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MÉTODO DA PESQUISA CIENTÍFICA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Identificar a estrutura básica de um projeto de pesquisa. > Definir as características de um texto científico. > Reconhecer os diferentes tipos de texto científico. Introdução O projeto de pesquisa é um documento tão importante que costuma levar um semestre para ser elaborado nos cursos de graduação, configurando uma parte do processo de pesquisa. A fase do projeto é o momento de se tomar as decisões mais relevantes sobre o rumo da pesquisa. No projeto, o tema da pesquisa é delimitado, assim como o seu alcance. Neste capítulo, você identificará a estrutura básica de um projeto de pesquisa, conhecerá as características de um texto científico, além de reconhecer os textos científicos e suas aplicações. Estrutura básica de um projeto de pesquisa O projeto de pesquisa é um instrumento metodológico que fornece as prin- cipais informações sobre a realização de uma pesquisa. Para o estudante, servirá de guia para a realização da investigação, enquanto para a instituição Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa David Mesquiati de Oliveira e para o orientador, permitirá avaliar o rumo da pesquisa proposta pelo estudante. Nele, devem ser explanados os principais elementos da pesquisa, deixando claro a abordagem e os procedimentos necessários para a realiza- ção da investigação científica. A estrutura básica de um projeto é formada por introdução, objetivo, problema, hipótese, justificativa, metodologia, desenvolvimento e fontes. Em uma pesquisa, nada se faz ao acaso. Desde a escolha do tema, fixação dos obje- tivos, determinação da metodologia, coleta dos dados, sua análise e interpretação para a elaboração do relatório final, tudo é previsto no projeto de pesquisa. Este, portanto, deve responder às clássicas questões: o quê? Por quê? Para quê? Para quem? Onde? Como? Com quê? Quanto? Quando? Quem? Com quanto? (MARCONI; LAKATOS, 2017, p. 230). A introdução do projeto cumpre o papel de situar o leitor em relação ao que será pesquisado. É um espaço relativamente curto em que o pesquisador apresenta o tema da pesquisa e indica sua abordagem. Em outras palavras, é na introdução que o pesquisador aclara seu objeto de estudo, algo que “[…] mereça ser investigado cientificamente e tenha condições de ser formulado e delimitado em função da pesquisa” (MARCONI; LAKATOS, 2017, p. 176). O pesquisador deve ter em mente, ao escrever a introdução de um projeto, a seguinte pergunta: o que será pesquisado especificamente? Em linguagem de projeto: qual é o objeto de estudo? A introdução trabalha com a pergunta geral: o quê? A resposta para a pergunta “O que se pretende com essa pesquisa?” é chamada de objetivo da pesquisa. O objetivo é o propósito que orientará a conduta investigativa. Ele indica os resultados almejados com a pesquisa. Na linguagem de projetos, é comum distinguir entre objetivo geral e objetivos específicos. O objetivo geral está diretamente ligado ao título da pesquisa — é o propósito final da pesquisa. Deve ser formulado de forma clara e breve. Do objetivo geral, podem ser destacados alguns objetivos derivados que expressarão maior concretude do que se quer alcançar. Sugere-se que sejam expressos na forma de verbos no infinitivo e que apresentem coerência lógica em suas derivações. Os verbos mais utilizados na formulação dos objetivos, tanto geral como específicos, são: Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa2 identificar descrever determinar experimentar explicar observar relacionar analisar selecionar calcular classificar deduzir indagar quantificar examinar As perguntas de fundo que estão em questão na formulação dos objetivos são: Por quê? Para quê? Para quem? Já o problema de pesquisa é uma questão central formulada cientifica- mente que permitirá descobrir respostas (soluções) de caráter mais geral que sejam válidas para as demais situações-problema equivalentes. Perguntas como “Quais são as etapas pelas quais atravessa a crise da religião no Oci- dente?” ou “Em que medida se pode dizer que, na América Latina, não houve um processo de desencantamento?” são questionamentos que apresentarão respostas gerais aplicáveis a diferentes contextos, podendo