Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS DE ÉTICA E CIDADANIA Conceitos, Objetivos e Princípios da Ética da Moral Iniciamos nossos estudos sobre ética e moral procurando entender a definição desses conceitos e a diferença entre eles. Para Cortella (2009) a ética é o princípio orientador de nossa conduta em sociedade, ela nos permite distinguir e definir nossas ações e pensamentos em relação a diferentes experiências no mundo social. A ética está em nosso dia a dia. Em qualquer situação ou acontecimento vemos várias inferências dos moralistas a solicitar necessidade de afirmação ética. Realmente há um desgaste em falar de ética em tempos atuais, mas ainda é muito necessário entender o conceito e valorizar sua aplicação. Pode-se ousar dizer que é impossível avançar no conceito de ética sem abordar o conceito de valores. O que são valores então? Desde quando nascemos somos ensinados sobre o que é certo e errado, a partir daí vamos direcionando nosso olhar e também disseminando valores impostos pela sociedade. Se considerarmos que o valor moral é uma necessidade para a sobrevivência em sociedade, estaremos começando a entender mais sobre ética, moral e vida social, no sentido relacional – ou seja, de interação de uns com os outros. Figura 1: Ética e vida coletiva Por isso, Cortella (2009) afirma que a ética é compreendida no bojo dos estudos da filosofia e tem relação com a construção da moralidade, pois a partir dessa relação nasce a ideia de um “exercício de condutas.” Isto significando, para o autor, que a partir da concepção ética espera-se de um indivíduo que ele aja de uma forma previsível em uma determinada situação, pois entende-se que incorporou as regras morais para compor seu comportamento social. Com esta definição podemos inferir que a ética é a vida pensada, isto é, uma proposta de ação a partir do que a moral estabelece. Nesse sentido, precisamos compreender que a ética está no centro da construção de relações sociais harmônicas e benéficas para a preservação do todo social, isso pois ela aponta a ideia de uma ação que leva em conta o outro e que se fundamenta na forte presença dos valores morais. ÉTICA: define-se como um modo de agir a partir de uma norma moral incorporada, refere-se à uma orientação de vida que deve, supostamente, levar em consideração a preservação positiva da vida em sociedade. Ainda explorando o conceito de ética como parte da Filosofia, a qual fundamentalmente implica em entendimento do comportamento moral, vejamos de forma ágil como os clássicos filósofos consideravam este conceito. Nos estudos de Chauí (2010) encontramos que, para os sofistas, a ética era relativista pois em suas concepções não haviam normas universais de definição para a vida social. Sócrates, tanto quanto Kant, buscava o entendimento da ética a partir da compreensão da alma humana, pois acreditava que nela residiria fundamentos da moral. Já nos ideais de Platão, vemos a separação entre corpo e alma, para ele o corpo sujeito a paixões poderia desviar-se do bem, por isso o homem só conseguiria desenvolver a ética para o bem comum na Pólis. Ainda em Chauí (2010) vemos que, para os estóicos, a ética constituía uma ideia de autocontrole que levava à uma aceitação da realidade, uma clara noção de destino traçado sob a égide de uma razão universal, o que levava à imperturbabilidade da alma. Por outro lado, os epicuristas ao falarem de ética e imperturbabilidade da alma mostravam que esta era uma finalidade da mesma. Entretanto, estes adotavam quatro princípios para entendimento da ética: o primeiro era que o homem não devia temer aos deuses; o segundo indicava que o homem não devia temer a morte; o terceiro apontava que a felicidade era possível de ser alcançada; e finalmente, o quarto princípio dizia que qualquer dor pode ser suportada. Com estas ideias estes filósofos pretendiam afirmar que a ética enquanto bem fundamental é a defesa do prazer, não o prazer sexual, sobretudo o prazer relacionado ao sentimento de amizade. Em Aristóteles veremos, mais adiante, que a ética está relacionada a busca pela felicidade, que deve ser encontrada no bem comum e na ação do homem na Pólis. Figura 2: Reflexão sobre Ética Falamos muito sobre o conceito de ética e não podemos deixar de nos aprofundar sobre o conceito de moral. Portanto, o que é a moral? Podemos inferir que a moral é um conjunto de regras, normas de uma sociedade ou localidade, tornandose relevante pela proporção do desrespeito das pessoas as leis. A moral funciona como um conjunto de condutas que devem direcionar as diferentes formas de agir dos indivíduos. MORAL - o conjunto de condutas e normas que os indivíduos costumam aceitar como válidas. Essas regras são adquiridas na educação, através da cultura e das tradições dos diferentes grupos sociais. Cada grupo tem suas regras e concepções morais. Para Chauí Kant (1921), que foi quem mais discutiu a ética formal, a moral do comportamento reside na vontade e nos motivos do agente considerado. É importante entender que aquilo que não é moral, pode ser: IMORAL: com conotação de tudo aquilo que se opõe a moral, por exemplo, o questionamento da atuação dos políticos no Brasil. AMORAL: um homem que se comporta de forma independente dos juízos sobre o bem e o mal, ele não considera qualquer parâmetro de moral para sua conduta. Figura 3: Regras morais para o erro ou acerto social A ética e a moral andam de mãos dadas, mas são essencialmente conceitos diferentes. É preciso saber que a ética é importante porque revela o respeito aos outros e a dignidade humana. Todos nós temos ética, só temos que desenvolver e acreditar no bem, a ética orienta-nos e ajuda-nos para que tenhamos uma vida boa. Observe o quadro abaixo sobre as diferenças entre esses conceitos: ÉTICA MORAL Princípio teórico-reflexivo Regras de conduta específica Ética é temporal Moral é temporária Ética é universal Moral é cultural Tabela 1: Ética e Moral: apontamentos diferenciais Assim, a ética pode ser entendida como um parâmetro, a lei do que seja ato moral, o controle de aplicação da moral. Ou seja, são os códigos de ética que devem ser exercidos para os diferentes conjuntos de grupos dentro do sistema social mais abrangente. Já a moral, por sua vez, de acordo com Kant em Chauí (2010) “é tudo aquilo que precisa ser feito, independentemente das vantagens ou prejuízos que possa trazer”. Se praticarmos um ato moral, podemos até sofrer consequências negativas, já que o que é moral para uns pode ser amoral ou imoral para outros. Figura 4: Diferenças entre Ética e Moral Você deve ter aprendido que ética e moral são conceitos complementares, porém, diferentes em sua essência. Procuramos marcar que ética é a reflexão e teoria da internalização dos valores morais, que são específicos para cada grupo ou sociedade. Cada grupo social possui suas normas e orientações de conduta. Ao escolhermos orientar nossa ação pensando na preservação positiva da interação social e no bem do outro, estamos atuando de forma ética. Nem sempre, durante a história, a ideia de ética foi pensada de forma ao conceito que hoje devemos adotar. A ética nos faz discernir entre certo e errado, mas com foco na organização e preservação do social, da manutenção do bem estar alheio. CONCEITO DE CIDADANIA Pensar em um conceito de cidadania nos remete a um sentimento de pertencimento a um Estado, uma nação ou um Estado-nação. Devemos entender que este conceito vem a ser um grande ponto de referência para extrairmos a compreensão de direitos, obrigações e deveres de cada indivíduo mediante o todo social que, a partir de uma representação política, pode direcionar ou não os interesses de um grupo de indivíduos em um sistema político. Estes indivíduos podem, ou não, constituíremse como cidadãos. O que é ser cidadão? O que podemos entender sobre cidadania? Para Carvalho (2002),o conceito de cidadania foi relacionado a um costume de desdobrar a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. Nesse olhar, segundo o autor, o cidadão pleno seria aquele que possuísse dos três direitos. Mas ainda teríamos os cidadãos incompletos, cujos direitos se resumiriam em alguns poucos, já aqueles que não tivessem direitos seriam considerados não-cidadãos. Para ele, ao resumir o conceito de cidadania a posse e gozo de direitos civis, políticos e sociais, também é preciso compreender o que significa cada um desses direitos. Nesse sentido, de acordo com o autor, vemos que: Direito civil: aquele que garante o ir e vir e também o agrupamento em movimentos, como sindicatos, a realização de greve etc; possuir seus próprios bens (propriedade privada); livre organização religiosa ou mesmo ideológica. Direito político: realiza-se no ato de votar e ser votado, na participação da vida política do país. O indivíduo pode ser candidato à representação e também pode escolher quem quer que o represente. Direito social: refere-se à ações governamentais e da sociedade civil organizada em prover serviços ao cidadão, como: saúde, educação e políticas sociais. Figura 5: Cidadania e relação com os direitos Marshall (2002), ao desenvolver a discussão sobre o conceito de cidadania, mostra que essa foi construída na Inglaterra antes da Revolução Industrial, em contexto de necessidade de afirmação de direitos, uma vez que o reconhecimento de direitos aos nobres, posteriormente aos burgueses e até à classe trabalhadora, mostrou-se como uma tarefa primordial à organização das relações de produção, que se consolidariam mais tarde na sociedade Moderna. Para o autor, a evolução da cidadania só se concretiza com a conquista de direitos ao longo da história. A cidadania é pensada por ele considerando aspectos civis, políticos e sociais. Então, se buscarmos a origem histórica do