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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA NÚCLEO DE TECNOLOGIAS PARA EDUCAÇÃO – UEMANET FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA – FIC CURSO AGRICULTOR FAMILIAR LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO Prof. Eliúde Costa Pereira São Luís-MA 2021 | 1 APRESENTAÇÃO Caro(a) estudante, Este é o e-book da disciplina Leitura e Produção de Texto, de seu Curso de Formação Inicial e Continuada em Agricultura Familiar. O desenvolvimento da proficiência em Leitura e Produção de Textos é de grande importância, pois propicia melhores condições para a expressão pessoal, para o exercício da cidadania, a continuidade dos estudos e o sucesso profissional, em qualquer área de atuação. A Agricultura Familiar, por exemplo, é uma área produtiva de extrema relevância, e os profissionais que nela atuam podem aumentar a sua capacidade produtiva, entre outros meios, pela continuidade de seus estudos, de que faz parte a ampliação dos conhecimentos e, consequentemente, pelo desenvolvimento das habilidades no tocante à leitura e à produção de diferentes tipos de textos. Neste material, você encontrará os conteúdos básicos da disciplina, com base nos quais realizará as atividades propostas, e, por meio delas, demonstrará o seu desenvolvimento ao longo da disciplina. Bons estudos! | 2 SUMÁRIO 1. A GRAMÁTICA COMO RECURSO PARA A COMPREENSÃO, PRODUÇÃO DE TEXTOS E COMUNICAÇÃO................................................ 3 2. LEITURA E COMPREENSÃO DE TEXTOS DA ÁREA PROFISSIONAL........ 9 3. PRODUÇAO DE TEXTOS TÉCNICOS ............................................................ 12 4. ESTUDO E ANÁLISE DE TEXTOS.................................................................. 18 5. ELEMENTOS DE COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL.................................. 22 6. LINGUAGEM ORAL E ESCRITA EM CONTEXTOS FORMAIS DE USO................................................................................................................... 27 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 31 | 3 1. A GRAMÁTICA COMO RECURSO PARA A COMPREENSÃO, PRODUÇÃO DE TEXTOS E COMUNICAÇÃO Como seres sociais que somos, necessitamos nos comunicar com o mundo à nossa volta e, para tanto, recorremos às diversas modalidades de linguagens disponíveis, sendo a linguagem verbal, constituída por palavras, a principal delas. Exemplo de linguagem verbal: Fonte: Autoria própria, 2021. Desde tempos remotos, no entanto, o homem valeu-se de outras formas de linguagens para se expressar e interagir com o outro: desenho em rochas, expressões fisionômicas, gestos, sons, imagens etc. Tais linguagens são denominadas não verbais por não envolverem palavras. Exemplo de linguagem não verbal: No mundo moderno, diferentes linguagens são utilizadas articuladamente, resultando em textos multimodais, por mesclarem as linguagens verbal e não verbal. Nesse sentido, quanto mais nos apropriarmos dessa multiplicidade de linguagens, mais condições teremos para nos comunicarmos com eficácia em nosso dia a dia. F o n te : h tt p s :/ /p ix a b a y .c o m /p t/ v e c to rs /n % C 3 % A 3 o - fu m a r- lo g o ti p o -s % C 3 % A D m b o lo s -a v is o -2 4 1 2 2 /. AVISO Caros(as) alunos(as), No próximo dia 15 de março, teremos um Sarau literário virtual organizado por nossos alunos do Ensino Médio. Contamos com a participação de todos. A Direção | 4 Exemplo de linguagem multimodal: Fonte: https://br.pinterest.com/pin/334814553542276143/. Além da necessidade de termos consciência de que fazemos uso de diferentes linguagens em nossos processos comunicativos, precisamos conhecer a natureza da cada uma delas, ou seja, como se organizam. Nesse sentido, mesmo em um contexto marcado por textos multimodais, a linguagem verbal, constituída de signos linguísticos, tem uma presença contínua em nossa comunicação diária e, saber como ela se organiza, ou seja, conhecer a sua gramática, é de fundamental importância para nos comunicarmos com mais eficiência. Signos linguísticos (palavras de uma língua) são constituídos de duas partes: uma material, denominada de significante (representada pelos sons, letras, que constituem os vocábulos, palavras), e outra imaterial, denominada de significado (representada pelos conceitos desses mesmos vocábulos, palavras). | 5 Representação do signo linguístico: Gramática: “sistema de noções mediante as quais se descrevem os fatos de uma língua, permitindo associar a cada expressão dessa língua, uma descrição estrutural e estabelecer suas regras de uso, de modo a separar o que é gramatical do que não é gramatical” (FRANCHI, 1991, p. 52). A materialização da linguagem ocorre por meio dos textos e, de acordo com nossas intenções comunicativas, lemos e produzimos textos com características específicas, que constituem os gêneros textuais. Cada situação de comunicação exige um gênero particular: recado, bilhete, lista de compras, carta, recibo, procuração, aviso, edital, ata, entre outros. Exemplo da diversidade de gêneros textuais: Tanto a produção quanto a leitura dos gêneros textuais exigem, entre outros aspectos, a mobilização da competência linguística ou gramatical (TRAVAGLIA, 2008), daí a importância dos conhecimentos linguísticos/gramaticais de que dispomos para lidarmos com as situações comunicativas com as quais nos envolvemos constantemente, não devendo esquecermos que essas situações são mediadas pelos gêneros textuais, quer sejam eles orais ou escritos. F o n te : h tt p s :/ /w w w .m a g a z in e lu iz a .c o m .b r/ p a in e l- d e -l o n a -e s c o la r- g e n e ro s- te x tu a is -1 -1 0 0 x 0 7 0 c m -f a b ri k a -d e -f e s ta /p /a c a 5 0 d 5 k k 2 /a f/ d fe s /. F o n te : h tt p s :/ /h e lio b o rg e s b lo g .w o rd p re s s .c o m /2 0 1 6 /1 2 /0 