Buscar

Utilitarismo e Ética: O Caso da Bebê Theresa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo
Avaliação do 1º Bimestre
Ética e Teorias da Justiça
Do Clássico ao Humanista: Bebê Theresa
Laura Andrade Lorente Castells, RA 23911. 1CD
São Bernardo do Campo, 20 de abril de 2021.
Durante os séculos XVIII e XIX, os filósofos britânicos Jeremy Bentham (1748-1832)
e John Stuart Mill (1806-1873) resolveram desenvolver uma teoria ética que visava o
bem-estar social. Conhecido como utilitarismo, ele possuía uma grande filosofia moral em
seu objetivo principal, onde suas decisões tinham como finalidade as consequências focadas
na busca do prazer e da felicidade maior. Entretanto, Bentham e Mill apresentaram versões
diferentes no decorrer dos anos de criação e utilização.
A partir do conceito principal, é possível analisar qualquer caso com base nas versões
utilitaristas, desde os fictícios, criados somente para o exercício do pensamento, aos reais, dos
quais mexem sentimentalmente conosco. Como exemplo fictício, temos o famoso caso do
bonde desgovernado, onde você é o condutor e não consegue frear. Logo à frente, você avista
cinco trabalhadores nos trilhos e tem certeza que acabarão atropelados, caso não consiga
frear. No entanto, nota-se um desvio à direita, em que há somente um trabalhador. O que você
faz? Desvia o bonde e mata um único trabalhador, poupando os outros cinco, ou deixa que o
bonde siga em frente, matando os cinco? Desviar o bonde seria a coisa mais certa a se fazer?
Como exemplo real e principal desta exposição argumentativa, temos o caso da bebê
Theresa. Theresa Ann Campo Pearson nasceu na Flórida em 1992, com anencefalia, ou seja,
sem partes importantes do encéfalo (cérebro e cerebelo) e o topo do crânio. Mesmo assim,
anencéfalos possuem o tronco cerebral e por isso a respiração e os batimentos cardíacos da
bebê eram possíveis. Já que os pais sabiam que a filha não poderia viver por muito tempo, e
mesmo que vivesse não teria uma vida como a de todos, decidiram fazer uma proposta aos
médicos, o que chamou muito atenção naquela época. Eles propuseram que fizessem a
doação dos órgãos da filha ainda em vida, visando o benefício futuro de outras crianças.
Mesmo com o apoio dos médicos, a ideia não foi seguida e os órgãos não foram retirados
para transplante, devido a lei não permitir a remoção deles até que o doador esteja morto.
Depois de nove dias, a bebê veio a óbito e seus órgãos, já permitidos por lei, não foram
doados, por estarem deteriorados excessivamente. Gerando, assim, a dúvida “Teria sido
correto remover os órgãos da criança, causando-lhe dessa forma morte imediata, para ajudar
outras crianças?” Para a possível resolução dessa dúvida, é necessário analisar as visões
divergentes entre os filósofos:
Durante o século XVIII, Bentham foi o pioneiro na teorização do chamado
utilitarismo clássico, onde estabeleceu uma doutrina consequencialista baseada na
moralidade, dando importância para o resultado da ação, e não a própria ação. Para ele, uma
ética que visasse o bem-estar social, a fim de uma ação justa, tinha de ter como norma moral
a maximização dos prazeres e a minimização da dor. As principais características
incorporadas para a fundamentação desse conceito, reuniram-se na imparcialidade, no
consequencialismo e no altruísmo. O princípio da imparcialidade tornava as pessoas
totalmente iguais e de mesmo valor, os prazeres e sofrimentos tinham de ter a mesma
importância, assim como o bem-estar de cada um teria o mesmo peso dentro do bem-estar
social e geral. Admitindo, assim, que os direitos de algumas pessoas pudessem ser violados
para um bem maior, quando necessário. O princípio consequencialista determinava o valor da
ação a partir das consequências geradas por ela, onde não interessava de forma alguma o
autor, por exemplo, mas sim e somente a ação que ele decidiu tomar. E, o princípio altruísta
que originou o foco final para todas aquelas características juntas, ou seja, todas ações
deveriam, sempre, gerar benefícios ao maior número de pessoas possíveis, nada mais.
Apoiado no conceito, a ideia de um cálculo utilitarista se concretizou, dando sentido à
moralidade calculada e não determinada a partir de um valor intrínseco, ou seja, justo. Esse
cálculo aparentava ser uma incrível fonte do bem, já que sempre considerava as
consequências de uma ação que alcançasse o bem-estar maior. Apesar disso, a realidade
sempre vem à tona e traz consigo suas objeções, o que não foi diferente com a teorização
clássica de Bentham. A primeira objeção tratou sobre a violação dos direitos individuais, já
que para a maximização do prazer acontecer, era admitido a violação do indivíduo quando
necessário. A segunda, e última, sobre a monetização da moral, onde todo valor moral
poderia ser convertido em algum valor monetário. Dessa forma, é possível concluir o quão
frio, mesmo que no fim o bem maior prevalecesse, era o utilitarismo clássico, não só por
aceitar as violações e até monetização, mas também pelo abuso sem escolha da liberdade de
cada um.