conceito, compreenderemos que sua origem como palavra vem do latim “civitas”, que significa cidade. Esta palavra, cidadania, era comumente utilizada no contexto da Roma antiga para identificar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa poderia usufruir. Com esse histórico de debates e conceitos, vemos que a ideia de cidadania não é algo estável, definido ou adquirido sem um entendimento de ação. Com isso, destaca-se que não é a conquista de um direito que significa que ele vá de fato ser efetivado. A cidadania é um exercício de saber e agir que é preciso ser incluído e desejar participar da construção de novas relações e consciências de efetivação de direitos. É muito comum acharmos que a ideia de cidadania pode ser resolvida apenas com a efetivação de direitos para cada indivíduo ou grupo social? Pois é, seria necessário destacar que a cidadania envolve uma compreensão dos deveres de cada um para com a sua cidade, estado ou localidade onde habita. Ter deveres é assumir que há uma relação de troca recíproca entre receber, obter ou conquistar direitos e praticar a realização de deveres. Exercitar o cumprimento de um papel social que possui tarefas para continuamente fortalecer e ressignificar a vida social. Tabela 2: Direitos e deveres do cidadão brasileiro Com toda a discussão apresentada, é possível lembrar de uma obra de Dimenstein (1994), “O Cidadão de Papel”, que aborda o fato de que no Brasil a cidadania está no papel, mas não existe de verdade. Isso é perceptível uma vez que o autor destaca a violência social e a juventude dos anos 90, a ausência de projetos de educação, informação e a pobreza. De lá pra cá muitas situações se atualizaram, mas de todo modo esta obra nos faz refletir o quanto ainda temos por conquistar com atitudes verdadeiramente de participação e reclamação de nossos direitos. Vale a pena conhecer mais esse debate. Figura 7: Obra O Cidadão de Papel CIDADANIA: refere-se a um conjunto de ações com caráter de reivindicação que se volta para o interesse coletivo. É em seu exercício que se aprimoram práticas de convivência melhores e tratam a qualidade de vida dos habitantes da cidade. É um conceito diretamente ligado a uma ideia de aprendizagem social, que busca a culminância do atendimento de direitos e a compreensão de compromisso e deveres a cumprir. Saber que a possibilidades de debate para a compreensão do conceito de cidadania e como podemos alcançá-lo é um privilégio, vamos ler mais um pouco? ACESSE É muito importante entender também a relação entre o conceito de cidadania e a educação. Pois com o processo educativo desenvolvem-se valores e consciência da preocupação com o outro, além da questão da responsabilidade para com a vida social. Nesse sentido, no Brasil e na América Latina, a partir das décadas de 80 e 90, a discussão sobre cidadania, direitos humanos e democracia ganha muito destaque, sobretudo nos exercícios da educação formal e informal. Dessa forma, foram criados documentos formais para orientar a educação para a formação da cidadania. Exemplos claros dessas iniciativas encontram-se nos documentos listados abaixo: Constituição de 1988; Lei de Diretrizes e Bases-LDB - 1996; Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA 1990; Programa Nacional de Direitos Humanos 1996; Propostas de Políticas Educacionais. É notável que existem sentimentos e valores educacionais que podem ser desenvolvidos e aprendidos, na família ou na escola, na educação formal ou informal, e que podem colaborar para o despertar da cidadania. São eles: cooperação, perdão, respeito, sinceridade, diálogo, solidariedade, combate à violência, bondade. A princípio podem parecer valores presentes em nossa humanidade, mas de fato o são, e quando bem trabalhados podem otimizar responsabilidades e aptidões para o fortalecimento de relações sociais pautadas na garantia recíproca de efetivação de direitos e deveres. Veja como a LDB 9394/96 direciona suas diretrizes para uma educação voltada à formação de um sujeito cidadão no link: https://bit.ly/2sH4L3R. Em seguida, assista ao vídeo sobre educação e formação do cidadão no link Sacristan (2000) infere que a distância entre os direitos no papel e a efetiva cidadania só é possível quando os envolvidos tomam para si a atitude de fomentar ideias práticas. Almeida e Soares (2010) apontam que a ligação entre vida individual e comunitária só ocorre quando há um reconhecimento mútuo da relevância recíproca entre os dois. Este, para os autores, é o verdadeiro sentido da cidadania, sem exclusões sociais. Sobre a relação cidadania e educação, Freire (2011) orienta que o homem deve ser o sujeito da sua ação, criando e transformando o mundo. Em seu olhar, a escola deve funcionar como um espaço que tende a oferecer ao indivíduo exercício da cidadania e possibilidade de redefinição da realidade. Figura 8: Escola e Cidadania Saiba mais sobre Cidadania no contexto escolar no link a seguir https://bit.ly/2sH4L3R Você deve ter aprendido que é muito importante compreender que cidadania é um conceito que articula nossos direitos e deveres. Também, que o exercício da mesma torna a coletividade ativa e integrada para uma harmonia social. A cidadania destaca a liberdade e a convivência comunitária muito mais do que qualquer questão de relações de poder ou governo constituído. Ser cidadão é participar de forma ativa da realidade social em que se está inserido, protagonizando a busca de qualidade de vida para seus membros, pela via da efetivação de direitos. No entanto, não devemos esquecer que também possuímos deveres com a nossa comunidade. Por fim, vimos o importante papel que a educação ocupa na formação do cidadão. Através da educação formal e informal é possível transmitir os valores da formação à cidadania, oferecendo liberdade e autonomia para os indivíduos atuarem na sociedade de forma digna. A ÉTICA SOCIAL E A POLÍTICA Iniciamos nossos estudos sobre a ética ea política considerando o pensamento de Arendt (2003) que nos mostra que política é ação e, portanto, nenhuma questão política pode, segundo ela, estar submetida a subjetividade. Na visão desta autora, o entendimento da ideia de práxis é a mola mestra para a compreensão de seu conceito de ética, que muito está relacionado com o que já vimos aqui. Para ela, ética envolve-se com o cuidado com o mundo, com o espaço das relações humanas e também com o local que permite a vida e a singularidade humana. Arendt (2003) preocupa-se não com a subjetividade do homem, mas sim com os homens em pluralidade. Assim, percebemos que o conceito de ética social está direcionado para este olhar. Arendt (2003) nos aponta que as atividades humanas são o resultado da produção desenvolvida no mundo da vida ativa, é no mundo (na práxis) que o homem transita e desenvolve atividades que ele condiciona sua existência. O cuidado com o mundo é, por conseguinte, o cuidado com a singularidade humana, para a autora. Permanecendo neste raciocínio, colabora para que nosso conhecimento sobre a questão política, pois ela define que a política não deve se submeter as questões morais. Ela se contrapõe ao pensamento de Maquiavel ao afirmar que a política não deve ser guiada para atingir meios e fins. Como sabemos, Maquiavel, clássico da política, aponta que os fins justificam os meios. Já Arendt (2003) acredita que se a praticidade é o agir, então a forma instrumentalizada que o autor traz de calcular formas para atingir objetivos em política acabam por se configuram em pré-ação e teoria para controlar a ação. Segundo ela, a política não deve seguir qualquer natureza ou espírito, mas sim ter o compromisso com o “espírito correto”, algo que se define em si mesmo, sem qualquer teleologia ou previsibilidade. A ação política informa a distinção articular de cada homem. Ainda seguindo seu pensamento, a ética é a pluralidade humana constitutiva do mundo, o que faz a ideia de uma ética social ser mais forte e presente para que as relações humanas se processem de forma operativa. Visto dessa forma, Arendt (2003) mostra que a ética varia de acordo com o espaço político. O agir é livre de qualquer determinação. A discussão que trouxemos até aqui serve para evidenciar que a experiência coletiva das pessoas e sua respectiva construção cultural têm em si mesmas um valor significativo para a compreensão do conceito de ética social. Isso pois ao abordarmos tal conceito estamos na verdade, no campo de pensar o que pode ou não ser aceitável socialmente, isso se deve ao próprio princípio que o conceito traz consigo: a ideia de que os membros de uma comunidade precisam de cuidados de forma homogênea. ÉTICA SOCIAL: conjunto de regras e diretrizes que balizam escolhas e comportamentos de uma sociedade que resolveu adotar aqueles padrões de conduta. Ela funciona como um roteiro, um código de conduta. Não há necessidade de dizer o que se deve ou não seguir, apenas fundamentalmente seguir. A Ética Social apresenta princípios que precisamos conhecer: a dignidade da pessoa, o direito de propriedade, a primazia do trabalho, a primazia do bem comum, a solidariedade e subsidiariedade. Sá (2010) desenvolve a ideia de que existem hábitos dignos de louvor, isto é, existe uma conduta virtuosa padrão que serve de referência quando pensamos no respeito a todos os seres humanos. O autor busca em Aristóteles a lógica da virtude. Para ele, se um homem adota uma conduta virtuosa em um local onde não há a prática comum desta conduta, então este seria um homem virtuoso. Em Aristóteles (1997) vemos também uma iniciativa em considerar que o verdadeiro sentido da ética é voltar-se para a comunidade na amplitude da mesma e no exercício da cidadania, objetivando a formação e organização da consciência política humana. Para ele, “o homem