6 /s ig n if ic a n te -e -s ig n if ic a d o /. | 6 A competência comunicativa envolve a capacidade de, nas situações de leitura e de escrita, identificarmos e manipularmos os signos linguísticos no que tange, por exemplo: a) aos processos de formação: as palavras de uma língua são constituídas por processos diversos, entre eles: derivação (ilegal, legalidade, ilegalmente; pneu (de pneumático); entardecer) e composição (beija-flor, micro-ônibus, passatempo, aguardente); b) aos processos de classificação das palavras do ponto de vista semântico: 1 – substantivos: nomeiam os seres em geral (agricultor, plantação, sementes, inverno); 2 – adjetivos: indicam características ou estados (agricultor estudioso, colheita boa); 3 – artigos: determinam os seres (o agricultor, uma agricultora); 4 – pronomes: indicam as pessoas do discurso (quem fala (eu); com quem fala (tu, você); sobre o que/quem fala (aquele edital)); a posição dos seres em relação às pessoas do discurso (esta plantação, aquela semente); 5 – numerais: quantificam, indicam ordem dos seres (duas pencas de banana; ele é o primeiro da fila); 6 – verbos: indicam ações (Ele dança muito bem); estados (Os produtores estão esperançosos.), fenômenos da natureza (Choveu muito.)etc.; 7 – advérbios: modificam os verbos ou intensificam adjetivos ou outros advérbios (As chuvas começaram tarde; Os agricultores ficaram bastante felizes com a chegada das chuvas; A plantação começou bem cedo.); 8 – conjunções: estabelecem conexão entre orações ou entre duas palavras ou termos oracionais (O governo prometeu e enviou ajuda aos trabalhadores; O governo ou o trabalhador precisa ceder.); 9 –preposições: marcam relações entre unidades linguísticas, subordinando um nome a um verbo ou a outro nome (Preciso de dinheiro; Ele estava com ânsia de glória.); 10 – interjeições: traduzem as nossas emoções (Oba! A chuva chegou?). c) aos processos de identificação e atribuição de significados/sentidos: as palavras de uma língua podem assumir diferentes sentidos, dependendo do contexto em que são utilizadas. Por exemplo: | 7 A manga estava muito gostosa. A manga da camisa ficou curta. Como podemos observar nesses exemplos, temos uma mesma palavra (signo linguístico), mas com significado diferente em cada um dos contextos. Veja que elas são escritas e pronunciadas da mesma forma, sendo denominadas de homônimas perfeitas. Há, ainda, os casos de palavras que são diferentes na grafia, todavia apresentam significados semelhantes, sendo denominadas de sinônimas, é o caso dos verbos extinguir e abolir. Exemplos contextualizados: O cargo foi extinto do organograma da empresa; A função foi abolida do organograma da empresa. Esses exemplos estão relacionados a uma parte da gramática denominada de Semântica e evidenciam a riqueza e complexidade que envolve o universo da significação em nossa língua. d) aos processos de organização sintática: os atos comunicativos envolvem a organização das palavras em: 1. frases: quaisquer enunciados com sentido completo: Socorro! Que dia lindo! O governo vai abrir uma nova linha de crédito para os agricultores. 2. Orações: enunciados organizados em torno de um verbo: a. O preço dos insumos aumentou significativamente. F o n te : h tt p s :/ /e n .w ik ip e d ia .o rg /w ik i/ A lo h a _ s h ir t. F o n te : h tt p s :/ /p t. w ik ip e d ia .o rg /w ik i/ M a n g a _ (f ru ta ). | 8 3. Períodos: enunciados formados por uma ou mais orações: O preço dos insumos agrícolas aumentou tanto que o governo prometeu reduzir a alíquota de impostos sobre esses produtos. Veja que nesse período há duas orações, uma organizada em torno de um verbo e outra com uma locução verbal. Além disso, há uma articulação entre elas estabelecida por meio de uma locução conjuntiva “tanto que” indicando uma consequência. Portanto, há uma relação de causa e consequência entre as duas orações que formam o período. Quando produzimos períodos, estamos o tempo todo estabelecendo relações de sentido entre as orações que os constituem e, para tanto, precisamos recorrer especialmente às palavras relacionais, caso das conjunções. Nas produções textuais, valemo-nos de frases, em sua maioria organizadas em forma de períodos, por meio dos quais formamos os parágrafos e, consequentemente, os textos. Estes, por sua vez, podem conter diferentes quantidades de parágrafos, o que vai depender do tipo de gênero textual em questão. Tudo o que falamos até agora serviu para evidenciar a importância da competência linguístico-gramatical nos processos comunicativos, que são sempre mediados por textos (orais e escritos). Assim, a boa comunicação requer a mobilização eficiente dos conhecimentos gramaticais diversos (fonético, morfológico, semântico, sintático etc.), de modo que quanto mais tivermos domínio desses conhecimentos, mais eficientes serão as nossas atividades de leitura e de escrita. | 9 2. LEITURA E COMPREENSÃO DE TEXTOS DA ÁREA PROFISSIONAL A comunicação no mundo profissional, em seus diferentes níveis, é mediada por gêneros textuais de natureza específica, denominados de textos técnicos. Eles, além de apresentarem linguagem própria da área profissional a que pertencem, também apresentam características específicas, conforme quadro abaixo: Quadro 1 – Características dos textos técnicos CARACTERÍSTICAS DOS TEXTOS TÉCNICOS Objetividade: consiste no uso apenas das informações relevantes, evitando a perda de foco. Clareza: consiste na apresentação das informações sem ambiguidades, frases intercaladas, parágrafos longos ou colocação inadequada dos termos nas orações, de modo a facilitar a compreensão pelo leitor. Concisão: tem a ver com a potencialização das informações por meio do uso mínimo de palavras, sem repetições e excesso de ideias. Coerência: refere-se à apresentação das informações de forma articulada, de modo a