamente apresenta muita agitação em seu comportamento. Seus colegas têm reclamado do sumiço de objetos e dinheiro, além de dirigir comentários agressivos e discriminatórios a Bernardo. Sabe-se que seu pai é alcoólatra e sua mãe trabalha, portanto, o adolescente fica sozinho a maior parte do dia. 40 Situação-Problema Como Ricardo pode montar uma estratégia de intervenção para a situação que a professora Cristina lhe apresentou? 41 Situação-Problema 42 Situação-Problema: Resolução Ricardo deve iniciar a intervenção realizando uma consulta com Bernardo para fazer o diagnóstico (relativo à dependência); identificar os motivos que levaram Bernardo a consumir drogas, e identificar as condições socioeconômicas em que vive, pois isso interferirá em seu tratamento. 43 Situação-Problema: Resolução Em seguida, deve encaminhá-lo à consulta médica e realizar uma entrevista - em conjunto com o psicólogo e a assistente social do CAPS - com Bernardo e seus pais. Desta forma, poderá enfatizar a importância do apoio familiar neste momento, estimulando as atividades escolares e mantendo uma vida social produtiva. 44 Situação-Problema: Resolução Deve também identificar a possibilidade dos pais participarem mais do cotidiano de Bernardo. É importante que Ricardo reúna os profissionais para discutirem o caso e orientar a professora em relação à forma mais adequada de lidar com a situação em sala de aula, como, por exemplo, conversar com a classe sobre o que se passa com Bernardo e mobilizá-los a ajudar o colega nessa fase difícil de sua vida. 45 Saúde e Educação: Prevenção das Drogas Descrição da situação-problema A escola Ruy Barbosa tem alunos de todas as séries, do Ensino Fundamental ao Médio. Seu corpo docente preocupa-se com seus alunos em relação ao consumo de drogas. Por isso, solicitou que Ricardo os orientasse em relação ao combate do uso de drogas. Ajude Ricardo a programar uma ação de prevenção e combate ao uso de drogas para a escola Ruy Barbosa. 46 Saúde e Educação: Prevenção das Drogas 47 Resolução da Situação-Problema Ricardo deve apresentar um programa com abordagem multidisciplinar envolvendo, os diversos profissionais do CAPS e, assim, garantir que as variadas áreas da saúde participem. As ações serão divididas em função da faixa etária dos alunos para que as atividades observem a linguagem adequada para alcançar as crianças e para a interação com adolescentes. Essas ações devem contemplar o dinamismo e recursos visuais atrativos para transmitirem a mensagem de modo positivo. 48 Resolução da Situação-Problema O estagiário deverá também elaborar ações voltadas à família dos alunos e uma palestra informativa aos professores e demais funcionários da escola com o objetivo de identificarem os sintomas da dependência química e possibilitarem a intervenção na fase inicial do consumo de drogas, quando não for possível evitá-la. Desta forma contribuirá para a promoção, proteção, recuperação ou reabilitação dos alunos da escola Ruy Barbosa. 49 CAPS Sob influência da Reforma Psiquiátrica no Brasil, o Ministério da Saúde (1992), pela da portaria nº 224/1992 passou a financiar e normatizar novos serviços de saúde mental, priorizando o tratamento ambulatorial de caráter interdisciplinar. Esta portaria regulamentou as diretrizes e normas a serem obedecidas para implementação de Núcleos/Centros de Atenção Psicossocial (NAPS/CAPS). 50 CAPS Em 2002, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) foram redefinidos, no âmbito federal, pela Portaria GM/MS Nº 336, dentre eles os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas, na modalidade II (CAPS AD II), caracterizados como um novo serviço de Atenção para atendimento de pacientes com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas. 51 CAPS No que diz respeito à atenção ao usuário de álcool e outras drogas, os novos serviços trouxeram formas distintas de tratamento e abordagens específicas para essa população, sendo considerados serviços inovadores no que diz respeito à atenção ao dependente químico. Esses espaços têm possibilitado a participação ativa do enfermeiro que, em conjunto com a equipe de enfermagem, atua em diversas vertentes do cuidado ao dependente químico. 