gerar novas discussões acadêmicas. Diferentemente do objeto e do objetivo da pesquisa, o problema deve ser formulado como interrogativa. Essa pergunta expressará o motivo da pesquisa. De acordo com Cerda Gutiérrez (1993), o problema de pesquisa pode ser: uma necessidade que deve ser satisfeita; uma causa que necessita explicação ou análise aprofundada; uma relação entre fenômenos; uma dificuldade que deve ser superada ou explicada, com o objetivo de neutralizá- -la; um fenômeno que se considera importante e cujos efeitos se pode ver, relacionar e descrever. Para ser formulado de forma correta, um problema precisa estar fundamentado em um marco teórico definido. Leitura sistemati- zada e conhecimento prévio sobre o assunto são requeridos do pesquisador. Ao formular o problema, inicia-se a redação com as clássicas perguntas: Quem? Onde? O quê? Quando? Em que medida? Qual? Como? Por quê? Para quê? Essas perguntas podem se referir a pessoas; lugares onde se realiza a ação; natureza, quantidade ou qualidade de um fenômeno; determinação ou sinalização de algo; maneira de se fazer algo; causas ou motivos; finalidade ou objetivo da ação. Para formular problemas de pesquisa, usa-se linguagem clara, objetiva e contundente para expressar os limites da pesquisa, que podem ser cronológicos, geográficos, teóricos ou metodológicos, deixando clara a relação entre as variáveis da pesquisa. Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa 3 O problema de pesquisa não é uma mera curiosidade do pesquisador, devendo estar expressamente fundamentado na literatura, sobretudo no âmbito da graduação. Isso quer dizer que, na formulação do problema, devem ser apresentadas as escolas de pensamento que tratam a temática escolhida. O problema de pesquisa é um problema teórico. É preciso identificar, na lite- ratura, como as teorias abordam o tema e formular a pergunta colocando as escolas em diálogo. O pesquisador não encontra a solução individualmente, e as respostas virão da literatura reconhecida pela área de estudos. As autoras Marconi e Lakatos (2017, p. 137) ajudam a diferenciar o tema de pesquisa do problema: […] determinar com precisão significa enunciar um problema, isto é, determinar o objetivo central da indagação. Assim, enquanto o tema de uma pesquisa é uma proposição até certo ponto abrangente, a formulação do problema é mais específica: indica exatamente qual a dificuldade que se pretende resolver. Se o problema expressa o embate entre posições teóricas, a hipótese é a inclinação do pesquisador por uma das abordagens teóricas, que deverá ser devidamente testada ao longo da pesquisa. A hipótese é a resposta possível ao problema formulado, o fio condutor da pesquisa. Cada escola teórica tem seus conceitos, instrumentos, hipóteses e orientações. Assim, ao formular as hipóteses no projeto, o pesquisador deve considerar as formulações internas da escola de pensamento escolhida. As hipóteses: […] têm por finalidade principal guiar ou motivar uma investigação, propor respostas possíveis para um problema, colocar o pesquisador em estado de perturbação criadora e em movimento, mobilizar procedimentos metodológicos e ajustá-los às assertivas teóricas, ao mesmo tempo em que pode contribuir para a própria reconstrução dessas mesmas assertivas (BARROS, 2017, p. 11). A justificativa da pesquisa responde à pergunta geral: para que serve essa pesquisa? Isso deixa claro qual é a sua utilidade e se tal estudo se justifica frente à literatura existente. Alguns critérios devem ser atendidos, como os listados a seguir. � Conveniência: convém estudar essa temática? Com o que esse estudo pode contribuir? � Relevância: qual é a projeção social do tema? Quebenefícios trará para a sociedade? Que grupos serão atendidos? Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa4 � Questão prática: resolve problemas práticos? Apresenta algum modelo de respostas? � Teórico: trabalha alguma lacuna teórica? � Metodológico: contribui como metodologia, método ou ferramenta de pesquisa? Sugere alguma abordagem inovadora? � Viabilidade: tem as permissões necessárias e o acesso à informação? Há recursos materiais e financeiros para sustentar a pesquisa? A justificativa ajuda a aclarar se aquela abordagem já foi realizada e se, em última instância, a pesquisa ainda deve ser realizada. Quanto à meto- dologia, é possível diferenciar três expressões e usá-las de forma precisa: metodologia, método e ferramenta. De acordo com O'Leary (2019, p. 26), a metodologia diz respeito aos: […] arcabouços abrangentes de nível macro que oferecem princípios de raciocínio associados com determinados pressupostos paradigmáticos legitimadores de diversas escolas de pesquisa. As metodologias fornecem tanto estratégias quanto fundamento para a realização de um estudo. São exemplos de metodologias: o método científico, a etnografia e a pesquisa-ação. Já os métodos, são: […] as técnicas reais de nível micro usadas para colher e analisar dados. Entre os métodos de coleta de dados estão a entrevista, o levantamento, a observação e os métodos inconspícuos, enquanto os métodos de análise compreendem estra- tégias quantitativas (estatística) e estratégias qualitativas (ou seja, exploração temática) (O"LEARY, 2019, p. 26). Além de metodologia e método, são necessárias as ferramentas de coleta de dados, que devem ser esclarecidas sempre que uma pesquisa é realizada. As ferramentas são “[…] os dispositivos usados na coleta de dados para pes- quisa, tais como questionários, listas de controle de observação e protocolos de entrevista” (O'LEARY, 2019, p. 26). A metodologia da pesquisa deve ser explicitada com detalhes. David Gray descreve e explica as principais metodologias, abordagens e ferramentas que são importantes no processo de pesquisa em sua obra Pesquisa no Mundo Real (2012). Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa 5 O desenvolvimento deve contextualizar a pesquisa em seu marco teórico, cobrindo os antecedentes históricos e os conceitos a serem trabalhados. Não pode ser confundido com uma listagem de autores ou de obras científicas. Esse elemento tem a ver com um conjunto de conhecimentos, teorias, conceitos e categorias que será utilizado como instrumental para responder à pergunta- -problema da pesquisa. No desenvolvimento, a discussão teórica sobre o tema deve ser analisada e ordenada do geral para o particular, articulando os diferentes conceitos e mapeando as escolas de pensamento. Em um primeiro momento, é importante discorrer sobre os antecedentes da pesquisa. Aqui, o processo de constituição do objeto de pesquisa é des- crito desde a origem até o desenvolvimento, apresentando o mapeamento dos estudos anteriores (e dos seus resultados) que estejam relacionados com o problema da pesquisa. Devem ser considerados diferentes fontes e materiais como livros, artigos, monografias, dissertações, teses, revistas de divulgação científica, estatísticas, entre outros. Em um segundo momento, deve ser explicado o marco teórico conceitual, quando o pesquisador justifica suas escolhas entre as várias escolas de pensamento e apresenta, de forma logicamente ordenada, o conjunto de categorias, teorias e definições de que fará uso. Os conceitos que serão utilizados na pesquisa devem ser explicados, não na forma de um glossário de termos, mas utilizando diferentes autores de um mesmo conceito, enriquecendo a fundamentação da pesquisa. Por último, deve ser apresentada uma lista exaustiva de fontes biblio- gráficas que comprovam a factibilidade da pesquisa. Artigos acadêmicos, teses de doutorado, livros e coletâneas são os principais materiais para a pesquisa acadêmica. Contudo, é possível utilizar qualquer outro material, como audiovisual, pinturas, documentos e legislação. Deve-se primar por fontes fidedignas, ou seja, por publicações que tenham reconhecida qualidade acadêmica, como as provenientes de editoras universitárias e comerciais de catálogo nacional. Fontes não recomendadas são, por exemplo, blogs e sites, como Wikipédia e outras do gênero. Deve-se buscar os repositórios da produção qualificada da pós-graduação, como o Catálogo de Teses e Dissertações (CAPES), Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e Pesquisa de Teses e Dissertações (Domínio Público). As obras devem ser listadas em ordem alfabética de autoria seguindo as normas expressas na ABNT e no manual próprio da instituição. Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa6 Bancos de teses e dissertações são fontes importantes para proceder com a pesquisa bibliográfica. Os documentos ficam disponíveis gratuitamente para baixar em PDF. Alguns exemplos de bancos são CAPES, BDTD e Domínio Público. Características do texto científico Gil (2008, p. 3) apresenta as principais características do conhecimento cien- tífico que possibilitam identificar o que é ciência: A ciência pode ser caracterizada como uma forma de conhecimento objetivo, ra- cional, sistemático, geral, verificável e falível. O conhecimento científico é objetivo porque descreve a realidade independentemente dos caprichos do pesquisador. É racional porque se vale sobretudo da razão, e não de sensação ou impressões, para chegar a seus resultados. É sistemático porque se preocupa em construir sistemas de ideias organizadas racionalmente e em incluir os conhecimentos parciais em totalidades cada vez mais amplas. É geral porque seu interesse se dirige fundamen- talmente à elaboração de leis ou normas gerais, que explicam todos os fenômenos de certo tipo. É verificável porque sempre possibilita demonstrar a veracidade das informações. Finalmente, é falível porque, ao contrário de outros sistemas de conhecimento elaborados pelo homem, reconhece sua própria capacidade de errar. O conteúdo da ciência é o conhecimento científico. O ser humano, inquieto e perplexo perante os fenômenos e coisas que o cerca, em seu esforço por explicá-los, pratica a ciência. Para seguir avançando na produção do saber científico, é necessário redigir textos não só para a sua averiguação, mas tam- bém como legado para as próximas gerações. Isso demonstra a importância do texto científico, que precisa refletir as mesmas características essenciais da ciência (objetivo, racional, sistemático, geral, verificável e falível). Pacheco Júnior, Pereira e Pereira Filho (2007) afirmam que praticar ciência é buscar conhecimento e descrevem os resultados do conhecimento científico: � Factual: derivado de fenômenos reais, de toda a existência que se manifesta de algum modo. � Sistemático: apresenta uma ordenação lógica de conhecimentos preexistentes, formando um sistema de pensamentos (teorias), pos- sibilitando mostrar o encadeamento das ideias que levam ao novo conhecimento do fenômeno estudado. Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa 7 � Verificável: explicitação da sequência lógica do desenvolvimento do trabalho, de modo a possibilitar a sua repetição e, assim, verificar o resultado da hipótese do estudo do fenômeno. � Contingente: dependente da situação em que o fenômeno é estudado, assim, as hipóteses ou proposições têm sua veracidade ou falsidade conhecida por meio da experimentação metódica. Desse modo, o contexto em que os resultados são obtidos deve ser explicitado, para mostrá-lo e não originar dúvidas. � Falível: não é considerado definitivo, absoluto ou final por haver con- textos diferentes para um mesmo fenômeno, exceto nos casos em que a teoria é comprovada para todos os contextos, gerando uma lei científica. � Aproximadamente exato: pode ser reformulado ou reavaliado em razão de possíveis outros caminhos para compreender um mesmo fenômeno,com o surgimento de proposições alternativas e o desenvolvimento de novas técnicas, reduzindo os vieses de análise. Além de ser uma narrativa escrita sobre algum conceito ou teoria, portanto, com base em conhecimento científico, o texto científico também necessita de linguagem igualmente científica, com precisão conceitual e objetividade, para não gerar ambiguidades. Deve-se manter a linguagem formal e mais clara possível. Os textos científicos são normatizados pela ABNT, que padroniza formatação, sistema de referências e apresentação da bibliografia. Azevedo (2012, p. 15-16) apresenta um decálogo para orientar a redação científica: 1. Discute ideias e fatos relevantes relacionados a determinado assunto a partir de um marco teórico bem fundamentado. 2. O assunto tratado é reconhecível e claro, tanto para o autor quanto para os leitores. 3. Tem alguma utilidade, seja para a ciência, seja para a comunidade. 4. Demonstra, por parte do autor, o domínio do assunto escolhido e capacidade de sistematização, recriação e crítica do material coletado. 5. Diz algo que ainda não foi dito. 6. Indica com clareza os procedimentos utilizados, especialmente as hipóteses (que devem ser específicas, plausíveis, relacionadas com uma teoria e conter referências empíricas) com que se trabalhou na pesquisa. 