é um animal político”. Figura 9: A Obra de Aristóteles Dessa forma, é possível traçar imediatamente uma relação entre a ética social e a política. A política é o campo da busca do bem comum, conforme Aristóteles demarca em seus estudos. Nesse sentido vale a ideia de que ética e política devem caminhar lado a lado, uma vez que ambos os conceitos apresentam um viés corporativo, aquele que conduz ao bem-estar da comunidade, do coletivo, do social. Dissecando sobre a palavra política, observamos que ela é originária do grego pólis (politikós) e seu significado diz respeito ao urbano, ao civil, ao que é da cidade (da pólis). Weffort (1987) mostra que os clássicos da política podem nos guiar muito mais sobre o conceito de política que consideramos fundamental para sustentar a relação ética e política, já iniciada acima. Segundo o autor, para Thomas Hobbes a humanidade vivia em estado de anarquia e ao criar a sociedade, através do pacto social, criou conjuntamente a chamada sociedade política. Segundo ele, os homens mediante seu estado de guerra abriram mão de suas decisões e escolhas mais individuais para constituírem o estado, soberano, que não permitiria a volta ao estado de natureza. Tal movimento fez com que a representação política desses homens fosse delegada ao soberano, que deveria garantir o grupo ao exercer seu poder em favor do bem comum. O autor também revela que em John Locke vemos que o estado de natureza não teria significado caos, mas ordem e razão. Segundo ele, o Estado surgiu para assegurar a lei natural, bem como para manter a harmonia entre os homens. Locke não destaca que houve uma cessão dos direitos naturais ao Estado, pelo contrário, acredita que a soberania é um valor e que deve ser exercido pela maioria, assim como o respeito aos direitos à vida, à liberdade, à propriedade. Weffort (1987) apresenta, ainda, a teoria de Jean Jacques Rousseau, que parte do princípio de que houve um estado de natureza que não se constituía no caos de Hobbes e nem no mundo ordeiro e racional, como assegurava John Locke. Os homens viviam em caráter de desigualdades, mas eram livres e felizes. A sociedade política surge, então, como um mal necessário para manter a ordem e evitar o retorno das desigualdades. Assim, na criação do Estado a partir do contrato social, o indivíduo cedeu parte de seus direitos naturais para a criação de uma entidade detentora de uma vontade geral, portanto, a soberania do Estado é a incorporação da vontade geral de todos. Os Clássicos da Política, John Locke, Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau integram os teóricos que discutem a criação do Estado a partir de um pacto social, fomentado pelos homens. Para saber mais sobre tais teorias, leia: WEFFORT, Francisco. Os clássicos da política. SÃO PAULO: EDITORA ÁTICA, 1989. A questão é que todos esses pensadores falam de política como um lugar de representação de todos e essa possibilidade de ação está diretamente vinculada à concepção de ética social. Isso pois, quando se analisa a criação do contrato social, a organização da sociedade política e a soberania da vontade geral, deve-se considerar o princípio de comando político com referência da orientação ética, do governar para o outro. Semelhante a como pensamos, a questão da ética social nas Empresas na atualidade, vemos que na sociedade empresarial existem comportamentos de valorização e dimensionamento da preservação ambiental. Ideias e projetos ecológicos que, inclusive, fundem-se com perspectivas de responsabilidade social, muitos líderes corporativos precisam, por normas éticas, doar uma porcentagem dos lucros anuais para instituições de caridade. Essa pode ser uma ação que está diretamente vinculada com a real necessidade de ajuste para condutas que são aceitas, valorizadas e instituídas socialmente. Temos muitos padrões que fortalecem a ética social e que incluem-se nos valores familiares, nas crenças religiosas, na moralidade e na integridade. Figura 10: Problemas para a Ética Social ECONOMIA → IMIGRAÇÃO → POBREZA → FOME → CLONAGEM HUMANA Os desafios para a éticasocial, aliada a representação política, são desafios do mundo atual. Com base neles, é preciso rever práticas e condutas de gestão de comunidades, recursos e da própria concepção de coletividade e bem comum. Para saber mais assista os vídeos a seguir: Provocações sobre ética, com Leandro Karnal Entendeu um pouco da relação entre ética social e política? Neste capítulo procuramos demonstrar como os conceitos de ética social e política devem estar associados para a prática do bem comum. Pois reforçamos que a ética consiste em uma regra usada para focar na construção do relacionamento com os outros. O sentido e conceito de ética social foi desenvolvido como um verdadeiro código de conduta que é aceito e praticado pelos membros de um grupo social. Falamos dos clássicos da política, Hobbes, Locke, Rousseau com o intuito de mostrar que em meio ao caos social os homens criam a ordem, delegam sua concepção de representação ao estado, acreditando que este pode gerir suas vontades comuns. Cada uma com sua teoria, mas no bojo conceitual, o principal é entender que a política deveria conduzir a sociedade pela lente da ética, já que em sua originalidade conceitual, elas podem voltar-se para o bem comum. A ÉTICA E A MORAL NA COMTEMPORANEIDADE Chegamos até uma reflexão que será muito importante para o olhar sobre diferentes situações nos tempos atuais que vivemos. Devemos abordar a relação ética e moral na sociedade contemporânea para que possamos entender mais sobre diferentes posicionamentos em diferentes culturas e grupos sociais. Vimos no tópico anterior que existem desafios impostos a nossa análise da ética social, vinculada à política, mas a partir de agora precisamos pensar na generalidade da concepção de ética e moral já aprendidas para o entendimento de tais desafios. Vamos iniciar escolhendo um dos grandes desafios da humanidade, cuja a dimensão nos entristece: a fome mundial. A fome é uma questão social. Mas observe que podemos eleger a relação que os países de primeiro mundo tem em relação ao trato da questão. Você poderá entender melhor acionando os conceitos de ética e moral para pensar sobre as reportagens abaixo. Primeira reportagem Fome extrema atinge mais de 113 milhões no mundo África é o continente mais afetado Influenciado por conflitos armados DEUTSCHE WELLE 02.abr.2019 (terça-feira) - 18h32 atualizado: 03.abr.2019 (quarta-feira) - 7h12 Mais de 113 milhões de pessoas em 53 países sofreram “insegurança alimentar aguda” em 2018, afirma um relatório global da ONU sobre a crise alimentar divulgado nesta terçafeira (02/04). O relatório apresentado pela União Europeia (UE), Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM), entre outras organizações, destaca que o problema afeta principalmente o continente africano. Os países que atravessaram as mais graves crises alimentares são: Iêmen, República Democrática do Congo, Afeganistão, Etiópia, Síria, Sudão, Sudão do Sul e o norte da Nigéria. Dominique Burgeon, chefe de emergências da FAO, afirmou que os países africanos são atingidos de forma “desproporcional” pela fome aguda, com quase 72 milhões de pessoas afetadas. Segundo o documento, nos últimos três anos, cerca de 50 países vivem dificuldades cada vez maiores para alimentar a suas populações. A principal causa da insegurança alimentar em todo o mundo foram as guerras. Cerca de 74 milhões de pessoas, ou seja, dois terços da população que enfrenta a fome aguda, estavam em 21 países ou territórios localizados em zonas de conflito, assim como já havia ocorrido em 2017. “Nesses países, até 80% das populações afetadas dependem da agricultura”, afirmou Burgeon. “Estas pessoas precisam receber assistência humanitária de emergência para poder se alimentar e condições para impulsionar a agricultura.” Em 2018, o número total de pessoas que sofreram fome aguda apresentou leve redução em comparação a 2017 (124 milhões). Isso pode ter ocorrido em razão de alguns países estarem menos expostos a riscos climáticos violentos, como secas, inundações ou chuvas. “Este recuo no valor absoluto é um epifenômeno”, minimizou Burgeon. A redução ocorreu “devido à ausência do fenômeno climático ‘El Nino’, que afetou muito as culturas na África Austral e no Sudeste Asiático em 2017”. “Por causa dos violentos ciclones e tempestades em Moçambique e no Malawi este ano, já sabemos que esses países estarão no relatório do ano que vem”, observou. José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO, avalia que, apesar da ligeira queda em 2018 no número de pessoas com insegurança alimentar aguda, a forma mais extrema de fome, “o número ainda é alto demais”. Ele diz que é preciso investimentos de grande porte no desenvolvimento, ajuda humanitária e na construção da paz “para construir a resiliência das populações afetadas e pessoas vulneráveis”, acrescentando que “para salvar vidas, também temos que salvar os meios de subsistência”. O diretor-executivo do PAM, David Beasley, observou que para erradicar a fome é necessário atacar suas causas fundamentais. “Conflitos, instabilidade, impacto dos choques climáticos. Rapazes e moças precisam ser bem nutridos e educados, as mulheres precisam ser verdadeiramente fortalecidas, a infraestrutura rural deve ser fortalecida para conseguirmos esse objetivo de fome zero”, destacou. O relatório pede o fortalecimento da cooperação entre a prevenção, preparação e reação no atendimento às necessidades humanitárias urgentes e às causas profundas, que incluem as mudanças climáticas, choques econômicos, conflitos e deslocamentos. RC/afp/lusa/dpa Fonte: . Acesso em 25 de abril de 2019. Segunda reportagem Uma brasileira está entre os bilionários