formar uma unidade textual. Correção gramatical: consiste na observância das normas gramaticais da língua portuguesa. Tais características têm como finalidade evitar ruídos na comunicação e torná-la mais eficiente e eficaz. A leitura de um texto da área profissional deve considerar o objetivo motivador dessa ação e também a presença de termos técnicos próprios de cada área da atividade humana: médica, jornalística, jurídica, agrícola, entre outras. Desse modo, caso haja dificuldade de entendimento do texto em decorrência da | 10 presença de tais termos, uma boa estratégia é consultar os significados das palavras desconhecidas, em especial, dos termos técnicos, em um dicionário. Para ampliarmos a compreensão sobre o assunto, vamos ler o capítulo I (Aspectos gerais da redação oficial) do Manual de Redação da Presidência da República (páginas 15 a 21). De posse dessas informações, agora vamos fazer a leitura de um texto técnico muito comum, o ofício, que faz parte da comunicação dos órgãos públicos. Figura 1 – Ofício do Ministério dos Direitos Humanos Fonte: Manual de Redação da Presidência da República, 2018. http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da-presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf | 11 A leitura de um texto, qualquer que seja ele, exige que identifiquemos, entre outros aspectos, a sua estrutura (partes que o constituem), o assunto e o estilo de composição, em que se inclui a forma como a linguagem é utilizada e, no caso dos textos em questão, a presença de termos técnicos. Com relação ao gênero ofício acima, a estrutura é composta de timbre (brasão da república e identificação do órgão emissor, no caso, o Ministério dos Direitos Humanos), número do ofício, local e data, destinatário, assunto, vocativo, corpo do texto, encerramento e nome do emitente/assinatura. Agora, vamos reler o texto e identificar cada uma das partes ora indicadas, a fim de nos apropriarmos da estrutura desse texto técnico de caráter oficial. Veja que a referência ao destinatário ocorre com a utilização de um pronome de tratamento, no caso em questão, “Sua Excelência”. Para saber mais sobre esse tipo de pronome e quando utilizar cada um deles, leia o conteúdo das páginas 23 a 25 do Manual de Redação da Presidência da República, mencionado acima. Sobre o assunto: de que trata o texto? Veja que, após a indicação do assunto, temos o vocativo, representado por “Senhor Ministro”, que pode aparecer em outros ofícios na forma “Prezado Senhor”. O assunto consiste em um convite dirigido a um ministro para participar de um evento e é organizado de forma bem clara, objetiva, concisa, coerente e com correção gramatical. As duas partes finais do ofício são o encerramento (Atenciosamente), que, dependendo do destinatário, pode ser substituído por “Cordialmente”, “Respeitosamente” etc., e o nome e assinatura do emitente, a pessoa que está enviando o ofício. Como acabamos de ver, é muito fácil compreendermos a estrutura de um gênero textual da área profissional e, consequentemente, produzi-lo, objeto de estudo da próxima unidade. | 12 3. PRODUÇÃO DE TEXTOS TÉCNICOS Ao produzirmos textos de caráter técnico, precisamos ter em mente as características gerais aplicadas a esse tipo de gêneros textuais, conforme visto na unidade anterior,como também as especificidades de cada área profissional, que exigirão um uso particular da linguagem, uma vez que cada uma delas tem seus termos técnicos. Existe uma grande variedade de textos técnicos, caso do ofício, visto na unidade anterior. Vamos listar alguns que são muito comuns: a) E-mail (electronic mail) comercial: trata-se de uma mensagem eletrônica utilizada em relações profissionais na modernidade, caso das atividades comerciais. Possui características do gênero carta, mas é veiculada por meio eletrônico. O e-mail tem a seguinte estrutura: 1 – Campo (espaço) do endereço eletrônico do remetente (emissor); 2 – Campo (espaço) do endereço eletrônico do destinatário (a mensagem pode ser enviada a vários destinatários); 3 – Campo (espaço) para indicação do “assunto”: de que trata a mensagem; 4 – Campo para a mensagem: nesta parte, devem constar: o vocativo (Sr. ou Sra. Gerente; Prezado(a) Diretor(a) etc.); a mensagem propriamente dita; o encerramento (Atenciosamente, Cordialmente, Respeitosamente etc.); Nome e cargo/função do remetente. 5 – Anexos: documentos em arquivos digitais podem ser enviados na forma de anexos. Concluída a produção do e-mail, basta clicar em “Enviar” e aguardar a devolutiva do destinatário. Vejamos um exemplo: | 13 Figura 2 – Produção de e-mail Fonte: Autoria própria, 2021. b) Carta comercial: não nos ateremos à carta comercial nos moldes tradicionais, pois, com o uso dos e-mails (correio eletrônico), esse tipo de gênero vem sendo pouco utilizado. c) Declaração: tipo de texto utilizado com muita frequência no âmbito de instituições públicas (escolas, universidades, órgãos da administração pública etc.) e privadas (empresas comerciais, industriais e de prestação de serviços), tendo natureza documental, tendo em vista que serve para comprovar uma dada informação, tendo sua estrutura constituída de: título, corpo do texto, local e data, assinatura. | 14 Figura 3 – Exemplo de Declaração. Fonte: Autoria própria, 2021. d) Observação: Como indicado na parte superior, esse tipo de texto é feito geralmente com uso de papel timbrado e, na parte de baixo, além da assinatura, é importante o uso de carimbo com os dados do responsável pela emissão, contribuindo para a validade do documento. e) Recibo: tipo de documento em que se declara o recebimento de algo, geralmente, de dinheiro, sendo constituído de título, valor em algarismo (em se tratando de dinheiro), corpo do texto, local e data, nome e assinatura do recebedor. IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA/INSTITUIÇÃO (TIMBRE) DECLARAÇÃO Declaramos para os fins que se fizerem necessários que João Pedro Alves, portador da Carteira de Identidade nº XXXXXXXXXXXXX, é funcionário desta empresa, onde atua no setor de vendas. São Luís-MA, 25 de março de 2021. ________________________________ Paulo de Tarso Silveira Gerente administrativo | 15 Figura 4 – Exemplo de Recibo. Fonte: Autoria própria, 2021. f) Procuração: tipo de documento por meio do qual uma pessoa (denominada de outorgante) nomeia alguém que seja de sua confiança (denominada de outorgado) para agir em seu nome, situação que se faz necessária quando o outorgante não pode se fazer presente em determinado evento ou realizar determinada ação. A procuração é constituída de título, corpo do texto, local e data, nome e assinatura do outorgante. Para ter valor legal, é preciso o reconhecimento de firma (assinatura) do outorgante, em cartório. Além disso, é importante informar o fim específico para o qual o outorgado foi constituído, para que ele use a procuração apenas para essa finalidade específica. RECIBO R$ 1.000,00 Recebi do Sr. João Aires Nunes, portador do RG XXXXXXXXX, a importância de Hum Mil Reais, referente ao pagamento integral de uma estante de madeira, medindo dois metros de altura e um metro e vinte de largura. Para clareza, firmo o presente recibo. São Luís-MA, 25 de março de 2021. _______________________________ João Luís Serra RG XXXXXXXXXXXXXXXX | 16 Figura 5 – Exemplo de Procuração. Fonte: Autoria própria, 2021. g) Abaixo-assinado: tipo de documento de natureza coletiva, utilizado para solicitações daquilo que é de interesse comum, realização de queixas ou de protestos, bem como para manifestações de apoio a uma pessoa ou instituição. Constituído de vocativo, corpo do texto, local e data, assinaturas. PROCURAÇÃO Pelo presente instrumento de procuração, eu, João Costa Ribeiro, brasileiro, agricultor, portador do RG XXXXXXXXXXXXXX, SSP/MA, e do CPF XXX.XXX.XXX-XX, residente e domiciliado à Rua Principal, 100, Jardim América, São Luís-MA, CEP 65.410-230, por este instrumento particular de procuração, nomeio e constituo como meu procurador o Sr. José Francisco Silva, brasileiro, agricultor, portador do RG XXXXXXXXXXXXX, SSP/MA, e do CPF XXX.XXX.XXX-XX, residente e domiciliado à Rua Jaraguá, 52, Cidade Operária, São Luís-MA, CEP 65.611-340, para o fim específico de realizar a minha inscrição no Programa de Crédito para trabalhadores Rurais. São Luís-MA, 21 de março de 2021. ______________________________ João Costa Ribeiro | 17 Figura 6 – Exemplo de Abaixo-assinado. Fonte: Autoria própria, 2021. Como você deve ter observado, os documentos técnicos seguem estruturas específicas, o que facilita o domínio da produção, uma habilidade bastante relevante para o exercício da cidadania. Excelentíssimo Senhor Prefeito, Os cidadãos abaixo assinados, brasileiros, residentes e domiciliados no bairro Tibiri, solicitam a Vossa Excelência a recuperação asfáltica das ruas do bairro, tendo em vista que as mesmas se encontram em péssimo estado, dificultando o tráfego de pedestres e veículos. Na certeza de termos o nosso pleito atendido, enviamos o presente documento, constituído por cinco páginas devidamente numeradas e assinadas pelos moradores do bairro em questão. Por oportuno, nomeamos o morador João Carlos Silva (Telefone (98) 98276- 0001), como nosso representante, para o caso de serem necessárias maiores informações. São Luís-MA, 21 de março de 2021. Assinaturas: Nº documento: ______________________________ _________________________ ______________________________ _________________________ | 18 4. ESTUDO E ANÁLISE DE TEXTOS O uso de diferentes linguagens materializadas em textos (verbais, não verbais, multimodais) faz parte do nosso cotidiano. Saber ler com habilidade gêneros textuais diversos é fundamental não apenas para atender às nossas necessidades pessoais, mas também àquelas de ordem escolar/acadêmica, profissional. De acordo com Travaglia (2008), a proficiência em leitura e compreensão de diferentes textos é denominada de competência textual, que, ao lado da competência gramatical ou linguística, constituem a competência comunicativa. De acordo com esse autor, o desenvolvimento da competência textual permite ao leitor, entre outros aspectos, reconhecer e compreender diferentes tipos de textos. Tanto a produção quanto a leitura e, consequentemente, a compreensão de um texto envolvem a mobilização de conhecimentos diversos, tais como: a) linguísticos: dizem respeito ao que o leitor sabe com relação à língua em suas diferentes facetas: ortografia, léxico, pontuação, semântica, morfologia, sintaxe, entre outras; b) enciclopédicos: consistem nos conhecimentos de que o leitor dispõe sobre o mundo, construídos por meio de leituras, interações e vivências diversas; c) textuais: consistem nos conhecimentosque o leitor possui sobre textos (composição, finalidade, conteúdo, estilo, suportes em que circulam, entre outros). d) interacionais: dizem respeito à capacidade de o leitor identificar, no processo de leitura, a intenção do autor acerca do texto que produz. Esse conhecimento é fundamental para que o leitor consiga interagir com o autor, realizando, assim, um ato de leitura dentro de uma perspectiva interacional. Você sabia? É por meio dos suportes textuais (livros, revistas, jornais, murais, outdoors) que os gêneros circulam, chegando aos receptores, destinatários. | 19 F o n te : A g ê n c ia B ra s il, 2 0 2 0 . D is p o n ív e l e m : h tt p s :/ /a g e n c ia b ra s il. e b c .c o m .b r/ p o lit ic a /n o ti c ia /2 0 2 0 - 0 8 /s e n a d o -a p ro v a -a u x ili o -f in a n c e ir o -p a ra -a g ri c u lt o re s -f a m ili a re s . Vejamos uma imagem com exemplos de suportes textuais: Fonte: https://novaescola.org.br/plano-de-aula/3268/reportagem-apresentando-o-genero. Leiamos