7. Fornece elementos que permitam verificar, para aceitar ou contestar, as con- clusões a que chegou. 8. Documenta com rigor os dados fornecidos, de modo a permitir a clara identifi- cação das fontes utilizadas. 9. A comunicação dos dados é organizada de modo lógico, seja dedutiva, seja indutivamente. 10. É redigido de modo gramaticalmente correto, estilisticamente agradável, fra- seologicamente claro e terminologicamente preciso. Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa8 O gênero textual mais comum no texto científico é a dissertação. A estru- tura é simples: introdução, desenvolvimento e conclusão. A dissertação pode ser de dois tipos: expositiva ou argumentativa. Na dissertação expositiva, o objetivo é mais descritivo e informativo, onde o estudante expõe ideias, argumentos e pontos de vista, sem a pretensão de defendê-los ou argumentar em seu favor. O propósito é que o leitor seja informado sobre algo, não con- vencido. Na dissertação argumentativa, há uma busca pelo convencimento do leitor, visando persuadi-lo quanto à opinião expressa no texto. Para tanto, nele, estão contidos argumentos, provas, dados, afirmações relevantes, entre outros aspectos, configurando um texto opinativo. Sugere-se organizar a pesquisa em seções menores, com títulos próprios, que podem ser visualizadas no sumário do texto final (relatório de pesquisa). No projeto, aparecem na “proposta de sumário”, dentro do item metodolo- gia. Cada título das seções secundárias e terciárias corresponderá a uma dissertação. Essas seções em conjunto formarão o texto final do relatório de pesquisa. Supondo que cada seção dessas será uma redação de cinco parágrafos com dez linhas cada, o primeiro parágrafo seria para apresentar a temática na forma de introdução específica; os três seguintes para informar o leitor (dissertação expositiva) ou argumentar (dissertação argumentativa); e um parágrafo para uma conclusão parcial. Considere como exemplo um trabalho acadêmico na forma de artigo, em que a seção textual deva ter entre 15 e 20 páginas. A estrutura textual, obrigatoriamente, estará dividida em introdução, desenvolvimento e conclusão, que pode ser distribuída da seguinte forma: introdução (geral), com cerca de duas páginas; desenvolvimento (geral), com cerca de 12 páginas; e conclusão (geral), com uma ou duas páginas. O desenvolvimento deve ser desmembrado em seções principais e secundárias (ou mesmo terciárias) para operacionalizar a construção do texto. Atendendo ao princípio da simetria e buscando segmentar em seções meno- res, o desenvolvimento geral foi dividido em três seções principais, e cada uma, em duas seções secundárias, de forma que é possível visualizar com clareza os seis títulos das seções secundárias. Cada seção secundária tem duas páginas e corresponde a uma redação. Cada dissertação tem introdução específica, desenvolvimento e conclusão parcial. Pensado dessa forma, o artigo seria a articulação de seis dissertações menores muito bem construídas e concatena- das, de modo a informar o leitor sobre ideias e conceitos e, ao mesmo tempo, argumentar e opinar sobre uma temática específica. A introdução geral versaria sobre objetivo, problema, hipótese, referencial teórico, metodologia, além de apresentar a divisão interna do texto em suas dife- rentes seções. O desenvolvimento seria o conjunto das dissertações específicas Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa 9 bem fundamentadas na literatura. A conclusão seria a retomada das conclusões parciais de cada seção secundária com o arremate final, buscando responder à pergunta que deu origem à pesquisa, avaliando a hipótese levantada no início. O texto científico é o principal produto da pesquisa científica na área de Ciências da Religião e Teologia. Eles podem variar em relação à forma e ao conteúdo, bem como em relação à função. Sobre essa diversidade textual, tratará o próximo tópico. Tipos de texto científico Os tipos de texto científico que o estudante de graduação poderá elaborar são, em especial: fichamento, resumo, resenha, comunicação e artigo. Os dois primeiros são muito comuns como atividades específicas dentro de uma disciplina, enquanto a resenha pode ser demandada como