que doaram grandes somas para a reconstrução da Catedral de Notre-Dame, de Paris, atingida por um grande incêndio na segunda-feira (15). Lily Safra, 81 anos, viúva do banqueiro Edmond Safra, enviou para a campanha de reconstrução um cheque de 20 milhões de euros - cerca de R$ 88 milhões. Segundo o Glamurama, ela tem fortuna estimada em 1,3 bilhão de dólares (R$ 5,1 bilhões). A bilionária atualmente se divide entre casas que tem na Europa - vive entre Mônaco, Londres, Nova York e a própria Paris. Ela já recebeu uma Légion d’Honneur, uma medalha de honra dada para pessoas que contribuíram com a França. Uma sala no Museu do Louvre, a Galeria Edmond et Lily Safre, é batizada em homenagem a ela e ao falecido marido. O ambiente é todo decorado com mobiliário do século 18 doado pelo casal. Um livro da jornalista canadense Isabel Vincent chama a bilionária de “Lily Dourada”, nome da biografia. A escritora, que era na ocasião repórter do New York Post, passou cerca de um ano no Brasil entrevistando pessoas sobre o casal. A publicação traz detalhes sobre o suicídio do segundo marido de Lily, o empresário Alfredo Monteverde. No almoço antes da morte, Lily e o marido discutiram detalhes do divórcio. Quando ela saiu, ele tirou a própria vida. O pai de Lily era um inglês do ramo de ferrovias que chegou ao Brasil no início do século XX. Ela nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul. Seu primeiro marido, o argentino Mario Cohen, era um milionário fabricante de meias de náilon. O casal viveu no Brasil, Argentina e Uruguai e teve três filhos - o mais novo, Claudio, morreu em 1986 em um acidente de carro. A relação com Monteverde veio depois - ela se divorciou para ir morar no Rio com a nova paixão, que era empresário e foi fundador da rede Ponto Frio. Monteverde tirou a própria vida em 1969. Eles tiveram dois filhos. Depois, Lily se mudou para o Reino Unido, onde morou por 10 anos. Ela chegou a casar em 1972 com um inglês, mas o casamento foi posteriormente anulado. Então conheceu Safra, na época o brasileiro mais rico do mundo. Os dois se aproximaram durante uma disputa em um leilão, segundo a revista Joyce Pascowitch. Edmond, já quarentão, ganhou e comprou a escultura, maspresenteou Lily com a obra. Libanês naturalizado brasileiro, era um homem muito discreto. Viveram muitos anos em Nova York, em uma cobertura repleta de pinturas e esculturas - arte era uma paixão de ambos. O casamento durou 23 anos, até que em 1999 Safra morreu. Em Mônaco, onde passavam temporadas, Edmond Safra foi vítima de um incêndio. Seu corpo foi achado na banheira de uma suíte, próximo ao de sua enfermeira. O julgamento sobre o caso considerou culpado pelo incêndio um de seus enfermeiros, Ted Mahrer, que teria ateado fogo a uma lixeira para salvar o patrão, como herói, depois. Trancado no banheiro por seis horas, o empresário morreu asfixiado pela fumaça. Safra lutou nos últimos anos de vida contra o Mal de Parkinson e tinha acompanhamento especializado em casa. Em 1998, ao revelar que sofria a doença, ele fez doação de 50 milhões de dólares a uma instituição de pesquisa sobre o tema. Desde a morte do marido, Lily passou a se desfazer de parte dos bens e se envolver mais com ações filantrópicas, com a Fundação Edmond J. Safra. Em 2004, ela doou 10 milhões de dólares à Universidade Harvard e o mesmo valor para uma entidade criada pelo ator Michael J. Fox para pesquisar a origem do Mal de Parkinson. Em 2005, colocou à venda 800 peças de sua coleção particular de arte pela casa de leilão Sotheby’s. “Minha vida e meus interesses mudaram, e já não tenho tempo nem escala nas casas para apreciar a coleção como fazíamos antes. Tive então que tomar uma decisão difícil: é hora de transferir aos outros o prazer de possuir estes tesouros”. Arrecadação A campanha para reformar Notre-Dame arrecadou até agora quase 1 bilhão de euros. Entre os doadores famosos está François-Henri Pinault, marido da atriz Salma Hayek, do grupo Kering, que afirmou que vai contribuir com 100 milhões de euros. O grupo LVMH, da bilionária família Arnault, também doou € 200 milhões (R$860 milhões). A empresa francesa de cosméticos, L’Oréal, dará 200 milhões de euros, um valor agregado aos 200 milhões doados pelo grupo LVMH e aos 100 milhões prometidos respectivamente pela família Pinault e pela petrolífera Total. O presidente francês Emmanuel Macron disse que a França iria contar com ajuda de “talentos” para reconstruir a torre mais alta da construção, que ficou destruída. Ela afirmou que em 5 anos o local estará totalmente renovado e “ainda mais bonito”.... Fonte. Acesso em 25 de abril de 2019. Vejamos possíveis análises para a questão da fome. Sob a ética do bem comum, quando comparamos as duas reportagens, logo nos vêm uma ideia de que a bilionária que doou milhões para a reconstrução da Catedral de Notre Dame, na França, não está apresentando uma preocupação ética em relação aos números da fome africana, apresentada na segunda reportagem. Esse tipo de reflexão, na verdade, é importantíssimo para nossa compreensão sobre ética e moral. Pois vemos que devido a bilionária ter tanto dinheiro e pensar na reconstrução de um patrimônio histórico da humanidade, a Catedral de Notre Dame, poderíamos compreender que para sua moral (a moral que a formou e a cultura que pertence) há um sentido de nobreza em tal atitude. No entanto, podemos conceber como imoral a atitude dela em relação a não se disponibilizar para doar qualquer dinheiro para o combate à fome na África. Esta é só uma forma de debatermos questões contemporâneas com o olhar da ética e da moral. Semelhante à esta reflexão, vemos também a situação da violência que invade as Escolas no mundo inteiro. Há diversos casos de jovens e adultos que cometeram atentados sem qualquer melindre, fazendo alunos e alunas inocentes vítimas fatais de suas ações. De forma que nos colocamos perplexos, sem palavras, transtornados e tristes diante destas notícias. Figura 11: Violência nas escolas Tal fenômeno suscita nossas reflexões sobre a moralidade do contexto em que ocorre, sobre nossas crenças éticas e sobre se é possível explicar tais atitudes por uma suposta situação de violência, que o assassino tenha sofrido na infância ou uma situação de bullying, por exemplo. Isto serviria para explicar que as Escolas precisam estar atentas na formação de seus alunos, fortalecendo valores morais de bem comum, de promoção pessoal de cada aluno. O importante em todas essas ideias e reflexões é compreender a relatividade das situações, além da profundidade e contextualização dos conceitos de ética e moral. Com isso, não estamos aqui a defender assassinos, indivíduos negligentes com a questão social, estamos mostrando que matar não é ético, mas a qual moral pertence aquele que o pratica. Dessa forma, consideramos que na atualidade, com as situações desafiadoras trazidas pela era da globalização, a crise das representações políticas, a recessão econômica, a individualização, a tendência ao xenofobismo, o avanço das tecnologias digitais e os estudos das possibilidades de mutações genéticas, vemos a grande importância da educação para a formação da moralidade nos indivíduos. Bencostta (2007) afirma que as instituições educacionais são fundamentais para o aprendizado de conhecimentos específicos na formação de indivíduos autônomos capazes de interagir com as diferentes situações que podem vivenciar no mundo contemporâneo. Vázquez (2003) nos lembra bem que a função social da moral deve ser a de regulamentação das relações entre os homens para contribuir na manutenção e garantia da sociedade. Também Leite (2014) relembra que a ética é uma prática diretamente relacionada à ação humana. Bencostta (2017) fala do trabalho de Svitras (2017) que reforça que a atividade em sala deve ser capaz de desenvolver habilidades e competências que colaborem, definam soluções para dilemas sociais. É na escola que se pode criar um ambiente ideal para prática e aprendizado da ética e a formação do caráter, é possível falar de respeito, justiça, solidariedade e moral. O autor relaciona propostas de trabalho para que isso aconteça na Escola: Trabalhar conceitualmente - definir o conceito de ética e promover o debate criativo. Aceitar e mediar as opiniões das turmas. Construir uma atividade relacional - fornecer desafio para que os alunos e alunas convivam com a diferença. - Incentivar a tomada de decisões - Levar alunos e alunas a pensar nas situações concretas e como seria decidir pelo certo ou errado naquela situação. Como exemplo, desde contar uma mentira para sair mais cedo da escola até mesmo pensar a corrupção na política. Jogar com situações limítrofes – apresentar situações em que o aluno é levado a pensar como se um familiar ou amigo estivesse na situação de risco, por exemplo. Criação de regras com a turma - essa situação leva a debates quanto ao que os alunos querem para suas rotinas em termos de normas de conduta e o que realmente fazem, uma reflexão de pensamento e ação. Pensando sobre situações do contexto contemporâneo, vimos que a ética está sempre ligada a nossa formação moral. Ética e moral são conceitos que devem ser trabalhados na educação formal, na escola. Não se pode prescindir de considerar que na crise de valores os indivíduos deixem de agir desconsiderando a moral e a ética vigentes. A ÉTICA NO MUNDO DO TRABALHO A ética e a sociedade globalizada Bauman (1999) nos apresenta a ideia de que a globalização é um processo do qual não conseguimos fugir, ela está em toda parte, seja financeira ou culturalmente, invadindo nossas vidas e intensificando as trocas comerciais, culturais, sociais e políticas. Todo esse movimento, para o autor, gera mudanças nos costumes, tradições e valores. Ele aponta que a globalização