o texto abaixo: Senado aprova auxílio financeiro para agricultores familiares Projeto prevê pagamento de R$ 600 em auxílio a esses trabalhadores Publicado em 05/08/2020 - 17:57 Por Marcelo Brandão - Repórter da Agência Brasil - Brasília O Senado aprovou hoje (5) o Projeto de Lei 735/2020, que estabelece medidas de socorro financeiro aos agricultores familiares. O projeto passou primeiro pela Câmara e foi aprovado pelo Senado sem alterações. Ele segue para sanção do presidente da República, que pode sancionar o projeto ou vetá-lo, todo ou em parte. O projeto traz, entre seus principais dispositivos, a previsão do pagamento de cinco parcelas de R$ 600 a título de auxílio aos agricultores familiares. Além disso, o projeto também prevê um fomento emergencial de inclusão produtiva rural, um pagamento de R$ 2,5 mil, em parcela única, por unidade familiar. Para a mulher agricultora familiar, a transferência será de R$ 3 mil. O auxílio de R$ 600 só será pago àqueles que não tenham sido beneficiados pelo auxílio emergencial do governo. O agricultor familiar não pode ter emprego formal, nem receber outro benefício previdenciário, exceto Bolsa Família ou seguro-defeso, e deve ter renda familiar de até meio salário mínimo (R$ 522,50) ou renda familiar total de até três salários mínimos. Outro ponto do projeto concede o auxílio Garantia-Safra, automaticamente, a todos os agricultores familiares aptos a receber o benefício durante o período de calamidade pública, condicionado à apresentação de laudo técnico de vistoria municipal comprovando a perda de safra. O Garantia-Safra assegura ao agricultor familiar o recebimento de um auxílio pecuniário, por tempo determinado, caso perca sua safra em razão de seca ou excesso de chuvas. O texto também institui linhas de crédito rural no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Podem se beneficiar das medidas agricultores com renda familiar mensal de até três salários mínimos. Edição: Aline Leal https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-08/senado-aprova-auxilio-financeiro-para-agricultores-familiares https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-08/senado-aprova-auxilio-financeiro-para-agricultores-familiares https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1867396&filename=PL+735/2020 https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1867396&filename=PL+735/2020 https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-07/camara-aprova-auxilio-emergencial-para-agricultor-familiar-na-pandemia https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-07/camara-aprova-auxilio-emergencial-para-agricultor-familiar-na-pandemia | 20 Para lermos o texto acima, precisamos recorrer aos conhecimentos linguísticos, sem os quais não conseguiríamos realizar, por exemplo, o processo de decodificação das palavras que o constituem. Para tanto, foi preciso reconhecer o léxico, a ortografia das palavras, a organização sintática das orações, entre outros aspectos. Isso evidencia o quanto os conhecimentos linguístico-gramaticais são importantes no processo de leitura e de escrita também, razão por que precisamos ampliá-los continuamente em nosso processo de formação, realizando leituras, cursos de formação continuada, a exemplo deste, etc. O processo de compreensão e interpretação exigiu a mobilização de conhecimentos de mundo, ou seja, os conhecimentos enciclopédicos oriundos de vivências e leituras anteriores, como, por exemplo: para saber que o Senado e a Câmara são as duas casas que compõem o Congresso Nacional, onde as leis são elaboradas e aprovadas; o que é um projeto de lei; o que significa sancionar ou vetar um projeto de lei; o que são linhas de crédito. No que concerne aos conhecimentos textuais, precisamos observar a estrutura do texto (título, subtítulo e corpo do texto), o conteúdo (assunto corrente), o meio de circulação (agência de notícias estatal), entre outros aspectos, para concluirmos que se trata de uma notícia. Por fim, do ponto de vista dos conhecimentos interacionais, observamos que o autor objetiva apresentar informações que interessam àqueles que atuam na agricultura familiar. Para isso, apresenta não apenas a informação que gerou a notícia (aprovação do auxílio emergencial), mas também as condições para recebimento, assim como tratam de outros benefícios voltados a esse público. Fica evidenciado, também, que o autor cria uma expectativa com relação ao assunto veiculado ao afirmar, no título, que o Senado aprovou o projeto de lei, mas logo no subtítulo utiliza-se do verbo “prever”, indicando uma possibilidade, visto que, no lead – primeiro parágrafo do gênero textual notícia, consistindo em um resumo do que é apresentado no texto como um todo -, é informado que o projeto depende ainda da sanção presidencial. Desse modo, a compreensão de um texto exige que o leitor interaja com o autor, valendo-se para isso de seus conhecimentos linguísticos, enciclopédicos, textuais e interacionais. Quanto maior for a preparação do leitor em relação a esses aspectos, mais condições ele terá de negociar com o autor os sentidos do texto, resultando disso eficiência e eficácia no processo de compreensão. | 21 Vale ressaltar que interpretar um texto vai muito além da compreensão das informações explícitas, é preciso fazer inferências, a partir do que está posto na superfície textual. Por exemplo, no trecho do texto em que é dito que “O projeto passou primeiro pela Câmara e foi aprovado pelo Senado sem alterações.”, está implícita a informação de que, sem mudanças, não há necessidade de o projeto voltar para nova apreciação da Câmara, o que ocorreria, caso fosse feita alguma alteração no Senado. Essas informações que não estão postas no texto, mas que podem ser inferidas como base no que está posto, no que está explícito no texto, é o que