52 CAPS A participação é assegurada por lei que estabelece a inserção dos profissionais de enfermagem de nível médio e superior na equipe multidisciplinar dos CAPS AD, atribuindo-lhes, inclusive, o atendimento em oficinas terapêuticas e outras modalidades de assistência aos usuários do serviço, o que possibilita à equipe de enfermagem e ao enfermeiro manterem contatocontínuo com os usuários nas mais diferentes atividades desenvolvidas nesses serviços. 53 CAPS Discorrendo sobre as práticas dos trabalhadores dos serviços de saúde diante dos problemas decorrentes da dependência química, o Ministério da Saúde aponta que muitas vezes a assistência oferecida nesses serviços pode ser ineficiente, em razão da má formação dos profissionais, pois estes desconhecem todos os sintomas gerados pelo uso abusivo de álcool e drogas e ainda apresentam uma visão negativa dos usuários e de suas perspectivas evolutivas perante o problema. 54 CAPS Considerando esses apontamentos do próprio Ministério da Saúde, torna-se importante estudar essa problemática, inclusive no que tange à identificação das representações sociais, sobre o dependente químico, dos trabalhadores que atuam em serviços especializados no atendimento a essa clientela, uma vez que se pressupõe que tais representações possam influir diretamente no seu cuidado. 55 Qual é o papel da enfermagem no CAPS? 56 CAPS e Enfermagem O cuidado de enfermagem, no CAPS, tem como princípio o humanismo, isto é, mudança de um olhar clínico para um olhar compreensivo, desenvolvendo o diálogo, o afeto, o acolhimento, o conforto e a relação do enfermeiro(a) e o paciente. Desse modo, com vista a um cuidado mais efetivo, já não se cuida mais somente da pessoa, mas também da família (ALMEIDA FILHO; MORAES; PERES, 2009). 57 CAPS e Enfermagem Realizar assistência de enfermagem, em serviço aberto, como o CAPS, exige sensibilidade para que o gesto de cuidar aproxime e não afaste. A proposta de trabalho do CAPS possibilita a participação ativa de diversas atividades desenvolvidas fora e dentro dos serviços. 58 CAPS e Enfermagem Oferecendo: atendimentos em grupos e individuais, oficinas terapêuticas, atividades físicas, atividades lúdicas, visita domiciliar e hospitalar, passeios com usuários do CAPS, palestras, administração e orientações sobre medicações, formação de vínculos com o usuário, entre outras atividades. Nesses serviços, trabalha-se a realidade de cada sujeito, considerando crenças, valores e cultura, que antes estavam adormecidos pelo paradigma manicomial, colocando a enfermagem no desafio do cuidado interdisciplinar (ALMEIDA FILHO; MORAES; PERES, 2009). 59 CAPS e Enfermagem Conforme, Almeida Filho, Moraes e Peres (2009) o cuidado de enfermagem no CAPS parece seguir esse horizonte, não se baseando apenas em normas, em rotinas, mas, construindo novos cenários/caminhos, tornando-se o campo mais efetivo a ser conquistado. Portanto, a convivência diária, o diálogo e a escuta têm sido importantes no cuidado proporcionado pela enfermagem, pois ouvir é um fato fisiológico e escutar requer uma disposição interna de acolher. 60 CAPS e Enfermagem Deve-se aprender a ser, partilhar, comunicar, a ver que o paciente com transtornos mentais é outro de nós. A enfermagem, em saúde mental e psiquiátrica, é um núcleo de saber centrado no cuidado à saúde mental da pessoa e de sua família, em todos os níveis de assistência, promoção, manutenção e recuperação, bem como, na prevenção secundária e no preparo para a reabilitação social da pessoa; com respeito aos seus direitos e deveres de cidadão (STEFANELLI; FUKUDA; ARANTES, 2011). 61 CAPS e Enfermagem Neste cenário, a promoção da saúde mental, a prevenção da enfermidade, a consulta de enfermagem, o sofrimento e dificuldades do cotidiano, passam a fazer parte do cuidado do enfermeiro, ajudando-os a encontrarem um sentido para o sofrimento mental (ESPERIDIÃO et al., 2013). 