tem o mérito de aproximar e distanciar culturas e mundos diferentes. Essa dinâmica, em seu olhar, pode gerar exclusões e/ou segregações de indivíduos e grupos. Segundo ele, não há fixidez para os centros de produção de significado e valor, pois estes são extraterritoriais e emancipados de restrições locais. É a condição humana que dá sentidoa esses valores. Complementando esta visão, vemos em Forrester (1997) que a evolução tecnológica e a globalização trazem além da crise de emprego, uma profunda redefinição da humanidade civilizada, revelando um mundo em que uma minoria de indivíduos passa a ter valor na vida social e produtiva. Os desempregados são os excluídos e o capitalista não se preocupa com mais nada além do lucro, o que agrava a questão dos problemas sociais. Essa introdução marca bem o cenário da globalização que vivenciamos nos dias atuais. A globalização como processo dinâmico não se manifesta igualmente em todos os lugares, observe as características deste fenômeno: Homogeneização de centros urbanos e hibridização cultural: tendência a considerar países e comunidades como uma aldeia global. Tendência a padronizar gostos e preferências culturais. Por isso, a globalização é também conhecida como mundialização. Diferentes movimentos de aculturação e transculturação, gerando hibridização, apontando novas culturas que surgem pelo profundo e intenso contato que os países iniciam e investem. Amplitude de corporações para regiões fora de seus núcleos geopolíticos: as trocas comerciais se intensificam e, por conta disso, as corporações passam a ter sedes, matrizes e pontos de negócios em várias localidades em nível mundial. “Boom” da tecnologia nas comunicações e na eletrônica: a chegada da internet torna mais fácil comunicar-se, além de facilitar a geração de informações e dados sobre diferentes campos da vida e da Ciência. O advento das redes sócias. Redefinição geopolítica do mundo em blocos comerciais: o mundo passa a ser considerado a partir das alianças comerciais e financeiras que os países conseguem formar. Figura 2: Hibridização cultural HIBRIDIZAÇÃO CULTURAL: processo de troca entre culturas em contato, que gera uma cultura “nova” em um grupo, diferente dos valores, hábitos e tradições que antes definiam as culturas que entraram em contato. Como se uma cultura em contato com a outra gerasse influência para mudanças. Forte presença de aculturação e transculturação. Podemos nos perguntar que tipos de problemas éticos surgem com todas essas transformações. Logo, identificaremos uma sucessão deles. Enfim, a ética no de globalização nunca esteve tão suscitada, isso pois com as redefinições socioculturais, misturas de valores e trocas de rotinas culturais, é comum que os indivíduos se confundam. Mas, é preciso atentar que a ética continua a informar sobre o bem comum, sobre a preservação do outro e da sociedade em que se situa. Na verdade, é muito mais que isso, trata-se de considerar a saúde mundial. Vídeo: Contraponto | Ética e Globalização Pensar sobre a globalização da ótica moral é pensar e situar-se no bojo da velocidade de informações e intensidade das trocas comunicacionais, pois nada escapa das inferências e postagens trazidas pela facilidade da internet em nosso dia a dia. O neoliberalismo e a liberdade de mercado, do ponto de vista econômico da globalização, nos leva a uma realidade em que poucos usufruem da riqueza geral do planeta e muitos vivem em condições de necessidades extremas. Destas primeiras situações, indagamos que seria ético pensar cada vez mais em amplitude de lucros para uma minoria e precarização e exclusão social para a grande maioria diante de um cenário neoliberal da economia global. Quanto as redes sociais, as criações e divulgações de notícias, tornam- se verdades absolutas para quem as lê e que, muitas vezes, não tem acesso a educação crítica que permita escrutinar, investigar e debater aquela informação, em busca da verdade. Figura 3: Social media Santos (2003) afirma que a globalização mostra a face de um mundo mágico em que todos podem ter tudo na palma da mão. Existem diferenças locais profundas que não se encaixam em homogeneização geopolítica de forma alguma. Há um incentivo ao consumo exagerado, o que leva as pessoas a passarem umas por cima das outras para adquirir coisas e valores que, muitas vezes, não estão ao seu alcance financeiro, por exemplo. Essa reflexão do autor nos leva a entender que o conceito de ética balança e fragiliza-se diante de tantas solicitações fantasiosas. O autor avança em seus estudos e ainda procura demonstrar que há um desemprego estrutural, profissões extinguem-se e a questão da ocupação profissional é crônica e aguda, uma vez que os indivíduos batem cabeça para inserirem-se e reinserirem-se no mercado de trabalho em transformação. DESEMPREGO ESTRUTURAL: aquele que é dado pelas transformações na estrutura econômica mundial ou local. As novas tecnologias inovam na criação de empregos. No caso da globalização, vemos que muitas profissões acabam e outras são criadas, mas há um distanciamento entre a criação de novos postos de trabalho e a preparação de recursos humanos para ocupá-los. O vídeo acima, é uma boa referência de aprendizagem, sendo assim, conforme o vídeo, ficam muitas reflexões sobre a questão moral, a ética que deve prevalecer em nosso mundo globalizado. O que precisamos entender é que a ética a ser trabalhada hoje, é a ética do consenso, da boa vontade, da gentileza, e da solidariedade. O sentimento de individualismo, trazido por este cenário, colabora para um pensamento de que “cada um deve ser por si e Deus por todos”. Assim, os indivíduos isentam-se da responsabilidade de cuidar do outro. A solução para os problemas de ordem moral que emanam da globalização está no diálogo e reforço de que ainda podemos sustentar um mundo de respeito e cuidado uns com os outros. O próprio respeito ao ecossistema planetário é uma discussão ética muito longa, pois exige das Empresas e dos indivíduos, um olhar de sustentabilidade e responsabilidade social com o planeta. Isto é, não deveria ser possível avançar economicamente sem impor limites a degradação da natureza. Um caso recente, no Brasil, que nos evidencia esta realidade, foi o que ocorreu este ano, 2019, em Brumadinho, MG. Vídeo: Profissão Repórter- Brumadinho Concluindo, a globalização é o resultado das relações humanas e precisa então, haver uma tomada de consciência para a busca de soluções mais próprias, diferenciais, para os problemas recorrentes e emergentes que desenvolvem-se diante das mudanças e propostas da mundialização. Se não tomarmos consciência da necessidade do bem comum, a humanidade terá que pagar um preço pelas ações irracionais e fora do terreno ético que vem propagando. Texto- Um desafio (ético) na era da globalização: a Informação PROBLEMAS ÉTICOS NAS PROFISSÕES Um problema ético é um problema de desvio de conduta. Nesse sentido, iniciamos o debate ressaltando que a ética, presente na nossa vida e na sociedade, como um todo, é de vital importância também no mundo do trabalho. Por isso, os valores éticos devem ser ensinados, processados e praticados para a preservação da sociedade. Como campo de Filosofia, a ética interpõe-se na relação entre os indivíduos. O que pretendemos ensinar é que todo e qualquer profissional deve estar atento para manter sua integridade ética em qualquer ambiente de trabalho, porque certamente irá encontrar com indivíduos que não comungam da boa ética. Com isso, a chamada “boa ética” nos informa que, no mundo do trabalho, é preciso ser honestamente íntegro e um fiel seguidor das regras de conduta expressas nas leis, códigos e documentos normativos de sua profissão e de seu ambiente de trabalho. Faleiros (2006), teórico do Serviço Social,, ao refletir sobre inclusão social e cidadania, conceitos chaves para nosso olhar sobre ética profissional, orienta que ambos tratam-se de processos complexos, históricos, diversificados, de mobilidade, de redução da desigualdade, da polarização, da assimetria, de formas desiguais de implicação dos sujeitos e de afirmação da identidade, da segurança, do trabalho, da efetivaçãodos direitos, da criação de oportunidades, da formação de conhecimentos, competências e habilidades, do fortalecimento dos laços sociais, do respeito, da vida digna e da justiça. Isto é, conceitos que pesam a presença de uma ida coletiva respeitosa. Também, Silveira (2005) atribui as transformações sociais ao resultado da interação de pessoas, sujeitos da sua própria história que desejam essa transformação. Por isso elas mesmas devem desejar mudanças de atitudes e comportamentos para atingir esse fim. No ambiente de trabalho, em nossa consideração, é um princípio a tomada de consciência para práticas e atitudes éticas. Figura 4: Pensando ética nas profissões Se formos criar um tipo ideal de profissional virtuoso, para destacar a ideia de virtude aristotélica, esse profissional seria o exemplar, aquele que busca atingir suas metas com zelo em sua moral, conforme nos mostra Cortina (2005). O autor chama atenção para o fato de que, em contexto de trabalho, é mesmo necessário exigir que a competência se dê não só em relação as atividades materiais a serem desenvolvidas, mas também em relação as aptidões envolvidas nelas. Isso, segundo ele, pode levar à uma concorrência desenfreada, mas que precisamos ter em destaque o profissional virtuoso que alcança as finalidades internas projetadas. Para tanto, é necessário que apesar da concorrência desenfreada sejam preservados os valores morais presentes no pluralismo social, em detrimento de valores e códigos particulares. Texto: A concepção de felicidade na Ética aristotélica. A ética das profissões precisa guardar em si, enquanto