chamamos de implícitos textuais e que devem ser objeto de processos inferenciais pelo leitor, para que haja efetiva interpretação daquilo que o texto pretende informar. Andrade e Henriques (2010, p. 36) apresentam algumas técnicas para facilitar a leitura e interpretação de textos, entre as quais, a técnica da sublinhar, que facilita a assimilação das informações, pois foca no que é essencial, envolvendo: a) leitura integral do texto, para tomada de contato; b) esclarecimento de dúvidas de vocabulário, termos técnicos e outras; c) releitura do texto, para identificar as ideias principais; d) sublinha, em cada parágrafo, das palavras que contêm a ideia-núcleo e os detalhes importantes; e) assinalação dos tópicos mais importantes, com uma linha vertical, à margem do texto; f) assinalação dos casos de discordâncias, as passagens obscuras, os argumentosdiscutíveis, o que deve ser feito à margem do texto com um ponto de interrogação; g) leitura do que foi sublinhado, para verificar se há sentido; h) reconstrução do texto, tomando as palavras sublinhadas como base. | 22 5. ELEMENTOS DE COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAL A leitura e produção de textos exige que consideremos, entre outros aspectos, dois princípios de textualidade: a coerência e a coesão, que ajudam a determinar que estamos lidando com textos bem formados, condição para que o autor se faça compreender pelo leitor, melhor dizendo, para que ocorra interação entre autor e leitor, mediada pelo texto. A coerência tem a ver com o estabelecimento de sentido em um texto, quer seja por parte de quem escreve, quanto de quem lê. Diz-se que um texto é coerente quando as suas partes formam uma unidade, ou seja, estão devidamente integradas, constituindo um todo lógico. Segundo Koch e Travaglia (2009, p. 21), a coerência deve “ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto”. Assim sendo, ao produzirmos um texto, precisamos organizá-lo de tal forma que as relações de sentido entre suas diversas partes sejam lógicas, coerentes, formando uma unidade de sentido global, para conseguirmos realizar o nosso objetivo comunicativo. Exemplo: O trabalho ficou ótimo, logo tirei nota baixa. Nesse texto curto, formado por apenas um enunciado, fica evidente que não há coerência entre suas partes, pois, na primeira oração, é declarado que o trabalho ficou ótimo e, na segunda, temos a informação de que foi atribuída nota baixa, o que indica uma incoerência na informação global, sobretudo, porque foi usado entre as duas orações um articulador conclusivo (logo). Caso o enunciado fosse organizado da seguinte forma: “O trabalho ficou ótimo, mas tirei nota baixa”, estaria de certo modo coerente, pois, nesse caso, temos um articulador que indica adversidade (mas) entre as informações presentes nas duas orações. Pode ser que o trabalho tenha ficado ótimo, na visão do autor, mas não na perspectiva do avaliador. | 23 Portanto, para que haja coerência em um texto, é necessário que as relações de sentido entre suas partes específicas e globais sejam lógicas, formando uma unidade a que denominamos coerência. Outro princípio de textualidade muito importante é a coesão, que diz respeito ao estabelecimento de relações entre as diferentes partes de um texto. Como podemos observar, a coesão textual contribui para que haja a coerência. Nos exemplos que apresentamos acima, vimos que o uso do articulador “logo”, que é um mecanismo de coesão, acabou deixando o enunciado incoerente. Quando o articulador “logo” foi substituído por “mas”, tivemos o estabelecimento de uma relação de sentido coerente entre as duas partes do enunciado. Existem diferentes mecanismos de coesão, tais como: a) Referência (coesão referencial): constituída por elementos da língua que remetem a outros, facilitando o processo de interpretação e também contribuem para evitar repetições. Exemplo: Vejamos que o pronome de tratamento “você” remete, faz referência, a um interlocutor, em substituição ao nome deste, contribuindo para o processo de coesão do texto. Exemplo: Observemos que o pronome “eles” faz referência ao elemento textual “os agricultores”, contribuindo para a coesão textual e evitando a repetição do elemento em questão. b) Substituição (coesão por substituição): consiste na substituição de uma palavra ou mesmo de uma oração inteira por outra palavra. Exemplo: Você fez um bom trabalho. Com o incentivo do governo, os agricultores conseguiram uma boa safra e eles já planejam aumentar a produção no próximo ano. Eu aluguei uma casa na praia e meu amigo também. | 24 Como podemos observar, o item “também” equivale a “alugou uma casa na praia”, evitando a repetição de uma informação já dita e contribuindo com o processo de coesão textual. Elipse: consiste na omissão de uma palavra, um termo, uma oração ou todo um enunciado. Exemplo: Vejamos que nesse exemplo a resposta do interlocutor (Fiz.) não inclui nem o sujeito (Eu) nem o complemento do verbo (o trabalho), ambos foram omitidos, indicando a elipse, sem a qual teríamos: “Eu fiz o trabalho.”