62 CAPS e Enfermagem A meta do cuidado do enfermeiro(a) é maximizar as interações positivas da pessoa com o ambiente, promovendo o bem estar e valorizando o contexto da pessoa; com vista a sua inclusão social, desenvolvendo a autonomia e a convivência do usuário. Os familiares e cuidadores também devem ser inseridos no processo de tratamento e reabilitação (ESPERIDIÃO et al., 2013) 63 CAPS e Enfermagem Segundo Stefanelli, Fukuda e Arantes (2011) o enfermeiro(a), no desempenho de sua profissão, vê-se envolvido com o cuidado de crianças, adolescentes, adultos e idosos nas inúmeras experiências que estes vivenciam no seu trabalho diário. 64 CAPS e Enfermagem O papel do enfermeiro(a) é o de agente terapêutico, sendo fundamental ter conhecimento generalista para prestar cuidados ao doente mental, pois o paciente necessita de projetos terapêuticos e estratégias de intervenção, assim redesenhando a sua nova história (GONÇALVES; SENA, 2001; MARCOLAN; CASTRO, 2013). 65 CAPS e Enfermagem O trabalho na saúde mental exige que o enfermeiro(a) assuma o compromisso do trabalho em equipe interdisciplinar e com conhecimento para lidar com cada situação, não perdendo de vista o compromisso terapêutico. O enfermeiro(a), na sua rotina diária, atua para preservar e promover a saúde mental, para fazer intervenção em crise e, outras vezes, cuidando do usuário com transtornos mentais, em diversos níveis, de leve a grave, agudos e crônicos (STEFANELLI; FUKUDA; ARANTES, 2011). 66 CAPS e Enfermagem Na área da saúde mental e psiquiátrica, o enfermeiro(a) atua dentro deste nível de prevenção com o objetivo de diminuir a suscetibilidade de pessoas, famílias e comunidades aos transtornos mentais. 67 CAPS e Enfermagem Assim, contribuir para tornar a todos mais capazes de enfrentar situações conflitantes e auxiliar o paciente a aceitar a si próprio, melhorando as suas relações pessoais, pois, hoje em dia, estimativas sugerem que, uma em cada quatro famílias, apresenta pelo menos uma pessoa com transtorno mental (STEFANELLI; FUKUDA; ARANTES, 2011). 68 CAPS e Enfermagem No CAPS AD, o enfermeiro(a), juntamente com a equipe interdisciplinar, busca promover a reabilitação psicossocial, com o intuito de cuidado aos usuários de drogas; como o acolhimento universal e incondicional ao paciente e seus familiares levando em conta as especificidades e necessidades de cada paciente, em muitos casos, por longo prazo. 69 CAPS e Enfermagem Várias ações são desenvolvidas no CAPS AD 15 como: tratar abstinências leves de nível ambulatorial, realizar busca ativa junto com a atenção básica em casos de abandono de tratamento, desenvolver oficinas terapêuticas, apoiar um trabalho dentro da perspectiva de Redução de Danos (RD) e suporte e apoio a familiares (XAVIER; MONTEIRO, 2013). 70 CAPS e Enfermagem O atendimento para crianças e adolescentes, no CAPS Infantil compete ao enfermeiro(a), juntamente com os demais integrantes da equipe interdisciplinar. Deve acolher e cuidar da criança em sofrimento psíquico, sempre atuando com o intuito de reinserir a criança na família e na sociedade. 71 CAPS e Enfermagem Para isso, realiza algumas atividades como: proporcionar o convívio em grupo e com a escola, trocas de experiência, melhorar as relações interpessoais, escuta terapêutica, as quais qualificam a assistência e oferecem apoio em busca da autonomia e independência (CECCARELLI, 2005; PORTELLA et al., 2013). 72 CAPS e Enfermagem No CAPS adulto, as atividades do enfermeiro(a) desenvolvem-se para o cuidado de pessoas adultas com sofrimento psíquico e têm como objetivo um tratamento que não isola os pacientes de suas famílias e da comunidade, mas que envolve os familiares no atendimento com a devida atenção necessária, ajudando na recuperação e na reintegração social do indivíduo. 73 CAPS e Enfermagem As atividades consistem nas visitas domiciliares, oficinas terapêuticas, atendimentos individuais, atividades físicas e esportivas, festas, lazer e grupos que são fundamentais para o portador de transtorno mental, considerando que este necessita de cuidados terapêuticos que vão além da doença e que englobam as relações interpessoais na comunidade e território em que está inserido (KANTORSKI et al., 2011). 74 CAPS e Enfermagem Neste sentido, a partir da criação de novas possibilidades de trabalhos, nos CAPS, o enfermeiro(a) se viu responsávelpor uma assistência inovadora, promissora e humanizada em suas práticas que envolve convivência afetiva com o usuário. 