manual e roteiro de orientação às diferentes profissões, os valores universais como: igualdade, justiça, solidariedade, colaboração, honestidade, respeito, entre outros. Práticas profissionais diversas precisam considerar todos os ângulos dos envolvidos na profissão dentro e fora de seu ambiente de trabalho, bem como as perspectivas e aprendizagens da moral social. ÉTICA NA PROFISSÃO: agir em seu ambiente de trabalho de acordo com os valores morais universais e, também, considerando o código de conduta específico do mesmo. A conduta profissional virtuosa é aquela em que se observa o cumprimento de projetos e metas profissionais com observância da moral social e da profissão em questão. Vídeo: Ética nas Organizações Vamos passar agora a examinar alguns problemas éticos no mundo do trabalho. Morgan (1996) sinaliza, em seus estudos, que empregados podem trazer para o ambiente de trabalho visões particulares de seus projetos de ascensão de carreira, mas que por buscar um alvo futuro de progresso na carreira, as aspirações individuais do empregado podem alinhar-se com as aspirações coletivas do ambiente em que trabalha. Sá (2001) afirma que a utilidade individual de quem exerce uma profissão é superada pelas características sociais e morais da mesma. Como ideias suas, ele lista os fatores que reforçam esta visão: a profissão provê destaque e realização aos indivíduos; o homem eleva seu nível moral a partir do exercício profissional; na profissão, o homem torna-se útil à sua comunidade. Finalizando este debate por hora, vemos em Lisboa et al (1997) os quatro elementos necessários à conduta ética nas profissões e que, portanto, devem constar nos manuais normativos das Empresas: competência, sigilo, integridade e objetividade. Podemos vislumbrar alguns problemas éticos nas profissões: 1 - Se eu trabalho com transporte público devo considerar o semáforo e suas orientações. Entretanto, na prática vemos esses veículos avançarem o sinal. 2 - Um funcionário vê uma situação prejudicial à Empresa, mas o colega envolvido o corrompe em troca do seu silêncio. 3 - Profissional que fica olhando o relógio e enrolando para passar seu horário de trabalho, sem produzir. 4 - Médico que fica falando no celular e deixa o paciente aguardando na sala de espera. 5 - Professor que libera alunos antes do horário de término da aula e bate o ponto no horário correto. 6 - Vendedor que vende “gato por lebre”, engana o cliente com produto de má qualidade. Esses são apenas alguns exemplos básicos de condutas antiéticas em diferentes meios de trabalho e profissões. Figura 5: Condutas profissionais CÓDIGO DE ÉTICA DAS PROFISSÕES: CONCEITOS E FINALIDADES Tendo amadurecido sobre o valor da conduta ética nas profissões, trataremos agora da normatividade que está presente no universo profissional, a discussão e apresentação sobre o Código de Ética. Um campo da Filosofia que aborda diretamente o conjunto de normas éticas na sociedade é a Deontologia. DEONTOLOGIA: surge das palavras gregas “déon, déontos” que significa dever e “lógos” que se traduz por discurso ou tratado. Sendo assim, a deontologia seria o tratado do dever ou o conjunto de deveres, princípios e normas adotadas por um determinado grupo profissional. A importância do código de ética para os profissionais e para as empresas localiza-se no fato de que há um princípio universal que devemos usar: bom senso para tomar decisões sem ignorar o bem-estar do outro. Nesse sentido, as empresas na atualidade organizam seus Códigos de Conduta a partir de seu pensamento de visão e missão a serem desenvolvidos em suas atividades. Piaget (1996) destaca que a importância das regras é algo vital, pois as regras funcionam como se fossem intangíveis, imutáveis, a moral que impõe a coerção. Levam a um respeito único. No entanto, se dependerem de costumes precisam da cooperação de todos para se efetivarem. Freire (1996) afirma que o respeito ao outro, a coerência, a convivência com a diferença, o evitar a antipatia e o mal-estar ao outro devem ocupar um lugar especial na ação dos indivíduos em qualquer espaço. Para o autor, quem promove intrigas, desavenças, atritos, não está no terreno da ética. Assim, vemos em Chauí (1999) que a existência da conduta ética pressupõe a agência consciente do indivíduo, pois só ele tem a capacidade de discernir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, o permitido e proibido, a virtude e o vício. Com estas primeiras reflexões, imaginamos o porquê das empresas adotarem Códigos de Ética. Vejamos alguns motivos: Dar um parâmetro de segurança para a condução das relações; Homogeneizar o tratamento de encaminhar as diferentes questões profissionais; Incentivar a integração de seus funcionários; Criar um ambiente de trabalho harmonioso que incremente mais a produção; Desenvolver nos funcionários a sensação de que convivem em bem-estar e precisam oferecer esse mesmo bem-estar aos clientes e fornecedores; Consolidar práticas de comprometimento profissional; Investir em lealdade e fidelidade do cliente; Agregar valor à empresa e garantir a existência sustentável da mesma. Vídeo: A importância de se ter e praticar um Código de Conduta Ética na empresa CÓDIGO DE ÉTICA: define-se como um instrumento de síntese normativa da filosofia da empresa, de como ela pensa e constrói sua visão e seus valores. Funciona como um verdadeiro roteiro normativo para orientar as ações dos funcionários e as ações corporativas em relação ao mundo exterior na representação da empresa. Chanlat (1999) apresenta a real necessidade de se pensar a questão ética no interior das empresas, ele cita o conceito de ética das responsabilidades de Weber para dizer que esta leva os indivíduos a refletirem sobre as consequências de sua ação em relação aos outros. Heemann (1993) valia que ao pensar nas atitudes envolvendo o que é certo e o que é errado, os padrões de discernimento dos indivíduos, sejam privados ou sociais, consideram três grupos: o teleológico, voltado para consequências; o deontológico, o padrão da decisão moral se volta para o bem produzido e sua dimensão coletiva; o relativista, envolvendo a recusa de princípios relativistas por conta de estar vivenciando um mundo instável. Figura 7: Código de Éticae as diretrizes profissionais Com isso, faz-se primordial dizer que os Códigos de Ética das diferentes profissões, bem como das organizações, direcionem profissionais para atuações morais e que elevem o padrão de existência de seus campos de atuação. Um Código de Ética profissional guarda em si normas éticas, que devem servir de baliza para profissionais no exercício de seu trabalho. Ele é elaborado pelos conselhos, os quais podem fiscalizar o exercício da profissão. No âmbito de suas obrigações profissionais, na realização dos interesses que lhe forem confiados, deve agir com a mesma diligência que qualquer comerciante ativo e probo costuma empregar na direção de seus próprios negócios; Zelar pela existência e finalidade do Conselho Federal e Conselho Regional a cuja jurisdição pertença, cumprindo e cooperando para fazer cumprir suas recomendações . Prestar suas contas na forma legal, com exatidão, clareza, dissipando as dúvidas que surgirem, sem obstáculos ou dilações. Informar e advertir o representado dos riscos, incertezas e demais circunstâncias desfavoráveis de negócios que lhe forem confiados, sobretudo em atenção às momentâneas variações de mercado local; Envidar esforços para que suas relações com o representado sejam contratadas por escrito, com todos os requisitos legais bem definidos; Conduzir-se sempre com lealdade nas suas relações com os colegas; É de fundamental importância que se esclareça que o não cumprimento de uma regra, seja ela do Código de ética de uma empresa na qual se trabalha, ou da profissão que se exerce, implica em punições e sanções que podem ir do desligamento do funcionário até à cassação de sua licença para atuar em determinada profissão. Em alguns casos, se estende à uma grande celeuma jurídica. Figura 3: Julgamento de infração ao Código Compreender que a garantia do cumprimento da lei é verdadeira em questões onde uma das partes se sente lesada, é uma necessidade. Quando o contratante percebe, ou percebeu, que o trabalhador não cumpriu sua função especificamente com o que está dito na regulamentação ou, ainda, quando o contratado, aquele que solicitou os serviços, rompe com o cumprimento de algum dos direitos do profissional previstos em lei. Reportagem sobre Emissão de Atestado médico falso. A ÉTICA EM PROFISSÕES NÃO REGULAMENTADAS Agora que aprendemos sobre Código de ética e seus desdobramentos, é preciso compreender que existem profissões que não possuem regulamentação por Conselhos e Órgãos oficiais do governo, mas elas existem e é importante saber como se dá a ética nesses casos. Sobre esta situação de regulamentação e não regulamentação, podemos entender que todas as profissões possuem direitos e obrigações tanto para patrões quanto para empregados. Quando uma profissão é regulamentada pode ser que exista uma legislação específica própria, que nomeamos abaixo: Carteira Profissional; Cédula Profissional e Piso Salarial; Piso de Honorário; Jornada de Trabalho; Exames Médicos; Órgãos Reguladores; Licença. Figura 09: Ética nas Profissões É fundamental destacar que o fato de não ser regulamentada não significa que não existe preocupação com a qualidade da formação e com o reconhecimento da atividade profissional. O que de fato garante a inserção e continuidade de um profissional no mercado não é somente a sua regulamentação ou não, mas sobretudo sua competência para atuar na profissão que escolheu. Por quê algumas profissões são regulamentadas e outras não? Na verdade a explicação para essa situação volta-se