atividade interna do curso ou como produto a ser publicado em periódicos acadêmicos. A comu-nicação científica faz parte da inserção do estudante nos eventos acadêmicos, e o artigo está, geralmente, relacionado aos trabalhos de conclusão de curso ou à publicação em revistas especializadas. Deve-se ter em mente que: […] os trabalhos científicos devem ser elaborados de acordo com normas prees- tabelecidas e com os fins a que se destinam, bem como ser inéditos ou originais e contribuir não só para a ampliação de conhecimentos, ou a compreensão de certos problemas, mas também servir de modelo ou oferecer subsídios para outros trabalhos (MARCONI; LAKATOS, 2017, p. 230). O fichamento é um tipo de texto focado em uma obra específica ou em parte dela, como um capítulo ou seção de páginas. Pode ser solicitado como trabalho acadêmico em um curso/disciplina ou pode ser elaborado como técnica de estudo. Consiste em registrar fiel e organizadamente o conteúdo da literatura especializada. Por meio dessa técnica, é possível identificar as questões mais relevantes que envolvem o objeto de estudo (OLIVEIRA, 2020). O cabeçalho do fichamento é a referência bibliográfica completa segundo as normas da ABNT, seguido pelo registro dos principais dados e afirmações contidos na obra. Se mais de sete palavras forem transcritas na ordem em que aparecem na obra original, elas devem ser registradas entre aspas duplas e servirão para o relatório de pesquisa como “citação direta”. Caso o estudante sintetize o argumento em suas próprias palavras, aquele pensamento poderá ser utilizado no futuro como “citação indireta”. A página correspondente ao dado coletado deve ser, obrigatoriamente, indicada, tanto para as transcri- Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa10 ções diretas quanto para as indiretas. O fichamento pode ser segmentado por alíneas ou hifens, por tratar-se de excertos de uma obra, configurando uma peça importante para a redação tanto do projeto de pesquisa quanto para o relatório final. O resumo, assim como o fichamento, pode ser solicitado como trabalho acadêmico em um curso/disciplina ou como técnica de estudo. Consiste em sintetizar o conteúdo da literatura especializada sobre o tema, adquirindo-se noção geral sobre o objeto de estudo. Difere do fichamento porque, nele, é exigido uma redação coesa, com introdução, desenvolvimento e conclusão. A resenha consiste em analisar a literatura especializadasobre o tema escolhido. A elaboração de resenhas exercita capacidade de síntese, articu- lação de ideias, redação técnica, além de fomentar e desenvolver intuições a partir de fontes fidedignas. Pode-se dizer que a resenha pressupõe um fichamento e elaboração de um resumo, para então se posicionar criticamente sobre o assunto. Na resenha, é preciso situar o autor e a obra resenhada em relação à escola de pensamento e ao seu lugar na literatura. A partir dessa visão macro, é possível captar as propostas no nível micro, ou seja, no texto propriamente dito. Caso pretenda elaborar resenhas para a publicação em periódicos, é preciso observar as normas próprias dessas revistas que, em geral, aceitam resenhas sobre obras com menos de dois anos de publicação. Ler resenhas publicadas em revistas científicas ajuda a compreender esse gênero textual. Em geral, não ultrapassa quatro páginas, independentemente da extensão da obra resenhada. O objetivo dessa resenha é tecer, de maneira sintética, uma crítica para orientar o público sobre determinada obra publicada recen- temente (OLIVEIRA, 2020). Conforme aponta Marconi e Lakatos (2017, p. 282): […] no campo da comunicação técnica e científica, a resenha é de grande utilidade, porque facilita o trabalho de seleção de obras que poderão servir como embasa- mento da pesquisa a ser realizada por um estudioso. Com base nas informações dela constantes, ele pode decidir sobre a leitura ou não da obra. A comunicação científica – ou simplesmente comunicação – é uma moda- lidade formal de divulgar as pesquisas acadêmicas. Acontece na forma oral, em eventos acadêmicos, depois de o resumo (e, em alguns casos, o texto completo) ter sido aprovado por um comitê científico. Costuma dispor de 10 minutos de apresentação e de um tempo para debates. É imprescindível redigir o texto e recomendável a sua leitura na apresentação, contendo título, resumo, palavras-chave, introdução, desenvolvimento, conclusão e referências. Quanto ao tamanho, deve ter entre quatro e seis páginas. Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa 11 Algumas instituições publicam esses textos na forma de anais de eventos, permitindo ampliar o texto após a apresentação, presumindo-se que, durante as discussões, houve melhorias na abordagem e aprofundamento. Quanto à forma, segue o mesmo padrão dos artigos. Uma comunicação pode ser aprofundada e transformar-se em um artigo para publicação em periódicos. É esperado que a comunicação seja reescrita e ampliada para compor um relatório de pesquisa. Não é permitido replicar literalmente no trabalho de conclusão de curso o texto de uma comunicação que foi publicada em anais ou de um artigo que tenha sido publicado em pe- riódico, sob risco de plágio, especificamente, o autoplágio. Se houver apenas comunicação verbal, o texto produzido pode ser integralmente incorporado no relatório. Se a comunicação foi escrita em coautoria, ela não poderá ser integrada ao trabalho de conclusão de curso, devendo ser tratada como qualquer outra fonte de terceiros. O artigo acadêmico é uma apresentação sintética dos resultados de uma pesquisa. Norteado por uma pergunta-problema de ordem teórica, o texto faz uma reflexão fundamentada em um quadro teórico específico e com um percurso metodológico claro. O gênero artigo exige que o pesquisador tenha um elevado conhecimento do objeto de estudo para sintetizá-lo de forma sistemática e objetiva. Nunca deve-se encaminhar o texto final para avaliação sem ter passado por uma revisão do texto. Marconi e Lakatos (2017, p. 276) afirmam: […] concluído um trabalho de pesquisa – documental, bibliográfico ou de campo –, para que os resultados sejam conhecidos, faz-se necessária sua publicação. Esse tipo de trabalho [artigo] proporciona não só a ampliação de conhecimentos, como também a compreensão de certas questões. Quanto à originalidade do texto, é importante ressaltar: Original não é o texto que dá cambalhotas (na cabeça do leitor), mas tão somente aquele redigido de modo autônomo, agradável e criativo. Autônomo é o texto que não depende em demasia das fontes utilizadas, mas procura reescrever de modo independente as ideias tomadas por empréstimo. Agradável é o texto escrito de modo a despertar o interesse do leitor, e criativo é o texto capaz de dizer as coisas, até as já sabidas, a partir de perspectiva nova. Ser original é evitar o recurso fácil das frases feitas, dos lugares comuns e dos jargões profissionais (AZEVEDO, 2012, p. 17). Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa12 O artigo acadêmico para submissão em revistas científicas deve observar rigorosamente as exigências quanto à forma de cada revista, uma vez que existem distintos modelos e exigências. Em geral, os artigos para revistas acadêmicas exigem um título em português seguido do respectivo título em inglês, autoria, resumo (cerca de 200 palavras), palavras-chave (três a cinco expressões que indiquem os campos da pesquisa para indexação), abstract, keywords, introdução, desenvolvimento (com seções numeradas), conclusão e referências (lista em ordem alfabética segundo a autoria de todas as obras citadas no texto). Referências AZEVEDO, I. B. O prazer da produção científica: passos práticos para a produção de trabalhos acadêmicos. 13. ed. São Paulo: Hagnos, 2012. BARROS, J. A. As hipóteses nas ciências humanas: aspectos metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2017. CERDA GUTIÉRREZ, H. Los elementos de la investigación: como conocerlos, diseñarlos y construirlos. Quito: Abya Yala, 1993. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017. O’LEARY, Z. Como fazer seu projeto de pesquisa: guia prático. Petrópolis: Vozes, 2019. OLIVEIRA, D. M. Manual de normas para trabalhos acadêmicos. Vitória: Unida, 2020. PACHECO JÚNIOR, W.; PEREIRA, V. L. D. V.; PEREIRA FILHO, H. V. Pesquisa científica sem tropeços: abordagem sistêmica. São Paulo: Atlas, 2007. Leitura recomendada GRAY, D. E. Pesquisa no mundo real. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2012. Reconhecimento das partes de um projeto de pesquisa 13
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