Já no século XIX, Stuart Mill decidiu seguir a teoria, porém diferenciando-se das
características e justificativas principais do utilitarismo clássico. Em forma de resposta às
objeções de Bentham, ele decidiu tentar encontrar uma solução ao que ele reconheceu como
um de muitos problemas, criando, assim, o utilitarismo humanista. Foi reconhecida a
existência dos direitos naturais, com destaque à proteção da liberdade, respondendo que não
seria justo e permitido que os direitos de algumas pessoas pudessem ser violados para um
bem maior. A injustiça sobre a monetização da moral também foi reconhecida e respondida,
onde, de fato, não seria correto considerar o aspecto quantitativo, mas sim individualmente
medidas qualitativas. Por consequência, as principais características incorporadas pela teoria
humanista, reuniram-se na defesa da liberdade e na diferença qualitativa dos prazeres,
deixando clara a contradição ao clássico. Na defesa da liberdade acreditava-se que havia uma
relação proporcional entre a própria liberdade e o bem-estar social. E, na diferença qualitativa
dos prazeres, acreditava-se que o aspecto da qualidade deveria sobrepor se ao aspecto
quantitativo de um máximo prazer.
À vista disso, o utilitarismo humanista ficou conhecido pela noção principal de
qualidade, onde não só o prazer futuro era levado em consideração, mas também, a dor. As
consequências de uma ação tinham, agora, uma perspectiva de longo prazo, ou seja, era
necessário pensar no futuro para que ele não prejudicasse ninguém, permitindo, assim, chegar
a uma conclusão com consequências diferentes das de Bentham, por exemplo. O cálculo
humanista visava uma ação moral que beneficiasse o maior número de pessoas da melhor e
mais justa maneira e, caso fosse necessário prejudicar alguém por conta da maioria, que os
prejuízos conseguissem ser os menores possíveis. Também existiam objeções, a primeira
tratava-se da aproximação excessiva entre o liberalismo e o utilitarismo. A segunda
demonstrava a dificuldade de fazer um cálculo qualitativo, já que teria de se pensar em tudo,
até em sentimentos, o que poderia reduzir a complexidade e causar uma menor precisão sobre
o que pretendiam alcançar. Além disso, a existente dificuldade na previsão das consequências
de longo prazo, que traziam a perspectiva de que fazendo o cálculo distante, teríamos mais
dificuldade para conseguir prever o que iria acontecer, dando, assim, insegurança ao futuro, já
que não existem certezas absolutas e, sim, probabilidades. Depois, ou melhor, agora com o
entendimento, é possível encontrar conclusões em vista da visão de cada um para o caso da
bebê Theresa.
No cenário do utilitarismo clássico de Bentham, a maximização do prazer futuro e a
minimização da dor, somente naquele momento presente, seria levado à risca. Teria sido mais
do que correto a remoção dos órgãos para futuros transplantes, mesmo que causando a infeliz
morte imediata da bebê. O princípio da imparcialidadepossibilitaria que os direitos pré
existentes nela, a sua vida, por exemplo, fossem violados para ajudar outras crianças, ou seja,
um bem maior. Juntamente, o consequencialismo e o altruísmo reforçariam a ideia de que era,
mais do que necessário e justo, o valor da ação da morte de Theresa gerar benefícios futuros
para o maior número de pessoas possíveis, outras crianças, por exemplo. Em suma, a
quantividade estaria em cima da qualitividade.
Na contradição do cenário humanista de Stuart Mill, pode-se dizer que seria possível
duas resoluções. Na primeira, não seria correto remover os órgãos de Theresa, mesmo que
para salvar outras vidas, já que ela não tinha a obrigação de dar a sua, ou melhor, permitir que
tirassem a sua para algum fim. Isso, apoiado no princípio da liberdade e qualitividade, onde
os aspectos do máximo bem-estar social não devem ser superiores a aspectos qualitativos. Na
segunda, baseando-se no cálculo humanista, em que o alvo é uma ação moral e benéfica para
o maior número de pessoas, podendo, caso necessário, prejudicar alguém por conta da
maioria, mas fazendo com que os prejuízos consigam ser os menores possíveis, aceitaria-se a
morte da bebê. A morte não seria por um bem maior imediato, como no caso de Bentham,
mas sim pelo princípio da qualitividade, onde tratar-se de uma bebê anencéfala que mesmo
vivendo, não viveria como todos nós vivemos, ajudaria no menor aperto da consciência e
prejuízo.
Na minha própria visão, eu ficaria tomada pelo fato de que a bebê é anencéfala e
mesmo que continuasse viva, não viveria como outro bebê. Portanto, concordaria com a sua
morte imediata em prol da grande ajuda a outras crianças, assim como Mill perante o
princípio de seu cálculo humanista.
Bibliografia
Utilitarismo - Bentham e Stuart Mill. Canal Trilhante.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Fuq1j9SgSTo&t=39s >. Acesso em: 12
de abril de 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=Fuq1j9SgSTo&t=39s

Continue navegando