para o fato de que o Estado sempre regulamenta uma profissão quando considera que seu exercício indiscriminado pode pôr em risco a sociedade. Por isso existem os Conselhos Profissionais, autarquias federais de direito público para fiscalizar o exercício profissional. Quando uma profissão ainda não é regulamentada não há uma observância normativa direta sob seu exercício, no entanto, em relação a questão ética os profissionais devem pautar-se na moral vigente como um todo. As Profissões em si constroem suas rotinas e atribuições enquanto se organizam de forma corporativa e acadêmica. No próprio aparato legal da sociedade podemos encontrar a capacidade de poder julgar e condenar pelo olhar de um mal exercício de um serviço ou profissão em relação ao mundo social. Reportagem sobre a regulamentação de profissões Pesquisando o artigo 5º, inciso XIII, da Constituição Brasileira de 1988, vemos que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, exceto às qualificações profissionais que a lei estabelecer. Observamos, ainda, que a legislação abre a possibilidade de, no interesse da sociedade, criar restrições em situações especiais por meio de uma regulamentação. Pois, anteriormente ao fato de se regulamentar qualquer profissão, deve ser considerado se o exercício profissional da área pode causar danos sociais ou expor vidas humanas, conforme já abordamos aqui. A questão da regulamentação das profissões é também muito complexa no Brasil. Afinal, existem muito mais que 300 profissões no mundo do trabalho. Sem falar nas novas que surgem de tempos em tempos. Podemos nos referir ao campo de tecnologia e também da internet. Hoje já se fala, por exemplo, em regulamentar a profissão de Youtuber. Ou seja, terão que estabelecer seu Código de ética também. Uma discussão grande sobre o risco que este profissional pode trazer a sociedade: a disseminação e produção de informações e verdades absolutas falsificadas da realidade. Vídeo: Regulamentação do Youtuber A ÉTICA NAS RELAÇÕES HUMANAS Diversidade Cultural, Étnica, Religiosa e de Gênero Nada mais oportuno do que entender cultura e diversidade cultural após termos debatido muito as demandas do conceito de ética. Assim, vamos iniciar tecendo a definição de cultura. Lembrando logo de início que cada um tem a sua e a vida segue rica e bem fecunda porque somos diferentes, mas podemos comunicar nossas diferenças e construir novas possibilidades de viver. Geertz (1989) ao abordar os estudos sobre cultura refere que a atividade do antropólogo é interpretar, cada cultura pode ser entendida como um texto. Cada texto é uma interpretação. Para ele, a cultura constitui-se como formas de ações significativas, simbólicas. A cultura parece estar oculta na mente dos homens e se expressa em suas ações. Ele afirma que é possível enxergar a cultura de um povo porque ela está expressa em suas relações sociais. O autor mostra que a cultura se revela a partir de uma descrição densa, pois são as ações produzidas, percebidas e interpretadas que a definem. Geertz (1989) está, então, atrás da teia de significados de cada sociedade. Ele não defende a ideia de ter que “se tornar um nativo” para conhecer a fundo uma cultura, mas sim estar familiarizado com o grupo que se pretende compreender. Figura 1: Cultura como teia de significados É importante o destaque trazido pelo antropólogo sobre a cultura ser compreendida pela teia de significados, isso porque se as relações se traçam com interligações de valores e símbolos e tradições, tudo o que dá sentido dinâmico à cultura vemos com olhos de necessidade de compreensão do que vem a ser a diversidade cultural. O autor mostra que o ponto de vista do nativo é sempre uma construção cultural que se dá após a pesquisa. Cada cultura define o que é “ser humano”. O antropólogo só tem acesso a isso a partir desses símbolos. Para Geertz (1989), as situações universais são sempre descritas de forma singular, seu enfoque privilegia as situações particulares. Dessa forma, a cultura é única para cada grupo e singular em cada indivíduo. No mundo existem milhares de trações culturais, símbolos, pensamentos, manifestações e identidades culturais, tal diversidade enriquece nosso mundo social.Para Cuche (2012), o conceito de identidade ganha destaque com o nascimento do multiculturalismo, o qual nos mostra a face de que os imigrantes e as diversas minorias buscam o direito da diferença, o direito de ter uma identidade própria digna de respeito. Por outro lado, os grupos maioritários colocam em debate tal pretensão, temendo, entre a expansão de múltiplas identidades que competiriam para enfraquecer e fragmentar a identidade nacional, a própria sustentação do Estado. Cultura: conjunto de pensamentos, sentimentos, atitudes, trações, símbolos, hábitos e valores que pertencem a um grupo. Dão sentido a sua identidade cultural, sua marca como grupo. Diversidade Cultural: é o reconhecimento de diferentes culturas para diferentes grupos sociais. Figura 2: Diversidade Cultural Para Bergamaschi (2008), a diversidade cultural e a presença de inúmeros povos indígenas com suas tradições e línguas marcam nossa diversidade étnica e cultural. Alves e Barros (2009) definem que a diversidade cultural está relacionada aos aspectos distintivos de uma cultura para outra, uma riqueza dada pela capacidade dos humanos de criar e transformar o legado que receberam. As identidades culturais aparecem a partir das manifestações culturais. O debate sobre a questão da diversidade cultural, que abre para todo um feixe de outros debates importantíssimos, nos faz pensar que com a educação podemos formar indivíduos que entendam que ser diferente é poder trazer algo novo na troca cultural. A fundamentação do respeito da ética está no bojo dessa compreensão. Em meio aos pensamentos sobre a diversidade, podemos pensar também a diversidade étnica, religiosa e de gênero. Quanto a diversidade étnica, temos muito a comemorar desde que superamos a explicação da existência de diferentes culturas pelo conceito de raça, para o conceito de etnia. Uma vez que se concluiu que falar em raça é apontar diferenças puramente biológicas, físicas, sem considerar as questões de fundo cultural para a compreensão dos diferentes povos. Com o conceito de etnia, vemos um alargar dessa possibilidade de entendimento do outro. Gomes (2004) mostra que o uso de etnia se ampliou para referências a povos diferentes como judeus, índios, negros, entre outros, enfatizando seus processos históricos e culturais. No Brasil, o termo relações étnico-raciais é muito utilizado para debater as questões de relações raciais e étnicas, que estão muito além da cor da pele e das origens culturais. Há um misto desses olhares na alocação e interpretação dos lugares sociais que os indivíduos ocupam na sociedade. Portanto, falar de raça ou de etnia em nossa cultura vai trazer um apanhado de significações de quem fala, como fala e por que fala, o chamado “lugar de fala”. É também com estas construções que nascem conceitos e alocações culturais denominadas de racismo, preconceito e discriminação. Estes podem ser de raça ou etnia, mas tendem a ser explicados pela questão racial. Enquanto o preconceito é definido como uma percepção sobre as coisas, muitas vezes herdada por conta da socialização recebida, a discriminação é a própria prática do preconceito. Assim, o racismo trata-se de uma construção ideológica de que existem raças diferentes e que estão submetidas a uma hierarquia de classificação como inferiores e superiores. Nesse caso, essa teoria sempre acaba por delegar aos negros os mais baixos graus de status social na sociedade. O racismo é uma teoria perversa, que separa e agride os indivíduos que pertencem ao grupo discriminado. Figura 3: Racismo e preconceito A diversidade étnico-racial deve ser pensada por toda a comunidade escolar, pelos gestores educacionais que são importantes na formação dos indivíduos. Compreender que negros e brancos têm sua importância e valor cultural é colaborar para o entendimento da diversidade cultural e étnica. É importante saber que a cultura afro- brasileira compõe nossa trajetória de formação de nação. Não é possível falar de diversidade étnica sem considerar que o Brasil, após a abolição, atravessou grandes lutas pelo reconhecimento desta cultura que inclui as lutas sociais, a miscigenação, a discriminação, o sincretismo. Vemos no Brasil, de forma muito clara, a existência de um preconceito racial contra negros e mulatos. A igualdade de oportunidades é divulgada e tolerada. Temos lei contra o Racismo. LEI 7.716/1989 (LEI ORDINÁRIA) 05/01/1989 - Entretanto, ainda assim as ligações íntimas com pessoas de cor não são vistas com bons olhos. Os mulatos passam por menor discriminação que os negros, mas também são discriminados e sofrem preconceito. Constantemente presenciamos discussões que envolvem o preconceito racial e a discriminação étnica dos indivíduos, com falas como: “você é negro”, “você é indígena”, “por isso não conseguiram obter êxito em nada…”. Por aí vai. A discriminação e o preconceito ocorrem também em relação as questões religiosas, normalmente há uma perseguição e preconceito com as religiões de matrizes africanas. Incrível que normalmente entendemos que a religião deve trazer coisas boas aos indivíduos, pois nelas os mesmos depositam sua fé espiritual e dedicam-se professando. No entanto, por ignorância, ou mesmo maldade, muitos indivíduos constroem guerras, matam e perseguem religiões diferentes das suas. O etnocentrismo predomina nesses casos e faz com que a religião de uma pessoa seja considerada a melhor ou a que tem mais pureza, etc. A superação deste fenômeno de pejoração negativa das diferentes religiões só acontece quando os indivíduos estão