. No entanto, a omissão, além de fazer parte do processo de coesão textual, também deixa o texto mais enxuto. c) Conjunção: consiste no estabelecimento de relações significativas entre elementos ou orações do texto, assinaladas por marcadores que correlacionam o que está para ser dito àquilo que já foi dito. Exemplo: Vejamos que a conjunção “ou” conecta as ações apresentadas na primeira e segunda orações, indicando uma relação de sentido caracterizada pela alternância. d) Lexical: envolve a substituição de uma palavra por outras com as quais ela mantém relações de sentido. Exemplo: Como podemos observar, na segunda parte do enunciado, a palavra estudante foi substituída por um sinônimo (aluno), constituindo uma ocorrência de coesão lexical. O estudante conseguiu uma vaga na universidade, pois era um aluno muito aplicado. - Você fez o trabalho? - Fiz. Você trabalha ou estuda. | 25 Agora vamos ler com atenção uma belíssima crônica de Rubem Braga, considerado por alguns críticos como o maior cronista brasileiro do século XX. Após a leitura preliminar, faça uma releitura observando como os elementos coesivos (em negrito) estão presentes em todas as suas partes. As palavras destacadas no texto constituem ocorrências de coesão textual e há também nele diversos casos não destacados de coesão por elipse, é o caso do trecho: “Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo”, em que o sujeito da segunda parte do enunciado não está explícito. Quem O cajueiro Rubem Braga O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro atrás da casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu. Eu me lembro do outro cajueiro que era menor e morreu há muito tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de- são-jorge (que nós chamávamos simplesmente “tala”) e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de flores humildes, “beijos”, violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado da casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde. No último verão ainda o vi; estava como sempre carregado de frutos amarelos, trêmulo de sanhaços. Chovera: mas assim mesmo fiz questão de que Carybé subisse o morro para vê-lo de perto, como quem apresenta a um amigo de outras terras um parente muito querido. A carta de minha irmã mais moça diz que ele caiu numa tarde de ventania, num fragor tremendo pela ribanceira; e caiu meio de lado, como se não quisesse quebrar o telhado de nossa velha casa. Diz que passou o dia abatida, pensando em nossa mãe, em nosso pai, em nossos irmãos que já morreram. Diz que seus filhos pequenos se assustaram; mas foram brincar nos galhos tombados. Foi agora, em fins de setembro. Estava carregado de flores. Setembro, 1954. Cemcrônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956. | 26 morreu? “O cajueiro”. Essa informação está oculta, pois já foi mencionada anteriormente, não havendo necessidade de repetição. Coerência e coesão textuais constituem, assim, mecanismos de grande relevância no processo de produção e leitura textuais. Enquanto a coesão garante a articulação das diferentes partes do texto, a coerência dá a ele unidade lógica, permitindo efetiva comunicação entre autor e leitor. | 27 6. LINGUAGEM ORAL E ESCRITA EM CONTEXTOS FORMAIS DE USO A nossa comunicação cotidiana, como já dissemos em tópico anterior, ocorre por meio do uso de diferentes linguagens, que se materializam nos gêneros textuais. Entre essas linguagens está a verbal, que é constituída de palavras. A linguagem verbal possui duas modalidades: a oral e a escrita. Cada uma delas apresenta especificidades no uso e, embora tenha surgido depois, a modalidade escrita é vista como mais prestigiada. Tanto a modalidade oral quanto a escrita podem ser utilizadas em situações formais e informais. Em geral, a modalidade oral é considerada mais espontânea, especialmente, em situações informais, por exemplo: em conversas com familiares, amigos etc. Em situações formais, no entanto, é necessário termos mais cuidado com o uso da linguagem oral. Em uma reunião, assembleia, audiência, é indispensável adequarmos a linguagem ao contexto de uso. Por sua vez, a linguagem escrita constitui uma modalidade que permite revisões durante o uso, evitando-se problemas como repetições de palavras, desvios de concordância e regência verbal, entre outros. Como ocorre com a modalidade oral, a escrita também exige adequação ao tipo de situação comunicativa. A escrita de um bilhete, para uma pessoa com quem temos proximidade, pode ser feita com um uso da língua de forma mais espontânea. Mas, em situações formais, como a produção de textos oficiais e técnicos, é necessário termos maior rigor no uso da língua, em suas diferentes facetas: escolha das palavras, organização das frases e parágrafos, observação das normas de concordância e regência etc. Isso deve ser feito para atender ao nível de formalidade da situação de comunicação, por exemplo, a produção de um ofício ou de um abaixo-assinado para envio a uma autoridade, a elaboração de um relatório para envio a uma instituição financiadora de um projeto, portanto, cada situação exige um uso diferenciado da modalidade escrita, mesmo sendo ela, normalmente, mais presa à observância das normas linguísticas e gramaticais do que a modalidade oral. Devemos, pois, ao utilizarmos as modalidades oral e escrita da linguagem verbal, considerar a situação de comunicação – formal ou informal – e, com base | 28 nisso, escolher a modalidade que se adeque aos nossos interlocutores, sejam eles pessoas ou instituições públicas ou privadas. Vejamos alguns exemplos de uso da linguagem oral e escrita. Inicialmente, vamos ler um trecho conversacional do romance O cortiço, do escritor maranhense Aluísio Azevedo. Um rapazito de paletó entrou da rua e foi perguntar à Machona pela Nhá Rita. - A Rita Baiana? Sei cá! Faz amanhã oito dias que ela arribou! A Leocádia explicou logo que a mulata estava com certeza de pândega com o Firmo. - Que Firmo? interrogou Augusta. - Aquele cabravasco que se metia às vezes ali com ela. Diz que é torneiro. - Ela mudou-se? perguntou o pequeno. - Não, disse a Machona; o quarto está fechado, mas a mulata tem coisas lá. Você o que queria? - Vinha buscar uma roupa que está com ela. - Não sei, filho, pergunta na venda ao João Romão, que talvez te possa dizer alguma coisa. - Ali? - Sim, pequeno, naquela porta, onde a preta do tabuleiro está vendendo! Ó diabo! olha que pisas a boneca de anil! Já se viu que sorte? Parece que não vê onde pisa este raio de criança! E, notando que o filho, o Agostinho, se aproximava para tomar o lugar do outro que já se ia: Sai