75 CAPS e Enfermagem O enfermeiro(a) na saúde mental precisa ter muita dedicação, comprometimento e sensibilidade em fazer com que o gesto de cuidar aproxime e não afaste. O profissional deve aprender a pensar abertamente, com reflexão, curiosidade, ousadia e paixão, buscando sempre o conhecimento (ALMEIDA FILHO; MORAES; PERES, 2009) 76 CAPS e Enfermagem A inserção do enfermeiro(a) nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) está prevista na Portaria Ministerial GM nº 336/02 que traz a obrigatoriedade da presença desse profissional como membro da equipe. Portanto, torna-se necessário que o enfermeiro(a) assegure seu espaço de ação profissional, nos serviços de Saúde, visando ao fortalecimento da Atenção à Saúde Mental (ESPERIDIÃO, 2013). 77 CAPS e Enfermagem A partir do exposto, percebeu-se a importância do trabalho do enfermeiro(a) no CAPS, atuando com uma equipe interdisciplinar, na tentativa da reabilitação do usuário, criando vínculo com o mesmo e sua família. Sendo assim, torna-se imprescindível que os profissionais de enfermagem se organizem para repensarem seu posicionamento e papéis que assumem nos diversos espaços da área da saúde mental, principalmente, no CAPS. 78 CAPS e Enfermagem O cuidado faz parte das necessidades fundamentais para a sobrevivência da vida humana: o cuidar de si, o cuidar do outro e o ser cuidado. Portanto, o cuidado é visto como o ideal ético da enfermagem, no sentido de proteger, promover e preservar, ajudando o outro a encontrar sentido na doença, no sofrimento e na dor, bem como na própria existência (VIDAL et al., 2012). 79 CAPS e Enfermagem Deste modo, o cuidado exige técnicas e habilidades e é nesse campo, na área da saúde mental que o cuidado da enfermagem é praticado. O enfermeiro(a) tem um grande desafio enquanto integrante das equipes que atuam nesses serviços substitutivos da Reforma Psiquiátrica (VIDAL et al., 2012). 80 CAPS e Enfermagem Durante muitos anos, o enfermeiro(a) teve sua prática de cuidado guiada pelo modelo de atenção asilar e precisou adequar sua prática de cuidado ao serviço substitutivo, sendo criativo, flexível e trabalhando em equipe interdisciplinarmente, rompendo com o paradigma da exclusão e da lógica manicomial (CAVALCANTI et al., 2014). 81 CAPS e Enfermagem Nesse sentido, na enfermagem psiquiátrica e de saúde mental, o cuidado produzirá melhora quando contribuir para a recuperação pessoal, como por exemplo, reinserir o usuário nas atividades cotidianas, familiares e sociais em seu território. Assim, o cuidado precisa estar aportado na intencionalidade do ato, no conhecimento científico e na prontidão para cuidar (CAVALCANTI et al., 2014). 82 CAPS e Enfermagem Percebe-se a importância do papel do enfermeiro(a) em um espaço que favoreça esse tratamento: um espaço de liberdade, de acolhimento, de respeito às pessoas e às leis da comunidade, de estímulo às habilidades e às capacidades desses profissionais de atuar na área da saúde mental (VIDAL et al., 2012). 83 CAPS e Enfermagem A enfermagem tem papel fundamental na prestação de orientação ao paciente frente às medidas preventivas, que acabam influenciando no tratamento em sua reabilitação social, física e emocional. Além disso, é importante que o profissional interage com a família para o bem estar do paciente. O cuidado com a gestante também é visto como uma das atividades do enfermeiro(a) no CAPS. 84 Referências Bibliográficas CORAS, P. M. ARAÚJO, A. P. S. de. O papel da enfermagem no tratamento dos transtornos alimentares do tipo anorexia e bulimia nervosas. UNOPAR Científica Ciências Biológicas e da Saúde, n. 13, p. 315-324, 2011. Disponível em: http:// pgsskroton.com.br/seer/index.php/JHealthSci/article/vie w/1081/1036. Acesso em: 28 maio 2020. 85 Referências Bibliográficas CARDOSO, L.; GALERA, S. Internação psiquiátrica e manutenção do tratamento extra hospitalar. Rev. Esc. Enferm. USP, v. 45, n. 1, p. 87-94, 2011. Disponível em: http://www. revistas.usp.br/reeusp/article/view/40670/43903. Acesso em: 13 jun. 2020. LOUZÂ NETO, M. R. et al. Psiquiatria básica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.