disponíveis para conhecer a diversidade religiosa. Conhecer é importante para melhor conviver. Isto não significa converter-se. Quando estudamos um pouco, vemos que o catolicismo tradicional também teve influência africana no culto de santos de origem africana como: São Benedito, Santo Elesbão, Santa Efigênia e Santo Antônio de Noto (Santo Antônio do Categeró ou Santo Antônio Etíope); no culto de santos também há aqueles que podem ser associados aos orixás africanos como São Cosme e Damião. O próprio São Jorge (Ogum no Rio de Janeiro), Santa Bárbara (Iansã), além daqueles oriundos da criação de santos populares como a Escrava Anastácia. Figura 4: Diversidade religiosa É comum ver que igrejas pentecostais do Brasil, que são contra as religiões de origem africana, na realidade têm várias influências destas, como se nota em práticas como o batismo do Espírito Santo e crenças como a de incorporação de entidades espirituais (vistas como maléficas). O Catolicismo nega a existência de orixás e guias, já as igrejas pentecostais os denominam como demônios. A ideia de sincretismo religioso, a transculturação das religiões, como ocorre na umbanda, por exemplo, tem origem nos fatores histórico-culturais da história do Brasil. Por isso, é preciso compreender que a diversidade religiosa existe e precisa ser respeitada. No cenário relativo a compreensão das relações de gênero e sua diversidade também não encontramos eco no respeito. Pois na atualidade vemos que a conceituação que acrescenta nessa polêmica é a de que orientação sexual e identidade de gênero são diferentes e precisam ser compreendidas. Orientação Sexual refere-se à atração sexual e à afetividade que um indivíduo sente por outro. Diversidade de gênero refere-se ao gênero com o qual o indivíduo se identifica que pode ter, ou não, relação com seu sexo biológico. Tabela 1: Sobre orientação sexual Gonçalves (1999) fala, em seus estudos, a respeito de como a sociedade Paresí, do grupo indígena denominado Aruak, localizado no Estado de Mato Grosso, constrói simbólica e culturalmente o dimorfismo sexual tendo como foco de análise sua mitologia e seu complexo ritual. Ele demonstra como a categoria diferença é algo construído,tal qual nos indica a ideia de gênero sobre os indivíduos na vida social. Em outros termos, analisa-se a diferença e a construção de gênero como fenômeno englobado por um pensamento geral sobre o que significa a diferença no mundo. Assim, segundo o autor, a diferença de gênero informa ao mesmo tempo que produz e é produzida por esta ideia da diferença que não é universal e sim construída culturalmente. Dessa forma, são as posições culturais construídas por homens e mulheres, a partir do olhar que eles têm do compromisso com suas escolhas pautadas na orientação sexual e na diversidade de gênero, que dão sentido às suas histórias e lugares nessa discussão. É importante entender como os indivíduos tem se referenciado, a partir desse olhar. Tabela 2: Sobre diversidade de gênero Esses conhecimentos são importantes pois levam ao combate de práticas de preconceito e discriminação, fundamentados em ideologias homofóbicas e de violências de gênero. ÉTICA E CIDADANIA NA SOCIEDADE TECNOLÓGICA Iniciaremos agora toda uma reflexão e conceituação sobre a relação ética e a sociedade tecnológica que estamos vivendo. Morin (2000) nos apresenta às demandas da educação e da sociedade do conhecimento em tempos atuais, mostrando que esta impõe aos indivíduos uma escola que lhes faça sentido, que lhes seja capaz de resgatar a formação do ser completo. Em sua visão, a escola de hoje deve oferecer aos indivíduos além do ensino básico com cálculos, língua escrita e falada, precisa trazer também as interfaces com as ferramentas e inovações tecnológicas trazidas pela era da comunicação e informação. É importante marcar que o conhecimento e a informação estão no centro do mundo atual. O perfil de indivíduo que se exige, mediante estas demandas, é de quem consegue ser flexível, polivalente, empreendedor e altamente adaptável. Alguém que é criativo, inovador e está sempre sendo desafiado por questões profissionais e pessoais. Um mundo em que se fala o tempo todo a respeito de busca de soluções viáveis. Os próprios modelos educacionais voltam-se para esta perspectiva. Isto significa que o aluno a ser formado tem que ser preparado para enfrentar este aparato de necessidades impostas pela sociedade do conhecimento e da informação. Figura 5: Sociedade do Conhecimento Nesta sociedade digital, educar um indivíduo para desenvolver sua cidadania plena também envolve construir valores de respeito, responsabilidade e participação colaborativa com a comunidade. Assistimos a uma era em que a tecnologia está no bojo de todas as coisas que realizamos no mundo social. Levy (1999) traz à cena os conceitos de cibercultura e ciberespaço para mostrar a amplitude de nossas trocas de conhecimento e aprendizagem na era digital. Nesse sentido, o autor ainda produz associado ao pensamento de Kerckhove (1995), o conceito de inteligência coletiva, constituindo-se em inteligências conectadas, isto é, o uso colaborativo das várias inteligências mediante processos de comunicação e tecnologias em rede. Este novo desenho pedagógico de formação dos indivíduos propõe uma revisão da forma tradicional de ensinar e aprender, a construção de saberes e as trocas comunicacionais ganham uma dimensão mais personalizada. Cibercultura: cultura que emerge com o advento das trocas comunicacionais advindas do computador. Conhecimentos, valores, informações e saberes que se constroem a partir do mundo virtual. Ciberespaço é o virtual, as redes de conexão. O que precisamos entender é como funcionam, nesse caso, os princípios da ética e cidadania em um contexto de valorização da comunicação virtual. Com o exposto acima, focamos em mostrar que a ética passa a ser uma questão central no contexto das trocas e construções virtuais, tanto no âmbito da vida pública como na vida privada. Nesse sentido, ser ético é pensar no que fazemos, na medida de nossas ações, considerando quem somos e com quem nos relacionamos. Além da ênfase na reflexão sobre o outro e o planeta em que habitamos. Figura 6: Ética e Tecnologia Para Dewey (1979) é a partir da reflexão que emerge a dúvida, a perplexidade, o ato de pensar. Ela também envolve o ato de pesquisar, para resolver a dúvida e esclarecer a tal perplexidade. Dessa forma, o autor nos aponta o caminho para nossas questões éticas contemporâneas. Além dele, também Castoriadis (1979) diz que a reflexão deve sinalizar o conhecimento para investigar, explicitar e questionar os conteúdos sociais e culturais. Olivé (2000), em seus estudos, colabora com nossa reflexão sobre deveres morais do cientista e do tecnólogo em nossos tempos. Para ele, cientistas devem ter a consciência da responsabilidade e das consequências do trabalho que realizam. Esta responsabilidade inclui informar a sociedade com precisão sobre seus experimentos e resultados. Também, os tecnólogos devem avaliar com cautela e seriedade as tecnologias produzidas e suas amplitudes. Avaliar não só a eficiência, mas sobretudo, os impactos no meio social e natural. O autor ainda ressalta que os cidadãos, a grosso modo, também têm responsabilidade na avaliação das tecnologias e em sua aceitação e propagação. Assim, eles devem buscar informações adequadas sobre a natureza da ciência e da tecnologia, que estão propagando bem como de seu uso e consequências. Com tantas discussões no terreno da ética, é preciso focar que ser cidadão é estar situado na ordem social de forma participativa, mas considerando que apesar da evolução tecnológica é preciso pontuar nossas ações locais e globais, presenciais e virtuais, de forma eticamente responsável. A Intolerância, o Racismo e a Xenofobia É muito comum, diante do que vimos até aqui, presenciarmos na sociedade globalizada e tecnológica, sentimentos de exclusão social, violência e intolerância. No ano de 2001, realizou-se a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa na cidade de Durban, África do Sul. Esta conferência foi um culminar das demandas mundiais para o enfrentamento de um cenário sociopolítico extremamente grave em nível mundial: o combate ao racismo e intolerância. Trata-se de compreender que indivíduos, povos e nações estavam cada vez mais praticando e incentivando realidades de exclusão e segregação social, que em muitos casos levam ao extermínio. Mesmo diante de outros instrumentos legais e históricos para esse fim, foi necessário organizar a Conferência de 2001. Listamos aqui alguns dos instrumentos que foram implementados sob a égide das Nações Unidas com intuito de promover a igualdade e combater a intolerância: Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio (1948); Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966); Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966); Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979); Convenção sobre os Direitos da Criança (1989). Apesar do aparato legal acima referido, os dados mundiais seguiram apontando que seres humanos ainda são vítimas de ideologias e tratamento racista e segregacionista, principalmente com o surgimento de novas tecnologias e o advento da globalização, que trouxeram próprios de seus campos. Por isso a urgência de novas medidas e esforços focados em nível nacional e internacional. Figura 7: Intolerância racial Para avançarmos, consideramos que é preciso definir o que vem a ser racismo, xenofobia e intolerância, objetos de nossa discussão. Racismo: significa preconceito e discriminação de indivíduos e grupos fundamentados em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Xenofobia: sentimento de desconfiança, antipatia, receio de
Compartilhar