daí, tu também, peste! Já principias na reinação de todos os dias? Vem para cá, que levas! Mas, é verdade, que fazes tu que não vais regar a horta do Comendador? - Ele disse ontem que eu agora fosse à tarde, que era melhor. - Ah! E amanhã, não te esqueças, recebe os dois mil-réis, que é fim do mês. Olha! Vai lá dentro e diz a Nenen que te entregue a roupa que veio ontem à noite. O pequeno afastou-se de carreira, e ela lhe gritou na pista: E que não ponha o refogado no fogo sem eu ter lá ido! Uma conversa cerrada travara-se no resto da fila de lavadeiras a respeito da Rita Baiana. - É doida mesmo!... censurava Augusta. Meter-se na pândega sem dar conta da roupa que lhe entregaram... Assim há de ficar sem um freguês... - Aquela não endireita mais!... Cada vez fica até mais assanhada!... Parece que tem fogo no rabo! Pode haver o serviço que houver, aparecendo pagode, vai tudo pro lado! Olha o que saiu o ano passado com a festa da Penha!... - Então agora, com este mulato, o Firmo, é uma pouca-vergonha! Est’ro dia, pois você não viu? levaram aí numa bebedeira, a dançar e cantar à viola, que nem sei o que parecia! Deus te livre! Para tudo há horas e há dias!... - Para a Rita todos os dias são dias santos! A questão é aparecer quem puxe por ela! | 29 - Ainda assim não e má criatura... Tirante o defeito da vadiagem... - Bom coração tem ela, até demais, que não guarda um vintém pro dia de amanhã. Parece que o dinheiro lhe faz comichão no corpo! - Depois é que são elas!... O João Romão já lhe não fia! O cortiço, de Aluísio Azevedo (p. 22) Como podemos observar, as palavras e expressões destacadas são comuns em situações de comunicação oral e ainda quando se tratam de contextos informais, não se adequando, portanto, a situações formais. Vejamos outro exemplo de linguagem oral, mas agora em contexto mais formal. Como observamos, há um diálogo no trecho acima, extraído da mesma obra, mas nele verificamos o uso do nível formal da língua, mesmo em se tratando de oralidade. Os locais em destaque são exemplos disso, indicando também o caráter respeitoso, conforme fica evidente no último enunciado. Por fim, vamos ler um trecho do mesmo romance, mas agora representativo da linguagem escrita: João Romão, um pouco trêmulo, abriu-a defronte dos olhos e leu-a demoradamente. Um silêncio formou-se em torno dele; os caixeiros pararam em meio do serviço, intimidados por aquela cena em que entrava a polícia. — Está aqui com efeito... disse afinal o negociante. Pensei que fosse livre... — É minha escrava, afirmou o outro. Quer entregar-ma?... — Mas imediatamente. — Onde está ela? — Deve estar lá dentro. Tenha a bondade de entrar... O cortiço, de Aluísio Azevedo (p. 161) | 30 Fica evidente, nesse trecho, o uso da linguagem escrita de modo formal, com respeito às normas linguístico-gramaticais e com presença de um rico vocabulário. Portanto, ao fazermos uso da linguagem verbal, quer seja na modalidade oral ou escrita, precisamos atentar ao contexto de uso: em uma situação informal (comunicação com quem temos afinidade), cabe um uso mais descontraído da língua; em situação formal (comunicação com quem não temos afinidade), é preciso capricharmos na escolha das palavras, organização dos enunciados etc. E sentia-se revoltado e impotente defronte daquele tranquilo obstáculo que lá estava embaixo, a dormir, fazendo-lhe em silêncio um mal horrível, perturbando-lhe estupidamente o curso da sua felicidade, retardando-lhe, talvez sem consciência, a chegada desse belo futuro conquistado à força de tamanhas privações e sacrifícios! Que ferro! Mas, só com lembrar-se da sua união com aquela brasileirinha fina e aristocrática,um largo quadro de vitórias rasgava-se defronte da desensofrida avidez da sua vaidade. Em primeiro lugar fazia-se membro de uma família tradicionalmente orgulhosa, como era dito por todos, a de Dona Estela; em segundo lugar aumentava consideravelmente os seus bens com o dote da noiva, que era rica e, em terceiro, afinal, caber-lhe-ia mais tarde tudo o que o Miranda possuía, realizando-se deste modo um velho sonho que o vendeiro afagava desde o nascimento da sua rivalidade com o vizinho. E via-se já na brilhante posição que o esperava: uma vez de dentro, associava-se logo com o sogro e iria pouco a pouco, como quem não quer a coisa, o empurrando para o lado, até empolgar-lhe o lugar e fazer de si um verdadeiro chefe da colônia portuguesa no Brasil; depois, quando o barco estivesse navegando ao largo a todo o pano — tome lá alguns pares de contos de réis e passe-me para cá o título de Visconde! O cortiço, de Aluísio Azevedo (p. 147) | 31 REFERÊNCIAS ANDRADE, Maria Margarida de.; HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa: noções básicas para cursos superiores. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010. AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Belém: NEAD/UNAMA, s/d. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00021a.pdf. Acesso em: 25 mar. 2021. BECHARA, Evanildo. Gramática fácil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. BRAGA, Rubem. Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956. BRASIL. Presidência da República. Manual de redação da Presidência da República / Gilmar Ferreira Mendes e Nestor José Forster Júnior et al. (Coord.). 3. ed. rev., atual. e ampl. Brasília: Presidência da República, 2018. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/centrodeestudos/assuntos/manual-de-redacao-da- presidencia-da-republica/manual-de-redacao.pdf. Acesso em: 22 mar. 2021. FRANCHI, Carlos (1991). “Mas o que é mesmo ‘Gramática?’”. In: LOPES, Harry Vieira et al. (orgs.). Língua portuguesa: o currículo e a compreensão da realidade. São Paulo, Secretaria da Educação/Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. GARCIA, Othon M. 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